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162 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 UMA ANÁLISE DO FATOR QUALIDADE NA CADEIA DE SUPRIMENTOS DE EMPRESAS DO SETOR DE BENS DE CAPITAL MECÂNICO Juliana de Farias Alexandre Nabil Ghobril Roberto Giro Moori Resumo Este estudo teve como objetivo analisar o fator Qualidade e seu alinhamento estratégico entre o ambiente interno e externo de empresas do setor de bens de capital mecânico. Para tanto, realizou-se uma pesquisa exploratória junto a 12 empresas, sendo seis clientes e seis fornecedores de equipamentos. Os dados coletados por meio de entrevista em profundidade e tratadas pela análise de conteúdo revelaram que: a) o fator qualidade desejados pelos clientes é aderente ao processo produtivo dos fabricantes de equipamentos e; b) dentre as diversas variáveis analisadas relacionadas ao fator qualidade, a assistência técnica dos equipamentos se sobressaiu como o mais importante. Por conta dos resultados obtidos, pode-se concluir que o alinhamento estratégico do fator qualidade é uma realidade presente e importante na interação entre clientes e fornecedores do setor de máquinas e equipamentos e, por conseqüência, quanto mais bem alinhado, maior é a vantagem competitiva. Palavras-Chave: fator qualidade, gestão da cadeia de suprimentos, indústria de alimentos, máquinas e equipamentos, bens de capital mecânico. 1 INTRODUÇÃO Com a globalização e mercados extremamente competitivos, os clientes estão cada vez mais exigentes. A empresa que procura conquistar e reter clientes precisa satisfazê-los e se possível superar as suas expectativas. A qualidade dos serviços prestados, ou produtos vendidos, é um fator importante para os clientes nas suas decisões. Boa qualidade gera consumidores satisfeitos (DEMING, 1990). Os benefícios da qualidade afetam todos os aspectos de desempenho de uma empresa (SLACK, 1993). A maior qualidade gera benefícios sobre as receitas e também sobre os custos (SLACK et al., 1997). É possível obter custos menores com boa qualidade no processo, pois se obtém um tempo de processamento menor e estoques menores. O custo de retrabalho também diminuirá assim como o custo de inspeção. A baixa qualidade de um produto, ou serviço, pode denegrir a imagem da empresa, e este fator pode obrigá-la a competir em preço para conseguir conquistar o cliente. Se não for preciso competir em preço, utilizando-se da boa imagem da empresa atrelada à qualidade, as receitas poderão ser maiores. É importante salientar que a definição de qualidade do cliente pode ser diferente em diversos casos, portanto, é preciso conhecer o cliente e as suas percepções. Essa definição de qualidade deve ser observada e atendida, uma vez que não adianta oferecer um produto de qualidade técnica excepcional se, por exemplo, o cliente deseja um produto de qualidade quanto ao seu design. Sendo assim, é imprescindível o estudo dos fatores ganhadores de pedidos e a sua relação com as definições de qualidade e requisitos que atendem às necessidades dos clientes (CHASE et al., 2006). 163 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 A qualidade, portanto, está diretamente ligada ao ambiente interno e externo da empresa, internamente ela influencia nos custos de serviços, inspeções, retrabalho, estoques e tempo de processamento, enquanto que externamente ela é um fator decisório para o cliente já que a qualidade percebida poderá ser um fator ganhador de pedido. Assumindo que a qualidade desempenha um papel fundamental nas atividades internas e externas da empresa, sendo responsável inclusive pela vantagem competitiva, o objetivo da pesquisa foi o de analisar o fator “Qualidade” e seu alinhamento estratégico entre o ambiente interno e externo da empresa, por meio de seu desdobramento, na cadeia de suprimentos de produção de bens de capital. A relevância deste estudo se justificou pelos seguintes aspectos: a) ao desdobrar a qualidade pode-se identificar as verdadeiras necessidades do cliente e então reduzir tempo, eliminar custos desnecessários, aumentar produtividade e entre outros; b) a diferenciação associada à qualidade é associada, também, a um produto melhor em termos de atributos técnicos. Competir em diferenciação significa agregar valor para o cliente trazendo, assim, uma vantagem competitiva. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Qualidade como Critério Competitivo Teoricamente a qualidade pode ser definida de diversas maneiras. Em alguns setores, a qualidade refere-se às principais características operacionais do produto, em outros, a durabilidade do produto representa a sua qualidade. Portanto, em cada segmento tem-se diferentes dimensões da qualidade a serem avaliadas e tomadas como prioridades pelas empresas. No caso da fabricante de aeronaves Boeing, a qualidade é percebida como eficiência e boa execução dos programas de produção e serviços, que segundo o presidente e executivo-chefe do grupo, Jim McNerney, influenciou no crescimento em 2007 de 84% frente aos resultados do ano anterior. Neste contexto, Paiva (2004) identificou oito dimensões relacionadas ao conceito de qualidade: desempenho (performance), características secundárias (features), confiabilidade (reliability), conformidade (conformance), durabilidade, serviços agregados (serviceability), estética e qualidade percebida. O desempenho operacional do produto está associado à sua qualidade que, normalmente, são atributos mensuráveis como a velocidade do processador de um notebook ou potência e consumo de combustível de um trator. A confiabilidade também é uma dimensão da qualidade que pode ser exigida pelo cliente. A probabilidade de um produto apresentar uma falha dentro de um período de tempo é um fator determinante, por exemplo, na compra de máquinas que precisam trabalhar 24 horas por dia. Da mesma forma que a confiabilidade e o desempenho de uma máquina são determinantes na decisão do cliente final, a durabilidade, o tempo de vida de um produto também é considerado. A durabilidade possui duas dimensões: a dimensão técnica definida como o tempo em que um produto pode ser utilizado antes de se iniciar o processo de desgaste, e a dimensão econômica, que avalia até que ponto o custo de manter um produto em funcionamento é menor do que substituí-lo por um modelo novo (PAIVA, 2004). 