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DIREITO
1
STJ já fi rmou posição no sentido de 
que se considera a idade do infrator 
ao tempo do ato infracional, sendo 
irrelevante a circunstância de atingir 
o adolescente a maioridade civil 
ou penal durante o cumprimento 
da medida socioeducativa. Por 
exemplo, se alguém comete um ato 
infracional equiparado ao crime de 
homicídio com 17 anos, 11 meses 
e 29 dias de idade, pode sofrer 
ação para imposição de medidas 
socioeducativas até completar 21 
anos. Após esta idade, por ser 
causa absoluta de encerramento 
de competência, o adolescente não 
pode ser mais processado, nem 
receber qualquer medida. 
2. Princípios: ao adotar o princípio 
da proteção integral, a legislação 
brasileira afastou-se completamente 
do conceito básico que sustentava 
o antigo Código de Menores (Lei 
nº 6.697/1979), que encampava a 
doutrina do “menor em situação 
irregular”, não fazendo distinção 
entre os carentes e os autores de 
atos infracionais. Com o advento da 
Constituição da República de 1988, 
esse enfoque foi completamente 
alterado, conforme dispõe o seu 
artigo 227: “É dever da família, da 
sociedade e do Estado assegurar 
à criança e ao adolescente, com 
absoluta prioridade, o direito à vida, 
à saúde, à alimentação, à educação, 
ao lazer, à profi ssionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência familiar 
e comunitária, além de colocá-los a 
salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, crueldade 
Brasileiro em 14/11/1990 passando a 
integrar o ordenamento jurídico 
pátrio. Todos esses diplomas, em sua 
essência, foram absorvidos na 
elaboração do Estatuto, sendo 
imprescindível a leitura dos mesmos 
para qualquer operador que irá 
estudar o direito da infância. 
APLICAÇÃO E 
PRINCÍPIOS
1. Aplicação: conforme dispõe o art. 
2º, o ECA aplica-se, como regra, às 
crianças (até 12 anos incompletos) 
e adolescentes (entre 12 e 18 anos 
incompletos). Excepcionalmente 
(art. 2º, parágrafo único) aplica-
se às pessoas entre 18 e 21 anos. 
Com o novo Código Civil (art. 5º) e a 
consequente redução da maioridade 
civil para 18 anos, esta regra não 
se aplica mais, por exemplo, para o 
deferimento de tutela, assistência 
e representação (art. 142) e, 
então, limita-se apenas à aplicação 
das medidas socioeducativas de 
internação e de semiliberdade, 
decorrentes da prática de ato 
infracional, em face da disposição 
expressa dos artigos 121, § 5°, e 
120, § 2°, do ECA. Entendo que 
as medidas protetivas (art. 101) 
aplicadas cumulativamente a estas, 
também persistem à maioridade. 
Não é demais ressaltar que o 
estabelecimento da competência da 
Justiça da Infância, quanto aos atos 
infracionais, nos termos expressos 
do art. 104, parágrafo único, do 
Estatuto, é considerado à época do 
ato infracional, ou seja, dos fatos 
praticados antes da maioridade 
penal - 18 anos (art. 228 da CF). O 
INTRODUÇÃO
O Estatuto da Criança e do 
Adolescente, Lei nº 8.069/90, trouxe 
para a legislação brasileira uma 
verdadeira revolução no trato da 
infância e da juventude do país. 
Houve uma completa alteração do 
paradigma de como o Estado e a 
Sociedade passariam a tratar suas 
novas gerações. Essa projeção das 
crianças e adolescentes como 
sujeitos de direitos, destinatários 
primazes das políticas públicas, já 
vinha sendo tratada e introjetada na 
legislação mundial no pós-segunda 
grande guerra, com a grande 
preocupação quanto à normatização 
dos direitos humanos, decorrente 
dos traumas e feridas expostas no 
insano confl ito. Podemos estabelecer, 
como marco inicial dessa nova 
perspectiva, a Declaração Universal 
dos Direitos das Crianças, aprovada 
pela Assembléia Geral das Nações 
Unidas, em 20 de novembro de 1959, 
na qual se destacavam os direitos 
dos infantes, enquanto pessoas com 
direitos fundamentais que deveriam 
ser tutelados e garantidos na 
legislação de todos os países. Com a 
evolução do direito internacional, 
seguiram-se as Regras Mínimas das 
Nações Unidas para a Administração 
da Justiça da Infância e da Juventude 
(Regras de Beijing, Resolução 40/33, 
de 29/11/1985), as Diretrizes das 
Nações Unidas para a Prevenção da 
Delinquência Juvenil (Diretrizes de 
Riad, de 01/03/1988) e a Convenção 
sobre os Direitos da Criança, 
aprovada pela Assembléia Geral das 
Nações Unidas em 20/11/1989 e 
ratifi cada pelo Congresso Nacional 
ESTATUTO DA 
CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE
2
2. Do direito à liberdade, ao 
respeito e à dignidade (arts. 15 
a 18 do ECA): dispõe o art. 15: 
“A criança e o adolescente têm o 
direito à liberdade, ao respeito e à 
dignidade como pessoas humanas 
em processo de desenvolvimento 
e como sujeitos de direitos civis, 
humanos e sociais garantidos na 
Constituição e nas leis”. Apesar de 
parecer repetência do disposto no art 
4° da Lei, o legislador teve a intenção 
de reforçar a quebra da diretriz da 
legislação menorista anterior, alçando 
os infantes à condição de sujeitos em 
desenvolvimento e portadores de 
direitos humanos fundamentais. 
2.1. Direito à liberdade: o 
direito à liberdade vem, em rol 
exemplifi cativo, no art 16 do ECA, 
do qual destacamos: a) Liberdade 
de locomoção (inciso I): ir, vir e 
estar nos logradouros públicos e 
espaços comunitários, ressalvadas 
as restrições legais. Garante-se o 
direito constitucional, mas adequado 
à sua condição de pessoa em 
desenvolvimento, portanto, de forma 
não absoluta. O próprio Estatuto 
elenca algumas restrições como, 
por exemplo, a restrição de crianças 
em determinados espetáculos 
públicos (art. 75), frequência a 
casas de jogos (art. 80), restrições 
em hospedagem (art. 82), viagem 
de criança desacompanhada, ou 
sem autorização judicial (art. 83 
- O adolescente não necessita 
de autorização judicial para viajar 
desacompanhado nos limites do 
território nacional), apreensão 
decorrente da prática de ato infracional 
grave (art. 106, 173 e 174 do ECA). 
Destaque-se, ainda, a limitação 
justa imposta aos fi lhos menores, 
em benefício destes, decorrente 
do exercício do poder familiar (art. 
1.634 do Código Civil.). Quem privar 
criança ou adolescente de sua 
liberdade, fora das hipóteses legais, 
incorre nas penas do crime previsto 
no artigo 230 do Estatuto da Criança 
e do Adolescente; b) Liberdade de 
opinião e expressão (inciso II): 
gerais, à atenção individual, 
desde a gestação, passando ao 
nascimento e desenvolvimento sadio 
e harmonioso. Destaquem-se: a) 
Atendimento integral à gestante - 
pré e perinatal - pelo SUS, incluindo 
os acompanhamentos médicos 
específi cos, apoio alimentar, etc. 
(art. 8°); b) Garantias à asseguração 
do aleitamento materno, inclusive à 
mulher trabalhadora ou privada de 
liberdade (art. 9°); c) Os hospitais 
e estabelecimentos de saúde são 
obrigados a: - identifi car o recém-
nascido por sua impressão plantar e 
digital e da impressão digital da mãe 
(art. 10°, II); - proceder aos exames 
visando ao diagnóstico e terapêuticas 
de anormalidades do metabolismo 
(“exame do pezinho” - art. 10°, III); - 
fornecer declaração de nascimento 
com todas as intercorrências do 
parto e desenvolvimento do neonato 
(art. 10°, IV); - manter a mãe e o 
neonato em alojamento conjunto 
(art. 10°, V); - em caso de internação 
da criança ou do adolescente 
garantir, também, o alojamento 
conjunto, em tempo integral, de um 
dos pais ou responsável (art. 12); 
d) O poder público deve garantir 
o acesso universal e igualitário 
de crianças e adolescentes ao 
Sistema Único de Saúde (art. 11°), 
inclusive, atendimento especializado 
aos portadores de defi ciência (art. 
11, § 1°), incumbindo, também, 
ao poder público, o fornecimento 
de medicamentos, próteses, etc. 
(art. 11°, § 2°). O SUS deverá 
promover programas de assistência 
médica e odontológica preventivas, 
educativas e, em caráter obrigatório,de vacinação (art. 14); e) Os 
casos de confi rmação de maus-
tratos, ou mera suspeita, contra 
crianças e adolescentes devem ser, 
obrigatoriamente, comunicados ao 
Conselho Tutelar (art. 13°), sob pena 
de, não o fazendo, os médicos ou 
responsáveis pelos estabelecimentos 
de saúde incorrerem na infração 
administrativa prevista no art. 245 do 
Estatuto. 
e opressão”. Dessa diretriz 
constitucional extraímos os dois 
pilares principais de sustentação do 
Estatuto: a) Princípio da Proteção 
Integral (art. 3º do ECA): constitui 
o dever da família, da sociedade 
e do Estado brasileiro garantir 
as necessidades de crianças e 
adolescentes (até 18 anos de idade), 
atentando-se à condição peculiar de 
pessoa em desenvolvimento (art. 
6º), assegurando-lhes seu direito 
à vida, à saúde, à educação, à 
convivência, ao lazer, à liberdade, à 
profi ssionalização, etc., garantindo-
lhes o desenvolvimento físico, 
mental, moral, espiritual e social, em 
condições de liberdade e dignidade, 
resguardando-as de qualquer forma 
de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade 
e opressão (art. 5º); b) Princípio 
da Prioridade Absoluta (art. 4º 
do ECA): estabelece a primazia de 
crianças e adolescentes receberem 
proteção e socorro em qualquer 
circunstância, bem como, de 
terem a preferência de atenção na 
formulação de políticas e destinação 
de verbas públicas. O parágrafo 
único do artigo 4º do ECA especifi ca 
as hipóteses, de forma não taxativa, 
ante o princípio de caráter geral: 
a) Primazia de receber proteção e 
socorro em quaisquer circunstâncias; 
b) Precedência do atendimento nos 
serviços públicos e de relevância 
pública; c) Preferência na formulação 
e na execução das políticas sociais 
públicas; d) Destinação de recursos 
públicos nas áreas relacionadas com 
a proteção à infância e à juventude. 
