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AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA CONCEPÇÃO ABERTA: UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL ALMEIDA, Camila Marta – UTP-PR camilaalmeiday@hotmail.com CAGNATO, Euza Virginia – UTP-PR euza_cagnato@hotmail.com DAL-LIN, Alessandra – UTP-PR profeale1@gmail.com Eixo Temático: Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A Educação Física escolar conta atualmente com diferentes abordagens pedagógicas. Saber qual seguir não é uma tarefa fácil. Desta maneira para educar com qualidade é necessário escolher qual se encaixa em cada realidade. Destarte, o presente estudo teve como objetivo verificar a percepção dos alunos em relação ao ensino da disciplina Educação Física numa Concepção de Aulas Abertas. A proposta de Concepção de Aulas Abertas foi desenvolvida por Hildebrandt e Laging (1986), esta abordagem caracteriza-se pela participação dos alunos nas decisões referentes aos objetivos, seleção dos conteúdos, metodologia e avaliação (GRUPO DE TRABALHO PEDAGÓGICO, 1991). Este estudo se caracterizou como uma pesquisa de métodos mistos, em que foram utilizados instrumentos quantitativos e investigações acerca da percepção dos alunos. A amostra foi composta por 15 alunos de ambos os sexos com idade entre 13 a 17 anos, estudantes da 8° série de uma Escola Estadual do município de Campo Magro – PR no ano de 2009. Para averiguar a percepção dos alunos frente à referida concepção, foi elaborado um questionário especialmente para esse estudo, contendo oito perguntas afirmativas utilizando a escala tipo Likert, (GIL, 1999). O questionário foi aplicado após a realização das aulas na Concepção de Aulas Abertas, este processo teve duração de dezesseis aulas de 50 minutos cada (1hora/aula) no período de um mês e meio. Os resultados obtidos mostraram que os alunos são favoráveis à aulas de Educação Física na Concepção de Aulas Abertas, visto que o grau concordância predominou nos resultados a todos os questionamentos. Porém, compete a cada professor testar, experimentar, cada abordagem pedagógica no âmbito escolar. Para este estudo verificou-se que as aulas de Educação Física na Concepção de Aulas Abertas, teve efeito positivo para a amostra estudada. Palavras-chave: Educação Física. Concepção de Aulas Abertas. Aluno. 5219 Introdução A partir da década de 80 surgem os chamados Movimentos Renovadores da Educação ou Progressistas, no âmbito da Educação Física Brasileira, buscando dar um novo significado a essa disciplina na escola, em oposição à vertente mais tecnicista (BRACHT, 1999; DARIDO, 1999). Desta maneira surgem várias abordagens, cada uma com suas especificidades, mas convergindo para um mesmo ponto, abandonar a visão tecnicista substituindo-a pela formação integral. Gid et al. (2009, p. 3124) nos alertam que as “abordagens pedagógicas atuais revelam que o esporte rendimento deve estar longe do muro das escolas e o professor precisa inovar suas ações metodológicas para recontextualizá-lo no âmbito escolar”. Assim professores buscam novas alternativas para suas práticas, visando esta nova perspectiva. Segundo Oliveira (1997) a Educação Física atualmente conta com quatro propostas de destaque dentro dos aspectos metodológicos sendo: metodologia do ensino aberto; metodologia crítico-superadora; metodologia construtivista e metodologia crítico- emancipadora. O ato de escolher determinada abordagem ou metodologia não é uma tarefa fácil, afinal as escolas estão inseridas em ambientes culturais diferentes, cada turma e aluno têm suas peculiaridades, uma possível saída é o professor experimentar as abordagens para saber com qual terá sucesso. Desta forma, as autoras deste trabalho, atuando como professoras e percebendo a necessidade de modificar buscando sempre um ensino de qualidade, decidem ingressar nesse estudo com o intuito de verificar a percepção dos alunos em relação a aulas de Educação Física na Concepção de Aulas Abertas. Os fatores determinantes para a escolha da concepção de aulas abertas foi o fato desta abordagem talvez contribuir, para a motivação dos alunos tão almejada pelos professores e pelo desenvolvimento da autonomia, sendo esta é um dos propósitos da Educação Física, pois não esperamos que os alunos apenas reproduzam movimentos fielmente conforme um modelo, sem refletir, questionar, indagar. Ao contrário, é necessário que compreendamos o valor da autonomia para a construção de uma sociedade mais justa. 