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5 - Crimes contra o patrimônio

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CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
INTRODUÇÃO
Na seara constitucional, a propriedade é direito fundamental da pessoa humana ou jurídica (art. 5º, caput, c/c XXII, da CF/88), elevada ao status de cláusula pétrea (art. 60, § 4º, IV).
Já no plano infraconstitucional, o Código Civil reserva o livro III da Parte Especial – Direito das Coisas (arts. 1.196 a 1.510) -, para disciplinar o tratamento jurídico, dentre outros institutos, da detenção, posse e propriedade.
Sob a ótica penal, os crimes contra o patrimônio estão previstos nos arts. 155 a 183 do Título II da Parte Especial do Código Penal, sem prejuízo da tipificação em outras leis penais especiais, como o crime de apropriação indébita contra idoso no art. 102 do Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741/03.
O patrimônio é o conjunto de coisas de valor econômico, afetivo ou úteis. É bem jurídico disponível, logo, o consentimento da vítima� é causa supralegal de exclusão da ilicitude. 
1. FURTO
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
§ 5º - A pena é de reclusão de 3 (três) a 8 (oito) anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. 
1.2. Objeto jurídico 
O crime de furto protege a propriedade, posse e detenção legítima da coisa móvel. 
	
1.3. Objeto material
A ação do criminoso recai sobre a coisa móvel alheia.
Para fins penais, é considerada coisa móvel tudo aquilo que pode ser transportada de um lugar para outro, com ou sem força própria, desde que sem destruição. 
As presunções do Código Civil acerca do conceito de bem imóvel (art. 81 do CC�), não tem aplicação no direito penal. 
Assim, é perfeitamente possível o furto de árvore e de casa que possam ser arrancadas do solo e transportadas para outro lugar, desde que sem destruição, apesar do direito civil conferir-lhes o regime jurídico dos bens imóveis, assim como o furto de aeronaves e embarcações. 
O furto de bens semoventes (bens que têm vida própria), como o gado (denominado no direito penal de abigeato), é também admitido, desde que integrem o patrimônio de alguém.
A pessoa humana não é coisa, logo, não pode ser objeto do furto. A sua subtração pode configurar os crimes de sequestro ou cárcere privado (art. 148 do CP), extorsão mediante seqüestro (art. 159 do CP) ou subtração de incapazes (art. 249 do CP), de acordo com o dolo do agente.
Já as partes naturais (ex.: cabelo) ou artificiais (ex.: dentadura, peruca, unha postiça) da pessoa humana podem configurar os crimes de furto, roubo (art. 157 do CP - emprego de violência física, moral ou imprópria), ou mesmo injúria real (art. 140, § 2º, do CP - finalidade de humilhar a vítima), de acordo com o dolo e modo de execução empregado pelo agente.
O cadáver figura como objeto material do furto apenas no caso de integrar o patrimônio de alguém e possuir valor econômico (exemplo, uma universidade que possui em seu laboratório de biologia um cadáver para fins de pesquisa). Caso contrário, o fato caracteriza o crime de subtração de cadáver (art. 211 do CP – “subtrair (...) cadáver ou parte dele” - crime contra o respeito aos mortos).
Como a coisa móvel tem que ser alheia, a subtração da res derelicta (coisa abandonada) ou da res nullius (coisa de ninguém) não caracteriza furto, haja vista que não são coisas alheias. 
A res desperdita (coisa perdida), apesar de não configurar crime de furto, amolda-se ao o crime de apropriação indébita de coisa achada (art. 169, parágrafo único, II, do CP).
Por qual crime responde o agente que subtrai embriões humanos produzidos pela fertilização in vitro não utilizados no respectivo procedimento (embriões excedentários)?
A conduta amolda-se nos arts. 24 a 29 da Lei de Biossegurança – Lei nº 11.105/05, caso a finalidade do agente seja utilizar os embriões em algum dos procedimentos previstos nesta Lei, como, por exemplo, clonagem humana. O crime de furto não se perfaz tendo em vista que os embriões humanos não são considerados coisas.
A norma penal explicativa do art. 155, § 3º, do CP, equipara a coisa móvel, a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico, como a energia mecânica, genética, radioativa, atômica, hidráulica etc. 
O STF, em recente decisão, consagrando a posição de Rogério Greco e Cesaz Roberto Bitencourt, entendeu que a subtração do sinal de TV a cabo não configura qualquer espécie de energia, logo, não caracteriza o crime de furto de energia, sob pena de analogia in malam partem�.
	
1.4. Sujeito ativo 
	
O furto pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum), salvo o proprietário ou possuidor da coisa móvel.
O proprietário não responde por furto, tendo em vista a imposição da coisa ser alheia.
Já o possuidor que tem a posse desvigiada da coisa e não a restitui ao seu dono responde por apropriação indébita (art. 168 do CP). Na hipótese de posse vigiada do agente o crime é de furto (art. 155 do CP).
O proprietário que subtrai a própria coisa móvel pratica crime?
As seguintes situações podem ocorrer:
I) A subtração de coisa comum pelo condômino, co-herdeiro ou sócio configura crime de furto de coisa comum (art. 156 do CP);
II) A subtração da própria coisa em poder de terceiro por força de ordem judicial ou contrato caracteriza o crime do art. 346 do CP. A pretensão é ilegítima.
III) A subtração da própria coisa em poder de terceiro com a finalidade de fazer justiça pelas próprias mãos configura o crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). A pretensão é legítima, todavia, o ordenamento jurídico proíbe, como regra, a autotutela ou autodefesa.
IV) No caso do agente subtrair a própria coisa, supondo alheia, não responde por crime algum, em face do delito putativo por erro de tipo, que enseja a figura do criminoso incompetente.
O funcionário público que subtrai bem público ou particular sob a custódia do Estado comete furto?
O crime existente pode ser de furto (art. 155 do CP) ou de peculato-furto (art. 312, § 1º, do CP), a depender da facilidade, ou não, que o cargo público proporciona para a subtração. 
A presença da facilidade na subtração do bem em razão do cargo ocupado caracteriza o crime de peculato-furto. Ausente tal facilidade, agindo o funcionário público como um particular qualquer, o crime é de furto. 
1.5. Sujeito passivo
É vítima do crime qualquer pessoa, física ou jurídica, seja na condição de proprietária, possuidora ou detentora da coisa móvel.
	 
1.5. Núcleo do tipo
	
O furto incrimina a conduta de subtrair, que significa apossar, retirar ou tirar a coisa móvel de alguém.
Como regra, a subtração exige o deslocamento da coisa de um lugar para outro.
A qualidade da coisa ser alheia constitui elemento normativo do tipo.
1.6. Elemento subjetivo 	
	
É o dolo (animus furandi), acrescido do elemento subjetivo do tipo específico consistente no apoderamento definitivo da coisa, extraída da elementar “para si ou para outrem” (animus rem sibi habendi).
O furto de uso, em regra, não é crime�, tendo em vista a ausência da finalidade especial do apoderamento definitivo da coisa. Seus requisitos consistem na subtração de coisa infungível ou inconsumível (bicicleta, carro,livro etc); uso momentâneo e restituição integral da coisa. 
O que é o furto famélico? 
É a subtração de comida para saciar a fome e, via de regra, não é crime, ante a presença do estado de necessidade (art. 24 do CP).
A forma culposa não é admitida em razão da inexistência de norma expressa.
1.7. Consumação
	
O momento consumativo do furto ocorre quando a coisa é retirada da esfera de vigilância ou disponibilidade da vítima, independentemente do deslocamento ou posse tranquila da coisa. Trata-se de crime material.
Quando o agente se desfaz ou destrói a coisa, mesmo que não seja retirada da esfera de vigilância da vítima, durante a perseguição, o furto é consumado.
O crime, em regra, é instantâneo, isto é, consuma-se em momento determinado.
Eventualmente, é permanente, no caso de furto de energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico, ocasião em que a consumação se prorroga no tempo, sendo possível a prisão em flagrante a qualquer instante (art. 303 do CPP). 
	