 LINK ACADÊMICO 1
DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS
1. Do direito à vida e à saúde (arts. 
7° a 14 do ECA): o Estatuto procurou 
assegurar a proteção à vida e à 
saúde de crianças e adolescentes, 
garantindo a efetivação de políticas 
públicas sociais que estabelecem o 
atendimento dentro da concepção 
de integralidade, desde as políticas 
3
(art. 245) e normas penais especiais 
(art. 232). Ressalte-se, ainda, que, 
em nível criminal, além de lesão 
corporal (art. 129 do CP) e maus-
tratos (art. 136 do CP), a Lei 9.455/97 
(Lei de Tortura) defi ne como crime 
a submissão de alguém, sob sua 
guarda, poder ou autoridade, com 
emprego de violência ou grave 
ameaça, a intenso sofrimento físico 
ou mental, como forma de aplicar 
castigo pessoal ou medida de caráter 
preventivo (art.1°, II), situação que, 
infelizmente, já foi constatada em 
entidades que executam a medida de 
internação. Outro ponto de destaque 
do direito ao respeito, tratado neste 
artigo 17, é o da preservação da 
imagem (resguardando-se a honra 
objetiva e subjetiva) e da identidade 
(preservando seus dados individuais 
da exposição pública; sua intimidade 
e vida privada). Nesse diapasão, vale 
verifi carmos a norma do art. 143 do 
ECA: “É vedada a divulgação de atos 
judiciais, policiais e administrativos 
que digam respeito à criança e aos 
adolescentes a que se atribuam 
autoria de ato infracional. Parágrafo 
único: qualquer notícia a respeito 
do fato não poderá identifi car a 
criança ou o adolescente, vedando-
se fotografi a, referência a nome, 
apelido, fi liação, parentesco, 
residência, inclusive, iniciais do 
nome e sobrenome”. A violação 
desta regra geral, especialmente 
pelos órgãos de imprensa, implicará 
a prática da infração administrativa 
prevista no art. 247 do ECA, com as 
penas ali estabelecidas. À primeira 
vista, tais regras podem parecer 
de um protecionismo exagerado, 
principalmente, quando fatos 
gravíssimos aparecem na mídia 
envolvendo adolescentes como um 
de seus autores. Contudo, muito 
bem andou o legislador ao criar 
essa proteção para a grande massa 
de jovens que acabam, até pela 
impulsividade e falta de criticidade, 
típicas da idade - sem falar das 
condições sócio-econômicas (mais 
de 50% dos adolescentes internados 
eleitoral ativa (art. 14, § 3°, VI, 
d, da CF). Inclui-se aqui o direito 
de organização e participação em 
entidades estudantis (art. 53, IV); 
g) Liberdade de buscar refúgio, 
auxílio e orientação (inciso VII). 
2.2. Direito ao respeito: o direito 
ao respeito vem sintetizado no 
artigo 17 do ECA : “O direito ao 
respeito consiste na inviolabilidade 
da integridade física, psíquica e 
moral da criança e do adolescente, 
abrangendo a preservação da 
imagem, da identidade, da autonomia, 
dos valores, idéias e crenças, 
dos espaços e objetos”. O mais 
comezinho é o respeito à integridade 
física das crianças e adolescentes. 
Em vários dispositivos, o Estatuto 
demonstra a preocupação contra a 
prática de maus-tratos (incluindo-se 
as violações psíquicas e morais), 
procurando criar uma rede de proteção 
por meio de algumas determinações, 
tais como: a) Impondo deveres de 
comunicação da ocorrência dessas 
violações ao Conselho Tutelar 
(art. 13), de ensino (art. 56, I) - 
com sanções administrativas pela 
sua inobservância (art. 245); b) 
Estabelecendo regras de prevenção 
(art. 70), como, por exemplo: - art. 
87, III - serviços de prevenção e 
atendimento médico/psicossocial 
às vítimas; - art. 130 - afastamento 
cautelar do agressor da moradia 
comum); c) Impondo deveres 
expressos ao poder público e às 
entidades executoras da medida 
socioeducativa privativa de liberdade. 
Além das determinações de caráter 
genérico dos artigos 94, IV e 125, 
observe-se, por exemplo, a norma 
do art. 178, a qual determina que o 
transporte de infrator não poderá 
ocorrer em compartimento fechado 
de veículo que implique risco à 
sua integridade física e mental. No 
tocante à utilização de algemas, 
não há regra específi ca, devendo 
ser seguida a diretriz da 11ª Súmula 
Vinculante do STF e da norma no 
artigo 232 do ECA); d) Criando 
sanções administrativas específi cas 
Além de formular e externar suas 
convicções (garantidas as restrições 
legais quanto à honra de terceiros, 
etc.) a criança e o adolescente têm 
o direito de serem ouvidos para a 
colocação em família substituta (art. 
28, § 1° e art. 168) ou nas ações de 
perda ou suspensão do pátrio poder 
que impliquem a modifi cação de 
guarda (art. 161, § 3°); o adolescente 
deve ser ouvido e manifestar seu 
consentimento em caso de adoção 
(art. 45, § 2°). Destaque-se, ainda, 
que o autor de ato infracional tem o 
direito de ser ouvido pessoalmente 
pela autoridade competente (art. 
111, V) e o adolescente privado 
de liberdade pode entrevistar-se 
pessoalmente com o representante 
do Ministério Público (art. 124, I), 
reservadamente com o seu defensor 
(art. 124, III), peticionar diretamente 
a qualquer autoridade (art. 124, II) 
e corresponder-se com familiares 
e amigos (art. 124, VIII). Dispõe, 
ainda, a Súmula 265 do STJ que “é 
necessária a oitiva do menor infrator 
antes de decretar-se a regressão 
da medida socioeducativa”; c) 
Liberdade religiosa (inciso III): 
garantia da liberdade de crença e culto 
religioso, gerando, aqui, discussão 
sobre eventual ensino religioso 
obrigatório em estabelecimentos 
públicos de ensino (ver art. 33 da 
Lei nº 9.394/96 - Diretrizes e Bases 
da Educação). O Estatuto garante, 
ainda, a assistência religiosa ao 
adolescente internado (art. 94, XII 
e art. 124, XIV); d) Liberdade de 
brincar, praticar esportes e divertir-
se (inciso IV), garantindo-se, assim, 
o respeito à condição peculiar 
de pessoa em desenvolvimento 
saudável. Refl exo disso, por 
exemplo, está na Lei 11.104/05, 
que obriga hospitais pediátricos a 
manterem brinquedotecas, aliviando 
o tratamento das crianças internadas; 
e) Liberdade de participação 
na vida familiar e comunitária,sem discriminação (inciso V); f) 
Liberdade de participar da vida 
política, observada a capacidade 
4
sua ressocialização, o direito de 
permanecerem internados na 
mesma localidade ou naquela mais 
próxima ao domicilio de seus pais ou 
responsáveis, de receberem visita 
semanalmente e de corresponderem-
se com seus familiares e amigos (art. 
124, VI, VII e VIII do ECA). Para que 
este direito seja garantido, outorgou 
ao Estado o dever de diligenciar no 
sentido do restabelecimento e da 
preservação dos vínculos familiares, 
bem como, de comunicar à 
autoridade judiciária, periodicamente, 
os casos em que se mostre inviável 
ou impossível o reatamento de tais 
vínculos (art. 94, V e VI, do ECA). 
Como já dissemos, a regra é a 
manutenção dos fi lhos em sua família 
natural (art. 25 - comunidade formada 
pelos pais, ou qualquer deles, e seus 
descendentes). Na senda da CF/88, o 
ECA deixou consignado, em seu artigo 
20, a impossibilidade de qualquer 
designação discriminatória relativa 
à fi liação, igualando-lhes todos os 
direitos (incluindo os sucessórios) e 
qualifi cações. Neste mesmo sentido, 
o teor do art. 1.596 do CC. Assim, 
afastada as discriminações das 
legislações anteriores à nova ordem 
constitucional, o art. 26 estabelece que 
os fi lhos havidos fora do casamento, 
poderão ser reconhecidos pelos 
pais, conjunta ou separadamente. 
As formas deste reconhecimento 
foram ampliadas em face do disposto 
no art. 1.609 do CC, que ora prevê 
que o mesmo poderá ser feito: a) 
No registro de nascimento; b) Por 
escritura pública ou escrito particular 
em cartório; c) Por testamento, ainda 
que incidentalmente manifestado; d) 
Por manifestação expressa e direta 
perante o Juiz. Verifi que-se que o 
reconhecimento do estado de fi liação 
é direito personalíssimo, indisponível 
e imprescritível, podendo ser 
exercitado contra os pais e seus 
herdeiros (art. 27 do ECA). 
3.1. Do poder familiar, sua perda 
ou suspensão: nesta mesma linha 
de entendimento, o art. 21 do ECA 
estabelece que o poder familiar 
da sua família e, excepcionalmente, 
em família substituta, assegurada a 
convivência familiar e comunitária, 
em ambiente livre da presença de 
pessoas dependentes de substâncias 
entorpecentes”. Dentro do conceito 
da proteção integral, altera-se 
completamente o tratamento da 
relação parental e a forma de 
atenção pelo Estado quando houver 
irregularidades nesta, ou seja, 
quando, por falta, omissão ou abuso 
dos pais, a criança ou o adolescente 
estiver em situação de risco (art. 
98, II, do ECA). Os fi lhos passam a 
ter o direito, como regra, à criação, 
à educação e à convivência no seio 
da sua família biológica (ligados 
pelos laços de consanguinidade), ou 
seja, na sua família natural (art. 25 
do ECA). Em caráter excepcional, 
como medida de proteção, no 
impedimento da natural, a criança ou 
adolescente deverá ser colocada em 
família substituta, mediante guarda, 
tutela ou adoção (art. 28 do ECA). 
Ainda, como exceção da exceção, 
na impossibilidade das anteriores, 
poderá haver encaminhamento para 
família substituta estrangeira, a qual 
somente é admitida na modalidade 
de adoção (art. 31 do ECA). Frise-se 
que, independentemente da natureza 
daquela (natural ou substituta), o 
objetivo é sempre a manutenção no 
seio familiar. Desta feita, houve uma 
total alteração, também, na forma de 
atenção pelo Estado quanto à antiga 
doutrina da situação irregular do 
Código de Menores, a qual possuía 
como solução imediatista para os 
problemas da infância, seja aquela 
em situação de risco ou em confl ito 
com a lei, o encaminhamento, 
sem distinção, para internação 
em orfanatos e similares. Hoje 
o abrigamento deve ser sempre 
a última hipótese e sempre pelo 
menor intervalo de tempo possível. 
