Buscar

Aula 9 FIANÇA E TRANSPORTE 2017.2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
Aula 9 FIANÇA E TRANSPORTE 
 
A. FIANÇA 
 
1. Conceito 
 
A fiança é uma garantia pessoal, ou seja, é a garantia de pagamento que recai sobre o 
patrimônio de uma determinada pessoa – o fiador. 
O fiador responde pela dívida do afiançado perante seu credor. Trata-se de uma liberalidade 
de sua parte. 
O contrato de fiança pode ser definido a partir da redação do art. 818, CC: “Pelo contrato de 
fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não 
a cumpra.” 
 
2. Classificação do contrato de fiança 
 
a) Acessório: o contrato de fiança é acessório por natureza; sua existência está vinculada à 
existência de um contrato principal, como por exemplo, o contrato de locação. Assim, a 
fiança segue o destino do contrato principal, do qual é garantia. Neste sentido, o art. 824, 
CC: 
Art. 824. As obrigações nulas não são suscetíveis de fiança, exceto se a nulidade resultar 
apenas de incapacidade pessoal do devedor. 
Parágrafo único. A exceção estabelecida neste artigo não abrange o caso de mútuo feito a 
menor. 
Sendo nula a obrigação principal, também o será a fiança. 
b) Unilateral ou bilateral imperfeito: gera obrigações apenas para o fiador. Mas se ele 
pagar a dívida do afiançado, poderá cobrar do afiançado, que terá a obrigação de pagar. 
c) Formal: o contrato de fiança é necessariamente escrito: “Art. 819. A fiança dar-se-á por 
escrito, e não admite interpretação extensiva.” 
d) Gratuito: o fiador têm ônus, sem bônus, enquanto o afiançado aufere vantagens, sem 
desvantagens. Repare que o fiador não pode cobrar uma “remuneração” para aceitar este 
contrato. 
e) Personalíssimo ou intuitu personae: a confiança entre as partes é essencial a este 
contrato, portanto, vincula-se às características pessoais do fiador e do afiançado; nem 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
um, nem outros se substituem, automaticamente, por um herdeiro ou cessionário. 
Importante aqui compreender o sentido do art. 836, CC: “A obrigação do fiador passa 
aos herdeiros; mas a responsabilidade da fiança se limita ao tempo decorrido até a morte 
do fiador, e não pode ultrapassar as forças da herança.” 
Na verdade, o credor da obrigação garantida por fiança tem o direito de cobrar o valor da 
dívida acumulada até o falecimento do fiador, do seu espólio, respeitado o limite do 
patrimônio positivo deste. Se o fiador não deixar bens ou se tiver credor preferencial, o 
credor da dívida garantida poderá ficar sem pagamento, porque os herdeiros do fiador 
não assumem a sua posição de fiador, nem sua dívida. 
 
3. Requisitos subjetivos do contrato de fiança 
a) Capacidade: as pessoas capazes podem ser fiadoras. Lembre-se, no entanto, que a pessoa 
casada depende da autorização de seu cônjuge – salvo regime de separação de bens – para 
que a fiança seja válida. A falta da outorga conjugal torna a fiança anulável, cabendo ação 
anulatória, a ser promovida pelo cônjuge que não autorizou, no prazo de dois anos a partir 
da dissolução do matrimônio1. Leis especiais estabelecem algumas restrições a certas 
pessoas, como os leiloeiros, por exemplo. 
Se o fiador se tornar incapaz, o credor poderá exigir a sua substituição: “Art. 826. Se o 
fiador se tornar insolvente ou incapaz, poderá o credor exigir que seja substituído.” 
No caso de insolvência também, pois o insolvente está impossibilitado de saldar a dívida, 
tornando a fiança inútil, portanto. 
b) Consentimento: Sendo um contrato, o consentimento é elemento imprescindível. 
Mas o consenso pode ser estabelecido apenas entre credor e fiador, independente da vontade 
do devedor/afiançado. Por óbvio, que tal não é comum, visto que normalmente é o devedor 
que apresenta o fiador ao credor, mas o credor pode fazê-lo também: “Art. 820. Pode-se 
estipular a fiança, ainda que sem consentimento do devedor ou contra a sua vontade.” 
 
Quando o devedor indicar o fiador, o credor terá o direito de recusar a indicação, desde que 
a recusa não seja abusiva (eventual abusividade será avaliada pelo juiz): “Art. 825. Quando 
alguém houver de oferecer fiador, o credor não pode ser obrigado a aceitá-lo se não for 
 
1 Súmula 332 STJ: “A anulação de fiança prestada sem outorga uxória (sem autorização de um dos cônjuges) 
implica ineficácia total da garantia.” 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
pessoa idônea, domiciliada no município onde tenha de prestar a fiança, e não possua bens 
suficientes para cumprir a obrigação.” 
 
