Buscar

Trabalho E.P. Ética

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

UNIVERSIDADE PAULISTA 
Ética Profissional 
PSICOLOGIA NA LUTA ANTIMANICOMIAL 
São Paulo
2016
PSICOLOGIA NA LUTA ANTIMANICOMIAL 
Trabalho Acadêmico de Psicologia, apresentado à Universidade Paulista como requisito parcial para obtenção da nota de Primeiro e Segundo bimestre, sob orientação da professora MSC. 
São Paulo
2016
INTRODUÇÃO
 O Movimento da Luta Antimanicomial se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental. Dentro desta luta está o combate à idéia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, idéia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental. O Movimento da Luta antimanicomial faz lembrar que como todo cidadão estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direto a receber cuidado e tratamento sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos.
O QUE É A LUTA ANTIMANICOMIAL?
 Movimento antimanicomial ou mais conhecido como Luta antimanicomial, tem como principal objetivo a inserção de pessoas com certo sofrimento mental na sociedade e garantir a essas pessoas todos seus direitos. Direitos que todos nós temos, como o de ir e vir, direito à liberdade, direito de viver em sociedade, exercer nosso papel como cidadão, foram privados de pessoas consideradas loucas em grande parte da história, por conta disso o louco sempre esteve recluso da sociedade, muitas das vezes presos em manicômios. O movimento entra para combater esse meio de reclusão e apoia a substituição progressiva dos hospitais psiquiátricos tradicionais por serviços abertos com atenção principal a saúde mental que possam auxiliar junto a sociedade essas pessoas, viabilizando ainda mais seu tratamento, e ainda formas de atenção dignas e diversificadas de modo a atender às diferentes manifestações e momentos em que o sofrimento mental surge e se manifesta.
 A Reforma Psiquiátrica Brasileira também tem como objetivo a construção da cidadania como estatuto social do louco, do direito a participar da sociedade, a demandar e a ter acesso a atendimento de qualidade que respeite seus direitos como cidadão. Assim, a Reforma Psiquiátrica visa atuar no âmbito coletivo e produzir mudanças culturais, através da substituição das práticas de exclusão do louco no manicômio, por uma nova clínica do cotidiano, na forma de uma rede pública de atendimento de caráter descentralizado e comunitário.
 No entanto, mesmo sendo uma política reconhecida pelo governo brasileiro, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), há setores conservadores que defendem o retorno dos hospitais psiquiátricos. Diante deste contexto, o Movimento da Luta Antimanicomial tem a necessidade de se reunir para definir seus objetivos e suas estratégias de ação no sentido de afirmar e lutar pelo avanço da Reforma Psiquiátrica no Brasil.
 O Movimento da Luta Antimanicomial caracteriza-se pelo seu caráter democrático, contando com a participação ativa e efetiva dos usuários de serviços de saúde mental, seus familiares, profissionais, estudantes e quaisquer interessados em defender uma postura de respeito aos diferentes modos de ser e a transformação da relação cultural da sociedade com as pessoas que sofrem por transtornos mentais.
COMO O PSICÓLOGO ATUA PROFISSIONALMENTE NESSE CONTEXTO DE LUTA ANTIMANICOMIAL?
 Primeiro é preciso entender que nem sempre é um psicólogo que vai ter contato direto, ou que vai ficar responsável pelos cuidados psicológicos e físicos dos pacientes que estão inseridos nos manicômios ainda existentes. Muito por conta, de que na maioria das vezes, vai haver uma interação entre os profissionais envolvidos, que no caso são muitos diferentes que fazem parte dessa luta antimanicomial, como: Assistentes Sociais, Enfermeiros, Auxiliares de Enfermagem, Médicos, Estagiários, Psicólogos, Psiquiatras, Psicanalistas, entre outros (MINZONI, M.P. Assistência ao doente mental). 
 Para entendermos um pouco melhor, a história nos remete a reviras voltas e a grandes evoluções entre outras áreas como a medicina, no campo da psicologia clínica. 