164 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 A conformidade do produto ao projeto pode ser determinante na escolha de uma peça ou máquina. A conformidade é a adequação às normas e às especificações utilizadas para a elaboração do produto, que costuma ser medida pela quantidade de defeitos ou peças defeituosas (JURAN; GRYNA, 1992). Esses defeitos precisam estar dentro de uma tolerância especificada previamente na concepção do projeto. A qualidade dos serviços agregados também influencia os clientes. A assistência técnica, por exemplo, pode ser um fator importante quando se tem altos preços de reparos ou mão de obra. Estes serviços agregados precisam satisfazer as necessidades dos clientes e evitar os problemas pós-venda. Características secundárias que complementam as características principais e operacionais do produto podem trazer ao cliente/usuário uma satisfação adicional, como maior facilidade de uso do equipamento, maior comodidade ou até mesmo economia de tempo (PAIVA, 2004). A qualidade também tem dimensões subjetivas que são critérios competitivos. A estética pode ter um apelo muito forte em algumas decisões do cliente, sendo o design um dos itens a serem avaliados. Da mesma maneira, a qualidade percebida pelo cliente é um critério subjetivo.Os clientes podem associar o produto em questão com outros produtos da mesma marca ou empresa. A tradição ou imagem associada à empresa pode ser determinante na escolha do produto. 2.2 Qualidade nas Operações de Manufatura Não cometer erros e fazer produtos de acordo com as especificações de projeto são elementos importantes para a vantagem em qualidade. O desempenho de boa qualidade acarreta mais do que apenas esta virtude em si, “Fazer Certo” dentro da operação pode transformar todos os aspectos de desempenho (SLACK et al. , 1997). Sendo assim, o alto desempenho de qualidade interna e de seus fornecedores, faz com que os produtos da empresa sejam entregues ao cliente livre de erros e com melhoras significativas no desempenho interno e externo, influenciando a velocidade dos processos, a confiabilidade, os custos e conseqüentemente os lucros. A qualidade atua nos processos da fabricação de bens de capital nas seguintes dimensões: a) Redução de estoques e tempo de processamento. Os produtos de qualidade, por definição são mais confiáveis e, portanto, não se faz necessário o uso de estoques para suprir eventuais lotes defeituosos. Essa redução de estoques permite que a empresa ocupe os espaços destinados à estocagem e possa ali aumentar a sua rede de produção. O tempo de processamento também será menor, originando custos menores de capital (SLACK et al., 1997); b) Maior produtividade. A produtividade da operação será maior a partir do momento em que houver uma necessidade menor de inspeções de qualidade pós-produção, uma demanda menor de refugo e retrabalho, e produções que visam suprir produtos com defeitos. Essa produtividade só pode ser alavancada com a qualidade nos processos da empresa e com um padrão de qualidade dos seus fornecedores. Uma maior produtividade na produção pode determinar uma vantagem competitiva da empresa; c) Custos menores de operação. Com um padrão de qualidade em todos os processos da empresa, obtemos uma redução de estoques, um menor tempo de 165 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 processamento, uma maior produtividade, aumento do volume de vendas (e conseqüentemente melhores economias de escala). Isso tudo se consolida em custos menores de operação, já que os custos de serviços irão diminuir além dos custos de testes, retrabalho e estoques; d) Receitas maiores. Atingindo um nível de qualidade, a empresa conseguirá que a sua imagem no mercado seja atrelada à qualidade. Com isso, a empresa não será obrigada a competir em preço com os concorrentes e pode ainda ter um aumento significativo nas vendas, gerando receitas maiores. Com receitas maiores e custos menores, a empresa conseguirá obter lucros maiores, que por sua vez poderão ser investidos no gerenciamento da qualidade dentro da empresa. 2.3 Desdobramento da Função Qualidade O alto grau de concorrentes no mercado, decorrentes da globalização, vem aumentando o nível de exigência do consumidor. Traduzir e transmitir as informações do mercado para os padrões de produção são essenciais para as empresas que querem sobreviver, o que dirá, então, àquelas que querem obter uma vantagem competitiva sustentável. (OHFUJI, 1997). O Desdobramento da Função Qualidade – QFD (Quality Function Deployment) – é uma técnica que tem como objetivo priorizar e assegurar a qualidade dos produtos segundo o desejo do consumidor. Através do QFD é possível identificar e quantificar os diversos requisitos que atendem às necessidades do consumidor, nas várias etapas do desenvolvimento de um produto, e também reduzir custo e tempo (AKAO, 1996). As exigências dos clientes são expressas “lingüisticamente” (em palavras), o que é insuficiente para criar projetos. Há, portanto, a necessidade de converter essas exigências dos clientes em dados de características técnicas (OHFUJI, 1997). Essa conversão se dá através desta ferramenta, o QFD. A troca de informação é muito importante para que aconteça um desdobramento eficaz da função qualidade. O cliente comunica-se com vendedores durante a compra e muita vez acaba expondo opiniões quanto ao produto. O mesmo acontece com mecânicos que fazem algum tipo de assistência técnica diretamente no cliente. Algumas reclamações, sugestões e outros acabam parando nos funcionários, não chegando ao corpo gerencial e aos tomadores de decisão. Isso é altamente prejudicial à empresa e pode gerar conseqüências a longo prazo. Com o Desdobramento da Função Qualidade pode-se alinhar os desejos dos clientes com as estratégias e processos da empresa, além de obter informações técnicas suficientes a serem repassadas aos seus fornecedores. 3 CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DE MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ, 2009) o setor de máquinas e equipamentos registrou, de janeiro a dezembro de 2008, um faturamento de R$ 78 bilhões, equivalente a um crescimento de 26,7% sobre o obtido em igual período do ano anterior. Apesar desse resultado, o levantamento mês a mês feito pelo Departamento de Economia e Estatística da ABIMAQ (DEEE/ABIMAQ) revelou uma queda do faturamento a partir de outubro de 2008, 166 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 demonstrando os efeitos da crise econômica sobre o setor. A situação fica pior se levarmos em consideração os primeiros meses de 2009 nos quais, segundos dados da Associação, houve uma queda de 35% nos pedidos, os preços caíram entre 20% e 25% já que o Brasil é o único país do mundo que tributa investimentos em bens de capital e o número de demissões já chegam a casa dos 8 mil. Com a demissão de funcionários a crise se agrava mais ainda, pois encontrar mão de obra qualificada é muito difícil nesse setor. É visto que a indústrias de bens de capital é uma das mais importantes do país e que problemas nesse setor acabarão gerando problemas ainda maiores ao país. Dados da ABIMAQ prevêem que a os investimentos da indústria em máquinas e equipamentos devem ter queda de no mínimo 50%. Para enfrentar condições adversas de competição, a indústria nacional de bens de capital terá de realizar importantes esforços de reestruturação de sua estrutura produtiva. Destacam-se os investimentos em métodos de gestão e procedimentos produtivos mais eficientes, redução da gama de bens fabricados e segmentação da produção para aumentar a sua produtividade e a qualidade. 