Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 1 Módulo 01 - Introdução a Metalurgia com foco em Siderurgia Aula 01 - Introdução a Siderurgia e Diagrama de Fases 1. Metalurgia Na superfície da Terra há uma imensa variedade de substâncias formadas ao longo de milhares de anos pela natureza. Essas substâncias são chamadas de minerais. Grande parte dos minerais contém metais em sua composição química. Às vezes, dependendo da composição química e da abundância do mineral, é possível a extração desses metais. O minério é uma rocha que contém grande quantidade de um elemento químico livre ou combinado com outro elemento. Uma rocha é considerada minério quando tem importância econômica, o que depende da concentração e da viabilidade econômica de extração de uma substância de interesse. Acredita-se atualmente que a composição da crosta seja aproximadamente a da Tabela abaixo: Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 2 Como se pode notar o metal mais abundante na crosta terrestre é o alumínio. No entanto, muitos metais de grande importância prática são bem mais raros: cobre, tório, urânio, mercúrio, ouro. Os elementos não se encontram uniformemente disseminados pela crosta, havendo regiões mais ricas em um elemento do que outras. ------------------------------------------------------------------------------------------------ Os metais possuem, de um modo geral alta tendência a doar elétrons. Assim, eles frequentemente são encontrados em seus minérios com número de oxidação positivo, e para que se possa obter o metal a partir do minério, é necessário que ele sofra uma REDUÇÃO. Perceba que se trata exatamente do contrário da corrosão, um processo natural que tende a oxidar os metais. Metalurgia é a sequencia de processos que visa obter um metal a partir do minério correspondente. Podemos esquematizar a metalurgia da seguinte maneira: Alguns poucos metais podem ser encontrados livres na Natureza na forma de substância simples (ouro, platina, prata) devido a baixa reatividade Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 3 destes metais. No entanto a maioria dos metais existe na forma de compostos, que estão misturados a outras substâncias. Exemplos de minérios importantes podem ser vistos na Tabela abaixo: 2. Siderurgia - A metalurgia do Ferro Os materiais metálicos, assim como os estudos em metalurgia, são divididos em duas classes: Ferrosos e Não Ferrosos. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 4 Neste primeiro momento iremos concentrar nosso estudo nos Materiais Metálicos Ferrosos, ou seja, onde o principal componente é o ferro. O ferro ocorre na natureza sob forma de óxidos, carbonatos e sulfetos: As maiores jazidas de ferro do mundo localizam-se na Austrália, Brasil, Estados Unidos, Rússia, França e Inglaterra No Brasil as maiores jazidas encontram-se em Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pará, Amapá e Bahia. O principal minério encontrado no Brasil é a hematita com 50 a 70 % de Ferro (8% das reservas mundiais) é de boa qualidade devido aos baixos índices de fósforo e enxofre. 2.1 - As ligas de Fe-C O ferro "combina-se" com o carbono podendo formar dois tipos de liga: Ferro Fundido - teores de carbono maiores que 2% em peso. Aço - teores de carbono até 2% em peso. Mais adiante veremos as principais diferenças entre esses dois materiais e o diagrama que descreve as "interações" entre o elemento ferro e o elemento carbono. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 5 2.2 - O Aço O quê é aço? "Aço ou aço-carbono é uma liga metálica, formada essencialmente por ferro e carbono, com porcentagens deste último variando entre 0,008 e 2,11% além de outros elementos residuais (S, P, Mn, Si, etc...) provenientes do processo de fabricação". Para entendermos melhor esta definição e o efeito que a composição química do aço pode ter nas propriedades do material, temos que ter em mente alguns conceitos básicos sobre as estruturas dos materiais sólidos cristalinos. 