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Direito da União Europeia

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Direito da União Europeia
Introdução[1: Maria Luísa Duarte, União Europeia: Estática e Dinâmica da Ordem Jurídica Eurocomunitária, pp 17-23, 1ª Edição, Almedina, 2011]
Noção e Natureza do Direito da União Europeia
- Para Maria Luísa Duarte, o Direito da União Europeia é o conjunto de regras e princípios que regulam a existência e o funcionamento da União Europeia. 
 - O Direito da União Europeia não é um ramo de Direito, como o Direito Civil ou o Direito Administrativo – é uma árvore, é uma ordem jurídica per se, sendo a expressão do ordenamento jurídico europeu.
- Um ordenamento jurídico pleno (para Maria Luísa Duarte) tem de preencher os seguintes pressupostos:
 - Sistema de fontes
 - Autonomia
 - Hierarquia
 - Unidade
 - Plenitude
- A União Europeia tem um sistema próprio de fontes, como as directrizes, os regulamentos, etc.
- Autonomia – o Direito da União Europeia tem autonomia face aos ordenamentos jurídicos com que se relaciona
 - No entanto, a sua relação com outros ordenamentos (nomeadamente o Direito Interno) não é inexistente – os ordenamentos jurídicos podem ser autónomos mas não estanques, funcionando em rede – a chamada internormatividade
- Hierarquia – no seio da União Europeia verificam-se, de facto, relações de subordinação e, especialmente, de supraordenação
 - Exemplo: princípio do primado do Direito da União Europeia, princípio da prioridade aplicativa
- Unidade – a União Europeia gira em torno de valores comuns – integração, livre-mercado, democracia e respeito pelos direitos humanos; a existência do Tribunal de Justiça confere alguma unidade e coerência ao Direito da União, através da sua jurisprduência uniformizadora.
- Plenitude - exaustividade reguladora e capacidade de manter o funcionamento da ordem jurídica
 - Apesar do princípio da competência por atribuição, tem-se verificado uma expansão do número de competências da União Europeia
 - Tribunal de Justiça interpreta os tratados sempre extensivamente, através de um critério “in dubio, pro U.E.”
 - Hoje em dia a União Europeia tem quase todas as competências e o Direito da União Europeia é um vírus que contamina o direito interno, mas sempre com respeito do princípio da subsidariedade.
Conclusão
- Direito da União Europeia é a expressão de um ordenamento jurídico próprio, não sendo, portanto, um ramo de Direito. Contudo, existem ramos de Direito da União Europeia, como o Direito Europeu da Concorrência, Direito do Mercado Único, etc., sendo o Direito da União Europeia a “árvore”. 
Os Fundamentos Históricos do Desígnio Europeu [2: Maria Luísa Duarte, Direito da União Europeia e das Comunidades Europeias, pp 25- 80, 1ª Edição, Lex][3: João Mota de Campos, Manual de Direito Europeu, pp 19-65 , 6ª Edição, Coimbra Editora][4: Maria Luísa Duarte, União Europeia…, pp 23-80]
- Pode-se dizer que o começo da integração europeia deu-se em 1950, com a famosa Declaração Schuman. Contudo, existem uma série de antecedentes que convém ver.
Até à 1ª Guerra Mundial
- Maria Luísa Duarte chama a esta fase “pré-história da integração europeia”
- É difícil definir Europa. Geograficamente não é nada mais do que uma península asiática – mas desde a Idade Média que se foi perdendo a noção puramente geográfica de Europa, e com o humanismo renascentista, já se caracteriza a Europa como “entidade histórico-cultural e política”.
- Desde a Antiguidade Clássica que tem havido um desejo de uma Europa unida, Europa unida essa que tem sido tentada pela força das armas e pela força das palavras. Depois de uma Idade Média onde houve uma certa unidade sob a autoridade do Papa, a chamada Res Publica Christiana, a Idade Moderna das soberanias nacionais absolutas e das guerras religiosas fratricidas cria uma nostalgia de unidade europeia.
- Pela força das armas, já vários impérios tentaram unir a Europa – o Império Romano, Império Carolíngio, Sacro-Império Romano-Germânico, França Napoleónica, III Reich, etc.
- Pela força das palavras, a ideia de unidade europeia já há algum tempo que vinha a ser proposta, havendo muitos filósofos e pensadores a apresentarem projectos de congregação europeia variados, numa era em que os Estados eram deixados aos seus impulsos beligerantes.
 - Ainda numa base muito precoce, pensadores como Antoine Marini, o Duque de Sully, William Penn, o Abade Saint-Pierre, entre outros, foram os prmeiros a propor proto-projectos de uma Europa Unida.
 - No século XVIII vários pensadores, como Jean-Jacques Rousseau, Jeremy Bentham e Immanuel Kant, fazem passar pela unidade de Estados europeus a possibilidade de uma paz perpétua.
 - No século XIX, essas ieias são divulgadas, através de autores como Saint-Simon, Benjamim Constant, Ernest Renan, e até se realizaram “Congressos da Paz”, em 1849 e 1850. No primeiro, o escritor francês Victor Hugo propôs uma “união europeia” com capital em Paris, o que mostra que, apesar das intenções, havia muita dificuldade em conseguir erguer o europeísmo no meio de nacionalismos. No entanto, todos estes pensadores pensaram a integração política europeia em torno dos seguintes valores – consentimento dos cidadãos no seio dos seus Estados, consentimento dos Estados, de todos os Estados, em relação ao acto fundador da Federação, etc.
No Período Entre as Guerras Mundiais
- A Prof. Maria Luísa Duarte designa também esta era por “proto-história da integração europeia”
- A 1ª Guerra Mundial derrota completamente o pensamento pacifista, e o europeísmo sofre um grande revés.
- Depois de tal devastadora guerra, gera-se um certo pessimismo, com autores como Oswald Spengler e Albert Demangeon a publicarem obras que falam sobre o declínio do ocidente, mais precisamente, da Europa. Entretanto, a Europa ia ficando para trás na corrida do desenvolvimento, com uns Estados Unidos cada vez mais fortes.
- Contudo, em 1923 um diplomata, o Conde Coudenhove-Kalergi, publica o livro “Pan-Europa”, desenhando uma estrutura concreta para uma Federação Europeia, o que faz nascer mais movimentos europeístas – é daqui que sai a ideia que mais tarde inspirará Schuman, a ideia de que a construção europeia é feita de confiança.
 - A estrutura proposta por Coudenhove-Kalergi é profeticamente próxima da U.E. actual: cidadania europeia ligada à cidadania nacional, bicameralismo, tribunal federal.
Depois da 2ª Guerra Mundial
- A 2ª Guerra Mundial resultou em danos incalculáveis para a Europa – humanos e materiais. A Europa estava em ruínas, endividada e dividida, tendo o seu aparelho destruído.
- Perante essa situação era preciso reconstruir a economia europeia, era preciso acabar com as clássicas inimizades e era preciso criar uma estrutura de contra-peso contra a influência soviética.
Antecedentes
- BENELUX – união aduaneira entre a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo criada em 1948, que mostra que a integração económica e política é possível.
- Discurso de Churchill em Zurique em 1946: “É preciso criar uns Estados Uidos da Europa... uma estrutura que permita a Europa viver e crescer em paz, segurança e liberdade... Para isso acontecer, é preciso haver reconciliação entre a França e a Alemanha.”
 - No entanto, com o falhanço da Comunidade Europeia de Defesa, o Reino Unido afasta-se cada vez mais da integração europeia, e mesmo como membro da U.E. desde 1973, a sua posição sempre mais afastada é resumida na expressão: “we are with them, but we are not one of them.”
- Congresso da Europa em Haia – 1947, do qual saíram duas correntes: a corrente federalista, que advogava uma entidade supranacional, com relações de supraordenação, citando casos de sucesso como a Zollverein alemã, a Confederação Germânica e os Estados Unidos; e uma corrente unionista, que advogava uma cooperação inter-governamental na onda de uma clássica organização internacional.
 - Pouco depois, a criação do Conselho da Europa em 1948 concretizou as aspirações dos unionistas e a criação da CECA em 1951 as aspirações dos federalistas, agoramenos idealistas e convertidos ao método dos pequenos passos.
- OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico) e Plano Marshall de 1948 – inicialmente designada em OECE (Organização Europeia de Cooperação Europeia), tornando-se OCDE. Era originalmente uma organização ‘anexa’ ao Plano Marshal, mas posteriormente autonomizou-se como organização de cooperação económica.
- Comunidade Europeia de Defesa – foi para ser criada entre a França e a Alemanha, mas a rejeição da Assembleia Nacional francesa deitou por terra esforços de tão grande integração política, dando mais ânimo ao método dos pequenos passos.
 
A Criação das Três Comunidades Europeias
A Declaração Schuman
- Diz-se que a integração europeia propriamente dita se iniciou com a Declaração Schuman
- A Declaração Schuman é proferida por Robert Schuman, Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, a 9 de Maio de 1950, sendo ela um convite aberto a todos os países europeus, mas principalmente dirigida à Alemanha
- Ela define o modelo de integração europeia, o modelo dos pequenos passos: “A Europa não se fará num só golpe”
- Lido por Schuman, ela é, no entanto, idealizada por Jean Monnet, com a ajuda técnica do jusinternacionalista Paul Reuter.
- É uma ideia audaz e um discurso jurídico-político perfeito marcando o início do sucesso europeu.
- Qual a sua ideia? Nos últimos séculos a Europa conheceu guerras devastadoras. Sendo assim, a alternativa só pode ser a solidariedade, quebrando antagonismos tradicionais (como o antagonismo franco-alemão) – o Europeísmo está intimamente ligado ao pacifismo, pois a ideia de Europa nasceu para garantir a paz duradoura e a prosperidade.
- E os seus objectivos?
 - Objectivo Imediato – criação de uma Alta Autoridade que gerisse a comercialização e fabrico do carvão e do aço francês e alemão, como matérias primas de guerra que são, sendo essa cooperação uma prova de confiança entre velhos inimigos.