 O ponto inicial da origem comum do que hoje se conhece como Psicologia Clínica e da Psiquiatria é a filosofia pré-científica do século VI A.C., da qual Thales de Mileto é a figura mais importante. No século seguinte surge Hipócrates, filósofo cuja a preocupação básica eram os enfermos e que hoje é lembrado como iniciador da Medicina. O seu interesse nos fenômenos naturais esteve estreitamente ligado ao desejo de tratar e curar. Um século após, o IV A. C, destacou-se Aristóteles cujo interesse era mais o de conhecer e menos o de curar. Aristóteles pode ser apontado como o precursor dos psicólogos dos séculos seguintes.
 A Medicina Moderna se inicia na Renascença com o trabalho de homens como Harvey, Sydenham e outros que herdando os conhecimentos greco-romanos e os dos médicos árabes passaram a investigar os fenômenos naturais relacionados com a anatomia, a fisiologia e a patologia. O interesse das doenças mentais, por eles compartilhado, é mais evidente em Weyer, Paracelsus, vives e culmina no século XVIII com os nomes de Pinel, Reil, Chiarug. A Medicina sofre a influência de Darwin e suas teorias, modificando a parte científica e a de Paracelsus e Mesmer, no lado da Medicina-Arte. Eles (Pinel, Reil, Chiarug) são os precursores de homens como: Charcot, Krapelin, Janet, Breuer, Freud, Jung, Bleuler que irão modificar e modelar a parte da Medicina que ora se considera o principal meio de estudos do corpo humano.
 A Psicologia científica se origina da Filosofia e da ciência moderna dela derivada. Aristóteles é redescoberto na Renascença e a Copérnico se acredita a função da ciência moderna. Ao tempo que a Biologia era desenvolvida pelos precursores de Darwin e as ciências físicas o eram por Newton, Kepler e Galileo, nascia uma Psicologia associacionista representada pelos filósofos Locke Hume e Berkeley. Os seguidores de Darwin iriam criar uma Psicologia fisiológica cujos expoentes foram Galton, Cattel e mais tarde Pavlov. Os seguidores de Berkelei iniciaram a Psicologia experimental e os nomes de Fechner, Wundt e Ebbinghaus são conhecidos dos estudiosos da Psicanálise por serem frequentemente citados por Freud. O início do presente século assistiu ao surgimento das aplicações práticas da Psicologia experimental sob a forma de testes destinados sobretudo a avaliar a deficiência mental e medir a inteligência.
 A Psicanálise nasceu dentro da Medicina, mas transcendeu as suas fronteiras para dar as bases à Psicologia científica contemporânea. Assim a Medicina trouxe à Psicologia uma influência decisiva e renovadora que permitiu a está um novo surto de progresso. Por outro lado, a Psicanálise foi instrumental na introdução da Psicologia no currículo e na prática médica, originando o conceito de Medicina Psicossomática. 
FUNÇÕES DO PSICÓLOGO CLÍNICO
 Como membro da equipe psiquiátrica compete ao psicólogo clinico contribuir para os objetivos do grupo, que podem ser divididos em cinco áreas específicas: Diagnóstico; Tratamento; Ensino e Treinamento; Investigação; Prevenção. 
 Em especial o psicólogo clinico contribui com conhecimentos e técnicas especializadas capazes de enriquecer e complementar a ação do grupo. Para efeitos do que será dito em continuação é preciso conceituar a doença mental que é objetivo central do trabalho da equipe. Neste trabalho expressões como desvios de personalidade, desajustamento de conduta, perturbação emocional e outros similares serão tratados como aspectos do termo mais amplo: Doença Mental. Esta é conceituada como uma manifestação desviante nas áreas das funções fisiológicas, psicológicas e sociais,
de conflito da personalidade face ao impacto de interesses ou fatores precipitantes. Estes podem ser de natureza social, psíquica, biológica, tóxica, infecciosa. Portanto ao falar de doença mental se compreenderão as chamadas neuroses, psicoses, reações associais e antissociais - delinquência, crime, perversões, perturbações de conduta e as moléstias ditas psicossomáticas.
