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175579169 Resumo Direito da Uniao Europeia

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Resumo Direito da União Europeia
Prof. Dra. MARIA LUISA DUARTE – 2011/2012
por Filipe Mimoso e Patrícia Ganhão
1.º. União Europeia e Direito da União Europeia: Terminologia e 
Enquadramento
Desde a criação das três Comunidades Europeias, na década de 
cinquenta do século XX, a expressão Direito Comunitário tornou-se a 
fórmula mais comum de designação do conjunto de regras e princípios 
aplicáveis à existência e ao funcionamento da estrutura comunitária de 
poder. 
Com a assinatura da chamada Constituição Europeia, em Outubro de 
2004, conquistou algum espaço a designação Direito Constitucional da 
União Europeia, mas a opção, com o abandono formal do Tratado 
Constitucional e o retorno ao modelo clássico do tratado internacional 
através do Tratado de Lisboa, revelar-se-ia, afinal, prematura.
A expressão singela União Europeia, completada pela fórmula narrativa de 
estática e dinâmica da ordem jurídica eurocomunitária, será, quanto 
a nós, a mais adequada para descrever a nova realidade resultante do 
Tratado de Lisboa, em particular a extinção da Comunidade Europeia e a 
afirmação plena da União Europeia.
A opção por uma ou outra designação reflecte, basicamente, um 
determinado critério metodológico e uma certa abordagem do modelo 
jurídico da integração europeia. A terminologia não é, no Direito, apenas 
uma questão de gosto ou de preferência pessoal. As expressões mais 
comuns do Direito Comunitário, Direito das Comunidades Europeias ou 
Direito da União Europeia assentam sobre o critério finalístico, porquanto se 
destaca o objectivo da integração como verdadeiro mote jurídico. Entre nos, 
esta expressão ainda associada aos aspectos jurídicos da integração 
económica e, nesta medida, não reflecte a pluralidade de fins, alguns deles 
claramente meta-económicos, que, há muito, passaram a orientar a 
actuação da União Europeia. Já a formula Direito Constitucional e Direito 
Administrativo da União privilegia o conteúdo regulador deste Direito; por 
outro lado, e será este, porventura, o traço mais distintivo e, em nossa 
opinião mais discutível, pressupõe uma determinada abordagem politico-
ideológica que vê na União Europeia uma pré-formação de Estado, 
imputando-lhe características típicas da fenomenologia estadual, como 
sejam a existência de uma constituição e a afirmação de um poder 
constituinte próprio. A designação Direito Administrativo Comunitário, 
Direito Administrativo Europeu ou Direito Administrativo da União Europeia 
não é, seguramente, adequada como sinonimo de direito institucional geral. 
Note-se, alias, que o direito administrativo na União Europeia adquiriu 
autonomia no ensino do Direito da União Europeia, referindo-se ao 
1
conhecimento “dos princípios e regras que regulam o exercício da função 
específica de execução administrativa das normas previstas nos tratados 
institutivos ou adoptados em sua aplicação”.
No novo quadro definido pelo Tratado de Lisboa, que, recorde-se, 
extinguiu a Comunidade Europeia e eliminou do texto dos Tratados toda e 
qualquer referência ao termo comunitário e derivados, podermos continuar 
a falar de Direito Comunitário. Não temos dúvidas acerca da suficiência e 
adequação da expressão Direito da União Europeia para descrever o 
conjunto de regras e princípios conformadores do estatuto jurídico da União 
Europeia. A expressão Direito Comunitário designa o direito criado e 
aplicado segundo o método comunitário que não só sobreviveu ao Tratado 
de Lisboa como nele se viu reforçado. Sem por em causa a natureza 
adquirida da expressão comunitário no processo de construção da União 
Europeia, mas com o objectivo de sublinhar a sua adaptação a esta nova 
etapa encetada com o Tratado de Lisboa, temos proposto a formula 
compósita eurocomunitário que, com inteira propriedade, descreve a 
singularidade do modelo jurídico da União, de génese comunitária e de base 
europeia.
O Direito da União Europeia não é um ramo do Direito; ele é, com todas as 
características, um ordenamento jurídico autónomo e pluridimensional. Uma 
característica identitária do Direito da União Europeia é a sua 
expansibilidade, de tal modo que, no estádio actual de evolução, deparamos 
com normas eurocomunitárias sobre os mais variados aspectos da 
regulação jurídica da vida social. A vocação de crescimento do normativo 
comunitário é, diríamos, tentacular. A normatividade de fonte comunitária 
insinuou-se em quase todos os espaços típicos de regulamentação interna.