1.8. Tentativa
	
Por se tratar de crime plurissubsistente, o conatus é admitido quando a coisa não é retirada da esfera de vigilância da vítima por circunstâncias alheias à vontade do agente.
1.8. Estrutura do furto no CP
O furto contém a seguinte estrutura no CP:
I) furto simples (art. 155, caput);
I.I) furto majorado(art. 155, § 1º - furto noturno);
II) furto privilegiado (art. 155, § 2º);
III) furto qualificado (art. 155, §§ 4º e 5º).
Além disso, conforme já dito, há a norma penal explicativa do furto de energia elétrica (art. 155, § 3º, do CP).
1.9. Furto Noturno
O furto noturno tem natureza jurídica de causa de aumento de pena no percentual fixo de 1/3. 
Somente incide sobre o furto simples (art. 155, caput), por força do critério topográfico�, haja vista que se localiza no art. 155, § 1º, do CP, portanto, logo em seguida a descrição do furto simples.
O repouso noturno é elemento normativo do tipo que varia no espaço e consiste no pedaço da noite em que as pessoas descansam. Inexiste critério objetivo para sua definição.
A majorante tem incidência ampla e envolve os furtos cometidos em residências ou estabelecimentos empresariais, habitados ou não, independentemente das pessoas estarem, ou não, repousando, bem como em veículos automotores.
1.10. Furto Privilegiado
O furto privilegiado recai sobre o furto simples ou furto qualificado. Neste último caso, inexiste incompatibilidade entre as circunstâncias do privilégio e da qualificadora, como ocorre em alguns casos com o homicídio qualificado-privilegiado�.
Tem como requisitos a primariedade e o pequeno valor da coisa furtada, ou seja, aquele que não ultrapassa o importe de um salário mínimo na época dos fatos.
Como efeito jurídico, o juiz reduz a pena privativa de liberdade de 1/3 a 2/3; aplica isoladamente a pena de multa; ou aplica a pena de detenção em vez da reclusão.	
A apropriação indébita (art. 170 do CP) e o estelionato (art. 171, § 1º, do CP) também admitem a forma privilegiada nos moldes do furto.
O furto de coisa de pequeno valor não se confunde com o furto de coisa insignificante.
No furto insignificante ou bagatelar o crime deixa de existir, ante a aplicação do princípio da insignificância na qual a tipicidade material não é preenchida.
1.11. Furto Qualificado
No crime de furto, certas circunstâncias que causam maior reprovação social são acrescentadas ao tipo penal simples, fazendo com que pena abstrata seja elevada (§§ 4º e 5º do art. 155 do CP).
O furto é qualificado:
I) Destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa (art. 155, § 4º, I)
A destruição é o desfazimento ou danificação total do obstáculo, enquanto o rompimento a danificação parcial.
A doutrina é dispare quanto ao conceito de obstáculo. 
Para Rogério Sanches, Damásio e jurisprudência do STJ�, obstáculo é exterior a coisa subtraída e não inerente a ela, sob pena de analogia in malam partem. São exemplos a morte do cão de guarda da residência ou quebrar o vidro do carro para furtar o som nele contido. 
Em sentido contrário, Guilherme Nucci define obstáculo como o meio que dificulta a subtração, pouco importando se exterior ou inerente a coisa subtraída. Como, por exemplo, quebrar o vidro do carro para subtrair este último ou cerrar a árvore para furtá-la.
O exame de corpo de delito é imprescindível para caracterização da qualificadora (art. 171 do CPP)�.
O crime de dano (art. 163 do CP) é absorvido pela qualificadora em questão, com cerne no princípio da subsidiariedade tácita.
II) Abuso de confiança (art. 155, § 4º, II)
O abuso de confiança é caracterizado pela existência de uma relação de lealdade entre o agente e a vítima que facilita a subtração.
No famulato (furto cometido pelo empregado contra empregador) a qualificadora somente incide caso exista relação de confiança entre estes e abuso desta. 
Na contratação de vigia, entretanto, a relação de confiança já existe desde o primeiro momento.
É circunstância subjetiva que não se comunica ao partícipe no caso de concurso de pessoas, nos moldes do art. 30 do CP.
		
III) Fraude (art. 155, § 4º, II)
A fraude é qualquer meio enganoso empregado contra a vítima. 
Qual a diferença entre os crimes de furto qualificado pela fraude e estelionato? 
No furto, a fraude é uma qualificadora (dado não essencial do crime). É utilizada para burlar a vigilância da vítima para que o agente se apodere da coisa sem o seu conhecimento. O próprio agente retira o bem da vítima que está com sua atenção diminuída em virtude da fraude. 
Já no estelionato a fraude é elementar do crime. A vítima enganada entrega voluntariamente a vantagem ilícita para o agente.
IV) Escalada (art. 155, § 4º, II)
A escalada é a entrada por via anormal em determinado local valendo-se o agente de esforço incomum (pular muro alto, penetração subterrânea), meios artificiais (escada, corda) ou particular agilidade (atleta).
Assim, escalar não é só subir ou galgar altura, mas qualquer entrada por via anormal.
Por qual crime responde quem escala poste e furta fio elétrico? 
O crime é de furto simples, pois a forma qualificada da escalada pressupõe a entrada em edifício ou adjacências.
E o agente que lança corda por cima do muro para pegar roupas do varal?
Também responde por furto simples, eis que não houve a entrada por via anormal. 
V) Destreza (art. 155, § 4º, II) 
A destreza é a particular agilidade manual ou física de alguém de subtrair bens sem que a vítima perceba. É o que ocorre com os punguistas ou batedores de carteira.
Quando a vítima percebe a subtração o crime é de furto simples tentado, pois não demonstrada a particular agilidade do agente. Na hipótese do terceiro impedir a consumação, configura-se furto qualificado tentado.
VI) Emprego de chave falsa (art. 155, § 4º, III)
A chave falsa é qualquer instrumento apto a abrir fechaduras, com ou sem formato de chave. 
São exemplos de chave falsa o grampo, prego, mixa, arame, gazua, cartão de crédito para abrir a fechadura de hotel cuja entrada no quarto se dá com cartão magnético etc.
O emprego de chave verdadeira ou ligação direta não configuram a presente qualificadora, sob pena de analogia in malam partem, já que o tipo penal menciona chave falsa.
VII) Concurso de duas ou mais pessoas (art. 155, § 4º, IV)
A expressão concurso de pessoas abrange a coautoria e a participação�, pouco importando se um dos agentes for inimputável ou desconhecido.
Com efeito, quando o CP quer limitar a incidência de determinado instituto à coautoria o faz expressamente, como no crime de constrangimento ilegal (art. 146, § 1º, do CP) que estabelece causa de aumento de pena quando “(...) para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas (...)”, o que exclui a participação. Nesse sentindo, dentre outros, Damásio, Mirabete, Fernando Capez e Guilherme Nucci.
Por derradeiro, cumpre mencionar a edição da Súmula 442 do STJ “É inadmissível aplicar, nofurto qualificado, pelo concurso de agentes, a majorante do roubo”. 
VIII) Subtração de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior
A Lei nº 9.426/96, introduziu o § 5º ao art. 155 do CP, fixando pena de reclusão de 03 a 08 anos�. 
O objeto material da qualificadora é o veículo automotor, ou seja, todo veículo impulsionado por propulsão motora, como automóveis, motos, aeronaves, lanchas, jet-skis etc.
O CP apenas menciona o transporte do veículo automotor para outro Estado ou para o exterior, contudo, o Distrito Federal também deve ser considerado, com base em interpretação extensiva.
Quando o agente consegue realizar a subtração do veículo automotor, mas é detido antes de chegar noutro Estado ou país, comete furto simples (art. 155, caput). 
O furto qualificado de veículo automotor tentado não se caracteriza, pois não se pode cogitar de tentativa� quando a subtração já se consumou.
2.16. Ação penal
A ação penal é pública incondicionada, salvo os casos de imunidade relativa ou processual previsto no art. 182 do CP (ação penal pública condicionada à representação da vítima.
2. FURTO DE COISA COMUM
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
§ 1º - Somente se procede mediante representação.
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente.
Aponta-se aqui apenas os pontos distintos com o crime de furto do art. 155 do CP.
Impende registrar que é possível o reconhecimento de crime continuando (art. 71 do CP) entre os dois crimes de furto previstos no CP, apesar de não estarem previstos no mesmo tipo penal.
2.2. Objeto material
A ação criminosa recai sobre a coisa móvel comum.
	