4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 4.1 Natureza, Problema de Pesquisa e Objetivo de Pesquisa A pesquisa, de natureza exploratória, utilizou-se do método do estudo de caso, segundo a abordagem de Yin (2001), tendo como problema de pesquisa resolver a seguinte questão: “Existe alinhamento do fator estratégico ”qualidade” entre o ambiente interno e externo da empresa?”. Para responder ao problema formulado, foram consideradas como: a) Objetivo Geral: Analisar o fator “Qualidade” e seu alinhamento estrategicamente entre o ambiente interno e externo da empresa, por meio do seu desdobramento na cadeia de suprimentos de bens de capital e; b) Objetivos específicos: 1) Entender o cliente quanto à sua definição de qualidade; 2) Realizar o desdobramento da função qualidade do ambiente externo para o ambiente interno da empresa e; 3) Verificar a prática dos fatores desdobrados da qualidade nos processos da empresa através da análise de dados secundários. 4.2 Operacionalização das Variáveis A operacionalização das variáveis do problema de pesquisa foi realizada por meio do desdobramento da função qualidade segundo o cliente, para que em seguida o estudo do alinhamento estratégico do fator qualidadeentre o ambiente interno e externo da empresa possa ser executado. Para tanto foram consideradas como variável dependente, o desempenho do fator “Qualidade” e como variáveis independentes os fatores que influenciam o atingimento desse desempenho. Portanto, nesse projeto o foco foi: quanto melhor o alinhamento do fator “Qualidade” entre o ambiente externo e interno da empresa, melhor é o desempenho da empresa pesquisada. 167 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 Para entender o alinhamento do fator qualidade entre clientes e fabricantes, foram utilizadas as seguintes fontes relacionadas ao assunto: a) Fator Qualidade. Foram utilizadas de referências bibliográficas composta de vinte autores de diversas áreas da administração ligados diretamente, ou não, à qualidade. Após o levantamento bibliográfico e a conclusão do item “a” do objetivo descrito acima, foi efetuada uma comparação entre as definições de qualidade e sintetizando-as em uma palavra chave, um termo específico para se referir diretamente àquela definição. Logo depois, foi estabelecida a estatística, dada pela moda, a essas palavras, conforme é visto na Tabela 1. Tabela 1 – Relação das palavras chaves e a moda relativa na pesquisa de definições acadêmicas de qualidade. Palavras Chaves Moda Conformidade com as especificações 9 Flexibilidade em alterações técnicas do equipamento/serviço 8 Confiabilidade do Equipamento 6 Desempenho do Equipamento 6 Atributos Atrativos 5 Assistência Técnica/ Feedback 4 Controle na Gestão 4 Zero Defeito 3 Estética/Design 2 Fonte: Dados da pesquisa A qualidade foi desmembrada em várias palavras chaves. Isto foi possível em razão da discrepância de seu significado entre os autores analisados como se pode verificar pela coluna da moda mostrada na Tabela 1. Segundo Paladini (1994) definir Qualidade é importantíssimo, pois se a empresa não sabe o que ela é dificilmente conseguirá melhorá-la. Para um desdobramento eficiente, deve-se chegar à definição de qualidade que ajude a medi-la e controlá-la. Tendo em vista quão ampla é a definição de qualidade é preciso saber o que o cliente enxerga como tal. Para uma melhor visualização, como mostrado na Tabela 1, as definições de autores de renome em diversas áreas e campos da Administração de Empresas depois de agrupadas segundo sua moda foram, então, divididas em “Qualidade do Serviço” e “Qualidade do Produto”. A palavra chave “Flexibilidade” foi dividida em “Flexibilidade de data de entrega, Inovação, Serviços” (qualidade do serviço) e em “Flexibilidade de alteração técnica do equipamento” (qualidade do produto). Já “Confiabilidade do Equipamento” foi agrupada com palavra chave “Zero Defeito”, pois estão associadas. As divisões, portanto, ficaram da seguinte forma: 1) Qualidade do Serviço. A qualidade em serviço foi orientada para o cliente e foi composta de: i) Flexibilidade de data de entrega, Inovação, Serviços: Capacidade da empresa em modificar os prazos de entrega para de adaptar a uma mudança de cronograma; fabricar em menor prazo menor que os concorrentes; entregar o equipamento adquirido dentro do prazo estipulado inicialmente; ii) Controle na Gestão: Capacidade da empresa de aceitar modificações 168 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 no contrato durante o período de fabricação do equipamento; capacidade de implementar o conceito de qualidade desde a administração do negócio e; iii) Assistência técnica: A maneira com que é tratado o cliente e o produto no momento de um reparo; Altos preços no reparo. 2) Qualidade do Produto. Foi composta de: i) Confiabilidade do Equipamento e Controle de Qualidade (Sem defeitos): Capacidade do Equipamento em operar sem interrupção no maior tempo possível, antes de ocorrer a falha; ii) Conformidade com as Especificações: Capacidade do fornecedor de construir um equipamento que esteja em conformidade com o projeto original; iii) Desempenho do Equipamento: Capacidade do equipamento de desempenhar as funções para as quais foi projetado; fornecedor de atender às especificações das normas internas de segurança em meio ambiente; iv) Flexibilidade de alteração técnica do equipamento: Capacidade da empresa de aceitar modificações técnicas no equipamento durante o período de fabricação; v) Atributos: Características operacionais adicionais; Atributos complementares do equipamento que o tornam mais atrativo ou facilitam a sua utilização e; vi) Estética (Design): Design mais moderno ou mais conservador. b) Ao alinhamento do fator qualidade. Para entender o que o cliente de uma empresa de bens de capital define como qualidade e se seu fornecedor consegue auferi- la, a princípio, foi estabelecido como meio de captação de dados a entrevista com empresas de bens de capital e depois com seus clientes. Todavia, pela dificuldade em conseguir contato com empresas fabricantes de máquinas decidiu-se pela amostra utilizada na tese de doutorado de Ghobril (2007). A tese teve como tema “O Alinhamento Estratégico na Indústria de Bens de Capital: uma análise sob a perspectiva de Miles e Snow”, cuja amostra foi composta de 12 empresas fornecedoras de máquinas focadas em atender prioritariamente o segmento das indústrias de alimentos, sendo 6 empresas pertencentes ao setor de bens de capitais e 6 empresas clientes das mesmas. Em sua tese, Ghobril (2007) escolheu empresas de bens de capital de médio e pequeno porte, pois segundo relatório da FIESP, estas representam 98% das atuantes no Estado de São Paulo. As empresas são mostradas na Tabela 2. 