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Apostila Dir Civil V - POSSE

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DIREITO CIVIL V
DIREITO CIVIL – DIREITO DAS COISAS
- Da Posse -
Prof. Ms. Antônio José Resende[1: Mestre em Filosofia pela UFMG (1999), Advogado e Professor na PUCGOIAS e FANAP.]
ajresende@yahoo.com.br (62) 81510162
UNIDADE I – INTRODUÇÃO
– Conceito e Considerações Gerais sobre o Direito das Coisas
	A matéria sobre o direito das coisas, ou direitos reais, está disposta na Parte Especial, Livro III, e abrange do art. 1.196 ao art. 1.510 do Código Civil (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002). 
Para o estudo desteconteúdo, serão consultados também os artigos 920 a 981 do CPC, para análise da proteção e tutela dos direitos possessórios e dos reais.
Há, ainda hoje, ampla discussão na doutrina pátria sobre a nomenclatura mais adequada para nomear o objeto do direito positivado nesta parte do Código Civil, se a denominação mais pertinente seria “direito das coisas” ou “direitos reais”.
Os civilistas nacionais empregam ambas as expressões, “Direitos das Coisas” e “Direitos Reais”. Lafayette Rodrigues PEREIRA denominou sua obra Direito das Coisas, embora não ressalte a distinção entre as expressões, enquanto autores mais recentes como Caio Mário da Silva PEREIRA, em Instituições de Direito Civil, volume IV – Direitos Reais, e Orlando GOMES, preferem “Direitos Reais”.
O legislador ao elaborar o Código Civil de 2002 optou por utilizar a denominação “Direito das Coisas” para o Título do Livro III, que abrange o Título I, “Da Posse” e os Títulos II ao X, que tratam do direito de propriedade e dos direitos reais limitados, relativos à propriedade. Ressalte-se que o Título II denomina-se “Direitos Reais”, que apresenta o rol dos direitos reais, excetuando-se o da posse.
Portanto, a denominação “Direito das Coisas” abrange tanto a normatização dos direitos reais listados no art. 1.225 do Código, quanto à disciplina sobre a posse, arts. 1.196 a 1.224, CC de 2002.
Segundo a clássica definição de Clóvis Bevilácqua, apud Carlos Roberto Gonçalves (2010: 19), direito das coisas “é o complexo de normas reguladoras das relações jurídicas referentes às coisas susceptíveis de apropriação pelo homem. Tais coisas são, ordinariamente, do mundo físico, porque sobre elas é que é possível exercer o poder de domínio”.
Trata-se do direito real pleno, isto é, da propriedade, tendo por objeto coisa móvel ou imóvel corpórea, do próprio titular; e dos direitos reais limitados, incidentes sobre coisa alheia (Código Civil, Livro III).
A doutrina civilista, regra geral, considera que coisa é gênero do qual bem é espécie. Coisa é tudo aquilo que existe objetivamente, com exclusão do ser humano. O CC português, art. 202, explicita: “Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas”. O CC alemão, art. § 90, e o grego, art. 999, afirmam que, coisas são bens corpóreos que existem no mundo físico e hão de ser tangíveis pelo homem.
Os bens podem ser corpóreos ou materiais e incorpóreos, tais como, a propriedade científica, a literária e a artística.
– Evolução histórica
Origem do direito civil romano: jus civile, jus gentium e jus naturale.
Direito comparado do mundo ocidental.
Surgimento do Estado moderno: racionalização dos direitos fundamentais, incluindo o de propriedade, como matriz dos direitos reais.
Nas Revoluções liberais, século XVIII, o direito de propriedade é defendido como direito de todos. 
Desenvolve-se, inicialmente, o aspecto individualista da propriedade (Direito a propriedade: CF, art. 5º, caput e XXII e art. 170, II; CC, art. 1.228, caput). 
Com a preponderância, posteriormente, do direito coletivo sobre o individual, surge uma noção de função social da propriedade (CF/1988, art. 5º, XXIII e art. 170, III; CC, art. 1.228, §1º).
– Conteúdo e classificação
O Código Civil divide a matéria em duas partes: posse e direitos reais.Os direitos reais, por sua vez, se dividem em: 
a) direito de propriedade, enquanto direito real pleno;
b) e direitos reais sobre coisas alheias. 
O objeto do Livro III consiste nos poderes que se exercem diretamente sobre a coisa: a) a posse, disciplinada nos arts. 1.196 a 1.224; b) e os direitos reais (numerus clausus), encontram-se nos arts. 1.225 a 1.510.
O rol dos direitos reais encontra-se no art. 1.225 do CC/2002.
Os direitos reais sobre coisas alheias são: 
a) direitos reais de gozo ou fruição: superfície, servidões, usufruto, uso, habitação e o direito do promitente comprador; 
b) direitos reais de garantia: penhor, hipoteca e anticrese.
– Distinção entre direito real e direito pessoal
Direito real (jus in re): poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos (erga omnes). 
Elementos essenciais: suj. ativo, coisa, relação de poder do suj. ativo sobre a coisa, chamado domínio, e o suj. passivo que é, em tese, toda a coletividade (universal), sendo determinado quando denominado ou especificado. 
Direito pessoal (jus ad rem): relação jurídica pela qual o suj. ativo pode exigir do suj. passivo determinada prestação (obrigação). 