5220 Concepção de Aulas Abertas A proposta da Concepção de Aulas Abertas foi concebida por Hildebrandt e Laging (1986), sendo adaptada para realidade brasileira pelo Grupo de Trabalho Pedagógico das Universidades Federais de Pernambuco e Santa Maria (1991) que segundo este, a referida proposta caracteriza-se pela participação dos alunos nas decisões referentes aos objetivos, seleção dos conteúdos, metodologia e avaliação. Oliveira (1997, p.22) ressalta que esta abordagem é caracterizada como progressista crítica, sendo seu objetivo “trabalhar o mundo do movimento em sua amplitude e complexidade com a intenção de proporcionar aos participantes, autonomia para a capacidade de ação”, sendo os conteúdos básicos o “mundo do movimento e suas relações com os outros” e o processo avaliativo se “privilegia a avaliação do processo ensino-aprendizagem”. O grupo de trabalho pedagógico (apud OLIVEIRA, 2007, p.23) defende que as aulas de Educação Física devem: procurar uma ligação do aprender escolar com a vida de movimento dos alunos. Não olhar para o esporte só como rendimento. Considerar as necessidades e interesses, medos e aflições dos alunos, e que não os reduz a condições prévias de aprendizagem motora. Manter o caráter de brincadeira no movimento e na forma natural dos alunos, isto é, que faça com que isso se desenvolva na discussão social. Considerar a relação entre movimento, percepção e realização. Possibilitar aos alunos a participação em todas as etapas do processo ensino-aprendizagem. As Concepções de Ensino Aberto: são abertas quando os alunos participam das decisões em relação aos objetivos, conteúdos e âmbitos de transmissão ou dentro deste complexo de decisão. O grau de abertura depende do grau de decisão possibilidades de co-decisão. As possibilidades de decisão dos alunos são determinadas cada vez mais pela decisão previa do professor (HILDEBRANDT; LAGING, 1986, p. 15). As aulas nesta abordagem podem ser realizadas de diferentes maneiras, dependendo da possibilidade do aluno decidir juntamente com o professor, tendo três possibilidades de co- decisões: alto, médio e baixo grau de possibilidade de co-decisão, sendo diferenciada da Concepção de Ensino Fechado onde o aluno não tem a possibilidade de participar da decisões (HILDEBRANDT; LAGING, 1986). 5221 Hildebrandt-Straman, (2005, p.141-142) difere a aula fechada da aula aberta ressaltando que “sob a Concepção de Aulas Fechadas podemos resumir as concepções de aulas orientadas: no professor, no produto; nas metas definidas e na intenção racionalista”. E em relação as aulas abertas noz diz que “podemos resumir as concepções de aulas orientadas: no aluno, no processo na problematização e na comunicação. [...] Em que o professor admite que os educandos são pessoas que sabem atuar juntas”. Uma das principais preocupações no ensino da Educação Física baseado na Concepção de Aulas Abertas, é defender um ensino centrado no aluno, considerando seu interesse, e possibilitar o seu papel ativo na relação com os conteúdos. Nessa concepção não é exigido meras cópias de movimentos estereotipados, como ocorre em movimentos esportivos padronizados, e sim permite ao aluno a elaboração da subjetividade na sua relação com os movimentos (LIRA NETO, 2008). É relevantelevantar a seguinte questão, as aulas na Concepção de Aulas Abertas não são as chamadas popularmente entre os alunos de “aula livre”, como nos alerta Lira Neto (2008, p. 65) pois a aula nessa concepção “não nega a necessidade do planejamento, da escolha dos conteúdos e das intervenções do professor. Há diferentes graus sob os quais ocorre uma aula aberta, mas em nenhum deles os alunos são abandonados exclusivamente à sua livre iniciativa”. Motivação Costa e Boruchovitch (2006, p. 88) ressaltam que “motivação em seu sentido etimológico, pode ser entendida dentro de uma concepção semelhante a motivo”. E motivo é “um fator interno que dá início, dirige e integra o comportamento de uma pessoa” (SANTOS, 2001, p.21) A motivação pode ser desencadeada de duas maneiras, Witter e Lomônaco (1984, p. 45) nos dão um exemplo de como elas ocorrem na aprendizagem: motivação intrínseca é aquela em que a atividade surge como decorrência da própria aprendizagem, o material aprendido fornece o próprio reforço, a