3. Conceitos e Definições Fundamentais 3.1 - Ligações Químicas Toda matéria é composta por átomos e estes raramente podem ser encontrados isoladamente, de forma que a maioria dos átomos forma ligações fortes com átomos da própria espécie e com outros tipos de átomos. As ligações interatômicas podem ser classificadas quanto à suas intensidades em ligações primárias ou fortes e ligações secundárias ou fracas. As ligações primárias são cerca de dez vezes mais fortes que as ligações secundárias. As suas energias de ligação são da ordem de 100 kcal/mol (lembre-se que 1 cal = 4,184 J). As ligações primárias podem ser de três tipos: iônica, covalente e metálica. As ligações secundárias envolvem energias de ligação da ordem de apenas 10 kcal/mol. Embora existam alguns tipos de ligações fracas, elas são geralmente englobadas dentro da designação de ligações de Van der Waals. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 6 3.2 - Ligação Iônica Na ligação iônica um ou mais elétrons são transferidos de um átomo eletropositivo para outro mais eletronegativo. A ligação pode ser entendida como resultado da atração entre os íons negativo (ânion) e positivo (cátion).Em uma ligação iônica ideal ocorre uma transferência completa de carga eletrônica de um átomo para outro. 3.3 - Ligação Covalente Na ligação covalente, um ou mais elétrons são compartilhados entre dois átomos, gerando uma força de atração entre os átomos que participam Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 7 da ligação. Este compartilhamento é muito comum na maioria das moléculas orgânicas. 3.4 - Ligação Metálica Os metais têm um, dois ou no máximo três elétrons de valência. Estes elétrons não estão ligados a um único átomo, mas estão mais ou menos livres para se movimentar por todo o metal. A figura 3.6 ilustra a ligação metálica entre átomos de sódio. Os elétrons que não são de valência e o núcleo formam um “caroço” eletricamente positivo que é envolvido por uma “nuvem”, “mar” ou ainda “gás” de elétrons. Os elétrons da nuvem atuam como uma “cola” mantendo os caroços positivos unidos. A ligação metálica apresenta uma ampla faixa de Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 8 energias de ligação que vão desde o mercúrio, com 68 kJ/mol e ponto de fusão –39°C, até o tungstênio, com 850 kJ/mol e ponto de fusão 3410°C. 3.5 - Estrutura Cristalina Vimos anteriormente as três principais formas dos átomos se ligarem entre si (Ligações iônicas, covalentes e metálicas). Além da forma com que eles se ligam, é importante entender a maneira com que eles se estruturam, ou seja, como eles se posicionam quando arranjados uns em relação aos outros. Para nossos estudos daqui em diante, os átomos (ou íons) serão considerados como esferas sólidas com diâmetros bem definidos. Isso é Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 9 conhecido como modelo atômico da esfera rígida onde as esferas que representam os átomos vizinhos mais próximos se tocam uma nas outras. Os materiais sólidos podem ser classificados de acordo com a regularidade segundo o qual os átomos ou íons estão arranjados uns em relação aos outros. Um material cristalino é aquele em que os átomos estão posicionados em um arranjo repetitivo ou periódico ao longo de grandes distâncias atômicas. Alguma das propriedadesdos sólidos cristalinos dependem da estrutura cristalina do material, ou seja, da maneira segundo a qual os átomos estão espacialmente arranjados. Os gases e a grande maioria dos líquidos não apresentam periodicidade nos seus arranjos atômicos. A ordenação dos átomos nos sólidos cristalinos indica que pequenos grupos de átomos formam um padrão repetitivo. Dessa forma, ao descrever as estruturas cristalinas, com frequência torna-se conveniente subdividir a estrutura em pequenas entidades que se repetem, chamadas de células unitárias. Para a maioria das estruturas cristalinas as células unitárias tem o formato de um cubo. Uma célula unitária é escolhida para representar a simetria da estrutura cristalina. A figura ao lado representa o arranjo entre átomos em um líquido (figura superior) e a o arranjo em um sólido cristalino (figura inferior). A essa ordenação encontrada no sólido, damos o nome de estrutura ou rede cristalina. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 10 Nesse sentido, a célula unitária é a unidade estrutural básica da estrutura cristalina em virtude de sua geometria e das posições dos átomos no seu interior. Os átomos metálicos podem ser considerados esferas rígidas e disto decorre a grande propensão que eles têm à cristalização. A sua grande maioria se cristaliza com estruturas cristalinas muito simples, conforme ilustra a tabela abaixo: Vários elementos apresentam no estado sólido diferentes estruturas cristalinas. A denominação para isto é alotropia. Quando o sólido é uma substância composta, a denominação habitualmente usada é polimorfismo. Estas mudanças de estruturas geralmente ocorrem em função de variações de temperatura e pressão. A figura abaixo apresenta as células unitárias cúbica de faces centradas (a) e cúbica de corpo centrado (b), supondo-se serem os átomos esferas rígidas. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 11 O ferro puro apresenta as seguintes transformações de fase: Observa-se que o ferro sólido, ao ser aquecido a partir da temperatura ambiente, muda a sua estrutura cristalina a medida que há o aumento da temperatura. Mas para que é importante saber qual é a estrutura cristalina do material? Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 12 Até o momento, estamos assumindo que existe uma ordem perfeita nos materiais cristalinos. Contudo esse sólido ideal não existe. Todos os materiais contêm inúmeros defeitos ou imperfeições na estrutura cristalina e na realidade, muitas das propriedades dos materiais são profundamente sensíveis a desvios da perfeição cristalina. "Os metais mais familiares não são altamente puros, em vez disso, eles são ligas, onde átomos de impurezas foram adicionados intencionalmente para conferir características específicas ao material". Ordinariamente, a formação de ligas é utilizada nos metais para melhorar a resistência mecânica e a resistência à corrosão. Por exemplo, a prata de lei é uma liga composta por 92,5% de prata e 7,5% de Cobre. Sob condições ambientes normais a prata pura é altamente resistente à corrosão, mas também é muito mole. A formação de uma liga com cobre aumenta significativamente a resistência mecânica, sem diminuir de maneira apreciável a sua resistência à corrosão. A adição de átomos de impurezas em um metal irá resultar na formação de uma solução sólida e/ou de uma nova segunda fase, dependendo do tipo de impurezas, de suas concentrações e da temperatura da liga. Vários termos relacionados às impurezas e às soluções sólidas merecem menção. Em relação às ligas, os termos soluto e solvente são comumente empregados. "Solvente" representa o elemento ou composto que está presente em maior quantidade; ocasionalmente, os átomos de solvente também são chamados de átomos hospedeiros. "Soluto" é usado para indicar um elemento ou composto que está presente em menor concentração. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 13 3.6 - Soluções Sólidas Uma solução sólida se forma, quando a medida que átomos de soluto são adicionados ao material hospedeiro, a estrutura cristalina e nenhuma nova estrutura é formada. Talvez seja útil desenvolver uma analogia com uma solução líquida. Se dois líquidos solúveis um no outro (tais como água e álcool) forem combinados, será produzido uma solução líquida quando as moléculas de ambos se misturarem e sua composição se manterá homogênea em todo líquido restante. Uma solução sólida também é homogênea em termos de composição. Os átomos de impurezas estão distribuídos aleatória e uniformemente no interior do sólido. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 14 4 - Diagrama de Fases A compreensão dos diagramas de fases para sistemas de ligas é extremamente importante pois existe uma forte correlação entre a microestrutura e as propriedades mecânicas, e o desenvolvimento da microestrutura de uma liga está relacionado às características do seu diagrama de fases. Adicionalmente os diagramas de fase fornecem informações valiosas sobre fusão, fundição e cristalização, entre outros fenômenos. É necessário estabelecer uma base de definições e conceitos básicos relacionados a ligas, fases e equilíbrio antes de estudar a interpretação e a utilização de diagramas de fases. O termo componente é frequentemente usado nesta discussão; componentes são metais puros e/ou compostos dos quais uma liga é constituída. Por exemplo, num latão de cobre-zinco, os componentes são Cu e Zn. O conceito de uma solução sólida foi introduzido anteriormente. À guisa de revisão, uma solução sólida consiste de átomos de pelo menos 2 diferentes tipos; os átomos de soluto ocupam posições quer substitucionais quer intersticiais na rede do solvente, e a estrutura cristalina do solvente é mantida. 