Elementos essenciais: suj. ativo (credor), suj. passivo (devedor) e a prestação.
Teorias:
A teoria unitária realista procura unificar os direitos reais e obrigacionais a partir do critério do patrimônio, ao considerar que o direito das coisas e o direito das obrigações fazem parte de uma realidade mais ampla, que é o direito patrimonial;
Conforme a teoria dualista ou clássica, o direito real apresenta características próprias, que o distinguem dos direitos pessoais. Considera-se mais adequada à nossa realidade esta teoria.
1.5 – Obrigação propter rem: é a que recai sobre uma pessoa, por força de determinado direito real. Só existe em razão da situação jurídica do obrigado, de titular do domínio ou de detentor de determinada coisa (Vide art. 1.277, CC/2002). 
Exemplos: 1) obrigação imposta aos proprietários e inquilinos de um prédio de não prejudicarem a segurança, o sossego e a saúde dos vizinhos (CC, art. 1.277); 2) pagamento de condomínio; 3) a obrigação de o proprietário de um imóvel de indenizar o terceiro que, de boa-fé, realizou benfeitorias sobre o mesmo etc.
UNIDADE II – POSSE
2.1 – Origem histórica
A noção de posse tem origem no direito romano.
Tutela da situação de fato originada pela posse, como reflexo da necessidade de evitar a violência e promover a defesa da paz social.
Teoria de Niebuhr, adotada por Savigny: fruição das possessiones (pequenas propriedades), para a defesa das quais aplicava o interdito possessório. A reivindicatio era restrita ao titular da propriedade.
Teoria de Ihering: a posse surgiu do processo reivindicatório, segundo o qual os interditos possessórios constituíam incidentes preliminares do processo reivindicatório.
2.2 – Conceito de posse
	O conceito de posse, no direito positivo brasileiro, deve ser compreendido a partir do art. 1.196 do Código Civil, que considera possuidor “todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”.
	Note-se que a noção de posse é dada a partir da definição de propriedade apresentada no art. 1.228 do Código.
	O conceito de posse torna-se inteligível a partir da noção de possuidor apresentada no art. 1.196. Portanto, pode-se dizer que posse é o exercício de fato, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
	Neste sentido, o exercício da posse não implica que o possuidor seja detentor do domínio ou da titularidade da coisa. É possível que outras pessoas exerçam sobre a coisa, um ou alguns dos poderes típicos do proprietário, conforme a previsão do art. 1.228 do Código, sem, no entanto, ser titular desse direito.
	Por exemplo, o locatário e o comodatário exercem de fato alguns poderes inerentes ao proprietário, sem, no entanto, estabelecer com a coisa o vínculo de propriedade.
Para Ihering, cuja teoria o nosso direito positivo acolheu, posse é conduta de dono. Sempre que haja o exercício dos poderes de fato inerentes à propriedadeexiste a posse, a não ser que alguma normadiga que esse exercício configura a detenção e não posse (Vide arts. 1.198 e 1.208, CC/2002).
Posse = assegurar o exercício de fato sobre a coisa;
Evitar a violência e assegurar a paz social;
Situação de fato que aparenta ser de direito; situação de fato protegida pelo legislador; direito fundado no fato da posse (possideo quod possideo);
Proteção contra terceiros (que não possua título ou a melhor posse) e até mesmo contra o proprietário. 
O nosso ordenamento adota a seguinte distinção com relação à noção de posse:
Jus possessionis ou posse autônoma: Se alguém se mantem, pacificamente, em um imóvel, por mais de um ano e dia, cria uma situação possessória, que lhe proporciona direito à proteção.
Jus possidendi ou posse causal: que é a posse titulada. Em ambos os casos, é assegurado o direito à proteção dessa situação contra atos de violência, para garantir a paz social.
2.3 – Teorias sobre a posse
	Há duas teorias principais sobre a natureza da caracterização da posse,cujas denominações comumente atribuídas são: teoria subjetiva e a teoria objetiva.
TEORIA DE SAVIGNY, denominada pela doutrina“TEORIA SUBJETIVA”, em Tratado da Posse (Das Rechtdes Besitzes, 1893), afirma o autor que a posse se constitui de dois elementos:
Corpus – elemento objetivo que consiste na detenção física da coisa; “Faculdade real e imediata de dispor fisicamente da coisa, e de defendê-la das agressões de quem quer que seja” (Savigny apud Caio Mário da Silva Pereira, 2007: 18). 
Animus – elemento subjetivo, que significa a intenção de ser dono da coisa e de defendê-la contra a intervenção de outrem (animus domini ou animus REM sibi habendi). Se não ocorrerem os dois elementos, há, neste caso, mera detenção.
TEORIA DE RUDOLF von IHERING, também denominada “TEORIA OBJETIVA”,em Teoria Simplificada da Posse, preleciona que o animusjá está incluído no corpus, que significa conduta de dono. Esta pode ser analisada objetivamente, sem a necessidade de verificar a intenção do agente. A posse consiste na exteriorização da propriedade, na visibilidade do domínio e no uso econômico da coisa. O CC brasileiro adotou essa teoria (art. 1.196). 
Para Savigny, o locatário, o usufrutuário, o arrendatário e o comodatário são detentores e não possuidores, por isso não têm direito às ações possessórias. Para Ihering, ao contrário, os mesmos são possuidores (posse direta) e podem utilizar as ações possessórias.