tarefa é feita porque é agradável, sendo realizada por ela própria. A motivação extrínseca ocorre quando a aprendizagem é concretizada para atender a outro propósito, por exemplo, apenas passar no exame, galgar um posto, ser agradável para outra pessoa (pai, patrão, namorada), para ‘subir’ socialmente. Aprendizagem baseada apenas em motivação 5222 extrínseca tende a deteriorar-se, tão logo seja satisfeita a necessidade ou alvo extrínseco. Na motivação intrínseca, ela tende a se manter constante. Bzuneck (2001) enfatiza que níveis baixos de motivação na aprendizagem influenciam no desempenho escolar, fato que preocupa, pois, a falta de interesse para aprender pode acarretar baixo rendimento nas tarefas, avaliações, e até reprovações. Segundo Gouveia (2007, p. 32) em relação à motivação nas aulas de Educação Física “sem a presença da motivação, os alunos em aulas de Educação Física não exercerão as atividades ou então, farão mal o que for proposto. A motivação em questão é a responsável”. Diante do exposto, de que maneira o professor pode motivar o aluno sem ser apenas por meio da punição ou da coerção, de receber boas notas nas avaliações, e ter bom rendimento escolar sem se caracterizar como motivação extrínseca? Talvez um dos possíveis caminhos a seguir, é testar abordagens, como no caso deste estudo, fazendo com que o aluno participe das decisões e desta maneira perceber-se como co-autor do processo ensino aprendizagem, não mero coadjuvante, assim como os conteúdos das aulas tenham relação com o seu mundo. Autonomia Autonomia segundo Houaiss (2001, p. 351) é a “capacidade apresentada pela vontade humana de se autodeterminar, segundo uma legislação moral ou por ela mesma estabelecida, livre de qualquer fator estranho ou exógeno [...]” ou seja ser governado por si próprio. Já heteronomia é o contrário de autonomia, pois o indivíduo ao invés de decidir por si próprio é governado por outrem (KAMII, 1993). A heteronomia é a mais desenvolvida na educação da atualidade, onde na maioria das vezes o aluno sofre de passividade cognitiva nas aulas, repetindo fielmente conforme o modelo proposto pelo professor. Deve-se tomar cuidado como se é tratada a autonomia. Esta, não é uma liberdade total, como afirma Kamii (1993) ser um sujeito autônomo não é apenas realizar decisões por si mesmo, mas sim agir para o bem comum. O ensino numa Concepção de Aulas Abertas estimula o desenvolvimento da autonomia e o professor precisa estar preparado para desenvolvê-la, visto que o “[...] agir autônomo, o trabalho em pequenos grupos, o agir criativo sejam aceitos pelo professor, pois 5223 depende principalmente do professor ser o princípio de subjetivação inibido ou promovido” (HILDEBRANDT; LAGING, 1986, p. 30). O desenvolvimento da autonomia não é uma tarefa fácil, como nos indica Freire e Scaglia (2003, p. 116-117): não nos iludamos, contudo, acreditando que o desenvolvimento da autonomia em determinadas circunstâncias criará laços automáticos com outras [...] os professores precisam compreender que a limitação de experiências restringe as possibilidades de uma vida autônoma. Melhor que gerar atitudes autônomas na brincadeira de pular corda, seria gerá-las em número bastante diversificados de jogos [...] a ponte entre a escola e outros ambientes, só pode ser feita por meio da tomada de consciência. Freire (2004, p.61) nos aponta que: “saber que devo respeito à autonomia e à identidade do educando exige de mim uma prática em tudo coerente com este saber”. O professor deve criar diversificadas situações onde o aluno possa desenvolver esta autonomia, não apenas em fatos isolados, pois, para o sujeito se tornar autônomo é necessário percorrer um longo caminho, de experimentações das mais distintas situações em que a tomada de decisão e do compartilhar com os outros estas decisões ocorram, e a Concepção de Aulas Abertas pode contribuir para esse desenvolvimento, pois, um dos seus princípios é a participação dos alunos nas decisões do processo ensino aprendizagem. Procedimentos metodológicos Tipo de pesquisa Este estudo se caracteriza como uma pesquisa de métodos mistos, que segundo Creswell (2010, p.27) “é uma abordagem da investigação que combina ou associa as formas qualitativa e quantitativa”. Este tipo de pesquisa pretende mais do que unir dois métodos, pretende que a força do estudo seja maior do que os métodos separados. Neste estudo, iniciou-se com uma pesquisa exploratória para investigar os interesses e necessidades do grupo estudado, e sequencialmente, utilizou-se um instrumento para aferir a percepção do grupo sobre o objeto de estudo, de forma quantitativa. 