2.3. Sujeito ativo 
O tipo penal exige que o sujeito ativo seja condômino, co-herdeiro ou sócio (crime próprio). 
O concurso de pessoas, nas formas de participação e coautoria, é perfeitamente admitido, desde que o particular tenha conhecimento da condição especial do intraneus (nome dado ao autor de crime próprio).
O sócio que subtrai bem da sociedade com personalidade jurídica, segundo Heleno Fragoso, Guilherme Nucci e Cezar Roberto Bittencourt responde pelo crime de furto descrito no art. 155, já que os bens da sociedade não se confundem com os bens dos sócios. Para outros, como o tipo penal não faz distinção entre sociedade regular e irregular o crime é de furto de coisa comum.
2.3. Sujeito passivo
A vítima do crime é o condômino, co-herdeiro ou sócio que tem o bem comum subtraído.
2.5. Causa excludente da ilicitude
No caso de coisa comum fungível cuja subtração não exceda a cota que o agente tem direito incide causa excludente da ilicitude. O crime resta excluído (art. 156, § 2º, do CP).
2.4. Ação penal
A ação penal é pública condicionada à representação da vítima (art. 155, § 1º, do CP).
3. ROUBO
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; 
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. 
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. 
3.1. Objeto jurídico 
O roubo é crime pluriofensivo, pois tutela vários bens jurídicos. Primordialmente, protege a propriedade e, em segundo plano, a integridade física, a saúde, a liberdade pessoal e a vida humana.
Apresenta-se, ainda, como um crime complexo, pois é formado pela fusão dos crimes de furto, lesão corporal, ameaça, constrangimento ilegal ou homicídio.
O princípio da insignificância não é admitido no crime de roubo em que pese o pequeno valor da coisa subtraída (REsp 1.159.735-MGHC 97190/GO, rel. Min. Dias Toffoli, 10.8.2010; STF: RE-AgR 454.394-MG, DJ 23/3/2007; do STJ: REsp 468.998-MG, DJ 25/9/2006, e REsp 778.800-RS, DJ 5/6/2006. ).�
	
3.2. Objeto material
	
O objeto de ação do criminoso é a coisa alheia móvel e a pessoa humana. 
3.3. Sujeito ativo
O sujeito ativo é qualquer pessoa (crime comum), salvo o proprietário ou o possuidor.
3.4. Sujeito passivo
São vítimas do crime o proprietário, possuidor ou mesmo a pessoa que apenas sofre a violência (não precisa ser a titular do patrimônio lesado).
Segundo ensinamento de Damásio “se o sujeito assalta várias pessoas, subtraindo bens apenas de uma, sofrendo as outras a violência ou a grave ameaça, há um só delito. O mesmo ocorre quando uma só pessoa tem subtraídos bens pertencentes a várias. Assim também quando, no mesmo contexto, o sujeito rouba bens que pertencem aos componentes de uma mesma família (p. ex.: dinheiro do marido e jóias de sua esposa). (...) Responde por roubos em concurso formal o sujeito que, num só contexto de fato, pratica violência ou grave ameaça contra várias pessoas, produzindo multiplicidade de violações possessórias.”�
3.7. Elemento subjetivo
É o dolo, acrescido da finalidade especial de apoderamento definitivo, porém, o roubo de uso é crime�, haja vista que o crime é complexo, ofendendo, além do patrimônio, outros bens jurídicos.
1.8. Estrutura do roubo no CP
O roubo contém a seguinte estrutura no CP:
I) roubo simples, que se subdivide em próprio e impróprio (art. 157, caput e § 1º);
II) roubo majorado, circunstanciado ou qualificado em sentido amplo (art. 157, § 2º);
III) roubo qualificado em sentido estrito (art. 155, § 3º);
3.5. Diferenças entre o roubo próprio (caput) e impróprio (§ 1º)
	Diferenças 
	Roubo próprio
	Roubo Impróprio
	Quanto ao momento do emprego da violência
	Violência seguida de subtração
	Subtração seguida de violência
	Quanto aos tipos de violência
	Violência física, 
grave ameaça e
violência imprópria (redução da vítima à impossibilidade de resistência)
	Violência física e 
grave ameaça
INEXISTE VIOLÊNCIA IMPRÓPRIA
	Quanto à finalidade da violência
	Visa assegurar a subtração
	Visa assegurar a subtração ou impunidade do crime
A violência imprópria ocorre quando o próprio agente reduz a vítima à impossibilidade de resistência, como, por exemplo, no “boa-noite cinderela”, hipnose, embriaguez etc. 
Assim, caso seja a própria vítima que se coloque em condições de não resistir o crime é de furto.
3.6. Consumação e tentativa
Para Nélson Hungria e Magalhães Noronha (corrente clássica), o roubo próprio se consuma com a posse mansa e pacífica da coisa (03 fases: violência – subtração – posse pacífica). A tentativa é possível caso inexista a posse pacífica.
Já no roubo impróprio a consumação ocorre com o emprego da violência, independentemente da posse pacífica (02 fases: subtração – violência). A tentativa não é possível.
Há, contudo, posição minoritária que tanto o roubo próprio quanto o impróprio se consuma com a posse pacífica. Assim, o roubo impróprio admite tentativa. Houve a unificação do momento consumativo, nos moldes do roubo próprio. O crime é material.
Por fim, prevalece, atualmente,o entendimento de que o roubo próprio se consuma com a retirada da coisa da esfera de disponibilidade da vítima, independentemente da posse pacífica. Admite-se tentativa quando a coisa não sair da esfera de vigilância da vítima. 
No roubo impróprio a consumação se efetiva com o emprego da violência (subtração – violência), não comportando tentativa.
3.8. Roubo majorado (§ 2º)
O roubo majorado, circunstanciado ou qualificado em sentido amplo é uma causa de aumento de pena no percentual variável de 1/3 a 1/2.
Incide somente sobre o roubo simples (próprio ou impróprio), em razão do critério topográfico�. Resta, pois, excluída sua aplicação em relação ao roubo qualificado (art. 157, § 3º, do CP).
A doutrina e jurisprudência é controversa quanto aos efeitos da presença de mais de uma causa de aumento de pena.
Para alguns, o juiz limita-se a um único aumento (art. 68, parágrafo único, do CP), e utiliza o número de majorantes para a fixação do percentual variável de 1/3 a 1/2 (posição do STF). 
Já para outros, o magistrado restrito a uma causa de aumento (art. 68, parágrafo único, do CP), necessita demonstrar no caso concreto a necessidade da escolha do percentual acima do mínimo, o que não decorre automaticamente do número de majorantes existentes. 
Neste sentido, o STJ editou a Súmula nº 443 “O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes.”
São causas de aumento de pena no crime de roubo:
1) Emprego de arma 
O termo arma engloba a arma própria (finalidade precípua de ataque e defesa – arma de fogo, espada etc) e imprópria (não tem como finalidade primordial o ataque e a defesa – pedaço de pau, guarda chuva etc).
A majorante exige o emprego efetivo da arma, logo, a mera simulação do porte de arma ou o simples porte ostensivo sem o manejamento da arma descaracteriza a causa de aumento.
Tem como fundamento, atualmente, o perigo real que ocasiona à integridade física da vítima. Assim, a arma de brinquedo ou simulacro de arma de fogo não majora a pena, desde o cancelamento da Súmula 174 do STJ�.
A incidência da majorante com o emprego de arma defeituosa, segundo Guilherme Nucci, depende do grau do seu grau de defeito. Se absoluto não existe o aumento da pena em face da ausência de perigo à integridade física da vítima e se relativo o defeito a pena é aumentada.
A arma sem munição, apesar de existir divergência, majora a pena, haja vista ser uma circunstância meramente ocasional.
2) Concurso de duas ou mais pessoas 
Remete-se o leitor para as anotações feitas ao crime de furto. 
3) Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância 
É imprescindível que a vítima da violência física ou grave ameaça não seja o proprietário dos valores transportados, já que quem está a serviço está por conta de outrem.
Compreende-se por valores não apenas o dinheiro, mas qualquer bem com valor econômico.
O agente tem que conhecer tal circunstância (dolo direto).
4) Subtração de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou exterior
A Lei nº 9.426/96 acrescentou essa majorante, nos mesmos moldes do crime furto, para onde se remete o leitor. 
5) Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade
A majorante em questão foi introduzida no CP pela Lei nº 9.426/96. Configura-se quando o sequestro é utilizado como meio de execução para o roubo. No caso do sequestro ocorrer após o roubo, o agente responde pelos crimes de roubo e sequestro em concurso material. 
3.5. Roubo qualificado (§ 3º)
Os resultados qualificadores do roubo consistem na lesão corporal grave e na morte provocados dolosa ou culposamente. 
A forma qualificada do roubo, portanto, não é necessariamente preterdolosa (dolo e culpa).
A lesão corporal grave e a morte decorrem da violência física empregada pelo agente durante o cometimento do roubo, haja vista que o tipo penal emprega o termo violência de forma isolada, o que significa apenas violência física.
Assim, se tais resultados originarem-se da grave ameaça o crime existente é de roubo simples (com ou sem causa de aumento) e lesão corporal grave ou homicídio, punidos estes últimos dolosa ou culposamente, conforme o caso, em concurso de crimes.
O roubo seguido de morte é conhecido como latrocínio. É crime hediondo (art. 1º, II da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 8.930/94).
A competência para processar e julgar o crime de latrocínio é do juízo singular e não é do Tribunal do Júri (Súmula 603 do STF�).
A vítima da morte não precisa necessariamente ser a vítima do patrimônio lesado, como, por exemplo, o policial, o segurança da empresa. O comparsa� apenas pode figurar como vítima do latrocínio no caso de erro na execução (art. 73 do CP).
O momento consumativo do latrocínio é estruturado da seguinte forma:
	Roubo
	+ 
	Morte
	=
	Latrocínio
	tentado
	+
	tentada
	=
	Tentado
	consumado
	+
	consumada
	=
	Consumado
	tentado
	+
	consumada
	=
	Consumado
	consumado
	+
	tentada
	=
	Tentado
Consoante a Súmula 610 do STF “há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”.
O art. 9º da Lei 8.072/90 que estabelecia causa de aumento da pena de metade, respeitado o limite máximo de 30 anos, para os crimes de latrocínio, extorsão com resultado morte, extorsão mediante seqüestro em todas as suas formas, estupro e atentado violento ao pudor, quando a vítima encontrar-se em quaisquer das situações do art. 224 do CP (não é maior de 14 anos; alienada ou débil mental e o agente conhece esta circunstância; não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência), perdeu a eficácia com o advento da Lei nº 12.015/09, em face da revogação do art. 224 do CP.
2.16. Ação penal
A ação penal sempre é pública incondicionada. 
3. EXTORSÃO
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade.
§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. 
§ 3o  Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) 
anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. 
3.1. Introdução
O CP contempla como modalidades do crime de extorsão, a extorsão propriamente dita (art. 158), a extorsão mediante sequestro (art. 159) e a extorsão indireta (art. 160).
A diferença entre os crimes de roubo e extorsão é feita com vistas na colaboração, ou não, da vítima. 
Na extorsão o comportamento da vítima é fundamental para a obtenção da vantagem econômica, já que o agente constrange-a para que faça, deixe de fazer ou tolera que se faça alguma coisa. Já no roubo a conduta da vítima é diminuto e sem importância para que o agente subtraia o bem. 
3.1. Objeto jurídico 
O crime de extorsão, assim como ocorre no roubo, protege a propriedade, integridade física e psíquica, liberdade e a vida da pessoa humana (crime pluriofensivo).
É crime complexo. É constituído pela reunião dos crimes de lesão corporal (art. 129 do CP), ameaça (art. 147 do CP), constrangimento ilegal (art. 146 do CP), seqüestro (art. 148 do CP) e homicídio (art. 121 do CP).
	
