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Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 1 Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição. Professora Drª Greisse Viero da Silva Leal Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 2 Apresentação da disciplina 3 Alimentos e alimentação da população brasileira 3 Hábitos alimentares 3 Alimentos regionais brasileiros 6 Guias Alimentares 8 Pirâmide dos Alimentos 9 Guia Alimentar para a população brasileira 15 Epidemiologia da nutrição no Brasil 19 Necessidades e recomendações nutricionais de macro e micronutrientes 22 Educação Nutricional na prática clínica 28 Referências 32 SUMÁRIO Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 3 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Esta disciplina tem como objetivo caracterizar o hábito alimentar e a situação epidemiológica nutricional da população brasileira e apresentar ferramentas para a promoção da alimentação saudável na prática clínica. Objetivos específicos • Caracterizar o hábito alimentar da população brasileira. • Descrever a importância do consumo de alimentos regionais. • Caracterizar os Guias Alimentares e sua importância. • Descrever o uso da Pirâmide dos Alimentos na prática clínica. • Descrever o que são necessidades e recomendações nutricionais e seu uso na prática clínica. • Caracterizar a situação epidemiológica nutricional atual da população brasileira. • Apresentar técnicas de educação nutricional para promoção da alimentação saudável na prática clínica. ALIMENTOS E ALIMENTAÇÃO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA Hábitos alimentares A promoção de hábitos e práticas alimentares adequadas começa na infância, com o aleitamento materno, e é consolidada ao longo da vida em busca da qualidade de vida saudável (PHILIPPI, 2004). Entende-se por qualidade de vida aquilo que é bom, desejável, saudável e compensador nas áreas pessoal, social, afetiva e profissional. Para que o indivíduo tenha uma boa qualidade de vida, torna-se necessária a integração de todas as áreas, considerando-se a alimentação saudável uma condição essencial para a promoção da saúde (PHILIPPI, 2008; PHILIPPI et al, 2009). A alimentação saudável é entendida como aquela que faz bem, promove saúde e deve ser orientada e incentivada desde a infância até a idade adulta. No entanto, nem sempre depende apenas de opção individual. A baixa renda, a exclusão social, a escolaridade inadequada e a falta ou a má qualidade da informação disponível, podem restringir a adoção e a prática de uma alimentação saudável. Para ser considerada saudável, a alimentação deve ser planejada com alimentos de todos os tipos, de procedência segura e conhecida (PHILIPPI, 2008; PHILIPPI et al, 2009). Outra consideração importante para seleção dos alimentos que serão consumidos é dar preferência aos que estão na forma natural, adequados em termos de qualidade de quantidade, pertencentes ao hábito alimentar, preparados de forma a preservar seu valor nutritivo, os aspectos sensoriais e com segurança sob o ponto de vista higiênico-sanitário. Além disso, para serem saudáveis, as refeições devem ser feitas em ambientes tranquilos, visando satisfazer não só as necessidades nutricionais, mas também as emocionais e sociais (PHILIPPI, 2008; PHILIPPI, 1999). Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 4 As atitudes com relação aos alimentos variam de acordo com a diversidade geográfica e os hábitos regionais, o prestígio social, o local onde a refeição é preparada e consumida (dentro ou fora do domicílio), refletindo-se também no padrão e no tamanho das porções consumidas (PHILIPPI, 2008; PHILIPPI et al, 2009). Além disso, no momento de realizar a orientação sobre a seleção dos alimentos a serem consumidos, deve-se considerar que a escolha alimentar é um processo complexo que segue regras construídas em sociedade e envolve fatores socioculturais e psicológicos, e está também relacionada a fatores do meio ambiente, da história individual e da personalidade. Esse processo incorpora decisões baseadas em reflexões conscientes, e também automáticas, habituais, subconscientes (ESTIMA et al, 2011). Atualmente no Brasil, as Pesquisas de Orçamentos Familiares têm demonstrado mudanças no hábito alimentar do brasileiro, caracterizadas por redução no consumo de arroz, feijão, leite, farinhas, óleo de soja e açúcar (alimentos minimamente processados) e aumento no consumo de alimentos industrializados, como biscoitos, refrigerantes, bebidas alcoólicas e refeições prontas, conhecidos como alimentos ultra- processados, ricos em açúcar, gorduras saturadas e trans e sódio (LEVY et al, 2012; Monteiro et al., 2010). Outra mudança ocorrida foi o aumento no tamanho das porções consumidas. Segundo Rodrigues e Proença (2011), o tamanho da porção de comida é um importante determinante da ingestão alimentar, independentemente de idade, sexo ou estado nutricional, podendo favorecer o aumento do consumo dos alimentos. O que as autoras encontraram foi que porções alimentares superiores às necessidades energéticas podem ser influenciadas pela percepção do valor do dinheiro e do tamanho da porção. Por percepção do valor do dinheiro, entende-se a relação entre a quantidade adquirida e montante pago. Porções maiores são, muitas vezes, comercializadas a preços relativamente menores; em outras palavras, mais unidades por menor preço unitário ou embalagens maiores a custos relativamente inferiores podem estimular a aquisição dessas mercadorias (RODRIGUES; PROENÇA, 2011). A seleção do que é comestível não está fundamentada apenas na fisiologia e na bioquímica ou nas propriedades nutricionais dos alimentos, mas na ética, estética e dietética determinadas pela cultura. A alimentação é um pilar da identidade cultural. A cultura também determina o que deve ser ingerido, quando, como e com que frequência, além de proibições impostas por religiões, filosofias e tabus. Algumas comidas são associadas a determinados povos, por exemplo: Arroz – China; Pizza – Itália; Crepe – França; Feijoada – Brasil (FISBERG et al, 2002). No Brasil, os alimentos consumidos fazem parte da identidade regional, por exemplo, o acarajé e o vatapá da Bahia e o churrasco e chimarrão do Rio Grande do Sul. Alimentar-se é parte importante da cultura de um povo. Cultura é o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores espirituais ou materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma sociedade. Não cultivar nossos valores é como perder a identidade. Preservar os valores culturais de um povo é a forma de mantê-lo vivo (FISBERG et al, 2002). Segundo Fisberg et al. (2002), se todos comessem de acordo com sua cultura, não teríamos tanta desnutrição ou obesidade. Portanto, é necessário compreender melhor os hábitos alimentares e valores simbólicos dosalimentos, respeitando e adequando sua conduta. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 5 Influências na alimentação brasileira (CASCUDO 2004) A base da alimentação brasileira é portuguesa, com influências indígenas e africanas. Contribuições portuguesas: • Trouxeram a mangueira, jaqueira, fruta-do- conde. • Vinho. • Arroz. • Galinha (tabu para os índios). • Cereais, trigo, aveia, cevada. • Pepino, couve, abóbora, alface. • Alho, cebola, cominho, coentro, gengibre. • Uva, figo, maçã, pêssego, romã, melão, melancia, coco. • Cana de açúcar: açúcar, doces e cachaça. • Carne de gado: sarapatel, buchada. • Feijoada: modelo aculturado do cozido português (feijão e carne seca). • Valorizaram o uso do SAL. • Utilização de óleos e gorduras para cozinhar: frituras. Contribuições indígenas: • Vegetais (atividade coletora e agrícola). • Caça (diversos tipos de carnes). • Pesca. • Mel. • Sal do tronco de palmeiras. • Polpa de buriti (refrescos). • Paçoca (carne assada e farinha de mandioca). • Camarão, lagosta e caranguejo com molho seco de pimenta. • Mandioca (farinha, tapioca). • Refresco de guaraná. Contribuições africanas: • Alimentos como: banana, amendoim, coqueiro, azeite de dendê, quiabo, caruru, erva- doce, açafrão, gergelim, pimenta malagueta, galinha d’angola, milho cozido. • Preparações culinárias como: acarajé, bobó, cuscuz, mungunzá, quibebe, vatapá. A alimentação brasileira é composta por pratos típicos regionais, comidas bastante ricas e variadas que sofrem influência de fatores ambientais como clima, tipo de solo, disposição geográfica, fauna e pelo tipo de colonização. Faz parte do hábito alimentar brasileiro: cereais (arroz, milho e trigo), leguminosas (feijões), tubérculos (batatas), raízes (mandioca) e alguma carne ou pequena quantidade de outros alimentos de origem animal. O Brasil possui quatro culturas alimentares peculiares: do sul, das regiões centrais, do nordeste e da região amazônica. Na Bahia predomina a cultura africana e indígena; na região Norte, a cultura alimentar indígena e no Sul predominam os padrões europeus (FISBERG et al, 2002). Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 6 Alimentos regionais brasileiros Região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) Cupuaçu - Fonte: Cartilha Ministério da Saúde • Influências principalmente indígenas. • Ervas aromáticas, frutos tropicais, farinha de mandioca, peixes de rio, pimentas, cominho, tucupi (caldo extraído da mandioca, utilizado em diversas preparações culinárias), castanha do Brasil. • Carne de tartaruga, jacaré assado ou cozido com pimenta. • Maniçoba – elaborada com folhas de macaxeira, carne seca e carne de porco. • Peixes: Tucunaré recheado com farinha de mandioca e legumes e Pirarucu (bacalhau brasileiro). • Frutas regionais: tucumã, açaí, cupuaçu, bacuri, mucajá, murici, pequiá, pupunha, taperebá, guaraná, manga. • Condimentos: sal, alho, pimenta do reino, cominho, chicória, salsinha, cebolinha, louro, coentro. • Azeite de dendê e de oliva, toucinho, bacon. Região Nordeste Caju - Fonte: Cartilha Ministério da Saúde A região Nordeste é dividida em duas partes, que compreendem o litoral, conhecido como zona da mata, onde o solo é fértil e as plantas encontram condições adequadas para se desenvolverem, sendo os alimentos mais consumidos: a farinha de mandioca, o feijão, a carne seca, a rapadura, milho, peixes, caranguejo, lagosta, camarões, siris, ostras, polvos e lulas. No sertão nordestino, chamado de polígono das secas, ocorre a criação de gado bovino e caprino, apresentando maior consumo de: carne, leite, queijo, manteiga, além de feijão, batata-doce, mandioca e alguns legumes e frutas. Região Centro-Oeste Jenipapo - Fonte: Cartilha Ministério da Saúde Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 7 • Os pratos típicos são em função de caça farta, rios repletos de peixes, pequi, banana-da-terra e guariroba. • Dos peixes, frutas e carnes do Centro-Oeste surgem pratos típicos como o peixe na telha (assado na telha), peixe com banana, carne com banana, costelinha, bolinhos de arroz, pamonha e pela fronteira de Minas Gerais vieram o feijão tropeiro, a carne seca, o toucinho e a banha de porco. • Com a influência da culinária do Sul, os hábitos alimentares se ampliaram, o churrasco gaúcho e o virado paulista. Região Sudeste Abacate - Fonte: Cartilha Ministério da Saúde • Espírito Santo: terra da moqueca típica e da cozinha à beira-mar. O uso do urucum é legado dos índios; o peixe é soberano. Sofre a influência dos estados vizinhos, como os beijus da Bahia e os doces de tapioca com coco. • Minas Gerais: A comida mineira permaneceu fiel à tradição do feijão, milho e porco. O tutu com torresmo, feijão tropeiro, angu com quiabo, couve à mineira, canjiquinha com carne, costela e lombo de porco e os inúmeros e variados quitutes à base de milho, como bambá de couve (milho com couve e carne de porco), curau, pamonha, broa, cuscuz de fubá, farofa de farinha de milho e canjica são algumas das delícias mineiras. • Rio de Janeiro: terra da feijoada completa e da comida de botequim (bolinho de bacalhau, aipim frito, chouriço, manjubas fritas, empadinhas). Usam o arroz sempre branco, o feijão sempre preto e a pimenta de modo discreto. • São Paulo: a culinária do interior teve como base a cozinha dos Bandeirantes, com feijão, milho, mandioca, arroz, carne de porco e ovos; os imigrantes (principalmente árabes e italianos) mudaram toda cozinha paulista com novos temperos. Região Sul • Paraná e Santa Catarina: é a cozinha dos pioneiros, italianos, alemães, portugueses, poloneses e ucranianos que trouxeram suas tradições culinárias e provaram os produtos da terra e enriqueceram a mesa dos dois estados; no litoral aproveitou-se a variedade de peixes, camarões e lagostas. o Açorianos do litoral: • Pesca artesanal. • Agricultura de subsistência. • Peixes (linguado, badejo, bagre, corvina, namorado, pescada branca, robalo, anchova, sardinha, atum, cação e tainha) e frutos do mar são a base da alimentação. • Sequência de camarão (frito, à milanesa, ao alho e óleo, ao bafo). o Italianos: polenta de milho, massa caseira, galinha caipira. o Poloneses: broa de trigo com centeio. o Alemães: carne de porco, frios, tortas e doces, chucrute, salsicha e chope, strudel de maçã. o No Paraná (Morretes): Barreado. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 8 • Rio Grande do Sul: os italianos introduziram o vinho, a polenta, o risoto e o galeto; os alemães as carnes defumadas, as linguiças, batatas e o café colonial. As sobremesas polvilhadas com açúcar e canela seguem a tradição alemã. (BRASIL, 2002; NUT/FS/UnB, 2001) Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ alimentacao_cultura.pdf Então por que incentivar o consumo de alimentos regionais? • Valorização e resgate da cultura alimentar. • Prevenção de DCNT (Doenças CrônicasNão Transmissíveis) e carências nutricionais. • Modificação do sistema de produção local: aumento do interesse pelo cultivo, extração racional, produção e transformação para geração de renda. • Segurança alimentar e nutricional. (BRASIL, 2002) Importância de se conhecer os alimentos regionais na atuação do nutricionista: • Para avaliar e planejar dietas e cardápios, o nutricionista deve ter um conhecimento básico sobre história da alimentação e sobre evolução dos hábitos alimentares. • Conhecer seu contexto alimentar – em termos de região, cultura, economia, religião – também são importantes. Em um mundo globalizado, pode ser útil ter maiores informações sobre gastronomia e diferentes culturas e hábitos alimentares – para melhor compreender e atender às necessidades de planejamento dietético para seu cliente. (BRASIL, 2002) GUIAS ALIMENTARES São instrumentos educativos para orientação nutricional e alimentar que, baseados nas recomendações nutricionais, nos hábitos e comportamentos alimentares informam os indivíduos sobre a seleção, a forma e quantidade de alimentos a ser consumida (PHILIPPI, 2012). Os Guias Alimentares oficiais de diferentes países possuem diversos formatos, diferentes números de grupos alimentares e de porções (PHILIPPI, 2012), porém eles têm o mesmo objetivo: transformar o conhecimento científico de nutrição em conceitos básicos para orientação de uma alimentação saudável e facilitar a educação nutricional utilizando-se termos compreensíveis, simples e claros para a maioria dos indivíduos.(BARBOSA et al 2008). Para elaboração de um Guia Alimentar alguns aspectos devem ser considerados, entre eles destaca- se: a elaboração de mensagens diretas e positivas, que apontem os benefícios da alimentação saudável considerando o nível de escolaridade da população; a investigação das crenças, expectativas e valores a respeito dos alimentos, da nutrição e da alimentação saudável dos diferentes grupos populacionais; o reconhecimento da prevalência e incidência de deficiência de micronutrientes e da frequência do consumo de alimentos de baixa qualidade nutricional (BARBOSA et al, 2008). Um guia alimentar pode incluir dois elementos: mensagens e gráficos. O propósito do gráfico é facilitar a transmissão e a memorização de mensagens contidas nos guias, ajudar o grupo populacional alvo a recordar facilmente que alimentos devem ser incluídos na dieta e em quais proporções. A construção de um símbolo de fácil compreensão que represente o guia serve como excelente ferramenta de educação nutricional e pode ser utilizada por consumidores, por profissionais de educação nutricional e pela indústria de alimentos (LANZILLOTTI et al, 2005). Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 9 Os Guias Alimentares são as diretrizes formuladas em políticas de alimentação e nutrição, visando à promoção da saúde e de um melhor estado nutricional das populações de cada país. Devem respeitar os hábitos alimentares, bem como a disponibilidade dos alimentos locais, e incentivar medidas necessárias para atingir o pleno potencial de crescimento e de desenvolvimento humano por meio de uma alimentação adequada (PHILIPPI, 2012). Diversos ícones ilustram os Guias Alimentares de diferentes países, por exemplo, arco-íris no Canadá, pagode na China, pote de cerâmica na Guatemala e pirâmide no Chile, Alemanha e Tailândia (PHILIPPI, 2012). Nos Estados Unidos a pirâmide foi utilizada até 2011, mas voltaram a adotar a representação do prato para suas orientações. Alguns países, como o México, utilizam a roda dos alimentos, enquanto a Argentina adotou uma forma helicoidal, ambas ilustrativas dos grupos alimentares. Alguns ícones apresentam também outras mensagens sobre atividade física, ingestão de líquidos e hábitos de higiene (PHILIPPI, 2012). No Brasil, a roda dos alimentos foi utilizada por muitos anos, e trazia a classificação dos alimentos conforme a sua FUNÇÃO no organismo: • Construtores (alimentos fontes de proteínas). • Energéticos (alimentos fontes de carboidratos