4.1 - Limite de Solubilidade Para muitos sistemas de ligas e alguma temperatura específica, existe uma máxima concentração de átomos soluto que podem se dissolver no solvente para formar uma solução sólida; isto é denominado um limite de solubilidade. A adição de soluto em excesso a este limite de solubilidade resulta na formação de uma outra solução sólida ou um composto que tenha composição distintamente diferente. Para ilustrar este conceito, considere-se o sistema açúcar-água (C12H22O11-H2O). Inicialmente, à medida em que açúcar é adicionado à água, a solução açúcar-água ou xarope se forma. À medida em que mais açúcar é introduzido, a solução se torna mais concentrada, até que o limite de Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 15 solubilidade seja atingido ou a solução se torna saturada com açúcar. Neste ponto a solução não é mais capaz de dissolver nenhum açúcar mais e novas adições simplesmente sedimentam-se na base do recipiente.Assim, agora o sistema consiste de 2 substâncias separadas: uma solução líquida açúcar-água e cristais sólidos de açúcar não dissolvidos. O limite de solubilidade do açúcar em água depende da temperatura da água e pode ser representado na forma gráfica num gráfico de temperatura ao longo da ordenada e composição (porcentagem em peso de açúcar) na abscissa, como mostrado na Figura abaixo. Ao longo do eixo da composição, o aumento da concentração de açúcar é da esquerda para a direita e a porcentagem de água é lida da direita para a esquerda. Uma vez que apenas 2 componentes estão envolvidos (açúcar e água) a soma da concentrações em qualquer composição será iguala100% em peso. O limite de solubilidade está representado na Figura abaixo como uma linha quase vertical. Para composições e temperaturas no lado esquerdo da linha de solubilidade, existe apenas solução líquida de xarope; no lado direito da linha, coexistem xarope e açúcar sólido. O limite de solubilidade numa temperatura é a composição que corresponde à interseção da coordenada da dada temperatura e a linha do limite de solubilidade. Por exemplo, a 20oC a máxima solubilidade de açúcar em água é 65% em peso. Como a Figura indica, o limite de solubilidade cresce levemente com a elevação da temperatura. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 16 4.2 - Fases O conceito de fase é também crítico para o entendimento de diagramas de fases. Uma fase pode ser definida como uma porção homogênea de um sistema que tem características química e físicas uniformes. Todo material puro é considerado como sendo uma fase; assim é também toda solução sólida, solução líquida e solução gasosa. Por exemplo, a solução de xarope açúcar-água justo discutida é uma fase e o açúcar sólido é uma outra. Cada uma tem diferentes propriedades físicas (uma é um líquido, a outra é um sólido); além disso, cada uma é diferente quimicamente (isto é, tem uma composição química diferente); uma é um açúcar virtualmente puro, a outra é uma solução de água e C12H22O11. Se mais de uma fase estiver presente num dado sistema, cada uma terá suas propriedades distintas e existirá um limite separando as fases através do qual haverá uma descontínua e abrupta mudança em características físicas e/ou químicas. Quando 2 fases estiverem presentes num sistema, não é necessário que haja uma diferença simultaneamente em propriedades físicas e químicas; uma disparidade num ou outro conjunto de propriedades é suficiente. Quando água e gelo estão presentes em um recipiente, existem duas fases separadas; elas são fisicamente diferentes (uma é um sólido, a outra um líquido), porém ambas são idênticas em constituição química. Além disso, quando uma substância pode existir em duas ou mais formas polimórficas (por exemplo, quando possui tanto estrutura CFC como CCC), cada uma dessas estruturas consiste em uma fase separada, pois suas respectivas características físicas são diferentes. 