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HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA NOS SÉCULOS XIX E XXI: DO 
CIENTIFICISMO À HISTÓRIA CULTURAL
Simone Aparecida Borges Dantas (Universidade Federal de Goiás)
Durante o século XIX, a Europa se viu mergulhada nos movimentos de unificação 
e de afirmação das nacionalidades. Assim, Estados como: Alemanha, Inglaterra, França 
e Itália se despertam pelo estudo do passado, buscando neste, as origens de um 
sentimento de nacionalidade, ou seja, os fundamentos de uma nação. Pois, as bases de 
sustentação do poder, diante do ideário liberal burguês, não se encontravam mais no 
plano divino, mas, sim, na legitimidade conferida pelo povo ao seu governante. De tal 
modo, da relação entre o povo e nação, advinda após a implantação do Estado burguês, é 
que se depreendem as bases do nacionalismo. 
A História surge, desse modo, na perspectiva oficial, como legitimadora das novas 
bases do poder. Destarte, busca-se nas origens e a evolução da nação, com base na 
racionalidade, um discurso científico capaz de suscitar no povo o sentimento de 
identificação com a nova sociedade. Assim sendo, o século XIX configura-se por ser o 
“século da história erudita”, nesse período a profissão de historiador se profissionaliza e 
o ensino de História passa a ser ministrado nas universidades. É na Alemanha que, 
primeiramente, se organiza o estudo científico da História e inspira à França a criação da 
Escola Prática de Altos Estudos. 
O século XIX presencia a organização do ensino superior, tal característica 
favorece a expansão do ensino de História. O que impulsiona, no entanto, a História 
nesse período é o incentivo governamental, que manterá historiadores em grandes 
empreendimentos de pesquisas e de publicações, bem como, financiará escavações 
arqueológicas, “isto se dá porque eles têm plena (ou, talvez, apenas o sentimento 
obscuro), poderosa alavanca sobre o espírito público, proporcionada pela História” 
(Glénisson, 1991, p. 20). Nesse sentido, vê-se na História a possibilidade de resgate da 
memória coletiva e a organização da identidade nacional. Mas, a História no século 
XIX, além de História das nações, pretendia, também, ganhar status de História 
científica. 
Na Europa nesse período há um grande desenvolvimento das ciências naturais, 
principalmente a física e a química, que desenvolveram um rigoroso método: o método 
experimental. Os historiadores, por sua vez, entram na defesa para a garantia do caráter 
científico da História. O interessante em notar é que desde o final da Idade Média os 
eruditos elaboram regras e técnicas que “os historiadores, absortos em suas 
preocupações literárias, teológicas ou morais, desprezaram quando não ignoraram 
completamente” (Glénisson, 1991, p. 207). O contexto, todavia, se modificara, a 
História, em busca de seu método, reivindicava essas regras e técnicas, aperfeiçoando-as 
e transformando-as num método coerente: o método crítico. Dessa forma, poderia a 
história almejar um espaço ao lado das outras ciências. 
Inicialmente, como se abordou, a organização do estudo científico da História se 
deu na Alemanha e coube a Leopoldo Von Ranke, a maior expressão da chamada 
“Escola Científica Alemã”, o avanço do pensamento histórico alemão. Suas idéias 
influenciaram as futuras gerações de historiadores alemães e franceses. As teses de 
Ranke, postulam um afastamento da História de especulações filosóficas, subjetivas e 
moralizantes. Segundo este autor “a ciência positiva pode atingir a objectividade e 
conhecer a verdade da história” (Bourdé; Martin, 1983, p. 114). Utilizando-se da 
heurística, erudição e da crítica, transforma as regras e técnicas desenvolvidas pelos 
eruditos em princípios metódicos.
Na França, Michelet (1798-1874) realiza uma importante sistematização histórica 
em sua obra História de França. Nesta, Michelet tem a ambição de escrever a história 
da França, por meio de um trabalho minucioso na tentativa de uma compreensão total do 
passado. Outra característica de seu trabalho é a relação do historiador com seu objeto, 
para Michelet “A objectividade não passa (...) de um falso problema. Longe de querer 
apagar-se, o historiador deve estar presente, com as suas paixões emoções, a todos os 
níveis do seu trabalho” (Bourdé; Martin, p. 85).
