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Disciplina: Teoria Geral do Estado e Ciência Política Período: 1º Professora: Ana Virgínia Gabrich O FEDERALISTA 1) CONSIDERAÇÕES INICIAIS 3 autores americanos: Alexander Hamilton (1755-1804) James Madison (1751-1836) John Jay (1745-1829) Os nomes dos autores estão fortemente associados à luta pela independência dos Estados Unidos; “O Federalista” foi uma série de artigos publicados em Nova Iorque com o objetivo de contribuir para a ratificação da Constituição Norte Americana pelos Estados; Nos artigos, os autores buscam explicitar a teoria política a fundamentar o texto constitucional; Assim, o desafio teório enfrentado pelo texto era o de “desmentir os dogmas arraigados de uma longa tradição1. Tratava-se de demonstrar que o espírito comercial da época não impedia a constituição de governos populares e, tampouco, estes dependiam exclusivamente da virtude do povo ou precisavam permanecer confinados a pequenos territórios. Estes postulados são literalmente invertidos. Aumentar o território e o número de interesses são benéficos à sorte desta forma de governo. Pela primeira vez, a teorização sobre os governos populares deixava de se mirar nos exemplos da Antiguidade, iniciando-se, assim, sua teorização eminentemente moderna”. (pág. 247). A partir da Constituição Americana foi possível solucionar a questão do poder judiciário trazida por Montesquieu (em Montesquieu o poder judiciário, apesar de ser um poder autônomo, ainda não apresentava as características hoje apresentadas. Por vezes era um poder “enfraquecido”). 1 Caracterizada pela presença de grandes monarquias. 2) PRINCIPAIS ASPECTOS 2.1 Federalismo A partir do texto foi apresentada a ideia moderna de federalismo; União de unidades autônomas (ver art. 1º da CR); “O federalismo nasce como um pacto político entre os Estados, fruto de esforços teóricos e negociação política”. (pág. 248); Distinção entre federalismo e confederação: ‘’O termo federal, como nomeamos hoje esta forma de governo, era, até este momento, sinônimo de confederação. A distinção está no ponto assinalado por Hamilton; enquanto em uma confederação o governo central só se relaciona com Estados, cuja soberania interna permanece intacta, em uma Federação esta ação se estende aos indivíduos, fazendo com que convivam dois entes estatais de estatura diversa, com a órbita de ação dos Estados definida pela Constituição da União”. (pág. 248). 2.2 Separação vertical de Poderes Em vários momentos do texto, uma visão realista, quando não pessimista, do comportamento humano é apresentada pelos autores, o que os leva a concluir, nas palavras de Madison, que “se os homens fossem anjos, não seria necessário haver governos”. (pág. 249). Assim, seria necessária a presença do Estado e o estabelecimento de controles bem definidos sobre os detentores do poder (este último ponto, é o tema central de “O Federalista”): “Controlar os detentores do poder porque, como observa Madison, os homens não são governados por anjos, mas sim por outros homens, daí porque seja necessário controlá-los. ‘Ao constituir-se um governo – integrado por homens que terão autoridade sobre outros homens – a grande dificuldade está em que se deve primeiro habilitar o governante a controlar o governado e, depois, obrigá-lo a controlar-se a si mesmo’. As estruturas internas do governo devem ser estabelecidas de tal forma que funcionem como uma defesa contra a tendência natural de que o poder venha a se tornar aribitrário e tirânico”. (pág. 249); Daí a afirmação de que, devido a essa natureza pessimista do comportamento humano, todo aquele que detiver o poder em suas mãos, tende a dele abusar; Com isso, o poder deve ser limitado, o que somente pode ocorrer por meio do próprio poder. A ideia apresentada por “O Federalista” se aproxima da ideia apresentada por Montesquieu, contudo, a separação de poderes possui algumas especificidades, uma delas é que em “O Federalista” a separação ocorre de maneira vertical (em Montesquieu, era uma separação horizontal). (ver pág. 251); Governo Federal: Executivo; Legislativo; Judiciário. Governo Estadual: Executivo; Legislativo; Judiciário. Dessa forma, o objetivo dos autores era aumentar a liberdade individual, por meio da descentralização de poder: “A distribuição equilibrada dos poderes entre os diferentes departamentos, a adoção do sistema de controle legislativo, a instituição de tribunais integrados por juízes não sujeitos a demissões sem justa causa, a representação do povo no