4.3 - Microestrutura Muitas vezes, as propriedades físicas e, em particular, o comportamento mecânico de um material, dependem da microestrutura. A microestrutura está sujeita a uma boa observação direta através de um microscópio, utilizando-se microscópio óptico ou eletrônico. Nas ligas metálicas, a microestrutura é caracterizada pelo número de fases Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 17 presentes, por suas proporções e pela maneira segundo a qual elas estão distribuídas ou arranjadas. A microestrutura de uma liga depende de variáveis tais como os elementos de liga que estão presentes, suas concentrações e o tratamento térmico a que a liga foi submetida (isto é, a temperatura, o tempo de aquecimento à temperatura do tratamento e a taxa de resfriamento até a temperatura ambiente). Por exemplo, no caso de uma liga bifásica, uma fase pode aparecer clara, enquanto a outra fase aparece escura, como é o caso para a figura abaixo: Quando somente uma única fase ou uma única solução sólida está presente a textura é uniforme, exceto pelos contornos dos grãos que podem estar revelados, como é mostrado na figura abaixo: Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 18 4.4 - Diagrama de Fases Binários Quando dois metais formam uma fase líquida homogênea, isto é, eles são completamente solúveis um no outro, eles não necessariamente se solidificarão para formar uma fase sólida homogênea. Quando solidificados dois metais podem ser: * completamente solúveis um no outro; * completamente insolúveis um no outro; * parcialmente solúveis um no outro; * combinados para formar um composto intermetálico. Os diagramas de equilíbrio ou de fase (algumas vezes chamados curvas de solubilidade) são usados para mostrar a percentagem de cada metal na liga com o eixo das ordenadas indicando a temperatura. Possivelmente, o tipo de diagrama de fases binário mais fácil de ser compreendido e interpretado é aquele caracterizado pelo sistema cobre- níquel. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 19 A temperatura é traçada ao longo da ordenada; enquanto a abscissa representa a composição da liga, em porcentagem de peso na escala inferior e porcentagem atômica na escala superior, de níquel. A composição varia de 0%p Ni (100%p Cu) na extremidade horizontal esquerda e 100%p Ni (0%p Cu) na outra extremidade, à direita. Três regiões, ou campos, de fases diferentes aparecem no diagrama, um campo alfa (α), um campo líquido (L), e um campo bifásico α + L. Cada região é definida pela fase ou pelas fases que existem ao longo das faixas de temperaturas e de composições que estão delimitadas pelas curvas de fronteira entre as fases. O líquido L consiste em uma solução líquida homogenia, composta tanto por cobre quanto por níquel. A fase α consiste em uma solução sólida substitucional que contém átomos tanto de Cu quanto de Ni e que possui uma estrutura cristalina CFC. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 20 A temperaturas abaixo de aproximadamente 1080ºC, o cobre e o níquel são mutuamente solúveis no estado sólido para toda e qualquer combinação de composições. Essa solubilidade completa é explicada pelo fato de que tanto o Cu como o Ni possuem a mesma estrutura cristalina (CFC), raios atômicos e eletronegatividades praticamente idênticos, e valências semelhantes. 