169 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 Tabela 2 – Especificações das empresas fabricantes de máquinas Código Ramo de Atividades Porte Mercado-Alvo E1 Máquinas p/ indústria de Sorvetes (dosadores, batedeiras, picoteleiras Micro Sorveterias E2 Máquinas p/ indústria de Sorvetes (plantas de pasteurização, dosadoras, picoleteiras, embaladoras) Pequena Sorveterias E3 Máquinas p/ pastéis (fogão, cilindro, massadeira, enrolador e fechador automático) Pequena Pasteleiros/ Fast Food/ Indústria Alimentícia E4 Máquinas p/ sorvetes, plantas piloto industriais (dosadores, batedoras, picoleteiras, podutora, multi- funcional, equipamentos para rotular, plantas de pausterização Média Sorveterias/ Fast Food/ Frande Indústria Alimentícia E5 Máquinas p/ sorvete soft de alta performance, máquinas para Milk- shake e chantili, fabricadores de gelos em cubos, dispensadores Média Fast Food/ Hotéis/ Restaurantes/ Sorveterias E6 Chapas, queimadores e grelhadores industriais, sanduicheiras, estufas, char broilers. Médias Lanchonetes/ Restaurantes/ Cozinha Industrial / Distribuidor Fonte: Ghobril (2007) Para os clientes, foram escolhidas empresas de grande porte por estarem em estágios mais avançados do ciclo de vida e por, possivelmente, já terem experimentado as dificuldades de seleção e o ônus da má escolha de fornecedores de máquinas. As empresas são mostradas na Tabela 3. Tabela 3 – Especificações das empresas clientes das fabricantes de máquinas Código Ramo de Atividade Principais Clientes Sistema E7 Carnes Mc Donald’s Volume/ Seriado E8 Mel e Derivados Distribuidores de mel no Japão Sob Pedido E9 Chocolates Distribuidores Chocolate, Kraft, Nestlé Seriado E10 Rações e Suplementos nutricionais para animais Sadia, Perdigão, Seara, Nestlé, Cooper, Itambé Sob Pedido E11 Salgados/Doces Lojas próprias/ consumidor finalPor Lotes E12 Salgados/Doces Lojas próprias/ consumidor final; Pão de Açúcar Por Lotes Fonte: Adaptado de Ghobril (2007) 170 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 Para uma melhor visualização, às empresas de bens de capital – fabricantes de máquinas – foram atribuídos códigos de E1 a E6 e, às empresas de clientes das fabricantes de máquinas, códigos de E7 a E12. As entrevistas realizadas por Ghobril (2007) foram feitas com empresas fornecedoras de máquinas focadas em atender principalmente o segmento de indústria de alimentos. 5 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS Para melhor entendimento, a análise dos dados foi dividida em três partes. A primeira parte trata da apuração dos dados coletados por meio de material teórico (definições de qualidade), a segunda e terceira parte tratam dos dados coletados nas entrevistas realizadas na tese de Ghobril (2007). a) Qualidade e suas definições Não há maneira de definir qualidade sem atentar para o atendimento integral ao cliente e, conseqüentemente, não há como atender o mesmo sem qualidade no processo de produção. Por isso, a qualidade começa e termina no cliente (PALADINI, 1994). A maioria dos autores pesquisados, ao definirem qualidade, associam-na à “Conformidade com as especificações”, ou seja, qualidade relacionada à adequação aos propósitos de uso do produto, se ele faz ou não o que o que deve fazer. Usando “Controle na Gestão” como palavra chave associada à qualidade, parte-se do pressuposto de que programas de qualidades aplicados diretamente no produto não surtirão efeito se não partirem, inicialmente, de uma mudança na forma de gerir a empresa. “Planejamento, controle e melhoria. Má gestão é igual a uma má qualidade” (JURAN; GRYNA,1992). Apesar de “Assistência Técnica” ter sido pouco citada, é válido expor que no setor de bens de capital ela é imprescindível. Máquinas têm um período de vida alto e, no setor, têm um forte peso como ressalta o trecho abaixo, extraído do Focus Group realizado na tese de Ghobril (2007): “Ninguém está disposto a comprar um produto sem ter a certeza de que o fornecedor vai continuar existindo e prestando assistência técnica ao cliente.” (pág. 207) A assistência técnica está associada também à confiabilidade da empresa perante mercado. Como adquirir bens de capital é um investimento de longo prazo, ela acaba sendo um fator preponderante na decisão de compra. Leva-se em conta, também, a disponibilidade de peças de reposição e o tempo de reparo. A associação de qualidade ao “zero defeito” talvez tenha apresentado uma moda baixa por já se estabelecer que uma empresa que atua no mercado com produtos que apresentem muitos defeitos não sobreviverá por muito tempo, visto que a qualidade é fator comum e importantíssimo entre aqueles que querem uma vantagem competitiva sustentável. Estética/ Design apareceu com a menor moda, mas ao se associar a palavra chave ao ambiente do setor de bens de capital pode-se perceber que a tendência das máquinas 171 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 para o setor alimentício é de diminuir o tamanho e aumentar sua potência (ABIMAQ, 2009). b) Análise das Entrevistas: Fabricantes de Máquinas Referente às entrevistas realizadas por Ghobril (2007) com os fabricantes de máquinas e das definições de qualidade, formou-se a Tabela 4. Tabela 4 – Moda relativa das respostas dos fabricantes de máquinas relacionadas às definições de qualidade Qualidade do Serviço Qualidade do Produto Código Flexibi- lidade Controle Gestão Assist. Técnica Confia- bilidade Confor- Midade Desem- Penho Flexibi- lidade Atributos Design TOTAL E1 3 / 8 / 4 1 4 / 1 21 E2 1 1 2 / 1 / / / / 5 E3 5 / 6 5 1 2 / / / 19 E4 / / 1 1 3 2 1 1 1 10 E5 / / 1 / 1 2 / 2 1 7 E6 / / 2 1 1 / 1 / 1 6 TOTAL 9 1 20 7 11 7 6 3 4 Fonte: Dados da pesquisa Analisando a Tabela 4 em função das fontes de qualidade, observa-se que: Assistência Técnica, Conformidade às