DIAGNÓSTICO
 O diagnóstico não pode e nem deve ser considerado como uma etapa separada e desconectada do tratamento. Para efeitos da discussão isso será feito para poder destacar o papel do psicólogo nesta função da equipe psiquiátrica. O paciente ao ser estudado é objeto de quatro diagnósticos: Diagnóstico de Personalidade; Diagnóstico Nosológico; Diagnóstico genético-dinâmico topográfico; Avaliação Socioeconômica.
 Para ser realizado esses diagnósticos a equipe trabalha integrada a postos que os mesmos são resultantes da confluência de informações de três vertentes:
 A Primeira, história pregressa, geralmente obtida pelo psiquiatra com a cooperação da assistente social psiquiátrica, permite à equipe avaliar os modos de funcionamento pré-mórbido, fornecendo o diagnóstico social e de personalidade. Esta parte oferece a primeira hipótese diagnóstica pois o estudo do material histórico e dos modos de adaptação do indivíduo antes de tornar-se doente permitem que se reconheçam os paradigmas integrativos fundamentais da personalidade.
 A Segunda, história da doença atual, colhida pelo psiquiatra, representa uma repetição aguda dos paradigmas infantis. A reativação dos conflitos infantis face aos fatores precipitantes, sociais, psíquicos, biológicos ou outros, que irão determinar o surgimento das angústias persecutórias e depressivas bem como das técnicas defensivas regressivas. A adaptação é então obtida através da formação de sintomas cujos conteúdos irão revelar as fantasias inconscientes básicas infantis, já esboçadas no material histórico. 
 A Terceira, o material de exame atual, feito em várias situações:
 - Os exames clínico, neurológico e psiquiátrico através dos quais o psiquiatra faz a avaliação das funções do ego bem como das funções corporais em geral. Um aspecto importante do exame psiquiátrico é o aparecimento do mesmo paradigma infantil, agora transferencial, onde o terapeuta poderá avaliar novamente as hipóteses levantadas na história pregressa e na história da doença atual;
 - No exame psicológico feito através de entrevistas e uma bateria de testes o psicólogo dispõe de técnicas únicas capazes de contribuir de forma original para o trabalho clínico.
 - A observação do paciente durante a fase de hospitalização oferece ao pessoal de enfermagem uma oportunidade única de vê-lo restabelecer os seus vínculos com objetos externos, ocasião em que mais uma vez poderá ser observada a repetição transferencial de padrões integrativos.
 Nunca será demais insistir em que os resultados de uma bateria de testes dependem da capacidade do psicólogo em compreender e interpretar os seus dados. Frequentemente nos deparamos com um modo de trabalhar mecanicista, reminiscente do tempo em que o psicólogo era de fato um "psico-metrista". A valorização dos aspectos qualitativos dentro de um corpo de doutrinas coerentes com o da equipe é fundamental na utilização dos testes, sem restar a importância que os aspectos quantitativos inegavelmente têm.
TRATAMENTO
 O tratamento pela equipe psiquiátrica pode ser resumido nos seguintes itens: Técnicas Sociais; Técnicas Psicológicas; Técnicas Biológicas; Técnicas Farmacológicas; Técnicas físicas. 
 Dentre as técnicas sociais destacam-se os grupos operativos ou grupos de trabalho. Em hospitais psiquiátricos delegasse a liderança de certos grupos operativos aos psicólogos clínicos e através deles se utilizam as possibilidades de ressocialização, de estimulação à autodeterminação. Em casos selecionados recomenda-se aos psicólogos o tratamento de pacientes por métodos psicológicos, sob supervisão, está uma área onde em geral há conflito.
 O problema da psicoterapia, seja de grupo ou individual, deve necessariamente contar com a cobertura e supervisão médica, sempre. Quando se refere do fator precipitante destacasse que o mesmo pode ser de natureza social, psíquica biológica, tóxica, traumática. O fato de se apresentar uma reação psíquica não implica que o fator precipitante deva ser de natureza psíquica. A probabilidade de que sintomas mentais sejam produzidos por lesões, traumatismo, infeções, tóxicos é grande. Por isso é de extrema importância a interação dos profissionais. 
