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Freud e a Educação

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A Psicanálise pode transmitir ao educador uma ética, um modo de ver e de entender a prática educativa, nada mais.
A Pedagogia precisa reprimir para ensinar. Precisa da energia libidinal sublimada e não sexualizada.
O professor pode ensinar, mas não esperar que os alunos mudarão seus modos de pensar subjetivos. Eles ouvirão o que lhes convier e jogarão fora o resto. O bom professor aceitará isso sem desespero e sem tentar reprimir tais atividades, pois desta maneira, no futuro, saberão pensar sozinhos. Matar simbolicamente o mestre para se tornar o mestre de si mesmo, esta é uma lição que pode ser extraída da própria vida de Freud.
O encontro entre o que foi ensinado e a subjetividade de cada um é que torna possível o pensamento renovado, a criação e a geração de novos conhecimentos.
Não se pretende um convite ao laissez-faire; o objetivo é apontar caminhos, sugerindo aos pedagogos que não se preocupem tanto com métodos que, muitas vezes, constituem tentativas de inculcar, a todo custo, um conhecimento supervalorizado pelos professores.
Ao professor, cabe apenas, o esforço de organizar, articular e tornar lógico seu campo de conhecimento e transmiti-lo aos seus alunos.
A cada aluno cabe desarticular, retalhar, ingerir e digerir tudo que vem ao encontro de seu desejo e que lhe fazem sentido e encontram eco nas profundezas de seu inconsciente.
Dizia Freud que sem perversão não há sublimação e sem sublimação não há cultura. Pode ser identificado como o pedagogo clássico que via na criança um mal originário, diferente de Rousseau que afirmava a existência de um bem natural, depois subvertido pela cultura.
Freud declara o seguinte: o educador é aquele que deve buscar, para seu educando, o justo equilíbrio entre o prazer individual e as necessidades sociais.
Por que Freud afirmou que “a Educação é impossível?” Todas as suas idéias, sobre a Educação, inspiradas pela Psicanálise foram por ele mesmo questionadas:
_O educador deve promover a sublimação, mas sublimação não se promove por ser inconsciente.
_O educador deve esclarecer as crianças a respeito da sexualidade, se bem que elas não darão ouvidos.
_O educador deve se reconciliar com a criança que há dentro dele, mas é uma pena que ele tenha se esquecido de como é esta criança.
_E a conclusão: “A Educação é uma profissão impossível”.
Como criar um sistema pedagógico partindo de tais afirmações? As realidades do inconsciente e da pulsão da morte não casam bem com a promoção de bem-estar e de felicidade próprios da educação. Contudo, o que não pode ser esquecido é a idéia de que tais forças, presentes no interior do psiquismo, escapam ao controle dos seres humanos e, portanto, ao controle do educador. Poderíamos dizer, então, que a tarefa de educar se vê dificultada pela ação do inconsciente? Por que Freud afirmou que a Educação, a Política e a Psicanálise são tarefas impossíveis?
A Educação exerce seu poder através da palavra. Seu discurso, dirigido à consciência tenta estimular os indivíduos a se conduzirem em uma direção por ela mesma determinada. Da palavra extrai seu poder de convencimento e de submissão do ouvinte a ela.
No entanto, a realidade do inconsciente ensina que a palavra escapa ao falante. Ao falar, um político e um educador poderá se perder e revelar-se indo em uma direção contrária àquela que seu “eu” havia determinado.
Ensina a Psicanálise que a palavra é ao mesmo tempo lugar de poder e submissão, de força e de fraqueza, de controle e de descontrole. Com, então, educar sobre uma base paradoxal? É que, para Freud, o domínio, a direção e o controle, que estão na base de qualquer sistema pedagógico, jamais poderão ser integralmente alcançados.
Freud termina aqui com uma conclusão decepcionante: a Psicanálise não serve de fundamento para a Pedagogia; não pode servir como princípio organizador de um sistema ou de uma metodologia educacional.
Haverá, então, outro modo de a Psicanálise contribuir para um educador?
Freud se mostrou, a princípio, entusiasmado, ao descobrir o papel da repressão no desenvolvimento das neuroses. Supôs que uma educação menos repressora evitaria as neuroses do mundo adulto.
A Aprendizagem segundo Freud.
O que poderia ser, para Freud, o fenômeno da aprendizagem? Sobre isso, não vamos encontrar nenhum texto escrito por ele, pois suas preocupações eram predominantemente clínicas, interessado que estava, em livrar as pessoas do peso das neuroses.
