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Eliene Chacon - Diversidade Sexual Na Perspectiva de Profissionais e Estudantes de Psicologia

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Diversidade Sexual a Partir da Perspectiva de Estudantes e Profissionais da Psicologia
Eliene Cristina Alves Chacon
Ana Flávia do Amaral Madureira
Centro Universitário de Brasília
RESUMO – Qual é a atual concepção de profissionais e estudantes de psicologia acerca das discussões sobre diversidades sexuais na atualidade? Quais são as convergências e divergências de opiniões. Os estudantes e profissionais da área clínica estão preparados para lidar com o sofrimento de indivíduos que “fogem” à norma heterossexual? Este artigo visa mostrar as concepções e crenças de profissionais e estudantes de psicologia acerca da homofobia, e das questões de diversidade sexual. Para tanto, foi realizada uma pesquisa de campo, no qual foram realizadas entrevistas semiestruturadas e a utilização de imagens para serem realizados questionamentos referentes às opiniões dos participantes acerca da temática da psicologia e a diversidade sexual
Palavras-chave: Homofobia; diversidade sexual; psicologia; identidade; hierarquias de sexualidade e gênero. 
Contexto atual da discussão sobre homofobia no Brasil.
Qual a percepção dos estudantes e profissionais de psicologia sobre a homofobia? Quais são suas percepções sobre a diversidade sexual? De que maneira eles percebem o papel da psicologia no que se refere às questões de gênero e sexualidade?
Este trabalho está vinculado ao projeto de pesquisa guarda-chuva da professora doutora Ana Flávia Madureira, intitulado “Identidades Sociais. Diversidade e Preconceito”. Dentro de tal projeto existem três vertentes de estudo, este trabalho responde pela segunda vertente: “Bases Sociais e Psicológicas do Preconceito”. De forma mais específica o tema é: Diversidade Sexual a Partir da Perspectiva de Estudantes e Profissionais da Psicologia.
Este artigo tem relevância devido às discussões acerca da homofobia terem recebido espaço midiático e político nunca antes alcançados. Tal discussão inicialmente iniciada pela tentativa de distribuição de kits anti-homofobia em escolas públicas, rechaçada por diversos deputados pertencentes à bancada evangélica e católica, com a acusação de que o kit, pejorativamente nomeado de “Kit Gay”, incentivaria a homossexualidade dos estudantes.
A partir dessa discussão sobre a tentativa de se inserir no ensino público materiais que levassem a compreensão da homossexualidade, discutiu-se também a PLC 122/06, que é um Projeto de Lei Complementar de iniciativa da Câmara dos Deputados, com o objetivo de criminalizar a discriminação motivada unicamente pela orientação sexual (Vecchiatti, 2011). 
A não aprovação desse PLC teve como fundamento o prejuízo à livre expressão dos indivíduos que, segundo o pastor Silas Malafaia, é contra o artigo 5º da constituição, porque criminaliza a opinião, bem como a liberdade de expressão: Até onde essa liberdade poderia ir sem, no entanto, ofender e denegrir a imagem do outro? A livre opinião é também a livre demonstração de ódio? A liberdade religiosa abrange também o direito de expulsar homossexuais, e outros indivíduos que não se encaixam na heteronormatividade, de espaços públicos? Ou de tratá-los de forma que poderiam receber um tratamento psicológico como previsto na proposta conhecida como “cura gay”?[1: Disponível em: http://www.vitoriaemcristo.org/_gutenweb/_site/hotsite/PL-122/]
Estes acontecimentos recentes levam ao questionamento quanto à pertinência de se investigar as concepções de estudantes e profissionais de psicologia sobre a homofobia. Uma vez que a discussão é relevante em termos socioculturais, a partir do fato de que modificam valores já enraizados na sociedade e na cultura brasileira, frutos de heranças religiosas que afetam toda a forma de se enxergar os indivíduos, suas concepções, preconceitos e conhecimentos acerca da homofobia.
A questão da hierarquização entre as identidades de gênero: breve discussão sobre a homofobia.
Movido pelo conceito de hierarquização social analisado por Santos (2005), no qual os gregos cultivaram a ideia de superioridade deles em relação aos outros, os quais denominavam e “bárbaros”, no qual os gregos se viam superiores por serem detentores do conhecimento e de “civilidade”. Enquanto os bárbaros tinham uma sociedade diferente, e por isso, eram julgados inferiores. A sociedade era hierarquizada a partir dos conceitos de “Mobilidade”, no qual o estabeleceu-se que os seres eram julgados como superiores e inferiores de acordo com sua qualidade.
O conceito de mobilidade parte do pressuposto que o superior (norma) é considerado o móvel que move os outros (inferiores) sem precisar se mover, pois, neste caso, a imobilidade é o que representa a perfeição, logo não necessita de modificação. Ao abordar este conceito no âmbito da discussão de sexualidade e de gênero, inferirei aqui que o imóvel e superior (norma), corresponde à heteronormatividade, e ao sexo masculino. Enquanto que o móvel e inferior corresponde àqueles que transgridem. 
