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Sistema de Correção Tátil-CinestésicA QUANDO, COMO E POR QUE CORRIGIR O ALUNO Prof. Drd. Mauro Guiselini www.mauroguiselini.com.br www.avaliacaomultifuncional.com.br www.ctmultifuncional.com.br Prof. Drd. Mauro Guiselini • Mestre em Educação Física pela USP. Doutorando (PhD) em Ciências do Movimento Humano - UNIMEP. • “Fitness Specialist for Older Adults”, “Biomechanic of Resistance Training” e “Personal Education II” no The Cooper Institute, Dallas (EUA); Aperfeiçoamento em “Functional Training” pela National Strength and Conditioning Association. • Diretor do Instituto MAURO GUISELINI de Ensino e Pesquisa. • Professor da Faculdade de Educação Física da UniFMU. • Autor de 30 livros e 16 DVDs, 3 e-books. • Colaborador do Programa BEM-ESTAR da Rede Globo. • Diretor e professor do CTM – Centro de Treinamento MultiFuncional • Criador do SAMF - Sistema Avaliação MultiFuncional e TMF – Treinamento MultiFuncional. • Ministra cursos sobre exercício, saúde e bem-estar, treinamento e avaliação multifuncional no Brasil, América do Sul e Portugal. Colunista nas Revistas Muscle in Form, Empresário, Fitness & Health e Endorfina. Olá, Amigos!... Apresentando o Projeto Educacional! Idealizei um projeto educacional - utilizando o Facebook, Instagram e WhatsApp – para ajudar no desenvolvimento pedagógico (técnico e científico) e pessoal dos profissionais de educação física e demais interessados. Visando maior consistência ao meu trabalho e às minhas experiências práticas, realizadas ao longo dos 50 anos de trabalho, e continuar aprendendo aos 64 anos, resolvi dar sequência à minha formação acadêmica. Para isso, iniciei o curso de doutorado na UNIMEP. Está sendo uma experiência fantástica adquirir novos conhecimentos, conviver com jovens pesquisadores e enfrentar novos desafios cognitivos. O projeto educacional consiste de: aulas transmitidas ao vivo – fundamentos teóricos e exercícios práticos, via Facebook; produção de vídeos educativos publicados no Youtube; dicas de treino no Instagram; criação do programa TV Wellness in foco; produção de e-books pedagógicos; realização de cursos de certificação e a criação de um centro de formação para futuros profissionais interessados em atuar na área do Exercício, Saúde e Bem-estar. A criação do CTM – Centro de Treinamento MultiFuncional, local de atendimento à comunidade, estudos e pesquisas, é o laboratório de aplicação prática do Sistema de Avaliação MultiFuncional e Treinamento MultiFuncional, dois programas desenvolvidos com a colaboração do Prof. Ft. Rafael Guiselini. Complementando o projeto, há o site www. avaliacaomultifuncional.com.br, que possibilita o acesso ao sistema Avaliação MultiFuncional, e o blog www.mauroguiselini.com.br, para a publicação de artigos e vídeos relacionados ao projeto. É um projeto de vida... um sonho que se torna realidade, cumprir a minha missão de educador. Prof. Drd. Mauro Guiselini A importância da correção no treinamento personalizado e nas aulas coletivas Os principais objetivos pelos quais as pessoas procuram um programa de treinamento personalizado ou coletivo estão relacionados com saúde e bem-estar, estética e performance. A maior expectativa dos alunos é ter um atendimento satisfatório, com atenção e acolhimento e que, especificamente, por meio de exercícios, de preferência os que são prazerosos, o professor consiga ajudá-los a alcançar os seus objetivos. Um aspecto metodológico muito importante na ação pedagógica do professor, além de montar um plano de exercícios e métodos de treinamento, é selecionar os que são mais eficientes e prazerosos ao aluno, com o respectivo monitoramento para a execução e a correção. Este procedimento pedagógico é um dos fatores determinantes para o sucesso do professor, pois demonstra seu envolvimento no processo educativo, deixando claro que não é um simples contador de número de execuções. Durante muitos anos, ao trabalhar como professor de ginástica coletiva, personal trainer e mesmo diretor técnico de academias de ginástica, por inúmeras vezes escutei dos alunos a seguinte frase: Muitos