 - Objectivo Mediato – proposta, a prazo, lançará as bases de uma Federação Europeia – a CECA seria só o início, seria só o fermento. 
- A declaração Schuman apresenta também a ideia nova de supranacionalidade, falando da Alta Autoridade como órgão supranacional e não inter-governamental.
As Etapas do Processo de Integração Europeia
Etapa de Transição (1951-1968)
(os tratados estão enunciados com a data da sua assinatura e a data da sua entrada em vigor)
Tratado de Paris – 1951-1952
- A 1951 é celebrado o Tratado de Paris, concretizando a Declaração Schuman e criando a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. O tratado vigorou entre 1952 e 2002, sendo a primeira realização do projecto europeu e contou com a participação de Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo.
- O falhanço da Comunidade Europeia de Defesa, criada por medo da ameaça soviética, levou aos países do BENELUX a proporem um “relançamento europeu” e, em 1955 foi convocada uma conferência dos Seis para Messina.
Tratado de Roma – 1957-1958
- Assinado o Tratado de Paris, em 1957 assiste-se a outro marco histórico para a integração Europeia. A 25 de Março de 1957, os seis países fundadores da CECA (França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo) assinam dois tratados, criando a Comunidade Económica Europeia e a Agência Europeia para a Energia Europeia (EURATOM), entrando em vigor a 1958. O Tratado de Roma iniciou a existência de três comunidades – a a CECA, a CEE e a EURATOM
- Com a criação da CEE e a entrada em vigor do Tratado de Roma, inicia-se o caminho até ao Mercado Comum. Esse caminho faz-se, como se preconizava na Declaração Schuman, através do chamado método funcionalista, ou método dos pequenos passos, método esse que ganhou força após o fracasso da Comunidade Europeia de Defesa em 1954. 
- Assim, da zona de comércio livre passa-se para a união aduaneira, depois para o mercado comum e, por fim, para a união económica e monetária e, quem sabe no futuro, o governo económico.
 - O Mercado Comum pressupunha ainda uma série de políticas comuns: Política Agrícola Comum, Política Comum das Pescas e Política Comercial Comum.
- Esta etapa conheceu dois momentos críticos, com a França como protagonista: em 1963 com a recusa francesa ao pedido de adesão do Reino Unido e em 1965 com a política da ‘cadeira vazia’ (o nacionalismo de De Gaulle e a sua ‘Europa das Pátrias’ levou a uma certa reserva da França em dar mais poderes à CEE) 
Etapa da Consolidação (1969-1992)
- Com a saída de De Gaulle do poder, e a ascensão de Georges Pompidou, o projecto europeu pôde avançar, com as políticas de acabamento (concluir realização do Mercado Comum), aprofundamento de políticas e alargamento (73 – Reino Unido, Irlanda e Dinamarca; 81- Grécia; 86 – Espanha e Portugal)
- Passou-se a eleger o Parlamento Europeu por sufrágio universal em 1979, institucionalização, em 1974, do Conselho Europeu e o Acto Único Europeu em 1987
Acto Único Europeu - 1987
- O Acto Único Europeu consagrou no texto dos tratados a existência do Conselho Europeu, alargou os poderes do Parlamento, clarificou a função executiva da Comissão e criou o Tribunal de 1ª Instância associado ao Tribunal de Justiça.
Etapa da ‘Idade Futura’ e da União Europeia[5: Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty: A Legal and Political Analysis, pp 9-25, 1ª Edição, Cambridge]
Tratado de Maastricht – 1992-1993
- Todo o processo foi impulsionado por Jacques Delors, Presidente da Comissão Europeia, e motivado pelas transformações políticas da Europa de Leste.
- Com o Tratado de Maastricht, as comunidades europeias juntam-se na Comunidade Europeia. 
- É também, em Maastricht, assinado o Tratado da União Europeia, alargando-se as competências e a cooperação para lá da vertente económica, criando-se paralelamente a União Europeia.
- Consagra-se a chamada estutura pilarizada, havendo três pilares que suportam o Quadro Institucional Comum – a Comunidade Europeia, Política Externa e Segurança Comuns e Justiça e a Assuntos Internos – com cada um a seguir uma metodologia diferente:
 - No seio da Comunidade Europeia segue-se o modelo comunitário, delibera-se por maioria e o seu principal protagonista é a Comissão Europeia
 - No âmbito da Política Externa e Segurança e Comum e da Justiça e Assuntos Internos segue-se o método da cooperação inter-governamental, através da acção concertada dos Estados-Membros no seio do Conselho Europeu, que emite soft law e segue a regra da unanimidade.
- Começa-se a pensar na União Económica e Monetária, o chamado Plano Delors.
- Para Maria Luísa Duarte, o Tratado de Maastricht foi a mais importante e alargada reforma dos tratados.
Tratado de Amsterdão – 1997
- Limitou-se a aprofundar pressupostos de um funcionamento mais eficaz da União, alargando o âmbito de limitação da soberania dos Estados às matérias de asilo, imigração, vistos – comunitarizou parte do pilar da JAI
- Dá mais poderes ao Parlamento Europeu
Tratado de Nice – 2001-2003
- O principal propósito do Tratado de Nice foi adaptar as instituições ao alargamento que iria ocorrer em 2004.
A Constituição Europeia e o Seu Fracasso[6: Maria Luísa Duarte, Estudos de Direito da União Europeia e das Comunidades Europeias Vol. II, pp 393]
- Com a chamada Declaração Laeken em Dezembro de 2001 (Declaração nº23 anexa ao Tratado de Nice), inicia-se o projecto para uma Constituição Europeia, baseada num objectivo de clarificar e simplificar os Tratados e de democratizar a União e criar maior transparência, convocando uma convenção para discutir esse projecto. A Declaração Laeken reflecte uma percepção que os líderes europeus iam tendo: que os cidadãos estavam cada vez menos entusiasmados com a construção europeia.
- Na altura perguntava-se: seria a Constituição um tratado ou uma verdadeira constituição?
- Maria Luís Duarte – temos que ver qual a definição prévia de Constituição. Se lidarmos como uma acepção material, de Constituição como estatuto jurídico do poder político, podemos falar de ‘Constituição Europeia’, porque de facto, é o que ela era, respondendoàs exigências de uma Constituição material: tutela dos direitos fundamentais, formas de limitação jurídica do poder político e previsão de um quadro institucional de órgãos.
- Mas seria uma Constituição na acepção formal da palavra? Maria Luísa Duarte define três critérios: critério genético, critério ontológico e critério supraordenacional. Na origem do Tratado para a Constituição Europeia (genético) esteve a vontade soberana dos Estados-Membros, reunidos numa conferência inter-governamental, não havendo um poder constituinte europeu e autónomo, nem sendo possível haver, pois não existe um ‘povo europeu’ autónomo; critério ontológico remete para uma Constituição a existência como fundamento do poder político autónomo e auto-referencial – na U.E. não foi assim que funcionou, sendo ela uma ‘criatura’ moldada e accionada pelos Estados-Membros, seus criadores (por exemplo, a UE não tem base territorial própria, o seu território é o território dos Estados-Membros), já para não falar do princípio das competências por atribuição. Quanto ao último critério, ele implica que essa Constituição gozaria de uma força jurídica especifica que envolve, por um lado, a primazia da norma constitucional em situação de litígio e a garantia do processo de revisão – só nesse é que a Constituição Europeia assumiria, em parte, as características de uma Constituição. Sendo assim, ela era uma ficção, sendo, do ponto de vista jurídico-formal, um tratado internacional negociado pelos Estados que integram a UE na sua qualidade de sujeitos de DIP.
- A Constituição Europeia tinha muitas referências a símbolos, criava um Ministro dos Negócios Estrangeiros, associação dos parlamentos nacionais ao processo de decisão, codificação do primado, etc.
- Com a rejeição da Constituição em dois referendos, entra-se num período de reflexão, até à génese do Tratado de Lisboa. 
O Tratado de Lisboa e a Afirmação da Identidade da União Europeia Como Espaço de Integração Política [7: Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty: A Legal and Political Analysis, pp 36-111, 1ª Edição, Cambridge][8: Maria Luísa Duarte, Estudos Sobre o Tratado de Lisboa, pp 9-45, 1ª Edição, Almedina]
- Com o falhanço do projecto constitucional europeu, era precisa uma nova solução – começa-se então a falar do “Tratado Reformador”, durante a presidência alemã.
- Para Maria Luísa Duarte, o Tratado de Lisboa herdou a forma jurídica dos tratados clássicos – Roma, Nice, etc. e foi importar o conteúdo à Constituição Europeia, num “esquema laborioso de engenharia juridica ou (...) um trabalho paciente de cerzidura normativa” – basicamente, as diferenças em relação à Constituição não são assim tão grandes, apenas havendo modificações em questões ideológicas, neutralizando esse sentido do texto.
 - Em nome do compromisso político teve de se sacrificar o objectivo postulado na Declaração de Laeken de maior transparência e simplificação do estatuto jurídico da União, continuando o modelo ‘Dois Tratados, Uma União’.
- Com o Tratado de Lisboa:
 - Abolem-se quaisquer referências constitucionais
 - Quanto ao princípio do primado do Direito da União, ele já não está codificado, apesar de continuar jurisprudencialmente consagrado.
 - Art. 4º e 5º/2 TUE – competência da União Europeia é uma competência por atribuição e sublinha-se que a segurança nacional é da exclusiva responsabilidade dos Estados
 - Não inclusão da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia. Contudo, o art. 6º/1 TUE dá-lhe valor jurídico igual ao dos tratados.