A visão da heteronormatividade como conceito de superioridade sobre outros indivíduos, que não se encaixam nessa normativa, ganha uma projeção mais real quando se utiliza o conceito de que aquilo que não se muda é a norma. E nesta norma podemos inserir o superior como modelo a ser seguido, aquele que é socialmente considerado como o certo, no caso, a heterossexualidade, mais precisamente, o homem branco, heterossexual, casado.
Ao discutir a hierarquia sexual das sociedades, a antropóloga Gayle Rubin (1989; citado por Toledo & Pinafi, 2012) evidencia que a existência dessa hierarquia surge da necessidade de traçar e manter uma fronteira entre o sexo “bom” e o “mau”. Uma vez que a partir da herança judaico-cristã, os outrora chamados de sodomitas tornam-se transgressores das leis divinas, e, com isso, encaixam-se na categoria de “mau”. Tal pensamento converge com os preconceitos que, segundo Madureira (2007) definem-se como “fronteiras simbólicas rígidas, construídas historicamente, com um forte enraizamento afetivo, que acabam por se constituir em barreiras culturais entre grupos sociais e indivíduos”
Como sexo “bom” temos o topo da hierarquia: casais heterossexuais casados, monogâmicos e procriativos como norma de boa conduta sexual a ser seguida por todos. Por outro lado, temos na base dessa hierarquia os homossexuais, que transgridem a barreira dos universos masculino e feminino, - no qual o universo feminino é tangido pela delicadeza, fragilidade, submissão, respeitabilidade e honradez; enquanto que o universo masculino é tangido pela virilidade, violência, força e dominação - são ainda vistos como hereges, marginais e promíscuos, sobretudo com o discurso religioso tão patente em nossa política na atualidade. (Toledo & Pinafi, 2012; Parker, 1991; Mott, 2012)
Isso fundamenta o discurso de Borrillo (2009), quando ele apresenta preconceito como uma manifestação arbitrária consistindo em qualificar o outro como contrário, inferior ou anormal. Por essas características esse outro é posto fora do universo comum dos humanos. No caso, seria o que Rubin (1989, citada por Toledo & Pinafi, 2012) classificaria como sexo “mau” todas as outras configurações de casais que fujam da normativa heterossexual, sobretudo, a homossexualidade.
Ainda trabalhando com o conceito de hierarquias, o sexismo como forma de separação e constituição de barreiras entre o universo masculino e o feminino, o que contribui ainda mais para a homofobia. No universo masculino determinados padrões de conduta são altamente aceitos, e até mesmo exigidos daqueles que tentam se encaixar no padrão de superioridade masculina, sobre a inferioridade feminina. O ser homem significa ter poder, ser o dominador, com todos os atrativos, cercado de mulheres; este modelo duramente conquistado pelo homem, necessitando um árduo trabalho para mantê-lo. Em contrapartida, o que identifica uma mulher é sua condição submissa, frágil, imperfeita, delicada. Isso trata-se do que Junqueira (2009) chama de masculinidade hegemônica. A concepção de um homem dominante versus uma mulher dominadaé vista como uma fórmula única, fixa e permanente. Essa fórmula é imutável e deve ser seguida. (Parker, 1991; Louro, 1997; Madureira, 2010; Junqueira, 2009).
A identidade para ser formada e existir depende de algo exterior à ela, como a identidade masculina depende de uma identidade feminina, na qual a identidade feminina é dotada de características que não devem existir na identidade masculina e vice e versa.
A identidade heterossexual, depende da ideia de homossexualidade. Uma vez que o termo “heterossexualidade” só passou a existir então, após a instituição do termo “homossexualidade”, como uma forma de identificar e diferenciar os indivíduos pertencentes a um grupo ou ao outro. Com isso, a heterossexualidade só ganha sentido quando então existe a homossexualidade. A diferenciação homo/hétero não é apenas constatada, ela serve, sobretudo, para ordenar o regime de sexualidade no qual somente os comportamentos heterossexuais se qualificam como modelo social. (Louro, 2009; Woodward, 2000; Borrillo, 2009).
Segundo Woodward (2000) e Moreira & Camara (2008), ao se focalizar as identidades como formas de diferenciação, também fortalece a ideia de identidades excludentes. No caso, características pertencentes à identidade feminina, não podem fazer parte da identidade masculina. Uma vez que um homem dotado de características ditas pertencentes ao universo feminino perde seu status de “macho”, assim como uma mulher dotada de características masculinas, passa a transgredir o universo feminino, visando se encaixar num universo “superior” ao seu. Da mesma forma, características que constituem o indivíduo homossexual, o de transgressores da norma, não podem estar contidas na constituição do indivíduo heterossexual. Ou seja, as identidades masculina e feminina; heterossexual e homossexual são consideradas mutuamente excludentes. Há entre essas identidades uma barreira rígida que delimita o espaço de onde começa uma e termina a outra (Louro, 2009; Madureira, 2010; Parker, 1991).
