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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Língua Portuguesa: Compreensão Textual Aula 2 Professora Margarete Terezinha de Andrade Costa CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 Conversa Inicial Ler é um intercâmbio entre o leitor e o texto. Nesta relação, o leitor é ativo, isso porque à medida que lê cria suposições, vivencia sensações, vive emoções, adquire saberes e reflete sobre si e o mundo. Nesta aula, vamos estudar a relação da leitura, da compreensão e da interpretação do texto. Veremos também alguns procedimentos de leitura e vamos testar esses estudos lendo poemas. Contextualizando Veja a imagem a seguir e imagine uma história em quadrinhos: O que estaria acontecendo na primeira tira? Na segunda tira, qual mudança do pensamento e da fala no quadro azul aconteceu depois da explosão do quadro vermelho que resultaria nas exclamações do quadro verde? Qual o sentimento da personagem na tira três? Independentemente das respostas dadas, você leu uma imagem e produziu significado para ela. Para isso, foi necessário interpretá-las para criar certa compreensão. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 Tema 1 – Análise do texto A análise textual é um exercício necessário na formação de qualquer pessoa. Quem lê e não entende não lê. Veja o que o dicionário traz sobre o significado de analisar: v.t.d. Preparar ou realizar a análise de alguma coisa ou de alguém: analisar o sangue; analisar o comportamento. Retirar os componentes presentes num todo: analisar uma frase. Averiguar, estudar ou explorar alguma coisa de maneira minuciosa, com riqueza de detalhes: só aceitará a proposta depois de analisar as possibilidades. Comentar criticamente; subjugar ou criticar: analisar um filme. Linguística. Subdividir ou separar as unidades linguísticas que compõem uma estrutura complexa, descrevendo-as e/ou classificando-as. v.t.d e v.pron. Fazer uma apreciação ou julgamento de algo, alguém ou de si mesmo: antes de falar do outro, você precisa se analisar. (Etm. analise + ar) (Disponível em: <http://www.dicio.com.br/analisar/>.). Analisar é examinar cada parte do todo para seu estudo. No nosso caso, a análise é do texto em partes para facilitar a sua interpretação. Com relação ao texto, a análise pode ser: Textual: visão global, vocabulário, fatos, período histórico, autor. Temática: conteúdo ou tema, ideia central e secundária, raciocínio, argumentação. Interpretativa: relação entre as ideias, julgamento do conteúdo, concordância ou não, associação de ideias, crítica. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 Toda a análise depende da intenção da leitura: Lemos jornais e revistas para buscar informações da atualidade; Lemos textos de livros, teses e artigos científicos para trabalhos da faculdade; Lemos dicionários e/ou catálogos quando precisamos consultar alguma informação específica; Lemos contos, poemas, romances para passar o tempo, ter prazer e conhecer histórias. Lembrando que uma leitura literária pede mais fruição e prazer, assim deve ser feita de forma mais flexível. Já uma leitura não literária exige uma análise mais consistente. Veja a diferença entre elas: Baseado em: <http://www.brasilescola.com/literatura/linguagem-literaria- naoliteraria.htm>. Acesso em: 1º jun. 2016. Para buscar uma maior compreensão do texto, algumas formas de análise são interessantes, como delimitar a leitura. Se você demarcar sua leitura por parágrafos, capítulos ou seções ela ficará mais leve e clara. Somente depois de completada a análise de uma parte você passaria para a outra. A análise de uma parte é mais didática, porém sem perder o sentido do •A intenção é privilegiar a arte; •Suas características são a variabilidade, a complexidade, a conotação, a multissignificação e a liberdade de criação. Leitura literária •A intenção é comunicar ou informar; •A informação será repassada de maneira a evitar possíveis entraves para a compreensão da mensagem. Leitura não literária CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 texto em sua totalidade. Depois siga as análises já indicadas: Análise textual: faça uma primeira leitura rápida do texto, buscando entender o vocabulário, a