 Assim a Veteran's Administration, dos Estados Unidos, que é a organização que mais utiliza psicólogos clínicos no mundo inteiro, diz em seus estatutos: "A necessidade básica é a de ajudar no diagnóstico, treinamento, investigação e educação. No psicodiagnóstico e na psicoterapia o psicólogo funciona sob a supervisão de um psiquiatra".
ENSINO E TREINAMENTO
Pelos conhecimentos especializados o psicólogo tem sido utilizado no ensino e no treinamento de psicólogos, alunos de Psicologia, atendentes psiquiátricos, residentes do curso pós-graduação em clínica psiquiátrica e outros. O ensino abrange matérias básicas bem como as técnicas especiais como testes e sua avaliação. Nos casos dos residentes de Clínica Psiquiátrica o psicólogo tem se encarregado de discutir com eles a utilização que podem fazer do mesmo, ensinando-lhes princípios gerais sobre testes, a composição da bateria, a interpretação e o modo de solicitar exames. 
INVESTIGAÇÃO
Em um hospital, o psicólogo tem se dedicado relativamente pouco ao problema da pesquisa. Mas de um modo geral espera-se que o psicólogo possa contribuir ativamente no planejamento de programas de investigação, organização e coleta de dados, de modo a tornar a sua validez e a habilidade de analise compatíveis com o tipo de conclusões que se pretendem do experimento. Por outro lado, os conhecimentos espaciais em matéria como bioestatística fazem do psicólogo clínico um auxiliar valioso para a equipe na análise do material obtido bem como na compreensão de revisões bibliográficas baseadas em conclusões desse tipo.
PREVENÇÃO
Das funções do hospital a última a ser desenvolvida é a relacionada com a prevenção e a profilaxia. Presentemente desenvolvemos programas nesta área que estão mais dirigidos à educação do público no tocante à doença mental. Aqui o psicólogo pode desempenhar funções de liderança e informação, especialmente nos programas de prevenção a serem desenvolvidos ao nível das escolas.
HISTÓRIA DA LUTA ANTIMANICOMIAL
 Em 1987, aconteceu a I conferência nacional de saúde mental, respondendo a uma indicação da 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986. A esta conferência, que no início teve um caráter técnico, após a modificação do regulamento, foi dada a garantia de um caráter participativo. Também em 1987, ocorreu em Bauru o II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores. Foi um momento de renovação teórica e política, marcado pela participação de associações na luta pela transformação das políticas e práticas psiquiátricas. Amarante (2008) aponta para duas rupturas importantes que aconteceram dentro do Movimento dos Trabalhadores. A primeira foi marcada por sua composição: anteriormente, havia o predomínio dos profissionais de saúde mental, com pouca participação de usuários e familiares. A partir de então, esses passam a compor o cenário, sendo considerados atores sociais e atendendo aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, exercendo o controle social. A segunda ruptura teve como objetivo influenciar as mudanças na sociedade, não apenas na dimensão dos serviços de saúde mental, mas nas transformações de caráter social e cultural. O Manifesto de Bauru é o documento da fundação do Movimento Antimanicomial, que marca a afirmação do
laço social entre os profissionais e a sociedade para o enfrentamento da questão da loucura e de suas formas de tratamento, buscando a articulação nacional e pautando-se, enquanto movimento social e sindical, na defesa de uma reforma sanitária democrática e popular (GRADELHA JUNIOR, 2012). Instalou-se o lema ‘Por uma sociedade sem manicômios’, tornando o dia 18 de maio o Dia Nacional da Luta Antimanicomial.