 - Art. 12º TUE – dá-se maior papel aos parlamentos nacionais
 - Competência – regulada no art. 2º TFUE
- O método de cooperação inter-governamental manifesta-se em muitos aspectos, nomeadamente o abandono de ideias e termos constitucionais, a possibilidade de saída de um Estado-Membro da União Europeia, o facto de algumas das funções dos Estados permanecerem na sua competência ou sujeitos à regra da unanimidade (nomeadamente a PESC e algumas questões de cooperação judiciária e policial em matéria penal – art. 31º TUE) e a consagração do princípio da subsidariedade
- Mas o método comunitário também ganha pontos, nomeadamente com a criação do Presidente do Conselho Europeu e da Alta Representante para Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, maior possibilidade de cooperação em matéria de Política Externa e Segurança Comum e mais assuntos decididos por maioria qualificada, já para não falar da dispilarização – “desaparecem as Comunidades para sair fortalecido o método comunitário.”
Sendo assim:
- Por um lado, o novo enquadramento jurídico consagra muitas das reformas substanciais da Constituição Europeia, dotando a União de mecanismos que lhe permitirão crescer no futuro – dá a possibilidade de, se houver vontade polítiva, fazer crescer a influência e visibilidade da União.
- Por outro lado, é a primeira vez que os ‘federalistas’ foram obrigados a recuar, fazendo desaparecer referência a símbolos que aproximariam a União de um Estado – a ideia de uma Federação Europeia sai derrotada.
- Diferentemente da Constituição Europeia, o Tratado de Lisboa não revoga os outros tratados, modifica-os, como tem sido sempre feito. 
- O Tratado de Lisboa, nas palavras de Piris, é um “tratado muito complexo, seguindo o padrão dos tratados anteriores, não revogando nem substituindo nenhum, apenas emendando-os. Sendo assim, abandona-se o propósito simplificador da Constituição Europeia” dando muita complexidade, parece-me, à ‘constituição material da U.E.’, i.e., o TUE e o TFUE. Contudo, simplifica uma série de assuntos:
Personalidade Jurídica Única
- Antes havia duas pessoas jurídicas – a Comunidade Europeia e a União Europeia, que só o era através de um ius tractum limitado.
- Agora só há uma pessoa jurídica – a União Europeia – com a União a absorver a Comunidade Europeia. Contudo, a EURATOM continua com personalidade jurídica própria – art. 47º TUE
- Já tendo a ex-Comunidade Europeia personalidade jurídica, e sendo a União sua sucessora, era natural este passo, pelo que facilitará a eficácia da actuação da União.
 - O art. 216º TFUE codifica a doutrina jurisprudencial sobre a habilitação da União na política externa.
Despilarização
- Maria Luísa Duarte – a dispilarização está incompleta: os pilares agora são invisíveis, deixando marcas de uma forma subreptícia:
- Em relação à PESC, ao olharmos para os arts. 21ºss TUE, vemos que nestas matérias o Conselho Europeu decide por unanimidade (art. 31º TUE) e actos legislativos ficam excluídos, que o Parlamento Europeu não co-decide, que a Comissão não tem iniciativa e que o Tribunal de Justiça não tem jurisdição (arts. 275º e 276º TFUE)
 - Aliás, se firmos o segundo sub-parágrafo do art. 24º/1 TUE, adicionado expressamente pelos Estados-Membros na CIG de Junho de 2007, vemos: “A política externa e de segurança comum está sujeita a regras e procedimentos específicos. É definida e executada pelo Conselho Europeu e pelo Conselho, que deliberam por unanimidade, salvo disposição em contrário dos Tratados. Fica excluída a adopção de actos legislativos. (...) O Tribunal de Justiça da UE não dispõe de competência no que diz respeito a estas disposições, com excepção do art. 40º TUE” – a inclusão da referência ao art. 40º (permitindo ao TJUE pronunciar-se sobre poucos casos de PESC) leva-nos a pensar se um julgamento audaz será possível.
- Em matérias de Justiça e Assuntos Internos, os arts. 82º ss do TFUE abrem a possibilidade de cooperação reforçada (basicamente, andar a ritmos diferentes)
 - Jean-Claude Piris acha que o terceiro pilar desaparece efectivamente, pois os actos adoptados em matéria de JAI são agora regulamentos, directivas e decisões, adoptadas em co-decisão pelo Parlamento e pelo Conselho, sob iniciativa da Comissão.
- Sendo assim, temos uma União, mas que pode andar a velocidades diferentes consoante a matéria, e os princípios que regulam as relações entre instituições, entre Estados-Membros e União aplicam-se agora a todasas matérias
Importância Dada aos Direitos Humanos
- Art. 6º TUE - atribui à Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia “o mesmo valor jurídicos dos tratados.” – agora, a União Europeia dispõe, finalmente, de um catálogo próprio de tratados.
 - O art. 6º/2 TUE prevê a adesão da União à Convenção Europeia dos Direitos do Homem (não confundir com a Carta) – acordo internacional de adesão requer deliberação unânime do Conselho, seguido de aprovação de todos os Estados-Membros (art. 218º TFUE). Isso, curiosamente, colocaria o TJUE sujeito ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Delimitação de Competências – art. 2º TFUE
- Os Estados-Membros, titulares originários das competências, aceitam delegar na União novos e mais alargados poderes, mas reconhecem-se o direito de definir limites, jurídicos e políticos, mais exigentes no que toca ao exercício dos poderes pelo decisor da União e, por conseguinte, mais restritivos em relação à expansibilidade da esfera de actuação da União em detrimento da área de decisão própria dos Estados-Membros.
- V. art. 4º/1 e 5º/2 TUE que repetem a ideia da competência por atribuição.
 - O art. 5º sujeita as competências ao chamado teste da competência, fazendo três perguntas: quem tem a competência? (princípio da competência por atribuição) quem deve exercer a competência (princípio da subsidariedade) e como deve ser exercida? (princípio da proporcionalidade)
- Exclusivas – matérias sobre as quais só a União pode legislar e vincular. Os Estados-Membros só o fazem com autorização ou para executar no seu próprio território o que foi estatuído pela União. Exemplos: união aduaneira, mercado interno, união económica e monetária, etc.
- Partilhadas – tanto a União Europeia como os Estados-Membros podem emitir actos vinculativos; se a União já tiver legislado, os Estados-Membros só legislam no que ela não legislou ou decidiu não legislar. Exemplos: ambiente, energia, transportes, etc.
- Complementares – União Europeia não legisla, mas pode cooperar e ajudar Estados-Membros. Exemplos: turismo, cultura, protecção civil, política industrial.
- Alargamento ou redução das competências?
 - Em relação às competências exclusivas, verifica-se um retraimento do âmbito que, tradicionalmente, doutrina e jurisprudência admitiam como matérias de monopólio comunitário. Exemplo: política agrícola comum (com excepção de conservação de recursos) e política comum de transportes agora estão nas competências partilhadas.
 - Em relação às competências partilhadas, há um alargamento nas áreas de política de energia (194º TFUE), cooperação judiciária e policial em matéria penal (82º TFUE), problemas comuns de segurança em matéria de saúde pública (168º TFUE), política espacial europeia (189º TFUE), ajuda humanitária (214º TFUE), etc.
 - O alargamento mais significativo verifica-se no âmbito das competências complementares: novo título relativo ao turismo (art. 195 TFUE), desporto (art. 165º/2º TFUE), protecção civil (197º TFUE)
- Maria Luísa Duarte frisa o facto da passagem da PESC da esfera intergovernamental para a esfera comunitária e a protecção de direitos fundamentais passar a estar vinculada a um ‘bloco de fundamentalidade’, de fonte nacional e internacional.
- Quanto às competências partilhadas, é preciso enunciar três coisas. 
 - Declaração nº 18 – a CIG sublinha que a União pode decidir de deixar de exercer uma competência partilhada revogando um acto legislativo, para melhor respeitar o princípio da subsidariedade. Aliás, os Estados-Membros até podem pedir ao Conselho para pedir à Comissão, de acordo com o art. 241º do TFUE, para submeter uma proposta de revogação a um acto legislativo já em vigor, exigindo maior rigor na aplicação do princípio da subsidariedade – apenas mostra um grau de desconfiança política por parte dos Estados-Membros. Para Piris, juridicamente, não traz nada de novo, pois isso sempre se pôde fazer.
 - Princípio da Subsidariedade – o art. 5º/3 impõe o princípio da subsidariedade. O Protocolo 2º desenvolve melhor esta matéria, especialmente no que toca à participação dos Parlamentos Nacionais, que podem controlar a aplicação, ou não, do princípio da subsidariedade.
 - Princípio da Proporcionalidade – o art. 5º/4 dispõe que o conteúdo e a forma dos actos da União não excederá o que é necessário para atingir os objectivos dos tratados. Também é desenvolvido no Protocolo nº2. 
Princípio do Primado
- Ele é confirmado, mas não formalmente consagrado no Tratado de Lisboa, ao contrário da Constituição. No entanto, a jurisprudência uniformizadora do Tribunal de Justiça reafirma o princípio, especialmente através do famoso acórdão Costa v. ENEL: “A força executiva do Direito Comunitário não pode variar de um Estado para outro devido a leis domésticas posteriores sem prejudicar a concretização dos objectivos do Tratado.”
- A razão da remoção do princípio do primado do Tratado foi principalmente política, depois dos referendos falhados em França e na Holanda.
A Estrutura Decisória da União Europeia
Instituições, Órgãos e Organismos [9: Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 204-238][10: Maria Luísa Duarte, EsTL, pp 50-69][11: João Mota de Campos, MDE, pp 65-202][12: Maria Luísa Duarte, União Europeia…, pp 156-292]
Características Comuns da Arquitectura Institucional
O Quadro Institucional Único
- Segundo o art. 13º TUE, são sete as instituições da União Europeia: Conselho Europeu, Conselho, Parlamento Europeu, Comissão Europeia, Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas e Banco Central Europeu.
Instituições, Órgãos e Organismos
- Há que lembrar que, desde a declaração de Laeken que um dos objectivos da reforma da União era a maior democratização. No que toca à estrutura institucional, o Tratado de Lisboa preocupou-se mais com questões de eficácia do que propriamente com o reforço da componente democrática. Contudo, a componente democrática saiu reforçada do Tratado no que toca aos procedimentos de decisão.