O discurso de hierarquização e delimitação de espaços e características pertencentes a um grupo e ao outro, ajuda-nos a compreender o surgimento da homofobia. O atrelamento da perfeição à figura masculina e da imperfeição a figura feminina, mostra-nos que o indivíduo que transpõe essas barreiras firmemente montadas ao longo da construção da heteronormatividade, invadindo qualquer um dos dois universos que delimitam o que é masculino, e o que é feminino, é um transgressor da norma, e dessa forma ele deve ser punido e excluído.
Todavia, esse indivíduo não pode ser considerado um homem “verdadeiro”, ou uma mulher “verdadeira” pois falta-lhe os genótipos típicos dos gêneros dicotômicos aceitos pelo discurso da “verdadeira” sexualidade, dentro dos limites da heterossexualidade reprodutiva. A transgressão dessa norma heterossexual não afeta somente a identidade sexual do sujeito, pois muitas vezes é considerada socialmente como uma “perda” do seu gênero “original” (Parker, 1991; Louro, 2009; Madureira, 2010).
O homossexual vê-se então excluído de dois grandes grupos delimitados uma vez que equivale a uma personalidade inacabada de integração da “natureza” masculina ou feminina, tornando-se à margem, uma vez que suas características são transgressoras, e nesta pirâmide de hierarquias de sujeitos e de sexualidade, encontra-se na base, inferior. Essa visão do indivíduo como inferior que fomenta a violência psicológica, física, e a exclusão social por ele vivida. Pois a homofobia assim como todos os tipos de preconceitos, pode resultar em discriminação, que é o preconceito posto em ação. As práticas discriminatórias são sustentadas por ideias preconcebidas. Especificando, a homofobia é uma modalidade de preconceito e discriminação direcionada contra homossexuais, baseada na suposição da normatividade da heterossexualidade e dos estereótipos de gêneros. Emergido coo consequência do regime binário essencializado de feminilidade e masculinidade como identidades excludentes (Lionço & Diniz, 2009; Rios, 2009; Louro, 2009; Madureira & Branco, 2012).
A pesquisa realizada, e a opinião dos entrevistados.
A pesquisa na qual foi embasada este artigo foi apoiada nos pressupostos da Epistemologia Qualitativa, proposta por González Rey (Citado por Madureira & Branco, 2001), cujo um dos pressupostos é a produção do conhecimento na pesquisa como um processo construtivo interpretativo, no qual se privilegia a pluralidade a pluralidade dos fenômenos que vai além de uma relação causa e efeito entre si. 
O enfoque da Epistemologia Qualitativa é o da construção entre pesquisador e pesquisado, não somente uma relação entre pesquisador e teoria. O pesquisador, bem como o pesquisado são coautores no processo da construção do conhecimento.
As entrevistas foram realizadas seguindo um roteiro previamente estabelecido, com perguntas que deveriam ser feitas a todos os entrevistados, pelo modelo da entrevista semiestruturada, que permite com que entrevistador e entrevistados formules sobre as respostas dadas, e que essas possam gerar novos questionamentos a serem respondidos durante a entrevista (Manzzini, 1991 citado por Manzzini, 2004; Manzzini, 2004).
Outro método utilizado durante a pesquisa foi o uso de imagens como artefatos culturais proposto por Madureira (2008). A autora, em sua passagem por museus, e observando obras de arte na Europa, notou a partir das análises desenvolvidas por Vygotsky (citado por Madureira, 2008) que as artes envolveriam uma série de técnicas sociais, e sentimentos que promoveriam novos níveis de mediação culturais nos aspectos emocionais e afetivos, de forma integrada aos processos cognitivos (Vygotsky, citado por Madureira, 2008). O objeto artístico corresponderia a sentimentos encarnados em forma (Rosa, citado por Madureira, 2008).
De acordo com Madureira (2008), é através da visão que as pessoas classificam as outras pessoas em grupos sociais distintos no cotidiano, sendo que estereótipos cumprem um papel de identificação na tarefa cotidiana e canalizam as experiências vivenciadas por elas. Este conceito foi utilizado para embasar a pesquisa com a utilização de imagens visando observar o impacto que elas poderiam causar aos entrevistados na pesquisa.
Foram entrevistados quatro participantes, sendo dois psicólogos graduados e duas estudantes de psicologia, de duas faculdades distintas. Com eles firam utilizadas as técnicas de entrevista semiestruturada, que seguia um roteiro de perguntas, e a utilização de imagens como artefatos culturais, na qual utilizaram-se cinco imagens previamente selecionadas.
Foram utilizados como instrumentos de pesquisa um roteiro com 12 perguntas para a entrevista semiestruturada, 5 imagens, com cinco perguntas utilizadas para a segunda parte da entrevista.
Os materiais utilizados para o registro das entrevistas foram: um tablet Galaxy 10.1 Samsung com um aplicativo de gravação de áudio, um aplicativo de texto onde estava escrito o roteiro de perguntas e onde estavam montadas as imagens. 
Ainda foram utilizadas oito folhas de papel A4 nas quais estava impresso o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1), uma caneta esferográfica azul. 