Fustel de Coulanges (1830-1889), por sua vez, foi o historiador que contribuiu 
para a fixação dos procedimentos da História erudita na França, primeiro por considerar 
o:
[...] passado como um objecto separado do historiador, que pode ser observado com 
‘um olhar mais calmo e mais e mais seguro’ do que o presente, o que permite 
distinguir mais facilmente a ilusão da verdade. E também por prudências repetidas 
contra os impulsos da subjectividade: ‘A história é um ciência; não imagina; apenas 
vê; ou ainda: exige ‘um espírito absolutamente independente e livre sobretudo a 
respeito de si mesmo’. Finalmente, pelo enunciado da regra de ouro segundo a qual 
a história deve basear-se essencialmente nos documentos escritos [...] ‘O historiador 
só deve pensar segundo os documentos e escrever sob o seu ditame: ‘A sua única 
habilidade consiste em tirar dos documentos tudo o que eles contêm e nada 
acrescentar do que não contêm. O melhor dos historiadores é aquele que está mais 
perto dos textos, que os interpreta com mais justeza, que só escreve e mesmo pensa 
segundo eles’ (Bourdé; Martin., p. 78-79).
Alguns historiadores do assunto, entretanto, chegam à conclusão de que a escola 
histórica que se fixou na França entre 1880 e 1930 foi a Escola Metódica, indevidamente 
classificada como Positivista. Isso ocorreu em decorrência das semelhanças entre o 
método desenvolvido pelos historiadores na segunda metade do século XIX e as idéias 
difundidas pelos discípulos de August Comte. A saber: primazia do documento escrito; a 
imposição do método experimental; a neutralidade científica; a tarefa do historiador se 
restringe à reunião e crítica dos documentos, ou seja, determinação dos fatos. Diferem-
se, no entanto, no tocante à existência de leis gerais que expliquem a sociedade. Ou seja, 
os historiadores da segunda metade do século XIX como os seguidores de Comte, 
reconhecem como tarefa primordial a determinação dos fatos, mas repelem qualquer 
forma de filosofia da História. Assim, “A história, tal como é concebida por volta de 
1890, no pequeno âmbito dos especialistas universitários, repele, efetivamente, a 
filosofia que tantos pensadores haviam pretendido extrair dela, bem como as ‘leis’, em 
que frequentemente se havia tentado enquadrá-la” (Glénisson, 1991, p. 210). 
Pode-se dizer que a influência do Positivismo para a historiografia do século XIX 
relaciona-se à concepção do método. Ao lado dessa tendência, existe o ideal de ver a 
história figurar ao lado das ciências da natureza. Assim há uma busca pelo rigor, pela 
técnica, e o método erudito é transformado em método histórico, enrijecendo-se e 
tornado-se dogmático. Os historiadores tornam-se meros técnicos, possuindo como 
tarefa principal a verificação dos fatos. È a partir dessas características que muitos 
críticos da atualidade, classificam a História do século XIX de Positivista.
Mas, ainda, assim, segundo Glénisson (1991, p.211), o adequado seria chamar de 
história erudita ou, apoiando-se em Seignbobos, de história empírica, a que se consagrou 
na segunda metade do século XIX, pois:
A história empírica pretende consagrar todos os seus esforços à pesquisa e à 
determinação dos fatos históricos. Estes deixaramseus traços nos documentos (que 
são na prática, quase sempre, documentos escritos). A missão primordial do 
historiador, portanto, consistirá em reunir e criticar os documentos. Uma vez 
extraídos daí os fatos e garantida sua autenticidade, será preciso determinar as 
relações existentes entre eles e que formam a substância da história geral. O 
essencial destas operações é de ordem psicológica: a história é “um problema de 
psicologia” (Glénisson., p. 211).