- Verifica-se que o Tratado de Lisboa alimenta uma certa ambição de reformulação do quadro institucional. O traçado que dele emerge é mais conservador no que toca à existência das instituições e órgãos e mais inovador no que toca as relações entre eles.
- O art. 13º TUE define as características gerais do quadro institucional:
 - Identifica a sua função
 - Enumera as suas instituições
 - Subordina a actuação das instituições à observância do princípio da competência, da separação de poderes e da cooperação leal.
 - Define o Comité Económico e Social e o Comité das Regiões como órgãos consultivos.
- O art. 13º deveria conter alguma referência ao sentido da nova distinção entre instituições, órgãos e organismos, inovação do Tratado.
 - Desde sempre, as instituições designaram os órgãos mais importantes da União, nem sempre sendo claro o critério, mais político que jurídico.
 - O art. 13º adiciona à lista das instituições o Conselho Europeu e o Banco Central Europeu, ficando mais coerente o quadro institucional da União, que agora integra os órgãos verdadeiramente mais relevantes.
- Quanto ao conceito de organismos, encontramos nele variadas entidades jurídicas e funcionais, com duas características, pelo menos: não estão previstas no texto dos tratados e são criados por decisão das instituições competentes da União. Existem cada vez em maior número e aparecem sob os mais diversos nomes: agência, instituto, observatório, etc.
 - Art. 263º TFUE – permite impugnação dos actos dos organismos por iniciativa dos particulares.
Estrutura Institucional e Fontes de Legitimidade
- Legitimidade judicial – aplicação Direito União Europeia
- Legitimidade Democrática
- Legitimidade Inter-Governamental
- Legitimidade Integrativa – defesa dos interesses da União
Regime Comum de Funcionamento das Instituições, Órgãos e Organismos
- Autonomia – as instituições europeias têm autonomia externa e interna. A primeira resulta do grau de independência da própriaUnião em relação aos Estados-Membros e às suas instituições jurídicas, mercê da personalidade jurídica que lhe é expressamente reconhecida pelo art. 47º TUE; a autonomia interna envolve o poder de auto-organização, que implica aprovação dos próprios estatutos internos.
- Função Pública – o regime está mais próximo do regime do funcionalismo público de um Estado do que de uma organização internacional clássica
- Privilégios e Imunidades – art. 343º TFUE e Protocolo nº7
- Regime Linguístico – art. 342º TFUE; o Jornal Oficial da União Europeia é publicado nas 23 línguas oficiais
- Sedes – 341º TFUE:
 - Bruxelas – serviços da Comissão, do Conselho e do CES, reuniões do Conselho de Ministros
 - Luxemburgo – Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas, Serviço de publicações, alguns serviços da Comissão, secretariado geral do Parlamento, Banco Europeu de Investimento
 - Estrasburgo – sessões plenárias do Parlamento 
As Instituições, Órgãos e Organismos
O Parlamento Europeu[13: Jean-Claude Piris, The Lisbon Treaty..., pp 114-122]
Composição
- É a única instituição dotada de plena legitimidade democrática.
- Eleito por sufrágio universal, ele é o representante de todos os cidadãos europeus, tendo no máximo 751 membros, incluindo o Presidente.
 - Alteração significativa – o número de deputados já não está nos Tratados, apenas se enunciando critérios, como o limite acima exposto e o facto de a representação dos cidadãos ser degressivamente proporcional e com limite mínimo por Estado-Membro de 6 deputados e máximo de 96, para garantir um maior equilíbrio entre Estados mais e menos populosos (Ex: um deputado luxemburguês representa 71.000 pessoas, enquanto que um alemão representa 826.000)
 - De frisar que, de acordo com os critérios acima expostos, o Conselho Europeu adopta por unanimidade a composição do Parlamento, com o seu consentimento – 14º/2 TUE
 - Uma dúvida não foi resolvida pelo Tratado de Lisboa – que critério usar: nacionalidade ou residência? (primeiro favorceria países de emigração, como Itália ou Portugal; e segundo favoreceria países de imigração, como a França e a Alemanha)
Funções e Procedimento de Decisão
- Desde as primeiras eleições europeias em 1979, os sucessivos pedidos de alargamento de competências começam a fazer sentido devido à sua democratização (faz sentido que, se se quiser democratizar a União, se dê mais poderes ao Parlamento) e a sua estratégia passou sempre por condicionar o Conselho, aliando-se à Comissão.
- Agora, no plano geral, o Parlamento logrou avantajar a sua expressão, destacando-se a generalização do procedimento de co-decisão no que respeita à função normativa. 
 - Segundo o art. 14º TUE, o Parlamento exerce, juntamente com o Conselho, a função legislativa e a função orçamental, aplicando-se-lhe o procedimento legislativo ordinário através de decisão conjunta sua e do Conselho – 289º e 294º TFUE
 - O domínio da co-decisão foi agora alargado mais trinta casos de importância variável, estatuído em quatorze novas bases legais, sendo o sector mais significativo aquele da Liberdade, Segurança e Justiça, coordenação em matéria de segurança social, especialmente no que toca a trabalhadores migrantes, cultura, matérias de Euro, fundos de coesão, propriedade intelectual, etc.
 - Isto ignifica que o Parlamento e o Conselho, para poderem ser eficientes têm de cooperar mais, tentando entender-se à primeira leitura dos actos. Isso faz-se através de encontros informais entre a Presdiência do Conselho, representantes da Comissão e do Parlamento. 
- Agora, a sua Comissão está sujeita ao Parlamento Europeu e o Parlamento pode nomear comissões de inquérito, receber petições, eleger o Provedor de Justiça, questionar a Comissão e o Conselho, etc.
 - É de frisar que, quanto à Comissão, os poderes do Parlamento aumentam: agora, ele é competente para eleger o candidato proposto pelo Conselho Europeu – art. 17º/7 TUE
 - Parlamento pode interpor uma moção de censura sobre as actividades da Comissão – art. 234º TFUE
 - Direito de petição e inquérito – art. 226-227º TFUE – qualquer cidadão da União (v. art. 24º TFUE) pode dirigir petições ao Parlamento Europeu; o Parlamento pode constituir, por iniciativa própria, comissões de inquérito temporárias para averiguar, com respeito das competências cometidas a outras instituições ou órgãos, alegações de infracções ou má administração na aplicação do Direito da União.
- Tem alguns poderes adicionais:
 - 289º TFUE – estende-se o escopo da co-decisão, como já vimos
 - 314º TFUE – o novo procedimento aumenta os poderes orçamentais do Parlamento, que agora co-decide com o Conselho todas as despesas.
 - 17º/7 TUE – Presidente da Comissão é eleito em função do resultado das eleições
 - 218º/6 TFUE – aprovação de um grande número de tratados internacionais
 - 48º/7 TUE – aprovação de alterações aos tratados por processo simplificado
 - 50º/2 TUE – aprovação do acordo de retira de um Estado-membro
 - 352º/1 TFUE – aprovação do exercício de poderes novos pela União
 - 290º TFUE – Parlamento ganhou papel de controlo de poderes delegados e co-decisão para a adopção da nova ‘comitologia’ da União, ver também art. 291º TFUE 
- Para Jean-Claude Piris, a principal razão para o aumento dos poderes do Parlamento é o facto de na Convenção que preparou a Constituição Europeia (cujas propostas em relação ao Parlamento não foram muito modificadas) estavam membros do parlamento muito ‘espertos e activos’; e porque os líderes dos Estados-Membros precisavam de convencer os cidadãos de que a União Europeia é uma instituição verdadeiramente democrática.
O Conselho Europeu
Composição
- Tem uma legitimidade inter-governamental, de forma a preservar o equilíbrio de poderes dentro da União.
- Reúne Chefes de Estado e de Governo, representando os Estados-Membros a mais alto nível – art. 15º/2 TUE
- Maria Luísa Duarte acha que o Conselho é a instituição que mais beneficia com o regime instituído no Tratado de Lisboa.
- Jean-Claude Piris concorda, afirmando que o Tratado de Lisboa consagra o papel do Conselho Europeu como única instituição que tem liderança política geral da União Europeia.
 - Mesmo assim, o Tratado de Lisboa tornou-o uma instituição, o que também significa que os seus actos jurídicos podem ser fiscalizados pelo Tribunal de Justiça – art. 263º e 265º TFUE
Funções e Procedimento de Decisão
- Art. 15º TUE define principal função do Conselho Europeu: dar impulso político e estabelecer as orientações gerais e prioridades da União
 - O Conselho Europeu conserva a sua tradicional função de instância superior de impulsão política da União, reforçada pela atribuição de poderes efectivos de conformação de outras instituições, que antes não tinha. Assim, deixa de ser só uma instituição de impulso político.
 - Define a composição do Parlamento Europeu – art. 14º/2
 - Define as formações do Conselho e o sistema de presidências rotativas– art. 236º TFUE
 - No que toca à Comissão, define o sistema de rotação de Comissários – art. 244º TFUE, e, além disso, nomeia e põe termo ao mandato do Alto Representante (18º/1 TUE) e propõe o cargo de Presidente da Comissão (17º/7 TUE). Além disso, nomeia a Comissão Executiva do BCE (art. 283º/2 TFUE)
 - De frisar também as chamadas cláusulas de passerelle, em que o Conselho Europeu tem competência para alargar os domínios de decisão por maioria qualificada no Conselho (31º/3 TUE), bem como no processo de revisão simplificada (48º/2 e 6 TUE)
 - Art. 15º/2 – não exerce funções legislativas – art . 15º/2 e só emite actos vinculativos em certos casos
- No domínio da PESC (art. 21º ss TUE) ainda muitas competências, cabendo-lhe, nos termos dos arts. 21º ss identificar os interesses estratégicos, estabelecer os objectivos e definir as orientações gerais da política externa e de segurança comum, adoptando por unanimidade as decisões necessária.
- No quetoca à revisão dos tratados, o art. 48º/2 TUE prevê que os projectos de revisão sejam enviados ao Conselho Europeu, nos termos aí estabelecidos. Mas, no âmbito da revisão simplificada (48º/6), o Conselho Europeu pode, deliberando por unanimidade, adoptar uma decisão que altere todas ou parte das disposições da Parte III TFUE – Políticas da União. 