temática e os seus princípios; Análise temática: leia o texto novamente, agora procurando perceber a mensagem do autor, a ideia central e o tema. Análise interpretativa: busque relacionar as ideias do autor com outras ideias e outros autores. Você pode também problematizar sua leitura, fazendo levantamento dos debates e das discussões propostas no texto. Para finalizar a leitura, é interessante fazer uma síntese do texto lido, o que tornará a leitura mais consistente, já que se trata de algo crítico, isto é, inclui as associações, os questionamentos, os equívocos e os juízos de valor. Tema 2 - Leitura/compreensão/interpretação A leitura já foi tida apenas no sentido texto + autor, isto é, o leitor não era considerado. O texto era suficiente para a compreensão textual. A leitura possuía um sentido estável, o sentido dado pelo escritor. O ato da leitura resumia-se em decodificar o sentido do texto dado pelo seu autor. Obviamente, esta visão é ultrapassada, sabemos que a leitura precisa do leitor para se efetivar. Um pouco de história No final da década de 1960, Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser, na Escola de Constança, questionaram a relação autor+texto+leitor, examinando o papel do leitor, surgindo daí a Estética da Recepção, que se volta para o efeito de sentido que a leitura provoca em seu receptor. Confira a seguir um pouco da história de cada um: CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 Hans Robert Jauss (1921-1997) Professor alemão, discípulo da hermenêutica de Gadamer, membro fundador da Escola de Constança, crítico expoente da Estética da Recepção e responsável pela divulgação da expressão “horizonte de expectativas”. A Literatura como Provocação é uma de suas obras mais nucleares. Leia mais: JAUSS, Hans; LIMA, Luiz Costa. A literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. São Paulo: Paz e Terra, 2002. Wolfgang Iser (1926-2007) Professor alemão na Universidade de Constança. É, junto de Hans Robert Jauss, o fundador da Escola de Constança e defensor da Estética da Recepção. Escreveu O Leitor Implícito, O Ato da Leitura. Disponível em: <http://literatura.uol.com.br/literatura/figuras- linguagem/55/artigo326944-1.asp>. Do estudo do diálogo entre o contexto do leitor e o contexto do autor ou da obra surge a ideia de que cada leitor reage de uma forma à leitura, porém nem toda interpretação é válida, lembrando que esta é produzida pelo texto e pela competência dialógica do leitor com as vozes presentes no texto. Umberto Eco, em 1979, desenvolve a abordagem semiótica, na qual o leitor é o foco da análise da leitura, mas com um determinado percurso para chegar à compreensão do texto, ele seria “leitor modelo” preparado a seguir o caminho em busca da compreensão A visão pragmática dos anos 1970 e 1980 traz a ideia de que a linguagem serve para agir, isto é a linguagem tem em seu uso o ato de dizer algo e a ação alcançada pelo ato de dizer algo. Esta abordagem ressalta a interação no discurso, nela o texto é inacabado, o leitor compartilha da sua construção. A visão sociocognitiva considera a leitura como um ato social entre oautor e o leitor, que interagem entre si. O leitor, para construir sentido, utiliza seu conhecimento prévio, que envolve o conhecimento linguístico, textual e de mundo ou enciclopédico, no processo de leitura. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 A visão enunciativa de Benveniste e Bakhtin traz a leitura como um ato enunciativo e exibe um sujeito leitor que formará uma relação com o texto para produzir sentido no momento da leitura. O leitor dialoga com o texto. Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias (2011) elaboraram as seguintes concepções: Ênfase no autor: O autor é um ser supremo, ele constrói uma representação mental e deseja que o interlocutor a capte tal e qual foi mentalizada; O texto é visto como um produto lógico do pensamento do autor; O leitor é passivo, não é livre para produzir uma interpretação pessoal; A leitura é entendida como a atividade de captação das ideias do autor. Ênfase na interação: Os sujeitos são vistos como construtores sociais, sujeitos ativos que, dialogicamente, constroem-se e são construídos no texto; O sentido de um texto é construído na interação entre texto e sujeito e não em algo que preexista a essa interação; A leitura é vista como uma atividade de produção de sentido; O papel do leitor, durante a leitura, é construir sentidos, utilizando-se de estratégias como seleção, antecipação, inferência e verificação. Um mesmo texto lido por mais de uma pessoa pode ter diferentes interpretações, pois essas dependem em grande parte do objetivo que o leitor tem ao realizar sua leitura. As teorias e concepções podem ser sintetizadas da seguinte forma: a leitura é um processo de construção de sentido pelo leitor. Para tal, há necessidade de um texto gerador criado pelo escritor que está inserido em um determinado contexto social, histórico e político. Ao construir o texto, é necessário o uso de uma representação gráfica CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 que mostre as intenções do autor de forma não isenta. Elas serão decodificadas pelo leitor, que também é inserido em um contexto próprio que lhe dará um entendimento próprio, porém ligado ao sentido do texto que construirá interagindo com o texto. O leitor une o seu conhecimento de mundo com os conhecimentos trazidos pelo texto. Tema 3: Procedimentos de leitura Procedimentos de leitura são estratégias, técnicas ou métodos que facilitam o processo de compreensão do texto. Veja alguns a seguir: Estratégia de seleção: o leitor presta atenção somente aos itens úteis para a compreensão do texto. Estratégia de antecipação: o leitor faz previsões e suposições das informações que o texto traz, tanto na decodificação das palavras quanto nas palavras inteiras e nos significados. Estratégia de inferências: o leitor faz “adivinhações” com base em pistas dadas pelo texto, inferências é ler algo que não está escrito. Estratégia de verificação: o leitor confirma a eficácia das outras estratégias usadas. Vamos ver como isso funciona na prática. Leia este poema de Fernando Pessoa: Autopsicografia O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 Que se chama coração Disponível em: <http://www.releituras.com/fpessoa_psicografia.asp>. Estratégia de seleção Autor do texto: Fernando Pessoa. Se você o conhece, sabe que ele é um dos mais importantes poetas portugueses e lerá o texto com mais “respeito”. Gênero textual: poesia – literatura literária. Aqui você já antecipa uma leitura denotativa, isto é, as palavras podem ter vários sentidos. Título: Autopsicografia Assim, já sabemos, fazendo antecipações, que a leitura vai ser figurada e que devemos ir além do texto. Sabemos também — hipótese — que uma leitura somente não dará conta de “entender” todo o significado do texto. Estratégia de antecipação Ao ver o poema, começamos com algumas antecipações e hipóteses organizadas com base em nossos conhecimentos anteriores. Vamos começar pelo título: “autopsicografia” é uma palavra fora do uso cotidiano, que por sinal foi criada pelo autor. Ela é a junção de duas outras: auto + psicografia. Pelo título, sabemos que vamos entrar em um universo de análise do próprio “auto”, de si mesmo, e que este universo será psicológico “psico” (alma); da descrição da alma “grafia”. Mesmo não pensando nos significados separados de cada termo, ao ler o título nos remetemos automaticamente ao universo proposto pelo título. Estratégia de inferências Ao começar a ler, vemos no primeiro verso1 que o texto é sobre o poeta, assim a “autopsicografia” será do poeta. Mesmo sem continuar a leitura, podemos prever do que o texto tratará. 1 As linhas do poema são chamadas de verso. Um conjunto de versos se chama estrofe. Uma linha em branco separa uma estrofe da outra. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 Nosso olhar vai nos convidar a percorrer a primeira estrofe2, e a palavra “fingidor” nos convida a continuar a ler, pois o segundo verso começa com a palavra “finge”, que volta a se repetir na terceira estrofe “a fingir”. Assim percebemos a oposição entre a dor que o poeta sente e que deveras sente. Na primeira estrofe, vemos que o poeta é um fingidor que finge a dor que sente: O poeta é um fingidor Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente Esta contradição nos provoca uma reflexão. Como fingir dor? Como o poeta consegue isso? Seria o poeta um mentiroso, um falso? Ou seria o poeta sensível o suficiente para se colocar no lugar de quem sofre e sente esta dor? E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm Na segunda estrofe, podemos formular uma nova antecipação de leitor ativo por meio do aparecimento de uma terceira figura: o poeta na qualidade de leitor. Salta-nos aos olhos a interação entre as duas dores: a dor lida e a dor sentida. Continuando o processo de efetiva interação com o texto, levantamos o paradoxo na terceira estrofe: E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração Termos inusitados, como “calhas”, “roda”, “comboio” e “corda”, transmutam-se no coração. O texto nos desperta sentimentos, emoções. Transforma o sofrimento em riso, a tristeza em alegria. Estratégia de verificação Mesmo confirmando a hipótese de que a dor sentida pode ser tanto do poeta quanto do leitor, é fato que outras hipóteses poderão ser estabelecidas, 2 Estrofe é um agrupamento de versos e equivale ao “parágrafo” do texto em prosa. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 tantas quantas aceitarem os conhecimentos e a criatividade dos leitores. O importante é deleitar-se com a leitura poética. Tema 4 - Descrição Descrever é tirar “uma foto” com palavras, isto é, quando é necessário informar características de alguma coisa, pessoa ou lugar usamos a descrição. Para isso, é necessária uma observação criteriosa dos detalhes, quanto maior o detalhamento, melhor o entendimento do leitor. O escritor se coloca no lugar do leitor e escreve o que quer que ele veja (imagine). A riqueza da descrição estáno uso preciso da língua, para descrever sensações, emoções e sentimentos que “a imagem fotografada” deve transmitir. A descrição pode ser objetiva ou subjetiva: Descrição objetiva: quando o sujeito, objeto ou lugar são exibidos no seu sentido real. Descrição subjetiva: quando o sujeito, objeto ou lugar são exibidos no seu sentido figurado. Para exemplificar, veja esta ilustração: Esta é minha antiga caricatura. Vamos analisar a descrição que eu mesma fiz de mim. Se for possível, faça este exercício e se divirta! Não seja CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 muito severo, todos temos nossos defeitos e nossas qualidades. Mulher de cabelos curtos, olhos e bocas grandes, usando uma camisa. Simpática professora de cabelos curtos, com olhos atentos e sorriso de aprovação nos lábios. Percebeu que a primeira é objetiva, não tem sentimentos? Já a segunda é subjetiva, demonstra mais intimidade e expressa uma opinião. A descrição tem a seguinte estrutura: Introdução: apresenta os aspectos gerais do ser, objeto ou o lugar a ser descrito. Desenvolvimento: expõe os elementos da descrição em uma sequência coerente completando a imagem desejada. Conclusão: completa a caracterização da imagem. A descrição tem algumas características peculiares: Uso de adjetivos: as qualidades ajudam a descrever, são termos que tem como objetivo caracterizar os elementos a que se referem. Adjetivos são palavras que caracterizam um substantivo, conferindo-lhe uma qualidade, característica, aspecto ou estado. Os adjetivos variam em gênero (masculino e feminino) e em número (singular e plural) conforme o substantivo que caracterizam. Disponível em: <www.normaculta.com.br/adjetivos/>. Frases curtas: o texto descritivo busca ser mais rápido e direto. Verbos de ligação: não há ênfase em ações, mas sim em estados, caracterizados por este tipo de verbo. Os verbos de ligação não indicam ação. Estes verbos fazem a ligação entre 2 termos: o sujeito e suas características (Disponível em: <http://www.infoescola.com/portugues/verbos-de-ligacao/>). Ênfase minuciosa nas sensações: tanto nas físicas quanto nas psicológicas, em seus mínimos detalhes. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 Tema 5: Gêneros textuais: Poema Nesta rota você vai ler os poemas mais conhecidos da língua portuguesa. Faça a leitura de uma forma prazerosa, não se preocupe com o entendimento na primeira vez, faça novas em diferentes momentos e tente conversar com outras pessoas que também leram tais textos. Troque impressões e aproveite as mais belas produções em língua portuguesa. Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d'água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Manuel Bandeira é o escritor que pegou tuberculose na adolescência e passou o resto da vida dizendo que ia morrer. Detalhe, o cidadão morreu com CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 82 anos. Entre outras coisas, o poeta pernambucano foi o responsável pelo célebre discurso “Os sapos”, lido durante a semana de arte moderna de 22. Disponível em: <http://oficina-literaria.blogspot.com.br/2010/03/as-7-poesias-mais- conhecidas-da.html>. Rosa: mulata que serviu de ama-seca a Manuel Bandeira e a seus irmãos quando meninos. Alcaloide: substância química encontrada nas plantas que, entre outros fins, serve para a fabricação de drogas. É o próprio Bandeira quem explica: “Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...]. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/literatura/pasargada.htm>. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 Soneto da Fidelidade De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa dizer do meu amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Vinicius de Morais O escritor, compositor e boa vida carioca é autor de vários dos poemas mais conhecidos do Brasil. Escolhi esse, pois é o mais conhecido. Uma curiosidade sobre o autor, é que ele odiava o apelido de "poetinha". Análise A lírica de Vinicius de Moraes é um soneto, pois possui dois quartetos e dois tercetos. As rimas do poema são externas, ocorrem sempre ao final de cada verso. Nos quartetos temos rimas interpoladas e emparelhadas (ABBA), e nos tercetos as rimas são misturadas. Quanto à métrica, os versos são clássicos, pois têm o mesmo número de sílabas em todo o poema, são todos decassílabos. O soneto fala especificamente do amor. O eu lírico deixa claro que quer aproveitar cada momento ao máximo, sendo atencioso e zeloso com seu amor. Quer demonstrar a todos o que sente, e estar ao lado da pessoa amada nos CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 momentos bons e ruins. Quando o eu lírico começa a falar de morte e solidão, já fica claro que não acredita na eternidade do sentimento. No verso “Eu possa me dizer do amor (que tive)”, o poeta deixa transparecer uma desilusão amorosa, talvez por isso não acredite no “amor eterno”. Quando utiliza a expressão “posto que”, pelo contexto, dá um valor causal a ela, significando “visto que”, “já que”, “uma vez que”. O poeta diz que não espera que o amor seja imortal visto que é chama, precisamente porque é chama e, tal como a chama se extingue, assim acontece com o amor. Esta é uma forte característica dos poemas de Vinicius de Moraes, destruir a noção da eternidade do amor. Porém, ao dizer “Mas que seja infinito enquanto dure”,confirma a ideia de aproveitar cada momento com seu amor, mas sem pensar no amanhã e sim aproveitando o presente. A linguagem do soneto é muito clara, não há vocábulos desconhecidos. Porém é culta. Também não aparece o uso de figuras de linguagem. Disponível em: <http://ludyanne.blogspot.com.br/2009/02/analise-do-soneto-de- fidelidade.html>. Poeminha do Contra Todos estes que aí estão Atravancando o meu caminho, Eles passarão. Eu passarinho! Mario Quintana O escritor gaúcho foi vítima de uma das maiores injustiças da ABL: o poeta tentou por três vezes uma vaga à Academia Brasileira de Letras, mas em nenhuma das ocasiões foi eleito; as razões eleitorais da instituição não lhe permitiram alcançar os vinte votos necessários para ter direito a uma cadeira. Ao ser convidado a candidatar-se uma quarta vez, e mesmo com a promessa CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 de unanimidade em torno de seu nome, o poeta recusou. Disponível em: <http://oficina-literaria.blogspot.com.br/2010/03/as-7-poesias-mais- conhecidas-da.html>. Canção do Exílio Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. Gonçalves Dias O 2º poema mais conhecido da literatura brasileira foi escrito durante o período em que o escritor maranhense Gonçalves Dias estava estudando em Portugal, daí o nome "Canção do Exílio". O escritor morreu durante um naufrágio e, segundo a lenda, foi devorado por tubarões. Disponível em: <http://oficina-literaria.blogspot.com.br/2010/03/as-7-poesias-mais- conhecidas-da.html>. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 José E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, Você? Você que é sem nome, que zomba dos outros, Você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio, - e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse, a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho-do-mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, José! José, para onde? Carlos Drummond de Andrade O poema mais conhecido da literatura foi escrito pelo escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade, um farmacêutico nascido na cidade de Itabira. De tão conhecido que ele é, a expressão "E agora, José" virou uma gíria popular, usada em situações complicadas. Disponível em: <http://oficina-literaria.blogspot.com.br/2010/03/as-7-poesias-mais- >conhecidas-da.html>. O poema José mostra-se com uma visão pessimista do cotidiano. Seu tema central é a solidão do homem, sua falta de espaço; revela uma profunda angústia pela vida. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Inicialmente, observamos que a alegria e a felicidade já existiram, mas agora, "a festa acabou". Em seu lugar ficou a escuridão, o frio, o abandono: José está só. "E agora, José? A festa acabou" (A alegria se foi... situação de perda), "a luz apagou" (escuridão, trevas), "o povo sumiu" (solidão, abandono), "a noite esfriou" (noite e frio não só no ambiente físico, mas também na alma, na vida de José. As interpelações, cada vez mais repetidas, ganham maior intensidade e significação, pois reforçam a situação do homem que já não tem ambiente. Disponível em: <http://of icinadoescritor.blogspot.com.br/2010/03/analise - do-poema-jose.html>. Mar Português Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa Fernando Pessoa nasceu em 1888, em Lisboa, aí morreu em 1935, e poucas vezes deixou a cidade em adulto, mas passou nove anos da sua infância em Durban, na colônia britânica da África do Sul, onde o seu padrasto era o cônsul Português. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Escrito a 9 de Junho de 1935, seis meses antes da morte de Fernando Pessoa, este poema tem uma importância eminentemente esotérica. A análise foi feita nesse âmbito, recorrendo a um texto de Dalila Pereira da Costa, publicado em 1978. Como bem indica esta pessoana de renome, o poema “Mar Português” surge na continuação do que é a “Mensagem”. No entanto, e se tal for possível, é ainda mais hermético do que aquela, porque se na “Mensagem” se invoca o Mar Português ainda físico da conquista e depois lentamente transcendental do espírito, no poema “Mar Português” a invocação é já plenamente transcendental, focada na importância da obra do próprio Fernando Pessoa num futuro renascer da alma nacional. Identificam-se temas comuns entre este poema e a “Mensagem”. Nomeadamente a referência ao mar simultaneamente espelho e abismo, onde a alma se perde no sonho e depois do sonho se reflete num projeto de futuro esplendoroso porque plenamente espiritual e desligado da terra. Há o reconhecimento de que nada mais há a buscar no mar físico, mas que resta a exploração do mar espiritual, onde Pessoa quer ser empossado argonauta, porque é através da poesia, da linguagem do inefável, que se podem descobrir os mistério da alma e da vida, escondidos à visão normal dos homens. Disponível em: <https://sites.google.com/site/apontamentoslimareis/mar-portugus>. Você conheceu os poemas e poetas mais importantes da língua portuguesa. Amplie seus conhecimentos culturais lendo outras poesias e comparando sua mensagem com a realidade. Observe que, ao ler poesia, nós estamos estimulados ao belo e às emoções mais humanas. As poesias nos fazem vivenciar sensações instigando a sensibilidade, tornando-nos mais humanos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Trocando ideias Converse com seus colegassobre poesias e músicas que você mais gosta. Troque as letras entre vocês e discutam sobre as diferentes situações que elas podem ser aplicadas. Compare as diferentes opiniões e amplie seus conhecimentos sobre estas leituras. Na prática Leia a letra da música de Chico Buarque de Holanda, aproveite e procure pelo vídeo também! Cálice - Chico Buarque Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta De que me vale ser filho da santa Melhor seria ser filho da outra Outra realidade menos morta Tanta mentira, tanta força bruta Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 Como é difícil acordar calado Se na calada da noite eu me dano Quero lançar um grito desumano Que é uma maneira de ser escutado Esse silêncio todo me atordoa Atordoado eu permaneço atento Na arquibancada pra a qualquer momento Ver emergir o monstro da lagoa Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue De muito gorda a porca já não anda De muito usada a faca já não corta Como é difícil, pai, abrir a porta Essa palavra presa na garganta Esse pileque homérico no mundo De que adianta ter boa vontade Mesmo calado o peito, resta a cuca Dos bêbados do centro da cidade Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice Pai, afasta de mim esse cálice De vinho tinto de sangue Talvez o mundo não seja pequeno Nem seja a vida um fato consumado Quero inventar o meu próprio pecado Quero morrer do meu próprio veneno Quero perder de vez tua cabeça Minha cabeça perder teu juízo Quero cheirar fumaça de óleo diesel Me embriagar até que alguém me esqueça CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 23 Compare também as imagens a seguir: “Cálice” uma das músicas mais panfletárias do Chico Buarque, somando-se o fato dele ter como parceiro a genialidade do Gil, fizeram uma grande obra. A análise é extensa por conta de que todos os versos vêm imbuídos de metáforas usadas para contar o drama da tortura no Brasil no período da ditadura militar. Pesquise sobre os significados da música, o momento político e as intenções subliminares que ela traz. A seguir, você confere a análise das metáforas da música “Cálice”: (Pai, afasta de mim esse cálice) Sintetiza uma súplica por algo que se deseja ver a distância. Boa parte da música faz uma analogia entre a Paixão de Cristo e o sofrimento vivido pela população aterrorizada com o regime autoritário. O refrão faz uma alusão à agonia de Jesus no calvário, mas a ambiguidade da palavra “cálice” em relação ao imperativo “cale-se”, remete à atuação da censura. (De vinho tinto de sangue) O “cálice” é um objeto que contém algo em seu interior. Na Bíblia, esse conteúdo é o sangue de Cristo, na música é o sangue derramado pelas vítimas da repressão e torturas. (Como beber dessa bebida amarga) A metáfora do verso remete à dificuldade de aceitar um quadro social em que as pessoas eram subjugadas de forma desumana. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 24 (Tragar a dor, engolir a labuta) Significa a imposição de ter que aguentar a dor e aceitá-la como algo banal e corriqueiro. “Engolir a labuta” significa ter que aceitar uma condição de trabalho subumana de forma natural e passiva. (Mesmo calada a boca, resta o peito) Os poetas afirmam que mesmo a pessoa tendo a sua liberdade de pronunciar-se cerceada, ainda lhe resta o seu desejo, escondido e inviolável dentro do seu peito. (Silêncio na cidade não se escuta) O silêncio está metaforicamente relacionado à censura, que, desta forma, é entendida como uma quimera, um absurdo inexistente, porque, na medida em que o silêncio não se escuta, o silêncio não existe. (De que me vale ser filho da santa / Melhor seria ser filho da outra) Não fugindo à temática da religião, Chico e Gil usam de metáforas para mostrar suas descrenças naquele regime político e rebaixam a figura da “pátria mãe” à condição inferior à de uma “prostituta”, termo que fica subentendido na palavra “outra”. (Outra realidade menos morta) Seria uma outra realidade, na qual os homens não tivessem sua individualidade e seus direitos anulados. (Tanta mentira, tanta força bruta) O regime militar propagandeava que o país vivia um “milagre econômico” e todos eram obrigados a aceitar essa realidade como uma verdade absoluta. (Como é difícil acordar calado / se na calada da noite eu me dano) O eu-lírico admite a dificuldade de aceitar passivamente as imposições do regime, principalmente diante das torturas e pressões que eram realizadas à noite. Tudo era tão reprimido que necessitava ser feito às escondidas, de forma CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 25 clandestina. (Quero lançar um grito desumano / que é uma maneira de ser escutado) Talvez porque ninguém escutasse as mensagens lançadas por vias pacíficas e ordeiras, uma das possibilidades, por conta de tanto desespero, seria partir para o confronto. (Esse silêncio todo me atordoa) Esse verso denuncia os métodos de tortura e repressão, utilizados para conseguir o silêncio das vítimas, fazendo-as perderem os sentidos. (Atordoado, eu permaneço atento) Mesmo atordoado o eu-lírico permanece atento, em estado de alerta para o fim dessa conjuntura, como se estivesse esperando um espetáculo que estaria por vir. (Na arquibancada, pra a qualquer momento ver emergir o monstro da lagoa) Entretanto, o espetáculo pode ser, ironicamente, somente o surgimento de mais um mecanismo de imposição de poder do regime, representado pelo monstro da lagoa. (De muito gorda a porca já não anda) Essa “porca” refere-se ao sistema ditatorial, que, de tão corrupto e ineficiente, já não funcionava. O porco também é um símbolo da gula, que está entre os sete pecados capitais, retomando a temática de religiosidade e elementos católicos. (De muito usada a faca já não corta) Demonstra inoperância, ou seja, mostra o desgaste de uma ferramenta política utilizada à exaustão. (Como é difícil, pai, abrir a porta) É expresso o apelo para que sejam diminuídas as dificuldades, mas ao mesmo tempo apresenta a tarefa como sendo muito difícil. A porta representa a CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 26 saída de um contexto violento. Biblicamente, sinaliza um novo tempo. (Essa palavra presa na garganta) É a dificuldade para encontrar a liberdade, a livre expressão. É o desejo de falar, contar e descrever a todos a repressão que está sendo imposta. (Esse pileque homérico no mundo) Refere-se ao desejo de liberdade contido no peito de cada cidadão dos países vivendo sob os vários regimes autoritários existentes no mundo. (De que adianta ter boa vontade) É um autoquestionamento sobre a ânsia de lutar pela liberdade, uma vez que o mundo estava ao avesso. Refere-se a uma frase bíblica: “paz na terra aos homens de boa vontade”. (Mesmo calado o peito resta a cuca dos bêbados do centro da cidade)Mesmo sem liberdade o homem não perde a mente e pode continuar pensando. (Talvez o mundo não seja pequeno nem seja a vida um fato consumado) A partir deste verso o eu-lírico sugere a possibilidade de a realidade vir a ser diferente, renovando suas esperanças. (Quero inventar o meu próprio pecado) Expressa a vontade de libertar-se da imposição do erro por outros para recriar suas próprias regras e definir por si só, quais são seus erros, sem que outros o apontem. Tem o significado de estar fora da lei. O verbo aproxima-se do desejo urgente e real de liberdade. (Quero morrer do meu próprio veneno) Neste verso está implícito que ele deseja ser punido pelos erros que ele vier a praticar seguindo o seu livre-arbítrio, e não, tendo seu desejo cerceado, punido por erros que o sistema acha que ele poderá vir a cometer. (Quero perder de vez tua cabeça / minha cabeça perder teu juízo) Traz a ideia de que o eu-lírico deseja ter seu próprio juízo e não o do CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 27 poder repressor. Quer decapitar a cabeça da ditadura e libertar-se do juízo imposto por ela, para ser dono de suas próprias idéias. (Quero cheirar fumaça de óleo diesel / me embriagar até que alguém me esqueça) Para encerrar, Chico e Gil usaram uma imagem forte das táticas de tortura. Para fazer com que os subjugados perdessem a noção da realidade, dentro da sala os repressores queimavam óleo diesel, cuja fumaça deixava-os embriagados. Entretanto, os subjugados também possuíam táticas antitortura, e uma das artimanhas era justamente fingir-se desmaiado, pois, enquanto nesta condição, não eram molestados pelos torturadores. Disponível em: <http://dialogolinguistico.blogspot.com.br/2010/05/analise-da-musica- calice.html>. Síntese Neta aula você viu a relação da leitura, compreensão e interpretação de texto. Percebeu sua necessidade e obteve algumas “dicas”. Também teve a oportunidade de ler alguns poemas como exercício de leitura. Referências KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
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