A relevância e a constatação da 
inegável importância da convivência 
familiar, inclusive, levaram o 
Estatuto a garantir aos adolescentes 
infratores, como meio de facilitar 
em São Paulo vêm dos bairros 
mais carentes do extremo da zona 
sul e leste da capital), envolvendo-
se em uma infração nessa fase 
de desenvolvimento. Caso o seu 
processo sócioeducativo tivesse 
sucesso, mesmo assim, eles já 
começariam a vida adulta com 
uma mácula que lhes difi cultaria, 
sobremaneira, o ingresso no mercado 
de trabalho e o prosseguimento de 
uma vida socialmente adequada 
e correta. O resguardo legal não 
protege um infrator que se destacou 
na mídia, mas uma idéia, um princípio, 
a massa esmagadora de jovens que 
merecem uma nova oportunidade. 
Prosseguindo, ainda merecem ser 
apontados, dentro do direito ao 
respeito, o direito à preservação da 
autonomia (resguardado o poder 
familiar, como acima já dissemos), 
o direito à preservação de valores, 
idéias e crenças e, por fi m, o direito 
à preservação de espaços e objetos 
pessoais (o artigo 124, XV, do ECA 
garante ao adolescente que está 
internado a posse de seus objetos 
pessoais e a designação de local 
seguro para guardá-los). 
2.3. Direito à dignidade: o direito à 
dignidade está espelhado no art. 18 
do Estatuto, o qual, seguindo o norte 
constitucional, assevera ser dever 
de todos velar pela dignidade da 
criança e do adolescente, pondo-o 
a salvo de qualquer tratamento 
desumano, violento, aterrorizante, 
vexatório ou constrangedor. 
Inclusive, a lei, para melhor garantir-
lhe o cumprimento, sem prejuízo de 
infração mais grave, criou norma 
penal específi ca para quem submeta 
criança ou adolescente, sob sua 
guarda ou autoridade, a vexame ou 
constrangimento (art. 232). 
3. Do direito à convivência familiar 
e comunitária (arts. 19 a 52 do ECA): 
como decorrência da nova diretriz 
constitucional prevista no artigo 227 
da CF, o artigo 19 do ECA estabeleceu 
que “toda criança ou adolescente tem 
direito a ser criado e educado no seio 
5
judiciária poderá requisitar qualquer 
documento (art. 160). Não se aplicam 
os efeitos da revelia, por se tratar de 
questão de estado, revestindo-se o 
poder familiar de direito indisponível. 
3.2.1. Não havendo contestação 
(art. 161, caput): quando o Parquet 
não for o autor da ação, o Juiz dará 
vista ao Promotor de Justiça por 
cinco dias e decidirá em igual prazo. 
Havendo prova pré-constituída com 
a inicial, cabe julgamento antecipado 
da lide (art. 330, I, do CPC). Havendo 
necessidade de dilação probatória, 
o Juiz de ofício ou a requerimento 
das partes ou do Ministério Público, 
determinará a realização de 
estudo social ou perícia por equipe 
interprofi ssional ou multidisciplinar, 
bem como a oitiva de testemunhas 
(art. 161, § 1°). Se houver modifi cação 
de guarda e desde que possível e 
razoável, será obrigatória a oitiva da 
criança ou adolescente (art. 161, § 
3°). 
3.2.2. Havendo contestação (art. 
162): quando o Parquet não for o 
autor da ação, o Magistrado dará 
vista ao Promotor por cinco dias e 
designará audiência de instrução, 
debates e julgamento. De ofício ou 
a requerimento das partes, de igual 
sorte que, na situação anterior, o Juiz 
poderá determinar a realização de 
estudo técnico do caso. Em audiência 
(art. 162, § 2°) serão colhidos os 
pareceres técnicos (oralmente ou por 
escrito) e ouvidas as testemunhas. 
Abrir-se-á o debate para as partes, 
por 20 minutos, prorrogáveis por 
mais 10, proferindo-se decisão em 
seguida. A sentença que decretar 
a perda ou suspensão do poder 
familiar deve ser averbada à margem 
do registro de nascimento da criança 
ou adolescente (art. 163, parágrafo 
único). Da decisão cabe recurso de 
apelação, no prazo de 10 dias (art. 
198). A decisão de suspensão do 
poder familiar é temporária e pode 
ser revista, caso as circunstâncias 
que a justifi caram deixem de existir. A 
destituição, por seu turno, é medida 
que, por ter causas muito graves, só 
levam à suspensão do pátrio poder, 
acima referidas.É muito importante 
deixar claro, contudo, que a falta 
ou carência de recursos materiais 
não constitui motivo sufi ciente 
para a perda ou suspensão do 
poder familiar (art. 23 do ECA). 
Nessa hipótese, a família deverá ser 
promovida socialmente, incluindo-a 
em programas ofi ciais de auxílio 
(art. 23, Parágrafo único e art. 101, 
IV), mantendo-se a criança junto 
à mesma. Na impossibilidade, até 
que as inclusões sociais sejam 
providenciadas, a criança ou o 
adolescente poderá ser colocada sob 
guarda provisória de outra família 
ou, não sendo possível, abrigada 
temporariamente. 
3.2. Procedimento para perda ou 
suspensão do poder familiar (arts. 
155 a 163 do ECA): Terá início por 
provocação do Ministério Público ou 
de pessoa legitimamente interessada 
(ex.: guardião que tem interesse na 
adoção da criança sob seus cuidados). 
Não pode ser instaurado de ofício 
pelo Juiz. Os requisitos da petição 
inicial estão descritos no art. 156 do 
ECA, e seguem os preceitos do art. 
282 do CPC. Havendo motivo grave, 
o Juiz, ouvido o Ministério Público, 
poderá decretar, liminarmente ou 
em caráter incidental, a suspensão 
do poder familiar até o julgamento 
defi nitivo da causa (art. 157). Poderá, 
ainda, conforme as circunstâncias 
do caso concreto e presentes os 
requisitos do art. 130 do ECA (ex.: 
criança bem tratada pela mãe, mas 
vítima de violência paterna), decretar 
cautelarmente o afastamento do 
requerido da moradia comum. O 
requerido deverá, então, ser citado 
pessoalmente, para oferecimento de 
resposta e indicação de provas no 
prazo de 10 (dez) dias (art. 158). Não 
sendo encontrado, a jurisprudência 
aceita a citação por edital, conforme 
as regras do CPC, aplicado 
subsidiariamente. Caso o requerido 
não possa constituir defensor, ser-
lhe-á nomeado dativo (art. 159). 
Para instrução da ação, a autoridade 
deverá ser exercido em igualdade 
de condições pelo pai e pela mãe, 
sendo que, em caso de divergência, 
eles devem recorrer à autoridade 
judiciária; cabendo a esta decidir 
no melhor interesse do infante. 
Consigne-se, desde já, que, como 
veremos a seguir, o poder familiar 
não é exercido de forma absoluta, 
podendo, por decisão judicial, 
ser decretada a sua perda ou 
suspensão. Para a ocorrência de uma 
dessas duas hipóteses, devemos 
interpretar o ECA em conjunto com 
as disposições do CC. O art. 22 do 
Estatuto estabelece que são deveres 
dos pais o sustento, a guarda e 
a educação dos fi lhos menores, 
cabendo-lhes, ainda, no interesse 
destes, a obrigação de cumprir e fazer 
cumprir as determinações judiciais 
(observe-se que o descumprimento 
dos deveres inerentes ao poder 
familiar e às determinações da 
autoridade judiciária ou Conselho 
Tutelar, sem prejuízo de outras 
consequências, constitui a infração 
administrativa prevista no art. 249 
do ECA). Este rol foi ampliado por 
outras hipóteses enumeradas do 
art. 1.634 do CC. Dessa feita, nos 
termos do art. 24 do ECA, a perda ou 
suspensão do poder familiar ocorrerá, 
por meio de decisão judicial, em 
procedimento contraditório: a) Pelo 
descumprimento injustifi cado dos 
deveres e obrigações a que alude 
o artigo 22 do ECA; b) Nos demais 
casos previstos na legislação civil, 
que são: b.1) Terão suspenso o 
poder familiar (art. 1.637 do CC) 
os pais que: abusarem da autoridade 
parental, faltando com os deveres 
a ele inerentes; arruinarem os bens 
dos fi lhos; forem condenados por 
sentença irrecorrível em crime 
cuja pena não exceda a dois anos 
de prisão; b.2) Perderão o poder 
familiar os pais que (art. 1.638 do 
CC): castigarem imoderadamente o 
fi lho; deixarem o fi lho em abandono; 
praticarem atos contrários à moral 
e aos bons costumes; incidirem 
reiteradamente nas condutas que 
6
prejudiciais à sua formação e ao seu 
desenvolvimento físico, psíquico, 
moral e social; d) Realizado em 
horários e locais que não permitam a 
frequência à escola. 
5.2. Garantias: a) Com a alteração 
da Emenda Constitucional nº. 20, ao 
adolescente aprendiz ou trabalhador 
são assegurados todos os direitos 
trabalhistas e previdenciários. 
O adolescente trabalhador, não 
sujeito à aprendizagem, tem direito 
a salário integral (Súmula. 205 do 
STF); b) Ao adolescente portador de 
defi ciência é assegurado trabalho 
protegido (art. 66); c) O adolescente 
tem direito à profi ssionalização e à 
proteção no trabalho assegurado 
(art. 69): respeito à condição peculiar 
de pessoa em desenvolvimento e 
capacitação profi ssional adequada 
ao mercado de trabalho. 
 LINK ACADÊMICO 2
DA COLOCAÇÃO EM 
FAMÍLIA SUBSTITUTA
A colocação em família substituta 
ocorre por três formas (art. 28, caput): 
a) Guarda; b) Tutela; c) Adoção. Em 
qualquer das hipóteses acima: o 
Magistrado deve seguir uma ordem 
de prioridades na escolha do futuro 
responsável pela criança ou 
adolescente (art. 28, § 3°, do ECA) 
assim determinada: 1°) O grau de 
parentesco; 2°) A relação de afi nidade 
ou de afetividade; 3°) Na falta das 
anteriores, pessoas que demonstrem 
condições pessoais de assumir a 
responsabilidade. Sempre que 
possível, a criança ou o adolescente 
será previamente ouvido por equipe 
interprofi ssional, respeitado seu 
estágio de desenvolvimento e grau 
de compreensão sobre as implicações 
da medida, e terá sua opinião 
devidamente considerada (art. 28, § 
1°). Não se deferirá a colocação em 
família substituta se pessoa desta 
revelar, por qualquer modo, 
incompatibilidade com a natureza da 
medida ou não oferecer ambiente 
familiar adequado (art. 29). Ressalte-
se que, nos termos do artigo 30 do 
e assistência à saúde. Compete, 
ainda, ao poder público fazer o 
recenseamento dos educandos do 
ensino fundamental, fazer-lhes a 
chamada e zelar, junto aos pais ou 
responsável, pela frequência à escola 
(§ 3º). Obrigação dos municípios: 
além da responsabilidade prioritária 
pelo ensino fundamental e educação 
infantil (art. 211, § 2º, da CF), os 
municípios, com o apoio dos Estados 
e da União, estimularão e facilitarão 
a destinação de recursos e espaços 
para programações culturais, 
esportivas e de lazer voltadas para 
a infância e juventude (art. 59). 