 Em nível internacional, o debate sobre a mudança no modelo de atenção à saúde mental ocorreu em 1990, com a declaração de caracas, estabelecendo, como eixo da reestruturação da assistência psiquiátrica, a estratégia da atenção primária à saúde, no quadro dos sistemas locais de saúde, como forma de viabilizar modelos de atenção centrados nas populações locais e dentro de suas redes sociais, garantindo os direitos dos portadores de sofrimento psíquico.
 No Brasil, nas últimas décadas, um conjunto de iniciativas políticas, científicas, sociais, administrativas e jurídicas têm lutado para transformar a cultura e a relação da sociedade com as pessoas que apresentam transtornos mentais. Vários fatores sociais e econômicos contribuíram para desencadear, em todo Brasil, um processo de construção de uma nova política de saúde mental, que pudesse oferecer ao indivíduo, portador de transtorno mental, uma atenção mais humanizada e efetiva, dando-lhe alternativas de tratamento extra-hospitalar. Este movimento inclui outros elementos na equipe de saúde, retirando, do médico, a exclusividade das decisões com relação à atenção ao portador de sofrimento psíquico. Neste contexto, a psiquiatria sai em busca de uma nova forma de tratar o indivíduo com sofrimento mental, iniciando-se a derrubada dos muros que aprisionam a loucura. Com a Constituição de 1988, o povo brasileiro conquistou a saúde como um direito de todos e foi instituído o sistema único de saúde e, em 1990, foram aprovadas as leis
8.080 e 8.142, que regulamentam a legislação básica da área da saúde.
 O processo de desinstitucionalização surge, no Brasil, respaldado pelo decreto-lei 3657/ 1989, de autoria do deputado Paulo Delgado, objetivando alterar a Legislação de 1934, que privilegia o modelo segregador e dissocializante do hospital asilar, como único recurso “terapêutico”, e enfatiza ser o hospital psiquiátrico a única alternativa de tratamento, facilitando a cronicidade e a exclusão dos doentes mentais em todo o país. Porém, somente em 06 de abril de 2001, foi promulgada como Lei Federal 10.216, que estabelece os direitos dos pacientes, limita e regula as internações psiquiátricas, tornando-se, esta, a lei da reforma psiquiátrica brasileira. 
 Esperidião (2001) afirma que a aprovação desta lei constituiu um avanço histórico, culminado pelo empenho de uma série de segmentos sociais engajados no movimento nacional de luta antimanicomial, embora ainda insista em que há um longo caminho pela frente, a fim de incorporar as alterações decorrentes da lei nas ações de saúde coletiva. Na década de 90, observa-se a presença cada vez mais marcante de usuários e familiares como protagonistas no cenário da reforma psiquiátrica brasileira. Venâncio apud Almeida e Escorel (2001) comenta que, nos anos 90, assistimos à criação e à consolidação de propostas como os centros de atenção psicossocial (CAPS), núcleos de atenção psicossocial (NAPS), lares abrigados, hospital-dia, etc. 
 Chegamos ao século 21, mais precisamente ao ano de 2001, quando o dia mundial da saúde teve por tema “Cuidar, sim. Excluir, não”, com a mensagem de que não se justifica excluir, de nossas comunidades, as pessoas que têm doenças mentais. De acordo com a comissão organizadora da III CNSM (BRASIL, 2002), a organização das nações unidas comemorou, em 2001, o 10º aniversário dos direitos dos doentes à proteção e assistência, dando ênfase a alguns princípios como, por exemplo, de que não deverá existir discriminação em virtude de doenças mentais; de que, na medida do possível, deve-se conceder a todo paciente o direito de ser atendido em sua própria comunidade, com tratamento o menos intrusivo, e num ambiente o menos restritivo possível. 