3.2. Objeto material
O objeto material é a pessoa humana constrangida. 
3.3. Sujeito ativo
Qualquer pessoa podefigurar como sujeito ativo (crime comum), inclusive, o funcionário público.
O funcionário público que apenas exige, para si ou para outrem, sem o emprego de violência, vantagem indevida, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, comete crime de concussão (art. 316 do CP), contudo, se empregar violência física o crime é de extorsão (art. 158 do CP).
3.4. Sujeito passivo
A vítima pode ser qualquer pessoa, inclusive, a pessoa jurídica quando sofre o prejuízo patrimonial. Nada impede pluralidade de vítimas, quando uma sofre o constrangimento e a outra a perda patrimonial.
3.2. Núcleo do tipo
A ação incriminada é constranger (obrigar, forçar, impor) alguém, mediante violência ou grave ameaça, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa, com o fim de obter vantagem econômica indevida.
3.2. Meios de execução
O crime admite quaisquer meios de execução (crime de forma livre), exigindo, contudo, o emprego de violência ou grave ameaça. 
A violência imprópria (presente nos crimes de constrangimento ilegal e roubo) não foi mencionada como elementar do crime.
A grave ameaça pode ser verdadeira ou falsa. Assim, o filho que liga para o pai simulando o próprio seqüestro e pedindo dinheiro para que seja libertado responde por extorsão.
O mal prometido pode ser justo ou injusto. Assim, há o crime de extorsão quando o particular prende alguém em flagrante delito e exige o pagamento de dinheiro para libertá-lo.
3.3. Elemento subjetivo do tipo
É a vontade livre e consciente de constranger alguém a fazer, deixar de fazer ou tolerar que se faça, acrescido do elemento subjetivo do tipo específico “com o fim de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica”.
No caso de vantagem econômica devida o crime é de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). Já se a vantagem visada for de natureza sexual o crime é de estupro (art. 213 do CP). Por último, caso se trate de qualquer outra vantagem de cunho moral configura-se o crime subsidiário de constrangimento ilegal (art. 146 do CP).
3.4 Consumação
Há 03 (três) etapas para o cometimento da extorsão: 1º) constrangimento; 2º) ação ou omissão da vítima; e 3º) obtenção da vantagem econômica.
A extorsão consuma-se na 2ª fase, isto é, quando a vítima faz ou deixa de fazer alguma coisa em razão do constrangimento sofrido, independentemente da obtenção da vantagem econômica indevida. O crime é formal ou de resultado cortado (Súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”.)
O recebimento da vantagem econômica é mero exaurimento do crime, influenciando negativamente na fixação da pena base em razão da circunstância judicial “consequências do crime” (art. 59 do CP).
Portanto, a prisão em flagrante no momento do recebimento da vantagem constitui constrangimento ilegal, passível de relaxamento (art. 5º, LXV, da CF/88).
3.4 Tentativa
A tentativa é admissível na hipótese de o constrangimento operar-se por escrito e não chegar ao conhecimento da vítima (v. g., carta extorsionária interceptada) ou quando esta não se constranger ou, mesmo constrangida, abster-se de realizar o comportamento desejado pelo agente (e. g., extorsionário, pelo telefone, ameaça de morte a vítima, exigindo dela o segredo do cofre, onde se encontra um colar de diamante, porém, a vítima desliga o telefone por medo. O crime é de extorsão tentada).
3.5. Causas de aumento da pena (§ 1º)
A extorsão simples (art. 158, caput, do CP) tem a pena aumentada de 1/3 a 1/2 nos casos de:
I) cometimento do crime por duas ou mais pessoas
Engloba apenas a co-autoria, já que o tipo penal não menciona concurso de duas ou mais pessoas como faz nos crimes de furto e roubo�.
II) emprego de arma
Vide comentários feitos no crime de roubo. 
3.6. Qualificadoras (§§ 2º e 3º)
	
O § 2º do art. 158 do CP afirma que se aplica a extorsão o disposto no art. 157, § 3º, do CP, que dispõe sobre roubo qualificado pela lesão corporal grave e morte.
Assim, a extorsão é qualificada se da violência resulta lesão corporal grave ou morte. Todas as observações feitas ao crime de roubo têm incidência aqui.
A Lei nº 11.923/09 inseriu o § 3º ao art. 158 do CP, dispondo acerca da extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima:
“§ 3o  Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão cordioporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente.
Para uma melhor compreensão dessa qualificadora, mister se faz traçar a diferença entre os crimes de roubo majorado pela restrição da liberdade (art. 157, § 2º, V, do CP), extorsão qualificada mediante a restrição da liberdade (art. 158, § 3º, do CP) e extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP).
Primeiro, no crime de roubo majorado aludido, o agente priva a liberdade da vítima para efetuar a subtração do bem e o comportamento desta é irrelevante para que o bem móvel seja subtraído.
Na extorsão mediante seqüestro o agente priva a liberdade da vítima para obter vantagem econômica indevida, contudo, quem presta a colaboração para o pagamento do preço do resgate é terceiro.
Por fim, na extorsão o agente constrange a vítima para fazer, deixar de fazer ou tolerar que se faça para obtenção da vantagem econômica indevida. A colaboração da vítima é indispensável para que o agente obtenha a vantagem econômica indevida. É o que ocorre quando a vítima tem a sua liberdade privada pelo agente para que saque dinheiro em caixa rápido mediante digitação de senha.
A extorsão qualificada pelo resultado morte (assim como o latrocínio), é crime hediondo (art. 1º, III, da Lei nº 8.072/90).
A doutrina diverge acerca da hediondez da extorsão qualificada pela restrição da liberdade com resultado morte (art. 158, § 3º, parte final, do CP), haja vista a omissão constante da Lei nº 8.072/90. 
Luiz Flávio Gomes e Rogério Sanches Cunha pontificam que o crime é hediondo, apesar de não estar inserto na Lei dos Crimes Hediondos, com cerne numa interpretação extensiva e teleológica do crime de extorsão com resultado morte (art. 158, § 2º, do CP), catalogado como crime hediondo no diploma legal em questão. 
Já Damásio Evangelista de Jesus e Guilherme Nucci� sustentam que aludido crime não é crime hediondo, haja vista a sua não inserção na Lei dos Crimes Hediondos.
2.16. Ação penal
A ação penal é pública incondicionada. 
4. EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO
Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: 
Pena - reclusão, de oito a quinze anos. 
§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. 
Pena - reclusão, de doze a vinte anos. 
§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: 
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. 
§ 3º - Se resulta a morte: 
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. 
§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. 
3.1. Objeto jurídico 
A extorsão mediante seqüestro é crime pluriofensivo e complexo nos mesmo moldes do crime de roubo e extorsão. 
É pacífico que a extorsão mediante cárcere privado também configura o crime do art. 159 do CP, apesar da rubrica do crime apenas mencionar extorsão mediante seqüestro, com base numa interpretação extensiva. 
É crime hediondo em quaisquer de suas modalidades (art. 1º, III, da Lei nº 8.072/90).
	