	Desdobramento da posse
	Propriedade (Posse plena ou aloidal)
Posse indireta
	Posse
Posse direta
	Usar, gozar, dispor e reaver
	Usar e gozar
2.4 – Natureza jurídica da posse
	Para Savigny, posse é fato e direito. “Os direitos são os interesses juridicamente protegidos”. Conforme Ihering, a posse corresponde a um direito. Clóvis Bevilacqua assinala que a posse é um fato protegido pelo direito, nesse sentido, a posse é um direito especial (sui generis).
	Caráter duplo da posse: considerada em si é um fato; pelos direitos que gera, entra na esfera do direito.
Efeito jurídico: as ações reais, por ex., exigem presença do cônjuge na relação processual concernente ao bem imóvel (CPC, art. 10).
A posse não entra no rol taxativo do art. 1.225 do CC/2002.
Direitos pessoais incorpóreos – utilizam-se as cautelares inominadas. Poder cautelar geral do juiz (CPC, art. 798).
Posse e detenção
	O ordenamento jurídico pátrio prevê situações em que uma pessoa não é considerada possuidora, mesmo exercendo poderes de fato sobre uma coisa. Isto ocorre quando a lei desqualifica a relação para mera detenção, como previsto nos artigos 1.198, 1.208 e 1.224, CC/2002. 
Somente a posse gera efeitos jurídicos.
O possuidor exerce o poder de fato em razão de um interesse próprio; o detentor, no interesse de outrem.
O detentor, como consequência do dever de vigilância, embora não possa invocar, em seu nome, a proteção possessória, cabe-lhes, contudo, exercer a autoproteção do possuidor, quanto às coisas confiadas ao seu cuidado.
Quase posse
	Os romanos só consideravam posse a emanada do direito de propriedade. A exercida nos termos de qualquer direito real menor (iura in re aliena), ou direitos reais sobre coisas alheias, servidão e usufruto, por ex., eram denominados quase posse, por ser aplicada aos direitos ou coisas incorpóreas. No direito atual tais situações são consideradas posse propriamente dita.
Composse
	É a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa (CC, art. 1.199). A composse pode ser:
Pro diviso – quando exercida simultaneamente e se estabelece uma divisão de fato entre os compossuidores, quanto a sua utilização;
Pro indiviso– é aquela em que se exercem, ao mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa, os poderes de utilização ou exploração comum do bem.
2.5 – Classificação da posse
a) Posse direta e posse indireta(CC, art. 1.197)
Posse direta ou imediata: é a daquele que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de contrato. Por ex., a posse direta do locatário, que a exerce por concessão do locador. O mesmo ocorre com o usufrutuário, o arrendatário etc.;
Posse indireta ou mediata: é a daquele que cede o uso do bem. Por ex. a do locador, a do proprietário que cede a terra a outro para usufruto etc.
O locador/proprietário exerce a posse indireta, como conseqüência de seu domínio.
O locatário exerce a posse direta por concessão do locador.
Dá-se o desdobramento da posse. Uma posse não anula a outra, isto é, ambas coexistem no tempo e no espaço e são posses jurídicas (jus possidendi) e têm o mesmo valor, não autônomas, pois implicam o exercício de efetivo direito sobre a coisa. 
Ambos podem invocar a proteção possessória contra terceiros. 
Não há usucapião para o possuidor direto.
b) Posse justa e posse injusta
Posse justa: Conforme estabelece o art. 1.200 do Código Civil, posse justa é a não violenta, clandestina ou precária. É a posse adquirida legitimamente ou sem vício jurídico externo. Ou ainda, aquela que não repugna ao direito, porque adquirida conforme os modos previstos na lei.
Posse injusta(ou posse viciada): é a que foi adquirida viciosamente, por violência (violenta) ou clandestinidade (clandestina) ou por abuso do precário (precária), ou seja, por abuso de confiança.
Ainda que viciada, a posse injusta não deixa de ser posse, visto que a sua qualificação é feita em face de determinada pessoa. Será injusta em face do legitimo possuidor; será, porém, justa e suscetível de proteção em relação às demais pessoas estranhas ao fato. 
Nesse sentido, poderá o possuidor de posse injusta em relação ao legítimo possuidor, propor ação possessória contra um terceiro que tente adquirir injustamente a sua posse. Neste caso, o possuidor, mesmo que de posse injusta, tem melhor posse, em relação ao terceiro.
Desse modo, cessada a violência (art. 1.208, CC), que caracteriza esbulho, o esbulhador será tornado possuidor. Terá posse injusta (viciada), mas será possuidor, para efeito da proteção possessória.
Violência – vis absoluta = violência física. Ex. Tomar à força o objeto; expulsar alguém do imóvel.
Violência – vis compulsiva = violência moral. 
Clandestina – furta o objeto, ocupa o imóvel às escondidas, sorrateiramente.
Precária – do locatário, por ex., que tinha a posse justa e passa a ser injusta se no vencimento do contrato se recusa a devolver o imóvel ao proprietário.
c) Posse de Boa fé e Posse de Má fé (CC, art. 1.201)
Posse de boa-fé: caracteriza-se a posse de boa-fé quando o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.