- No tocante à adesão de novos membros ou abandono, cabe ao Conselho, após consulta à Comissão e aprovação do Parlamento Europeu, pronunciar-se por unanimidade sobre os pedidos de adesão à União, mas tendo sempre em conta os critérios de elegibilidade aprovados pelo Conselho Europeu – art. 49º TUE. Quanto ao abandono, ver art. 50º TUE
- Quanto ao espaço de liberdade, segurança e justiça, o Conselho Europeu define as orientações estratégicas – art. 68º TFUE e 61º ss TFUE
- O seu processo de deliberação continua a ser o consenso – art. 15º/4 TUE. O consenso adequa-se melhor a uma demanda de compromissos políticos.
- Nos casos tipificados nos Tratados de votação por maioria simples – art. 235º/3 TFUE – por maior qualificada – 236º TFUE ou por unanimidade – 244º TFUE – não participam na deliberação nem o Presidente, nem o Presidente da Comissão, apenas vontando os Chefes de Estado e de Governo, em nome do princípio inter-governamental.
Presidente do Conselho Europeu
- Aparece o Presidente do Conselho Europeu, que tal como o Presidente da Comissão, que também compõe o Conselho Europeu, não tem poder de voto – 15º/2 TUE
 - O Presidente do Conselho Europeu é eleito por maioria qualificada, por mandato de 2 anos e meio, renovável uma vez – 15º/5 TUE
 - O Presidente do Conselho Europeu tem um papel de acentuado relevo político, seja no plano interno da dinamização das políticas da União, em articulação com o Presidente da Comissão (15º/6 TUE) seja na representação externa, sem prejuízo do Alto Representante. 
 - 15º/5 TUE in fine: “incompatível com qualquer mandato nacional” – e regional e europeu? É preciso maior clarificação.
- As competências do Presidente do Conselho Europeu estão delineadas no art. 15º/6
O Conselho (de Ministros ou da União Europeia)
Composição
- É também dotado de legitimidade inter-governamental
- Composto por Ministros (dependendo da configuração) dos Estados-Membros representando os mesmos. Eles actuam como representantes dos Estados-Membros, como acontece nas organizações internacionais clássicas.
 - O Tratado de Lisboa vem enfraquecer o Conselho, restringindo a sua autonomia estatutária. Antes, o Conselho, através da aprovação de regulamento interno, podia decidir sobre a respectiva organização interna e a presidência rotativa decidia quem presidia a cada configuração. 
- Agora, está nas mãos do Conselho Europeu a lista de formações do Conselho – art. 236º a) TFUE. Só há duas formações que têm existência garantida pelos tratados – o Conselho dos Assuntos Gerais e o Conselho dos Negócios Estrangeiros (16º/6 TUE e art. 236º a) TFUE)
 - Reuniões em que Conselho vote e delibere sobre actos legislativos são públicas – art. 16º/8 TUE
- Alto Representante preside o Conselho dos Negócios Estrangeiros – 18º/3 TUE; com essa excepção, a Presidência das diferentes formações do Conselho é definida pelo Conselho Europeu – art. 236º b) TFUE, adoptando um sistema de rotação igualitária – 16º/9 TUE.
 - Agora, o sistema de presidência rotativa funciona numa lógica de troika, ou seja, prevê-se que a Presidência do Conselho seja assegurada por grupos pré-determinados de 3 Estados-Membros durante um período de 18 meses. 
- Todas as outras configurações continuam a ser presididas pela (passe a redundância) presidência rotativa – 236º TFUE e 16º/9 TUE, adoptando-se agora o modelo da tri-presidência.
Funções e Procedimento de Decisão
- Art. 16º/1 TUE – função legislativa e orçamental, definindo políticas
- Tem poderes de coordenação nos domínios económico e social, como estatui o art. 1º/5 e 121º TFUE; tem poderes de decisão, mas que só raramente são autónomos, i.e., a maioria das veses só age por proposta da Comissão – 17º/2 TUE
- Tem ainda poderes de execução, mas só excepcionalmente os exerce – 290º ss TFUE
- Para Mota de Campos, acaba por ganhar relevo como centro de concertação de interesses nacionais 
- O Tratado de Lisboa inclui provisões feitas para melhorar a eficácia do funcionamento do Conselho. A principal medida é o aumento do número de matérias onde o conselho age por voto por maioria qualificada, em vez de unanimidade – 16º/3 TUE. Isto, juntamente com um novo sistema de voto por maioria qualificada mais simples, irá, em princípio facilitar a tomada de decisões.
- Agora, estende-se a maioria qualificada para novos 20 casos, nomeadamente na área da Liberdade, Segurança e Justiça.
- No entanto, existem uma série de áreas onde ainda funciona a regra da unanimidade, nomeadamente em questões de PESC – v. art. 31º paquê?
- Até Outubro de 2014, nos termos do disposto no art. 16º/5 TUE e do art. 3º/3 do Protocolo Relativo às Disposições Transitórias, cada Estado-Membro disporá, no seio do Conselho um certo número de votos num total de 345.
 - Se o Conselho deliberar sobre uma proposta da Comissão, a formação da maioria qualificada exige 255 votos favoráveis provenientes da maioria (14) dos Estados-Membros
 - Caso contrário, o Conselho só pode deliberar validamente se os 255 votos emanerem pelo menos de 2/3 dos Estados (18).
 - Porquê? Presume-se que as propostas da Comissão ou do seu Vice-Presidente (o Alto Representante) são elaboradas tendo em conta o interesse geral da União, admitindo-se que os interesses e preocupações dos Estados mais pequenos já tenham sido ouvidas
- A partir de Outubro de 2014, a maioria qualificada corresponderá a, pelo menos, 55% dos membros do Conselho num mínimo de 15, devendo estes representar Estados-Membros que reúnam, no mínimo, 65% da população da União – art. 16º/4 TUE
A Comissão Europeia
Composição
- Legitimidade integrativa (defender interesses da União)
- Os comissários são indicados pelos Estados, aprovados pelo Presidente da Comissão e pelo Parlamento Europeu
- Supostamente o art. 17º/5 TUE mudou o número de comissários (inc. o Presidente e o Alto Representante) de um por Estado-Membro para 2/3 dos Estados-Membros. Contudo, após o referendo irlandês, o Conselho Europeu decidiu abandonar essa decisão.
- Comissários não representam os Estados, mas sim o interesse colectivo da União – art. 17º/1 – com a excepção da PESC
Funções e Procedimentos de Decisão
- Supostamente, o Tratado de Lisboa dá-lhe mais poderes, com a comunitarização do ex-terceiro pilar e com o art. 293º TFUE que requer unanimidade do Conselho para emendar uma proposta da Comissão quando a Comissão não concorda com ela, o que dá mais relevância à Comissão no procedimento de tomada de decisão.
- Tem um poder de iniciativa que, para Mota de Campos, é ‘fundamental’. Só excepcionalmente é que os Tratados prevêem que o Conselho e o Parlamento tenham iniciativa – ver art. 289º/1 TFUE e 17º/2 TUE
 - Quando os tratados prevejam que o Conselho ou o Conselho e o Parlamento decidem sobre proposta da Comissão, não lhes é permitido deliberar seja o que for enquanto a Comissão não lhes tiver submetido uma porposta nesse sentido. Caso contrário, a adopção do acto será ferida de nulidade, ilegalidade ou inaplicabilidade. 
- Ela é vista como a ‘guardiã dos tratados’ (v. art. 17º/1 TUE), tendo poderes de controlo como o poder de fiscalização (337º TFUE) e o direito de acção. O direito de acção é composto por acções por incumprimento (258º TFUE), recursos de anulação (263º e 264º TFUE), recursos de anulação, quando o Conselho, o Parlamento ou o BCE, em violação dos tratados, se abstenham de agir (265º TFUE).
 - Tem ainda poderes para autorizar a adopção de medidas derrogatórias das disposições dos tratados, como autorizações de medidas de salvaguarda (44º e 347º TFUE), fiscalização da concessão de ajuda estatal a empresas nacionais (107º TFUE), derrogaçãode certas regras de concorrência – 101º/3 TFUE
 - Detém ainda poderes de sanção contra operadores do mercado interno, poderes de gestão e, através do Alto Representante, que é seu Vice-Presidente, participar na elaboração e aplicação da política externa e de segurança comum da União.
- Teoricamente também, o Tratado de Lisboa dá mais poder ao Presidente:
 - Como o Alto Representante é Vice-Presidente da Comissão, o Presidente tem de aceitar a sua nomeação – 18º/1 TUE
 - Pode pedir demissões de qualquer comissário – 17º/6 TUE
 - Presidente é eleito pelo Parlamento Europeu – art. 17º/5 – assim, mandato do Presidente da Comissão depende muito da configuração política em Estrasburgo.
- De sublinhar também que o Tratado dispõe uma regra geral segundo a qual a Comissão “com excepção da PESC e outros casos previstos nos tratados” assegura a representação externa da União – art. 17º/1.
- Contudo, pode-se afirmar que a Comissão é a instituição que mais sai prejudicada do Tratado de Lisboa em termos comparativos, pois não ganha tantos poderes quanto as outras instituições.
- Quanto ao Alto Representante, Maria Luísa Duarte acha que tem poucas hipóteses de se afirmar como verdadeiro representante externo da União Europeia, perdido no labirinto de competências e apanhado na sobreposição de poderes entre o Conselho e a Comissão.
 
O Tribunal de Justiça da União Europeia
- Divide-se em Tribunal de Justiça, Tribunal Geral e Tribunal da Função Pública – um regresso à fórmula – uma instituição, vários tribunais. Atenção que é possível que aumente o número de tribunais especializados – v. art. 19º TUE
- Com a nova redacção do art. 19º/1 TUE recupera-se um princípio basilar de unidade institucional no sistema comunitário de aplicação judicial do Direito, que se reflecte, com coerência, no regime definido para os tribunais integrantes do sistema, especialmente sob a forma de garantia de recurso para tribunal superior – art. 256º/2 e 257º TFUE.