 Assim, acreditamos que a assistência psiquiátrica, no Brasil, nos últimos 20 anos, vem sofrendo um processo de transformações, colocando em pauta a discussão da superação do modelo hospitalocêntrico e psiquiatrocêntrico de tratamento e a criação de uma outra lógica de atenção: psicossocial, comunitária e territorializada, a partir da construção de uma rede de serviços de saúde mental de forma descentralizada, municipalizada e com caráter multiprofissional, tendo como pressupostos básicos os direitos de cidadania, a desinstitucionalização e a promoção da saúde mental. Em relação ao surgimento do programa saúde da família, o modelo de assistência que predominava no país, nos anos 90, tinha suas práticas centradas no atendimento terciário, tendo o hospital como meio e fim do cuidado aos indivíduos que sofrem agravos à saúde. Para modificar esta realidade, e, buscando a reorientação do modelo tradicional vigente, o ministério da saúde, em 1994, institui uma nova proposta de atenção à saúde representada pelo PSF. O princípio operacional de adscrição da clientela, preconizado pelo programa, proporciona vínculo das unidades básicas de saúde com a comunidade, possibilitando o resgate da relação de compromisso e co-responsabilidade entre profissionais e usuários dos serviços. Esse vínculo é o que constitui o diferencial em relação ao modelo tradicional de prestação de serviços de saúde.
 O Movimento da Luta Antimanicomial não é o único movimento social existente na luta do ideário da reforma Psiquiátrica, mas “é certamente o mais importante e abrangente ator social no processo” (AMARANTE, 2008, p.742). Em fevereiro de 2012, entidades e movimentos sociais organizaram a Frente Nacional pela Cidadania, Dignidade e Direitos Humanos na Política Nacional sobre Drogas, após o episódio marcado pela violência policial a que foram submetidos os usuários de crack e moradores de rua, apontando, ainda, para o descompasso do Ministério da Saúde com o ideário da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial e em defesa do SUS. Em maio de 2012, em São Paulo, um ato intitulado ‘Ocupe a Assembleia Legislativa’ propôs a criação de uma Frente Parlamentar Antimanicomial contendo os seguintes princípios: Ser oposição às iniciativas emanadas do poder legislativo, que objetiva fortalecer as internações compulsórias, o financiamento público das comunidades terapêuticas e os ataques às conquistas da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial; apresentar projetos de lei que respeitem os princípios do SUS e da Lei 10.216; e promover eventos públicos, visando mobilizar a sociedade civil para a implantação de dispositivos de atenção à saúde mental, que não tenham como princípio a segregação e o higienismo (CARTA DA FRENTE ESTADUAL ANTIMANICOMIAL, 2012). Dessa forma, as iniciativas que vêm ocorrendo no campo da saúde mental têm como objetivo legitimar as demandas decorrentes do movimento. Existem novas formas de enfrentamento às mudanças ocorridas no mundo globalizado e pautado pelo neoliberalismo, mas a luta deve ser embasada nos princípios do SUS e na defesa da Reforma Psiquiátrica Antimanicomial, onde os atores do processo (usuários, familiares, trabalhadores, entidades profissionais e sociedade civil, entre outros) possam exercer a convivência e a tolerância na luta por reconhecimento de solidariedade e de direitos.
SITUAÇÃO DA LUTA ANTIMANICOMIAL NO BRASIL E NO MUNDO
 Neste ano de 2016, a Lei da Reforma Psiquiátrica (nº. 10.216/2001) completou 15 anos, e uma das lutas que essa lei aborda é a antimanicomial, porém, no nosso país ainda não temos muitos avanços em relação a isso, a sociedade brasileira ainda está nos primeiros passos na construção de uma prática social e profissional que respeite e adote uma política de assistência baseada na escuta, na inclusão e no estímulo às potencialidades das
pessoas acometidas por forte sofrimento psíquico. Muitos movimentos em todo o Brasil estão se levantando nesta luta, com manifestações, palestras e informações sobre o tema. Mesmo em manicômios intitulados, ainda se luta contra quartos psiquiátricos, pois isso também é considerado um ato de tortura.
 Hoje existem os CAPS (Centro de atenção psicossocial) que são instituições com intuito de acolher pacientes com problemas mentais, ajuda-los em seu convívio social e familiar e apoiá-los em suas iniciativas da busca da autonomia, onde é oferecido a eles atendimento médico e psíquico.