A História empírica ainda se caracteriza por ser a História dos acontecimentos no 
qual um é causa incontestável do outro, ou seja, está calcada no determinismo: em que 
“(...) todo fato histórico tem sua causa e sua explicação nos fatos que o precederam” 
(Glénisson, 1991, p. 213).
Apesar do alcance das concepções positivistas, os historiadores franceses não se 
inspiraram especificamente em Auguste Comte, mas sim, no alemão Leopold Von 
Ranke. A Escola Metódica coloca em prática as postulações de Ranke e a História se 
firma na França, realizando uma “[...] autêntica ‘ruptura epistemológica’ ao afastar o 
providencialismo cristão, o progressismo racionalista, até mesmo o finalismo marxista” 
(Bourdé; Martin, 1983, p. 102). Acompanhando esse processo, nos meados do século 
XIX a disciplina Histórica chega às academias francesas com a Escola das Cartas, a 
Escola Prática dos Altos Estudos, entre outras. Historiadores como Monod, Lavisse e 
Seignobos “bebem na fonte alemã” e participam das origens da Escola Metódica 
Francesa. Nesse sentido, em 1876, Gabriel Monod fundou A Revista Histórica, a qual 
pontuou alguns dos princípios da Escola Metódica. Esse periódico pretendia finalizar a 
tradição historiográfica francesa pautada na política e na religião, destinando-se a 
publicar investigações originais sobre a Europa e, em especial, a França, tendo em vista 
os princípios de objetividade e exatidão das informações.
Posteriormente à fundação de A Revista Histórica, dois de seus colaboradores, 
Langlois e Seignobos, preocupados em formar gerações de historiadores “[...] investem 
as cátedras de histórias nas universidades recentemente criadas ou reformadas (...) e 
definem as regras aplicáveis à disciplina numa Introdução aos Estudos Históricos”. 
Contribuem, assim, decisivamente para a constituição dos princípios da Escola Metódica 
e da construção de uma História científica. Para esses historiadores franceses a História 
não passa da aplicação dos documentos, compreendidos como documentos escritos, 
testemunhos voluntários, como cartas, decretos, correspondências, manuscritos. Desse 
modo, para a Escola Metódica, a Heurística corresponderia à tarefa primordial do 
historiador, ou seja, reunir, classificar e proteger os documentos. Em seguida a essas 
etapas iniciaria a análise, compreendida pela crítica externa ou erudição, na qual se 
verifica a autenticidade do documento. A crítica interna ou Hermenêutica “[...] a análise 
de conteúdo da acta e a crítica positiva de interpretação para se certificar do que o autor 
quis dizer”. Após as análises passa-se para a síntese, a qual deve seguir as seguintes 
etapas: comparar os documentos; reagrupar os atos isolados em quadros gerais: por 
analogia ou dedução ligar os fatos entre si e para encher as lacunas deixadas pelos 
documentos: fazer escolha na massa de acontecimentos; tentar algumas interpretações e 
generalizações (Bourdé; Martin, 1983, p. 101-105).
Na Terceira República francesa (1870-1940), a História Metódica participou da 
composição do ideário escolar, por meio dos manuais escolares. O manual mais 
difundido foi o Petit Lavisse (1884), este manual, longe de conter a objetividade e a 
imparcialidade científicas veementemente proclamadas pelos adeptos da Escola 
Metódica, apresentava um conteúdo ideológico pautado no nacionalismo, na exaltação à 
pátria, e na vingança ao inimigo germânico, bem como, o culto às grandes 
personalidades e seus atos: “Nestas condições a ciência histórica, que pretende a 
imparcialidade, a objectividade, revela- se um discurso ideológico que serve os 
interesses de um regime político ou manifesta as aspirações de uma comunidade 
nacional” (Bourdé; Martin, 1983, p. 115).
Devido a essas características, a Escola Metódica sofreu diversos tipos de 
questionamentos que combatiam, não só suas concepções, como também as suas 
contradições.