Participantes: participaram da pesquisa ao todo, quatro pessoas, não houve delimitação quanto ao gênero e idade. Desses participantes dois, um homem e uma mulher, ambos psicólogos já graduados; duas estudantes do curso de psicologia, sendo uma do sexto semestre, e outra do décimo semestre.
Procedimento: Primeiramente foram elaboradas em grupo as questões que fariam parte do roteiro de perguntas, e a seleção das imagens que fariam parte da pesquisa.
As imagens foram selecionadas de maneira que não fossem ofensivas, ou causassem quaisquer transtornos aos entrevistados. Na parte de apresentação de imagens foram apresentadas ao entrevistado:
• Uma montagem de duas imagens com dois casais homossexuais (um casal de gays e um casal de lésbicas) cada um em suas respectivas cerimônias de casamento;
• Uma montagem de duas fotos de dois casais homossexuais(um casal de gays c um casal de lésbicas) abraçados aos seus respectivos filhos;
• Uma imagem de quatro garotos brincando com bonecas;
• E uma montagem de três casais: um heterossexual, um casal de gays, e um casal de lésbicas.
Após a montagem do instrumento para a pesquisa, e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os projetos de pesquisa foram enviados ao CEP UniCEUB, sendo aprovados pelo Comitê (Anexo 2).
Enquanto a pesquisa passava pela avaliação, foi feito o contato com os prováveis participantes: dois/duas estudantes e dois/duas profissionais da área de psicologia, para saber a disponibilidade de serem entrevistados.
Nos dias marcados para a entrevista, foi entregue aos participantes o TCLE contendo todas as instruções da proposta e riscos da pesquisa, já assinados pela orientadora, para que os participantes o lessem e os assinassem, dando sua autorização para a participação das entrevistas.
A partir das respostas dos entrevistados, pode-se analisar as variadas concepções e crenças a respeito da diversidade sexual. Ainda que atualmente não haja estudos definitivos que possam atestar sobre a possibilidade de a orientação sexual ser uma opção, ou uma condição do indivíduo devido a causas genéticas. Como apresentados por Bailey et al. (1993; 1986 citado por Bailey et al. 2000) em seus estudos com gêmeos monozigóticos e dizigóticos, foi constatado que a homossexualidade ocorre mais devido à genética do que ao ambiente familiar e outras influências ambientais. Acreditava-se que no caso do homossexual masculino a causa estava no cromossomo X, contudo no caso da homossexualidade feminina não estavam certos quanto a causa genética.
 Entretanto, em outro estudo, realizado pelo mesmo cientista em 2000, a conclusão chegada foi a de que o ambiente influenciaria mais na sexualidade do indivíduo do que a genética em si. Nesta segunda pesquisa foram encontrados pelo cientista e seus colaboradores fatores familiares que podem influenciar na orientação sexual de um indivíduo, sendo dois desses fatores relacionados a infância do sujeito. O cientista afirma ter sido difícil separar as contribuições genéticas e as do ambiente compartilhados pela variância familiar. (Bailey et Al. 2000). Pode-se entender, então, que apesar dos estudos realizados pelo cientista em questão e seus colaboradores, ainda não se chegou a qualquer conclusão sobre as causas da homossexualidade.
O objetivo geral da pesquisa que embasou este artigo foi o de analisar as concepções e crenças de estudantes e profissionais de psicologia sobre questões relativas à diversidade sexual no contexto da sociedade brasileira. Os objetivos específicos são: analisar se há indícios de homofobia nos relatos dos participantes; investigar o papel da psicologia no que se refere às questões relativas à diversidade sexual, identificar divergências entre relatos de estudantes e profissionais de psicologia.
4.1. Concepção e crença dos estudantes e profissionais de psicologia sobre a diversidade sexual
Ao ser questionada sobre a homossexualidade, a estudante D. emitiu a seguinte opinião: “Eu vejo a questão da homossexualidade como como um direito do indivíduo, uma opção das pessoas [...] acho que é uma opção e não uma condição “ (D., estudante de Psicologia). A concepção de opção mostra-se contraditória com a lógica de que, uma vez que se o indivíduo escolhesse entre as opções “heterossexualidade” e “homossexualidade”, ele poderia a qualquer momento deixar de ser homossexual ou heterossexual, sem que isso cause ao indivíduo qualquer sofrimento. Para a psicóloga Adriana Müller, a questão da homossexualidade é uma orientação do desejo que começa a aparecer durante a puberdade do indivíduo, a pessoa então se percebe sexualmente atraído por outra pessoa do mesmo sexo. [2: Programa da rádio CBN – CBN e Família da cidade de Vitória – ES, exibido em Abril de 2013 - http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2013/04/cbn_vitoria/comentaristas/adriana_muller/1433042-homossexualidade-nao-e-uma-opcao-e-e-preciso-haver-respeito.html]
Essa orientação do desejo pode gerar confusão no indivíduo, sobretudo quando este se encontra inserido em um ambiente, ou grupo no qual se valoriza a heterossexualidade sobre as outras formas de expressão da sexualidade e patologizam ou demonizam qualquer outra orientação sexual. Neste contexto, poucos jovens se sentirão à vontade em se exporem, e não raramente enfrentarão processo de intensa negação da própria sexualidade (Junqueira, 2009). Entretanto, cabe questionar se a fala da psicóloga Müller de fato condiz com a realidade, uma vez que há casos de homossexuais que descobrem sua orientação sexual somente durante a idade adulta, e há crianças que já manifestam a orientação homossexual desde a mais tenra idade.