e gorduras). • Reguladores (alimentos fontes de vitaminas e minerais). O principal problema da roda dos alimentos é a não representação hierárquica dos alimentos, que, em 1974 foi adaptada para seis grupos alimentares: leites, queijos, coalhadas, iogurtes; carnes, ovos, leguminosas; hortaliças; cereais; frutas e açúcares e gorduras (PHILIPPI, 2012). No início da década de 90, com a publicação do guia alimentar americano, foram propostos grupos alimentares e a USDA (United States Department of Agriculture) adotou como ícone o formato de pirâmide (PHILIPPI, 2008). Considerando a repercussão favorável desta apresentação dos alimentos em grupos na pirâmide, foi desenvolvida por PHILIPPI et al (1999) uma adaptação da proposta americana para o Brasil. Pirâmide dos Alimentos A Pirâmide dos Alimentos adaptada à população brasileira (PHILIPPI et al, 1999) baseou-se inicial- mente no planejamento de três dietas com diferentes valores energéticos: 1600kcal, 2200kcal e 2800 kcal, com alimentos e preparações culinárias do hábito alimentar da população brasileira, distribuídos em seis refeições (café da manhã, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche da noite). Foram organizados oito grupos de alimentos adaptados para os hábitos alimentares brasileiros e para o estabelecimento do número de porções dos diferentes grupos, os alimentos foram organizados em medidas usuais para a população brasileira e o respectivo peso em gramas. Cada medida usual também foi estimada segundo o valor energético médio de cada porção do grupo alimentar. A medida usual de consumo (fatia, copo de requeijão, unidade) foi a terminologia adotada em complementação ou substituição às medidas caseiras (colher de sopa, xícara). A adoção de medida usual permite um melhor entendimento da quantidade do alimento, uma vez que está presente na prática alimentar diária do indivíduo e na cultura do país (PHILIPPI, 2008). Na primeira publicação da Pirâmide Brasileira (PHILIPPI et al, 1999) os grupos alimentares receberam tradicionalmente as seguintes denominações: cereais, pães, tubérculos e raízes; hortaliças; frutas; leguminosas; leite e produtos lácteos; óleos Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 10 e gorduras; açúcares e doces. As porções também tiveram valores diferentes da proposta americana: cereais 5 a 9 porções/dia; hortaliças 4 a 5 porções/ dia; frutas 3 a 5 porções/dia; carnes e ovos 1 a 2 porções/dia; leguminosas 1 a 2 porções/dia; leite e produtos lácteos 3 porções/dia; óleos e gorduras 1 a 2 porções/dia e açúcares e doces 1 a 2 porções/dia. Em vários estudos realizados para avaliar como as pessoas entendiam a pirâmide alimentar, constatou- se que uma das dificuldades mais comum era em relação aos nomes dos grupos. Em função desses resultados, os grupos passaram a ser denominados diferentemente. O grupo dos cereais passou a ser denominado grupo do arroz, pão, massa, batata, mandioca. Apesar de a batata (feculento) e mandioca (raiz) não pertencerem ao grupo dos cereais, ficaram na base da pirâmide junto aos cereais, por serem também fontes de carboidratos. O grupo das hortaliças passou a ser denominado verduras e legumes. O grupo dos leites e produtos lácteos recebeu a denominação de leite, queijo e iogurte. O grupo das leguminosas, devido ao nomeser muito semelhante aos legumes, optou-se pela denominação grupo dos feijões, como representativo também das demais leguminosas: soja, grão de bico, lentilha. Atualmente, neste grupo se incluem também as oleaginosas: nozes e castanhas (PHILIPPI, 2008). Em 2005, PHILIPPI adaptou mais uma vez a Pirâmide dos Alimentos e publicou uma Pirâmide de 2000 kcal. Com a nova proposta de uma pirâmide alimentar americana (Dietary Guidelines for Americans, 2005), da legislação para rotulagem dos alimentos e do Guia Alimentar para a população brasileira do Ministério da Saúde, foi revista a necessidade de uma nova adaptação, principalmente Fonte da imagem: Adaptado de PHILIPPI, 2008. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 11 porque a informação nutricional em rotulagem foi baseada em uma dieta de 2000 kcal (PHILIPPI, 2008). Os oito grupos de alimentos foram mantidos, assim como seus equivalentes em quilocalorias (kcal) e em porções (medidas usuais de consumo e gramas); apenas o grupo das frutas teve as porções modificadas para unidades mais usuais e o valor energético do grupo foi duplicado para 70 kcal para facilitar as orientações sobre as porções deste grupo. A Pirâmide dos alimentos com base em uma dieta de 2000 kcal apresenta a seguinte distribuição de porções por grupo: 1. Grupo do arroz, pão, massa, batata e mandioca - 6 porções (1 porção = 150 kcal). 2. Grupo das frutas – 3 porções (1 porção = 70 kcal). 3. Grupo dos legumes e verduras – 3 porções (1 porção = 15 kcal). 4. Grupo das carnes e ovos – 1 porção (1 porção = 190 kcal). 5. Grupo do leite, queijo e iogurte – 3 porções (1 porção = 120 kcal). 6. Grupo dos feijões e oleaginosas – 1 porção (1 porção = 55 kcal). 7. Grupo dos óleos e gorduras – 1 porção (1 porção = 73 kcal). 8. Grupo dos açúcares e doces – 1 porção (1 porção = 110 kcal). Utilização da Pirâmide dos alimentos na prática clínica: Para a utilização da Pirâmide dos alimentos no planejamento dietético, alguns fatores devem ser considerados: A Pirâmide dos Alimentos possui dois objetivos básicos: 1. Nutricional: atingir uma dieta adequada em proteínas, vitaminas, minerais e fibras alimentares, sem quantidade excessiva de calorias, gordura total, saturada, colesterol, sódio e açúcar. 2. Educacional: orientar as pessoas por meio de um guia prático a população. A Pirâmide dos Alimentos apresenta os princípios básicos de variedade, moderação e proporcionalidade. Para a elaboração de planos alimentares qualitativos com base na Pirâmide Alimentar, deve- se: 1. A partir da dieta-padrão de 2000 kcal, adaptar o número de porções por grupo de alimentos de acordo com o valor calórico total da dieta a ser elaborada, conforme o exemplo do Quadro 1: Quadro 1 - Exemplos de distribuição do número de porções por grupos da pirâmide para dietas de diferentes valores calóricos. Grupos alimentares Energia por porção (kcal) Número de porções de acordo com o valor calórico da dieta 1.800 kcal 2.400 kcal 3 . 0 0 0 kcal Arroz, pão, massa, batata, mandioca. 1 5 0 5 7 9 Verduras e legumes. 15 3 4 5 Grupos alimentares Energia por porção (kcal) Número de porções de acordo com o valor calórico da dieta 1.800 kcal 2.400 kcal 3.000 kcal Arroz, pão, massa, batata, mandioca. 150 5 7 9 Verduras e legumes. 15 3 4 5 Frutas. 70 3 4 5 Leite, queijo, iogurte. 120 3 3 3 Carnes e ovos. 190 1 1 ½ 2 Feijões e oleaginosas. 55 1 1 ½ 2 Óleos e gorduras. 73 1 1 ½ 2 Açúcares e doces. 110 1 1 ½ 2 Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 12 2. Elaborar um plano alimentar fracionado em quatro a seis refeições/dia. 3. As refeições devem respeitar a distribuição calórica de: 5 a 40% do VET (Valor Energético Total), sendo 5 a 15% para os lanches da manhã, da tarde e da noite e 20 a 40% para as refeições principais: café da manhã, almoço e jantar. 4. Com base na Pirâmide, a distribuição percentual de macronutrientes obedece à recomendação da Organização Mundial da Saúde: proteínas (10-15%), lipídios (15-30%) e carboidratos (55-75%), com 10% de açúcares livres. 5. Após estabelecer o número de porções por grupo alimentar, elas devem ser distribuídas nas refeições, conforme exemplo do Quadro 2: • Café da manhã (CM): alimentos do grupo do arroz, leite e frutas. • Almoço (A) e Jantar (J): alimentos do grupo do arroz, feijão, carne, legumes e verduras, frutas. • Lanches da manhã, da tarde e da noite (LM, LT, LN): porções “pequenas” de alimentos do grupo do arroz, leite e frutas. • Uso moderado dos grupos de óleos (margarina ou manteiga do pão ou azeite da salada) e açúcares (sobremesa ou para adoçar bebidas). Quadro 2 – Exemplo de distribuição do número de porções de cada grupo alimentar por refeições. GRUPO ENERGIA 2050 kcal CM LM A LT J LN Total Arroz 150 6 1 - 2 1 2 - 900 Verduras e Legumes 15 5 - - 2 - 3 - 75 Frutas 70 4 1 1 1 - 1 - 280 Leite 120 3 2 - - 1 - - 360 Carnes 190 1 - - 1 - - - 190 Feijões 55 1 - - 1 - - - 55 Óleos 73 1 1/3 - 1/3 - 1/3 - 73 Açúcares 110 1 1/2 - - 1/2 - - 110 TOTAL calórico e % por refeição 2043 540 26,4% 70 3,4% 670 32,8% 325 15,9% 440 21,5% - 2043 Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 13 6. O uso da lista de equivalentes deve ser explicado, esclarecendo-se que porções de um grupo alimentar não podem ser substituídas por alimentos de outro grupo. Além disso, é necessário, esclarecer as melhores escolhas alimentares dentro de cada grupo de acordo com as escolhas inteligentes. A abordagem de escolha inteligente para o alimento implica na seleção mais adequada, no conhecimento sobre o valor nutritivo, no reconhecimento da