	O parág. único do art. 1.201, CC/2002, estabelece presunção de boa-fé em favor de quem tem justo título. Justo título é o que seria hábil para transmitir o domínio e a posse se não contivesse nenhum vício impeditivo dessa transmissão.
	Caio Mário da Silva Pereira, em Instituições de Direito Civil (2007: 31), classifica como um tipo de posse a posse com justo título.
	Justo título configura-se estado de aparência que permite concluir estaro sujeito gozando de boa posse. Não significa somente o documento, observa-se, portanto, o fato gerador do qual a posse deriva. O possuidor tem consciência de que está amparado numa boa causa que determina a legitimidade da posse.
	Há aqui presunção juris tantum, isto é, o ato é passível de desfazer-se com prova contrária.
Exemplos quanto à presunção do justo título:
1) A companheira tem justo título na posse de bens comuns do casal, quando do falecimento do companheiro;
2) O herdeiro aparente cujo título e ignorância de outros herdeiros faz presumir ser ele justo possuidor;
3) Uma escritura de compra e venda, devidamente registrada, é um título hábil para a transmissão do imóvel. No entanto, se o vendedor não era o verdadeiro dono (aquisição a non domino) ou se era um menor não assistido por seu representante legal, a aquisição não se aperfeiçoa e pode ser anulada.
Posse de má-fé: a posse constitui-se de má-fé quando o possuidor tem conhecimento do vício na aquisição da posse e, portanto, da ilegitimidade de seu direito.
O art. 1.202, CC/2002, prescreve que a posse de boa-fé se transforma em posse de má-fé desde o momento em que as circunstancias demonstrem que o possuidor não mais ignora que possui indevidamente.
d) Posse nova e posse velha (Vide art. 1.211, CC)
Posse nova: é a de menos de ano e dia (Vide art. 924, CPC). 
Não se confunde com a ação de força nova, que leva em conta não a duração temporal da posse, mas o tempo decorrido desde a ocorrência da turbação ou do esbulho.
Posse velha: é a de ano e dia ou mais. 
Neste caso, também se diferencia da ação de força velha, intentada depois de ano e dia da turbação ou esbulho.
Ação tempestiva, no âmbito possessório: menos de “ano e dia” – pleitear concessão de liminar.
Ação de força nova – possessória.
Ação de força velha – procedimento ordinário/juízo petitório – somente cabe ao proprietário.
e) Posse natural e posse civil ou jurídica
Posse natural: é a que se constitui pelo exercício de poderes de fatos sobre a coisa.
Posse civil ou jurídica: é considerada aquela que se realiza por força da lei, sem necessidade de atos físicos ou materiais. È a que se adquire, ou se transmite pelo título.
f) Posse ad interdicta e posse ad usucapionem
Posse ad interdicta: consiste na posse que pode ser defendida pelos interditos possessórios ou ações possessórias, quando molestada, mas não conduz à usucapião.
Posse ad usucapionem: é a posse que se prolonga por determinado lapso de tempo estabelecido na lei, tendo como consequência a aquisição do domínio pelo seu titular. 
2.6 – Aquisição e Perda da Posse
2.6.1 – Aquisição da Posse
	
O art. 1.204, do Código Civil, preconiza que “adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade”.
A posse pode ser adquirida: 
por quem pretenda adquiri-la ou por seu representante; 
por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação (art. 1.205, CC/2002). 
A aquisição da posse, quanto à sua origem, pode se dar por modo originário ou derivado. Veja-se breve explanação sobre a aquisição originária e derivada da posse.
Aquisição originária – ocorre nos casos em que não há relação de causalidade entre a posse atual e a anterior (não há nexo causal entre a posse atual e a anterior). O que pode ocorrer em duas hipóteses: 1) ou a coisa não tinha dono (porque nunca o teve – res nullius, ou porque foi abandonada – res derelicta; 2) ou porque foi esbulhada (violenta ou clandestina), e o vício, posteriormente, cessa (posse mansa e pacífica).
No caso da coisa sem dono, a aquisição originária da posse é elemento do domínio, que é adquirido por ocupação. O sujeito se apodera da coisa, adquire, por conseguinte, a posse, e ainda se torna proprietário.
Aquisição derivada – caracteriza-se quando há anuência do antigo possuidor, como na tradição. A transferência pode ser real (quando o possuidor atual a entrega ao novo possuidor), simbólica (quando o que se entrega é algo que simboliza a coisa, como as chaves de uma casa) ou por cláusula contratual (a cláusula constituti, por meio da qual opera o constituto possessório). 
Vide art. 1.203, CC, determina que a posse conserva o mesmo caráter com que foi adquirida.
a) Modos de aquisição da posse. A posse pode ser adquirida por:
1) Apreensão da coisa. Pode ocorrer em duas hipóteses:
Ato unilateral – realiza-se pelo exercício de um poder de fato sobre a coisa, no interesse daquele que o exerce. Coisa sem dono ou abandonada (res derelicta= derrelicção, que consiste no abandono voluntário da coisa) e quando a coisa não for de ninguém (res nullius). Quanto ao ato da apreensão, para bens imóveis, diz-se ocupação; para bens móveis, denomina-se órbita de influência.
Quando a coisa é retirada de outrem sem a sua permissão. Aquisição da posse por ato violento ou clandestino. Primitivo possuidor omitir-se, não reagindo incontinenti em defesa de sua posse ou não a defendendo por meio dos interditos possessórios.