 
4. Requisitos objetivos do contrato de fiança 
 
A princípio, qualquer obrigação pode ser garantida por fiança, desde que não seja nula. 
Também as dívidas futuras podem ser objeto desta garantia: “Art. 821. As dívidas futuras 
podem ser objeto de fiança; mas o fiador, neste caso, não será demandado senão depois que 
se fizer certa e líquida a obrigação do principal devedor.” É claro que o fiador só deve o 
valor que vier a existir, e desde que líquido. 
 
5. Cofiador 
 
Cofiador é a pessoa que assume a responsabilidade pela dívida junto com outro fiador, 
respondendo de forma solidária, como regra: 
Art. 829. A fiança conjuntamente prestada a um só débito por mais de uma pessoa importa 
o compromisso de solidariedade entre elas, se declaradamente não se reservarem o 
benefício de divisão. 
Parágrafo único. Estipulado este benefício, cada fiador responde unicamente pela parte que, 
em proporção, lhe couber no pagamento. 
Art. 830. Cada fiador pode fixar no contrato a parte da dívida que toma sob sua 
responsabilidade, caso em que não será por mais obrigado. 
 
Sendo assim, se duas ou mais pessoas aceitam ser fiadoras de uma terceira, a princípio, elas 
serão fiadoras solidárias (podendo o credor demandar toda a dívida de qualquer delas). Para afastar 
a solidariedade, deve haver cláusula contratual estabelecendo isso, hipótese em que cada fiador 
responderá apenas por parte da dívida. 
 
6. Limites da responsabilidade do fiador 
 
A fiança pode ser limitada a certos valores apenas, ou por certo período, conforme cláusula 
contratual. Por exemplo, fiança estabelecida em contrato de locação. Pode ser estipulado que o 
fiador se responsabiliza apenas pelos aluguéis e não pelos demais encargos locatícios (difícil 
encontrar um locador que aceite esta limitação, mas ela é juridicamente possível...). 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
Mas se não houver limitação, abrangerá qualquer acessório da dívida, como juros, correção, 
cláusula penal, despesas judiciais, honorários advocatícios: “Art. 822. Não sendo limitada, a fiança 
compreenderá todos os acessórios da dívida principal, inclusive as despesas judiciais, desde a 
citação do fiador.” O fiador precisa ser citado no processode cobrança/execução para que seja 
cobrado quanto aos ônus de sucumbência. 
Note que a fiança, por se tratar de uma liberalidade por parte do fiador, não pode ser 
interpretada de forma extensiva, ampliando-se a obrigação deste: “Art. 819. A fiança dar-se-á por 
escrito, e não admite interpretação extensiva.” 
 A fiança pode ser estabelecida quando a valor inferior ao da dívida principal, não se 
responsabilizando o fiador pela diferença e não pode ter valor superior ao da obrigação principal: 
“Art. 823. A fiança pode ser de valor inferior ao da obrigação principal e contraída em condições 
menos onerosas, e, quando exceder o valor da dívida, ou for mais onerosa que ela, não valerá senão 
até ao limite da obrigação afiançada.” 
 
7. Benefício de ordem 
 
O chamado benefício de ordem ou benefício de excussão encontra-se no art. 827, CC: 
Art. 827. O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir, até a 
contestação da lide, que sejam primeiro executados os bens do devedor. 
Parágrafo único. O fiador que alegar o benefício de ordem, a que se refere este artigo, deve 
nomear bens do devedor, sitos no mesmo município, livres e desembargados, quantos 
bastem para solver o débito. 
 
 O fiador processado judicialmente para pagar a dívida pode alegar o benefício de ordem 
como defesa, exigindo que primeiro sejam executados os bens do devedor. Para tanto, deverá 
indicar bens livres do devedor. Inclusive se a execução for retardada, demorar, e o devedor vir a 
tornar-se insolvente, ainda assim estará exonerado o fiador, se provas que os bens indicados por ele 
eram suficientes para saldar a dívida: 
Art. 839. Se for invocado o benefício da excussão e o devedor, retardando-se a execução, 
cair em insolvência, ficará exonerado o fiador que o invocou, se provar que os bens por ele 
indicados eram, ao tempo da penhora, suficientes para a solução da dívida afiançada. 
 Este benefício pode ser afastado por cláusula contratual, sendo raro encontrar contrato de 
fiança que não o afaste: 
Art. 828. Não aproveita este benefício ao fiador: 
I - se ele o renunciou expressamente; 
II - se se obrigou como principal pagador, ou devedor solidário; 
III - se o devedor for insolvente, ou falido. 
 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
 Portanto, se, no contrato, o fiador renunciou expressamente a este direito e/ou se obrigou 
como principal pagador ou mesmo solidário com o afiançado e/ou se o devedor for insolvente, o 
fiador terá seus bens executados em primeiro lugar. Nestes casos, o credor pode acionar 
judicialmente o fiador, não sendo necessário processar o afiançado. 
 
8. Efeitos da fiança 
 
O fiador é responsável pelo pagamento de dívida alheia, por isso quando paga o débito do 
afiançado, torna-se seu credor, em lugar daquele satisfeito, operando-se a sub-rogação legal. 
Neste sentido, o art. 831, CC: “O fiador que pagar integralmente a dívida fica sub-rogado 
nos direitos do credor; mas só poderá demandar a cada um dos outros fiadores pela respectiva 
quota. Parágrafo único. A parte do fiador insolvente distribuir-se-á pelos outros.” 
O fiador passa a poder cobrar do devedor-afiançado o valor que pagou ao seu credor, com 
juros de mora, desde o dia em que satisfez a obrigação: “Art. 833. O fiador tem direito aos juros do 
desembolso pela taxa estipulada na obrigação principal, e, não havendo taxa convencionada, aos 
juros legais da mora.” 
Se houver mais de um fiador, aquele que pagar cobrará do outro a sua quota-parte (por 
exemplo, se forem dois fiadores, e um deles pagar, poderá cobrar do outro a metade da dívida e do 
afiançado, poderá cobrar tudo, evitando-se, naturalmente, o enriquecimento sem causa). 
Note que o fiador poderá cobrar do afiançado todos os prejuízos que sofrer, por ter pago ao 
credor: “Art. 832. O devedor responde também perante o fiador por todas as perdas e danos que este 
pagar, e pelos que sofrer em razão da fiança.” 
 Interessante regra se encontra no art. 834, CC, visando proteger o fiador de uma situação 
indefinida ad eternum: “ Quando o credor, sem justa causa, demorar a execução iniciada contra o 
devedor, poderá o fiador promover-lhe o andamento.” Iniciada a execução contra o devedor 
principal somente, se esta ficar parada por culpa do credor, o fiador poderá promover seu 
andamento. 
 
9. Extinção da fiança 
 
O legislador previu hipóteses de extinção da fiança no art. 838, CC: 
Art. 838. O fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado: 
I - se, sem consentimento seu, o credor conceder moratória ao devedor; 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
II - se, por fato do credor, for impossível a sub-rogação nos seus direitos e preferências; 
III - se o credor, em pagamento da dívida, aceitar amigavelmente do devedor objeto diverso 
do que este era obrigado a lhe dar, ainda que depois venha a perdê-lo por evicção. 
 
No primeiro caso, o credor está conferindo um prazo maior para o devedor pagar, ou seja, 
ampliando o tempo de submissão do fiador ao contrato, por isso ele pode se considerar liberar, se 
não concordou com esta prorrogação. 
No caso, o credor obstaculizou a sub-rogação do fiador, por exemplo, abrindo mão de uma 
hipoteca, que também garantia a dívida. Se o fiador pagasse a dívida, passaria a ser credor 
hipotecário, mas se o credor original abre mão da hipoteca, frustra esta possibilidade. 
Em caso de dação em pagamento (inciso III), a dívida está adimplida, estando portanto 
liberada do fiador. 
 Outra forma de extinção da fiança é a exoneração do fiador, forma de resilição unilateral 
do fiador, prevista no art. 835, CC: 
Art. 835. O fiador poderá exonerar-se da fiança que tiver assinado sem limitação de tempo, 
sempre que lhe convier, ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante sessenta 
dias após a notificação do credor. 
Se a fiança e o contrato garantido por ela não tiverem prazo determinado (ou seja, se o prazo 
for indeterminado), o fiador poderá exonerar-se da obrigação, bastando notificar o credor. A partir 
da notificação, ficará “preso” ao contrato ainda por 60 dias, respondendo por eventuais dívidas 
durante este período. 
É claro que, se já estiver exonerado, não responderá pelas dívidas não pagas pelo devedor a 
partir de 60 dias a contar da notificação, mas poderá ser cobrado, após este prazo, de qualquer 
dívida contraída e não paga pelo devedor, durante o período em que foi fiador. 
Sobre a fiança na locação, convém reler o Bloco 3 – Contrato de Locação. 
 Acrescente-se que, para se eximir da obrigação, o fiador poder alegar as exceções pessoais 
(argumentos de defesa pessoais, como compensação da dívida) e os argumentos do devedor 
(prescrição, nulidade, compensação dele), inclusive a alegação de menoridade em caso de mútuo: 
“Art. 837. O fiador pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais, e as extintivas da 
obrigação que competem ao devedor principal, se não provierem simplesmente de incapacidade 
pessoal, salvo o caso do mútuo feito a pessoa menor.” 
 
 
 
 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª MscAlice Soares 
B TRANSPORTE 
 
1. Conceito e algumas considerações iniciais 
 
O conceito de contrato de transporte pode ser extraído facilmente da redação do art. 730, 
CC: “Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar 
para outro, pessoas ou coisas.” 
Assim, temos uma obrigação de resultado para o transportador: entregar a coisa ou a pessoa 
no destino combinado. Se não o fizer, terá havido inadimplemento contratual e o transportador será 
considerado culpado, admitida prova em sentido contrário. Ex: ônibus, táxi, avião, etc. 
 Cumpre destacar que este contrato traz em seu bojo a chamada cláusula de incolumidade, 
ou seja, “a obrigação tacitamente assumida pelo transportador de conduzir o passageiro incólume ao 
local do destino” (GONÇALVES, 2012, p. 481). 
 Os elementos no contrato de transporte são: 
a) Transporte de pessoas: as partes são o transportador e o passageiro; o preço se chama “valor 
da passagem” 
b) Transporte de coisas: as partes são o transportador, o expedidor/remetente e o destinatário ou 
consignatário, que é a pessoa indicada a receber o bem (podendo ser o próprio remetente ou 
terceira pessoa); o preço se chama “frete ou porte”. 
 
2. Classificação do contrato de transporte 
 
a) Bilateral: gera obrigações para ambas as partes contratantes. (obrigação de transportar x 
obrigação de pagar o preço) 
b) Consensual: aperfeiçoa-se a partir do consenso de vontades entre as partes. 
c) Oneroso: ambas as partes obtém proveito e arcam com sacrifícios. 
d) Não-solene: não há forma prevista em lei, podendo ser feito verbalmente, como é comum. 
 
3. Normas gerais sobre transporte 
 
É sabido que o transporte coletivo é prerrogativa do Estado, que confere sua exploração a 
particulares, através de concessão, permissão ou autorização, havendo diplomas de direito público 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
para reger esta atividade. Pensando nisso, o legislador estabeleceu que o Código Civil tem aplicação 
subsidiária a este transporte: “Art. 731. O transporte exercido em virtude de autorização, permissão 
ou concessão, rege-se pelas normas regulamentares e pelo que for estabelecido naqueles atos, sem 
prejuízo do disposto neste Código.” 
Portanto, note que o transporte pode ser disciplinado por lei especial, devendo ser esta 
compatibilizada com as previsões do Código Civil, conforme reconhece o art. 732, CC: “Aos 
contratos de transporte, em geral, são aplicáveis, quando couber, desde que não contrariem as 
disposições deste Código, os preceitos constantes da legislação especial e de tratados e convenções 
internacionais.” É o caso, por exemplo, do transporte aéreo, que é regulado pelas Leis 5710/71, 
6298/76, 6833/80, 6997/82, Código Brasileiro de Aeronáutica e Convenção de Varsóvia) 
(GAGLIANO, 2011, p. 454). 
Aliás, a questão sempre discutida quando se trata de transporte aéreo reside na tarifação da 
indenização a ser paga ao passageiro pelos danos sofridos, prevista na Convenção de Varsóvia e no 
Código Brasileiro de Aeronáutica (estes diplomas legais preveem limite máximo do valor da 
indenização, não importando que o dano efetiva tenha valor maior). A principiologia constitucional 
impõe a ampla indenização, correspondente aos danos morais, materiais e estéticos sofridos. Este é 
o entendimento amplamente majoritário. O tema foi, inclusive, reconhecido como sendo de 
repercussão geral pelo STF (que reconhece a indenização sem restrições): 
AI 762184 RG / RJ - RIO DE JANEIRO 
REPERCUSSÃO GERAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 
Relator(a): Min. CEZAR PELUSO 
Julgamento: 22/10/2009 
Publicação 
DJe-237 DIVULG 17-12-2009 PUBLIC 18-12-2009 
EMENT VOL-02387-16 PP-02990 
Parte(s) 
ADV.(A/S) : LEANDRA VIANA DORESTE NOGUEIRA E OUTRO(A/S) 
AGDO.(A/S) : SYLVIA REGINA DE MORAES ROSOLEM 
ADV.(A/S) : JOSÉ MANUEL RODRIGUES LOPEZ E OUTRO(A/S) 
AGTE.(S) : SOCIÉTÉ AIR FRANCE 
Ementa 
 
EMENTA: RECURSO. Extraordinário. Extravio de bagagem. Limitação de danos 
materiais e morais. Convenção de Varsóvia. Código de Defesa do Consumidor. Princípio 
constitucional da indenizabilidade irrestrita. Norma prevalecente. Relevância da questão. 
Repercussão geral reconhecida. Apresenta repercussão geral o recurso extraordinário que 
verse sobre a possibilidade de limitação, com fundamento na Convenção de Varsóvia, das 
indenizações de danos morais e materiais, decorrentes de extravio de bagagem. 
Decisão 
Decisão: O Tribunal, por maioria, reconheceu a existência de repercussão geral da questão 
constitucional suscitada. Não se manifestou a Ministra Cármen Lúcia. Votou de forma 
divergente o Ministro Marco Aurélio. Ministro CEZAR PELUSO Relator 
 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
4. Transporte de coisas 
 
Nesta espécie de transporte, o transportador deve deslocar coisa material, corpórea 
perfeitamente individualizada: “Art. 743. A coisa, entregue ao transportador, deve estar 
caracterizada pela sua natureza, valor, peso e quantidade, e o mais que for necessário para que não 
se confunda com outras, devendo o destinatário ser indicado ao menos pelo nome e endereço.” 
O bem será retirado pelo próprio expedidor ou terceiro indicado por este (titular do 
conhecimento de transporte). 
O transportador emitirá o título de crédito chamado de conhecimento de transporte, 
conforme art. 744, CC: 
Art. 744. Ao receber a coisa, o transportador emitirá conhecimento com a menção dos 
dados que a identifiquem, obedecido o disposto em lei especial. 
Parágrafo único. O transportador poderá exigir que o remetente lhe entregue, devidamente 
assinada, a relação discriminada das coisas a serem transportadas, em duas vias, uma das 
quais, por ele devidamente autenticada, ficará fazendo parte integrante do conhecimento. 
 
Perceba que o expedidor não pode apresentar informações falsas ou inexatas a respeito da 
coisa a ser transportada, sob pena de indenizar o transportador: 
Art. 745. Em caso de informação inexata ou falsa descrição no documento a que se refere o 
artigo antecedente, será o transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação 
respectiva ser ajuizada no prazo de cento e vinte dias, a contar daquele ato, sob pena de 
decadência. 
 
Conforme informa GAGLIANO E OUTRO (2011, p. 467), em se tratando de transporte 
rodoviário de carga, a Lei 11.442/2007 prevê o prazo prescricional de 1 ano, em seu art. 18, para a 
parte prejudicada proponha ação indenizatória pelos prejuízos relativos ao contrato de transporte. 
Logo, se se tratar de contrato de transporte rodoviário de carga, por ser regra específica desta 
modalidade, valerá o prazo de 1 ano para que o transportador possa exigir indenização do 
expedidor, se for o caso (assim como, valerá o mesmo prazo se pretensão indenizatória for do 
expedidor contra o transportador). 
Como regra, este documento (conhecimento de transporte) pode ser endossado, ou seja, a 
sua titularidade pode ser transferida para outrem. Assim, aquele que possuir este documento, sendo 
seu novo titular, poderá retirar mercadoria, no local de entrega. É documento utilizado em uma 
compra e venda de mercadoria em trânsito: o expedidor/vendedor contrata o transportador para 
levar a mercadoriaaté outro local, lá o comprador receberá a mercadoria, porque possui o 
conhecimento de transporte endossado para ele, pelo expedidor. 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
 Por derradeiro, acrescente-se que: “Art. 751. A coisa, depositada ou guardada nos armazéns 
do transportador, em virtude de contrato de transporte, rege-se, no que couber, pelas disposições 
relativas a depósito.” 
 
4.1 Outros direitos e obrigações no transporte de coisas 
 
a) Art. 746. Poderá o transportador recusar a coisa cuja embalagem seja inadequada, bem 
como a que possa pôr em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e outros bens: 
Trata-se de direito do transportador. Lembre-se que este responder perante o expedidor pela 
integridade da coisa transportada, logo não pode aceitar um bem que esteja embalado de forma 
inadequada. Da mesma forma, o transportador tem responsabilidade perante a coletividade e 
desempenha atividade de risco, não podendo se expor ou expor as pessoas em geral a perigo. 
 
b) Art. 747. O transportador deverá obrigatoriamente recusar a coisa cujo transporte ou 
comercialização não sejam permitidos, ou que venha desacompanhada dos documentos exigidos 
por lei ou regulamento. 
O transportador não pode ser conivente com o crime. Assim, ele não pode transportar bens 
proibidos (drogas ilícitas, por exemplo) ou desacompanhados de documento obrigatório, sob pena 
de estar colaborando com o contrabando ou o descaminho. 
 
c) Art. 748. Até a entrega da coisa, pode o remetente desistir do transporte e pedi-la de volta, 
ou ordenar seja entregue a outro destinatário, pagando, em ambos os casos, os acréscimos de 
despesa decorrentes da contra-ordem, mais as perdas e danos que houver. 
O remetente da coisa (também chamado expedidor) pode pedir o bem de volta ou mesmo alterar o 
itinerário da entrega, desde que arque com o custo adicional e indenize as perdas e danos sofridos 
pelo transportador. 
 
d) Art. 749. O transportador conduzirá a coisa ao seu destino, tomando todas as cautelas 
necessárias para mantê-la em bom estado e entregá-la no prazo ajustado ou previsto. 
Obrigação essencial do transportador é deslocar a coisa, com cautela, garantindo sua integridade e 
cumprimento do prazo contratado ou razoavelmente esperado pelo cliente. 
 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
4.2 Quantum indenizatório 
 
Determina o código civil que o valor máximo da indenização que o transportador deveria 
pagar ao remetente (expedidor) seria aquele constante do conhecimento de transporte, na forma do 
art. 750, CC: “A responsabilidade do transportador, limitada ao valor constante do conhecimento, 
começa no momento em que ele, ou seus prepostos, recebem a coisa; termina quando é entregue ao 
destinatário, ou depositada em juízo, se aquele não for encontrado.” Tal previsão é objeto de severas 
críticas, destacando-se GAGLIANO E OUTRO (2011, p. 470) que entende tal limite como 
irrazoável, até porque geralmente o transporte é um contrato de adesão, não havendo espaço para o 
remetente discutir este valor. Se o remetente sofrer um prejuízo maior, ele deverá fazer jus à 
indenização em valor maior. 
 
4.3 Impossibilidade de realização ou interrupção do transporte 
 
Se eventos diversos impedirem a realização ou interromperem a execução do contrato de 
transporte, o transportador deverá informar o remetente, pedindo-lhe instruções sobre o que fazer 
com a coisa, mantendo-se responsável pela integridade desta: 
Art. 753. Se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, o transportador 
solicitará, incontinenti, instruções ao remetente, e zelará pela coisa, por cujo perecimento 
ou deterioração responderá, salvo força maior. 
§ 1o Perdurando o impedimento, sem motivo imputável ao transportador e sem 
manifestação do remetente, poderá aquele depositar a coisa em juízo, ou vendê-la, 
obedecidos os preceitos legais e regulamentares, ou os usos locais, depositando o valor. 
§ 2o Se o impedimento for responsabilidade do transportador, este poderá depositar a coisa, 
por sua conta e risco, mas só poderá vendê-la se perecível. 
§ 3o Em ambos os casos, o transportador deve informar o remetente da efetivação do 
depósito ou da venda. 
§ 4o Se o transportador mantiver a coisa depositada em seus próprios armazéns, continuará 
a responder pela sua guarda e conservação, sendo-lhe devida, porém, uma remuneração 
pela custódia, a qual poderá ser contratualmente ajustada ou se conformará aos usos 
adotados em cada sistema de transporte. 
 
Se o impedimento se mantiver, por razões alheias ao transportador e sem instruções do 
remetente, o transportador poderá depositar a coisa em juízo (informando ao juízo, portanto e 
repassando o custo para o remetente) ou vender a coisa. Mas se a culpa pelo impedimento for do 
transportador, este arcará com o custo do depósito e só poderá vender a coisa, se perecível. 
Em qualquer caso, o remetente deverá ser informado. 
 
 
 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
4.4 Entrega da coisa 
 
O transportador só tem que avisar sobre o desembarque das mercadorias, se assim foi 
convencionado. Da mesma forma, a entrega em domicílio: 
Art. 752. Desembarcadas as mercadorias, o transportador não é obrigado a dar aviso ao 
destinatário, se assim não foi convencionado, dependendo também de ajuste a entrega a 
domicílio, e devem constar do conhecimento de embarque as cláusulas de aviso ou de 
entrega a domicílio. 
 É claro que, se o transportador chegar antes ou depois do combinado, ele deverá avisar o 
remetente e/ou o destinatário. 
 O destinatário (ou a pessoa que portar o conhecimento de transporte endossado) retirará o 
bem. A coisa deve ser conferida na hora, para que as devidas reclamações sejam apresentadas, sob 
pena de não mais poder fazê-lo. É claro que o defeito imperceptível no primeiro momento poderá 
ser reclamado posteriormente, no prazo de 10 dias da entrega: 
Art. 754. As mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem apresentar o 
conhecimento endossado, devendo aquele que as receber conferi-las e apresentar as 
reclamações que tiver, sob pena de decadência dos direitos. 
Parágrafo único. No caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, o 
destinatário conserva a sua ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em dez 
dias a contar da entrega. 
 
 Se o transportador não souber a quem entregar o bem, deverá obter instruções do remetente. 
Se este não as apresentar, o transportador deverá depositar em juízo a cois ou vendê-la, se perecível, 
depositando o valor em juízo (nestas ações em juízo, o remetente será citado): 
Art. 755. Havendo dúvida acerca de quem seja o destinatário, o transportador deve 
depositar a mercadoria em juízo, se não lhe for possível obter instruções do remetente; se a 
demora puder ocasionar a deterioração da coisa, o transportador deverá vendê-la, 
depositando o saldo em juízo. 
 
 
5. Transporte de pessoas 
 
 
5.1 Responsabilidade do transportador 
 
 
Otransportador tem responsabilidade objetiva, ou seja, independente de culpa (dolo, 
negligência, imprudência ou imperícia). É o que se extrai do art. 734, CC (bem como do art. 37, §6º, 
CF/1998 e do CDC): 
Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas 
bagagens, salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da 
responsabilidade. 
Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de 
fixar o limite da indenização. 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
E o que significa responsabilidade independente de culpa? Significa dizer que não será 
verificada a culpa do transportador, não será objeto de análise na ação indenizatória promovida pelo 
passageiro, o transportador não pode alegar que não teve culpa para não indenizar!!!! O 
transportador só poderá alegar força maior (que rompe o nexo da causalidade)!!!! 
A melhor interpretação para o dispositivo legal sob comento reside na distinção entre caso 
fortuito interno e caso fortuito externo. O fortuito interno e o evento relacionado a causa inserida 
na atividade do transportador, sobre a qual ele tem controle e poderia ter se prevenido. Defeitos 
mecânicos que promovam um acidente com o veículo, causando danos aos passageiros, insere-se no 
conceito de fortuito interno, portanto. Em caso de fortuito interno, o transportador responderá pelo 
dano. 
Mas o evento que foge à atividade, ao controle do transportador, pode ser usado como seu 
argumento de defesa, pois excluirá a responsabilidade do transportador (é o que o art. 734 está 
chamando de “força maior”). É o caso de uma enchente, guerra, ato terrorista, etc. 
A responsabilidade do transportador não pode ser eximida pela ação de terceiros, como 
regra: “Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não 
é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.” 
Este artigo tem a mesma redação da Súmula 187 do STF, anterior ao Código Civil de 2002. 
Se o passageiro sofre danos em razão da ação de terceiros, o transportador deve indenizá-lo, 
em respeito à clausula contratual implícita da garantia incolumidade física. Querendo, o 
transportador poderá cobrar do terceiro, em ação regressiva, o valor que teve que indenizar. 
Aqui, a questão mais debatida é: “Em caso de assalto, responde o transportador pelos 
danos sofridos pelo passageiro?” 
A doutrina e a jurisprudência amplamente majoritárias entendem que não! O assalto 
corresponde ao fortuito externo, pois é estranho à atividade. Somente em situações 
excepcionalíssimas, a jurisprudência atribui responsabilidade ao transportador (se o motorista 
claramente facilita a ação dos criminosos, por exemplo). Neste sentido, recente julgado do TJDFT: 
Classe do Processo : 2011 08 1 003842-4 ACJ - 0003842-12.2011.807.0008 (Res.65 - 
CNJ) DF 
Registro do Acórdão Número : 567696 
Data de Julgamento : 28/02/2012 
Órgão Julgador : 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal 
Relator : SANDRA REVES VASQUES TONUSSI 
Disponibilização no DJ-e: 01/03/2012 Pág. : 238 
Ementa 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RESPONSABILIDADE 
CIVIL. ASSALTO EM ÔNIBUS INTERESTADUAL. 
FORTUITO EXTERNO. RECURSO CONHECIDO E 
IMPROVIDO. 
 
1. O ART. 734 DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO DISPÕE 
QUE O TRANSPORTADOR RESPONDE PELOS DANOS 
CAUSADOS ÀS PESSOAS TRANSPORTADAS E SUAS 
BAGAGENS, SALVO MOTIVO DE FORÇA MAIOR. 
 
2. NA HIPÓTESE, O ASSALTO FOI PRATICADO POR 
ATO DE TERCEIRO ESTRANHO À ATIVIDADE 
DESENVOLVIDA PELA EMPRESA RÉ, O QUE 
CONFIGURA FORTUITO EXTERNO E CONSTITUI 
CAUSA EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE 
CIVIL DA TRANSPORTADORA. 
 
3. COM EFEITO, CONSOANTE A JURISPRUDÊNCIA 
CONSOLIDADA DO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL 
DE JUSTIÇA, QUE POSSUI A ATRIBUIÇÃO 
CONSTITUCIONAL DE PACIFICAR A 
INTERPRETAÇÃO DA LEGISLAÇÃO FEDERAL, O 
ASSALTO É FORTUITO EXTERNO QUE AFASTA A 
RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR. 
 
4. DESTACO, POR TODOS, O CLARO PRECEDENTE, 
LITTERIS: "(...)1. A JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA 
NO ÂMBITO DA SEGUNDA SEÇÃO DO STJ 
CONSIDERA ASSALTO EM INTERIOR DE ÔNIBUS 
CAUSA EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE DE 
EMPRESA TRANSPORTADORA POR TRATAR-SE DE 
FATO DE TERCEIRO INTEIRAMENTE ESTRANHO À 
ATIVIDADE DE TRANSPORTE - FORTUITO 
EXTERNO. (...)" (AGRG NO RESP 620259 / MG; 
MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA; T4 - 
QUARTA TURMA DJE 26/10/2009) 
 O art. 737, CC prevê a responsabilidade específica do transportador em razão do 
cumprimento de horários e itinerários: “Art. 737. O transportador está sujeito aos horários e 
itinerários previstos, sob pena de responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior.” Se o 
passageiro tiver prejuízos, porque se atrasou para um compromisso, por exemplo, poderá pleitear 
indenização do transportador, salvo força maior (fortuito externo) (questões climáticas, por 
exemplo). 
Apesar do rigor quanto à responsabilidade do transportador, o Código Civil admite a 
exclusão da responsabilidade deste em caso de culpa (fato) exclusivo da vítima, pois ocorrerá o 
rompimento do nexo de causalidade entre a atividade desempenhada pelo transportador e o dano 
experimentado pela vítima. De mesma forma, o art. 738, CC determina a redução proporcional da 
indenização a ser paga pelo transportador, em caso de culpa concorrente, ou seja, quando a ação da 
vítima concorre – junto com a ação/omissão do transportador – para a ocorrência do dano: 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, 
constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que 
causem incômodo ou prejuízo aos passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou 
impeçam a execução normal do serviço. 
Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão 
de normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na 
medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano. 
 
 Perceba que o passageiro também deve observar as normas e regulamentos, para preservar a 
sua vida e dos outros, evitar incômodos e prejuízos. Estes regulamentos podem ser estabelecidos 
pelo transportador, inclusive. 
É o caso do “pingente” de ônibus e trem. O passageiro que decide andar pendurado na porta, 
janela ou teto do veículo e vem a se lesionar ou morrer. Nesta situação, o transportador deve 
indenizar a vítima ou sua família, pagando valor reduzido equitativamente, de forma correspondente 
à ação imprevidente da vítima. Este tem sido o posicionamento dos tribunais brasileiros. 
 
5.2 Outros direitos e obrigações no transporte de pessoas 
 
 
a) Art. 739. O transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos 
regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde do interessado o justificarem. 
O artigo é claro. É relativamente comum alguns taxitas recusaremum passageiro, porque a corrida é 
curta. Esta prática é ilícita, portanto. 
A questão da higiene e da saúde deve ser verificada com bom senso, naturalmente. Trata-se de 
proteção dos demais passageiros. A doença, de que é portador o passageiro, para justificar sua 
recusa, deve ser contagiosa pelo ar ou contato superficial. 
Há outros motivos que justificam a recusa a passageiros ou a mesmo a sua retirada do veículo: o 
passageiro que ouve música alta e se recusa a desligar o aparelho ou coloco fones de ouvido; uso de 
roupas evidentemente indecentes; passageiro portanto animais; passageiro completamente 
embriagado, etc. 
 
b) Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a 
viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao 
transportador em tempo de ser renegociada. 
§ 1o Ao passageiro é facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, sendo-
lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que 
outra pessoa haja sido transportada em seu lugar. 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
§ 2o Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar, salvo 
se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor 
do bilhete não utilizado. 
§ 3o Nas hipóteses previstas neste artigo, o transportador terá direito de reter até cinco por cento 
da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa compensatória. 
 
 O passageiro tem direito de desistir da viagem. A questão é saber se terá direito de receber o 
valor pago de volta. Se o passageiro desistir em tempo de ser renegociada, terá direito a reembolso. 
Se desistir em cima da hora, durante o percurso ou simplesmente não aparecer para embarcar, terá 
direito a reembolso (se segundo caso, proporcional ao trajeto não concluído), desde que a empresa 
tenha conseguido vender o seu lugar. 
Em qualquer caso, o transportador poderá reter até 5% do que foi pago, como compensação. 
 
c) Art. 741. Interrompendo-se a viagem por qualquer motivo alheio à vontade do 
transportador, ainda que em conseqüência de evento imprevisível, fica ele obrigado a concluir o 
transporte contratado em outro veículo da mesma categoria, ou, com a anuência do passageiro, 
por modalidade diferente, à sua custa, correndo também por sua conta as despesas de estada e 
alimentação do usuário, durante a espera de novo transporte. 
Este artigo tem aplicação em qualquer modalidade de transporte, embora nos remeta à lembrança do 
transporte aéreo.... Serve até mesmo para o taxista, cujo carro quebrou. O transportador tem 
obrigação de resultado e, enquanto não atingido o resultado, ele está inadimplente. 
 
d) Art. 742. O transportador, uma vez executado o transporte, tem direito de retenção sobre a 
bagagem de passageiro e outros objetos pessoais deste, para garantir-se do pagamento do valor da 
passagem que não tiver sido feito no início ou durante o percurso. 
Trata-se do direito de retenção de bens do passageiro em razão do não pagamento da passagem. 
 
 
6. Transporte gratuito 
 
É da essência do transporte a onerosidade. 
A falta da onerosidade configura um contrato atípico e não disciplinado pelas regras do 
Código Civil sobre contrato de transporte: 
 
Profª Alice Soares – http://dodireitoaeducacao.blogspot.com.br 
Direitos autorais reservados. Vedada a reprodução ou cópia, sem prévia e expressa autorização 
 
DIREITO CIVIL – DIREITO CONTRATUAL 
Aula 9 – FIANÇA E TRANSPORTE 
 
 – Profª Msc Alice Soares 
Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por 
amizade ou cortesia. 
Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem 
remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas. 
A carona é o exemplo tradicional. 
O transportador (motorista) só responde pelos danos causados ao passageiro (carona) em 
caso de culpa grave (“vizinha do dolo”) ou dolo, conforme súmula 145, STJ: “No transporte 
desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos 
causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.” Sendo assim, não responde por 
culpa leve ou levíssima. 
Interessante perceber que o transporte aparentemente gratuito se rege pelas regras do Código 
Civil atinentes a transporte, atraindo para si a responsabilidade objetiva. É o caso das vans que 
buscam o cliente da churrascaria em casa, o ônibus que leva e traz do shopping, etc.

Outros materiais