diversidade do alimento regional, no resgate das preparações culinárias e na preservação do valor nutritivo (PHILIPPI, 2008). Conhecer e seguir os Guias Alimentares é uma “Escolha Inteligente” e a adoção das orientações e diretrizes dos guias para uma vida saudável depende da mudança de atitude e comportamento dos indivíduos, que devem ser orientados adequadamente com relação às suas dietas. As principais orientações frequentemente são resumidas em mensagens rápidas para a população. Escolhas inteligentes segundo os grupos da Pirâmide (PHILIPPI, 2008): Grupo do arroz, pão, massa, batata, mandioca: • Cereais integrais. • Para evitar perdas de vitaminas e minerais è cozinhar com casca (previamente higienizada). • Aproveitar a água de cocção quando cozidos sem casca. • Evitar preparações que absorvam muita gordura (frituras) ou que utilizem excesso de gordura como ingrediente (massas folhadas, croissant, bolos, tortas). • Massas ao molho de ervas e tomate. • Pizzas com legumes e verduras e pouco queijo. Grupos das frutas e das verduras e legumes: • Variedade. • Alimentos da estação. • Frutas com casca. • Sucos naturais sem açúcar. • Cozinhar em menor tempo possível e com pouca água. • Reutilizar a água do cozimento. • Usar muito tomate, cebola e pimentão frescos em molhos. • Sopas de vegetais com caldo bem grosso. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionaisde Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 14 • Frutas secas sem açúcar adicionado. • Horta. Grupo do leite, queijo, iogurte: • Produtos desnatados • Queijos magros (ricota, minas frescal). • Leites fermentados. • Iogurtes com lactobacilos e bifidobactérias. • Para crianças, adolescentes e gestantes recomenda-se o leite integral. • Iogurte desnatado temperado com ervas como manjericão, salsa, tomilho e coentro frescos para tempero de saladas e sanduíches. Grupo das carnes e ovos: • Preferir carnes brancas (aves e peixes). • Retirar a gordura aparente e a pele das aves. • Cortes mais magros: acém, contrafilé, patinho, peito de frango sem pele. • Evitar embutidos e processados (hambúrguer, salsicha), carne seca, linguiça – ricos em gordura e sal. • Churrasco com carnes brancas e vegetais, além da carne vermelha. • Ovos cozidos ou mexidos sem óleo. • Carnes assadas e grelhadas. Grupo dos Feijões e Oleaginosas: • Comer arroz com feijão cinco vezes por semana. • Variar os tipos de feijões: soja, lentilha, grão de bico. • Preparar o feijão com temperos naturais, sem carnes gordas. • Consumir uma castanha do Brasil por dia. Grupo dos Óleos e gorduras: • Utilizar pequenas quantidades de óleo para cozinhar. • Preferir formas de preparo assados, cozidos, ensopados, grelhados. • Azeite de oliva no lugar de molhos para saladas. • Preferir leite e derivados desnatados. • Evitar alimentos-fonte de gordura trans. Grupo dos açúcares e doces: • Valorizar o sabor natural dos alimentos, reduzindo o açúcar adicionado. • Doces de frutas da época. • Frutas secas. • Frutas com iogurte natural. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 15 • Frutas cozidas. • Barra de cereais. • Picolés de frutas. Guia Alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2005) Em 2005/2006 foi apresentado pelo Ministério da Saúde o Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2005). Esse documento contém as primeiras diretrizes oficiais para a população acerca dos hábitos alimentares saudáveis e está inserido nas preocupações que têm inspirado as ações do governo, tanto na necessária política de segurança alimentar e nutricional, como na prevenção de agravos à saúde advindos de uma alimentação insuficiente ou inadequada. São objetivos do Guia Alimentar para a população brasileira: • Realizar orientações para maiores de dois anos (crianças, adolescentes, adultos e idosos). • Contribuir para a promoção de saúde. • Prevenção de DCNT. • Reforçar a resistência orgânica às doenças infecciosas. • Prevenção de deficiências nutricionais. O Guia Alimentar é composto por três partes: • Parte 1 - Referencial teórico. • Parte 2 - Princípios do Guia, atributos da alimentação saudável e diretrizes. • Parte 3 - Bases epidemiológicas e científicas. Parte 1 – Referencial teórico O referencial teórico retrata aspectos relacionados à estratégia de implementação da Política Nacional de Alimentação e Nutrição, que integra a Política Nacional de Saúde para execução das recomendações nutricionais preconizadas pela Estratégia Global de Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS). São recomendações específicas da Estratégia Global: • Manter equilíbrio energético e o peso saudável. • Redução de alimentos de alta densidade calórica. • Limitar a ingestão de gorduras, substituir as gorduras saturadas pelas insaturadas e eliminar as gorduras trans. • Aumentar o consumo de fibras, FLV (Frutas, Legumes e Verduras), cereais integrais e feijões. • Limitar a ingestão de sal/sódio. • Limitar a ingestão de açúcar livre. • Reduzir o consumo de bebidas açucaradas. • Ambientes domiciliares e escolares que promovam atividade física e alimentação saudável (BRASIL, 2005). Além disso, é descrito o panorama epidemiológico nutricional no Brasil, relacionado às deficiências nutricionais, destacando-se entre as principais deficiências a hipovitaminose A e a anemia ferropriva; doenças infecciosas e doenças crônicas não transmissíveis (BRASIL, 2005). Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 16 Parte 2 - Princípios do Guia, atributos da alimentação saudável e diretrizes As diretrizes do Guia Alimentar Brasileiro seguem um conjunto de princípios baseados nos relatórios de recomendações nutricionais da OMS e na família, refletindo a cultura alimentar brasileira e na relação entre doenças e alimentação (BRASIL, 2005). São Princípios do Guia Alimentar brasileiro (BRASIL, 2005): • Abordagem integrada – Além da prevenção e controle das doenças crônicas não transmissíveis, as diretrizes trazem recomendações para prevenção de deficiências nutricionais e doenças infecciosas que ainda permanecem no Brasil. • Referencial científico e a cultura alimentar – Recomendação de maior consumo de frutas, verduras e legumes e leguminosas, cereais integrais e menor quantidade de gorduras, açúcares e sal. • Referencial positivo – Enfatizar primeiro as vantagens dos alimentos e das refeições saudáveis, aumentando o estímulo e reduzindo as proibições na busca de uma alimentação saudável. • Explicitação de quantidades – As diretrizes são quantificadas e expressas como limites de consumo ou número de porções, não devendo ser realizadas orientações como: “coma mais frutas, legumes e verduras” ou “modere o seu consumo de açúcar”. • Variações das quantidades – As diretrizes são expressas com uma margem de variação (exemplos: cerca de 10%, três ou mais porções). • Alimento como referência – As diretrizes são expressas em termos de alimentos e bebidas, mais do que em componentes nutricionais. • Sustentabilidade ambiental – Incentivo ao consumo de alimentos nas formas mais naturais, produzidos localmente e valorização dos alimentos regionais. • Originalidade – um guia brasileiro – As diretrizes são as primeiras oficiais para os brasileiros, com base nos alimentos do Brasil e em sua cultura alimentar. • Abordagem multifocal – Cada recomen- dação do guia é expressa de quatro maneiras, para: todos, profissionais de saúde, família e governo e setor produtivo. Atributos da alimentação saudável Segundo o Guia Alimentar Brasileiro, uma alimentação saudável deve contemplar alguns Atributos básicos (BRASIL, 2005): • Acessibilidade física e financeira – Alimentação saudável baseada em alimentos in natura e produzidos regionalmente. • Sabor – Desmitificar o tabu de que uma alimentação saudável é ausente de sabor. • Variedade – O consumo de alimentos de todos os tipos fornece os diferentes nutrientes , evitando a monotonia alimentar. • Cor – Quanto mais colorida é a alimentação, mais rica é em termos de vitaminas e minerais. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 17 • Harmonia – Equilíbrio em quantidade e qualidade dos alimentos consumidos. • Segurança sanitária – Alimentos seguros, sem contaminantes de natureza biológica, física ou química. Diretrizes do Guia Alimentar brasileiro (BRASIL, 2005) Diretriz 1- Os alimentos saudáveis e as refeições: • Consuma diariamentealimentos como cereais integrais, feijões, frutas, legumes e verduras, leite e derivados e carnes magras, aves ou peixes. • Diminua o consumo de frituras e alimentos que contenham elevada quantidade de açúcares, gorduras e sal. • Valorize a sua cultura alimentar e os alimentos regionais. • Faça refeições variadas, com diferentes tipos de alimentos saudáveis e disponíveis na sua comunidade. • Faça opções mais saudáveis, lendo os rótulos com as informações nutricionais dos alimentos. Observe a quantidade de gordura e açúcar presente no alimento. • Alimente a criança somente com leite materno até a idade de seis meses e depois complemente com outros alimentos. Mantenha, sempre que possível, o leite materno até os dois anos ou mais. Diretriz 2 – Cereais, tubérculos e raízes: • Coma diariamente seis porções do grupo do arroz, pães, massas, tubérculos e raízes. Dê preferência aos grãos integrais. • Procure consumir alimentos na sua forma natural. • Para qualquer tipo de alimento, prefira as preparações assadas e cozidas às fritas. Diretriz 3 – Frutas, legumes e verduras: • Sempre que possível, consuma frutas, legumes e verduras com casca. • Coma diariamente pelo menos três porções de legumes e verduras como parte das refeições e três porções ou mais de frutas nas sobremesas e lanches. • Promova uma adequada higienização desses produtos. Diretriz 4 - Feijões e outros alimentos ricos em proteínas: • Coma uma porção de feijão por dia. Varie os tipos de feijões usados (preto, carioquinha, verde, de corda, branco e outros) e as formas de preparo. Use também outros tipos de leguminosas (soja, grão-de- bico, ervilha seca, lentilha, fava). Diretriz 5 – Leite e derivados, carnes e ovos: • Consuma três porções de leite e derivados. Os adultos, sempre que possível, escolher leite e derivados desnatados. Crianças, adolescentes e Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 18 mulheres gestantes devem consumir leite e derivados na forma integral. • Consuma uma porção de carnes, peixes ou ovos. Prefira as carnes magras e retire toda a gordura aparente antes da preparação. Coma mais frango e peixe e sempre prefira carne com baixo teor de gordura. Os derivados de carne (charque, salsicha, linguiça, presuntos e outros embutidos) contêm, em geral, excesso de gorduras e sal e devem ser consumidos ocasionalmente. Diretriz 6 – Gorduras, açúcares e sal: • Consuma não mais do que uma porção do grupo dos açúcares e doces por dia. • Consuma não mais que uma porção por dia de óleos vegetais, azeite ou margarina sem ácidos graxos trans. • Reduza a quantidade de sal nas preparações e evite o uso do saleiro na mesa. A quantidade de sal deve ser, no máximo, uma colher de chá por pessoa, distribuída em todas as preparações consumidas durante o dia. • Acentue o sabor de alimentos cozidos e crus utilizando ervas frescas ou secas ou suco de frutas como tempero. Diretriz 7 - Água: • Use água tratada ou fervida e filtrada para beber e para preparar refeições e sucos ou outras bebidas. • Quando consumir bebidas alcoólicas, lembre- se de que deve também beber muita água. Diretriz Especial 1- Atividade Física: • Torne o seu dia a dia e seu lazer mais ativos. Acumule pelo menos 30 minutos de atividade física todos os dias. • Movimente-se. Descubra um tipo de atividade física agradável. Diretriz Especial 2 - Qualidade sanitária dos alimentos: • Ao manipular os alimentos, siga as normas básicas de higiene, na hora da compra, da preparação, da conservação e do consumo de alimentos. Fonte: http://dtr2001.saude.gov.br/editora/produ tos/livros/pdf/05_1109_M.pdf Parte 3 - Bases epidemiológicas e científicas Descreve os estudos realizados para diagnóstico da situação epidemiológica nutricional da população brasileira, a partir do qual foram estabelecidos os objetivos do Guia e suas diretrizes. • Transição nutricional. • Diminuição da desnutrição infantil e aumento das DCNT. • Transição epidemiológica. • Dados das POF´s (Pesquisa de Orçamento Familiar). • Dados sobre o consumo alimentar no Brasil. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 19 EPIDEMIOLOGIA DA NUTRIÇÃO NO BRASIL A estratégia global da Organização Mundial da Saúde (OMS) para Alimentação, Atividade Física e Saúde ressalta a necessidade de adequação dos padrões mundiais de alimentação, um dos responsáveis diretos pelo crescimento da carga global de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis (LEVY et al, 2012). A descrição dos padrões dietéticos de uma população deve ser feita preferencialmente por investigação direta do consumo alimentar individual. Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) introduziu um módulo específico que investiga o consumo alimentar individual em uma subamostra do total de domicílios nas Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) (LEVY et al, 2012). Inquéritos regulares com dados sobre disponibilidade domiciliar de alimentos, originários das POF, possibilitam a caracterização das modificações na alimentação da população brasileira nas últimas décadas. Essas contribuições são valiosas para informações sobre a adequação da composição da dieta familiar, inclusive facilitando comparações específicas sobre o consumo de determinados alimentos (LEVY et al, 2012). Fonte:http://www.scielosp.org/scielo.php? pid=s0034-89102012000100002&script=sci_arttext – introdução. Resultados da POF 2002-2003 apontam como características positivas do padrão alimentar brasileiro encontradas em todas as regiões e em todas as classes de renda a adequação do teor proteico das dietas e o elevado aporte relativo de proteínas de alto valor biológico. Entre as características negativas do padrão alimentar encontradas em todas as regiões e em todas as classes de renda estão: o excesso de açúcar, a presença insuficiente de FLV na dieta e nas regiões economicamente mais desenvolvidas (Sudeste, Sul e Centro-Oeste), no meio urbano e entre famílias com maior renda: o consumo excessivo de açúcar, gorduras em geral e saturadas; o declínio de alimentos básicos e tradicionais da dieta do brasileiro (como arroz e feijão), o aumento de até 400% no consumo de produtos industrializados, como biscoitos e refrigerantes e o maior consumo calórico (LEVY- COSTA et al, 2005). Resultados da POF 2008-2009 (IBGE, 2010) revelam que o teor protéico das dietas continua adequado em todas as regiões e em todas as classes de rendimento e a presença de frutas, legumes e verduras insuficiente, assim como o consumo excessivo de calorias provenientes de açúcares livres e de gorduras saturadas. Além disso, houve aumento na disponibilidade relativa de alimentos ultraprocessados, a exemplo do pão francês, biscoitos, refrigerantes, bebidas alcoólicas e refeições prontas e misturas industrializadas; e diminuição na disponibilidade de alimentos minimamente processados e de ingredientes utilizados na preparação desses alimentos, como o arroz, feijão, leite, farinhas de trigo e de mandioca, óleo de soja e açúcar, em comparação com estudo anterior realizado a partir da POF 2002-2003 e considerando o grau de processamento dos alimentos (LEVY et al, 2012). Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologiada Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 20 Quanto aos resultados do estado nutricional segundo sexo, o IBGE apresenta gráficos comparando a evolução dos indicadores a partir da década de 70. Gráfico 1 – Evolução de indicadores antropo- métricos na população de cinco a nove anos de idade, por sexo – Brasil – períodos 1974-75, 1989 e 2008-2009. Fonte da imagem: IBGE, 2010. Observa-se que uma em cada três crianças de cinco a nove anos apresentavam excesso de peso e que o déficit de peso e de altura destas crianças está em queda. Gráfico 2 – Evolução de indicadores antropo- métricos na população de 10 a 19 anos de idade, por sexo – Brasil – períodos 1974-75, 1989 e 2008-2009. Fonte da imagem: IBGE, 2010. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 21 Observa-se que dos 10 aos 19 anos, o sobrepeso aumentou seis vezes para homens e três para mulheres em 34 anos e o déficit de peso reduziu entre os adolescentes. Gráfico 3 – Evolução de indicadores na população de 20+ anos de idade, por sexo – Brasil – períodos 1974-75, 1989, 2002-2003 e 2008-2009. Fonte da imagem: IBGE, 2010 Observa-se que mais de 60% da população adulta brasileira encontra-se com excesso de peso ou obesidade, sendo a obesidade maior entre as mulheres. Outra fonte de dados epidemiológicos é a pesquisa chamada Vigitel – Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, que desde 2006 foi implantada em todas as capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Seu objetivo é monitorar a frequência e distribuição dos principais determinantes das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) por inquérito telefônico (BRASIL, 2012). As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) estão entre os maiores problemas de saúde pública da atualidade. Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que as DCNT são responsáveis por 63% de todas as 36 milhões de mortes ocorridas no mundo em 2008. No Brasil, as DCNT são igualmente importantes, sendo responsáveis, em 2007, por 72% do total de mortes, com destaque para as doenças do aparelho circulatório (31,3% dos óbitos), neoplasias (16,3%) e diabetes (5,2%). Séries históricas de estatísticas de mortalidade disponíveis para as capitais dos estados brasileiros indicam que a proporção de mortes por DCNT aumentou em mais de três vezes entre 1930 e 2006 (BRASIL, 2012). Alguns resultados do Vigitel 2011 (BRASIL, 2012): • Excesso de peso: 48,5%, sendo maior entre homens (52,6%) do que entre mulheres (44,7%). • Obesidade: 15,8%. No sexo masculino, a frequência da obesidade triplicou da faixa de 18 a 24 anos de idade para a faixa de 35 a 44 anos de idade, declinando em idades mais avançadas. • A frequência de adultos que consomem frutas e hortaliças, em cinco ou mais dias da semana: 30,9%, sendo menor entre homens (25,6%) do que entre mulheres (35,4%). Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 22 • Frequência de adultos que consomem cinco ou mais porções diárias de frutas e hortaliças: 20,2%, sendo menor entre homens (16,6%) do que entre mulheres (23,3%). • Hábito de consumir carne vermelha gordurosa ou frango com pele, sem remover a gordura visível desses alimentos: 34,6%. • Hábito de consumir leite com teor integral de gordura: 56,9%. • O consumo de refrigerantes (aí incluídos os sucos artificiais) em pelo menos um dia da semana foi referido por cerca de 80% dos indivíduos. A grande maioria dos consumidores de refrigerantes (85%) referiu que consumia versões regulares (não dietéticas) desses produtos. A frequência de adultos que referiram consumir refrigerantes de qualquer tipo, em cinco ou mais dias da semana: 29,8%. • A frequência de adultos que referem consumir feijão em cinco ou mais dias da semana: 69,1%. • Inatividade física (indivíduos que não praticaram qualquer atividade física no lazer nos últimos três meses e que não realizam esforços físicos intensos no trabalho, não se deslocam para o trabalho ou para a escola a pé ou de bicicleta, perfazendo um mínimo de dez minutos por trajeto, por dia, e que não participam da limpeza pesada de suas casas): 14%. • A frequência de adultos que assistiram três ou mais horas de televisão por dia: 27,1%. NECESSIDADES E RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS DE MACRO E MICRONUTRIENTES Recomendações nutricionais são definidas tradicionalmente como a quantidade de energia e de nutrientes que atendem às necessidades da maioria dos indivíduos de um grupo ou de uma população. Do ponto de vista dietético, as recomendações nutricionais podem significar escolhas alimentares, ou seja, a seleção e o conjunto de alimentos que promovam a saúde. Sob o ponto de vista dietoterápico, as recomendações podem também significar a seleção e combinação de alimentos com finalidades terapêuticas (PHILIPPI, 2008). As recomendações nutricionais são instrumentos importantes para o planejamento, prescrição e avaliação de dietas. São baseadas em várias evidências científicas, como estudos populacionais de consumo, observações epidemiológicas, avaliações bioquímicas de restrição e saturação de nutrientes, e têm sido amplamente estudadas ao longo dos anos (PHILIPPI, 2008). Não existem recomendações nutricionais desenvolvidas em nível nacional e tradicionalmente têm sido adotadas as recomendações da FAO e as americanas, chamadas DRI - Dietary Reference Intake (PHILIPPI, 2008). As DRIs são valores numéricos estimados para o consumo de nutrientes, sendo utilizados como parâmetros para o planejamento e a avaliação de dietas para indivíduos saudáveis. As DRIs apresentam quatro valores de referência de ingestão dietética, diversificando e ampliando a utilização das recomendações para indivíduos e grupos populacionais. As atuais referências de ingestão são as seguintes (AQUINO et al, 2009): Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 23 RDA (Recommended Dietary Allowance): É o valor médio de ingestão diária de um nutriente estimado para atender às necessidades de aproximadamente 97,5% da população saudável. Manteve-se o conceito anteriormente utilizado de “nível de ingestão dietética diária suficiente para atender às necessidades de praticamente toda a população saudável”, estabelecidos principalmente a partir de medianas de curvas de distribuição normal de estudos populacionais de avaliação de consumo, acrescidas de dois desvios-padrão. Os valores de RDA garantem o atendimento às necessidades de indivíduos, evitando- se carências nutricionais. Devem ser consideradas a meta de ingestão e de adequação nutricional, apesar de estar acima das necessidades da maioria dos indivíduos. EAR (Estimated Average Require- ment): É o valor médio de ingestão diária de um nutriente que se estima atender às necessidades de 50% da população saudável, obtido a partir das curvas de consumo. Os valores de EAR são úteis para avaliar e planejar o consumo de grupos populacionais. AI (Adequate Intake): É o valor médio de ingestão diária de um nutriente cujos estudos disponíveis não permitiram o estabelecimento de RDA e EAR, mas a observação de consumo e/ou de dados experimentais possibilitou recomendá-lo. Também é usado para estabelecer quantidades de nutrientes que parecem reduzir o risco de doenças. Quando não há EAR e RDA de um determinado nutriente, utiliza-se a AI como meta de ingestão. UL (Tolerable Upper Intake Level): É o nível máximo de ingestão diária de um nutriente que é tolerável biologicamente, não trazendo riscos de efeitos adversos à saúde para praticamente todos os indivíduos da população. Deve-se considerar para a avaliação de UL a ingestão de alimentos- fonte, além de alimentos fortificados, suplementos e água. É importante destacar que o estabelecimento de UL atendeu às preocupações quanto ao uso indiscriminado e inadequado de suplementos nutricionais e seu valor não deve ser utilizado com referência ou recomendação. (AQUINO, 2009) Dentro dos conceitos disponibilizados, os valores de RDA ou AI podem ser considerados metas de ingestão, enquanto EAR e UL devem ser utilizados para a avaliação de dietas, uma vez que a ingestão habitual abaixo de EAR e acima de UL pode representar grande probabilidade de inadequação e de efeitos adversos. Figura 1 - Referências de consumo segundo as DRIs em curva de distribuição normal. Fonte da imagem: AQUINO et al, 2009. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 24 Para avaliar a adequação do consumo alimentar devem ser considerados: • A impossibilidade de se determinar e avaliar as necessidades de um indivíduo com exatidão. • As dificuldades em obter a ingestão habitual. • A estimativa da ingestão dietética habitual é dada por recordatórios de 24 horas ou diários alimentares de no mínimo três dias não consecutivos (dois dias de semana e um dia de final de semana). • O que se consegue avaliar é a adequação aparente, ou seja, a estimativa da ingestão dietética total comparada à estimativa das necessidades do indivíduo. • Existe a chamada VARIAÇÃO INTRAPESSOAL, que explica a variação de consumo de nutrientes no dia a dia. • Existe a variabilidade de consumo de acordo com cada nutriente, que pode ser subestimada ou superestimada a partir da ingestão habitual. Portanto, no momento de se avaliar a adequação do consumo alimentar é necessário utilizar as seguintes variáveis (IOM, 2000): • A estimativa das necessidades médias do indivíduo (EAR). • O número de dias avaliados (n). • A variação da necessidade entre indivíduos, dada pela variância do EAR VEAR = DPEAR². O DPEAR é igual a 10% do EAR para a maioria dos nutrientes e para a niacina é igual a 15%. • A variação da ingestão do nutriente, chamada variância intrapessoal (Vi = DPi²) é calculada utilizando-se a estimativa da variabilidade intrapessoal (DPi) obtida em estudos de consumo alimentar de populações (IOM, 2000), conforme Tabelas 1 e 2: Tabela 1 - Estimativas de DP intrapessoal para vitaminas e minerais em mulheres. Micronutrientes Crianças 4 a 8 anos Adolescentes 9 a18 anos Adultos 19 a 50 anos Adultos > 51 anos Vitamina A (μg) 808 852 1300 1255 Caroteno (RE) 452 549 799 796 Vitamina E (mg) 3 4 5 6 Vitamina C (mg) 61 81 73 61 Tiamina (mg) 0,5 0,6 0,6 0,5 Riboflavina (mg) 0,6 0,7 0,6 0,6 Niacina (mg) 6 8 9 7 Vitamina B6 (mg) 0,6 0,7 0,8 0,6 Folato (μg) 99 128 131 12 Vitamina B12 9,6 5,5 12 10 Cálcio (mg) 313 374 325 256 Fósforo (mg) 321 410 395 313 Magnésio (mg) 61 86 86 74 Ferro (mg) 5 6 7 5 Zinco (mg) 3 5 6 5 Cobre (mg) 0,4 0,5 0,6 0,5 Sódio (mg) 930 1313 1839 1016 Potássio (mg) 631 866 851 723 Fonte da imagem: FISBERG et al, 2005. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 25 Tabela 2 - Estimativas de DP intrapessoal para vitaminas e minerais em homens. • O valor de R encontrado é colocado na Tabela 3, buscando-se o valor de R mais próximo para se avaliar a probabilidade de adequação ou inadequação correspondente. Ex.: R=0,84, valor mais próximo de 1,00, ou seja, existe 85% de probabilidade da ingestão estar adequada. Micronutrientes Crianças 4 a 8 anos Adolescentes 9 a18 anos Adultos 19 a 50 anos Adultos > 51 anos Vitamina A (μg) 723 898 1160 1619 Caroteno (RE) 454 681 875 919 Vitamina E (mg) 3 5 7 9 Vitamina C (mg) 74 93 93 72 Tiamina (mg) 0,5 0,8 0,9 0,7 Riboflavina (mg) 0,7 1,0 1,0 0,8 Niacina (mg) 7 11 12 9 Vitamina B6 (mg) 0,7 1,0 1,0 0,8 Folato (μg) 117 176 180 150 Vitamina B12 4,7 5,0 13 14 Cálcio (mg) 353 505 492 339 Fósforo (mg) 352 542 573 408 Magnésio (mg) 71 109 122 94 Ferro (mg) 6 9 9 7 Zinco (mg) 4 8 9 8 Cobre (mg) 0,4 0,6 0,7 0,7 Sódio (mg) 957 1630 1819 1323 Potássio (mg) 750 1130 1147 922 • Para avaliar a PROBABILIDADE de adequação ou de inadequação do consumo de cada nutriente utiliza-se a fórmula: Fonte da imagem: FISBERG et al, 2005 ESCORE-Z (R) AVALIAÇÃO PROBABILIDADE + 2,00 ingestão adequada 0,98 ou 98% + 1,65 ingestão adequada 0,95 ou 95% + 1,50 ingestão adequada 0,93 ou 93% +1,00 ingestão adequada 0,85 ou 85% + 0,50 ingestão adequada 0,70 ou 70% 0,00 ingestão adequada/inadequada 0,50 ou 50% - 0,50 ingestão inadequada 0,70 ou 70% - 1,00 ingestão inadequada 0,85 ou 85% - 1,50 ingestão inadequada 0,93 ou 93% - 1,65 ingestão inadequada 0,95 ou 95% - 2,00 ingestão inadequada 0,98 ou 98% Tabela 3 – Valores de interpretação do valor de R obtido. Fonte da imagem: FISBERG et al, 2005 Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 26 Com relação aos macronutrientes, a DRI estabeleceu também um conceito inovador quanto à distribuição energética: AMDR (Acceptable Macronutrient Distribution Range). A AMDR pode ser definida como os limites percentuais de ingestão de proteínas, lipídios e carboidratos associados ao atendimento às necessidades nutricionais e a redução no risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). A AMDR (quadro 3) deve ser considerada como uma distribuição energética “aceitável” e não como um parâmetro de adequação (IOM, 2002). Quadro 3 – Valores de AMDR. Fonte da imagem: Adaptado de IOM, 2002. O acompanhamento de publicações das DRIs pode ser feito pelo site oficial da National Academy of Sciences: www.nas.edu. As DRIs também estabeleceram fórmulas para a estimativa da necessidade energética, o EER (Estimated Energy Requirement) ou NEE (Necessidade Energética Estimada). A NEE é a média da ingestão dietética que permite a manutenção de um balanço energético, baseado nos estudos de EAR populacional. Considerando uma possível variação na necessidade energética média, as DRIS estabeleceram valores de desvio padrão (DP) para indivíduos com IMC normal (± 2DP), para homens NEE ± 2 x 199 kcal e para mulheres NEE ± 2 x 162 kcal. Por exemplo, se a NEE deu 2028 kcal para uma mulher, pode-se somar ou subtrair 2x162kcal, com variação da NEE entre 1708 e 2348 kcal. Desta forma, se o objetivo for perda de peso, podemos utilizar o valor menor, no caso de ganho de peso, o maior. Estas equações foram elaboradas segundo estudos com Água Duplamente Marcada (FISBERG et al, 2005; IOM, 2002). Fórmulas de NEE para adultos: Sexo masculino: NEE= 662 – (9,53 x idade) + CAF x [(15,91 x peso) + (539,6 x estatura)] CAF (Coeficiente de Atividade Física): sedentário (1,0); pouco ativo (1,11); ativo (1,25); muito ativo (1,48). Sexo feminino: NEE = 354 – (6.91 x Idade)+ CAF x [(9.36 x Peso) + (726 x Estatura)] CAF (Coeficiente de Atividade Física): sedentário (1,0); pouco ativo (1,12); ativo (1,27); muito ativo (1,45). As atuais recomendações da FAO/OMS (2003) provenientes do “WHO Technical Report Series”, Report n° 916 de abril de 2003: “Diet, nutrition and the prevention of chronic diseases”, podem ser encontradas no site: www.who.int/hpr/nutrition/ expertconsultation e são descritas a seguir. Para lipídios, a variação aceitável é de 15 a 30% do valor energético total (VET), sendo que para indivíduos ativos pode chegar a até 35% do VET. O importante é considerar tipo de ácidos graxos consumidos. Quanto aos ácidos graxos saturados (AGS), existem evidências do aumento do risco de dislipidemias, doenças cardiovasculares (DCV), hipertensão arterial sistêmica (HAS), aterogênese e trombose. Recomenda-se especial redução dos tipos mirístico (manteiga e gordura do coco) e palmítico (azeite de dendê, banha e sebo, gordura do cacau e do leite), com consumo de AGS inferior a 10% do VET e de AG “trans” menor que 1% do VET. AMDR 1 a 3 anos 4 a 18 anos Adultos PROTEÍNAS 5 a 20% 10 a 30% 10 a 35% LIPÍDIOS ácido graxo linolêico ácido graxo alfalinolênico 30 a 40% 5 a 10% 0,6 a 1,2% 25 a 35% 5 a 10% 0,6 a 1,2% 20 a 35% 5 a 10% 0,6 a 1,2% CARBOIDRATOS 45 a 65% 45 a 65% 45 a 65% Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 27 Quanto aos ácidos graxos poliinsaturados, existem evidências científicas de diminuição do risco de DCV com seu consumo; recomenda-se a ingestão de 6 a 10 % do VET, sendo 5 a 8 % do VET de ômega-6 (ácido linolênico presente nos óleos vegetais) e 1 a 2 % do VET de ômega 3 (ácido alfa-linolênico presente no óleo de soja, canola e linhaça, peixes e crustáceos, óleo de fígado de bacalhau). Para os ácidos graxos monoinsaturados, existem evidências científicas de diminuição do risco de DCV e a recomendação é que os mesmos devem completar a participação do valor energético de lipídio. A recomendação para consumo de colesterol é que seja inferior a 300 mg/dia. A recomendação de proteínas é de 10 a 15% do VET e de carboidratos, de 55 a75% do VET, sendo no máximo 10 % do VET de açúcar livre. Para a prática da alimentação saudável, a FAO/ OMS também recomenda limitar o consumo de alimentos fontes de AGS, evitar o consumo de gordura hidrogenada e de alimentos industrializados, adequar o consumo diário de óleo vegetal, evitando- se frituras, aumentar o consumo de peixes para uma a duas vezes por semana, ingerir 400 a 500g de frutas, verduras e legumes por dia, limitar a ingestão de sal para menos de 5 g/dia e adequar a ingestão de sódio/potássio na proporção de 1:1. Para escolher qual recomendação nutricional seguir, é necessário buscar sempre as publicações mais recentes e considerar que as recomendações da FAO/OMS são mais adaptadas ao padrão alimentar brasileiro; além disso, aplicar cada recomendação considerando-se as características individuais visando a prevenção de doenças crônicas. A recomendação energética é dada pelas fórmulas da FAO/OMS (2001), conforme Quadro 4: Quadro 4 - Equações para estimativa de TMB, segundo idade, sexo e peso corporal. Fonte da imagem: Adaptado de WHO/FAO, 2001 Para estimativa da necessidade energética total (NET), deve-se multiplicar a TMB pelo fator atividade física: NET= TMB x FA Quadro 5 – Fatores atividade física. Fonte da imagem: Adaptado de WHO/FAO, 2001 Idade (anos) Sexo Masculino Sexo Feminino 0 – 3 (59,512 x P) – 30.4 (58,31 x P) – 31,1 3 – 10 (22,706 x P) + 504,3 (20,315 x P) + 485,9 10 – 18 (17,686 x P) + 658,2 (13,384 x P) + 692,6 18 – 30 (15,057 x P) + 692,2 (14,818 x P) + 486,6 30 – 60 (11,472 x P) + 873,1 (8,126 x P) + 845,6 ≥ 60 (11,711 x P) + 587,7 (9,082 x P) + 658,5 Sedentária Moderadamente ativa Intensa ou Vigorosa Homens e Mulheres 1,40 a 1,69 1,70 a 1,99 2,00 a 2,40 Valores MÉDIOS 1,55 1,85 2,2 Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 28 EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NA PRÁTICA CLÍNICA A diferenciação entre educação e orientação nutricional pode contribuir para melhor definir o papel do nutricionista enquanto educador e subsidiar a elaboração de programas de Educação Nutricional (BOOG, 1997). Diante da constatação de que a alimentação de má qualidade é um fator de risco para várias doenças, a Educação Nutricional passou a ser empregada para reverter a tendência do consumo excessivo de gorduras, açúcar e produtos industrializados (BOOG, 2004). Educação Nutricional Orientação nutricional Modificar e melhorar o hábito alimentar a médio e longo prazo. Mudança imediata de práticas alimentares e nos resultados obtidos. Preocupação sobre o comer e a comida, conhecimento, atitudes e a valorização da alimentação para a saúde, além da mudança de práticas alimentares. A preocupação principal é a mudança de práticas e o seguimento da dieta. Doença e necessidade de mudança como oportunidade de crescimento e desenvolvimento pessoal. Doença ou sintoma sempre como fator negativo a ser eliminado ou controlado. Busca-se a autonomia do cliente. Pressupõe-se a heteronomia do cliente ou paciente. O profissional é um parceiro na resolução de problemas alimentares, com o qual o cliente discute seus problemas e dificuldades. O profissional é uma autoridade cuja orientação deve ser seguida. As mudanças necessárias ao controle de doenças devem ser buscadas integrando: o físico, o intelectual e o emocional. Mudanças relativas à alimentação devem ser obtidas mediante o seguimento da dieta. A descontinuidade no processo de mudança nos hábitos alimentares e as transgressões são consideradas etapas previsíveis e pertinentes a um processo difícil e lento. Não se aceita transgressões e frequentemente elas se tornam motivo de censura. Ênfase no relacionamento profissional/ cliente e dialogicidade. Ênfase na prescrição dietética. Avaliação objetiva e subjetiva da evolução do paciente. Predominância ou uso exclusivo de métodos objetivos de avaliação. Objetivos estabelecidos em função das necessidades destacadas que são discutidas com o paciente, assim como suas perspectivas e esperanças. O objetivo é estabelecido em função das metas definidas pelo profissional para controle de doenças. Quadro 6 - Diferenças entre educação e orientação nutricional. Fonte da imagem: Adaptado de BOOG, 1997. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 29 No entanto, para realizar educação nutricional é necessário considerar que não comemos apenas em função dos nutrientes, mas que escolhemos alimentos que têm significados na esfera afetiva, psicológica e nas relações sociais. Neste sentido, educar no campo da nutrição implica em criar novos sentidos e significados para o ato de comer (BOOG, 2004). Deve-se considerar que, além da busca por um determinado conhecimento necessário à tomada de decisões que afetam saúde, cabe analisar as atitudes e condutas relativas ao universo da alimentação para a realização de educação nutricional. Atitudes são formadas por conhecimentos, crenças, valores e predisposições pessoais e sua modificação demanda reflexão, tempo e orientaçãocompetente (BOOG, 2004). Segundo Boog (2004), por meio da educação nutricional, deve-se buscar desenvolver estratégias sistematizadas para impulsionar a cultura e a valorização da alimentação, concebidas no reconhecimento da necessidade de respeitar, mas também modificar crenças, valores, atitudes, representações, práticas e relações sociais que se estabelecem em torno da alimentação . A concepção de projetos educativos deve obedecer três passos fundamentais: a determinação dos problemas nutricionais, a definição dos fatores causais e o diagnóstico educativo. O tipo de programa de educação a ser elaborado na prática clínica depende também do público-alvo, dos componentes cognitivos e situacionais dos comportamentos a serem mudados, dos componentes educativos do problema e dos recursos disponíveis para o seu desenvolvimento. Além disso, ao final do programa de educação nutricional é necessário avaliar os resultados, ou seja, a adoção dos novos hábitos, a retenção do conteúdo trabalhado e a modificação de conhecimentos, atitudes e valores da população-alvo (CERVATO-MANCUSO, 2011). Um exemplo de estratégia para educação nutricional realizada com adolescentes é a “Dinâmica de mitos e verdades”. Trabalhar com um grupo de adolescentes não é tarefa fácil, portanto é necessário definir a melhor estratégia para prender sua atenção e mudar conhecimentos; neste caso, a dinâmica foi realizada dividindo-se os adolescentes em dois grupos, quem acertasse mais conceitos seria o grupo vencedor. Nesta dinâmica, são trabalhados conceitos incorretos que os adolescentes têm a respeito da alimentação e manutenção de um peso saudável. Para se estabelecer quais conhecimentos devem ser trabalhados, é necessário realizar um trabalho de diagnóstico anterior, buscando na literatura e em grupos de discussão com os próprios adolescentes, quais suas principais dúvidas e crenças sobre alimentação e nutrição. Exemplos de mitos e verdades sobre alimentação do adolescente (TOASSA et al, 2010): Faz mal pular o café da manhã. Verdade - O café da manhã serve para repor a energia que gastamos enquanto dormimos e depois de muitas horas em jejum. É uma importante refeição do dia, pois faz com que a pessoa tenha disposição para estudar, trabalhar e demais atividades. Jantar engorda. Mito - É importante fazer seis refeições durante o dia e distribuir as calorias de forma adequada. À noite o metabolismo (transformação dos alimentos e sua utilização) está diminuído, portanto, recomenda-se uma refeição mais leve, mas é necessário jantar. A gordura deve ser excluída da dieta. Mito - Nenhum alimento deve ser excluído da dieta. A gordura é importante para a proteção dos órgãos internos do corpo, manutenção da temperatura corporal e formação das células. Porém, o excesso pode causar doenças no coração e obesidade. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 30 Comer muito antes da atividade física faz mal. Verdade - Quando comemos, para que ocorra a digestão dos alimentos, o sangue se concentra na região abdominal. Como para atividade física há necessidade de sangue para os músculos, a pessoas podem passar mal, desmaiar, ter cãibras ou sentir dores abdominais. Ser magro é ser saudável. Mito - Não é só o peso que determina o estado de saúde. O principal fator que determina a saúde é o comportamento saudável, que se expressa em uma alimentação adequada, na prática de atividade física regular, associados ao bem estar mental, que juntos resultam em melhor qualidade de vida. Dietas radicais realmente funcionam. Mito - As dietas radicais são muito restritivas e não fornecem todos os nutrientes para a manutenção da saúde. Visam quase sempre um emagrecimento rápido, difícil de ser mantido e podem causar o chamado “efeito sanfona” (emagrecer-engordar-emagrecer- engordar). Dividir as refeições durante o dia ajuda no emagrecimento. Verdade - Fracionar as refeições faz com que o cérebro receba sempre algum tipo de sinal de saciedade, isso impede uma fome excessiva e que se coma mais que o necessário. Outros exemplos de programas de educação nutricional de acordo com o estágio de vida: • Crianças – Desenhar os alimentos que mais gosta, que não gosta e os que mais come para descobrir os conceitos que ela tem sobre alimentação. Colorir a pirâmide dos alimentos a partir da explicação do que é uma alimentação saudável utilizando-se a pirâmide como ferramenta. Montar um prato saudável com recortes de revistas, degustação de frutas. Cozinhar com os pais. • Adultos – Considerar a rotina e o local de trabalho, trabalhando aspectos como: metas semanais sobre alimentação na agenda, metas nutricionais mensais no calendário, mitos e verdades no atendimento em consultório. • Idosos – Trabalhar conceitos simples e priorizar mudanças indispensáveis à manutenção da saúde, considerando sempre os hábitos alimentares arraigados e os aspectos psicológicos da alimentação, assim como: onde se alimentam, quem prepara os alimentos e com quem se alimentam. No consultório, o diagnóstico dos aspectos a serem trabalhados em educação nutricional é realizado a partir da anamnese e da avaliação do estado nutricional. O aconselhamento nutricional é a estratégia educativa do nutricionista junto ao cliente que necessita mudar seu comportamento alimentar. Conceitua-se o aconselhamento dietético como uma abordagem de educação nutricional, efetuada por meio do diálogo entre o cliente portador de uma história de vida - que procura ajuda para solucionar problemas de alimentação - e o nutricionista, preparado para analisar o problema alimentar no contexto biopsicossociocultural da pessoa, que a auxiliará a explicitar os conflitos que permeiam o problema, a fim de buscar soluções que permitam integrar as experiências de criação de estratégias para o enfrentamento dos problemas alimentares na vida cotidiana, buscando um estado de harmonia compatível com a saúde (RODRIGUES et al, 2005). Aplicação de conhecimento em nutrição clínica e metabólica (caso clínico) 1. Analise o consumo alimentar da paciente abaixo com base nas recomendações da Pirâmide Alimentar adaptada para a população brasileira. Verifique o número de porções por grupo de alimentos e estime o valor calórico total ingerido pela paciente. Alimentos e Alimentação da População Brasileira; Guias Alimentares; Necessidades e Recomendações Nutricionais de Macro e Micronutrientes; Epidemiologia da Nutrição no Brasil; Educação Nutricional; Políticas em Alimentação e Nutrição 31 Compare o valor encontrado com a NEE através da fórmula da DRI. Descreva o número de porções ideal para cada grupo, de acordo com as necessidades nutricionais da paciente. M.S.C., 30 anos, 58kg, 1,65cm, sedentária (CAF= 1,0). Café da Manhã (7:00) Jantar (21:00) Leite com café ½ copo de leite integral ½ leite ½ Café preto infusão adoçado ½ doces Pão com margarina 1 Pão francês 1 arroz ½ colher de sopa de margarina 1 óleos Almoço (13:00) Arroz com feijão 4 CS de arroz branco 1 arroz ½ concha de feijão (50% grão, 50% caldo) ½ feijões Frango assado 1 sobrecoxa com pele 1 carnes Salada de alface com tomate 5 folhas de alface lisa ½ VL 1 fatias de tomate ½ VL Sobremesa 2 brigadeiros pequenos 1 doces Macarrão à bolonhesa 4 CS de macarrão cozido 1 arroz 3 CS de carne moída refogada ½ carnes 2 CS de molho de tomate industrializado Salada de agrião com pepino 5 folhas de agrião ¼ VL 2 CS de pepino ½ VL Romeu e Julieta 1 fatia de goiabada 2 doces 1 e1/2 fatia de queijo minas 1 Leite NEE = 354 – (6.91 x Idade) + CAF
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