5224 Sujeitos A população deste estudo foi composta por duas turmas de 8º série de uma Escola Estadual do município de Campo Magro – PR no ano de 2009. A amostra constitui-se de 15 alunos de ambos os sexos com idade entre 13 a 17 anos, sendo 7 do sexo feminino e 8 do sexo masculino, estudantes de uma turma de 8° série. Coleta de Dados Primeiramente foi solicitado a autorização da direção da escola, e em seguida dos alunos da turma selecionada. Esta turma foi escolhida intencionalmente, onde uma das pesquisadoras atuava como professora de Educação Física. A proposta foi então apresentada aos alunos, para o início das atividades. Foi sugerido aos alunos escolher os conteúdos a serem desenvolvidos no 4° bimestre bem como o processo de avaliação. Após conversa em sala de aula ficou decidido que seriam formadas cinco equipes e que cada uma escolheria uma modalidade de cada conteúdo estruturante: Jogos e Brincadeiras, Esporte, Dança, Ginástica e Lutas a serem trabalhados na teoria (pesquisa realizada no laboratório de informática), apresentação e aula prática (apresentando uma proposta de atividade). Em relação aos critérios de avaliação ficou definido assim: 3,0 pontos dos relatórios dos trabalhos apresentados, considerando a sua experiência com o conteúdo proposto pelos colegas (professora); 2,0 pontos de cada parte do processo (teoria, apresentação e prática) e cada aluno juntamente com a professora, definiam a nota, então o valor era somado e dividido pelo número de “avaliadores”; e ainda 1,0 ponto de participação (cooperação, respeito aos colegas e participação nas aulas). As modalidades escolhidas e desenvolvidas nas aulas foram: queimada (jogo), futsal (esporte), vanerão (dança), ginástica aeróbica (ginástica) e artes marciais mistas ou mma (lutas). Este processo teve duração de dezesseis aulas de 50 minutos cada (1hora/aula) no período de um mês e meio. Cabe ressaltar que em todas as etapas os alunos foram auxiliados pela professora ocorrendo intervenção sempre que preciso, buscando juntamente com os 5225alunos a solução dos problemas surgidos. Em seguida foram realizados os relatórios, avaliações e a aplicação do questionário (instrumento de coleta de dados). Instrumento Para verificar a percepção dos alunos em relação às aulas de Educação Física na Concepção Aberta, foi elaborado um questionário especialmente para esse estudo, contendo oito perguntas afirmativas utilizando a escala tipo Likert, com cinco possíveis respostas: concordo totalmente (CT) concordo (C), indiferente (I), discordo (D) e discordo totalmente (DT), conforme encontramos em (GIL, 1999). Análise dos Dados A análise dos dados ocorreu de forma interpretativa, buscando verificar o grau de concordância e discordância em relação a percepção do aluno sobre o ensino da Educação Física baseado na Concepção de Aulas Abertas, sendo considerado por serem equivalentes as alternativas: concordo totalmente e concordo, como grau de concordância e para as outras alternativas: discordo e discordo totalmente, como grau de discordância. Apresentação e discussão dos resultados Inicialmente buscou-se verificar a relação do aluno com os conteúdos da Educação Física, e nas questões subsequentes a sua percepção das aulas na Concepção de Aulas Abertas, participando da escolha de conteúdos, nas atividades efetuadas nas aulas e no processo de avaliação. Tabela 1 – Conteúdos da educação física Questionamentos CT C I D DT 1. Os conteúdos como dança, esporte, lutas, ginásticas e jogos devem fazer parte das aulas de Educação Física 27% 73% 0% 0% 0% 2. É importante o professor dar autonomia ao aluno na escolha dos conteúdos a serem realizadas nas aulas. 13% 87% 0% 0% 0% 3. Auxiliar na escolha dos conteúdos pode contribuir para a motivação dos alunos nas aulas. 