2) Exercício de direito. Ocorre no caso da servidão, se o dono do prédio serviente permanecer inerte. Ex.: passagem de um aqueduto por terreno alheio (art. 1.379, CC/2002).
3) Ato bilateral. A posse é transmitida de um possuidor a outro. É o caso da tradição, que é modo derivado de apossamento da coisa. Pressupõe o acordo de vontades. Ocorre mediante o negócio jurídico (vide art. 104, CC/2002). Título: gratuito = doação; oneroso = compra e venda. Pode ser: real, simbólica ou ficta, como acima descrito.
4) Sucessão na posse (arts. 1.206 e 1.207, CC), ou seja, aquisição a título universal e a título singular. Nestes casos, a acessão da posse pode ser:
Por sucessão universal: o herdeiro agrega a sua posse à do falecido.
Por sucessão singular: o possuidor pode agregar a sua posse à de seu antecessor.
2.6.2 – Perda da Posse
	
	A perda da posse, conforme a teoria objetiva de Jhering, adotada pelo ordenamento jurídico pátrio, ocorre quando o possuidor deixa de agir como age o proprietário, isto é, perde-se a posse quando não é mais possível o exercício, sobre a coisa, de poderes inerentes ao domínio.
	FÓRMULAS DA PERDA DA POSSE
	FÓRMULA GERAL: posse - exercício de poder de domínio = perda da posse 
	FÓRMULA 1: posse - corpus (ato de proprietário) = perda da posse
	FÓRMULA 2: posse - animus (vontade de agir como dono) = perda da posse
	Fonte: DONIZETTI, Elpídio; QUINTELLA, Felipe. Curso didático de direito civil. São Paulo: Atlas, 2012, p. 700.
	São hipóteses de perda da posse:
1) pelo abandono, ou também denominado derrelicção, que significa o abandono voluntário da coisa.
2) pela tradição (traditio): quando o possuidor transfere voluntariamente a coisa. Pode ocorrer de três formas:
real: quando envolve a entrega efetiva e material da coisa;
simbólica: quando representada por ato que traduz a alienação. Por ex.: a entrega das chaves de acesso ao imóvel.
ficta, que pode ser de dois modos: 
traditio brevi manu = a pessoa que tem posse direta do bem em razão de contrato celebrado com o possuidor indireto (arrendador, locador etc.) adquire o seu domínio, não precisa devolver ao dono, para que este novamente lhe faça a entrega real da coisa. Basta a demissão voluntária da posse indireta pelo transmitente, para que se repute efetuada a tradição.
constituto possessório = o proprietário que aliena o imóvel, mas permanece nele residindo por força de um contrato de locação celebrado com o adquirente, perde a posse de dono (indireta), mas adquire, pela mencionada cláusula constituti, a de locatário.
3) pela perda propriamente dita da coisa. Exemplos: objeto perdido dentro de casa, não há perda propriamente da coisa; objeto perdido na rua.
4) pela destruição da coisa ou seu desaparecimento. Pode acontecer em diversas situações, tais como:
Acontecimento: fato natural. Por ex.: morte de um animal por idade avançada; caso fortuito. Ex.: animal morto atingido por um raio etc.
Fato do próprio possuidor: por exemplo, ao provocar a perdatotal do veículo por direção perigosa ou imprudente.
Fato de terceiro: por exemplo, em ato atentatório à propriedade.
Quando deixa a coisa de ter as qualidades essenciais à sua utilização ou a perda do valor econômico. Exemplos: terreno invadido pelo mar; nos casos de confusão, comistão, adjunção e avulsão.
5) pela colocação da coisa fora do comércio, porque se tornou inaproveitável ou inalienável (extra commercium). Pode ocorrer por razões de: ordem pública, moralidade, higiene e segurança pública. Por ex.: desapropriação de terras, confisco de produtos alimentícios por fiscalização sanitária etc.
6) pelo esbulho, isto é, pela posse de outrem. 
UNIDADE III – EFEITOS DA POSSE
3.1 – Introdução
	A matéria é disciplinada do art. 1.210 ao art. 1.222 do Código Civil de 2002. A proteção conferida ao possuidor é o principal efeito da posse.
	Conforme Carlos Roberto Gonçalves (2010: 129), são precisamente os efeitos da posse que lhe imprimem cunho jurídico e a distinguem da mera detenção. São os principais efeitos da posse:
a) a proteção possessória, abrangendo a autodefesa e a invocação dos interditos (arts. 1.210 a 1.213, CC). 
b) a percepção dos frutos (arts. 1.214 a 1.216, CC).
c) a responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa (arts. 1.217 e 1.218, CC).
d) a indenização pelas benfeitorias e o direito de retenção (arts. 1.219 a 1.222, CC).
e) a usucapião.
3.2 – Proteção possessória (Tutela da posse)
	Explica Gonçalves, que “há uma gradação nos atos perturbadores da posse, dando origem a três procedimentos possessórios distintos, embora com idêntica tramitação: ameaça, turbação e esbulho” (2010: 171).	Desta forma, a proteção possessória ocorre através de Interdito Proibitório, Ação de manutenção de posse, Ação de reintegração de posse, Legítima defesa e Desforço imediato.