alunos das aulas coletivas e frequentadores das salas de musculação, pela falta de atenção, orientação específica, adequação dos exercícios, ausência de correção, auxílio durante o treino e até mesmo incentivo (reforço positivo), acabaram optando pelo atendimento personalizado, na tentativa de suprir todas as suas necessidades. Diante deste quadro, recomendamos que os profissionais que atuam como personal trainers, professores de aulas coletivas e musculação, fiquem bem atentos ao corrigir os alunos, utilizando boas orientações didáticas para que os alunos se sintam seguros, motivados e percebam o seu progresso. “Quando estou fazendo exercício, não sei se estou executando corretamente... ninguém me corrige!” Os mecanismos de informação utilizados nas aulas No treinamento personalizado ou individualizado, nas salas de musculação, os profissionais têm à disposição inúmeras máquinas e equipamentos com grande avanço tecnológico capaz de produzir um rápido aumento da força muscular. O exercício em cadeia cinética fechada, por exemplo, a extensão dos joelhos (foto), favorece o fortalecimento muscular. Como o corpo está estabilizado na máquina, o exercício é considerado de baixa complexidade e fácil execução. Se, por um lado, não há dúvidas de que as máquinas ajudam a melhorar a performance, reduzindo as chances de lesões, por outro, é possível que os alunos estejam cada vez mais dependentes das máquinas e, portanto, menos capazes de utilizar o sentido cinestésico para ajudar a realizar as contrações musculares. Frequentemente observamos, nas aulas de ginástica coletiva ou na sala de musculação, alunos com dificuldade de realizar inúmeros exercícios, principalmente os sedentários inexperientes. É muito comum a modificação na postura básica do exercício, resultante de contração desnecessária de grupos musculares que estariam indiretamente envolvidos no exercício. Na avaliação multifuncional, eles apresentam muitos deficit de movimento – a falta de habilidade para realizar com um bom padrão as habilidades motoras decorrentes da pouca mobilidade, estabilidade, coordenação motora e consciência corporal. Os mecanismos de informação Quando o professor faz a demonstração do exercício, emite uma elevada quantidade de informações que devem ser percebidas e decodificadas pelo aluno, que, por sua vez, deve responder executando o exercício demonstrado. Na prática, o que notamos, muitas vezes, é a dificuldade do aluno em executar o exercício proposto, sendo, portanto, necessária a intervenção do professor no sentido de realizar a correção. Quando o professor está ministrando uma aula coletiva, ou de forma personalizada, utiliza os seguintes tipos de informação (Figura 1): Figura 1 – Tipos de informações utilizadas nas aulas personalizadas e em grupos (GUISELINI, 2013). Informação Visual: demonstra o exercício, utiliza gestos e expressóes faciais. Verbal: enuncia o exercício, corrige a classe etc. Tátil-Cinestésica: toca no aluno para corrigir, auxiliar. Verbal-Visual: simultaneamente fala enquanto demonstra. Veja, no quadro a seguir, as informações e respectivas ações frequentemente utilizadas pelos professores, tanto nas aulas de ginástica como nas salas de musculação ou no treinamento personalizado. Quadro 1 – Tipos de informação e ação do professor. Tipo de informação Ação do professor 1. Verbal 1. Descreve verbalmente o exercício. 2. Faz a contagem. 3. Enfatiza pontos de estresse. 4. Dá feedback sobre a execução. 5. Chama a atenção para o músculoque está trabalhando. 2. Visual-gestual 1. Demonstra o exercício. 2. Utiliza gestos e expressões faciais. 3.Verbal-visual-gestual 1. Demonstra o exercício. 2. Utiliza gestos e expressões faciais. 3. Simultaneamente, fala enquanto demonstra. 4. Tátil-cinestésica 1. “Toca” nos diferentes músculos para corrigir a execução do exercício. 