No século XIX ainda se destaca o idealismo alemão, essa corrente filosófica tem 
em Hegel (1770), seu maior expoente. As postulações deste filósofo trazem importantes 
contribuições para o modo de se conceber o conhecimento e, em especial, o 
conhecimento histórico. Hegel rompe com a idéia iluminista de progresso retilíneo e 
absoluto da razão e propõe que o conhecimento se dá por meio da dialética, no 
movimento dos contrários. Suas concepções têm por primazia um idealismo absoluto em 
relação à realidade, ou seja, a consciência humana é que determina o real e o 
desenvolvimento do processo histórico “O Espírito, actor principal da história, não toma 
consciência de si mesmo directamente, mas por um movimento dialéctico, por uma 
operação de ritmo ternário. O movimento dialético comporta três momentos: a tese (o 
ser); a antítese (o não ser); a síntese (o devir)” (Bourdé; Martin, 1983, p. 49).
Na Alemanha do século XIX, vislumbra-se outra corrente filosófica, ligada a dois 
filósofos, Friedrich Engels e Karl Marx. Num período marcado pelas idéias 
“positivistas” e de afirmação do ideário liberal burguês, as teorias desses filósofos não se 
destacam, em grande parte também, devido ao fato de que seus criadores propunham 
uma transformação da sociedade via revolução. No início do século XX, no entanto, 
suas idéias começam a ter adeptos, influenciando futuras gerações de historiadores ao 
decorrer de todo o século. Engels e Marx formularam uma nova concepção filosófica do 
mundo, baseada no materialismo histórico, na dialética. Mas, ao contrário de Hegel, a 
dialética marxista fundamenta-se no real, ou seja, nas condições objetivas da sociedade. 
Por isso, as formas de Estado, as relações jurídicas não se explicam por si mesmas, 
assim, suas origens devem ser buscadas nas condições materiais de existência de cada 
formação social. 
Conforme Glénisson (1991, p. 225), para Marx, a evolução da sociedade é 
determinada por leis objetivas que podem ser reconhecidas por meio do estudo 
científico. A partir desta concepção, no início do século XX, aliadas às críticas ao 
Positivismo, as postulações de Marx ganham adeptos. A partir desse período aparece nos 
trabalhos dos historiadores a preocupação em estudar o modo de produção da sociedade 
e suas implicações. Ao decorrer do século XX, todavia, enquanto Engels postulava o 
seguinte: “Nossa concepção de história é, antes de tudo, uma diretriz para o estudo” 
(Engels, 1890 apud Glénisson, 1991, p. 225), muitos historiadores transformavam o 
materialismo histórico em dogma, levando a uma interpretação meramente economicista 
da História e utilizando o método materialista como se fosse uma “camisa de força”. Tal 
tendência sobrevive até os dias atuais. Mas o pensamento de Marx também influenciou e 
continua influenciando várias gerações de historiadores, considerados não-dogmáticos, 
alguns deles integrantes da chamada Nova História, que contribuem para a formação do 
pensamento histórico recente. Deste modo, as mais significativas contribuições do 
pensamento de Marx são as análises do todo social.Em 1900, Henri Berr, fundou a Revue de synthèse historique, e reúne uma 
equipe de especialistas em diferentes disciplinas. A principal preocupação desses 
especialistas era combater as concepções da Escola Metódica. Para H. Berr, a História 
não se limitava somente ao exercício da erudição, mas sim, devia se pontuar pelo estudo 
das experiências humanas. Na década de 1920, a crítica ao Positivismo se concentra na 
Universidade de Estrasburgo, por um grupo interdisciplinar de historiadores como: 
Lucien Febvre, A. Colin e March Bolch. Em 1929, esse grupo fundou a Revista Les 
Annales d´ Histoire Économique et Sociale, posteriormente a Revista é transferida 
para Paris, onde alcança um número maior de leitores. 
A partir desse período os “Annales”, despertam jovens investigadores que reúnem 
em torno da revista as críticas à Escola Metódica ou “Positivista”. Dentre as principais 
idéias dos Annales, destacam-se: o ”(...) desprezo ao acontecimento e insiste na longa 
duração; deriva a sua atenção da vida política para a actividade econômica, a 
organização social e a psicologia colectiva; esforça-se por aproximar a história das 
outras ciências humanas” (Bourdé; Martin, p. 119).
