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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ITABUNA – BA. JOANA, brasileira, solteira, técnica em contabilidade, portadora da cédula de identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF/MF sob nº..., usuária do endereço eletrônico..., residente e domiciliada na Rua..., nesta comarca de Itabuna-Ba, vem, respeitosamente perante V. Exa., por seu advogado que esta subscreve, com escritório..., e endereço eletrônico..., pelo que regem os artigos 77, 319 e seguintes do Código de Processo Civil – Lei 13.105/2015, propor: AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO c/c TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA. pelo procedimento COMUM, em face de JOAQUIM, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da carteira de identidade nº..., expedida pelo..., inscrita no CPF/MF sob nº..., usuário do endereço eletrônico..., residente e domiciliado na Rua..., nesta comarca de Itabuna-Ba, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos. I - DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA Com base no art. 98, do CPC/15, art. 5º, LXXIV, da CRFB/88, art. 2º, lei nº 1.060/1950 e Súmula nº 481 do STJ o autor requer a V. Ex.ª. a concessão do benefício da gratuidade de justiça, tendo em vista que o mesmo não pode arcar com as custas processuais e com os honorários advocatícios sem prejuízo do seu próprio sustento. II - DOS FATOS No dia 20/12/2016, a autora recebeu notícia que seu filho Marcos, de 18 anos de idade, tinha sido preso de forma ilegal e encaminhado equivocadamente ao presídio XXX. A autora em completo estado de desespero e aflição procurou um advogado criminalista para atuar no caso, sendo que o advogado cobrou R$ 20.000,00 (vinte mil reais) de honorários. Ao chegar a sua casa a autora comentou com o réu, seu vizinho e amigo, que não tinha o valor cobrado pelo advogado e que estava já se encontrava tão abalada que não sabia mais o que fazer para arrumar a quantia. O réu, vendo a necessidade da autora de obter dinheiro para contratar um advogado, aproveitou a oportunidade para obter uma vantagem patrimonial, propôs então à autora comprar seu carro pelo valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), sendo que o carro a preço de mercado estava no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), ou seja, uma desproporcionalidade de 30.000,00 (trinta mil reais). Diante da situação que se encontrava, a autora resolveu celebrar o negócio jurídico. No dia seguinte ao negócio jurídico realizado e antes de ir ao escritório do advogado criminalista, a mesma descobriu que a avó paterna de seu filho tinha contratado outro advogado criminalista para atuar no caso e que tinha conseguido a liberdade de seu filho através de um Habeas Corpus. Isto posto, a autora procurou o réu a fim de desfazerem o negócio de maneira consensual, devolvendo a quantia recebida em troca do seu bem móvel, entretanto, o mesmo informou que não pretendia desfazer o negócio jurídico celebrado, fato este que gerou grande tristeza e decepção a autora. A autora tentou todas as formas de acordo tendo em vista a confiança e boa relação com o réu, porém, não obteve sucesso, gerando assim a pretensão resistida motivo pelo qual se dá propositura da presente ação. II – DO DIREITO Dos fatos, restou provado que o réu, beneficiando-se da premente necessidade da autora em socorrer o filho que estava preso, induziu-a a vender seu automóvel por preço muito inferior ao valor de mercado, em desproporcionalidade. Agiu lesivamente e ilicitamente, viciando o negócio jurídico celebrado, causando lesão ao patrimônio da autora. De acordo com a Professora Maria Helena Diniz, “o instituto da lesão visa proteger o contratante, que se encontra em posição de inferioridade, ante o prejuízo por ele sofrido na conclusão de contrato comutativo, devido à considerável desproporção existente, no momento da efetivação do contrato, entre as prestações das duas partes” (DINIZ, 2010, p. 419). O fator predominante para a caracterização da lesão é “justamente a onerosidade excessiva, o negócio da china pretendido por um dos negociantes, em detrimento de um desequilíbrio contratual, contra a parte mais fraca da avença”, na lição de Flávio Tartuce (TARTUCE, 2010, p. 389). Do programa normativo estatuído no artigo 157 do Código Civil de 2002, a grande maioria da doutrina civilista extrai três elementos para a caracterização do negócio lesivo, segundo o destaque de Arnaldo Rizzard: “I - a desproporção entre as prestações; II - a necessidade e a inexperiência; III - a exploração por parte do lesionante” (RIZZARDO, 2007, p. 496). Dispõe o Código Civil brasileiro de 2002 em seu art. 157: “Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta”. Dispõe o CC, art. 145 que: “São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa”. Tem-se aqui o dolo principal, o qual, para a doutrinadora Maria Helena Diniz, “o dolo principal é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído (CC, art. 145), acarretando, então, a anulabilidade daquele negócio” (2004, p. 418). Desta forma, o dolo é essencial, sem o qual o negócio não se concretizaria, sendo a anulação do negócio plenamente adequada. Por sua vez, dispõe o art. 147, do mesmo diploma legal: “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado”. Também o art. 171, II, do CC, verbis: “Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: (...) II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores”. Ora, não há dúvida de que o réu agiu dolosamente. Aproveitou-se do desespero de uma mãe ao ver o filho preso, e ofertou-lhe exatamente o montante que a autora necessitava para contratar um Advogado Criminalista, quando sabedor que o veículo da autora, no mercado, alcançava o valor de cerca de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Havendo o dolo, não há como manter o