27% 73% 0% 0% 0% Fonte: Dados organizados pelo(s) autor(es), com base nas respostas dos alunos ao questionário 5226 Pode-se observar (tabela 1) que em relação a afirmativa 1., os conteúdos como dança, esporte, lutas, ginástica e jogos devem fazer parte das aulas de Educação Física, prevaleceu a concordância visto que 27% dos alunos afirmaram que concordam totalmente e 73% concordam. Este resultado é animador, pois podemos perceber que aos poucos, a visão esportiva das aulas de Educação Física vêm mudando, tanto na percepção do aluno quanto do professor. Na afirmativa 2 verifica-se que a concordância prevaleceu pois todos os alunos (13% concordam totalmente e 87% concordam) com a afirmativa, e é importante o professor dar autonomia ao aluno na escolha dos conteúdos a serem realizadas nas aulas. A autonomia precisa ser um dos objetivos da educação se o que se pretende é formar cidadãos críticos e reflexivos capazes de se desenvolverem. Segundo Hildebrandt e Laging (1986) o ensino baseado em uma Concepção Aberta requer que o aluno participe nas decisões, sendo assim o professor deve permitir ao aluno, que ele participe das decisões seja na orientação de objetivos, de conteúdos, na organização ou na forma de transmissão, dessa maneira contribuindo para que o aluno desenvolva a autonomia. Em relação à afirmativa 3, auxiliar na escolha dos conteúdos pode contribuir para a motivação dos alunos nas aulas (tabela1), a concordância prevaleceu visto que todos os alunos concordam (27% concordo totalmente e 73% concordo) que a escolha dos conteúdos pode contribuir para a motivação dos alunos. Nota-se que o simples fato do professor dar espaço para o aluno participar do processo de escolha de conteúdos pode contribuir para a sua motivação nas aulas, fato tão desejado pelos professores de Educação Física. Um dos fatores que pode explicar é que o “motivo é um fator interno que dá início, dirige e integra o comportamento de uma pessoa [...] é, portanto, um estímulo quer seja interno ou externo, que impele o indivíduo à ação” (SANTOS, 2001, p. 21-22). 5227 Tabela 2 – Percepção dos alunos em relação as aulas na Concepção Aberta Questionamentos CT C I D DT 1. É importante o comprometimento tanto do aluno quanto do professor na realização das atividades. 40% 60% 0% 0% 0% 2. Na realização das atividades todos os alunos ficaram motivados. 6% 67% 0% 27% 0% 3. Foi notado o respeito entre os alunos durante a prática das atividades. 13% 54% 13% 20% 0% 4. As atividades realizadas nas aulas podem ser praticadas no momento de lazer. 33% 67% 0% 0% 0% Fonte: Dados organizados pelo(s) autor(es), com base nas respostas dos alunos ao questionário Quando questionado aos alunos se é importante o comprometimento tanto do aluno quanto do professor na realização das atividades (tabela 2), 40% dos alunos concordaram totalmente e 60% concordaram, vemos que prevaleceu a concordância. Segundo o Dicionário Priberam (2010) comprometimento é o “ato de comprometer-se, responsabilidade de pessoa comprometida”. Hildebrandt e Laging (1986, p. 11) sobre responsabilidade afirmam “como poderá adquirir consciência de responsabilidade, se não tiver que arcar com responsabilidade? [...] uma Concepção de Ensino Aberto baseia-se na idéia de propiciar aos alunos a oportunidade de decidir junto”. Afinal como ressalta Oliveira (2007, p.23) as aulas na Concepção de Aulas Abertas “estabelece-se dentro de uma ação co-participativa que se amplia conforme o amadurecimento e responsabilidade assumida pelos integrantes do grupo”. Para que ocorresse o desenvolvimento das aulas, foi imprescindível o comprometimento dos alunos em pesquisar seu conteúdo, preparar apresentações e as atividades, e da professora dando subsídios aos alunos, seja em auxiliar na pesquisa, na preparação das atividades, na solução de problemas. Sem este comprometimento de ambos, professor e alunos, seria impossível realizar esta “experiência” de aulas abertas. Observando a tabela 2 verifica-se que a afirmativa na realização das atividades (queimada, futsal, vanerão, ginástica aeróbica e artes marciais mistas) todos os alunos ficaram motivados, predominou a concordância com 73% (6% concordam totalmente e 67% concordam) e 27% dos alunos discordam. Esse resultado pode ser explicado por Nista-Picollo e Vechi (apud TITO et al., 2009, p.106) citando que entre os pilares da motivação dos alunos nas aulas de Educação Física estão os conteúdos ensinados e os métodos adotados. Como 5228 foram os próprios alunos que escolheram os conteúdos a serem trabalhados no 4° bimestre foi um estímulo para aumentar o interesse e a motivação nas aulas. De acordo com a afirmativa 3 (tabela 2), 67% dos alunos concordam que ocorreu o respeito durante a prática