Normas e Projeto e Flexibilidade de data de entrega, foram os mais citados pelos entrevistados. Entendeu-se como Assistência Técnica, de acordo com os entrevistados, a prestação de serviço e pós-venda tanto de reparo/manutenção como, também, o fornecimento e reposição de peças. Ou seja, a relação existente com qualidade significou que quanto maior a disponibildiade de assistência técnica, maior será o interesse do cliente em adiquirir a máquina. Mais ainda do que a manutenção da máquina, na visão dos fabricantes, o cliente se preocupa imensamente com a disponibilidade de peças de reposição. Muitos solicitam estoque das peças mais essenciais. Esta questão de peças é citada pelo menos uma vez, nas entrevistas com cada empresa fabricante de bens de capital. A E1 é a empresa que mais tem esta preocupação: das 8 citações sobre assistência técnica 6 falaram diretamente de reposição de peças como, por exemplo, no trecho seguinte: E1 “em termos de pneumática eu uso a melhor marca que existe no mundo é muito mais caro, mas em compensação o fornecimento de peça sobressalente que é peça para reposição eles são muito melhores... quer dizer, eu consigo em dois dias no máximo e só botar a máquina do cliente para funcionar (...) eu forneço todas [reposição de peças] eu já procuro manter aqui comigo algumas peças estratégicas que costuma dar problemas na parte pneumática.” (pág. 387) A necessidade de assistência técnina não é apenas vista como algo essencial de todo fabricante, mas também como uma oportunidade para inovação em serviços, visto que, como foi citado pelos fabricantes, mesmo a máquina tendo funcionado de forma correta e sem problemas durante anos, quando o cliente precisar de peças/assistência e esta demora ou é feita de forma insatisfatória, o fabricante passa a ser mal visto e, consequentemente, isso terá peso na próxima compra. 172 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 E3 “O nosso cliente vê muito a partir da manutenção. Ele quer comodidade, então, ele não quer quebrar uma máquina e ele não vai ir atrás para arrumar, por isso que a gente pega muito na manutenção.” (pág. 413) E5 “a visão é igual para o cliente pequeno e grande. Qualidade é o produto funcionando na casa do cliente, então há um pós-venda bastante efetivo, rede de assistência técnica no Brasil todo” (pág. 178) Já no quesito “Conformidade com Especificações” atribuiu-se a importância para padronização de processos, garantidos pela aprovação do cliente. O ISO é importante, muitas vezes, apenas para aqueles que decidem exportar, visto que ele atua como barreira de entrada em outros países. Essas duas afirmações podem ser melhor exemplificadas com o depoimento abaixo: E4 “A Europa e os EUA usam a certificação como barreira de entrada e proteção aos fabricantes locais. Procuramos em geral mercados menos restritos. Mas primamos pela qualidade.” (pág. 175) O ISO 9000 é um grupo de normas que estabelecem um modelo de gestão da qualidade para empresas. A adoção das normas ISO confere às empresas maior organização, e produtividade, porém o ISO normatiza os processos e não a empresa como um todo. Essa padronização, apesar dos benefícios citados, pode desestimular a inovação vinda do funcionário. E3 “(...) ISO é importante, mas a gente procura inovação. Primeiro vem a certificação do cliente depois o ISO” (pág. 406) A E1, empresa que mais citou “Assistência Técnica” associado-a à qualidade, foi também a que mais se referiu à padronização e normas. Para a E1 o mais importante é “entregar o queo cliente pediu, exatamente da forma que ele espera.” A “Flexibilidade de data de Entrega/ Inovação”, terceiro item mais citado pelos fabricantes de máquinas, corresponde principalmente à busca das necessidades do mercado. As três empresas que citaram este item (E1, E2 e E3) afirmam que ao inovar, as importações de máquinas diminuem fixando o capital dentro do país. O “Desempenho do Equipamento”, vindo logo em seguida, está associado a novas compras. Para os fabricantes, o alto preço do equipamento é devido à alta qualidade deste. Ao se projetar, por exemplo, uma máquina para durar 10 anos o preço vai ser proporcional à essa durabilidade alinhada ao desempenho. Das quatro empresas que citaram o Desempenho (E1, E3, E4 e E5) três delas ligaram a qualidade deste à terceirização de alguns processos (E3, E4 e E5). A terceirização, apesar dos benefícios trazidos quanto à especialização do que é produzido, pode implicar em um descontrole e contratação de pessoas pouco preparadas que estarão vinculadas, aos olhos do cliente, diretamente à imagem da empresa (GIOSA, 2003). O preço, apesar de não citado nas definições teóricas, foi relacionado à qualidade por quatro das seis empresas fabricantes de máquinas (E1, E4, E5 e E6). A questão do desempenho está intimamente ligada ao preço e à qualidade. Para os fabricantes, o alto preço é diretamente proporcional ao desempenho: 173 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 E1 “o preço é essencial para todo mundo, mas não é prioridade, a gente tem um preço que é um preço justo. A gente faz a máquina durar 10 anos, então, a máquina tem esse preço mesmo.” (pág. 400) E4 “Nosso diferencial é custo-benefício. Na linha soft, nosso produto é incomparável, melhor qualidade, É mais caro, mas nosso produto dá um bom lucro pro cliente.” (pág. 173) E5 “Nós somos lideres no mercado de máquinas de sorvete e isso aconteceu em função da qualidade. O cliente lá disposto a pagar um preço mais alto se o produto é confiável (pág. 419) E6 “(...) relação qualidade-preço boa, o mercado não aceita qualquer coisa.” (pág. 432) Apesar disso, os fabricantes sabem que não conseguirão competir se o valor cobrado pelo produto for algo fora da realidade de mercado. A implantação da Gestão da Qualidade alinha essa qualidade que a empresa deseja auferir juntamente com o aumento de produtividade e a diminuição de custos. Não adianta a empresa ter a qualidade no processo e no produto se o preço for alto demais, pois os clientes não comprarão. Essa associação do preço e qualidade examinada nas afirmações dos entrevistados tem um limite imposto pelo próprio mercado. No quesito “Confiabilidade do Equipamento e Controle de Qualidade (Sem Defeitos)” é interessante apontar das três empresas que citaram esse quesito, apenas uma (E1) falou diretamente de um programa de controle da qualidade, sendo que a E6 afirmou não ter um sistema formal de qualidade e a E4 apenas citou-o, não especificando claramente como a empresa faz, de fato, para controlar a qualidade dos produtos. A entrada de concorrentes informais pode fazer com que alguns