Conforme Le Goff (1998, 9.27) a História Nova não se contentou em abrir novos 
horizontes “Ela se afirma como história global, total, e reivindica a renovação de todo o 
campo da história”. Para atender essa nova concepção de História, se amplia a noção de 
documento histórico, assim são consideradas como fontes:
[...] escritos de todos os tipos, documentos figurados, produtos de escavações 
arqueológicas, Documentos orais, uma estatística, uma curva de preços, uma 
fotografia, um filme, ou, para um passado mais distante, um pólen fóssil, uma 
ferramenta, um ex-voto são, para a história nova, documentos de primeira ordem 
(Le Goff, 1998, p. 28-29).
O historiador L. Febvre criticava a concepção histórica baseada no registro 
seqüencial de acontecimentos, e somente fundamentada por documentos escritos, 
defende uma história total que aborde todos os aspectos das atividades humanas. Para 
March Bloch, o importante não é apenas estudar novos documentos, mas sim, descobrir 
novos aspectos e propõe a compreensão do passado tendo em vista o presente e o 
presente pela reflexão no passado. Conforme Le Goff (1998, p. 53) “(...) a história nova 
foi forjada, em grande parte, pela equipe dos Annales” e em torno da revista. Pode se 
dizer que o contexto no qual surgiu a chamada Nova História é de uma postura teórica 
combativa às idéias positivistas. A influência da Escola dos Annales, suplantou várias 
gerações de historiadores, não só na França, como em outras partes do mundo.
No intuito de combater a História narrativa, linear, apologética à nação e de cunho 
positivista, os Annales apresentam a proposta de uma História-Problema, assim:
A organização da pesquisa parte do problema levantado, e dele se procederá à 
seleção de documentos e à construção de séries que permitirão verificar as 
hipóteses levantadas. Ainda é interessante salientar – sobre esse processo de 
construção - que o historiador não pode ser colocado como mero expectador, como 
elemento não ativo no processo de construção histórica. O historiador como sujeito 
cognoscente interage como o objeto ao problematizá-lo e, depois, ao construí-lo. 
Dessa forma, nos Annales, a História vai ser pensada a partir da idéia de construção 
(Reinato, 2002, p. 109).. 
Críticos da atualidade não negam a importância da inovação gerada nos estudos 
históricos a partir dos Annales, no entanto, muitos não a consideram como propriamente 
uma Escola, devido a sua heterogeneidade de abordagens históricas. Nesse sentido, 
segundo Peter Burke (1991, p. 112) pode-se falar em Movimento dos Annales e não em 
Escola. Esse autor ainda identificou três fases no Movimento: a primeira fase de 1920 a 
1945: a segunda identificada no período pós-Segunda Guerra Mundial; e uma terceira 
fase, que se inicia por volta de 1968.
Na primeira fase destacam-se Lucien Le Febvre e Marc Bloch, “(...) por vezes 
identificados como os “pais fundadores dos Annales”. São eles os inovadores mais 
radicais do discurso histórico na primeira fase” (Reinato, 2002, p. 113). Na busca de 
uma História totalizante, os estudos dos Annales buscaram contemplar diversos aspectos 
da “realidade” humana como a economia, a vida material, a Geografia, como também 
iniciaram o estudo das mentalidades. Pode-se destacar ainda dessa primeira fase da 
história da Revista “uma escritura antropocêntrica, na qual o homem passava a ser o 
maior e o único objeto do trabalho do historiador”.
O período pós-Segunda Guerra Mundial marca a segunda geração dos Annales, 
nessa fase o estudo dos aspectos econômicos foi privilegiado em detrimento de outros 
como o estudo da História-cultura, das mentalidades. Nessa fase ocorreu também “uma 
divisão interna dos trabalhos nos Annales. Enquanto Braudel investia nas questões da 
“civilização material”, Febvre trabalhava com o desenvolvimento de uma História das 
mentalidades” (Reinato, 2002, p. 115).