Entretanto, por sua própria posição frente ao conhecimento, pensava nos determinantes psíquicos que levam alguém a ser “desejante de saber”. O processo da aprendizagem depende da razão que motiva a busca de conhecimento.
A criança que pergunta tanto está realmente interessada em saber como nascemos e por que morremos, de onde viemos e para onde vamos.
Para Freud, um momento capital e decisivo na vida do ser humano é o momento da descoberta daquilo que ele chama de diferença sexual anatômica, quando descobrem que o mundo é composto de homens e mulheres; em seres com pênis e seres sem pênis. Sentem que algo está faltando para alguém. Alguém perdeu algo, assim como já havia perdido o seio, as fezes, etc. A descoberta da diferença sexual anatômica não depende de sua observação, mas da passagem pelo Complexo de Édipo quando a menina se define como mulher e o menino como homem.
A essa angústia Freud chamou de angústia de castração. É isso que faz a criança querer saber. As primeiras investigações são sempre sexuais, segundo Freud, porque a criança quer definir seu lugar no mundo, e esse lugar é um lugar sexual.
Esse lugar sexual é situado em relação aos pais, ao que eles esperam do filho, ao seu desejo. Por que ele foi posto no mundo?
Ao final da época do conflito edipiano parte da investigação cai sob o domínio da repressão e a outra parte “sublima-se” em “pulsão” de saber, associada a “pulsões de domínio” e a “pulsões de ver”.
Isso significa que o desejo de saber associa-se com o dominar, o ver e o sublimar.
1.Sublimar
Para Freud, as investigações sexuais são reprimidas e não é a Educação a maior responsável por isto. As crianças deixam de lado as questões sexuais por uma necessidade própria e inerente à sua constituição. Não por ser “feio”, mas porque precisam renunciar a um saber sobre a sexualidade, para daí proceder a um deslocamento dos interesses sexuais para os não sexuais, desviando para isso, a energia concentrada. Não deixam de perguntar porque a força de pulsão continua estimulando estas crianças. Perguntam sobre outras coisas para poder continuar pensando em questões fundamentais.
Freud diz ainda que essa investigação sexual sublimada se associa com a pulsão de domínio e aí ele localizou a pulsão de morte. Saber associa-se com dominar. A investigação sexual sublimada relaciona-se, também, com o ver. O visual não é um elemento secundário nas pulsões sexuais. Na constituição da sexualidade um elemento central é a fantasia da cena primária ou cena de relação sexual entre os pais, na qual ela, a cena, é o objeto de uma visão imaginada pelo sujeito, chegando à fantasia de se imaginar um dos seus personagens.
Essa pulsão sublimada transforma-se em pulsão de domínio, em “pulsão de saber”. Transforma-se em curiosidade dirigida a outros objetos, de modo geral.
É importante ressaltar a filiação da curiosidade intelectual à curiosidade sexual, à imagem fantasiada da cena primária.
Pode-se dizer que, para Freud, a mola propulsora do desenvolvimento intelectual é sexual.
Entretanto, a criança não aprende sozinha. É preciso que haja um professor para que o aprendizado se realize. O ato de ensinar pressupõe uma relação com outra pessoa, a que ensina. Aprender é aprender com alguém.
Não importa o conteúdo ensinado (se é completamente verdadeiro ou não), o aluno acredita no professor. E de onde eles extraem esse poder de convencimento, a sua credibilidade?
Graças a isso o professor está revestido de uma importância especial e graças a ela, tem grande influência sobre os alunos.
No decorrer do período de latência, são os professores que tomarãoo lugar dos pais, e em particular, do pai, e assim, herdarão os sentimentos que a criança dirigia a esse último, por ocasião do complexo de Édipo.
A ênfase freudiana está concentrada nas relações afetivas entre professores e alunos, relações que antes eram dirigidas ao pai. Posteriormente o próprio Freud declara que a palavra afeto deixa de ter tanta importância.
É por isso que dizemos que, na perspectiva psicanalítica não se focalizam os conteúdos, mas o campo que estabelece as condições para aprender. Em Psicanálise, dá-se a esse campo o nome de transferência.
VII – Poder e Desejo – A transferência na relação professor-aluno.