2. Segura nas diferentes partes do corpo para ajudar na execução do exercício. Um fator determinante para a boa ou má execução do exercício é o desenvolvimento do sentido cinestésico. O nosso corpo tem mecanismos perceptivos que fornecem informações com relação à posição do corpo, ao músculo que está sendo contraído, ao grau de tensão/relaxamento, ao equilíbrio, à contração dos músculos agonistas e ao relaxamento dos antagonistas. A capacidade de interpretar e executar respostas satisfatórias tem relação com o sentido cinestésico, bem como as experiências anteriores adquiridas ao longo dos anos de treinamento. Quando o professor está ministrando uma aula em grupo ou personalizada, utiliza grande quantidade de informações (Quadro 1). Quando estas informações não são suficientes para que o aluno perceba e realize de forma correta o exercício, faz-se necessária a utilização da informação tátil-cinestésica, como mecanismo de correção e auxÍlio na execução dos exercícios. O Sistema de Correção Tátil-Cinestésica - SCTC Uma das formas de corrigir o aluno é por meio da correção que envolve o toque sobre o grupo muscular ou a região do corpo na qual está sendo realizada a ação muscular. Esta forma de corrigir o aluno não é recente, muito embora seja desconhecida pela maioria dos profissionais de Educação Física que, muitas vezes, utilizam apenas a correção verbal ou visual. Esta técnica é conhecida como Correção Tátil-Cinestésica. Nos anos 1960, Margareth Rood, da Universidade do Sul da Califórnia, foi pioneira no uso do toque para a reabilitação de lesões neuromusculares. Esta técnica é utilizada pelos fisioterapeutas nos programas de reabilitação, não sendo comum entre os profissionais que trabalham com pessoas saudáveis. Segundo Michael G. Lacourse, PhD, da Universidade do Estado da Califórnia, o STT – Sistematic T.O.U.C.H. Training (Sistema de Treinamento pelo Toque) não apresenta trabalhos experimentais que explicam cientificamente como este sistema funciona. Contudo, para o referido autor, esta técnica foi elaborada de acordo com vários princípios científicos que são bem conhecidos na fisiologia e na aprendizagem motora. De acordo com os fundamentos do Sistema de Correção Tátil-Cinestésica, a pele (através de seus receptores) é capaz de transmitir importantes informações cinestésicas sobre o músculo para o Sistema Nervoso Central (SNC), que também é capaz de realizar uma contração reflexa quando o músculo é tocado. As evidências científicas indicam que os receptores da pele são conectados com neurônios motores da coluna e do córtex sensorial e, quando estimulados, estes receptores podem facilitar a contração muscular. Esta forma de corrigir o aluno não é recente, muito embora seja desconhecida pela maioria dos profissionais de Educação Física que, muitas vezes, utilizam somente a correção verbal ou visual. Correção Tátil- -Cinestésica Os benefícios do Sistema de Correção Tátil-Cinestésica - SCTC 1 43 2 5 As experiências realizadas pelos professores e técnicos com o SCTC têm indicado cinco possíveis benefícios: Durante a contração muscular, o SCTC auxilia o aluno a dirigir a atenção para o movimento básico. Isto pode prevenir a perda de energia. O SCTC pode estimular o recrutamento adicional de fibras musculares durante o exercício. O SCTC propicia uma forma de biofeedback na qual o professor atua como “eletromiógrafo”. Este fato dá condição ao professor de avaliar o grau de tensão da contração durante o exercício. O SCTC pode ajudar a eliminar tensões desnecessárias e propiciar o relaxamento daqueles músculos que devem manter-se inativos durante o exercício. O SCTC pode ajudar a retardar os efeitos da fadiga muscular e a realizar repetições adicionais durante a série de exercícios. Aplicação prática O Sistema de Correção Tátil-Cinestésica tem quatro passos para a sua realização: PA SS O 1 PA SS O 2 PA SS O 3 PA SS O 4 Enquanto o aluno realiza o aquecimento geral e específico, o professor observa a execução dos exercícios propostos. O período inicial da aula é uma excelente oportunidade para avaliar o nível de execução das habilidades, as eventuais dificuldades ou mesmo os erros adquiridos anteriormente. O professor seleciona um exercício e fornece as informações sobre a estrutura e o funcionamento dos músculos nele envolvidos. O professor descreve verbalmente e executa o exercício, identificando a localização do músculo envolvido