- Para a selecção dos membros do Tribunal de Justiça e do Tribunal Geral intervém um comité nos termos do art. 255º TFUE, composto por 7 personalidades, tanto ex-membros do Tribunal ou membros de Supremos Tribunais nacionai ou juristas de reconhecida competência – sujeita-se os candidatos a um escrutínio prévio de idoneidade funcional.
- Agora a sua jurisdição cobre toda a área da liberdade, segurança e justiça, sendo que, antes, esta área encontrava-se excluída da sua competência, o que são boas notícias para a aplicação uniforme do Direito da União e protecção dos direitos individuais. 
 - A única excepção são matérias de cooperação judicial e policial, não podendo o tribunal rever validade ou proporcionalidade de operações policiais – 276º TFUE
- Apesar da PESC estar fora da jurisdição do Tribunal, ele agora pode rever a legalidade das decisões que restrinjam direitos pessoais – art. 275º TFUE
- As acções de anulação trazidas por pessoas singulares e colectivas contra regulamentos da União aumentaram, removendo a condição de que o acto em questão deveria ser preocupação do indivíduo que interpunha a acção – 263º (também inclui Conselho Europeu)
O Banco Central Europeu
- Ganha personalidade jurídica
- Com o Tratado de Lisboa, vê-se elevado a instituição, o que faz com alguma reluctância, com medo de perder a sua independência, estando agora sujeito a todas as provisões dos tratados relativas às instituições.
- Jean-Claude Piris acha que elevação a instituição não muda muito da sua situação jurídica e legal, e a friza que a sua independência está garantida – art. 130º e 282º/3 TFUE e art. 7º Protocolo nº4 – independência institucional, operacional, pessoal, financeira e de gestão interna.
- Tem competência na gestão da política monetária
O Tribunal de Contas
- ‘Patinho feio’ da União Europeia. E sim, foi a Marilú que disse isto.
- Composto por 27 membros, um por cada Estado, escolhidos por quem já tenha exercido funções semelhantes nos Tribunais Constitucionais nacionais – art. 286º/1 ss TFUE
- Estatuto de independência
- Funções de controlo financeiro – muito amplia, pois abrange a fiscalização da totalidade das receitas e despesas da União – art. 287º TFUE. Controla tanto a legalidade como a oportunidade das contas – art. 287º/2 TFUE
 - O controlo levado a cabo pelo Tribunal de Contas é externo, competindo o controlo interno à estrutura competente de cada instituição, órgão ou organismo, e é feito a posteriori, porque incide sobre as contas.
 - Apesar de não ter poderes de natureza decisória ou sancionatória pode defender as suas prerrogativas através da interposição de recursos de anulação – art. 263º TFUE e de recursos por omissão – art. 265º
- Funções Consultivas – exercidas a pedido de outras instituições sob a forma de pareceres. A consulta pode ser obrigatória – art. 322º TFUE por exemplo ou facultativa – art. 287º TFUE p ex. 
Órgãos Complementares
- Comité Económico e Social, composto por representantes das organizações de empregadores, trabalhadores e de outros sectores da sociedade civil.
 - Tem um função consultiva (304º TFUE) e poder de iniciativa relativo à emissão de pareceres (304º TFUE)
- Comité das Regiões, composto por representantes das autarquias regionais e locais que sejam quer titulares de um mandato eleitoral a nível regional ou local, quer politicamente responsáveis perante uma assembleia eleita. 
 - Função consultiva – 307º TFUE
- Fundo Social Europeu – art. 162º TFUE
- Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional 
- Ver regras relativas a eses comités – art. 300º TFUE
Organismos
- Aqueles observatórios e agênicas estranhos que só servem pa gastar dinheiro.
Conclusão de Maria Luísa Duarte
- Maria Luísa Duarte acha que o Conselho Europeu sai reforçado com o Tratado de Lisboa, pois tem um Presidente permanente e nomeia o Alto Representante
- Tratado de Lisboa tirou alguns poderes de iniciativa à Comissão que já não tem o exclusivo da iniciativa, fazendo depender muito do factor personalista a relevância de cada instituição – debilitação da Comissão é debilitação dos pequenos Estados e fortalecimento do Directório.
- Do Tratado de Lisboa sai também reforçada a legitimidade democrática e a legitimidade inter-governamental, em deterimento da legitimidade integrativa.
- Um problema gerado pelo Tratado é a multiplicação e sobreposição de Presidências – da Comissão, do Conselho Europeu, a presidência rotativa do Conselho, o Alto Representante, o Presidente do Eurogrupo, etc – ou seja, há 3 individualidades a disputar o palco europeu, e daí a relevância do factor personalista.
Princípios Gerais de Vinculação Institucional
O Princípio do Equilíbrio Institucional
- Não tem base jurídica expressa, apesar de haver uma referência tácita no art. 13º/2 TUE.
- Tem uma dimensão estática (o que os tratados definem) e uma dimensão dinâmica (competências em acção)
- Os órgãos devem exercer as suas competências de modo a respeitar as prerrogativas das outras instituições.
- À luz da jurisprudência comunitária, definida pelo Tribunal de Justiça, o princípio do equilíbrio institucional funciona como uma garantia das prerrogativas de participação de cada instituição no processo de decisao.
 - Acórdão Meroni do TJUE – Tribunal apelou ao princípio do ‘equilíbrio de poderes’ para excluir a legalidade de um acto de delegação de poderes discricionários em favor de entidades diferentes das previstas nos Tratados.
 - Possibilidade de acordos inter-institucionais – art. 295º TFUE – eles podem, dependendo da vontade das instituições, revestir carácter vinculativo ou manter a sua natureza de instrumentos de soft law, de carácter indicativo; o respeito pelo disposto nos Tratados, maxime as regras aplicáveis à repartição horizontal de competências, pelo que são contrários aos Trados os acordos que alterem o equilíbrio institucional
 - Tem de ser triangular? Sim, para evitar golpes e alianças (do género Parlamento e Comissão) 
O Princípio do Respeito pelo Acervo Comunitário- Princípio histórico. Acervo significa ‘adquirido’.
- Proíbe uma aceitação parcial aquando da adesão de um novo Estado-Membro, apesar de haver cláusulas de opting out – “aceitam, sem reserva, os tratados e as finalidades...”
- Estados aderentes têm de aceitar o que já está em vigor. No entanto, isso não prejudica a existência de uma fase de transição – os chamados tratados de adesão são essas excepções necessárias.
- O princípio foi consagrado no Tratado de Maastricht, mas já não está no Tratado de Lisboa, sendo a sua única referência o art. 20º/4 TUE. Mas é precisamente por ser tão importante é que não é normativamente previsto.
- No entanto, há que atentar ao art. 48º, que com a possibilidade de redução de atribuições da União assassina qualquer teoria de limites materiais de revisão.
O Princípio da Cooperação Leal
- Tem uma base jurídica – o art. 4º/3 e 13º/2 TUE
- Regula a relação entre a União e os Estados
- No plano da execução do Direito da União Europeia, os Estados devem tomar todas as medidas necessárias para a plena aplicação do Direito da União Europeia, não devendo por obstáculos (exemplo: não legislar contra Direito da União Europeia)
 - Consequência: Acção por incumprimento
 - Art. 47º TUE e 216º e 218º TFUE – celebrar tratados internacionais – quando há conflito de competências, há um procedimento de acordo misto. 
- O Ac. Zwartveld do TJUE definiu que “este princípio obriga não apenas os Estados-membros a tomar todas as medidas capazes de garantir a eficácia do direito comunitário, mas impõe igualmente às Instituições deveres recíprocos de cooperação leal com os Estados membros) 
O Princípio da Transparência
- A actuação institucional segundo critérios de transparência é recente. A declaração nº 17 anexa ao Tratadode Maastricht registava que “a transparência do processo decisório reforça o carácter democrático das Instituições e a confiança do público na Administração.”
 - Art. 42º CDF, com as devidas excepções.
 - Art. 5º/1 TFUE
 - V. 16º/8
Os Procedimentos de Tomada de Decisão [14: Maria Luísa Duarte, EsTL, pp 70-75][15: João Mota de Campos, MDE, pp 209-226]
Procedimentos de Decisão, Função Política e Separação de Poderes na União Europeia – Considerações Gerais
- O Parlamento, o Conselho Europeu, o Conselho e a Comissão dispõem de poderes autónomos de decisão, mas de sublinhar que, normalmente, as instituições participam conjuntamente, para a formação da vontade da União Europeia. 
- Para Maria Luísa Duarte, no que respeita aos procedimentos de decisão, o Tratado de Lisboa adopta decisões que, de forma equilibrada, traduzem o objectivo de Laeken – maior transparência, mais democracia e mais eficácia.
O Procedimento de Aprovação de Actos Legislativos
- Por força dos arts. 14º/1 e 16º/1 TUE, o Parlamento Europeu exerce a função legislativa, juntamente com o Conselho.
- O art. 289º TFUE dispõe que o processo legislativo ordinário consiste na adopção de um regulamento, de uma directiva ou de uma decisão conjuntamente pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho, sob proposta da Comissão.
- A par deste processo legislativo ordinário, vemos também, ao longo dos Tratados, casos específicos em que os referidos actos legislativos – regulamento, directiva e decisão – são adoptadas pelo Parlamento com a participação do Conselho segundo um processo legislativo especial.
- Em qualquer um dos casos, os actos resultantes são actos legislativos – 289º/2 TFUE
O Procedimento Legislativo Ordinário – A ex-co-decisão – art. 294º TFUE
- O processo legislativo ordinário é aplicável em todos os casos que os Tratados submetem a tomada de decisão à tramitação respectiva.
- Há que sublinhar que, aqui, o Conselho delibera por maioria qualificada. Às 63 bases jurídicas já subordinadas a esta regra deliberativa, juntam-se mais 39 domínios de acção comunitária – agora, a unanimidade é a excepção, limitada às matérias directamente associadas ao cerne da soberania. 