A palavra transferência foi mencionada, por Freud, pela primeira vez no seu livro A Interpretação dos Sonhos. Explicava que os acontecimentos do dia eram transferidos para o sonho, onde apareciam modificados. Percebeu, em seguida que o paciente transferia para o analista, antigas vivências com outras pessoas, relacionando-se com ele como se fosse o pai, com medo de sua autoridade. Porém, em momento algum o paciente percebia o que estava acontecendo. Era uma manifestação inconsciente que passou a ser um bom instrumento de análise desse inconsciente.
Freud chega a afirmar que ela está presente, também na relação professor-aluno e o que se transfere são as experiências primitivas com os pais.
Parafraseando Jacques-Alain Miller, em sua leitura do termo transferência, como ele aparece em A Interpretação dos Sonhos, podemos dizer que na relação professoraluno, a transferência se produz quando o desejo de saber do aluno se aferra a um elemento particular que é a pessoa do professor.
Transferir é então atribuir um sentido especial àquela figura determinada pelo desejo, que pode ser o analista ou o professor, e que passam a ser depositários de algo que pertence ao analisando ou ao aluno e passam a fazer parte de seu cenário inconsciente. Sua fala é escutada através dessa especial posição que ocupam. Em virtude dessa posse, estas figuras ficam carregadas de importância especial e é daí que emana o poder que eles têm sobre o indivíduo.
Assim, em razão dessa transferência de sentido operada pelo desejo, ocorre também a transferência de poder.
1.O professor no lugar de transferência.
A História mostra que a tentação de abusar do poder é muito grande. O professor pode subjugar o aluno e impor-lhe seus próprios valores e idéias, ou seja, impor-lhe seu próprio desejo e fazendo-o sobrepor-se àquele que movia seu aluno a colocá-lo em destaque. Daí cessa o poder desejante do aluno e ele poderá aprender conteúdos, gravar informações, espelhar fielmente o conhecimento do professor, mas não sairá desta relação como sujeito pensante.
Poderia o mestre anular seu desejo se é este que o impulsiona para a função de mestre? O jogo é complicado, pois só o desejo do professor justifica o fato dele estar ali; e, estando ali precisa renunciar a este desejo.
Eis aí porque se apóia a idéia de que a Educação é impossível.
VIII – Conclusão.
O encontro da Psicanálise com a Educação é um desafio. A realidade do inconsciente nos ensina que não temos controle total sobre o que dizemos e muito menos sobre os efeitos de nossas palavras sobre nosso ouvinte.
Por isso não se pode aplicar a Psicanálise. Por acreditar que o inconsciente introduz, em qualquer atividade humana, o imponderável, o imprevisto, não há como criar uma metodologia pedagógico-psicanalítica, pois, aí implicaria ordem, estabilidade e previsibilidade.
O professor aprende que pode organizar seu saber, mas não tem controle sobre os efeitos que produz sobre seus alunos. Deverá renunciar ao controle, e assim, estará desocupando o lugar de poder que o aluno o coloca no início de uma relação pedagógica.
A Psicanálise pode transmitir ao educador uma ética, um modo de ver e de entender a prática educativa, nada mais.
A Pedagogia precisa reprimir para ensinar. Precisa da energia libidinal sublimada e não sexualizada.
O professor pode ensinar, mas não esperar que os alunos mudarão seus modos de pensar subjetivos. Eles ouvirão o que lhes convier e jogarão fora o resto. O bom professor aceitará isso sem desespero e sem tentar reprimir tais atividades, pois desta maneira, no futuro, saberão pensar sozinhos. Matar simbolicamente o mestre para se tornar o mestre de si mesmo, esta é uma lição que pode ser extraída da própria vida de Freud.
O encontro entre o que foi ensinado e a subjetividade de cada um é que torna possível o pensamento renovado, a criação e a geração de novos conhecimentos.
Não se pretende um convite ao laissez-faire; o objetivo é apontar caminhos, sugerindo aos pedagogos que não se preocupem tanto com métodos que, muitas vezes, constituem tentativas de inculcar, a todo custo, um conhecimento supervalorizado pelos professores.
Ao professor, cabe apenas, o esforço de organizar, articular e tornar lógico seu campo de conhecimento e transmiti-lo aos seus alunos.
A cada aluno cabe desarticular, retalhar, ingerir e digerir tudo que vem ao encontro de seu desejo e que lhe fazem sentido e encontram eco nas profundezas de seu inconsciente.

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