3.2. Objeto material
O objeto material é a pessoa humana que tem a sua liberdade privada.3.3. Sujeito ativo
Qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo (crime comum). O concurso de pessoas (coautoria e participação), em regra, está presente nesse crime. 
3.4. Sujeito passivo
A vítima pode ser qualquer pessoa, inclusive, a pessoa jurídica quando sofre prejuízo patrimonial. Nada impede pluralidade de vítimas, quando uma sofre o constrangimento e outra a perda patrimonial.
Anote-se que quando a vítima for menor de 14 anos ou maior de 60 anos a pena abstrata mínima e máxima é elevada (art. 159, § 1º, do CP).
A captura de animal para fim de exigir resgate configura extorsão, haja vista que a privação da liberdade deve recair sobre pessoa humana.
3.2. Núcleo do tipo
A conduta incriminada é seqüestrar (privar a liberdade de ir e vir) alguém, com o fim de obter vantagem econômica indevida como condição ou preço do resgate.
O crime é comissivo e, excepcionalmente, comissivo por omissão quando o agente tem o dever jurídico de agir (art. 13, § 2º, do CP).
3.3. Elemento subjetivo do tipo
É o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de sequestrar alguém. Exige-se a finalidade especial da obtenção da vantagem econômica indevida.
Na hipótese do agente visar vantagem econômica devida o crime é de seqüestro e exercício arbitrário das próprias razões em concurso material.
4.1 Consumação 
O crime se consuma com a mera privação da liberdade da vítima (crime formal), independentemente da obtenção da vantagem econômica indevida, que consiste em mero exaurimento do crime. 
É crime permanente, haja vista que a consumação prorroga-se no tempo. 
A Súmula 711 do STF tem incidência ao consignar que “A lei penal mais grave aplica-se ao crime (...) permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da (...) permanência.” 	
4.1 Tentativa
A tentativa é admissível, pois o crime é plurissubsistente, apesar de ser formal.
4.2. Formas qualificadas (§§ 1º a 3º) 
O CP elenca várias qualificadoras para o crime de extorsão mediante seqüestro nos §1º a § 3º. No concurso de qualificadoras, o juiz deverá escolher a pena abstrata mais grave, utilizando as demais na dosimetria da pena.
1) Sequestro dura mais de 24 horas (§ 1º)
É crime à prazo, contado de hora em hora, pois a consumação exige um determinado lapso temporal.
2) Sequestrado é menor de 18 anos ou maior de 60 anos (§ 1º)
3) Crime cometido por quadrilha ou bando (§ 1º)
Para Capez, Flávio Monteiro e Rogério Greco existe concurso material com o crime de quadrilha ou bando, haja vista possuírem objetos jurídicos e momentos consumativos distintos, inexistindo bis in idem.	
4) Do fato resulta lesão corporal grave (§ 2º)
O CP, diferentemente do que ocorre com o crime de roubo qualificado (art. 157, § 3º, do CP) emprega o termo fato em vez de violência. Significa que o resultado qualificador pode ser obtido, culposa ou dolosamente, com o emprego de violência física ou grave ameaça. 
5) Do fato resulta morte (§ 3º)
É a maior pena em abstrato do Código Penal (24 a 30 anos), ao lado da extorsão qualificada com restrição da liberdade com resultado morte (art. 158, § 3, parte final do CP).
4.4. Delação Premiada
É o único crime previsto no CP que contempla o instituto da delação premiada, também conhecido como dedurismo oficial. 
São requisitos cumulativos do benefício: 
1) crime cometido em concurso de pessoas;
2) delação feita à autoridade (delegado, promotor ou juiz) por um dos agentes;
3) facilitação da libertação do sequestrado em razão da delação.
A natureza jurídica da delação premiada no crime em questão é de causa de diminuição da pena no percentual variável de 1/3 a 2/3.
O critério para a fixação do redutor da pena é a maior ou menor colaboração prestada pelo comparsa para a libertação do seqüestrado.
Cumpre apontar que no direito penal brasileiro há outros diplomas legais que estabelecem a delação premiada:
I) Crimes contra o sistema financeiro nacional (art. 25, § 2º, da Lei nª 7.492/86 – causa de diminuição de pena de 1/3 a 2/3);
II) Crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo (art. 16, parágrafo único, da Lei nº 8.137/90 – causa de diminuição de pena de 1/3 a 2/3);
III) Crimes hediondos e equiparados (art. 8º, parágrafo único, da Lei nª 8.072/90 – causa de diminuição de pena de 1/3 a 2/3); 
IV) Crime organizado (art. 6º da Lei nº 9.034/95 – causa de diminuição de pena de 1/3 a 2/3);
V) Crimes de lavagem de dinheiro (art. 1º, § 5º, da Lei nº 9.613/98 – causa de diminuição da pena de 1/3 a 2/3 e fixação do regime semi-aberto, causa extintiva da punibilidade do perdão judicial ou causa de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito);
VI) Lei de drogas (art. 41 da Lei nº 11.343/06 – causa de diminuição de pena de 1/3 a 2/3). Exige-se aqui a recuperação total ou parcial do produto do crime.
VII) Lei de proteção à vítima, testemunha e acusados que tenham colaborado com a investigação ou ação penal (arts. 13 e 14 da Lei nº 9.807/99 – causa de diminuição de pena de 1/3 a 2/3 ou causa extintiva da punibilidade relativo ao perdão judicial).
A Lei nº 9.807/99 é uma lei genérica que se aplica a todos os crimes, Assim, as demais leis que prevêem a delação premiada passam a ter caráter subsidiário. 
		