legislativo por deputados eleitos diretamente – tudo isso são invenções totalmente novas ou tiveram acentuado progresso rumo à perfeição nos tempos modernos. Constituem meios – e meios poderosos – pelos quais os méritos do governo republicano podem ser assegurados e as suas imperfeições reduzidas ou evitadas”. (pág. 261); Além da descentralização do poder, “O Federalista” também resolve um problema apresentado na teoria de Montesquieu. O autor apresentou a teoria dos “freios e contrapesos”, entretanto, a sua aplicação prática ainda encontrava alguma dificuldade. Para resolver o problema, o texto de “O Federalista” apresenta as funções atípicas de cada Poder (o que ainda é utilizado hoje): Legislativo: Executar e julgar Executivo: Legislar e julgar Judiciário: Legislar e executar Outra consequência prática da teoria dos freios e contrapesos apresentada em “O Federalista” é a criação do Controle de Constitucionalidade. Por meio do Controle de Constitucionalidade, o Poder Judiciário analisa se as ações do Executivo e do Legislativo estão de acordo com a Constituição. Essa é uma maneira de fortalecimento do Poder Judiciário frente aos demais Poderes. 2.2.1 A Separação de Poderes na Constituição Brasileira de 1988 Art. 2º: separação horizontal (Montesquieu) Arts. 21-32: separação vertical (O Federalista) 2.3 As Repúblicas e as Facções Madison apresenta em “O Federalista” n. 10 a discussão sobre o mal das facções e as formas de enfrentá-lo. “Entendo como facção um grupo de cidadãos, representando quer a maioria, quer a minoria do conjunto, unidos e agindo sob um impulso comum de sentimentos ou de interesses contrários aos direitos dos outros cidadãos ou aos interesses permanentes e coletivos da comunidade”. (pág. 263); A fonte mais comum e duradoura das facções é a propriedade, por ser a principal causa das diferenças entre os homens; Assim, para o autor “a sorte dos governos populares não depende de sua (das facções) eliminação, mas sim de encontrar formas de neutralizar os seus efeitos”; “Se as facções são inevitáveis, o problema passa a ser o de impedir que um dos diferentes interesses ou opiniões presentes na sociedade venha a controlar o poder com vistas à promoção única e exclusiva de seus objetivos. O princípio da decisão por maioria, regra fundamental dos governos populares, passa a representar uma ameaça aos direitos das facções minoritárias. (...) um problema paradoxal para a teorização da democracia: o maior risco de que ela degenere em tirania radica-se no poder que confere à maioria. (...) cabe notar que Madison está a advogar a causa de uma nova espécie de governo popular, uma república representativa, desconhecida na Antiguidade e por autores como Montesquieu e Rousseau que a tomam como modelo para suas reflexões”. (pág. 253). Madison também apresenta a distinção entre democracias puras e repúblicas, afirmando que esta traz algumas vantagensem relação àquela: 1ª) fazendo com que as funções de governo sejam delegadas a um número menor de cidadãos; 2ª) aumentando a área e o número de cidadãos sob a jurisdição de um único governo. “Como afirma o próprio Madison, à segunda característica distintitva das repúblicas deve-se a principal contribuição para evitar o mal das facções. Sob um território mais extenso e com um número maior de cidadãos cresce o número de interesses em conflito, de tal sorte que ou não existe um interesse que reúna a maioria dos cidadãos, ou, na pior das hipóteses, será difícil que se organize para agir. Ou seja, através da multiplicação das facções chega-se à sua neutralização recíproca, tornando impossível o controle exclusivo do poder por uma facção. Impede-se, assim, que qualquer interesse particular tenha condições de suprimir sua liberdade. Por outro lado, o preço desta solução pode ser a paralisia do governo, com o choque entre vários interesses a bloquear qualquer iniciativa das partes. Isto é, a solução para o mal das facções poderia acarretar um mal maior: o não- governo”. (pág; 254). Então, qual seria a solução encontrada por Madison? A solução não seria nem o governo mínimo, nem o não-governo. Mas sim a coordenação dos interesses, que é a marca distintiva das Repúblicas: “Em uma república com a extensão territorial dos Estados Unidos e com a enorme variedade de interesses, partidos e seitas que engloba, a coalizão de uma maioria da sociedade dificilmente poderia ocorrer com base em quaisquer outros princípios que não os da justiça e do bem comum”. (pág. 255).
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