O discurso da opção ignora o sofrimento do indivíduo causado pela discriminação sofrida por sua orientação sexual, uma vez que certos tratamentos poderiam então ser utilizados para a mudança dessa opção, ou “cura”, como é apresentado por Sanders (1994, citado por Toledo & Pinafi, 2012): Técnicas behavioristas eram empregadas com o uso de controles aversivos para a “redesignação” de um homossexual para que se tornasse heterossexual, sugerindo o contato com o sexo oposto numa busca por um relacionamento heterossexual antes de gays e lésbicas aceitarem sua própria homossexualidade. Tal prática visava fazer com que homossexuais tentassem descobrir se sua homossexualidade era real, ou somente uma perversão.[3: Controle aversivo: Aplicação de procedimentos baseados em contingências aversivas, nos quais em um determinado contexto apresentam-se punições e reforços negativos, que são a retirada de estímulos positivos, com o intuito de fazer com que o indivíduo modifique o comportamento. (Baum, 2006)]
Contrapondo a concepção da estudante, temos aqui a opinião de outra entrevistada:
 “Eu acho que a sexualidade [...] acontece independente da gente controlar, ou da gente manipular. A gente não adquire sexualidade, ela se impõe e não tem nenhum momento em que a gente consiga [...] direcionar. [...] Eu penso assim, se a gente pudesse escolher, de fato a gente não escolheria ser homossexual, porque de fato a nossa sociedade é muito preconceituosa” (B. R., psicóloga). 
Esta concepção encontra-se mais favorável ao que é direcionado à despatologização da homossexualidade, e de que qualquer tratamento a ser realizado com o homossexual deve ser voltado ao sofrimento acarretado pelo preconceito por ele/a sofrido, e não voltado a uma mudança de opção ou ao tratamento de uma suposta doença.
Segundo Castañeda (2007, citado por Toledo & Pinafi, 2012), aquele psicólogo que coloca em pauta a homossexualidade do indivíduo como causa dos problemas que ele enfrenta, mostra seu viés homofóbico. O terapeuta também não pode compartimentalizar a homossexualidade do indivíduo e atribuí-la somente ao âmbito dos relacionamentos sexuais, e nem tratá-lo como heterossexual, pois ele não o é.
Outra visão curiosa a ser apresentada sobre a percepção da diversidade sexual, é a imagem das lésbicas, e como o relacionamento entre elas é percebido. “Era muito comum duas mulheres andarem de mãos dadas, eu costumava abraçar meninas com carinho, dar abraços. [...] se eu ver uma menina andando de mãos dadas com outra, eu não vou deduzir que seja homossexual, mas vou acreditar que é uma heterossexual de mão dada com a outra” (D. Estudante de Psicologia).
Essa visão acentua a invisibilidade das lésbicas. Um exemplo dessa invisibilidade foi apresentado por Borrillo (2009), em uma anedota atribuída à rainha Vitória, que instituiu penas às relações sexuais entre homens. Quando interrogada do porquê de não punir também mulheres que tinham relações sexuais umas com as outras, a rainha respondeu: “Como punir algo que não existe? ”. Entretanto essa invisibilidade também é atribuída e justificada pela ideia do afeto com o mesmo sexo, que é naturalmente feminino citada por ele na qual é comum observar mulheres trocando carícias publicamente. Essa aceitação pode serconfundida com uma maior tolerância em relação aos relacionamentos homossexual entre mulheres, quando, no entanto, essa “tolerância” pode ser observada com relação a casais nos quais ambas são mulheres de aspectos físicos e comportamentais “femininos”, brancas e “casadas” (Borges, 2005 citado por Junqueira, 2009; Junqueira, 2009; Louro, 2009).
A ideia de ambas as mulheres participantes de um relacionamento homossexual terem as características ditas femininas, vem de um imaginário fantasioso por parte de alguns homens heterossexuais, e a possibilidade de dominar duas mulheres, como é expresso na fala de outro entrevistado.
“Eu acho que tem um senso comum em relação a isso, parece que a feminina é um pouco mais aceita [...] do que a masculina, a masculina tem ainda como se fosse um repúdio, [...] quanto a feminina, acontece que alguns homens aceitam, tem aquela vontade de participar [...]. ” (A. N., psicólogo).