	Os interditos possessórios são os meios jurídicos que tem o possuidor à sua disposição, para a defesa de sua posse contra turbação, esbulho ou ameaça.
	Desta forma, o possuidor ameaçado, turbado ou esbulhado tem a faculdade de utilizar os interditos possessórios, ações com caráter próprio e rito especial. Tais ações estão disciplinadas nos arts. 920 e seguintes do CPC.
	Eis a seguir uma breve análise do art. 1.210 do Código Civil brasileiro. Objetiva–se apresentar a forma dos interditos e seus efeitos jurídicos no âmbito da proteção ao direito da posse.
3.2.1 – Análise do artigo 1.210 do Código Civil de 2002
PROTEÇÃO DA POSSE
A) Legítima defesa e desforço imediato (autotutela, autodefesa ou defesa direta) (art. 1.210, CC/2002).
	Há, no art. 1.210, descritos três procedimentos distintos:
1) “ser mantido na posse em caso de turbação”. Nessa circunstância o possuidor pode usar a legítima defesa (§ 1º, art. 1.210, CC-02), semelhante ao previsto no art. 25 do CP/1940, ou, não o fazendo, deverá o possuidor, conforme a previsão processual, propor Ação de manutenção de posse, art. 926 segs., CPC.
	Vale ressaltar, que a previsão legal (Lei material) dá ao possuidor o direito de se valer da autodefesa para se manter ou para reintegrar-se na posse, desde que o faça logo e que os atos de defesa não ultrapassem o “indispensável à manutenção, ou restituição da posse” (art. 1.210, §1º, CC/2002).
Turbação é todo ato que embaraça o livre exercício da posse. 
Possuidor poderá manter ou restabelecer a situação de fato “por sua própria força” (§ 1º), isto é, pelos seus próprios recursos, sem apelar para autoridade, polícia ou justiça; 
Os atos de defesa não podem ir além do indispensável à manutenção da posse (§ 1º);
Para que a defesa direta seja legítima, é necessário que: a reação se faça logo, imediatamente após a agressão; a reação deve-se limitar ao indispensável à retomada da posse. O excesso configura crime de “exercício arbitrário das próprias razões”, art. 345, CP.
Preleciona Carlos R. Gonçalves (2010: 131): “Pode o guardião da coisa exercer a autodefesa, em benefício do possuidor ou representado. Embora não tenha o direito de invocar, em seu nome, a proteção possessória, não se lhe recusa, contudo, o direito de exercer a auto proteção do possuidor, conseqüência natural de seu dever de vigilância”.
2) “restituído no de esbulho”. Para esse caso o possuidor pode empreender o desforço imediato, ou seja, “restituir-se por sua própria força” (§ 1º, art. 1.210, CC-02). Não o fazendo, neste caso, caberá Ação de reintegração de posse, art. 926 segs., conforme previsão do CPC.
Esbulho “consiste no ato pelo qual o possuidor se vê privado da posse mediante violência, clandestinidade ou abuso de confiança. Acarreta, pois, a perda da posse contra a vontade do possuidor” (Gonçalves, 2010: 153).
Desforço imediato consiste na faculdade que a lei dá ao possuidor retomar a posse com o esforço próprio.
Assim como na turbação, no esbulho o possuidor poderá retomar a sua posse “por sua própria força”, contando que façalogo, e que os atos de defesa “não podem ir além do indispensável” à restituição da posse (§ 1º, art. 1.210, CC-02).
3) “segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado”. Esse é o caso da ameaça. Contra a ameaça não poderá o possuidor empregar a legítima defesa. Deve-se impetrar Interdito Proibitório (mandado proibitório), com cominatória de multa (pena pecuniária), caso o réu transgrida o preceito, conforme prevê o art. 932, CPC.
A multa deve ser pedida pelo autor e fixada pelo juiz. O autor indica o valor da multa pretendida, “em montante razoável, que sirva para desestimular o réu de transgredir o veto, mas não ultrapasse, excessivamente, o valor do dano que a transgressão acarretaria ao autor” (Gonçalves, 2010: 173). O juiz pode reduzi-la, mas não aumentá-la.
Depreende-se do art. 933, CPC, que é concedida liminar em interdito proibitório.
Diz a Súmula 228 do STJ: “É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral”.
 
B) Ações Possessórias (Heterotutela)
	
Caso necessário ao possuidor recorrer à via judicial, os meios próprios de defesa estão previstos nos artigos 920 a 933 do CPC.
São ações possessórias em sentido estrito ou também denominadas interditos possessórios, as seguintes:
a) Interdito proibitório, art. 932, CPC (acima explicitado);
b) Manutenção de posse, art. 926/927, CPC;
c) Reintegração de posse, art. 926/927, CPC.
	O procedimento nas Ações Possessórias de Imóveis de Pequeno Valor, de Coisas Móveis e Semoventes, é de competência do Juizado Especial. Vide art. 3º, IV, da Lei nº 9.099/1995.
Legitimação ativa e passiva
Legitimidade ativa: 
1) Exige-se a condição de possuidor para a propositura dos interditos – art. 926, CPC, mesmo que não tenha título (possideo quod possideo).
2) Art. 927, CPC. “Incumbe ao autor provar: I- a sua posse; II- a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III- a data da turbação ou do esbulho; IV- a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração”.