2.16. Ação penal
A ação penal sempre é pública incondicionada (art. 100 do CP). 
5. EXTORSÃO INDIRETA
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
5.1 Objeto jurídico
O item 57 da Exposição de Motivos da Parte Especial do Código Penal, espécie de interpretação doutrinária, esclarece acerca do crime em questão que “destina-se o novo dispositivo a coibir os torpes e opressivos expedientes a que recorrem, por vezes, os agentes de usura, para garantir-se contra o risco do dinheiro mutuado. São bem conhecidos esses recursos como, por exemplo, o de induzir o necessitado cliente a assinar um contrato simulado de depósito ou a forjar no título de dívida a firma de algum parente abastado, de modo que, não resgatada a dívida no vencimento, ficará o mutuário sob a pressão da ameaça de um processo por apropriação indébita ou falsidade.”
A extorsão indireta protege o patrimônio e a liberdade individual (crime pluriofensivo).
5.2. Objeto material
O objeto material é o documento criminalmente comprometedor (cheque sem fundo, declaração que contém confissão de crime, duplicata simulada, contrato forjado de depósito etc), que funciona como uma espécie de penhor criminoso.
Os vídeos e gravações não são considerados documentos.
5.3. Sujeito ativo
O crime é comum�, pois pode ser praticado por qualquer pessoa. Em regra, é o credor da dívida. Nada impede, porém, que um terceiro exija a garantia irregular para influenciar o credor a liberar o empréstimo.
5.4. Sujeito passivo
A vítima é o devedor ou a pessoa que possa ser prejudicada pela entrega do documento.
5.5. Núcleos do tipo
Incrimina-se a conduta de exigir (ordenar), em que a iniciativa parte do extorsionário; ou receber (aceitar), em que a iniciativa parte do sujeito passivo, como garantia de dívida, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou terceiro.
Por procedimento criminal entende-se a instauração de inquérito policial ou ação penal.
5.6. Elemento subjetivo
É o dolo de aproveitamento, isto é, é imprescindível que o agente esteja abusando economicamente da situação da vítima. Também se exige o elemento subjetivo do tipo específico consistente na finalidade especial de garantir a dívida.
5.7. Consumação 
O crime é formal ou de resultado cortado. Na forma exigir, o crime se consuma-se a mera exigência do documento criminalmente comprometedor (crime formal). Já na modalidade receber a consumação ocorre com a efetiva entrega do documento (crime formal), dispensando-seem ambos os casos a instauração do procedimento criminal.
Instaurado o procedimento criminal e o agente tendo conhecimento que a vítima é inocente responde pelos crimes de extorsão indireta (art. 160 do CP) e denunciação caluniosa (art. 339 do CP), em concurso material, haja vista apresentarem objetos jurídicos e momentos consumativos distintos (nesse sentido Fernando Capez, Rogério Sanches).
No que tange ao crime de usura há divergência quanto a existência do concurso de crimes, já que para alguns existe absorção pela extorsão indireta, enquanto para outros concurso formal impróprio (art. 70, 2ª parte, do CP).
5.8. Tentativa
Na modalidade exigir a tentativa é admissível somente na forma escrita. Já na modalidade receber, o conatus é admitida quando a entrega do documento não ocorre por circunstâncias alheias à vontade do agente.
6. DANO
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - Se o crime é cometido:
I - com violência à pessoa ou grave ameaça;
II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
III - contra o patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista; 
IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima:
Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência
6.1 Objeto jurídico
O crime de dano tutela o patrimônio móvel ou imóvel.
É um crime subsidiário, isto é, somente tem aplicação quando não for elementar, qualificadora ou causa de aumento de outro crime. No furto, por exemplo, a destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa (art. 155, § 2º, I, do CP), funciona como qualificadora, restando absorvido o crime de dano.
6.2. Objeto material
O objeto material é a coisa alheia móvel ou imóvel. 
O agente que destrói documento alheio insubstituível incorre no crime de supressão de documento (art. 305 do CP), ao passo que se o documento for substituível (duplicata, certidão de nascimento etc) o crime é de dano (art. 163 do CP).
O advogado que inutiliza, total ou parcialmente, autos, documento ou objeto de valor probatório que recebeu no exercício da profissão comete crime contra a administração da justiça de sonegação de papel ou objeto de valor probatório (art. 356 do CP).
5.3. Sujeito ativo
Qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo (crime comum), salvo o proprietário.
O proprietário que destrói ou danifica a própria coisa, porém, pode incidir nos seguintes crimes: 
a) se a coisa estiver em poder de terceiro por ordem judicial ou contrato comete crime contra a administração da justiça previsto no art. 346 do CP; 
b) se tiver como finalidade receber indenização ou valor do seguro o crime é de estelionato (art. 171, § 2º, V, do CP).
5.4. Sujeito passivo
É o proprietário da coisa móvel ou imóvel.
6.3. Núcleos do tipo
O crime é plurinuclear. É composto, alternativamente, pelas condutas de destruir, deteriorar ou inutilizar.
Destruir significa a supressão ou danificação total do bem; inutilizar tornar sem proveito ou imprestável a coisa e deteriorar a danificação parcial.
A conduta de fazer desaparecer é atípica em razão da falta de disposição legal e a vedação da analogia in malam partem.
É especial em relação ao CP o crime de destruição, inutilização ou deterioração de: I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; II – arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial (art. 62 da Lei nº 9.605/98 – Lei dos crimes contra o meio ambiente), bem como o crime de pichação (art. 65 da Lei nº 9.605/98). 
Também é especial o crime de danificação de sepultura (art. 210 do CP).
6.4. Elemento subjetivo do tipo
É o dolo, isto é, a vontade livre e consciente de destruir, deteriorar ou inutilizar a coisa alheia. 
A forma culposa não é admitida no CP. É prevista, entretanto, na Lei dos crimes ambientais (art. 49, parágrafo único - flora, e art. 62 – patrimônio cultural, da Lei nº 9.605/98) e no Código Penal Militar (art. 266).
6.5. Qualificadoras
A pena abstrata é elevada quando o crime é cometido:
I) com violência à pessoa ou grave ameaça
O preceito secundário ressalva a punição também do crime correspondente à violência empregada. Trata-se de bis in idem legal.
II) com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave
O dispositivo faz menção ao princípio da subsidiariedade expressa, o que reforça o caráter residual do crime de dano.
III) contra o patrimônio da União, Estado, Município, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos
O dano contra o patrimônio do Distrito Federal não está mencionado no tipo penal qualificado.
Para o STJ a conduta de destruir, inutilizar ou deteriorar o patrimônio do Distrito Federal não configura, por si só, o crime de dano qualificado, subsumindo-se, em tese, à modalidade simples do delito. Com efeito, é inadmissível a realização de analogia in malam partem a fim de ampliar o rol contido no art. 163, III, do CP, cujo teor impõe punição mais severa para o dano “cometido contra o patrimônio da União, Estados, Municípios, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista”. Assim, na falta de previsão do Distrito Federal no referido preceito legal, impõe-se a desclassificação da conduta analisada para o crime de dano simples, nada obstante a mens legis do tipo, relativa à necessidade de proteção ao patrimônio público, e a discrepância em considerar o prejuízo aos bens distritais menos gravoso do que o causado aos demais entes elencados no dispositivo criminal (HC 154.051-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 4/12/2012). 
O CP também não inseriu as autarquias, fundações públicas e empresa públicas.
IV) por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima
Considera-se prejuízo considerável para a vítima o avaliado de acordo com a situação econômico-financeira da cada vítima.
6.6. Natureza da ação penal
Dispõe o art. 167 do CP que o dano simples (art. 163, caput, do CP) e o dano qualificado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para vítima (art. 163, parágrafo único, IV, do CP) estão sujeitos à ação penal privada.
Nas demais formas qualificadas, porém, o crime processa-se mediante a regra geral da ação penal pública incondicionada.
5. APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Aumento de pena
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:
I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
III - em razão de ofício, emprego ou profissão.
6.1 Objeto jurídico
A apropriação indébita ou abuso de confiança protege-se a posse e a detenção legítima da coisa móvel.
São requisitos do crime:
1º) posse ou detenção legítima da coisa; 
2º) posse ou detenção desvigiada da coisa; e
A subtração de coisa móvel com posse vigiada caracteriza o crime de furto (art. 155 do CP).
3º) dolo subsequente ou inversão do dolo. 
5.1. Objeto material
A conduta criminosa recai sobre a coisa alheia móvel. 
5.2. Sujeito ativo
O crime é cometido pelo possuidor ou detentor legítimo da coisa (crime comum�). 
O agente que tem a posse ilícita da coisa e dispõe dela comete estelionato (art. 171, § 2º, I, do CP).
O funcionário público que tem a posse em razão do cargo e apropria-se do bem pratica o crime de peculato-apropriação (art. 312, caput, do CP).
Por outro lado, o proprietário que vende a coisa comum que excede sua parte pratica apropriaçãoindébita.
5.3. Sujeito passivo
A vítima é o proprietário ou possuidor. 
O Estatuto do Idoso contempla apropriação indébita especial quando a vítima tem idade igual ou superior a 60 anos (art. 102 da Lei nº 10.741/03).�
5.4. Núcleo do tipo
A conduta incriminada é apropriar-se, que significa tomar para si, apoderar-se, fazer sua coisa alheia. 
5.5. Elemento subjetivo do tipo
É o denominado dolo subsequente (o agente recebe a coisa de boa-fé e depois se comporta como dono da coisa), acrescido da finalidade especial do animus rem sibi habendi (intenção de apossamento definitivo).
A apropriação indébita de uso é fato atípico ante a ausência do elemento subjetivo do tipo específico.
5.4. Consumação
A consumação ocorre com a negativa de restituição ou disposição da coisa alheia (venda, permuta, doação etc). É crime material.
5.4. Tentativa
A tentativa é admissível quando, por exemplo, o agente é surpreendido pelo proprietário no momento em que estava dispondo da coisa. 
5.6. Apropriação indébita privilegiada
Tem o mesmo regramento do furto privilegiado (art. 170 c/c art. 155, § 2º, todos do CP), para onde remetemos o leitor.
O princípio da insignificância tem aplicação plena no crime de apropriação indébita, levando a exclusão da tipicidade material.
5.6. Apropriação indébita majorada
Em razão da qualidade pessoal do autor, o art. 168, § 1º, do CP elenca causa de aumento de pena, no percentual fixo de 1/3, quando o agente recebe a coisa: 
I) em depósito necessário
A majorante somente tem incidência nos casos de depósito necessário miserável, ou seja, quando o agente recebe a coisa por ocasião de calamidade, como o incêndio, inundação, naufrágio ou saque (art. 647, II, do CC).
II) na qualidade de tutor, curador, administrador, inventariante, testamenteiro ou depositário judicial
O administrador é o representante da massa falida na falência.
O depositário judicial é o nomeado pelo juiz para guardar a coisa, e não o que exerce função pública.
Consta do art. 168, § 1º, do CP a figura do liquidatário que, todavia, foi extinta pela novel Lei de Falência – Lei nº 11.101/05.
III) em razão de ofício, emprego ou profissão.
6. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de: 
I - recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público; 
II - recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de serviços; 
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social. 
§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal.  
§ 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: 
I - tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou 
II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais.  
6.1. Objeto jurídico
A Lei nº 9.983/2000, corrigindo distorções da Lei nº 8.212/91, inseriu o art. 168-A no CP, sob o nomen juris de apropriação indébita previdenciária, com o fito de proteger o patrimônio público da previdência social, bem jurídico de caráter supraindividual, administrado pela União.
6.2. Objeto material
É a contribuição social ou previdenciária.
6.3. Sujeito ativo
O crime é próprio. O sujeito ativo é o substituto tributário, isto é, quem por lei está obrigado a repassar a contribuição recolhida ao INSS.
Pode ser o empregador, gerente de pessoa jurídica de direito privado, agente público responsável pelo repasse (emprego público) ou até mesmo o gerente de banco conveniado com o INSS que deixa de efetuar o repasse. 
É imprescindível, contudo, que o agente tenha poderes de gerência e exerça concretamente a administração da empresa. A responsabilidade penal objetiva é repudiada pelo direito penal pátrio.
6.4. Sujeito passivo
A vítima é o Estado, representado pelo Instituto Nacional de Seguro Social. 
6.5.Núcleo do tipo
A conduta incriminada no caput é deixar de repassar quando houver o recolhimento da contribuição previdenciária do salário do contribuinte.
O agente recolhe e deixa de repassar. O crime é de conduta mista, ou seja, comissivo-omissivo.�
Segundo Damásio “não se pode simplesmente falar em conduta omissiva porque a fase inicial, no caso, é positiva. Existe uma ação inicial e uma omissão final.”�
Nas figuras assemelhadas (art. 168-A, § 1º, do CP), o sujeito ativo é o contribuinte-empresário que:
I – deixa de recolher no prazo legal contribuição que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público
II – deixa de recolher contribuições que tenham integrado despesas contábeis ou custo relativos à venda de produtos ou prestação de serviços.
III – deixa de pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.
Trata-se de norma penal em branco dependente de complementação da legislação previdenciária para que sejam estabelecidas as definições do crime.
6.6.Elemento subjetivo do tipo
É o dolo. Apesar da divergência quanto à necessidade da finalidade especial, a orientação jurisprudencial do STF é no sentido da dispensa do animus rem sibi habendi (HC nº 72238/PA, 2ª Turma, Ministro Relator ).
6.1.Consumação
O crime se consuma quando expira o prazo para o recolhimento da contribuição previdenciária aos cofres públicos (crime material).	
6.1.Tentativa
	Para quem entende que o crime é omissivo próprio a tentativa é inadmissível. Já para quem se filia a corrente de que o crime é comissivo-omissivo a tentativa é possível.
6.3. Causa extintiva da punibilidade
	