Entretanto, essa aceitação por parte do público masculino pode ser cessada, a partir do momento em que o casal de mulheres possa rechaçar essa fantasia, bem como se uma das integrantes do relacionamento tiver uma aparência masculinizada e pouco atraente para a realização dessa fantasia, que é sedimentada pela iconografia pornográfica heterossexual. Isso é um reflexo da misoginia, no qual a sexualidade feminina é tratada como um objeto do desejo masculino. Nesse sentido, os jogos sexuais entre mulheres são utilizados somente para a excitação do homem, e será sempre o homem que encerrará a relação sexual, pela penetração e ejaculação (Borrilo, 2009).
A homossexualidade sendo tratada como uma opção, demonstra que o senso comum ainda acredita que a orientação dos afetos é algo totalmente racional e mutável segundo o desejo, ou humor dos indivíduos. Ainda não se chegou a qualquer consenso sobre as causas da homossexualidade, entretanto, observa-se que esse movimento em busca de causas para a orientação sexual e afetiva está somente voltada às pessoas que são homossexuais, uma vez que não se problematizam as causas da heterossexualidade, dita como normal e natural, que foi sedimentada pela cultura e religião como sendo a norma e padrão a ser seguido.
 
4.2 - A cura gay em discussão.
Em 1999, o Conselho Federal de Psicologia provou a Resolução nº 01/99 que estabelece que a homossexualidade não constitui doença, distúrbio ou perversão, e que psicólogos não devam exercer qualquer ação que contribua para a patologização das práticas homossexuais, e nem realizar qualquer tratamento que vise curar a homossexualidade (Toledo & Pinafi, 2012).
Em contrapartida, o deputado federal João Campos escreveu o projeto de lei PDC 234/11 apelidado de “cura gay”, que determina o fim da proibição do CFP ao tratamento da homossexualidade. O Projeto de Lei Complementar em questão permite ao homossexual que não estiver em concordância com a sua sexualidade a procurar tratamento psicológico buscando a reconfiguração da sua orientação sexual por meio de terapias. 
Todavia, cabe questionar se a causa da discordância do homossexual em relação a sua sexualidade está ligada à sexualidade propriamente dita, ou a outros fatores que possam impulsionar a não aceitação de sua orientação sexual, como a sua não aceitação em espaços sociais como escola, trabalho, lugares públicos ou na própria família. 
A questão é que quando o psicólogo embasa seu diagnóstico e, consequentemente, volta o tratamento à sexualidade do sujeito, ele exclui todos os fatores sociais, culturais e familiares no qual o indivíduo em sofrimento psíquico está inserido. Cabe compreender que clínica psicológica deve tratar o sofrimento do indivíduo compreendendo o meio e a cultura no qual ele se encontra. Compreender que o indivíduo não é sozinho em um universo, e que ele participa, age influenciando e sendo influenciado por este meio. Desta forma observando e percebendo que este indivíduo pode estar sofrendo discriminações, ou sendo alvo de chacota dentro da própria família, ou em espaços os quais frequenta. Como mostra a fala de A. N.: 
“[...] Tem que ver o contexto em que ele vive, ver se é realmente necessário ele passar por esse processo [...] deixar de ser homossexual, ou se na verdade o problema é outra coisa. Né? Eu acho que como psicólogo tem que verificar na verdade todo esse contexto em que ele vive [...], porque na realidade ele pode estar atribuindo ao sofrimento dele o fato de ser homossexual, mas que na verdade esse sofrimento que ele tenha seja outra coisa, entendeu? ” (A. N. psicólogo).
Seria sobremaneira difícil um/a jovem homossexual crescer e se desenvolver psicologicamente de maneira saudável e aceitar sua orientação sexual plenamente em um contexto homofóbico no qual constantemente é massacrado, e tripudiado por sua orientação sexual. Jovens homossexuais são motivo de chacota, humilhações e agressões físicas em ambientes familiares, profissionais e em instituições de ensino (Junqueira, 2009; Lionço, 2009; Mott, 2012). Atribuir o sofrimento desses jovens e adultos simplesmente à sua orientação seria voltar a homossexualidade ao conceito de doença, embora os defensores deste projeto de lei neguem que essa seja a intenção.
Poder-se-ia, então, afirmar que a homofobia seria uma das causas do sofrimento psíquico do homossexual. O medo da não aceitação por parte de familiares, amigos, instituições religiosas, de ensino, e no trabalho pode levar alguns homossexuais a desenvolverem quadros de depressão, alcoolismo, toxicomania, etc., podendo chegar mais gravemente ao suicídio (Mott, 2009; Junqueira, 2009). 