Por volta de 1968 é identificada uma terceira fase do Movimento dos Annales, 
onde se destaca a preocupação dos historiadores em estudar as superestruturas sociais. 
Nesse período destacam-se Jacques Le Goff, E. Le Roy Ladurie, Marc Ferro, entre 
outros. A História das Mentalidades ganhou grande impulso. Houve a incorporação de 
novas temáticas e novas abordagens, assim, questões como a infância, o sonho, o corpo 
e o odor foram abordadas.
A terceira geração dos Annales é bastante criticada. Seus Críticos dizem que essa 
fase teria optado pelo estilhaçamento da História [François Dosse, História em 
Migalhas], e que, além desse aspecto, os Annales teriam perdido uma das características 
essenciais: a busca de uma construção histórica visando à totalidade.
Na década de 1990 a Revista dos Annales passa por um processo de crítica interna 
e de crise. O pressuposto de aliança da Revistas com as Ciências Sociais é discutido e 
reavaliado,
A História extrapolou a preocupação como o homem como ser social apenas. Ela 
quer entendê-lo numa dimensão maior. A crise de diálogo entre a História e as 
Ciências Sociais radicaliza o processo de repensar o papel da História no interior da 
Revista dos Annales. Além disso, como processo de mundialização da produção 
histórica, os Annales passaram a representar apenas mais um grupo de discussão 
sobre o ofício e os caminhos da História. Um caminho ainda não dispensável, mas 
com uma força de orientação muito menor (Reinato, 2002, p. 120).
Lynn Hunt, em sua obra A Nova História Cultural (2001), analisa que os 
historiadores da quarta geração dos Annales (Chartier, Revel) passaram a preocupar-se 
com o estudo das práticas culturais, entendendo que “As relações econômicas e sociais 
não são anteriores às culturais, nem as determinam; elas próprias são campos de prática 
cultural e produção cultural (...)” (Hunt, 2001, p. 9). 
Dentro da abordagem cultural da História as disciplinas mais influentes são a 
Antropologia e a Teoria da Literatura, conforme Hunt
Embora existam muitas diferenças não só dentro dos modelos antropológicos e 
literários, mas também entre eles, uma tendência fundamental de amos parece 
atualmente fascinar os historiadores da cultura: o uso a linguagem como metáfora. 
Ações simbólicas como sublevações ou massacre de gatos são configurados como 
textos a serem lidos ou linguagem a serem decodificadas [...] o uso da linguagem 
como metáfora ou modelo já deu provas de ser inegavelmentesignificativo e, diria 
eu, crítico para a formulação de uma abordagem cultural da história. Em resumo, a 
analogia lingüística estabelece a representação como um problema que os 
historiadores não podem mais evitar (HUNT, 2001, p. 21-22).
Em síntese, a Nova História, originou-se a partir do frutífero encontro 
interdisciplinar de historiadores, filósofos e geógrafos, e, ainda, pode-se dizer que 
nasceu sob a influência das Ciências Sociais. O grupo de estudos que se originou, a 
partir desse encontro, questionava a concepção de Histórica metódica, chamada de 
“positivista”, isto é, recusava a História produzida para o “enaltecimento do Estado-
Nação” (Reinato, 2002, p. 106).
Enfim, nota-se que ocorre na atualidade um esforço de revisão dos modelos 
historiográficos, o que tem provocado, por sua vez, a busca por novas abordagens 
teórico-metodológicas em História.
Referências bibliográficas
BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé. As Escolas Históricas. Portugal: Publicações 
Europa–América, 1983.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1920-1989): A Revolução Francesa da 
Historiografia. São Paulo: Ed. Unesp, 1991.
GLÉNISSON, Jean. Iniciação aos Estudos Históricos. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand 
Brasil S.A, 1991.
HUNT, L. (Org.). A Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
LE GOFF, Jacques. A História Nova. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
REINATO, Eduardo José. A Escola dos Annales e a “Nouvelle Histoire”. In: A 
História da História. ALENCAR, Maria Amélia (Org.). Goiânia: Ed. da UCG, 2002.

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