fabricantes, para conseguir concorrer a curto prazo como fez a E6, tenham de ampliar sua linha, diminuindo sua eficiência. Como dito anteriormente, a E3 citou detalhadamente os processos indicando que a preocupação é de todos os níveis gerenciais da empresa: desde o diretor até o funcionário que monta a máquinas, todos estão ligados à formação da qualidade no produto: E3 “(...) aí dentro disso chegou no controle de qualidade... vai lá um diretor, olha a máquina e ele assume isso e arruma o erro. Se der problema na pintura, a pintura assume o erro. A máquina sai só depois que um diretor olha e vê se tudo tá certo com o controle de qualidade” (pág. 407) A “Flexibilidade de Alteração Técnica do Equipamento” é vista pelos fabricantes como a possibilidade do cliente interferir no projeto e adequar a máquina a algumas necessidades específicas do seu negócio. Das três empresas que citaram este quesito, apenas a E1 mostra-se flexível a essa possibilidade. Talvez por serem equipamentos caros e que demandam um projeto especifico, poucas empresas se adéquam ao que o cliente demanda, mas sim o cliente se adéqua às opções oferecidas pelas fabricantes. Mas na visão da E1 essa necessidade acaba virando uma oportunidade, pois a máquina produzida para um cliente pode interessar a mais clientes: 174 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 E1 “o cliente diz que necessita de uma máquina maior, por exemplo, nós vamos lá e fazemos. A máquina acaba virando de linha.” (pág. 174) O quesito “Estética/Design” apesar de ter moda baixa, foi citado por todas as fabricantes excetuando a E2 e E3. Para os fabricantes este item está relacionado à aparência externa da máquina, à facilidade de manutenção/limpeza desta e a E4 vê no tamanho um quesito forte na hora do cliente decidir E4 “(...) na linha industrial a venda é feita pela imagem, perdemos algumas vendas, pois o cliente acha os equipamentos compactos. O cliente compra a robustez dos concorrentes.” (pág. 415) Os “Atributos”, citados por apenas duas empresas (E4 e E5) fazem referência a diferenciais no produto, que os torne mais práticos e que, conseqüentemente, aumentem o seu valor agregado E4 “vendemos a máquina com um kit de reposição. Damos suporte para técnicos especializados ou para funcionários da fábrica, temos vídeos para treinamento operacional.” (pág. 416) E, por fim, o quesito “Controle na Gestão”, citado apenas pela E2 mostra que as fabricantes associam a qualidade mais ao produto e suas características técnicas do que à Gestão dos processos e da empresa. Esse pensamento pode ser prejudicial, visto que a qualidade só consegue ser auferida de fato só houver um comprometimento de todos os níveis da empresa. Se os funcionários não estiverem alinhados ao objetivo, ocorrerão falhas: a qualidade obedece a um ciclo e só chegará ao cliente se os processos forem passados de área a área, com a mentalidade de que cada área é cliente interno da outra. Em suma, pode-se perceber que na opinião dos entrevistados, quanto maior a qualidade do produto, mais competitiva será a empresa, principalmente no que tange a serviços (Assistência Técnica), pois este fator significou um diferencial com relação aos concorrentes. Dessa forma, os quesitos mais citados nas respostas, demonstram que a preocupação dos entrevistados coincide - uns mais que outros - com os conceitos de qualidade e que, a partir da avaliação do que os clientes entendem como “Qualidade”, realizado abaixo no item “c” poderá concluir se os fabricantes conseguem ou não oferecer qualidade aos clientes. c) Análise das Entrevistas: Clientes dos Fabricantes de Máquinas Referente às entrevistas realizadas por Ghobril (2007) com os clientes dos fabricantes de máquinas e das definições de qualidade, formou-se a seguinte tabela: 175 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 Tabela 5– Moda relativa das respostas dos clientes dos fabricantes de máquinas relacionadas às definições de qualidade Qualidade do Serviço Qualidade do Produto Código Flexibi- lidade Controle Gestão Assist. Técnica Confia- bilidade Confor- Midade Desem- Penho Flexibi- lidade Atributos Design TOTAL E7 / 1 4 3 2 5 2 / / 17 E8 / / 5 6 4 / / / / 15 E9 / 1 2 / 1 / / / / 4 E10 / / 1 / 1 / / 1 / 3 E11 1 / 1 1 1 3 / 1 / 8 E12 1 2 1 / 1 / / 1 2 8 TOTAL 2 3 12 10 10 8 2 3 2 Fonte: Dados da pesquisa O quesito “Assistência Técnica”, mais citado entre os fabricantesde máquinas, também foi o mais citado entre os clientes e, como ocorreu com os fornecedores, todos os clientes citaram pelo menos uma vez este quesito. Ao analisar as entrevistas fica evidente a importância da Assistencia Técnica para as empresas que dependem de máquinas no seu processo produtivo. A Assistência Técnica é vista como um enorme diferencial e define, muitas vezes, o processo de compra e não apenas isso, ela é de alta importância ao analisar a permanência do forncedor como parceiro. E9 “O primeiro fator para escolha do fornecedor é a velocidade de resposta na assistência técnica.” (pág. 460) Pensando nessa velocidade, dois dos clientes entrevistados (E7 e E8) enfatizam que a ncessidade da empresa por um serviço ágil, acaba levando-as a importar máquinas: E7 “Se a máquina nacional pára é o mesmo tempo de resposta que a internacional.” (pág. 448) Para a E7 os fabricantes nacionais não conseguem oferecer essa agilidade na manutenção e na reposição de peças e, devido a isso, a empresa optou por importar máquinas que, segundo a concepção da empresa, têm uma qualidade melhor e, caso a máquina falhe, o tempo de resposta não será tão maior do que o de um fabricante nacional. Como visto na análise sobre os fabricantes, a disponibildiade de peças de reposição também é evidentemente essencial para os clientes. A importância desse subquesito fica resumida no trecho de entrevista abaixo: E8 “Seria interessante se na compra do equipamento nacional houvesse um kit de reposição crítica.” 