Obrigação dos pais e responsáveis: 
o art. 55 do ECA determina que é 
obrigação dos pais ou responsáveis 
a de matricular seus fi lhos ou 
pupilos na rede regular de ensino. 
O descumprimento dessa norma 
pode resultar na prática do crime de 
abandono intelectual (art. 246 do CP) 
e a prática da infração administrativa 
prevista no art. 249 do ECA. O dever 
de comunicação de violações: o art. 
56 do ECA impõe a obrigação dos 
dirigentes de estabelecimento de 
ensino fundamental de comunicar 
ao Conselho Tutelar os casos de: 
maus-tratos envolvendo seus alunos. 
A omissão deste implica a prática 
da infração administrativa prevista 
no art. 245 do ECA, como vimos 
anteriormente; reiteração de faltas 
injustifi cadas e de evasão escolar, 
esgotados os recursos escolares; 
elevados níveis de repetência. 
5. Da profi ssionalização e proteção 
do trabalho (art. 60 a 69)
5.1. Vedações: o art. 60 do ECA foi 
revogado pelo artigo 7º, XXXIII, da CF 
(alterado pela Emenda Constitucional 
nº. 20/98), passando a ser proibido o 
trabalho para menores de 16 anos, 
salvo na condição de aprendiz para 
maiores de 14 anos. São trabalhos 
vedados aos adolescentes (art. 67): 
a) Noturno, realizado entre as 22 
horas de um dia e as cinco horas do 
dia seguinte; b) Perigoso, insalubre 
ou penoso; c) Realizado em locais 
em condições excepcionalíssimas 
a jurisprudência tem admitido a 
restituição do poder familiar (desde 
que não haja sido efetivada a adoção, 
que é irrevogável). 
4. Do direito à educação, à cultura, 
ao esporte e ao lazer (art. 53 a 59 
do ECA): assevera o art. 53 do ECA, 
que a criança e o adolescente têm 
direito à educação, visando ao pleno 
desenvolvimentode sua pessoa, 
preparo para o exercício da cidadania 
e qualifi cação para o trabalho, sendo 
assegurado: igualdade de condições 
para o acesso e permanência na 
escola; direito de ser respeitado por 
seus educadores; direito de contestar 
critérios avaliativos, podendo recorrer 
a instâncias escolares superiores; 
direito de organização e participação 
em entidades estudantis; acesso à 
escola pública e gratuita próxima de 
sua residência. O parágrafo único 
ainda garante aos pais o direito de 
serem cientifi cados das propostas e 
do processo pedagógico adotado pela 
escola. Em seguida, reproduzindo 
o art. 208 da CF, o art. 54 do ECA 
determina ser dever do Estado: 
ensino fundamental, obrigatório e 
gratuito, inclusive para os que a ele 
não tiveram acesso na idade própria. 
O acesso a ele é direito público 
subjetivo e o não-oferecimento pelo 
poder público ou a sua oferta irregular 
importa em responsabilidade da 
autoridade competente (§§ 1º 
e 2º); atendimento educacional 
especializado aos portadores de 
defi ciência, preferencialmente na 
rede regular de ensino; atendimento 
em creche e pré-escola às crianças 
de zero a seis anos de idade; 
acesso aos níveis mais elevados de 
ensino, da pesquisa e da criação 
artística, segundo a capacidade de 
cada um; oferta de ensino noturno 
regular, adequado às condições 
do adolescente trabalhador; 
atendimento no ensino fundamental, 
por intermédio de programas 
suplementares de material didático-
escolar, transporte, alimentação 
7
opor-se a terceiros, inclusive aos 
pais (art. 33, caput); d) A guarda 
não implica prévia suspensão 
ou destituição do pátrio poder, 
podendo com ele coexistir. Havendo 
discordância de um dos pais só pode 
ser concedida após instauração 
de procedimento contraditório; 
e) Pode ser deferida liminar ou 
incidentalmente nos procedimentos 
de tutela ou adoção, exceto no de 
adoção por estrangeiros (art. 33, § 
1°). Aliás, é vedada a concessão 
de guarda, a qualquer título, a 
estrangeiro residente ou domiciliado 
fora do país, excepcionando-se a 
hipótese do estágio de convivência 
para fi ns de adoção internacional 
(art. 46, § 3º) com suas limitações 
típicas; f) A guarda pode ser deferida 
fora dos casos de tutela e adoção 
para atender a situações peculiares 
e suprir a ausência de pais ou 
responsável, podendo ser deferido 
o direito de representação para 
determinados atos (art. 33, § 2°); g) 
Confere à criança ou ao adolescente 
a condição de dependente, para 
todos os fi ns e efeitos de direito, 
inclusive previdenciários (art. 33, § 
3°). Não existe “guarda exclusiva 
para fi ns previdenciários”. A guarda 
é antecedente e implica todas as 
demais obrigações acima referidas, 
e, como consequência desta, 
há a inclusão na dependência 
previdenciária. 
2. Espécies de guarda: a) 
Provisória: tem caráter cautelar, 
liminar ou incidental, concedida em 
processos de tutela ou adoção (art. 
33, § 1°) ou, ainda, em situações 
graves de risco para crianças e 
adolescentes em ações de suspensão 
ou destituição do poder familiar (art. 
157); b) Defi nitiva: na verdade, ante 
a revogabilidade da guarda a qualquer 
tempo, eu diria com ânimo defi nitivo. 
É a prevista no art. 33, § 2°, do ECA 
e concedida fora dos casos de tutela 
e adoção para atender a situações 
peculiares ou à ausência dos pais 
ou responsáveis. Pode ser deferido 
em que houver necessidade prévia 
de destituição da tutela, ou a perda, 
ou suspensão do poder familiar, 
deve ser seguido o procedimento 
contraditório com o rito previsto nos 
arts. 155 a 163 e 164 do ECA, acima 
já estudados. 
1.3. Estudo técnico (art. 167): o 
Juiz, de ofício ou a requerimento 
das partes e do Ministério Público, 
determinará a realização de estudo 
social do caso, ou, se possível, perícia 
por equipe interprofi ssional. Deverá, 
ainda, decidir sobre a concessão de 
guarda provisória ou sobre o estágio 
de convivência. 
1.4. Oitiva da criança ou 
adolescente: apresentado o relatório 
social ou o laudo pericial, sempre 
que possível, deve-se preceder à 
oitiva da criança ou do adolescente; 
ressaltando-se, como já dissemos, 
a necessidade de consentimento do 
maior de doze anos (art. 28, § 2º) e 
no caso de adoção (art. 45, § 2º). 
1.5. Lavratura do termo de 
compromisso e da inscrição: 
concedida a guarda ou a tutela, 
lavrar-se-á o termo de compromisso 
de bem e fi elmente desempenhar o 
cargo (art. 32) e, concedida a adoção, 
esta deve ser inscrita no registro 
civil, nos termos do art. 47 do ECA, 
conforme acima já consignado. 
DA GUARDA
(arts. 33 ao 35 do ECA)
É uma medida protetiva de caráter 
precário, concedida para atender a 
situações peculiares ou suprir a falta 
eventual dos pais ou responsáveis 
e obriga o guardião à prestação 
de assistência material, moral e 
educacional à criança ou adolescente. 
1. Características: a) Medida 
protetiva de caráter temporário, que 
se destina a regularizar a posse 
de fato; b) Pode ser revogada a 
qualquer tempo, mediante decisão 
judicial fundamentada (art. 35) ou 
quando o menor atinge a maioridade 
civil, aos 18 anos (art. 5° do CC); 
c) Confere ao guardião o direito de 
ECA, efetivada a colocação judicial 
em família substituta, seus encargos 
são indelegáveis, não podendo haver 
transferência da criança a terceiros 
ou a entidades, sem autorização 
judicial. O guardião e o tutor podem 
renunciar ao encargo, mas dependem 
de autorização judicial. A adoção é 
medida excepcional e irrevogável 
(art. 39, § 1º). 
1. Do procedimento para colocação 
em família substituta (arts. 165 a 
170 do ECA): 
1.1. Requisitos do pedido: os 
requisitos para a formulação do 
pedido vêm descritos no art. 165 
do ECA, os quais podemos resumir 
assim: a) Qualifi cação completa 
dos requerentes; b) Indicação de 
eventual parentesco com a criança ou 
adolescente e se tem ou não parentes 
vivos; c) Qualifi cação completa da 
criança ou adolescente e de seus 
pais; d) Indicação do cartório onde 
foi inscrito o registro de nascimento e 
declaração da existência de bens ou 
rendimentos relativos à criança ou ao 
adolescente. O parágrafo único deste 
artigo 165 ainda exige os requisitos 
específi cos para a adoção (aqueles 
dos arts. 40, 42, 44, 45 e 51). 
1.2. Contraditório. a) Dispensa: 
é possível ocorrer a dispensa do 
procedimento contraditório, nos 
termos do art. 166 do ECA, quando: 
a.1) Os pais forem falecidos; a.2) 
Os pais tiverem sido destituídos do 
poder familiar; a.3) No caso de os 
pais haverem aderido expressamente 
ao pedido de colocação em família 
substituta. Nessa hipótese, os pais 
devem ser ouvidos pela autoridade 
judiciária e pelo Ministério Público, 
formalizando-se em termo as 
declarações de concordância (art. 
166, § 1º). No caso de dispensa do 
contraditório, o pedido de colocação 
em família substituta poderá ser 
formulado diretamente em cartório, 
em petição assinada pelos próprios 
requerentes; b) Necessidade do 
contraditório: conforme previsão do 
art. 169 do ECA, em todos os casos 
8
cautelares em geral. Não havendo 
contestação, há a presunção da 
veracidade dos fatos alegados e o 
juiz deve decidir em cinco dias. Se 
houver contestação e, havendo a 
necessidade de produção de provas, 
designará audiência de instrução e 
julgamento. Consigne-se que, em 
caso de gravidade, o juiz poderá 
suspender o tutor do exercício de 
suas funções, nomeando substituto 
interino (art. 1.197 do CPC). 
DA ADOÇÃO
Terceira forma de colocação em 
família substituta e de forma 
defi nitiva. É o ato jurídico bilateral 
que cria relações, vínculos, de 
fi liação e paternidade entre pessoas. 