das atividades, 13% permaneceram indiferentes e 20% discordam, predominando assim a concordância. O desenvolvimento do respeito se torna importante no âmbito educacional, devido ao fato de alguns dos problemas enfrentados pelo ser humano na atualidade, destacamos a violência e a relação com a falta de respeito à natureza, ao próximo e com a sua própria vida. Dessa maneira o professor em suas aulas deve priorizar o respeito nas relações de professor-aluno, aluno-aluno. Lembrando que para construir o respeito mutuamente o professor precisa mostrar não só com palavras, mas também com suas atitudes. Como afirma Oliveira (2007, p. 23) “o engajamento, competência e responsabilidade docente são fatores fundamentais para a efetivação e ampliação das ações pedagógicas no Ensino Aberto”. Em relação ao questionamento da tabela 2, as atividades realizadas nas aulas podem ser praticadas no momento de lazer verificamos que prevaleceu a concordância com 33% dos alunos afirmando concordar totalmente e 67% concordam. Os conteúdos das aulas de Educação Física precisam fazer um elo com o mundo de nossos alunos e contribuir para que os conhecimentos adquiridos sejam levados para sua vida,senão não tem o porquê deste conteúdo fazer parte da aula. Tabela 3 – A questão da avaliação Questionamentos CT C I D DT 1. O método de avaliação utilizado é a melhor forma de avaliar os alunos. 33% 60% 0% 7% 0% Fonte: Dados organizados pelo(s) autor(es), com base nas respostas dos alunos ao questionário Na afirmativa da tabela 3 buscou-se verificar a percepção do aluno ao método de avaliação utilizado. Notamos que predominou a concordância com 93% dos alunos afirmando que esse método de avaliação é a melhor forma de avaliar e 7% discordaram. A avaliação “[...] deve envolver os alunos como participantes ativos, [...] o estabelecimento de alguns critérios e o acompanhamento conjunto das decisões coletivamente tomadas, podem ampliar a possibilidade de aproximação entre alunos e professores” (CAMACHO; CHAVES, 2008, p. 353). 5229 Nesse estudo procurou-se fazer com que o aluno fosse sujeito ativo de sua aprendizagem, assumindo responsabilidades, realizando decisões, e como pode-se notar os alunos aprovaram esse método de avaliação, onde eles participaram ativamente, avaliando seus colegas e a si mesmos, o professor deve utilizar a avaliação como subsídio para verificar a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno em todos os aspectos motor, social, moral, afetivo e intelectual e não como uma forma de coerção e punição. Considerações finais O conhecimento sobre as abordagens pedagógicas (progressistas) auxilia o professor na sua prática pedagógica, como foi dito anteriormente, pois cada uma tem suas peculiaridades, mas, todas concordam que a Educação Física na escola precisa mudar, substituindo o tecnicismo por uma prática fundamentada na formação integral. Destarte, compete ao professor escolher qual delas corresponde à sua realidade escolar. Neste estudo escolhemos a abordagem da Concepção de Aulas Abertas por acreditar que uma prática baseada nessa concepção poderia surtir efeitos positivos na nossa realidade escolar e por entender que essa abordagem permite que o aluno seja coautor do processo ensino aprendizagem, não mero coadjuvante, e ainda contribui para o desenvolvimento da autonomia e da coeducação. Os resultados obtidos evidenciaram que os alunos estão mudando sua visão em relação aos conteúdos a serem desenvolvidos nas aulas de Educação Física, e são favoráveis a aulas de Educação Física na Concepção de Aulas Abertas visto que o grau concordância predominou em todos os questionamentos desde a escolha dos conteúdos, prática das atividades e critérios de avaliação. Para a população estudada podemos afirmar que esta experiência foi significativa, mas não podemos afirmar que em outras realidades terá os mesmos resultados. Então pense, reflita e experimente. REFERÊNCIAS BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física. Caderno Cedes, v. 9, n. 48, p. 69-88, 1999. BZUNECK, J. A. A motivação do aluno: aspectos introdutórios. In: BORUCHOVITCH, E. BZUNECK, A (Org.). A motivação do aluno: contribuições contemporâneas. Rio de Janeiro: Vozes, 2001, p. 9-36. 5230 CAMACHO, A. L. N.; CHAVES, W. M. O professor de educação física e o processo de avaliação escolar. 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