As causas desses comportamentos autodestrutivos encontram sua causa na homofobia internalizada, que é o ódio voltado a si mesmo e aos outros homossexuais, no qual o indivíduo não aceita sua orientação sexual, e não aceita o comportamento de outros indivíduos deste grupo. A homofobia internalizada é uma reprodução do heterossexismo, que, assim como o sexismo está para o machismo, inferiorizando as mulheres; o heterossexismo está para a homofobia. Diversos discursos de ódio são reproduzidos pelos próprios homossexuais, como denigrindo e estigmatizando. Como Madureira (2007) apresenta em seu artigo, participantes homossexuais realizando uma espécie de deslocamento, quando utilizam o “eles” (terceira pessoa do plural), ao invés do “nós”, ou do “eu” quando falam sobre a homossexualidade. Ou como Souza & Pereira (2013) apresentam em seu artigo falas contendo discursos agressivos por parte de homossexuais contra outros homossexuais que exercem o papel de passivo, e demonstram trejeitos mais efeminados. Estes entrevistados utilizam-se de termos como “veados”, “bichinhas”. Chegando mesmo a demonstrar raiva em sua fala, quando um participante explicita “eu odeio bichinhas”.
Este ódio não é voltado somente ao outro, mas a si mesmo, quando ele tenta se excluir de um grupo ao qual pertence. Essa autoexclusão gera sofrimento ao indivíduo, uma vez que ele também não pode ser aceito no grupo dos heterossexuais, da forma como alguns creiam pertencer.
Por mais que se defenda que o tratamento da homossexualidade seja voltado somente aos indivíduos que procuram por ele, por atribuírem seu sofrimento a homossexualidade, a volta do discurso patologizantes da orientação sexual e afetiva, que foge a forma heteronormativa torna-se inevitável. Uma vez que se atribui o sofrimento psíquico a uma única causa, que seria a homossexualidade, e que esta homossexualidade seria passível de um tratamento que poderia vir a curar o sofrimento pelo qual o indivíduo passa, ao ser motivo de chacota, ou por sofrer discriminação dentro de espaços públicos e particulares, bem como no âmbito familiar.
Poder-se-ia dizer então que seria mais “fácil” tratar o que é dito, implicitamente neste novo discurso, ser uma doença, do que se educar toda uma população, dar-lhes esclarecimentos sobre as diversas orientações sexuais e afetivas dos seres humanos.
4.3 - O papel da psicologia em relação a diversidade sexual
Como descrito no Código de Ética Profissional do Psicólogo, cabe aoprofissional de Psicologia, em sua atuação, compreender a análise crítica da realidade política e social, que lhe permita a elaboração de condições que visem eliminar opressões e marginalização do ser humano. O papel do psicólogo como profissional da saúde seria, então, o de promover o bem-estar social e individual das pessoas. Contudo, no contexto desse debate surge ainda a discussão da chamada “psicologia cristã”.
A psicologia cristã utiliza-se de preceitos bíblicos no contexto de terapia. Ressalta-se aqui que o Código de Ética veda qualquer manifestação religiosa dentro do contexto clínico. Entretanto, a psicóloga Marisa Lobo é uma das fervorosas defensoras da proposta dessa psicologia, cujas práticas clínicas são orientadas por princípios religiosos, sobretudo no trato da questão da homossexualidade.[4: Cristã - Psicóloga formada pela Universidade Tuiuti do Paraná, escritora, Pós Graduada em saúde mental, Professora de pós graduação, Palestrante nacional, em dependência química, transtornos psicológicos. (Retirado de seu blog pessoal: http://marisalobo.blogspot.com.br/)]
Segundo Castañeda (2007, citado por Toledo e Pinafi, 2011), é sob o véu da neutralidade e de um saber especializado que o psicólogo pode dizer qualquer coisa sobre a homossexualidade. Entretanto, quanto do pensamento do psicólogo é de fato neutro? E que neutralidade é essa que nos é conferida? Sobretudo se o psicólogo a trata como uma doença. Por trás dessa “neutralidade” conferida ao psicólogo por sua formação, a psicologia cristã se disfarça de ciência enquanto pode realizar julgamentos contraproducentes no trabalho clínico, especialmente com a população LGBT. Estigmatizando, geralmente e incitando a discriminação. Ao se tratar da psicologia cristã, o psicólogo não se despe de suas crenças religiosas dentro de seu consultório (Toledo & Pinafi, 2012).
A psicóloga B. R. apresenta sua visão sobre esta psicologia afirmando que a religião não deve interferir na atuação do psicólogo, ela deve ser mantida fora do consultório. Para D. A., estudante de Psicologia, a religião é algo muito pessoal, e tal forma de se atuar em psicologia seria como o psicólogo impor ao paciente as suas próprias crenças: “Aí as pessoas chamam a gente de ‘doutor’, e elas acreditam. Então a gente vai estar passando uma coisa que deveria ser de escolha, de cultura, como uma obrigatoriedade maior” (D. A., estudante de Psicologia). O psicólogo dentro de seu consultório tem o poder de auxiliar os pacientes a mudarem e ressignificarem suas visões de vida e de mundo, o que junto com a credibilidade à eles atribuída, podem induzir o paciente também em suas crenças, quando o profissional, dentro do contexto clínico as manifesta livremente.
Quanto ao papel da Psicologia nas questões de diversidade sexual, os entrevistados acreditam que ela deva ter um papel acolhedor, do tratamento do sofrimento do indivíduo, e não da sexualidade em si. Para D. estudante de Psicologia, a Psicologia deve defender o direito do homossexual ser o que ele é. Segundo D. A., o papel da Psicologia é o do acolhimento, do tratamento do sofrimento, e não o de propor um tratamento curativo para a homossexualidade.