Na defi nição do art. 41 do ECA: “ A 
adoção atribui a condição de fi lho ao 
adotado, com os mesmos direitos e 
deveres sucessórios, desligando-o 
de qualquer vínculo com pais e 
parentes, salvoos impedimentos 
matrimoniais”. 
1. Requisitos da adoção:
1.1. Para o adotante: a) Idade: 
podem adotar os maiores de 18 
(dezoito) anos, independentemente 
do estado civil. Para adoção 
conjunta, é indispensável que os 
adotantes sejam casados civilmente 
ou mantenham união estável, 
comprovada a estabilidade da família 
(art. 42, §2°, do ECA). Outro ponto 
muito importante quanto à idade 
é que o adotando deve ser, pelo 
menos, 16 anos mais velho que o 
adotado (art. 42, §3°). Na hipótese 
de adoção por casais, vale o mesmo 
raciocínio para a idade mínima: 
pelo menos um dos adotantes deve 
manter a diferença de idade exigida 
com o adotando. Não há limite de 
idade máximo para a adoção, mas 
recomenda-se que seja mantida, no 
interesse do adotando, uma paridade 
com a família natural. Já se indeferiu 
a adoção de crianças por pessoas 
muito idosas, com base neste 
parâmetro (possibilidade natural e 
falta de parentes, o juiz deve nomear 
tutor idôneo (art. 1.732 do CC); d) 
Os deveres do tutor, não em caráter 
exaustivo, estão especifi cados nos 
arts. 1.740 e seguintes do CC, sendo 
que podemos destacar: - cuidar da 
educação, defesa e prestação de 
alimentos ao tutelado; - representar 
o menor até os 16 anos e assisti-
lo, após esta idade; - praticar 
todos os atos de gestão dos bens 
do tutelado, incluindo venda de 
imóveis, pagamentos de dívidas, 
percebimentos de rendas e pensões. 
2. Espécies: a) Testamentária (art. 
1.729 do CC): é aquela em que os 
pais nomeiam por testamento ou 
outro instrumento público idôneo, 
tutor para o fi lho que tenha menos 
de 18 anos; b) Legítima (art. 1.731 
do CC): não havendo tutor nomeado, 
a indicação deverá recair sobre os 
parentes mais próximos (ascendentes 
e colaterais até o terceiro grau); 
c) Dativa (art. 1.734 do CC): as 
crianças e os adolescentes cujos 
pais forem desconhecidos, falecidos 
ou que tiverem sido suspensos ou 
destituídos do poder familiar terão 
tutores nomeados pelo Juiz ou serão 
incluídos em programa de colocação 
familiar. 
3. Procedimento para destituição 
da tutela: Dispõe o art. 38 do ECA 
que se aplica à destituição da tutela 
o disposto no art. 24 do ECA, ou 
seja, por meio de procedimento 
judicial contraditório. O procedimento 
específi co está previsto no art. 164 do 
ECA, que estabelece que a remoção 
do tutor deverá seguir o procedimento 
previsto na lei processual civil, o qual 
é previsto nos arts. 1.194 a 1.198 do 
CPC. A propositura da ação cabe ao 
Ministério Público ou a quem tenha 
interesse legítimo (art. 1.194 do 
CPC). O tutor será citado com prazo 
de cinco dias para contestação (art. 
1.195 do CPC). Findo esse prazo, 
observa-se o disposto no artigo 803 
do CPC, ou seja, o rito dos processos 
direito de representação. Não gera 
qualquer vínculo de parentesco ou 
sucessório; c) Institucional: está 
prevista no art. 92, § 1º do ECA, 
sendo a que equipara o dirigente de 
entidade de abrigo ao guardião para 
todos os fi ns de direito; d) Especial: 
é a prevista no art. 34 do ECA e 
decorre da concessão por incentivos 
fi scais e subsídios governamentais 
para que famílias acolham, como 
guardiões, crianças e adolescentes 
órfãos ou abandonados; e) 
Doméstica: espécie atípica prevista 
no art. 248 do ECA, que determina 
o dever de apresentação ao juízo do 
domicílio, para fi ns de regularização 
da guarda, adolescente (maior de 
16 anos) trazido de outra comarca, 
devidamente autorizado pelos pais 
ou responsáveis, para a prestação 
de serviços domésticos. 
DA TUTELA
Segunda forma de colocação em 
família substituta. Trata-se de um 
munus (encargo, dever) público, 
atribuído por lei, à pessoa capaz para 
proteger e reger os bens de crianças 
e adolescentes cujos pais ou 
responsáveis faleceram, foram 
declarados ausentes ou tiveram 
decretada a suspensão ou destituição 
do poder familiar (art. 1.728 do CC). 
O art. 36 do ECA preceitua que a 
tutela será deferida, nos termos da lei 
civil, a pessoa de até 18 (dezoito) 
anos incompletos. 
1. Características: a) Deve 
ser precedida da destituição ou 
suspensão do poder familiar e implica 
o dever de guarda (art. 36, Parágrafo 
único); b) Tem efeitos previdenciários, 
mas não tem efeitos sucessórios; c) 
Na falta de indicação testamentária 
(ou por outro documento autêntico), 
deverão ser nomeados os parentes 
consanguíneos, primeiramente os 
ascendentes e, em segundo lugar, 
os colaterais até o terceiro grau, 
precedendo os mais próximos aos 
mais remotos (art. 1.731 do CC). Na 
9
2.2. Para o adotando: atribui-
lhe a condição de fi lho, com 
a impossibilidade de qualquer 
designação discriminatória relativa 
à fi liação, com todos os direitos 
e deveres legais, destacando-se: 
a) Rompe todos os vínculos com 
a família natural, ressalvados os 
impedimentos matrimoniais (art. 41) 
e a hipótese de adoção unilateral 
acima referida (art. 41, § 1º). Não 
há qualquer dever ou direito entre 
o adotado e a família biológica; b) 
Passa a ter todos os direitos, incluindo 
previdenciários e sucessórios; c) 
Inclusão do nome do adotante, 
sendo que poderá ser modifi cado o 
prenome (art. 47, § 5º). Na prática, 
a hipótese de modifi cação do 
prenome é mais deferida às crianças 
menores que ainda não adquiriram 
uma identifi cação de individualidade 
através do mesmo. 
3. Outras questões importantes: 
a) Irrevogabilidade: a adoção 
é irrevogável (art. 39, § 1º); b) 
Morte dos adotantes: a morte dos 
adotantes não restabelece o poder 
familiar dos pais naturais (art. 49); 
c) Vínculo: o vínculo da adoção, 
portanto, constitui-se por sentença 
judicial (art. 47). A chamada 
“adoção à brasileira”, que consiste 
em registrar fi lho de outrem como 
próprio, na verdade, é crime previsto 
no artigo 242 do Código Penal; d) 
Estágio de convivência (art. 46): é 
o período de guarda provisória (art. 
33, § 1º) durante o qual o adotando 
permanece com os pretendentes pelo 
período que a autoridade judiciária 
fi xar, para verifi cação da adaptação. 
O estágio de convivência poderá 
ser dispensado se o adotando já 
estiver sob a tutela ou guarda legal 
do adotante durante tempo sufi ciente 
para que seja possível avaliar a 
conveniência da constituição do 
vínculo (art. 46, § 1º). Em caso de 
adoção por pessoa ou casal residente 
ou domiciliado fora do País, o estágio 
de convivência, cumprido no território 
nacional, será de, no mínimo, 30 
por procuração (art. 39, § 2º). 1.2. 
Para o adotando: a) A adoção só 
será deferida quando apresentar 
reais vantagens para o adotando 
e fundar-se em motivos legítimos 
(art. 43); b) Idade: o adotando deve 
contar com, no máximo, dezoito anos 
à data do pedido, salvo se já estiver 
sob guarda ou tutela dos adotantes 
(art. 40). Assim, se o adotando for 
maior de 18 anos (e não estava sob 
guarda ou tutela dos requerentes) 
a adoção reger-se-á pelo Código 
Civil e a competência é das Varas 
de Família e Sucessões; c) Se o 
adotando for maior de 12 anos será 
necessário o seu consentimento (art. 
45, § 2º). 1.3. Consentimento: a 
adoção depende do consentimento 
dos pais ou do representante legal do 
adotando (art. 45). O consentimento 
deve ser formalizado perante a 
autoridade judiciária e o membro 
do Ministério Público e lavrado em 
termo. Os pais biológicos maiores 
de 16 anos e menores de 18 anos 
deverão ser assistidos por seus 
representantes legais. Sendo 
direito personalíssimo, entendo 
que não caiba a representação 
aos menores de 16 anos, devendo 
haver procedimento contraditório. O 
mesmo ocorre com os portadores de 
defi ciência mental, que não podem 
fornecer o consentimento, havendo 
a necessidade de procedimento 
judicial contraditório, com nomeação 
de curador especial àquele. Por fi m, 
o art. 45, § 1º, do ECA assevera que 
o consentimento será dispensado em 
relação à criançaou adolescente, 
cujos pais sejam desconhecidos ou 
tenham sido destituídos do poder 
familiar. 
2. Consequências da adoção:
2.1. Para o adotante: a) Atribui-
lhe a condição de pai, com todos 
os deveres decorrentes do poder 
familiar especialmente o sustento, 
a guarda e a educação (art. 22); b) 
Direito de sucessão recíproca entre 
o adotado, seus descendentes e o 
adotante (art. 41). 
concreta da criança se tornar órfã 
e fi car sem cuidados ante a idade 
avançada do adotante); b) Estado 
civil: a adoção pode ser efetivada 
independentemente do estado civil 
do adotante, podendo adotar o 
solteiro, casado, viúvo, divorciado e 
o concubino (art. 42): b.1) Adoção 
unilateral: um dos cônjuges ou 
concubinos pode adotar o fi lho do 
outro. Nesse caso são mantidos os 
vínculos de fi liação entre o adotado e 
o cônjuge ou concubino do adotante 
e os respectivos parentes; ou seja, o 
adotado passará a ter uma relação 
biológica com um e civil com o 
outro ente parental; b.2) Existe a 
possibilidade de um dos cônjuges 
ou concubino adotar sozinho, 
desde que conte com a anuência do 
outro; b.3) Adoção post mortem, 
nuncupativa ou póstuma: a adoção 
pode ser deferida ao adotante que, 
após inequívoca manifestação de 
vontade, vier a falecer no curso do 
procedimento, antes de prolatada a 
sentença (art. 42, § 6º). Nesse caso, 
os efeitos da adoção retroagem à data 
do óbito (art. 47, § 7º); b.4) O casal 
divorciado ou separado judicialmente 
poderá adotar conjuntamente, 
contando que acordem sobre a 
guarda e o regime de visitas, desde 
que o estágio de convivência tenha 
sido iniciado ainda na constância 
da sociedade conjugal (art. 42, § 
4°); b.5) Apesar da polêmica e da 
previsão constitucional que disciplina 
o conceito de entidade familiar 
para união estável entre homem 
e mulher, há decisões judiciais no 
sentido de ampliar o conceito para 
abranger a união homoafetiva. De 
igual sorte, vêm aumentado no país 
as decisões que deferem a adoção 
por homossexuais; b.6) Não podem 
adotar os ascendentes e os irmãos 
do adotando (art. 42, § 1º). Nesse 
caso, o procedimento mais comum 
é a tutela; b.7) O tutor ou curador 
só pode adotar o pupilo ou tutelado 
depois que prestar contas de sua 
administração e saldar seu alcance 
(art. 44); b.8) É vedada a adoção 
10
pelo CEJAI. Deferida a adoção, 
proceder-se-á, quanto à inscrição no 
registro civil, na forma determinada 
no art. 47 do ECA. 