3) O detentor, por não ser possuidor, não tem essa faculdade.
4) Não basta ser proprietário ou titular de outro direito real. Se somente tem o direito, mas não a posse correspondente, o agente terá de valer-se da via petitória, não da possessória, a não ser que se trate de sucessor de quem detinha a posse e foi molestado. Vide art. 1.207, CC-02.
5) “Ao sucessor a título singular é facultado unir a sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. Desse modo, se este tinha posse e foi esbulhado, àquele será facultado assumir sua posição, para o fim de ajuizar a competente ação possessória contra o terceiro.” (Gonçalves, 2010: 133).
6) O nascituro não é possuidor. Não é titular de direitos subjetivos.
7) Possuidores diretos e indiretos têm ação possessória contra terceiros, e também um contra o outro. Vide parte final do art. 1.197, CC-02. Art. 932, CPC.
Legitimidade passiva:
1) O autor da ameaça, turbação ou esbulho (CPC, art. 927, II e 932), assim como do “terceiro que recebeu a coisa esbulhada, sabendo que o era”, isto é, de má-fé, como expressamente dispõe o art. 1.212,CC-02.
2) Contra o terceiro que recebeu a coisa de boa-fé não cabe ação de reintegração de posse, pela interpretação a contrario sensu do citado dispositivo legal.
3) Curador, pai ou tutor, responde por autoria moral, se, tendo conhecimento do ato, não tiver recolocado as coisas no status quo ante, voluntariamente, ou por culpa in vigilando – em caso de turbação ou esbulho praticados por pessoa privada de discernimento ou menor incapaz de entender o valor ético da sua ação.
4) A ação pode ser proposta tanto contra o autor do ato molestador como contra quem ordenou a sua prática. Também contra o representante legal. A este cabe se defender com o recurso de nomeação à autoria (art. 62, CPC).
5) O herdeiro a título universal ou mortis causa (CC, art. 1.207). Para Sucessor a título singular – vide art. 1.212, CC-02 (má-fé).
6) Pessoa jurídica de direito privado autora do ato molestador, não o seu gerente, administrador ou diretor, se estes não agiram em nome próprio.
7) Pessoas jurídicas de direito público, contra as quais pode até ser deferida medida liminar, desde que sejam previamente ouvidos os seus representantes legais (CPC, art. 928, parágrafo único).
8) No caso de preposto – cabe nomeação à autoria. Se o demandado é simples detentor (CC, art. 1.198), nomeia à autoria (CPC, art. 62); se é possuidor direto apenas (CC, art. 1.197), denuncia da lide ao possuidor indireto (CPC, art. 70, III).
Procedimento
Ação de força nova (menos de ano e dia). Admite-se o deferimento da tutela antecipatória (liminar), com base no art. 927, do CPC. O procedimento é especial. A cognição é sumária (inaudita altera partes).
Ação de força velha (mais de ano e dia). O procedimento é ordinário. Admite-se antecipação de tutela se preenchidos os requisitos do art. 273, CPC.
Conversão de ação possessória em ação de indenização
Art. 921, I – ação possessória e cumulação de pedido de indenização.
Perecimento ou deterioração considerável da coisa – pedido de indenização.
Art. 462, CPC – juiz deve considerar fato novo.
Danos emergentes e lucros cessantes.
Se a perda tiver lugar depois da sentença, mas antes de sua execução, deve aplicar-se, por analogia, o disposto no art. 627 do CPC.
3.3 – Considerações procedimentais acerca das ações possessórias
a) Possibilidade de concessão de liminar
	A previsão processual determina que quando o procedimento de manutenção e de reintegração de posse for ajuizado dentro de ano e dia da manutenção ou do esbulho, é possível a concessão de liminar (CPC, art. 928). 
	Caso a ação seja ajuizada em prazo superior a esse, segue-se o rito ordinário, não perdendo a ação, contudo, o caráter possessório.
b) Fungibilidade das ações possessórias
	
O princípio da fungibilidade ou da conversibilidade significa que a propositura de uma ação possessória em vez de outra não obsta ao conhecimento, conforme determina o art. 920, do CPC.
	A propositura de uma ação possessória em vez de outra não impedirá que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela, cujos requisitos estejam provados.
	Assim, se cabível for ação de manutenção de posse e o autor ingressar com ação de reintegração, ou vice-versa, o juiz determinará a expedição do mandado aos requisitos provados.
Expedição de mandado adequado.
Parte expõe o fato e as provas cabíveis e necessárias e o juiz aplica o direito.
Binômio: “ofensa à posse – proteção possessória”.
Princípio dispositivo: art. 2º, CPC.
Não fere previsão do art. 460, CPC.
Art. 300, CPC – da contestação.
b) Natureza dúplice das ações possessórias (actio duplex) 
	
É possível que o réu alegue, em contestação, ter sofrido ofensa em sua posse, pleiteando a tutela possessória em face do autor.
Fundamento legal: arts. 922, 278, § 1º e 273, todos do CPC.
Não se faz necessário pedido reconvencional (Ação de Reconvenção), art. 315, CPC.
É licito ao réu, com efeito, na contestação, alegando que foi ofendido em sua posse, demandar a proteção possessória e a indenização devida pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor.