176 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 A Assistência Técnina - ou mais especificamente falando, o pós venda - é uma ótima forma de fidelizar clientes (KOTLER, 2000), visto que a diferenciação entre alguns equipamentos é pouca e que os clientes tomam decisões, muitas veses, baseados na disponibildiade de manutenção do fabricante. Os clientes esperam que o pós-venda seja um atributo do produto; ele é uma extensão da venda e está diretamente associado ao significado de qualidade. Na análise em conjunto das entrevistas dos fornecedores e de seus clientes, no quesito “Assistência Técnica”, mostrou-se que há o alinhamento: os fabricantes enxergam a relevância desse quesito da mesma forma que os clientes. Os fabricantes enfatizaram tanto quanto os clientes a importância do suprimento de peças de reposição, isso fica evidenciado pela conclusão de que há o alinhamento entre os fabricantes de máquinas e seus clientes, porém é importantíssimo salientar que apesar dos fabricantes terem em mente essa relevância, pela análise das entrevistas, vê-se que estes ainda pecam muito na oferta deste tipo de serviço. O quesito “Conformidade com Especificações” - citado pelo menos uma vez por todos os clientes de máquinas - teve a segunda maior moda nas entrevistas com os fabricantes e também com os clientes. Isso vem a salientar ainda mais a importância dada à reputação do fornecedor perante o cliente, principalmente, porque este valoriza o serviço rápido e ágil. Os clientes vêem a questão do ISO de forma parecida a dos fornecedores. A certificação é muito importante para empresas que exportam e trabalham com clientes internacionais, porém ela não é necessariamente garantia de qualidade. Parece estar ciente, para aqueles que compram máquinas, o fato de que as empresas só vão conseguir entregar um produto de qualidade ao consumidor final, se houver essa preocupação durante toda a cadeia produtiva, não só internamente, mas também, desde o primeiro fornecedor. E8 “Tem padrões de qualidade controle de excelência, de cuidados operacionais, controle de qualidade que exige que tenha bons fornecedores. De alguma forma essas práticas acabam sendo cobradas dos fornecedores mesmo que não seja certificada, mas ele precisa ter práticas de relacionamento, de assistência técnica compatível com a operação pra que você seja certificado.” (pág. 457) Na análise em conjunto das entrevistas dos fornecedores e de seus clientes, no quesito “Conformidade com Especificações”, mostrou-se que há o alinhamento: os fabricantes enxergam a relevância desse quesito da mesma forma que os clientes. O quesito “Confiabilidade do Equipamento/Controle de Qualidade (Zero Defeito)” obteve a mesma moda de “Conformidade com Especificações”, porém foi citado apenas por três das seis empresas-cliente. Para a E7 a maneira mais eficaz de averiguar se o fornecedor está ou não produzindo algo com qualidade é através de auditorias bimestrais. Já para a E8 testes laboratoriais são feitos diariamente para que o produto saia sem defeito, ou seja, com um controle de qualidade máximo. A E11 possui programas de controle, não explicados diretamente, porém é visto que a empresa procura testar a qualidade nas lojas dos clientes A ausência de defeitos é de extrema importância pra os clientes estando intimamente ligada à “assistência técnica” e à “conformidade com as especificações”. Para aos clientes que fizeram citações que se encaixaram nesse item teórico, a boa qualidade e 177 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 confiabilidade do fornecedor é o primeiro passo para se obter, também, a qualidade final. E7 “Desde a cadeia de frios, é coisa que afeta o nosso produto final, então nós auditamos, por exemplo, as condições de recebimento, de estocagem, para saber se o produto foi bem transportado, se está bem estocado, acidez do molho porque tudo isso trás a qualidade final do produto.” (pág. 441) É fundamental a manutenção de um relacionamento de confiança com os clientes. Através da conquista de clientes fiéis uma empresa pode diminuir a dependência da busca continua de novos clientes. Na análise em conjunto das entrevistas dos fornecedores e de seus clientes, no quesito “Confiabilidade do Equipamento/Controle de Qualidade (Zero Defeito)”, mostrou-se que há o alinhamento: os fabricantes enxergam a relevância desse quesito da mesma forma que os clientes. Apesar do quesito “Desempenho do Equipamento” ter a quarta maior moda entre os clientes, ela foi citada apenas por duas empresas (E7 e E11). As empresas associam esse quesito à produtividade, salientando bastante o desempenho dos produtos nacionais em relação aos importados. Para a E7, principalmente, não há nada no mercado brasileiro que se compare ao importado. E7 “No mercado nacional não tem fabricantes de máquina com a mesma performance que o internacional. Não importa se ele não quebra e se não vai dar manutenção se a máquina produz 30% menos que a do concorrente.” (pág. 447) Para a E7 a questão de desempenho e produtividade da máquina é mais importante a disponibilidade de assistência técnica. A E11 pontua a ligação importante que há entre o fabricante-cliente. E11 “É qualidade, produtos frescos e diferenciados, só isso que sustenta uma rede que tem um custo nos postos (...) tudo que oferece, ele oferece para os clientes. Se não você fica numa coisa meio: ofereço de um lado, mas não correspondo no produto, no que a pessoa vai consumir.” (pág. 471) Na análise em conjunto das entrevistas dos fornecedores e de seus clientes, no quesito “Desempenho do Equipamento”, nota-se que, apesar das clientes de máquinas não se referirem explicitamente que falhas no desempenho do equipamento são fatores decisivos para novas compras – como afirmado pelos fabricantes – pela importância atribuída à este, conclui-se que os clientes que encontram problemas no quesito, possivelmente não voltarão a fazer a compra. Pelo baixo número de respostas e de apenas duas empresas citarem indiretamente esse quesito, não é possível afirmar se há o alinhamento, ou seja, se os fabricantesentendem o que o cliente tem como “Desempenho”. Possivelmente esse baixo número de associações da qualidade ao desempenho é devido ao que, depois da analise, conclui-se que ocorreu com o quesito “Zero Defeito”: os clientes tenham esse item incorporado como algo básico e que, caso o equipamento não atenda as especificações de produção, a empresa que atua no mercado apresentando defeitos não conseguirá se manter por muito tempo, dado que, a qualidade é fator importante para a vantagem competitiva sustentável (DEMING, 1990). 