 LINK ACADÊMICO 3
DAS MEDIDAS 
DE PROTEÇÃO
As medidas de proteção são indicadas 
às crianças e aos adolescentes 
em situação de risco ou autoras de 
atos infracionais (especialmente, 
crianças). As situações de risco 
vêm descritas no art. 98 do ECA, o 
qual disciplina que as medidas de 
proteção à criança e ao adolescente 
são aplicáveis sempre que os 
direitos reconhecidos nesta lei forem 
ameaçados ou violados: I- Por ação 
ou omissão da sociedade ou do 
Estado; II- Por falta, omissão ou 
abuso dos pais ou responsáveis; III- 
Em razão de sua conduta. As medidas 
de proteção podem ser aplicadas 
isolada ou cumulativamente, bem 
como, substituídas a qualquer 
tempo (art. 99). 
1. Diretrizes para a aplicação: a) 
As que levam em consideração as 
necessidades pedagógicas; b) As 
que visem ao fortalecimento dos 
vínculos familiares (art. 100). 
2. Rol exemplifi cativo das medidas 
de proteção: o art. 101 do ECA diz 
que, verifi cada uma das hipóteses 
previstas no art. 98, a autoridade 
competente poderá determinar, 
entre outras, as seguintes medidas: 
I- Encaminhamento aos pais ou 
responsáveis, mediante termo de 
responsabilidade; II- Inclusão em 
orientação, apoio e acompanhamento 
temporários; III- Matrícula e frequência 
obrigatórias em estabelecimento 
ofi cial de ensino fundamental; IV- 
Inclusão em programa comunitário ou 
ofi cial de auxílio à família, à criança 
e ao adolescente; V- Requisição de 
tratamento médico, psicológico ou 
psiquiátrico, em regime hospitalar 
ou ambulatorial; VI- Inclusão em 
excepcional (art. 31), justifi cada 
somente quando não haja a 
possibilidade de adoção em território 
nacional, esgotada a consulta a todos 
os cadastros (art. 51, § 1º, II). Defi ne 
o art. 51 do ECA que é “adoção 
internacional aquela na qual a pessoa 
ou casal postulante é residente ou 
domiciliado fora do Brasil, conforme 
previsto no art. 2 da Convenção 
de Haia”. A contrário senso, se o 
estrangeiro é residente no país, com 
visto de permanência, a adoção será 
considerada nacional. Não se admite 
a concessão de guarda do adotando 
ao estrangeiro (art. 33, § 1º). 
4.1. Requisitos: além daqueles 
de todos exigidos, conforme acima 
descrito, a adoção internacional de 
criança ou adolescente brasileiro ou 
domiciliado no Brasil somente terá 
lugar quando restar comprovado 
(art. 51, § 1º): a) que a colocação 
em família substituta é a solução 
adequada ao caso concreto; b) 
que foram esgotadas todas as 
possibilidades de colocação da 
criança ou adolescente em família 
substituta brasileira, após consulta 
aos cadastros; c) que, em se tratando 
de adoção de adolescente, este foi 
consultado, por meios adequados 
ao seu estágio de desenvolvimento, 
e que se encontra preparado para a 
medida, mediante parecer elaborado 
por equipe interprofi ssional; d) O 
deferimento da adoção deverá ser 
precedido do estágio de convivência, 
na forma prevista no artigo 46, § 3º, 
do ECA, conforme acima já referido; 
e) Deverá ser procedido o estudo 
social do caso, ou, se possível, 
perícia por equipe interprofi ssional 
(art. 167 do ECA), para avaliação 
do estágio de convivência e a real 
adaptação entre os requerentes e o 
adotando. Este parecer deve ter por 
parâmetro precípuo o de avaliar os 
reais interesses do adotando e, por 
estudar a situação concreta entre 
adotantes e adotando, não está 
vinculado aos pareceres já juntados 
aos autos de habilitação expedidos 
(trinta) dias (art. 46, § 3º); e) Registro 
civil: o mandado judicial da lavratura 
de novo registro de nascimento 
determinará: 1) que se cancele o 
registro original (art. 47, § 2º); 2) que 
se inscreva o nome dos adotantes 
como pais, bem como, o nome de seus 
ascendentes (art. 47, § 1º). Nenhuma 
observação sobre a origem do ato 
poderá constar das certidões do 
registro (art. 47, § 4º); f) Cadastro de 
adoção: dispõe o artigo 50 do ECA: 
“A autoridade judiciária manterá, em 
cada comarca ou foro regional, um 
registro de crianças e adolescentes 
em condições de serem adotados e 
outros de pessoas interessadas na 
adoção”. O referido procedimento 
disponibiliza uma “lista” com as 
crianças e adolescentes que estão 
em condição de serem colocados em 
família substituta por meio da adoção 
e outra com os interessados em 
adotar. O cruzamento desses dados 
cria uma maior agilidade no processo 
e respeita o direito daqueles que 
estão aguardando há mais tempo, já 
que deve ser observada a ordem de 
inscrição. O deferimento da inscrição 
deve ser precedido de consultas 
aos auxiliares técnicos do juizado 
(assistentes sociais, psicólogas, 
etc.) e a oitiva do Ministério Público 
(art. 50, § 1º). O indeferimento da 
inscrição (art. 50, § 2º) ocorrerá 
se o interessado não satisfi zer os 
requisitos legais, ou se estiverem 
presentes quaisquer das hipóteses 
do art. 29 do ECA (incompatibilidade 
do requerente com a natureza da 
medida ou oferecimento de ambiente 
familiar inadequado). Em maio 
de 2008, o Conselho Nacional de 
Justiça fez publicar a Resolução nº. 
54, que criou o Cadastro Nacional 
de Adoção (CNA), que é um sistema 
destinado a unifi car e compartilhar 
dados relacionados às crianças e 
adolescentes em condições de serem 
adotadas e das pessoas dispostas a 
adotar em todas as regiões do país. 
4. Adoção Internacional: é medida 
11
no artigo 101 do Estatuto, acima 
já estudado, independentementeda natureza ou gravidade do ato 
infracional. Nessa hipótese, como já 
dissemos, a aplicação é atribuição 
do Conselho Tutelar (art. 136, I) e, na 
falta deste, subsidiariamente, cabe 
à autoridade judiciária (art. 262). 
Assim, mesmo que uma criança 
de 10 anos, por exemplo, tenha 
praticado um homicídio, a medida 
mais “grave” entre as protetivas 
seria sua colocação em acolhimento 
institucional, o que não se confunde 
com a medida privativa de liberdade, 
a internação. 
3. Garantia do direito à liberdade: 
reproduzindo a regra constitucional, 
o art. 106 do ECA determina 
que “nenhum adolescente será 
privado de sua liberdade senão em 
fl agrante de ato infracional ou por 
ordem escrita e fundamentada da 
autoridade judiciária competente”. 
As únicas hipóteses legais, portanto 
de apreensão (e não prisão, a qual 
é destinada somente a imputáveis) 
são: a) Apreensão em fl agrante de 
ato infracional (as mesmas hipóteses 
do artigo 302 do CPP); b) Ordem 
escrita e fundamentada da autoridade 
judiciária competente. Verifi camos, 
assim, que somente adolescente 
pode ser custodiado (apreendido). 
Obs: no caso de criança em 
fl agrante de ato infracional, esta 
deve ser imediatamente apresentada 
ao Conselho Tutelar ou ao Juiz 
da Infância e Juventude para 
inclusão nas medidas protetivas, 
ressaltando novamente que o 
acolhimento institucional (art. 
101, VII) não implica medida 
privativa de liberdade, como ocorre 
na socioeducativa de internação. 
Ainda em relação às garantias ao 
direito de liberdade, o art. 107 do 
Estatuto, também em consonância 
com as proteções constitucionais, 
assevera que “a apreensão de 
qualquer criança ou adolescente e 
o local onde se encontra recolhido 
criança ou adolescente a tratamento 
especializado; VII- Advertência; VIII- 
Perda da guarda; IX- Destituição da 
tutela; X- Suspensão ou destituição 
do poder familiar. Parágrafo único. Na 
aplicação das medidas previstas nos 
incisos IX e X deste artigo, observar-
se-á o disposto nos arts. 23 e 24 “, 
ou seja, os ritos procedimentais já 
estudados. As medidas previstas nos 
incisos de I a VII são de atribuição 
do Conselho Tutelar (art. 136, II). 
Na falta deste, cabe à autoridade 
judiciária subsidiariamente (art. 
262). Quanto à perda da guarda, 
destituição da tutela e suspensão ou 
destituição do poder familiar (incisos 
VIII, IX e X), são de competência 
exclusiva da autoridade judiciária, em 
procedimento contraditório próprio, 
como acima já visto. 
 LINK ACADÊMICO 4
ATO INFRACIONAL
O art. 103 do ECA defi ne como ato 
infracional a conduta descrita 
como crime ou contravenção 
penal. Não há distinção entre infração 
de persecução privada ou 
condicionada. Assim, qualquer que 
seja a conduta infracional, toda ação 
socioeducativa é pública, 
incondicionada e de iniciativa 
exclusiva do Ministério Público 
(art. 201, II). 
1. Quanto à imputabilidade: o art. 
104 do Estatuto reafi rma a norma 
constitucional e ratifi ca que são 
penalmente inimputáveis os menores 
de dezoito anos, sujeitos às medidas 
previstas no ECA e, para a aplicação 
destas, deve ser considerada a 
idade do adolescente à data do 
fato (art. 104, parágrafo único). 