O Direito da União Europeia designa o conjunto de regras e 
princípios que regem a existência e o funcionamento da União 
Europeia.
O Direito da União Europeia, enquanto expressão de uma ordem 
jurídica própria e autónoma, corresponde a um bloco de legalidade, plural 
nas suas fontes, abrangente em relação aos destinatários das respectivas 
normas e muito amplo no seu escopo de regulação material. No conjunto 
deste universo normativo, podemos distinguir, pelo menos, duas acepções 
de Direito da União Europeia:
• Em sentido lato – o Direito da União Europeia abrange todas as 
disposições aplicáveis à estrutura institucional da União Europeia, 
incluindo as regras e princípios definidos pelo decisor 
eurocomunitário com vista à regulação de aspectos relevantes da 
vida social, directa e indirectamente relacionados com os objectivos 
de integração;
• Em sentido restrito – o Direito da União Europeia, despido de 
qualquer outra adjectivação, sói identificar o chamado Direito 
2
Institucional, porque relativo ao funcionamento da estrutura decisória 
da União Europeia.
Nesta obra, a selecção e o tratamento das diferentes matérias seguiu a 
representação do que entendemos ser, no estádio actual de evolução da 
União Europeia, o Direito Institucional ou, com maior propriedade, o Direito 
Funcional, por oposição a Direito Material, da União Europeia, que molda e 
delimita o exercício das funções da União Europeia, como entidade decisora 
(função politica, função legislativa, função judicial, função administrativa).
Para melhor vincar o significado da distinção proposta, diremos, então, que 
a ordem jurídica da União Europeia pode ser representada como uma 
árvore, dotada de um bem definido sistema radicular, que suporta um 
tronco forte e robusto a partir do qual se desenvolvem, em crescente 
multiplicação, ramos de corpo proporcionado à respectiva função vital. 
Legendando a metáfora da árvore: os valores fundamentais e identitários da 
União Europeia (comuns a todos os Estados membros), tal como descritos 
pelos Tratados, são as raízes do sistema 1 ; o tronco congrega as regras e 
princípios aplicáveis ao funcionamento da estrutura decisional da União 
Europeia (tratados institutivos ou constitutivos); finalmente, os ramos desta 
árvore imaginária correspondem à metáfora comum dos ramos do Direito, 
porque identificam as diferentes áreas de regulação material de fonte 
comunitária (inicialmente com pendor económico; seguidamente de 
integração política e social; extendeu-se depois a quase todos os domínios 
do Direito).
1 As raízes representam o modelo de Estado de Direito:
- Submissão do poder político à lei;
- Representatividade democrática
No nosso estudo, embora centrado nas matérias que, vastas e 
complexas, se reconduzem à noção do tronco da árvore, não deixaremos de 
valorizar uma perspectiva de conjunto, com referências, por um lado ao 
núcleo inspirador e paramétrico dos valores fundamentais e, por outro lado, 
a certas regras de disciplina material cujaespecificidade nos possa ajudar 
na compreensão da singularidade genética do sistema jurídico da União 
Europeia.
A “comunitarização” dos ordenamentos jurídicos nacionais, 
condicionada, mas não travada pelo princípio da subsidiariedade, torna 
inevitável que o Direito Material da União Europeia, de incidência horizontal, 
passe a integrar os conteúdos específicos das várias disciplinas jurídicas, de 
acordo com um princípio fundamental de complementaridade funcional 
entre o ordenamento comunitário e os ordenamentos nacionais.
O chamado Direito Institucional (Constitucional na versão prospectiva 
de alguns) compreende o estatuto jurídico do poder na União Europeia, 
incluindo as matérias relativas aos meios de tutela jurídica (Contencioso da 
3
União Europeia) e à protecção dos direitos fundamentais. Esta é uma área 
do saber jurídico cuja filiação juspublicista não deve suscitar dúvidas. 
O Direito da UE coexiste com o DIP e o Direito Interno de cada Estado-
membro.
O DIP Clássico é Direito Internacional de génese europeia.
O Direito Internacional Moderno é de génese extra-europeia.