5 - Diagrama de Fases Ferro-Carbono (Fe-Fe3C) De todos os sistemas de ligas binárias, a que possivelmente seja a mais importante é o sistema ferro e carbono. Tanto os aços quanto os ferros- fundidos, principais materiais estruturais em todas as culturas tecnologicamente avançadas, são essencialmente ligas ferro-carbono. Uma parte do diagrama de fase ferro-carbono está apresentada na Figura abaixo. O ferro puro, no aquecimento, experimenta duas mudanças em sua estrutura cristalina antes de se fundir. À temperatura ambiente em sua forma estável, chamada ferrita ou ferro α, possui uma estrutura cristalina Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 21 CCC. A ferrita experimenta uma transformação, após aquecimento, mudando de fase, de ferrita (α) para austenita (γ) CFC, ou ferro γ, a 912ºC. Esta austenita persiste até 1394ºC, temperatura na qual a austenita CFC se reverte de volta para a fase CCC conhecida como ferrita (δ), que finalmente se funde a 1538ºC. Todas estas mudanças são visíveis ao longo do eixo vertical esquerdo do diagrama de fases. O eixo de composição no diagrama se estende apenas até 6,70%C, em peso. Nesta concentração o composto intermediário carbeto de ferro ou cementita (Fe3C), é formada, sendo ela representada por uma linha vertical no diagrama de fases. Assim o sistema ferro-carbono pode ser dividido em 2 partes: uma porção rica em ferro, como mostrado no diagrama e a outra (não mostrada) para composições entre 6,70%C e 100%C em peso (grafita pura). Na prática, todos os aços e ferros-fundidos têm teores de carbono menores do que 6,70%C, em peso; portanto, nós consideramos apenas o sistema ferro-carbeto de ferro. A austenita, ou a fase γ do ferro, quando em liga justamente com o carbono, não é estável abaixo de 727ºC, como indicado na figura abaixo. CursoBásico de Metalurgia/Siderurgia Página 22 Como demonstrado nas discussões que se seguem, transformações de fase envolvendo austenita são muito importantes no tratamento térmico dos aços. A figura a seguir mostra duas micrografias, uma da fase ferrita (α) outra da fase austenita (γ). Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 23 A cementita (Fe3C) se forma quando o limite de solubilidade de carbono no ferro α é excedido a uma temperatura abaixo de 727ºC. Como indicado no diagrama, Fe3C também coexistirá com a fase δ entre 727 e 1148ºC. Mecanicamente cementita é muito dura e frágil; a resistência de alguns aços é grandemente melhorada pela sua presença. As regiões bifásicas estão expostas no diagrama. Pode-se notar que existe uma transformação de uma fase líquida em duas fases sólidas, reação esta titulada de Reação Eutética para o sistema ferro-carboneto de ferro, em 4,30%C e 1148ºC. Segue a Reação: Pode-se também notar a existência de outra transformação de fase, onde uma fase sólida se transforma em duas fases outras fases sólidas, reação titulada de Reação Eutetóide para o sistema ferro-carbono numa composição de 0,77%C, em peso, e numa temperatura de 727ºC. Esta reação eutetóide pode ser representada por: Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 24 Portanto, ligas ferrosas são aquelas nas quais ferro é o principal componente, mas o carbono bem como outros elementos de liga podem estar presentes. No esquema de classificação de ligas ferrosas baseadas em teor de carbono, existem 3 tipos: ferro, aço e ferro fundido. Ferro comercialmente puro contém menos do que 0,008%C, em peso, e, a partir do diagrama de fases, é composto quase que exclusivamente de fase ferrita à temperatura ambiente. As ligas ferro-carbono que contém entre 0,008 e 2,11%C, em peso, são classificadas como aços. Na maioria dos aços a microestrutura consiste das fases tanto α quanto Fe3C. Embora um aço possa conter até 2,11%C, em peso, na prática, raramente as concentrações de carbono excedem 1,0%C, em peso. Ferros fundidos são classificados como ligas ferrosas que contém entre 2,11 e 6,70%C, em peso. Entretanto, ferros fundidos comerciais normalmente contém menos do que 4,5%C, em peso. Resumindo: Aço: denominação genérica para ligas de ferro-carbono com teores de carbono de 0,008 a 2,11%, contendo outros elementos residuais do processo de produção e podendo conter outros propositalmente adicionados (elementos de liga). • Aço-carbono: aço sem adição de elementos de liga. • Aço-liga: aço com adição de elementos de liga. • Ferro fundido: designação genérica para ligas de ferro-carbono com teores de carbono acima de 2,11%. 