Juiz decide qual deles tem melhor posse.
c) Exceção de domínio
	
Não é possível a discussão acerca do domínio em ação possessória (art. 1.210, §2º, do CC), a menos que ambas as partes disputem a posse com base no domínio (Súmula 487, STF).
	Faz-se aqui a distinção entre juízo possessório e juízo petitório (iuspossessionis = posse autônoma ou formal; e iuspossidendi = posse causal).
d) Cumulação de pedidos
	
Prevê o art. 921, do CPC, que além da proteção possessória, pode o autor pleitear a condenação do réu em perdas e danos, cominação de pena pecuniária ou desfazimento da construção ou plantação realizada, quando da ocupação possessória.
e) Manutenção provisória na posse daquele que tiver a coisa, se não estiver manifesto que o obteve de alguma das outras pessoas por meio vicioso (art. 1.211, CC/2002).
f) Admite-se o ajuizamento da ação possessória em face do terceiro que obteve a coisa do esbulhador, ciente do esbulho (art. 1.212, CC/2002).
g) Nomeação à autoria, no caso de a ação possessória ter sido ajuizada em face do detentor.
3.4 – Outras ações relacionadas com as ações possessórias
	Tais ações são consideradas afins aos interditos possessórios ou ações possessórias atípicas.
a) Ação de nunciação de obra nova (arts. 934 a 940, CPC)
Ver também: art. 1.299, CC (direitos dos vizinhos); arts. 1.300 a 1.302, CC. 
Autor (Sujeito ativo): Proprietário ou possuidor (arrendatário, locatário etc.).
Objeto: impedir a continuação da obra que prejudique prédio vizinho ou esteja em desacordo com os regulamentos administrativos.
Pressupostos: 
1) Obra nova;
2) Prédios vizinhos.
Petição Inicial: Embargos de obra (suspensão); pena de multa e perdas e danos (arts. 282 e 936, do CPC).
Art. 940, CPC, o nunciado pode requerer prosseguimento:
1) Alegando prejuízo;
2) Prestar caução;
3) Salvo, se infringir regulamento administrativo. Neste caso, não há prosseguimento da obra, até a sua devida regularização.
b) Ação de dano infecto
	Esta ação é manejada em caso de prédio velho que ameaça cair, bem como para andaimes de construção que ameaçam desabar. Pode ser utilizada também para proteção dos vizinhos quando há excesso em caso de ruídos.
Tem caráter preventivo e cominatório (c/ multa). Pode ser oposta quando haja fundado receio de perigo iminente, em razão de ruína do prédio vizinho ou vício na sua construção (art. 1.280, CC/02). Cabe também nos casos de mau uso da propriedade vizinha. Ex. Fundação de prédio, tapume ou andaime que ameaça cair, poluição sonora etc.
c) Ação de imissão de posse
	Não há previsão legal para esta ação no atual Código Civil, nem mesmo no CPC. Estava prevista no art. 381, CC de 1939 e foi repetida no CC de 1973.
	Dec.-Lei nº 1.075, de 22-1-1970 (Imissão de Posse).
	Ação cabível para o caso do proprietário de coisa não possuidor, ou seja, recebeu do alienante só o domínio, pela escritura, mas nunca teve a posse. Haver coisa pela primeira vez em face de quem a transmitiu.
	Não é o caso da reinvindicação (reaver a propriedade, ou “reaver a posse perdida”, art. 1.228, CC), mas imissão na posse (consolidar a propriedade). Jus possidendi (juízo petitório).
Cabimento:
1) Promessa de compra e venda com cláusula de prazo para a imissão na posse;
2) Promessa de compra e venda, locação e comodato (direitos obrigacionais; cláusula contratual que traduza uma imediata transmissão de posse).
Não cabimento:
1) Constituto possessório;
2) Sucessão causa mortis.
d) Ação Negatória
	É cabível quando o domínio do autor, por um ato injusto, esteja sofrendo alguma restrição por alguém que se julgue com direito de servidão sobre o imóvel. Ou seja, quando atos praticados por terceiro restringem ou limitam o exercício do domínio.
e) Embargos de terceiro (arts. 1.046 seg., CPC; art. 1.048, CPC – Prazo).
3.5 – Percepção dos frutos (arts. 1.214 a 1.216, CC)
	O possuidor de boa fé tem direito aos frutos percebidos e às despesasde produção e custeio dos pendentes e dos colhidos com antecipação.
	O possuidor de má fé não tem direito aos frutos, mas tem direito às despesas de produção e custeio.
3.6 – Responsabilidade por perda ou deterioração da coisa (arts. 1.217 e 1.218, CC)
	
O possuidor de boa fé não é responsável pela perda ou deterioração que não deu causa.
	O possuidor de má fé responde pela perda ou deterioração, ainda que acidental, salvo se provar que o dano ocorreria ainda que a coisa estivesse com o dono.
3.7 – Benfeitorias e direito de retenção (arts. 1.219 a 1.222, CC)
	O possuidor de boa fé tem direito de ser indenizado pelo que gastou com as benfeitorias necessárias e úteis. Com relação a elas tem direito de retenção. Tem direito de retirar as voluptuárias.
	O possuidor de má fé tem direito de ser indenizado pelo que gastou com as benfeitorias necessárias. Não tem direito às úteis. Não pode levantar as voluptuárias. Não tem direito de retenção.

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