 - Ela é exigida na revisão dos tratados, definição de sedes, regime linguístico, harmonização fiscal, PESC, etc. 
- O processo, regido pelo art. 294º TFUE, começa com a apresentação de uma proposta ao Parlamento por parte da Comissão.
- Essa proposta irá dar lugar a um extenso e complexo diálogo, que iremos já analisar, diálogo que implica uma primeira leitura, eventualmente uma segunda, e até uma terceira.
Primeira Leitura
- Olhando para a proposta da Comissão, o Parlamento estabelece a sua posição que transmite ao Conselho.
 - Se o Conselho disser que sim, o acto considera-se adoptado com a formulação correspondente a essa posição – e o processo termina.
 - Se o Conselho não aprovar a posição do Parlamento Europeu, vai adoptar a sua própria posição, transmitindo-a ao Parlamento, devidamente fundamentada.
 - De frisar que a Comissão não é alheia a este diálogo, informando as duas instituições da sua posição. 
Segunda Leitura
- No prazo de 3 meses, o Parlamento Europeu pode:
 - Aprovar expressamente a posição do Conselho ou não se pronunciar, que vale como uma aprovação tácita – o acto considerar-se-á adoptado com a formulação dada pelo Conselho, e o processo termina.
 - Mas, o Parlamento pode rejeitar pura e simplesmente a posição do Conselho, o que implica que o acto proposto pela Comissão não foi adoptado e que, por isso, o processo terminou.
 - Pode também propor emendas à posição do Conselho, transmitindo o texto alterado ao Conselho e à Comissão (que emite pareceres sobre as emendas propostas pelo Parlamento).
 - Se no prazo de 3 meses o Conselho aprová-las todas, o acto em questão considera-se adoptado com a formulação decorrente das emendas do Parlamento.
 - Se no prazo de 3 meses o Conselho não aprovar todas as emendas, o Presidente do Conselho, em acordo com Presidente do Parlamento, convoca o Comité de Conciliação.
Tentativa de Conciliação e Terceira Leitura
- O Comité de Conciliação reúne os 27 membros do Conselho ou os seus representantes e outros tantos membros representando o Parlamento Europeu. 
- Tem por missão chegar a acordo sobre um projecto comum de acto com base nas posições divergentes tomadas pelas duas instituições em segunda leitura. A Comissão trabalha no Comité e toma todas as iniciativas tendentes à aproximação de posições. 
- Tem 6 semanas para tentar a conciliação:
 - Se nesse prazo não acontecer, considera-se que o acto proposto pela Comissão não foi adoptado e o processo chega ao seu termo.
 - Se se aprovar um projecto comum, as duas instituições vão aprovar em terceira leitura.
- A contar da aprovação do projecto comum, o Parlamento e o Conselho têm 6 semanas para adoptar o acto em causa. 
 - Se nesse prazo uma das instituições não o aprovar, o acto proposto não foi adoptado – o processo chega ao seu termo.
Os Procedimentos Legislativos Especiais
- 289º/2 TFUE – nos casos específicos previstos pelos Tratados, a adopção de um acto jurídico da União pelo Parlamento Europeu com a participação do Conselho, ou vice-versa, exige o recurso a um processo legislativo especial.
- Nesse processo são aplicáveis as disposições dos Tratados sobre o papel da Comissão. Assim, em todos os casos em que se determine que o Conselho adopta um acto sob proposta da Comissão, o Conselho só pode deliberar se a Comissão lho tiver realmente proposto – art. 292º TFUE. Nesses casos, o Conselho só poderá alterar essa proposta deliberando por unanimidade – 293º/1 TFUE
 - Enquanto o Conselho não tiver deliberado, a Comissão pode alterar a proposta as vezes que quiser e quando quiser – art. 293º/2
 - Em qualquer caso, o acto jurídico adoptado constitui um acto legislativo.
- Há inúmeros casos, nomeadamente: deliberação de movimento de capitais, política comum de vistos, medidas relativas ao direito da família, cooperação judiciária e penal, etc, em que o Conselho recorre ao procedimento legislativo especial, sendo aí a regra de deliberação a unanimidade, apesarde haver algumas de maioria qualificada (concorrência, pex. – 103º/1 TFUE).
- Há dois casos em que o Parlamento Europeu está autorizado a deliberar autonomamente: definição, por meio de regulamentos, do estatuto e condições gerais dos seus próprios membros – 223º/2 TFUE e definição, por regulamento, do estatuto do Provedor de Justiça Europeu – art. 228º/4 TFUE
Conclusão
- Com o Tratado de Lisboa, houve um reforço na natureza democrática do procedimento de decisão, com uma maior participação do Parlamento Europeu na qualidade de co-decisão, bem como pela possibilidade dos Parlamentos Nacionais intervirem com fundamento na eventual violação do princípio da subsidariedade.
- O Tratado também reconhece o direito a uma espécie de ‘petição popular’, assinada por um milhão de cidadãos da União, à Comissão – art. 11º/4 TUE e 24º TFUE
Os Procedimentos de Aprovação de Actos Não Legislativos
O Procedimento Relativo aos Actos Delegados e Executivos – art. 290º e 291º TFUE
- O acto delegado é um acto de desenvolvimento do regime jurídico desenvolvido no acto. Trata-se de um acto não legislativo de alcance geral que completa ou altera certos elementos essenciais do acto legislativo – a sua aprovação compete à Comissão, mediante delegação concedia pelo órgão legislativo, devendo o acto legislativo de delegação definir os objectivos, o conteúdo, o âmbito de aplicação e o período de vigência da delegação de poderes em favor da Comissão. [16: Maria Luísa Duarte, EsTL, p 77-78]
- O acto de execução é é um acto normativo, mas de execução. É um acto normativo da função administrativa. A competência regra de adopção dos actos de execução pertence aos Estados-Membros – art. 291º/1 TFUE. Numa aplicação do princípio da subsidariedade, o nº 2 do mesmo artigo limita a competência de execução da Comissão à adopção de actos “quando sejam necessárias condições uniformes de execução de actos juridicamente vinculativos da União” – a Comissão perde assim o seu tradicional estatuto de instância vocacionada para aprovar os actos de execução, pelo que o exercício comum da função administrativa eurocomunitária passa para o nível nacional – v. nº 3 do art. 291º TFUE 
 - Mostra que em primeira linha estão os Estados, que definem as normas de execução. Contudo podem ser consideradas necessárias normas comuns e é aí que entra a competência de execução da União. Os actos de execução da União são aprovados pela Comissão e em alguns casos o Conselho
- Apesar da distinção operada pelo art. 290º e 291º TFUE entre actos delegados e actos de execução, a sua distinção depende dos procedimentos de comitologia, devidamente adaptados – o art. 290º tem a vantagem de enunciar o direito de participação do Parlamento Europeu, enquando co-autor do acto legislativo, no procedimento de delegação, embora uma tal participação nos suscite reservas do ponto de vista funcional – como órgão parlamentar não deveria o Parlamento, na opinião de Maria Luísa Duarte, intreferir no exercício da função executiva, ainda que de forma difusa de ‘acto delegado’, o que levanta uma série de questões em relação ao exercício de poderes pelo Parlamento Europeu, pela Comissão e pelos Estados-Membros.
O Procedimento de Comitologia e os Actos de Execução – art. 291º/3 TFUE
- É o procedimento onde intervêm os comités técnicos (realidades institucionais em largo número, da realidade jurídica europeia, e são compostos por peritos ou técnicos, reunindo-se quando convocados, sendo cada um presidido por um representante da Comissão)
 - O Regulamento 182/2011 de 16 de Fevereiro de 2011, substitui a decisão de comitologia e simplifica os processos. Por força deste regulamento, há basicamente dois procedimentos: procedimento de exame e consultivos. 
- Os pareceres dos comités são importantes, pois, por exemplo, se um comité der um parecer negativo, num procedimento de exame, esse parecer obriga a Comissão a refazer a proposta e a atender ao sentido do parecer. 
- A comitologia foi uma questão discutida no processo de revisão, porque a Comissão queria acabar com os comités por ser uma forma indigna de tutela. O regulamento de Fevereiro, já mencionado, tipifica os procedimentos.
- Jean-Claude Piris fala de duas funções essenciais dos comités técnicos: controlo dos actos delegados e dos actos de execução.
O Procedimento de Vinculação Internacional da União Europeia
Personalidade Jurídica da União Europeia – art. 47º TUE
- Já tínhamos visto que, com o Tratado de Lisboa, e segundo o disposto no art. 47º TUE, a União Europeia tem personalidade jurídica e, em função da sua qualidade de maior bloco comercial do mundo e do papel que desempenha na cena internacional, precisa de se poder exprimir em acordos.
- Esses acordos podem ser acordos comerciais (207º TFUE), acordos de cooperação com 3ºs Estados (208º TFUE), acordos de associação (198º TFUE), acordos monetários (art. 38º TFUE) e tratados de adesão, claro (art. 49º TUE)
Conclusão de Acordos Internacionais – art. 218º TFUE
Fase da Negociação
- Iniciativa da Comissão – ela apresenta uma recomendação ao Conselho no sentido de que este a autorize a encetar as negociações necessárias – art. 207º/3 e 218º/2 TFUE
 - Ela manifesta-se outra vez quando a Comissão, concluídas as negociações, propõe ao Conselho a celebração do acordo negociado – 218º/2 TFUE
- Quando o acordo incida exclusiva ou principalmente sobre PESC, o Alto Representante apresenta recomendações ao Conselho – art. 218º/3 TFUE
- Apesar da Comissão conduzir as negociações, ela agirá na conformidade das directrizes que o Conselho lhe fornece ao autorizá-la a abrir as negociações, podendo revê-las e negociará em consulta permanente com comités especiais designados pelo Conselho – art. 218º/4
- Pode ainda acontecer o caso dos acordos mistos, em que os Estados-membros participam nas negociações – v. art. 217º
Fase da Conclusão
- Encerradas as negociações, cabe ao Conselho concluir o acordo alcançado pela Comissão. Mas, salvo no caso de acordos comerciais, antes de decidir o Conselho ferá intervir o Parlamento Europeu – 218º/6 a) e b) – para dar parecer ou aprovar o acordo negociado. 