6 - Efeitos de Elementos de Liga Vimos anteriormente que o aço é uma liga Ferro-Carbono podendo conter até 2,11% de Carbono. No entanto, quando se deseja atribuir uma determinada característica ou uma melhora na propriedade, adiciona-se intencionalmente elementos a essa liga Fe-C. Estes elementos são chamados de Elementos de Liga. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 25 Quando mencionado elementos de liga, deve ficar subentendido que são outros elementos além do ferro e do carbono, uma vez que estes últimos são os constituintes básicos do aço. Vejamos algum desses elementos e seu efeito nas propriedades do aço: - Alumínio (Al): é usado em pequenas proporções como desoxidante; - Chumbo (Pb): não se liga ao aço mas, quando adicionado, distribui-se na estrutura em forma de partículas microscópicas, o que resulta em maior facilidade de usinagem. Entretanto, devido ao baixo ponto de fusão (cerca de 327°C), aços com chumbo não devem ser usados em temperaturas acima de 250°C. - Cobalto (Co): aumenta a dureza do aço sob altas temperaturas. - Cobre (Cu): melhora a resistência à corrosão por agentes atmosféricos, se usado em teores de 0,2 a 0,5%. - Cromo (Cr): melhora a resistência à corrosão (aço com cerca de 12% Cr resiste à ação da água e de vários ácidos), aumenta a resistência à tração (em média, 80 MPa para cada 1% de cromo), melhora a facilidade de têmpera, aumenta a resistência à alta temperatura e ao desgaste. - Enxofre (S): é, na maioria dos casos, um elemento indesejável, oriundo do processo de produção. Se combinado com o ferro na forma de sulfeto, deixa o aço quebradiço. Entretanto, se combinado com o manganês no forma do respectivo sulfeto, favorece a usinagem com a formação de cavacos que se quebram facilmente. - Fósforo (P): é considerado um elemento prejudicial, resultante do processo de produção. Torna o aço frágil, efeito que se acentua com o aumento do teor de carbono. Assim, os teores máximos permitidos devem ser controlados com rigor em aços para aplicações estruturais ou críticas. - Manganês (Mn): em média, para cada 1% de manganês, a resistência à tração aumenta 100 MPa. Para aços temperáveis, aumenta a dureza após o processo de têmpera. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 26 - Molibdênio (Mo): melhora a resistência a altas temperaturas, a resistência ao desgaste e a dureza após a têmpera. Para aços inoxidáveis, melhora a resistência à corrosão. - Níquel (Ni): em média, para cada 1% de níquel, a resistência à tração aumenta 40 MPa, mas o limite de elasticidade é mais favorecido. Melhora significativamente a capacidade de têmpera, possibilitando redução da velocidade de resfriamento. O níquel altera a alotropia do ferro e teores acima de 25% fazem reter a austenita em temperaturas usuais, fazendo um aço austenítico, que é não magnético e bastante resistente à corrosão. Com 36% de Ni, o aço tem o menor coeficiente de dilatação térmica e é usado em instrumentos de medição. Em conjunto com o cromo, o aço pode ser austenítico com a combinação 18% Cr e 8% Ni. - Silício (Si): é um agente desoxidante na produção do aço. Aumenta a resistência à corrosão e a resistência à tração, mas prejudica a soldagem. O silício aumenta significativamente a resistividade elétrica do aço e, por isso, aços com silício são amplamente usados em núcleos magnéticos (motores, transformadores, etc) devido às menores perdas com as correntes parasitas que se formam. - Tungstênio (W): aumenta a resistência à tração em altas temperaturas. Forma carbonetos bastante duros e é usado em aços para ferramentas (aços rápidos). - Vanádio (V): refina a estrutura do aço, impedindo o crescimento dos grãos. Forma carbonetos duros e estáveis e é usado em aços para ferramentas para aumentar a capacidade de corte e dureza em altas temperaturas. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 27 7 - Nomenclatura dos Aços Existem várias entidades que estabelecem normas para codificação de aços de acordo com o teor de carbono e dos elementos de liga. Na tabela abaixo, alguns códigos da SAE (Society of Automotive Engineers). Obs.: os dois últimos algarismos (xx) indicam o teor de carbono em 0,01%. Exemplo: um aço SAE 1020 tem 0,20 % de carbono. Curso Básico de Metalurgia/Siderurgia Página 28
Compartilhar