O QUE A SOCIEDADE BRASILEIRA PENSA SOBRE A LUTA ANTIMANICOMIAL?
 “Eu acho que, de forma geral, as pessoas se defendem é da loucura de cada um, da loucura entre nós. É da forma imprevista, inominável, incalculável como cada um porta o seu ponto de loucura sem sentido, e que pode se manifestar na forma de atos insanos, em certa desordem, em palavras que saem sem pensar ou em atos que chocam. Não há nada mais humano que isso. Isso é para todos! É o que não tem governo nem nunca terá…
 Mas a humanidade cria uma série de discursos e de instituições para se defender disso que está na causa do nosso Ser, da nossa existência. De fato, é o que todo mundo sabe, mas não quer saber – e se defende disso a partir desse “não saber”. ‘Eu não quero saber de nada disso’ é tão poderoso, que é capaz de produzir essas instituições, como diz Foucault, que dão a ilusão pra todo mundo que ‘loucos são eles’ – e se o território onde estão está cercado, como numa ilha, nós estamos protegidos deles. E, assim, cria-se a ilusão de que há uma distância entre cada um e a sua loucura. Mas, na realidade, a loucura está em cada um de nós! Todos nós somos loucos, a nossa maneira, e, no fundo, o que fazemos é tratar de conviver com a loucura entre nós – até para tratar do feliz título do filme de vocês!” (Resposta à pergunta: O que as pessoas ainda não sabem sobre o assunto: Luta Antimanicomial, mas que deveriam saber? – Feita a Psicanalista Fernanda Otoni de Barros Brisset). 
 Quando perguntado a diferentes pessoas, de diferentes faixas etárias, o que é a Luta Antimanicomial? Noventa e cinco % das pessoas entrevistadas, não sabiam responder à pergunta, e desconheciam completamente o assunto. Mais quando foi perguntado, o que é um hospício? A maioria das pessoas sabiam, em suas definições pessoais, que era um lugar, onde ficavam “loucos” (Pesquisa feita por integrantes do grupo, de forma qualitativa e interativa apenas com o entrevistado, mantendo total privacidade do mesmo). 
 De forma geral, muitas pessoas ainda desconhecem a Luta Antimanicomial no Brasil. Muito por conta das formas de publicações sobre a causa, que não são tão expostas a sociedade de uma forma geral, através das principais mídias de acesso do pais. Muitas das mesmas que foram entrevistadas, relataram que não é um assunto que se ouve por aí no dia a dia, e que nem é midiático, a ponto de ficar por dentro do assunto. 
O QUE A ÉTICA TEM HAVER COM A LUTA ANTIMANICOMIAL?
 Respondemos a essa pergunta, com outras perguntas: O que é fora de Ética nos manicômios? Nessas instituições que se dizem serem clinicas de repulso, serem asilos, serem hospitais psiquiátricos? Pensando nas principais instituições do passado e nas atuais, que geraram e que ainda geram tanta dor a milhares de pessoas que estão doentes principalmente psicologicamente, quase tudo, se não tudo é fora de ética. Começa primeiro com a discriminação que essas pessoas sofrem por estarem doentes, no caso são chamadas de loucas e por aí vai. Outro fato que acontece até hoje, é em questão a remediação. Muitos pacientes são remediados sem comprovações de que o medicamento vai ajudar em sua melhora, nesse caso é mais uma leva de que, já foram tratados tantos pacientes, que mais um com o mesmo sintoma, se remedia com o mesmo remédio. Também ocorre a remediação por funcionários que não ter o menor conhecimento sobre o efeito da droga, no corpo desse indivíduo. 