2. No tocante à aplicabilidade: 
o artigo 105 do ECA estabelece a 
distinção entre as medidas a serem 
impostas aos adolescentes e às 
crianças, determinando que a estas 
poderão ser aplicadas somente 
as medidas protetivas previstas 
programa ofi cial ou comunitário de 
auxílio, orientação e tratamento 
para alcoólatras e toxicômanos; 
VII- acolhimento institucional; 
VIII- inclusão em programa de 
acolhimento familiar. O § 1º deste 
artigo ainda reforça que o abrigo 
é medida excepcional, utilizável 
como forma de transição para a 
colocação em família substituta, não 
implicando privação de liberdade. O 
art. 102 do ECA e seus parágrafos 
asseveram que as medidas de 
proteção serão acompanhadas 
de regularização, gratuita e com 
prioridade, do registro civil. Verifi cada 
a inexistência de registro anterior, a 
autoridade judiciária requisitará que 
se efetive o assento de nascimento 
da criança ou adolescente, à vista 
dos elementos que estiverem 
disponíveis. As medidas previstas 
nos incisos de I a VII podem ser 
impostas pelo Conselho Tutelar (art. 
136, I) ou pela autoridade judiciária. 
A colocação em família substituta 
somente pela autoridade judiciária, 
em procedimento próprio, como visto 
acima. As medidas protetivas dos 
incisos I a VI podem ser aplicadas 
isoladas ou cumulativamente com as 
medidas socioeducativas impostas 
aos adolescentes em decorrência da 
prática infracional (art. 112, VII). 
2. Das medidas pertinentes aos 
pais ou responsáveis (arts. 129 
e 130 do ECA): Disciplina o art. 
129 do ECA que são medidas 
aplicáveis aos pais ou responsáveis: 
I- Encaminhamento a programa 
ofi cial ou comunitário de proteção 
à família; II- Inclusão em programa 
ofi cial ou comunitário de auxílio, 
orientação e tratamento a alcoólatras 
e toxicômanos; III- Encaminhamento 
a tratamento psicológico ou 
psiquiátrico; IV- Encaminhamento a 
cursos ou programas de orientação; 
V- Obrigação de matricular o fi lho 
ou o pupilo e acompanhar sua 
frequência e aproveitamento escolar; 
VI- Obrigação de encaminhar a 
12
procedimento. 
7. Procedimento para apuração de ato 
infracional cometido por adolescente 
(arts. 171 a 190 do ECA): 
7.1. Da competência: No caso da 
prática de ato infracional, é competente 
o Juízo do lugar da ação ou omissão, 
observadas as regras de conexão, 
continência e prevenção (art. 147, § 1°). A 
execução das medidas socioeducativas 
impostas, contudo poderá ser delegada 
à autoridade competente do local de 
residência dos pais ou responsáveis, ou 
do local onde estiver sediada a entidade 
que custodiar o adolescente (art. 147, § 
2°). 
7.2. Subsidiariedade: Aos 
procedimentos regulados no 
ECA, inclusive ao que apura a 
prática infracional, aplicam-se, 
subsidiariamente, as normas gerais 
previstas na legislação processual 
pertinente (art. 152). 
7.3. Da apreensão: o art. 106 do ECA 
determina que “nenhum adolescente 
será privado de sua liberdade senão 
em fl agrante de ato infracional ou por 
ordem escrita e fundamentada da 
autoridade judiciária competente”. 
Complementando esta determinação, 
o art. 171 assevera que o “o 
adolescente apreendido por força 
de ordem judicial será, desde logo, 
encaminhado à autoridade judiciária”. 
Na fase da ação socioeducativa para 
a imposição de medida, a causas 
de determinação de apreensão são: 
a) Nos termos do art. 184 do ECA, 
quando oferecida a representação, 
o Juiz deve decidir pela decretação 
(no caso dos que estavam soltos) 
ou manutenção da internação 
provisória ( no caso dos apreendidos 
em fl agrante e não liberados pela 
autoridade policial); b) No caso de 
não localização do jovem para a 
audiência de apresentação (art. 184, 
§ 3°); c) Decorrente de sentença 
terminativa de mérito que impuser 
as medidas de semiliberdade ou de 
internação. Na fase de execução 
judicial fundamentada; b) Deve 
basear-se em indícios sufi cientes 
de autoria e materialidade; c) Deve 
estar demonstrada a necessidade 
imperiosa da medida. Os parâmetros 
desta necessidade/adequação vêm 
estabelecidos no art. 122 do Estatuto, 
que estabelece as possibilidades 
de aplicação da medida de 
internação: a) Quando se tratar de 
ato infracional cometido mediante 
grave ameaça ou violência à 
pessoa; b) Por reiteração no 
cometimento de outras infrações 
graves. Existe julgamento do STJ, 
do qual ouso discordar, defi nindo que 
a “reiteração” só ocorrerá na terceira 
prática infracional, pois a segunda 
infração é caso de “reincidência”. 
5. Identifi cação criminal: o 
adolescente civilmente identifi cado 
não será submetido à identifi caçãocompulsória pelos órgãos policiais, 
de proteção e judiciais, salvo para 
efeito de confrontação, havendo 
dúvida fundada (art. 109). 
6. Do devido processo legal: 
nenhum adolescente será privado de 
sua liberdade sem o devido processo 
legal (art. 110). Repete-se a garantia 
constitucional, cujo desrespeito 
levará à nulidade absoluta da ação 
socioeducativa. Como corolário lógico 
deste princípio, o art. 111 do Estatuto 
elenca, de forma não taxativa, 
algumas das principais garantias 
processuais: I- Pleno e formal 
conhecimento da atribuição de ato 
infracional, mediante citação ou meio 
equivalente; II- Igualdade na relação 
processual, podendo confrontar-
se com vítimas e testemunhas e 
produzir todas as provas necessárias 
à sua defesa; III- Defesa técnica por 
advogado; IV- Assistência judiciária 
gratuita e integral aos necessitados, 
na forma da lei; V- Direito de ser 
ouvido pessoalmente pela autoridade 
competente; VI- Direito de solicitar 
a presença de seus pais ou 
responsáveis em qualquer fase do 
serão incontinenti comunicados à 
autoridade judiciária competente e à 
família do apreendido ou à pessoa 
por ele indicada”. Observe-se que 
o aditivo “e” gera o duplo dever de 
comunicação: ao Juiz da Infância e à 
família. Esta só não ocorrerá quando 
for desconhecido seu paradeiro ou 
por inexistência de meios de contato 
ou de acessibilidade, circunstâncias 
que deverão ser informadas ao Juízo 
competente. Além disso, deve-se 
informar tanto a apreensão quanto 
o local em que o adolescente se 
encontra recolhido. O parágrafo 
único do art. 107 impõe obrigação 
ainda mais contundente, pois há 
pena de responsabilização criminal 
pela sua inobservância. Assim ele 
dispõe: “Parágrafo único: examinar-
se-á desde logo e sob pena de 
responsabilidade a possibilidade 
de liberação imediata”. Conforme 
determina o art. 174 do ECA, o qual 
veremos logo a seguir, a autoridade 
policial (se de logo não descartar a 
regularidade da situação de fl agrante 
de ato infracional) deve liberar de 
imediato o adolescente, entregando-o 
a seus pais ou responsáveis, se o 
ato infracional não for grave e se 
a repercussão social do mesmo 
não for signifi cativa. Havendo 
qualquer ilegalidade na apreensão, 
se a autoridade, policial ou judiciária, 
sem justa causa, não determinar 
a imediata liberação da criança ou 
adolescente, poderá incorrer na 
prática do crime previsto no artigo 
234 do ECA. 
4. Internação provisória: o art. 108 
do Estatuto determina, de forma 
peremptória, que a internação, 
antes da sentença, pode ser 
determinada pelo prazo máximo 
de 45 dias. Ultrapassado este prazo, 
o adolescente deve ser colocado 
imediatamente em liberdade. Os 
requisitos dessa custódia cautelar 
processual estão previstos no 
parágrafo único deste art. 108: 
a) Deve ser por meio de decisão 
13
para a formação da convicção do 
Promotor de Justiça, seja para 
oferecer representação ou mesmo 
para arquivar o expediente, ele 
deverá devolvê-lo ao Delegado de 
Polícia, requisitando as diligências 
que entender pertinentes. 
7.5. A fase no Ministério Público 
(art. 179 a 182): encaminhado 
o expediente policial (auto de 
apreensão, boletim de ocorrência 
ou relatório policial) ao Fórum, após 
a devida distribuição e registro, as 
peças serão autuadas pelo cartório 
judicial, devendo ser juntadas as 
informações sobre os antecedentes 
do adolescente. Este, por sua vez, 
será pessoalmente apresentado ao 
representante do Ministério Público, 
que procederá à imediata oitiva 
informal e, em sendo possível, 
de seus pais ou responsáveis, 
vítimas e testemunhas (art. 179, 
caput). A oitiva informal, como o 
próprio nome diz, não carece de 
formalidade ou materialização, 
contudo, é recomendável sua 
redução a termo. Trata-se de ato 
privativo do Ministério Público para 
formação de sua convicção, portanto 
não contraditório. A defesa do 
adolescente pode acompanhar o ato, 
sem, contudo, interferir. Entendo, por 
outro lado, nos termos do artigo 111, 
V, do ECA (é direito do adolescente 
ser ouvido pessoalmente pela 
autoridade competente), que também 
se confi gura direito subjetivo do 
adolescente, portanto o ato só pode 
ser dispensado se houver absoluta 
impossibilidade de sua realização (v.g, 
adolescente infrator hospitalizado, 
etc.). Tanto é assim que o parágrafo 
único do art. 179 estabelece que, 
em caso de não apresentação do 
adolescente, o Promotor da Infância 
deve notifi car os pais ou responsáveis 
para apresentá-lo, podendo, 
inclusive, requisitar o concurso das 
Polícias Civil e Militar para assegurar 
a efetivação do ato. Superada a 
fase da oitiva informal, o órgão do 
Ministério Público poderá tomar 
adolescente permanecer custodiado 
para sua segurança pessoal OU a 
manutenção da ordem pública. No 
caso de não liberação, a autoridade 
policial deverá encaminhar 
de imediato o adolescente ao 
representante do Ministério Público, 
juntamente com cópia do auto de 
apreensão ou boletim de ocorrência 
(art. 175, caput). Sendo impossível a 
apresentação imediata, a autoridade 
policial encaminhará o adolescente à 
entidade de atendimento a qual fará 
a apresentação ao representante do 
Ministério Público no prazo de vinte 
e quatro horas (art. 175, §1º). Nas 
localidades onde não houver entidade 
de atendimento, a apresentação far-
se-á pela autoridade policial. Na falta 
de repartição policial especializada, 
o adolescente aguardará a 
apresentação em dependência 
separada da destinada a maiores, 
não podendo, em qualquer 
hipótese, exceder o prazo de 24 
horas (art. 175, § 2º); c) Hipótese de 
liberação imediata: em não sendo 
caso de manutenção da custódia, 
comparecendo um dos pais ou o 
responsável, o adolescente deve ser 
prontamente liberado pela autoridade 
policial, sob o termo de compromisso 
de sua apresentação ao representante 
do Ministério Público no mesmo dia, 
ou, não sendo possível, no primeiro 
dia útil imediato (art. 174). Feita 
a liberação, a autoridade policial 
encaminhará ao Promotor de Justiça 
cópia do auto de apreensão ou do 
boletim de ocorrência (art. 176). 