na respectiva parte do corpo que está trabalhando. Chama a atenção para detalhes, quando necessário. Os alunos realizam uma série simples de repetições, enquanto o professor utiliza o toque para avaliar o grau de tensão no músculo motor primário, no antagonista e nos demais músculos envolvidos no exercício. O professor verifica se ocorre o desequilíbrio muscular, procurando identificar o nível de contração entre os músculos ativos, e providencia um feedback para o aluno. O professor também aplica a técnica de “toque para relaxar”, para ajudar o aluno a compreender qual o músculo que deve estar relaxado durante a realização do exercício. Após o período de avaliação, a sequência de contrações é gradualmente modificada por meio de feedbacks contínuos e instruções verbais durante as demais séries e repetições. Quando o “toque” é usado no final das repetições ou das últimas séries, pode ser efetivo para diminuir o início da fadiga muscular. Este procedimento permite que o aluno realize repetições adicionais. Segundo Michael Lacourse, o SCTC utiliza seis técnicas de manipulação, cada uma com um objetivo específico. No entanto, duas são as mais comuns: Mantendo o toque: é realizado com a mão aberta colocada em contato com o músculo com o objetivo de avaliar o nível de contração do músculo envolvido. É usado também para dirigir a atenção do aluno para o músculo tanto durante a contração como no relaxamento. Toque e apalpar/contrair: utilizados tanto para avaliar o nível de contração como para estimular um músculo durante a fase de contração dinâmica ou estática. É importante ressaltar que em cada uma das técnicas de manipulação citadas anteriormente estão incluídas a velocidade, a intensidade e a frequência do toque. Elas podem ser utilizadas durante cada um dos quatro passos do sistema e para cada aluno em particular, dependendo das suas necessidades. Estes fatores são considerados fundamentais para otimizar a sequência de contração muscular durante um exercício. Aplicação Prática do Sistema de Correção Tátil-Cinestésica – SCTC O SCTC é uma técnica que pode ser utilizada nas aulas coletivas, no treinamento personalizado (P.T.), na sala de musculação, no treinamento esportivo, na reeducação postural, para alunos sedentários e experientes, que necessitam de ajuda para melhorar a qualidade de execução dos exercícios. Para aplicá-la é necessário que o professor tenha um conhecimento básico de biomecânica, sensibilidade e habilidade para “tocar no aluno”. Esta “habilidade de tocar no aluno” requer muita prática; é comum que nas primeiras vezes o professor tenha dificuldade, até que adquira confiança na sua habilidade de corrigir. Quanto mais corrigir, melhor será a sua habilidade. É necessário que ambos, professor e aluno, estejam motivados para realizá-lo. Este métodotem como principal objetivo melhorar a eficácia de todos os métodos de treinamento utilizados pelos professores nos diferentes exercícios. Pode ser aplicado nas aulas coletivas – treinamento multifuncional, ginástica localizada, alongamento, musculação, entre outras –, no entanto, no treinamento personalizado é mais fácil, pois o professor tem somente um aluno para dar total atenção. Uma vez que o professor consiga abrir os canais de comunicação entre a mente e os músculos do aluno, o treinamento pode ser muito mais eficiente e, consequentemente, proporcionar maior motivação, ajudando, inclusive, na permanência do aluno. Como procedimento pedagógico, conduta profissional, o professor deve informar aos seus alunos que “durante as aulas utilizará diferentes tipos de toque para auxiliar aqueles que têm dificuldades para realizar determinados tipos de exercício que requerem mais coordenação e consciência corporal”. Quando o professor corrige o aluno, está demonstrando interesse, dedicação, atenção pessoal e, principalmente, carinho. Referências Bibliográficas GUISELINI, M. Total fitness: força, resistência, flexibilidade. 2. ed. São Paulo: Phorte, 2001. ROTHEMBERG, B; ROTHEMBERG, O. Toque para treinamento de força. São Paulo: Manole, 1999.
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