O CP afirma, no art. 168-A, § 2º, que a punibilidade é extinta se o agente declara, confessa, efetua o pagamento das contribuições previdenciárias e presta as informações devidas à previdência social, antes do início da ação fiscal)�. 
Portanto, são requisitos para que incida a causa extintiva da punibilidade mencionada:
1º) declaração do valor devido à previdência social;
2º) confissão da dívida;
3º) pagamento integral das contribuições previdenciárias;
4º) fornecimento das informações devidas à previdência social;
5º) espontaneidade do ato;
6º) ato praticado antes do início da ação fiscal.
O pagamento efetuado após o início da ação fiscal e antes do oferecimento da denúncia enseja o perdão judicial (causa extintiva da punibilidade) ou somente a imposição da pena de multa desde que o agente seja primário e de bons antecedentes (art. 168-A, § 3º, I, do CP)�.
Além disso, mesmo com a ausência do pagamento, quando o valor devido for igual ou inferior ao mínimo dispensando para o ajuizamento da ação de execução fiscal implica na imposição do perdão judicial ou somente aplicação da pena de multa, quando o agente for primário e de bons antecedentes (art. 168-A, § 3º, II, do CP).
O art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/03 e art. 69 da Lei nº 11.941/09�, estabelecem, contudo, que nos crimes tributários (arts. 1º e 2º da Lei8.137/90), apropriação indébita previdenciária (art. 168-A do CP) e sonegação de contribuição previdenciária (art. 337-A do CP), o pagamento integral do débito, incluindo acessórios, a qualquer momento, ainda que depois do recebimento da denúncia, é causa extintiva da punibilidade.
O parcelamento do débito leva a suspensão da pretensão punitiva do Estado, bem como da prescrição, desde que atendidos os requisitos legais (Lei nº 10.684/03 e Lei nº 11.941/09).
6. 2. Ação penal e competência
A ação penal é pública incondicionada. O crime é julgado pela Justiça Federal (art. 109, I, da CF/88), haja vista que lesa interesse de autarquia pública federal e da União.
O encerramento do processo administrativo fiscal para fins de constituição do débito tributário é condição de procedibilidade para o processamento do crime do art. 168-A do CP, externando a materialidade delitiva (HC 128.672-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/5/2009, STJ). 
Nesse diapasão, o verbete da Súmula Vinculante nº 24, aplicado por analogia ao crime ora em análise: “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.”
7. ESTELIONATO
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.
§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:
Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.
7.1. Objeto jurídico
O bem jurídico tutelado é o patrimônio.
A origem etimológica do estelionato vem do latim stellius, que significa lagarto que muda de cor ou camaleão, com a finalidade de enganar seus predadores e presas.
7.1. Objeto material
A conduta criminosa recai sobre a vantagem ilícita. 
7.1. Sujeito ativo
O crime comum, pois qualquer pessoa que induz ou mantém a vítima em erro, obtendo vantagem ilícita, para si ou para outrem, respondem pelo delito em apreço.
O agente que apena aufere a vantagem ilícita, tendo ciência do emprego da fraude por outrem, também responde pelo delito.
De observar que o crime é próprio nas modalidades equiparadas de estelionato da emissão de cheque sem fundo (art. 171, § 2º, VI) e recebimento de valor de seguro (art. 171, § 2º, V).
7.3. Sujeito passivo
A vítima é a pessoa enganada, determinada, com capacidade de discernimento e que sofre o prejuízo patrimonial
Dessa forma, a presença de vítimas indeterminadas caracteriza crime contra economia popular (Lei nº 1.521/51), ou crime contra as relações de consumo (Lei nº 8.137/90). É o caso do uso de balança viciada em açougue ou bomba de gasolina adulterada. Pode configurar-se concurso formal entre o crime contra a economia popular e estelionato se também houver vítima específica.
No caso de vítima sem capacidade de discernimento o crime é de abuso de incapazes (art. 173 do CP).
A torpeza bilateral exclui o delito de estelionato?
A torpeza bilateral ocorre quando a vítima também age com fim ilícito. O delito não é afastado, pois o tipo penal não exige boa-fé da vítima, como, por exemplo, o conto do bilhete premiado, venda de carro por preço muito inferior, venda de máquina para fazer dinheiro etc.
7.2. Núcleo do tipo
A conduta criminosa é composta pelo obter mediante induzir ou manter alguém em erro.
O comportamento induzir pressupõe um comportamento comissivo, isto é, o agente faz alguma coisa para que a vítima incorra em erro. Já na conduta de manter a vítima em erro, o agente, ciente do erro que está incorrendo a vítima, mantém-se silente.
7.2. Meio de execução
É da essência do estelionato a presença da fraude, isto é, o engodo utilizado pelo agente para induzir ou manter a vítima em erro. 
A fraude é elementar do crime de estelionato e apresenta como espécies o artifício, o ardil ou qualquer outro meio fraudulento.
O artifício é o aparato material ou encenação utilizado pelo agente para ludibriar a vítima, e. g., o banho de ouro no relógio de latão, bilhete premiado.
O ardil consiste no aparato intelectual, astúcia, manha ou sutileza empregada pelo agente como a mera conversa enganosa.
Como exemplo de qualquer outro meio fraudulento (interpretação analógica), a omissão do dever de falar – silêncio.
A fraude deve ter potencialidade para enganar a vítima, sob pena de crime impossível�.
7.4. Elemento subjetivo
É o dolo ab initio ou premeditado. A má-fé do agente surge antes de obter a vantagem econômica indevida.
Exige-se, ainda, o elemento subjetivo do tipo específico, consistente na vontade de obtenção de vantagem ilícita para si ou para outrem.
7.5. Consumação
É crime material, consumando-se com o duplo resultado, isto é, obtenção de vantagem ilícita em prejuízo da vítima. 
O foro competente para processar o crime de estelionato é o local onde o agente obtém a vantagem (Súmula 48 do STJ)�
O STF filia-se ao entendimento de que fraude no vestibular com ponto de escuta não configura estelionato, pois não há aumento patrimonial para o agente, existindo divergência acerca da existência do crime de falsidade ideológica.
Quanto à natureza da vantagem ilícita, Prado, Bitencourt e Noronha sustentam que pode apresentar qualquer natureza, enquanto Rogério Greco, Capez, Damásio e Mirabete afirmam que deve possuir exclusivamente cunho econômico.
7.5. Tentativa
A tentativa é admissível quando o agente não obtém vantagem ilícita ou não causa prejuízo alheio.
5.6. Estelionato privilegiado
Está previsto no art. 171, § 1º, do CP. Tem tratamento semelhante ao furto privilegiado (art. 155, § 2º, do CP), para onde se remete o leitor, com a diferença que no estelionato menciona-se pequeno valor do prejuízo e não pequeno valor da coisa subtraída.
O princípio da insignificância tem plena aplicação no crime de estelionato.
7.7. Figuras assemelhadas 
Há 06 (seis) modalidades equiparadas ao crime de estelionato previstas no § 2º do art. 171.
Merecem destaque as seguintes espécies:
I) Disposição de coisa alheia como própria (art. 171, § 2º, I)
O agente “vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria;”
Apesar da semelhança com o crime de apropriação indébita, a distinção é feita com base no momento do surgimento do dolo para o cometimento do crime. No estelionato, o dolo é ab initio e na apropriação indébita o dolo é subseqüente.
II) Fraude para recebimento de indenização ou valor do seguro (art. 171, § 2º, V)
O agente “destrói, totalou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro;”
É crime bipróprio, pois o sujeito ativo é o segurado e o sujeito passivo a seguradora.
É a única hipótese em que o estelionato é crime formal, dispensando a ocorrência de prejuízo à seguradora.
Por fim, é imprescindível a presença do elemento subjetivo do tipo específico consistente na finalidade do agente haver indenização ou valor de seguro.
III) Fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171, § 2º, VI)
O sujeito ativo é o correntista, ou seja, quem emite o cheque sabendo que não tem fundos, susta o cheque ou encerra a conta depois de emitir o cheque. 
O sujeito passivo é o tomador ou beneficiário do cheque.	
A consumação ocorre com a recusa do banco pagador, que é o local competente para julgar o crime (Súmulas 244 do STJ� e 521 do STF�).
O pagamento do cheque sem fundo antes do recebimento da denúncia obsta o ajuizamento da ação penal (Súmula 554 do STF)�.
O pagamento de prostituta (Rogério Greco sentido contrário), de dívida de jogo, de aluguel ou cheque pós-datado não configuram o crime, tendo em vista a inexistência de vantagem patrimonial. Assim, só existe o crime se o cheque for a causa direta do aumento do patrimônio agente em detrimento da vítima.
7.7. Estelionato majorado
A pena é aumentada de 1/3 quando o estelionato for praticado em detrimento de entidade pública de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência (art. 171, § 3º, do CP).
O verbete da Súmula 24 do STJ afirma que “aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade autárquica da Previdência Social, a qualificadora do § 3 do art. 171 do Código Penal.”
O estelionato previdenciário é considerado crime instantâneo de efeitos permanentes e a sua consumação se opera com o recebimento da primeira prestação do benefício indevido, contando-se daí o prazo prescricional.�
7.8. Concurso de crimes
As seguintes regras são aplicadas no concurso de crimes:
a) Falsa identidade e estelionato: A falsa identidade é absorvida pelo estelionato por se tratar de crime subsidiário; e
b) Falsificação de documento e estelionato:
Há várias correntes, a saber:
1) Concurso formal de crimes (posição do STF);
2) Concurso material de crimes (posição de Heleno Claúdio Fragoso) – Os bens jurídicos são distintos, logo, não é possível a absorção de um dos crimes;
3) Concurso material de crimes, salvo se o crime de falso se exaurir no estelionato, ocasião em que será absorvido por este, consistindo em antefactum impunível (STJ). 
Nesse sentido, a Súmula 17 do STJ: “quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”.
4) A falsidade documental absorve o estelionato, pois o primeiro crime é mais grave, sendo o estelionato um postfactum impunível (Nélson Hungria).
8. RECEPTAÇÃO
	