Caso o adolescente não compareça 
espontaneamente à Promotoria, esta 
deve providenciar sua intimação, 
agendando data. Ainda, não sendo 
lavrado o auto de fl agrante ou 
se, durante qualquer apuração, 
houver indícios da participação 
de adolescente na prática de ato 
infracional, a autoridade policial 
encaminhará ao representante 
do Ministério Público relatório das 
investigações e demais documentos 
(art. 177). Se não houver elementos 
das medidas aplicadas: a) Em caso 
de fuga do adolescente de unidade 
privativa (internação) ou restritiva 
de liberdade (semiliberdade); b) em 
caso de descumprimento reiterado 
e injustifi cado da medida imposta 
(internação sanção, artigo 122, III). 
7.4. A fase policial (arts. 172 a 178): 
no caso de adolescente apreendido 
em fl agrante de ato infracional, este 
deverá ser desde logo encaminhado 
à autoridade policial competente 
para as providências devidas (art. 
172, caput). Havendo repartição 
policial especializada, esta prefere às 
demais (art. 172, Parágrafo único). 
Como já vimos, em se tratando de 
criança, esta deve ser apresentada 
ao Conselho Tutelar (art. 136, I) ou, 
na ausência deste, à autoridade 
judiciária. 
a) Formalização: Em se tratando de 
ato infracional cometido mediante 
violência ou grave ameaça à 
pessoa (art. 173), sem prejuízo das 
comunicações ao jovem e aos seus 
pais (art. 106, parágrafo único e 
107), a autoridade policial deverá: 
I- Lavrar o auto de apreensão, 
ouvidas as testemunhas e o 
adolescente; II- Apreender o produto 
e os instrumentos da infração; 
III- Requisitar exames ou perícias 
necessárias à comprovação da 
materialidade e autoria da infração. 
Nos demais casos de fl agrante(portanto, que não envolvam 
violência e grave ameaça à pessoa), 
a lavratura do auto poderá ser 
substituída pelo registro em boletim 
de ocorrência circunstanciado 
(art. 173, Parágrafo único). Como 
já dissemos anteriormente, dispõe 
o art. 107, parágrafo único do ECA: 
“examinar-se-á, desde logo, e 
sob pena de responsabilidade a 
possibilidade de liberação imediata”; 
b) Hipótese de não liberação: o 
art. 174 do ECA excepcionaliza 
a manutenção da apreensão em 
fl agrante nas hipóteses em que, 
pela gravidade do ato infracional e 
pela sua repercussão social, deva o 
14
mesmos, podendo solicitar a opinião 
(parecer técnico) de profi ssional 
qualifi cado (art. 186, caput). Por outro 
lado, se o adolescente, devidamente 
notifi cado, não comparecer, 
injustifi cadamente, à audiência de 
apresentação, a autoridade judiciária 
designará nova data, determinando 
sua condução coercitiva. A esta 
oitiva judicial do adolescente, na 
audiência de apresentação, devem-
se aplicar, subsidiariamente, todas 
as regras do interrogatório criminal, 
com os requisitos e garantias 
previstos nos arts. 185 a 188 do CPP. 
Se, após a oitiva, o Juiz entender 
adequada a remissão, ouvirá o 
representante do Ministério Público, 
proferindo decisão (art. 186, § 1°). 
Quanto à remissão judicial, revisar o 
item 9.2 supra. Sendo o fato grave, 
passível de aplicação de medida de 
internação ou colocação em regime 
de semiliberdade, a autoridade, 
verifi cando que o adolescente não 
possui defensor constituído, nomeará 
defensor, designando, desde 
logo, audiência em continuação, 
podendo determinar a realização de 
diligências e estudo do caso (art. 
186, § 2°). Assim, mesmo com a 
confi ssão judicial do adolescente, 
quando houver a possibilidade 
de aplicação de medida de 
semiliberdade ou internação, não 
se pode prescindir da instrução do 
feito, em procedimento contraditório, 
sob pena de nulidade. Nesse sentido, 
a Súmula n° 342 do STJ assevera 
que: “No procedimento para aplicação 
de medida socioeducativa, é nula 
a desistência de outras provas em 
face da confi ssão do adolescente”. 
Após a audiência de apresentação, o 
Advogado constituído ou o defensor 
nomeado, no prazo de três dias, 
oferecerá defesa prévia e o rol 
de testemunhas (art. 186, § 3°). 
Na audiência em continuação, 
ouvidas as testemunhas arroladas 
na representação e na defesa prévia, 
cumpridas as diligências e juntado o 
relatório da equipe interprofi ssional, 
independe de prova pré-constituída 
da autoria e materialidade. O Promotor 
de Justiça deve, ainda, se manifestar 
sobre a manutenção ou decretação 
da internação provisória, explicitando 
os fundamentos e condições para a 
decretação da custódia cautelar (art. 
108, parágrafo único e 122), como 
acima já estudamos. 
7.6. A fase judicial: Oferecida 
a representação, a autoridade 
judiciária designará audiência de 
apresentação do adolescente, 
decidindo, desde logo, sobre a 
decretação ou manutenção da 
internação, observado o disposto 
no art. 108, parágrafo único (art. 
184, caput). Decretada a internação 
provisória, esta não poderá ser 
cumprida em estabelecimento 
prisional (art. 185). O prazo 
máximo e improrrogável para 
a conclusão do procedimento; 
estando o adolescente internado 
provisoriamente, será de quarenta e 
cinco dias (art. 183), o mesmo prazo 
da internação provisória (art. 108), 
sendo que este é contado desde o 
dia da apreensão e não da data da 
decretação. O adolescente e seus pais 
ou responsável serão cientifi cados do 
teor da representação e notifi cados 
a comparecer à audiência de 
apresentação, acompanhados de 
advogado (art. 184, § 1°). Se os 
pais ou responsáveis não forem 
localizados, a autoridade judicial 
deverá dar curador especial ao 
adolescente (art. 184, § 2°). Não 
sendo localizado o adolescente, 
o Juiz determinará a expedição de 
mandado de busca e apreensão, 
e o sobrestamento do feito até a 
efetiva apresentação em Juízo (art. 
184, § 3°). Estando o adolescente 
internado, será requisitada a sua 
apresentação, sem prejuízo da 
notifi cação dos pais ou responsável 
(art. 184, § 4°). Comparecendo 
o adolescente, seus pais ou 
o responsável à audiência de 
apresentação, a autoridade 
judiciária procederá à oitiva dos 
uma das seguintes providências: 
I- Promover o arquivamento dos 
autos (estar comprovado que o 
adolescente não é o autor, o fato é 
atípico, etc.); II- Conceder a remissão; 
III- Representar à autoridade 
judiciária para a aplicação de medida 
socioeducativa. Acrescentamos, 
ainda, a possibilidade de o Promotor 
determinar o retorno dos autos 
à autoridade policial para novas 
diligências. Tanto o arquivamento 
quanto a remissão devem ser 
formalizados pelo Promotor de 
Justiça em termo fundamentado, 
contendo o resumo dos fatos e sua 
motivação para, após, ser juntado aos 
autos e encaminhado à autoridade 
judiciária para homologação 
(art. 181, caput). Homologado o 
arquivamento ou a remissão, a 
autoridade judiciária determinará o 
cumprimento de eventuais medidas 
aplicadas com esta última (art. 181, 
§ 1°). Discordando, o Juiz da posição 
ministerial, à semelhança do art. 28 
do CPP, fará a remessa dos autos 
ao Procurador-Geral de Justiça, 
mediante despacho fundamentado 
e este oferecerá representação, 
designará outro membro do Ministério 
Público para apresentá-la ou ratifi cará 
o arquivamento ou a remissão, que só 
então estará a autoridade judiciária 
obrigada a homologar (art. 181, § 2°). 
Não sendo caso de arquivamento 
nem de remissão, o Promotor de 
Justiça oferecerá a representação 
à autoridade judiciária, propondo a 
instauração de procedimento para a 
aplicação da medida socioeducativa 
que se afi gurar mais adequada 
(art 182, caput). A representação 
deve ser oferecida por petição, que 
conterá o breve resumo dos fatos, a 
classifi cação do ato infracional e o 
rol de testemunhas (art. 182, § 1°), 
bem como a requisição das provas 
faltantes (laudos, etc.). Quanto ao 
número de testemunhas, aplicam-
se, subsidiariamente, os critérios do 
CPP. O parágrafo 2°, do artigo 182 do 
ECA ressalva que a representação 
15
substituição destas. Contudo, a 
cumulação somente é possível, 
desde que as medidas não sejam 
incompatíveis entre si. Por exemplo, 
é plenamente possível a aplicação de 
liberdade assistida com prestação de 
serviços à comunidade. Entretanto, 
não é possível a aplicação 
de internação, cumulada com 
semiliberdade ou liberdade assistida. 
Nesse caso, deve haver a unifi cação 
das medidas, executando-se a mais 
gravosa (no caso, a internação). 
Posteriormente, então, a medida 
pode ser reavaliada e substituída 
por outra mais branda. Toda ação 
socioeducativa tem como princípio 
fundamental a ressocialização 
do adolescente em confl ito com 
a lei, valorizando seu progresso 
conquistado pelo mérito da introjeção 
de novos valores éticos e conceitos 
morais e sociais, pelos quais 
mostrou desvalor com a prática do 
ato infracional grave. Assim sendo, 
em situações excepcionalíssimas, 
mesmo sem a comprovação da prática 
de nova infração, o descumprimento 
reiterado de medidas, a estruturação 
no meio delinquencial, a avaliação 
técnica da inadequação da medida 
mais branda anteriormente aplicada, 
a qual não está alcançando o seu 
objetivo ressocializador (superada 
a possibilidade de readequação de 
sua conduta por meio da aplicação 
da internação-sanção, prevista 
no art. 122, III, do ECA, como 
veremos a seguir), são situações 
que demonstram que o caso exige 
um tempo maior de avaliações 
e acompanhamento no regime 
privativo de liberdade. Dessa 
forma, entendo que a interpretação 
dos arts. 99, 100 e 113, do ECA 
estabelece a possibilidade de 
substituição das medidas mais 
brandas anteriormente impostas 
por outras

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