 A tortura, os maus tratos, os experimentos feitos com os pacientes, são todos atos desumanos que eram feitos, e que ainda não foram extinguidos por completo em todas as instituições, mais que cada vez mais vem diminuindo em território nacional. Muito por conta da ética, sendo assim, partindo do princípio que o Código de Ética serve para dar base ao trabalho do profissional, ressaltamos informações referentes às práxis presentes no Código de Ética Profissional do Psicólogo, vigente desde 2005. De acordo com alguns itens do Art. 2º do Código de Ética, ao psicólogo é vedado:
 a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão;
 b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais;
 c) Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a utilização de práticas psicológicas como instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência;
 d) Acumpliciar-se com pessoas ou organizações que exerçam o exercício ilegal da profissão de psicólogo ou de qualquer atividade profissional;
 e) Ser conivente com erros, faltas éticas, violação de direitos, crimes ou contravenções penais praticados por psicólogos na prestação de serviços profissionais.
 Com base nessas informações, sabe-se então que ao psicólogo, sendo peça fundamental no tratamento de transtornos mentais, é vedado praticar atos de violência, negligência e discriminação referentes aos seus pacientes, assim como induzir ou contribuir para o preconceito, utilizar técnicas psicológicas para torturar e castigar, ser cúmplice de exercício ilegal da profissão e erros cometidos durante a prestação dos serviços. Se por ventura, essas atitudes ocorrerem, o mesmo enfrentará uma série de penalidades, sendo aplicadas de acordo com a gravidade e o número de vezes do ocorrido. Tudo isso para zelar a integridade física e mental do atendido, assim como sua dignidade e respeito. Com isso, se cada psicólogo que atua dentro de uma dessas instituições, seguir os conceitos éticos, poderemos por um fim nos manicômios e geral.
CONCLUÇÃO
 O grande mérito do processo brasileiro de reforma psiquiátrica está no fato de, em vez de tratar de doenças, tratar de sujeitos concretos, pessoas reais. Lida, portanto, com questões de cidadania, de inclusão social, de solidariedade e, por isso, não é um processo do qual participam apenas profissionais da saúde, mas também muitos outros atores sociais.
 O hospício, ou manicômio, caminha inevitavelmente para o fim devido a seu caráter arcaico de instituição fundada há mais de 300 anos para responder a outras demandas sociais. Sua persistência está muito mais relacionada ao fator econômico do que ao valor terapêutico ou social. Os hospícios devem ser fechados (Simão Bacamarte – resposta em uma entrevista, feita pela A Folha). Esse deve ser o destino de todas as instituições desumanas, mesmo das que se escondem atrás de discursos progressistas. Quem nos garante que o alienado não é o alienista? A frase de Caetano Veloso "de perto ninguém é normal" tem sido pretexto para questionarmos o conceito de normalidade, tão caro no campo da saúde mental. A Luta Antimanicomial não vai acabar tão cedo, mais aos poucos iremos nos dar conta o quão mal estamos fazendo a nós mesmos. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livro: Holocausto Brasileiro – Daniela Arbex
Livro: SAÚDE MENTAL: UM DESAFIO NO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA - Ana Paula Costa - Rejane Roesler Mocinho
Livro: O Livro da Psicologia – Globo Livros
Livro: História da Psicologia: Rumos e Percursos – Ana M. Jacó-Vilela 
Cadernos Brasileiros de Saúde Mental / Brazilian Journal of Mental Health ISSN 1984-2147, Florianópolis, Santa Catarina,
Brasil. Movimento da luta antimanicomial: trajetória, avanços e desafios/ The anti-asylum fight movement: trajectory, progress and challenges - Guilherme Correa Barbosa, Tatiana Garcia da Costa, Vânia Moreno.
Código de Ética Profissional do Psicólogo – Brasil, CFP 
Associação de Volta Para Casa < http://www.assdevoltaparacasa.org.br/page9.htm>
A Loucura Entre Nós < https://aloucuraentrenos.wordpress.com/a-loucura-e-a-luta-antimanicomial/>
Guia da Carreira < http://www.guiadacarreira.com.br/carreira/mercado-de-trabalho-psicologia/ >
Periódicos Eletrônicos Em Psicologia < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932009000400008 >
Revistas UFG < https://revistas.ufg.br/fen/article/view/768/850 >
Wikipedia < https://pt.wikipedia.org/wiki/Hospital_psiqui%C3%A1trico >

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais