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ARTIGO ELINETE pronto e corrigido

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ALDEIA MOREIRA, UM OLHAR SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Elinete da Silva Riquelme[2: Bióloga;Pós-graduando em Educação Ambiental do Programa de Pós-Graduação lato sensuEducação Ambiental e Espaço Educadores Sustentáveis pela Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (CED/UFMS). E-mail: eriquelme1@hotmail.com]
Aurea da Silva Garcia[3: Turismóloga, Mestre em Ensino de Ciências; Orientadora do Curso Especialização em Educação Ambiental e Espaço Educadores Sustentáveis da Coordenadoria de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (CED/UFMS). E-mail: aureasgarcia@gmail.com]
RESUMO
O presente trabalho investiga a percepção dos alunos estudantes do Ensino de Jovens e Adultos (EJA) na Escola Estadual Carmelita Canale Rebuá do período noturno, cursando o Ensino Médio que moram na comunidade indígena Terena da Aldeia Moreira. Foram investigadas as questões ambientais vivenciadas por eles, tanto no âmbito das suas relações internas, como destas com o seu meio externo, com a aplicação de entrevistas direcionadas, de debates em sala de aula, e por meio de conversas informais, bem como por meio de pesquisas bibliográficas e de campo,relacionadas à Educação Ambiental. As informações levantadas, de certa forma relevantes, são apresentados nos resultados e discussões, e que podem servir para orientar atuais e futuras intervenções que se relacione à Educação Ambiental na Aldeia Moreira de Miranda-MS. 
PALAVRAS-CHAVE: Aldeia, Educação, Ambiente. 
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho foi realizado com os alunos indígenas Terena da Aldeia Moreira Miranda MS que estudam na Escola Estadual Carmelita Canala Rebuá no Ensino Médio do EJA no período noturno, e buscou levantar informações como até que ponto, os conceitos “não-índios” já foram assimilados por eles e o que tem sido feito a fim de que sua cultura tradicional seja mantida pelo menos em parte. E ainda, se é possível haver uma interação entre estes conhecimentos tradicionais da comunidade indígena, visando não só a preservação e recuperação dos recursos naturais,como também do aspecto cultural da sua respectiva reserva, para que num futuro próximo estas informações possam orientar projetos alternativos para um desenvolvimento local de sustentabilidade duradoura, que minimizem os impactos ambientais e culturais produzidos na Aldeia Moreira, mas que estimulem a valorização cultural tradicional e que enfatizem uma melhor qualidade de vida para a população em questão. 
Transformações no sistema de crenças e valores da sociedade estão gerando um novo paradigma que, “transcende as atuais fronteiras disciplinares e conceituais”, e requerem uma estrutura sistêmica elaborada por indivíduos, comunidades e organizações, conforme determinam os novos princípios (Capra 2006).
Neste contexto, comunidades menores, como a indígena Terena da Aldeia Moreira mostram-se mais vulneráveis, pois como sabemos, historicamente a cultura dominante sobrepõem-se à minoritária que muda e ou simplesmente desaparece.
O fato é que na atualidade vivemos uma cultura de risco, com consequências que muitas vezes transcendem á nossa capacidade de percepção, onde crescem sensivelmente as evidências de que elas podem atingir não só a vida de quem as produz, mas as de outras pessoas, espécies e até gerações. Este fenômeno é a atual crise ambiental que vivenciamos, e que até onde sabemos não tem precedentes na história, e até onde cogitamos saber ocorrem principalmentedevido á interferência ilimitada e desordenada do ser humano, com seus efeitos colaterais e resultados imprevisíveis, que tornam inadequados os instrumentos éticos e saberesherdados do passado (SECAD, 2007). 
Neste cenário que se mostram as questões ambientais atuais, tem no âmbito mundial introduzido nos debates a necessidade de uma mudança na forma de pensar, de busca de uma nova filosofia, de novos valores, de uma nova ética, onde a natureza deixa de ser vista apenas como um cenário. Contudo a solução que tem sido sugerida como salvadora para os problemas ambientais é a busca de alternativas para um “desenvolvimento sustentável”, mas é preciso que se saiba que a complexidade da questão ambiental, por sua extensão e profundidade, vai exigir uma abordagem cada vez menos ortodoxa, será necessário romper com a tradição segmentada e reducionista, e para que isso ocorra o que se requer é a aplicação de métodos analíticos multi e interdisciplinares (PAREDES, 2008). 
Segundo Nogueira (2006) o modo de agir engloba um saber e um fazer, que são produtos do pensar e do agir, em conformidade com determinados valores, crenças, normas socialmente convencionados, que acabam por servir de parâmetro para o comportamento interativo, que se desenvolve em épocas e espaços diferentes. Contudo sua especificidade está na aceitação à diversidade, aos processos vitais, com seus limites de regeneração e capacidade de suporte, escolhidos como referenciais das decisões sociais e definidores dos estilos de vida individuais e coletivo. 
Em função disso, a educação ambiental, não pode ser reduzida ao ensino, ou à defesa da ecologia. Então,a educação ambiental deve ser encarada como um processo voltado para a apreciação das questões ambientais sob sua perspectiva econômica, social, política, cultural, ecológica.
Ainda neste contexto é sabido que devido à proximidade das aldeias aos centros urbanos, que não só provocam um alto índice de destruição e contaminação do meio ambiente, mas traz grande influência cultural, os Terena acabam por contrair os malefícios inerentes à sociedade não-índia, e vêm suas tradições e culturas perderem-se (PAREDES & BRAND, 2007).
Enfrente a todos estes fatos estapesquisatem como principal finalidade, discutir a concepção de alunos indígenas Terena da Aldeia Moreira Miranda MS que estudam na Escola Estadual Carmelita Canale Rebuá no Ensino Médio do EJA no período noturno sobre Educação Ambiental, e se propõe a ser de cunho qualitativo e fundamenta-se nos pressupostos teórico metodológicos do estudo de caso, e no primeiro item do desenvolvimento faz uma apresentação sintética na evolução histórica da aldeia Moreira, e também do atual contexto sócio ambiental e cultural da mesma.
Como parte da metodologia do trabalho foram aplicados questionários em uma entrevista semi estruturada aos alunos moradores da Aldeia Moreira de Miranda MS que estudam no EJA Ensino Médio da Escola Carmelita Canale Rebuá, e também foram realizadas conversas informais entre o pesquisador e os pesquisados acerca do assunto que interessa a este, foram feitas ainda pesquisas de campo junto à funasa e às lideranças da Aldeia Moreira, Secretaria de Educação do Município de Miranda MS, periódico Jornal da Cidade, que serviram para dar base aos estudos deste trabalho, que finalmente fundamenta-se ainda nas bibliografias que nele foram citadas.
São apresentados os resultados diante de uma análise das informações coletadas, sempre buscando um olhar paralelo aos referenciais bibliográficos que serviram de apoio e ainda foram feitas feita algumas discussões com relação a estes, apartir dos quais são feitas as considerações que poderão úteis para a própria comunidade utilizando do conjunto de informações acumuladas durante a pesquisa.
1 BREVE HISTÓRICO DA ALDEIA MOREIRA
É importante lembrar de que os registros, relatos e livros sobre a descoberta e expansão territorial portuguesa, contam a história que começa com a presença do conquistador, porque o se tem em registros oficiais provem da historiografia portuguesa e brasileira e é farta quanto aos fatos que marcaram a história do descobrimento, apontando esse processo como símbolo do progresso e da civilização. Contudo esta é a lógica do conquistador, os acontecimentos e suas práticas são enaltecidas como feitos históricos importantes para o crescimento e desenvolvimento da humanidade, mas do ponto de vista da população nativa, que ocupava o território, as suas histórias, as culturas,
os costumes, religiões e valores foram negados ou quando aparece nos relatos é de forma estereotipada, etnocentricamente, de selvagens e incapazes que necessitavam de civilização, a partir de uma imagem genérica a serviço dos interesses políticos, religiosos e econômicos da sociedade dominante, ou seja dos colonizadores (Carvalho,1979). 
Em nossa região o povo Terena, segundo Bittencourt e Ladeira (2000), teve sua vida marcada por três acontecimentos históricos. O primeiro se deu como a saída da região do Chaco, no século XVIII. No território mato-grossense, firmaram alianças com os Guaicurus e portugueses, construindo e mantendo com eles relações políticas e comerciais. 
O segundo momento é o período considerado e denominado pelos mais velhos de “servidão”, isso porque foi um período extremamente difícil, em que muitos nativos morreram ou por ocasião da guerra, ou por conta das doenças por ela trazida, obrigados a escolher um lado tiveram que participar ativamente do processo de conflito Esta participação é dos Terenas na Guerra do Paraguai data de 1864-1870. O conflito entre o Paraguai e a Tríplice Aliança atingiu, diretamente, as aldeias e vida das comunidades Terena, sendo que muitos se dispersaram, buscando refúgio em lugares inacessíveis, principalmente no lugar chamado de Pulôwô’uti e na serra de Maracaju, fugindo das consequências da guerra provocadas pelas frentes de batalha e doenças (AZANHA, 2000, p.1). 
Ainda no que se refere a estes fatos especificamente no município de Miranda como bem ilustra a citação abaixo, houve um maior contato entre as diferentes etnias indígenas, por conta de se unirem diante a nova realidade que se apresenta ante ao processo de guerra e também de colonização: 
Cada um desses deslocamentos implicava necessariamente novas formas de adaptação ecológica e social: tornando-se sedentários, como no distrito de 
Miranda, por influência dos Terena e Kinikinaos, adotando o módulo subsistencial de pescadores e coletores ou tentando manter sua antiga forma adaptativa, os Mbayá foram se de populando vertiginosamente(Carvalho,1979 p.33).
Já por sua vez os Terenas, do contato com os Mbayá/Guaicuru, constituíram alianças e assimilaram a estratificação social, aprenderam diferentes práticas e manejos, como a criação de animais e organização social.
Mais tarde os que voltaram para as aldeias, encontraram suas terras invadidas por fazendas e criadores de gado, neste contexto segundo Bittencourt e Ladeira (2000), foi feita a delimitação das quatro primeiras reservas Terena no município de Miranda MS, entre 1904 e 1905 - Cachoeirinha, Bananal, Ipegue e Lalima, existentes até os dias atuais. Essa demarcação permitiu que o governo liberasse o restante das terras para frentes expansionistas de criação de gado e, posteriormente, a plantação de soja e outras culturas. Em consequência dessa política, a população indígena foi confinada em pequenas glebas de terra, facilitando assim o trabalho de catequese dos missionários com os indígenas, de certa forma impondo as suas crenças religiosas a estas aldeias. 
Posteriormente, entre as décadas de 1910 e 1920, foi requerido pelo próprio fazendeiro senhor Pilad Rebuá, ao Estado do Mato Grosso pelo extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI), as reservas Pilad de Rebuá, visando criar uma área para os índios terenas que trabalhavam em sua fazenda Baiazinha, e assim foi feito e ainda nos dias atuais é onde estão localizadas as aldeias Passarinho e Moreira. A princípio a Aldeia Moreira passou a ser constituída por nove famílias, contando com aproximadamente pouco mais que cinquenta moradores para uma área de aproximadamente 1500 ha(Imagem 1), com o tempo a aldeia recebeu outros índios, inclusive de etnias diferentes, como os Bororós, Kadiwéus e Kinikinaus.
Atualmente a Aldeia Moreira, que está a uma distância de pouco mais que mil metros do Bairro Villas Boas, município de Miranda/MS, possui densidade demográfica relativamente alta, com aproximadamente 1500 índios (Funasa 2005), as decisões políticas e sociais ainda são do cacique que é escolhido de forma democrática por voto direto e todos os maiores de idade votam. O atual Cacique da Aldeia Moreira é o senhor Paulino da Silva, o Vice-cacique Edno Farias, e o Líder do Comando de Ronda Indígena formam a liderança. 
Devido à proximidade com a área urbana a Aldeia Moreira talvez é a que tem sofrido maior pressão da cultura não índia, por isso apesar da liderança ainda ser patriarcal, tanto homens quanto mulheres trabalham fora da aldeia em diversas atividades, contudo ainda existe trabalho nas plantações com cultivo de mandioca, manga e milho, além da produção de artesanatos, cerâmica, é praticada a criações como galinhas e de porcos, há também pesca no Rio Miranda.
As casas variam em sua construção, antes a maioria utilizava bambu puro, ou bambu com traços de alvenaria na base das paredes. Atualmente as tendências das novas construções já são inteiramente de alvenaria, principalmente devido a presente escassez de bambu e devido a influência da cultura externa à aldeia. Este fato pode ser facilmente confirmado pela visualização da Imagem 1. O que se percebe ainda na vista aérea mostra como todo o entorno da Aldeia Moreira tornou-se pasto, ou seja, a vegetação natural é inexistente.
Imagem 1-Fonte Google Maps.
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para o levantamento das informações iniciais da realização deste trabalho foi feita uma entrevista com os alunos da Escola Carmelita Canale Rebuá, estudantes do Educação de Jovens e Adultos (EJA) na fase de Ensino Médio do período noturno, que são moradores da Aldeia Moreira. Foram entrevistadas no total59 pessoas, entre 18 e 50 anos de idade, sendo que a maioria está entre a faixa etária de 26 a 33 anos(22 pessoas), deste total 32 pessoas são do sexo feminino e 27 do sexo masculino, quase todos trabalham apenas duas pessoas estão desempregadas, e nenhum é aposentado,sendo que a maior parte dos trabalhadores tem vínculo empregatício.
No que se refere à educação ambiental, todos afirmaram não participar de nenhum movimento relacionado a ela, contudo, existem outros movimentos dos quais participam e citam, “O resgate da cultura Indígena” e “Fala Terena”. O que se percebe é que recentemente a aldeia tem passado por forte movimento e resgate à cultura e na fala de alguns entrevistados a informação recorrente é que a língua Terena que era de conhecimento somente dos índios mais velhos, isto vinha acontecendo graças ao modelo de escola que tem sido imposto às comunidades indígenas, como produto da doutrina liberal, tem uma face conservadora, visto estar a serviço da manutenção de uma sociedade capitalista e individualista, que visa somente à competição e ao mercado, sem respeitar a individualidade e particularidade cultural local.
Todavia, no momento atual as escolas locais são buscadas como espaço de luta, de confronto com as contradições, de desmistificação da ideologia dominante, para que sejam capazes de interpretar o significado da constituição pluralista de uma sociedade. E tornem-se um ambiente concebido a partir do espaço e do tempo, em que acontecem as relações vinculadas às experiências do cotidiano, à vivência dos educandos e que os prepare para o enfrentamento das novas realidades, tornando então essa escola uma parceira na implementação de programas de desenvolvimento local. A inclusão da língua terena como disciplina obrigatória em várias séries do Ensino Fundamental, o resultado é que a língua terena hoje é falada e compreendida por todos, desde as menores crianças até os mais velhos. É evidente ao se observaras conversações na língua terena que ocorrem nos corredores da Escola Estadual Carmelita Canale Rebuá. 
Citam ainda movimentos não organizados, porém, que vêm produzindo resultados, como os das índias mais antigas ensinarem às jovens a cultura da confecção de cerâmicas. Nas últimas décadas era notável a redução deste tipo de produção indígena disponível, contudo, ao que percebe recentemente é que esta produção vem aumentando
nos últimos anos, é provável estes acontecimentos estejam relacionados à crescente valorização da cultura indígena promovida tanto pelo poder público, como por entidades não governamentais.
Imagem 2- Fonte Jornal da Cidade
Outra informação interessante que relaciona estas questões culturais e ambientais fornecida pelos entrevistados é a dificuldade de acesso à matéria prima para confecção da cerâmica, uma vez que a argila necessária antes vinha de um açude dentro da aldeia que praticamente secou devido à ocupação e ação humana, ou era proveniente do córrego Villas Boas que hoje por causa dos altos índices de contaminação é fétido e tem suas águas escurecidas, deixando a argila imprópria para a manipulação humana. Entre outras dificuldades são listados a falta da lenha para queima das peças de cerâmica, o não acesso a várias matérias primas para artesanatos diversos. Contudo, é notável que os entrevistados não relacionem estes problemas como sendo ambientais.
Porém, quando perguntados sobre já terem ouvido falar em educação ambiental apenas dois entrevistados responderam que não, a maioria deles afirma já ter visto a execução de pequenos projetos de educação ambientalrealizados ou pela Escola Municipal de Ensino Fundamental Pilad Rebuá, que fica no interior da aldeia, ou pelas Secretarias de educação ou meio ambiente, são projetos curtos realizados geralmente na semana do meio ambiente.
Já com relação aos principais problemas ambientais que Aldeia Moreira possui, nas palavras deles são: faltam de mata, destruição do córrego Villas Boas, acumulo de lixo, falta de água, dificuldade de caça e pesca. O que fica claro analisando as informações de modo geral coletadas é a visão simplista e conservacionista que os entrevistados têm de Educação Ambiental, visão esta que não difere muito de que se tem a maioria das pessoas índias e também as não índias. Para reforçar a conclusão anterior, temos as respostas dadas à pergunta; O que é Educação Ambiental em sua opinião? E obtiveram-se como respostas mais frequentes: “cuidar da natureza”,“ensinar a respeitar a natureza”, “não poluir a natureza”.
A pergunta que fica é como fazer uma Educação Ambiental que venha sanar a necessidade de um olhar mais crítico sobre o assunto de forma que atinja a todos? E a resposta talvez esteja como cita o texto de apoio ”Panorama de Educação Ambiental do Brasil” de Zanon e Garcia: Seria necessário amadurecer, diretrizes, acordos, convenções e declarações. Pois estas inúmeras ações que são realizadas por organismos internacionais e nacionais, governamentais e não governamentais, vêm estruturando e fortalecendo organizações regionais e locais (grupos, comissões, conselhos, comitês, redes, associações, movimentos sociais, religiosos e classistas) como espaços de participação democráticos. O texto salienta ainda que apesarda morosidade, para atender essas políticas, é possível identificar que estão aos poucos sendo implementadas, incorporando ao longo do tempo novas demandas e adequações, quando necessárias. Um bom exemplo desse amadurecimento é o que vem acontecendo nas escolas, que nos últimos tempos insistem na necessidade de se criar currículos mais próximos de sua realidade e que atendam às novas demandas de cada etnia, em especial. É evidente que é de fundamental importância que para que aconteça a Educação Ambiental, o intercâmbio entre o pensamento e o conhecimento dos povos indígenas, gerado no cotidiano das aldeias e nos seus ambientes sócio-políticos maiores que é onde ocorre a articulação interétnica, a fim da elaboração teórico-metodológicas dos pensadores acadêmicos e defensores do movimento por uma educação ambiental coerente e materialmente adequado. 
Especificamente no tocante à Aldeia Moreira, além da Educação Ambiental pautada no respeito às particularidades da comunidade local, existem ainda necessidades de ações políticas que visem resolver problemas também relacionados à alta demografia e reduzido espaço físico da aldeia, sem demagogias a lutas por demarcação de terras para esta ou aquela comunidade indígena comum e notório no Município de Miranda MS (Imagem 3), o fato que se apresenta na realidade é que seria impossível pensar na manutenção da cultura e do modo de vida indígena dos seus habitantes diante do grave confinamento vivido por eles, uma vez queo cultivo de milho, mandioca, a criação de animais e o acesso à matéria prima para produção de trabalhos artesanais estão praticamente inviáveis e, como se sabe, a tendência é de crescimento da população habitante local.
Imagem 3- Fonte Jornal da Cidade
Não é incomum ouvir-se na fala recorrente dos não índios, os prejuízos produzidos aos cofres públicosnos gastos para a manutenção do assistencialismo aos povos indígenas. Contudo, há que se saber que nem mesmo a eles esta situação é cômoda, porém necessária, pouco menos que metade dos entrevistados declarou trabalhar sem vínculo empregatício dentro da própria aldeia, e que têm a sua fonte de renda comprometida diante da atual realidade físico/ambiental que a aldeia apresenta. Um dos entrevistados mostrou bastante coerência ao discorrer sobre o assunto, citando como exemplo inclusive as políticas públicas do país México, que segundo ele, teria mudado de assistencialista, para produtiva dando treinamento e logística a grupos que antes eram dependentes, salientou ainda em suas palavras que “ninguém quer ser parasita, nem o índio, nem o homem branco”, o que nos mostra o quão podemos estar enganados em nossos julgamentos. 
Os índios, como estudamos ao longo deste curso, não são imunes aos problemas ambientais mundiais, tais como o efeito estufa e à escassez de chuvas, e são especialmente afetados por o que ocorre em seu entorno, o que dizer então da Aldeia Moreira que está praticamente dentro da área urbana do município de Miranda. A poluição das águas, a perda da biodiversidade, sem a caça, sem a pesca, sem água de qualidade, sem as plantas medicinais, essas comunidades indígenas correm sérios riscos. Por isso, são necessárias políticas públicas urgentes e principalmente consistentes, que busquem a sustentabilidade da aldeia, através de alternativas econômicas, como incentivo ao ecoturismo e ao artesanato sustentável. E entender que a mão indígena não é a mão estendida à espera de uma esmola. É a mão cheia que oferece às outras sociedades uma alternativa e á diferença, que os “civilizados” já perderam (Melià 1999, p.160). 
A política do confinamento criadapor órgão de tutela que não cabe aqui citar, já cumpriu os seus objetivos, como se sabe da pior maneira possível, que era de “pacificar” os índios rebeldes e transformá-los em mão de obra barata. Então, é preciso que toda sociedade “não-índia” veja o “índio” de hoje, além da sua aparência, sem estereotipá-lo desta ou daquela maneira. É necessário antes de tudo que se respeite o “índio-cidadão”, como qualquer outra pessoa, que têm direitos e claro obrigações, que tanto vota, como pode ser votado, e conforme prevê a Constituição Federal, que de preferência, esteja sem a tutela do estado.
O desafio a ser vencido então é muito mais abrangente, e passa por assegurar a participação das populações indígenas, em todas as ações políticas que lhes dizem respeito, analisar e resolver as questões das terras, fazendo a devolução pelo menos em parte destas, que lhe são de direito, e ainda proporcionar mecanismos adequados ao gerenciamento territorial por parte dos índios, desta forma evitando novas invasões e explorações indevidas de suas terras. Outro pensamento comum e errôneo é o de que o reconhecimento dos limites das terras indígenas inviabilizará o desenvolvimento do meio rural, mas vale saber que as terras indígenas constituem a menor parte do estoque de terras que poderia ser destinado a programas governamentais de colonização e ou reforma agrária (OLIVEIRA, 1987).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A integração entre saberes e métodos antropológicos e educacionais, como o devido cuidado e o conhecimento das várias áreas, pode ser fonte de contribuição
para o levantamento de percepções de diferentes culturas e inclusão destas visões em processos transformadores, primeiro da forma de pensar, que levem desta forma em transformações sociais, políticas, econômicas e ambientais. Para alcançar este objetivo, torna-se importante a realização de pesquisas cuja investigação não se direcione somente para os povos como eles são no momento em que estão sendo estudados, mas também como se transformam, se movimentam em processos dinâmicos, como por exemplo, o aumento desta população ea mudanças dos seus anseios. O índio terena não é mais um selvagem semi-nu que pode caçar com arco e flecha na mão, que mora em palhoça;eles assimilaram nossa cultura e mudaram. Hoje têm celular e automóveis, e como qualquer cidadão brasileiro tem direito a tê-los. Não podemos desejar que continuassem com sacos pesados de mandioca na cabeça, com roupas maltrapilhas, e ainda chamando-o de preguiçosos, como se fossem de uma casta inferior, mas pelo contrário, devemos sim valorizar a sua cultura e se possível aprender o que de bom ela tem a nos oferecer.
Uma vez vencida a visão preconceituosa e estereotipada, e feitos estudos que façam levantamentos sérios e criteriosos, estabelecer políticas que viabilizem o desenvolvimento sustentável destas comunidades, levando sempre em conta o que pensam, e se desejam ou não as transformações que lhes são propostas, pois é comum em projetos ambientais que não levam em conta os anseios, e os costumes da comunidade local, e acabam por impor projetos que não atingem seus objetivos.
Pode parecer estranho que em um projeto que se propunha fazer um levantamento da concepção de alunos do EJA da Escola Carmelita Canele Rebuá moradores da Aldeia Moreira acerca da Educação Ambiental, acabe por falar de conflitos por terra e de demografia elevada e ainda dos problemas relacionados a estes fatores, contudo, foi nesta direção que as informações levantadas pelas entrevistas e pesquisas levaram e de fato este são os problemas ambientais mais importantes para essa pessoas no momento, mas ainda com relação à concepção que os alunos, objeto deste estudo têm a respeito da educação ambiental fica a conclusão de que esta é superficial, com tendência conservacionista que vem sendo apregoada pela escola tradicional.
4 REFERÊNCIAS
AZANHA, Gilberto. Os Terena. Centro de Trabalho Indigenista - Brasília, 2003. 
BITTENCOURT, Circe M.; LADEIRA, Maria E. A história do povo Terena. MEC: 
Brasília, 2000. 
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão dos sistemas vivos. Cultrix - 
Amana-Key, São Paulo, 1997. 
CARVALHO, E. A. As alternativas dos vencidos: índios Terena no Estado de São Paulo, 
Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1979.
CIDADE. Jornal Da, Miranda 14 de maio 2013.
FUNASA. Endereço eletrônico-www.funasa.gov.br/. Visita em 06/06/2014.
MELIÁ, Bartolomeu, Educação indígena e alfabetização. Loyola, 2008.
OLIVEIRA FILHO, J. P. Os poderes e as Terras Indígenas. Rio de Janeiro: PPGAS, 
Museu Nacional, 1989. 
PAREDES, A. B. P.; BATTASSINI, P. S.; COSTA, R. B. da; BRAND, A. J. A Escola 
Indígena: papel e expectativas. II Seminário Internacional: Fronteiras Étnico-Culturais e 
Fronteiras da Exclusão. Campo Grande: UCDB, 2006. 
ZANON, Angela Maria; GARCIA Áurea Da Silva. Educação Ambiental e mudanças de Paradigma. UFMS, 2013.
5 APÊNDICES
ROTEIRO DE ENTREVISTA INDIVIDUAL 
DADOS GERAIS DO (A) ENTREVISTADO (A) 
Nome completo do (a) entrevistado (a)_____________________________________________
___________________________________________________Sexo: Mas. ( ) Fem. ( ) 
Escolaridade:_________________________________________________ Idade: _______anos 
Endereço_____________________________________________________________________ 
_____________________________________________________________________________
 QUESTIONÁRIO
1-Qual é a atividade de trabalho sua aqui no município? Detalhar: tem vínculo empregatício? É aposentado? O trabalho é permanente/temporário? E outro?________________________________
________________________________________________________________________________
2-O Sr. (a Srª., você) participa de alguma associação, entidade ou movimento ambiental aqui no município? R) Não ( ) Sim ( ) Qual? ____________________________________________
________________________________________________________________________________
3- O Sr. (a Sr1., você) conhece ou já ouviu falar de Educação Ambiental? 
Não ( ) (Encerrar a entrevista) 
Sim, conhece ou já ouviu falar ( ) 
4-O que o Sr. (a Srª., você) conhece ou ouviu falar sobre a Educação Ambiental?_________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
5-Em sua opinião, qual é a importância da Educação Ambiental?______________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6- Você percebeu alguma preocupação das pessoas moradoras da Aldeia Moreira com relação ao meio ambiente? Não percebeu ( ) não sabe dizer( ) não se lembra ( )sim percebeu
7- Já houve ou ainda há algum projeto na área de ambiental na Aldeia Moreira?
 ( )Sim ( ) Não ( ) Não sei
8-Você acredita que o projeto de Educação Ambiental mudou alguma coisa na Aldeia Moreira? O que?________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
9- A Escola Pilad Rebuá da Aldeia Moreira já desenvolveu algum projeto na área de Educação Ambiental ? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei.
10- Existe na Aldeia Moreira algum movimento ou preocupação com relação à preservação da cultura Terena na Aldeia Moreira? Quais são elas?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
11-Em sua opinião qual o maior problema enfrentado hoje pela Aldeia Moreira?__________________
______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
12- Na sua opinião quais são os problemas ambientais que possui hoje a Aldeia Moreira__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
OBSERVAÇÕES FINAIS DO ENTREVISTADOR:_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Data de realização da entrevista: _____/_____/______

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