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
Receptação qualificada
§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: 
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa. 
§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência. 
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: 
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. 
§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa. 
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no § 2º do art. 155.  
§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro. 
8.2. Objeto jurídico 
O crime de receptação protege o patrimônio dos bens móveis. 
	
1.3. Objeto material
A ação do criminoso recai sobre a coisa móvel. Os bens imóveis estão excluídos da proteção do crime de receptação.
8.2. Sujeito ativo
O sujeito ativo é qualquer pessoa (crime comum), salvo o autor, coautor ou partícipe do delito antecedente.
No § 1º do art. 180, contudo, o crime somente pode ser praticado pelo comerciante (crime próprio).
De observar, ainda, que o proprietário, excepcionalmente, pode ser sujeito ativo do crime na hipótese em que realiza contrato de penhor com terceiro e a coisa é furtada, vindo depois, a comprar a própria coisa do ladrão. 
	
1.3. Sujeito passivo
É a vítima do crime antecedente.
1.3. Núcleos do tipo
. Incrimina-se a conduta de adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio coisa que sabe ser produto de crime ou influir para que terceiro de boa fé, a adquira, receba ou oculte. O crime é de conduta múltipla alternativa
O pressuposto da receptação é a existência de um crime antecedente. Por isso, é denominada de delito acessório ou parasitário, pois depende de um crime anterior. 
A existência de uma contravenção penal antecedente descaracteriza a receptação.
Nada impede que o delito anterior seja a receptação. Assim, é possível a receptação da receptação.
O delito de receptação não se confunde com o crime de favorecimento real (art. 349 CP). Aqui o agente age em benefício do autor do crime, enquanto que na receptação o agente age em benefício próprio ou alheio que não o autor do crime. 
O crime de favorecimento real consiste em tornar seguro o proveito do crime (“Art. 349 do CP. Prestar a criminoso, fora do caso de co-autoria ou receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime.”).
1.3. Estrutura da receptação no CP
No CP, sob o ponto de vista psicológico, o crime de receptação divide-se em doloso e culposo. 
A receptação dolosa comporta a forma simples (art. 180, caput), privilegiada (art. 180, § 5º, 2ª parte) e qualificada (art. 180, §§ 1º e 6º).
Por sua vez, a receptação culposa está descrita no art. 180, § 3º, do CP.
1.3. Receptação simples
A receptação simples, por sua vez, é classificada em própria e imprópria.
Fala-se em receptação própria nas condutas de adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio coisa que sabe ser produto de crime (art. 180, caput, 1ª parte).
A receptação imprópria consiste em influir para que terceiro de boa fé, adquira, receba ou oculte coisa que sabe ser produto de crime (art. 180, caput, 2ª parte).
Não é necessário que o influenciado adquira, receba ou oculte a coisa.
1.3. Receptação qualificada
A receptação qualificada existe na hipótese do agente praticar o crime no exercício de atividade comercial ou industrial (art. 180, § 1º, do CP).
O sujeito ativo, portanto, é apenas o comerciante ou o industrial, seja regular, irregular, clandestino ou exercido em residência, que age em proveito próprio ou alheio sobre coisa que deve saber ser produto de crime.
No caso de bens e instalações do patrimônio da União, Estado, Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de economia mista adquiridos dolosamente a pena é aplicada em dobro (art. 180, § 6º, do CP).
5.6. Receptação privilegiada
A receptação privilegiada

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