negócio jurídico celebrado entre as partes litigantes. Como é de sobejo conhecimento, o Código Civil não define dolo, mas para compreendê-lo, traz-se definição de Clóvis Beviláqua: “Dolo é artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém à prática de um ato jurídico, que o prejudica, aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro”. Pode-se dizer que dolo é qualquer meio utilizado intencionalmente para induzir ou manter alguém em erro na prática de um ato jurídico, amoldando-se ao caso sub judice. Maria Helena Diniz, citando Clóvis Beviláqua, leciona: “Parece-nos contudo que a razão está com Clóvis, pois além de que, na prática, ocorre uma correspondência entre a vantagem auferida pelo autor do dolo e um prejuízo patrimonial sofrido pela outra parte, há, virtualmente, um prejuízo moral pelo simples fato de alguém ser induzido a efetivar negócio jurídico por manobras maliciosas que afetaram sua vontade”. (2004, p. 417). Ora, é certo que não era da vontade da autora vender seu veículo naquele momento, e por aquele preço. O réu repita-se, maliciosa e dolosamente, estimulou a autora a vender-lhe o veículo exatamente pelo valor que necessitava. Assim, o primeiro elemento a ser perquirido acerca da existência da lesão é um daqueles apontados como de ordem subjetiva, representado pela premente necessidade do negociante prejudicado, que vicia decisivamente a vontade da parte contratante, podendo culminar com a anulação do negócio. Trata-se de um elemento de natureza subjetiva pelo fato de estar ligado à formação volitiva de cada sujeito negociante, devendo ser apreciado de acordo com o caso concreto e no momento da formação do negócio jurídico. A premente necessidade condiciona – de forma determinante e imediata – o ingresso da parte em certo negócio jurídico, por estar sujeita a uma situação que lhe impede de escaparda contratação em virtude de circunstâncias pessoais desfavoráveis. Consoante afirmação de Sérgio Iglesias Nunes de Souza, “na lesão costumeiramente tem sido dito que se trata da necessidade econômica de contratar” (SOUZA, 2009, p. 229), não sendo relevante o poderio econômico ostentado pela parte, ou seja, mesmo que a situação financeira da autora fosse diversa aos fatos narrados não implicaria no resultado. Veja-se o esclarecedor exemplo fornecido por Caio Mario da Silva Pereira: “A necessidade, de que a lei fala, não é a miséria, a insuficiência habitual de meios para promover à subsistência própria ou dos seus. Não é a alternativa entre a fome e o negócio. Deve ser a necessidade contratual. Ainda que o lesado disponha de fortuna, a necessidade se configura na impossibilidade de evitar o contrato. Um indivíduo pode ser milionário. Mas, se num momento dado ele precisa de dinheiro de contado, urgente e insubstituível, e para isto dispõe de um imóvel a baixo preço, a necessidade que o leva a aliená-lo compõe a figura da lesão. (...) A necessidade contratual não decorre da capacidade econômica ou financeira do lesado, mas da circunstância de não poder ele deixar de efetuar o negócio” (PEREIRA, 1959, p. 165). Em conclusão, o elemento da necessidade do negociante prejudicado não se examina em cotejo com a capacidade de sua fortuna, mas sim levando em consideração sua premência em contratar no exato momento em que celebrou a avença. Assim, está claro que o contrato foi celebrado com vício de consentimento, caracterizado pela “lesão”, ou seja, o valor era desproporcional em relação ao real preço do bem móvel. Analisando sob essa ótica, o réu estaria colhendo para si vantagem ilícita, ao passo que o patrimônio da autoria sofreria prejuízos em prol da salvaguarda do seu filho. Dessa forma, é possível a anulabilidade do contrato pela inteligência dos dispositivos trazidos à colação, dada a ineficácia causada pelo vício do ato arquitetado pelo réu, que culminou em diminuição do patrimônio da autora. Com a anulação do negócio jurídico em questão, a autora devolverá ao réu o valor pago por este. III – TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA Ainda, considerando os arts. 300 e seguintes do Novo Código de Processo Civil, requer a antecipação dos efeitos da tutela, inaudita altera parte, para que o requerente possa exercer de pronto seu direito de reaver o bem móvel. Não obstante o destaca-se o periculum in mora (perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo) a fim de evitar os danos materiais decorrentes da demora do processo e a venda do veículo. IV – DOS PEDIDOS Por todo o exposto, requer a Vossa Excelência: a) A citação do requerido por meio postal, nos termos do art. 246, inciso I, do CPC/2015 para integrar a relação processual; b) Liminarmente, a concessão do pedido de tutela provisória de urgência, com o fim de determinar ao réu que devolva o bem móvel; c) A procedência do pedido da autora para anular o negócio jurídico entabulado pelas partes ficando certa a devolução por parta da autora a quantia recebida e ao réu a devolução do bem móvel; d) Ao final, seja dado provimento a presente ação, no intuito de condenar o réu nos ônus sucumbência e ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios; V – VALOR DA CAUSA Dá–se à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte e mil reais), nos termos do art. 292, I, do CPC. VI – DAS PROVAS Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos artigos 369 e seguintes do CPC, em especial documental superveniente, testemunhal, pericial e depoimento pessoal do réu. VII – DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO A designação de audiência prévia de conciliação ou mediação e intimação do réu para o seu comparecimento, nos termos do art. 334, do CPC/2015; Termos em que Pede deferimento. Itabuna-Ba, Data... ADVOGADO OAB/__ nº Aluno: Luan Ferreira Peixinho Prática Simulada I - CCJ0146 Professor: Gustavo Silva Calçado
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