De acordo com Sanders (1994, citado por Toledo & Pinafi, 2012), o papel da terapeuta é ajudar o indivíduo a refletir positivamente sobre suas experiências com pessoas do mesmo sexo, dessa forma apoiando o paciente a ressignificar a forma pejorativa com a qual ele vê a homossexualidade, transformando-a em uma forma positiva. Deve também ajudá-los a verem-se como vítimas de ideias carregadas de preconceitos, desigualdade de gêneros e convidar os pacientes a exteriorizarem a homofobia internalizada, por suas crenças na inferioridade do homossexual no contexto da cultura heteronormativa.
O papel da Psicologia seria, então, fomentar e promover a saúde mental, física e social das pessoas, sobretudo nos casos de homossexualidade, e não estigmatizar e patologizar pessoas com a orientação sexual distinta da normativa heterossexual (Toledo & Pinafi, 2009; Lionço, 2009).
Eticamente a psicologia, deve estar voltada a tratar um indivíduo em seu contexto social e cultural. Devido a isso, o psicólogo não tem o direito de utilizar-se de sua posição para induzir pessoas em âmbito religioso, nem utilizar-se da religião para o tratamento de pessoas. Sobretudo nas questões em que concernem gêneros e orientações afetivas e sexuais.
Considerações Finais
Com toda a discussão emergida a partir do que foi apresentado ao longo deste artigo, cabe ressaltar pontos que foram cruciais no entendimento da identidade, diversidade sexual, e da homofobia, bem como poderia ser a atuação da psicologia em casos de preconceitos contra homossexuais.
Observou-se nos textos utilizados na construção da fundamentação teórica, a recorrência da hierarquização e separação de gêneros, a partir exigências sociais que se faz do homem e da mulher, na qual segundo Freyre (1981, citado por Parker, 1991), o homem deve fazer da mulher alguém totalmente diferente dele. Sendo que, o homem deve ser forte, viril, violento e deve se fazer obedecer; e a mulher deve ser submissa, respeitável, honrada, frágil, e deve ceder ao poder do homem (Madureira, 2010; Parker; 1991). E o indivíduo que transita entre essas duas identidades e por isso, não pode ser considerado nem homem e nem mulher, pois falta-lhe os genótipos típicos dos gêneros dicotômicos aceitos pelo discurso da sexualidade dentro dos limites normativos da heterossexualidade reprodutiva, para ser considerada do sexo masculino ou feminino, uma vez que a transgressão da norma heterossexual não afeta somente a identidade sexual do sujeito, mas muitas vezes representa como uma “perda” do seu gênero “original” (Parker, 1991; Louro, 2009; Madureira, 2010).
Além dessa “perda” do “gênero” original, que pode gerar conflito, sobretudo quando essa percepção se dá durante a adolescência, época de dúvidas e de desenvolvimento sexual do indivíduo, no qual ele/ela passa a descobrir a sexualidade.
Além de todas essas mudanças, o/a homossexual ainda deve enfrentar uma sociedade e uma cultura fundamentada na religiosidade judaico-cristã, que utilizando-se de escrituras sagradas julgam a homossexualidade como um pecado, demonizando-a (Mott, 2009; Toledo& Pinafi, 2012). Além de haver a herança da patologização da homossexualidade.
Ao abordar a patologização da homossexualidade nos séculos passados, ressalta-se também na atualidade a tentativa de iniciar um tratamento dos homossexuais a partir da PDC 234/11, criada pelo deputado federal João Campos, que visa permitir o tratamento do homossexual que não estiver de acordo com a própria sexualidade. Contudo também observou-se a relevância do contexto social, cultura, e familiar que possa influenciar nesta não aceitação da homossexualidade por parte do indivíduo. 
 Segundo Borrillo (2009), não importa se a homossexualidade é uma opção de vida do indivíduo, ou se é uma condição de vida dele. Se é causada por fatores genéticos, ou psicológico. A homossexualidade deve ser respeitada e legitimada como é a heterossexualidade, como mais uma manifestação do pluralismo sexual e afetivo humano. Ao homossexual deve ser garantido os mesmos direitos civis que são conferidos aos heterossexuais. Deve ser considerada um dado não pertinente na construção política do cidadão e na qualificação do sujeito de direitos.
Quanto ao papel da psicologia sobre as questões da homossexualidade, observou-se uma concordância de ideias entre os participantes, uma vez que para ele, esse papel se distingue no acolhimento, e tentativa de compreensão do contexto no qual este indivíduo vive. A psicologia tem portanto o papel de não tentar curar o indivíduo, uma vez que já foi estipulada a despatologização da homossexualidade, não encaixando-a como perversão, parafilia, transtorno ou distúrbio, e que o psicólogo que seguir o pensamento por esta linha, deixa a mostra seu viés homofóbico, como também, ainda vai contra a conduta ética do profissional de psicologia.
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