178 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 O quesito “Atributos” foi muito associado com o “Design” da máquina. Para os clientes, o produto tem de ser de fácil limpeza e manuseio e compacto. E10 “Para nós, as máquinas precisa ser robustas e misturar bem, dada a enorme variedade de fórmulas com que operamos. Precisam também de fácil manuseio, facilitando a limpeza e a troca de ingredientes da mistura janelas de inspeção são importantes para visualizar o interior da maquina” (pág. 199) Por meio da análise do Focus Group também realizado por Ghobril (2007) observa-se uma tendência das empresas menores buscarem, primeiramente, a resolução de problemas base como o atendimento, padrões mínimos de qualidade entre outros para então, depois, buscarem a inovação. Os fabricantes são empresas menores e a análise mostra que eles não estão tão focados em inovação de produto como, por exemplo, seus clientes que já são empresas maiores e experientes no mercado. Na análise em conjunto das entrevistas dos fornecedores e de seus clientes, nos quesitos “Atributos” e “Design”, mostrou-se que há o alinhamento: os fabricantes enxergam a relevância desses quesitos da mesma forma que os clientes. O Focus Group mostrou que: “os clientes da indústria de máquinas têm buscado máquinas menores, acessórios e serviços (GHOBRIL, 2007). Em análise ao “Controle na Gestão”, os clientes associam a qualidade mais ao produto e suas características técnicas do que à Gestão dos processos e da empresa. Isso acontece da mesma forma que ocorre com os fabricantes, ou seja, tantos os clientes quanto os fabricantes, não dão muito importância à este quesito em relação à qualidade. Esse tipo de visão poder acarretar problemas, visto que o alinhamento interno entre as áreas é essencial para implantar a cultura da qualidade na empresa. Na análise em conjunto das entrevistas dos fornecedores e de seus clientes, no quesito “Controle na Gestão” mostrou-se que há o alinhamento: os fabricantes enxergam a relevância- mesmo sendo pouca- desse quesito da mesma forma que os clientes. A “Flexibilidade de Alteração Técnica do Equipamento”, pouco citada pelos clientes é vista da mesma forma que é vista pelos fabricantes: como a possibilidade do cliente interferir no projeto e adequar a máquina a algumas necessidades específicas do seu negócio. Esse quesito foi pouco citado pelos clientes, porém obteve a mesma associação que a dada pelos fabricantes e, devido a esse fato, na análise em conjunto das entrevistas dos fornecedores e de seus clientes, mostrou-se que há o alinhamento: os fabricantes enxergam a relevância desse quesito da mesma forma que os clientes. A “Flexibilidade de data de Entrega/ Inovação”, último item em relevância par aos clientes e terceiro item mais citado pelos fabricantes de máquinas, corresponde à busca das necessidades do mercado. As duas empresas que citaram este item (E11 e E12) afirmam que a inovação deve fazer parte da cultura organizacional do fabricante. A crescente competitividade é gerada pelas pessoas que, ao investirem na empresa por meio do seu processo criativo, acabam gerando a inovação que é vista pelo cliente como um diferencial. Essa inovação pode ser radical (algo completamente novo) ou incremental (pequenas melhorias). Sabe-se que a inovação está ligada à necessidade do mercado, ao conhecimento sobre o assunto (conhecimento tecnológico, por exemplo) e à criatividade. A empresa que conseguir inovar com qualidade dificilmente não sobreviverá á uma crise. Essa inovação é importantíssima, visto que o cliente precisa enxergar um diferencial no produto. 179 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 Em suma, pode-se perceber que na opinião dos entrevistados, quanto maior a qualidade do produto, mais competitiva será a empresa, principalmente no que tange a serviços (Assistência Técnica), pois este fator significou um diferencial com relação aos concorrentes. Dessa forma, os quesitos mais citados nas respostas, demonstram que a preocupação dos entrevistados coincide - uns mais que outros - com os conceitos de qualidade e que, a partir da avaliação do que os clientes entendem como “Qualidade”. 6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PROSSEGUIMENTO Este estudo teve como objetivo geral, analisar o fator “Qualidade” e seu alinhamento estrategicamente entre o ambiente interno e externo da empresa, por meio do seu desdobramento na cadeia de suprimentos de bens de capital. Assim, com base nos levantamentos bibliográficos e nas entrevistas em profundidade realizadas por Ghobril (2007), pode-se avaliar em que medida os fabricantes de máquinas valorizam as variáveis relativas à qualidade, bem como dispor de uma oferta de produtos ou serviços alinhada à demanda de seus clientes. Assim, conhecido a interação entre os fabricantes de máquinas e equipamentos e seus clientes, foi possível verificar que: a) as prioridades competitivas no que tange a qualidade, são aderentes àquelas desejáveis para aquele perfil de clientes; b) com a combinação das definições de qualidade foi possível traçar um alinhamento entre fornecedores e clientes e, por conseqüência, o desempenho delas. c) a qualidade para os fabricantes de máquinas para a indústria alimentícia, está associada as características do produto como sabor, textura e higiene, tanto no que se refere a “Qualidade no Serviço” como à “Qualidade no Produto”; d) os fabricantes enfatizam que “Conformidade” é um requisito importante, porém associam a fidelidade de seus clientes à qualidade dos produtos; e) os clientes necessitam de máquinas robustas devido à grande escala de produção, porém elas devem ser flexíveis no que se refere à misturas e tipos de ingredientes; f) na opinião dos entrevistados, quanto maior a qualidade do produto, mais competitiva é a empresa, principalmente no que tange a serviços (Assistência Técnica), pois este fator significou um diferencial competitivo importantíssimo com relação aos concorrentes. Portanto, por conta desses resultados obtidos, pode-se concluir que existe a preocupação dos entrevistados com os conceitos de qualidade e que, a partir da avaliação do que os clientes entendem como “Qualidade”, os fabricantes conseguem se alinhar à qualidade desejada aos clientes. Pelo fato dos clientes terem uma preocupação elevada com o serviço (assistência técnica, reposição de peças), muitas vezes, estes acabam optando, por aquele fornecedor que consegue suprir essa necessidade da indústria. 180 REVISTA JOVENS PESQUISADORES ANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 Por fim, como prosseguimentos do estudo, são sugeridos: a) que as empresas tenham como estratégias a definição clara do cliente-alvo, associadas às suas prioridades competitivas, que servirão de orientação para a ação; b) A qualidade deve ser vista como um bom atalho para que se atenda da melhor forma possível quem realmente interessa, o cliente e; c) quando essas estratégias não dão resultado é preciso que elas sejam revistas para que, reajustadas, atendem as novas demandas e mudanças de mercado. 181 REVISTA JOVENS PESQUISADORESANO VI, N. 10, JAN./JUN. 2009 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIMAQ – Informativo Mensal. Disponível em:< http://www.abimaq.org.br > Acesso em 02/02/2009 AKAO, Y. 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