- Cabe ao Conselho concluir o acordo negociado, aprovando-o e comunicando à outra ou outras partes interessadas essa aprovação. Ele deliberará por maioria qualificada, mas exigida a unanimidade nos acordos referidos no 218º/8 (adopção de normas internas).
- Para evitar a conclusão de acordos, o TFUE prevê no art. 218º/11 que qualquer Estado-Membro, o Parlamento Europeu, o Conselho ou a Comissão podem obter o parecer do Tribunal de Justiça sobre a compatibilidade de um projecto de acordo com os Tratados. Em caso de parecer negativo do Tribunal, o acordo não entra em vigor.
- Os tratados concluídos vinculam a União.
A Ordem Jurídica da União Europeia
As Fontes de Direito da União [17: João Mota de Campos, MDE, pp. 296-351][18: Jean-Claude Piris, The Treaty of Lisbon..., pp 92-104]
Direito Primário
Noção
- O Direito Primário (ou originário) é formado pelos tratados e instrumentos afins. E de que tratados falamos? Todos os tratados que sejam relevantes para a definição da estrutura jurídica da União Europeia, Tratados de Adesão e Protocolos – art.51º TUE. 
 - Ao contrário do direito derivado, que é unilateral, o direito primário é convencional
- Aqui, os Tratados são convenções internacionais de tipo clássico, produto exclusivo da vontade soberana dos Estados contratantes, concluídas sob as regras de DIP e respectivas normas constitucionais.
- Esses Tratados foram completados com diversas declarações, protocolos, anexos, etc, já para não falar da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que tem o mesmo valor jurídico dos tratados.
Sobre a Natureza dos Tratados Institutivos: Tratado ou Constituição?
- Uma questão que se discute na doutrina é a questão da natureza dos tratados: saber se eles são meros tratados ou são constituições? 
 - Formalmente, não há dúvidas de que os Tratados sejam só isso, tratados. A questão tempertinência do ponto de vista material, do ponto de vista do objecto de regulação – aí, terão os tratados natureza constitucional? Depende do critério que se considere relevante para que se diga que é constituição. O critério para Maria Luísa Duarte é quanto ao poder constituinte, o critério genético: só há constituição se houver poder constituinte. E a União tem poder constituinte? Não, a União não tem, porque esta é uma entidade política derivada, e o poder constituinte encontra-se nos Estados-Membros e não num ‘povo’ ou ‘assembleia constituinte’ da União. O estatuto jurídico resulta num encontro de vontade resultantes dos tratados. 
 - Por outro lado, Mota de Campos afirma a natureza constitucional dos Tratados, visto que contêm o enunciado dos objectivos fundamentais da União, a definição da sua estrutura institucional (constituindo um direito institucional ou mesmo constitucional), disposições relativas às relações entre a União e os seus Estados-Membros, bem como às relações internacionais da União, as bases essenciais do direito económico, financeiro e social da União e as disposições relativas à salvaguarda da ordem jurídica que os Tratados instituíram.
- Mota de Campos faz a distinção entre Tratado-Lei/Regra (enuncia com bastante pormenor as regras essenciais de dado assunto, como o tratado da EURATOM) e Tratado-Quadro (como o Tratado da UE ou o TFUE)
Processo de Revisão – art. 48º TUE
- Os tratados podem ser objecto de revisão: não só pelo estatuído no art. 48º mas também pelas alterações informais criadas pela prática, daí que Maria Luísa Duarte fale em mutação. 
- Essa revisão informal é feita pela jurisprudência (especialmente o Tribunal de Justiça cuja jurisprudência é vinculativa e obrigatória), que estabelece novos rumos através da interpretação, nomeadamente actualista e finalística; e através da pratica política. Este é possível em espaços de “anemia política”, que não fazem revisões, e por isso as jurisprudência mais importante encontra-se nos anos 80.
 - A jurisprudência é importante e é uma fonte material, mas o tribunal tem de conhecer os seus limites sob pena de pisar o terreno da ilegitimidade e sob perigo da desautorização. Tem havido legislação “travão” à actividade do Tribunal de Justiça
Processo Ordinário de Revisão
- O art. 48º prevê a revisão através do processo ordinário e a revisão através de processos simplificados. 
- No processo ordinário a revisão começa com uma conferência inter-governamental que reúne representantes dos Estados, sendo a essa convenção que prepara o anteprojecto, e sendo o Conselho Europeu que a aprova internamente. 
- É um processo mais solene, com mais etapas e que permite a alteração de qualquer disposição, podendo alargar as competências da União ou restringi-las. 
Processos de Revisão Simplificados
- Nos processos simplificados, a decisão de revisão pertence ao Conselho Europeu, só permitindo alterar disposições da parte terceira e não podendo alargar as competências da União. 
- Exemplo: Conselho Europeu aprovou o ano passado, um protocolo que altera a proibição constante do art. 123º (proibição de resgate), permitindo que através de um fundo permanente a União possa, num contexto de grande excepcionalidade, dar ajuda a um Estado que esteja em dificuldade, tendo sido aprovada com base no art. 146º. A decisão é sujeita a aprovação interna nos Estados. 
 - Continuando no exemplo, se a União passa a ter o poder de resgatar os estados através de um fundo, isso não passa por um aumento das suas competências? Até que ponte faz sentido esta limitação, quando no artigo sobre os novos poderes (352º) se permite ao Conselho, desde que o faça por unanimidade, assumir poderes novos, para prosseguir objectivos que estão nos tratados?
 - Maria Luísa Duarte encontra aqui uma contradição, e o sentido é de se ir “esquecendo” a disposição do art. 48º. O processo simplificado está no nº 7, que é uma cláusula passarelle, permitindo ao Conselho Europeu, por unanimidade e por decisão unilateral, modificar o processo decisório com a limitação de que basta um estado levantar a “cláusula-travão” e opor-se para que a deliberação fique sem efeito. 
Direito Derivado
Actos Típicos – 288º TFUE
- Para Maria Luísa Duarte, o Tratado de Lisboa fez “uma espécie de milagre”, alterando e ao mesmo tempo conservando os actos típico, mantendo no art. 288º a nomenclatura dos actos tradicionais comunitários.
 - Aliás, ainda afirma, com base dos arts. 289º ss TFUE que a definição de um acto como legislativo ou não não é feita em função da matéria, nem do órgão que o aprova, mas sim do procedimento de aprovação. Na opinião de Maria Luísa Duarte, este critério será claro e fácil de aplicar, mas é curto como critério de definição de acto legislativo. Sublinhe-se que este formalismo restritivo da noção de acto legislativo tem implicações práticas, por exemplo, no exercício de poderes de controlo do princípio da subsidariedade pelos Parlamentos nacionais.
Regulamentos
- Actos gerais e abstractos, obrigatórios e directamente aplicáveis – correspondem a actos de função normativa
- Impõe obrigações ou estabelece direitos a todos os que se incluam ou possam no futuro a incluir-se na categoria de destinatários que o regulamento define em abstracto e objectivamente.
- O regulamento, sem visar quem quer que seja, impõe-se a todos aqueles – UE e instituições, Estados-Membros e órgãos, pessoas públicas e privadas.
- Note-se que um regulamento não perde o seu carácter regulamentar pelo facto de num dado momento ser possível identificar as pessoas sujeitas à aplicação das normas que nele se contêm.
- O carácter geral e obrigatório do regulamento é expressão de um poder normativo perfeito que permite às Instituições da UE impor autonomamente, prescindindo da participação das instituições nacionais, a observância das disposições do acto aos Estados Membros – é essa a grande marca de distinção da directiva.
- Além disso, como o regulamento vigora directamente na ordem interna, o TJE exigiu que “a sua entrada em vigor e a sua aplicação a favor ou contra quaisquer sujeitos de direito se realizem sem intervenção de qualquer medida de recepção no Direito nacional” – Caso Variola, TJUE 10/10/1973, Proc. 34/74
- Podem ser regulamentos do Conselho (art. 290º TFUE), do Parlamento e do Conselho (289º/1), do Parlamento (223º/2 TFUE), da Comissão (290º/1 – regulamento de execução) e do BCE (132º TFUE)
- Têm de estar fundamentados – art. 296º - o que implica que a Comissão e o Conselho são poderão adoptar um regulamento após haverem procedido às consultas exigidas pelo Tratado – violação implica nulidade, declarada pelo TJUE, pois trata-se de uma formalidade essencial – 263º
- Assinatura, publicação e entrada em vigor nos termos do art. 297º TFUE
Directiva
- Actos característicos da União Europeia, tendo como destinatários os Estados e sendo um instrumento de harmonização/aproximação das relações internacionais, precisando de ser transposta para os Estados por não ser obrigatória.
- A directiva não é um acto de alcance geral, pois obriga apenas os destinatários que ela mesma enuncia, sendo esses destinatários exclusivamente os Estados.
- Para Mota de Campos, a directiva exprime uma forma de ‘federalismo vertical’, distinguindo dois níveis de regulamentação – a fixação, em termos vinculativos do resultado a atingir, que é responsabilidade da União; e a determinação e adopção de medidas destinadas a alcançar tal resultado, que incumbem aos Estados destinatários.
- Baseia-se um pouco no princípio da subsidariedade
- Quando a directiva é dirigida a todos os Estados-Membros (arts. 113º e 115º TFUE), opera-se uma modificação geral da situação jurídica no conjunto da União, acabando por produzir um irrecusável efeito normativo geral.
- O TJUE considera que quando os particulares estejam em condições de invocar uma directiva contra o Estado podem fazê-lo qualquer que seja a qualidade emque o Estado tenha agido, autoridade pública, público-patronal,

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