2. Os Fundamentos Históricos do Desígnio Europeu
A. Até à I Guerra Mundial
A Europa sob o domínio da Roma Imperial
A palavra Europa nasceu com a mitologia. O grego Hesíodo, no 
poema Teogonia (O Nascimentos dos Deuses), por volta de 700 A.C, terá 
sido o primeiro autor a referir expressamente o nome Europa.
Os sábios gregos caracterizaram a Europa como um espaço 
geográfico distinto, que se estendia do Atlântico aos Montes Urais. Limitada 
pelo Mediterrâneo. Um espaço assimétrico em virtude da sua (in) definição 
geográfica na relação com a Ásia e, sobretudo, um espaço formado de 
identidades múltiplas, apresentado como um mosaico de paisagens, climas, 
povos, línguas e culturas (pluralidade e versatilidade).
A geografia não imporia uma individualização continental específica 
da Europa, uma vez que as suas costas ocidentais e meridionais, que a 
separam de África e da América, seriam apenas o prolongamento do grande 
continente asiático – uma espécie de península da Ásia na expressão 
poética de Paul Valéry. Independentemente da maior ou menor relevância 
dos “acidentes geográficos” que fundamentam a distinção entre os dois 
continentes, é importante reconhecer que, na sua origem, a Europa exprime 
uma vontade de autodeterminação cultural e política.
Um certo paradoxo resulta, afinal, deste continente de geografia 
incerta, guiado por um código civilizacional tendencialmente comum, seja 
no que se refere à ascendência cultural (tradição clássica, de origem greco-
romana) seja no que se refere à mundividência religiosa (Cristianismo).
A adesão de toda a Europa, desde a Lusitânia, sobre o Atlântico, até 
aos povos acantonados a leste do Elba, desde a Grécia à Britânia, ao 
modelo romano de cultura e de civilização, permitiu que num vasto espaço 
geográfico, sensivelmente coincidente com a Europa Ocidental e Central 
dos dias de hoje, se desenvolvessem sociedades humanas que embora 
etnicamente distintas, se subordinaram a leis e instituições comuns. Surge, 
assim, uma primeira noção política de Europa: uma Europa conquistada, 
sem dúvida, mas tomada una, depois de submetida pelas legiões romanas, 
por virtude da superior civilização do conquistador e sobretudo da ordem 
jurídica com vocação unificadora de que este era portador. A unidade 
europeia sob o domínio de Roma não haveria, porém, de resistir muito 
4
tempo aos factores de desagregação interna e ao assalto das sucessivas 
vagas de bárbaros que, desencadeadas na periferia, rapidamente 
convergiram para o coração do Império. (MC)
A Europa sob a égide da Roma papal
Mas, ultrapassada a fase de profundas convulsões que acompanharam e 
se seguiram à derrocada do Império Romano, é ainda sob a égide de Roma, 
apoiada agora não na força das legiões mas, antes, no prestígio e 
autoridade que o Papado romano conseguira salvaguarda e impor, que a 
Europa vai ser organizada e a sua unidade de civilização preservada.(MC)
Numa Europa, submetida à religião cristã, a Igreja de Roma exerce uma 
influência e consegue mesmo um acatamento tão generalizado no domínio 
temporal que mau grado as vicissitudes sofridas ao longo dos séculos, 
conseguiu impor à Europa uma unidade espiritual e formas de unidade 
política que ficaram a marcar para sempre a sua história.(MC)
A história multi-secular da Europa cruza-se com uma constante: a 
procura da unidade, a recondução das partes ao todo. Este desígnio tem 
sido perseguido por efeito de duas forças, de modo alternativo ou 
conjugado: a força das armas, que engendra os Impérios (Império 
Romano; Império de Carlos Magno; Império dos Habsburgos (Sacro Império 
Romano-Germânico); Império Napoleónico; III Reich) e a força das ideias, 
alimentada pela visão politica e filosófica de uma escola de pensadores que, 
ao longo dos tempos e quase sempre em contradição com o pensamento 
dominante da época, acreditaram na energia propulsora da razão dos 
homens que, a seu tempo, desperta a razão das nações. Na génese da 
construção europeia prevaleceu a força motivadora das ideias.
E, hoje em dia, refere a Regente, também pela força da moeda.
A unidade da Europa apenas tinha ocorrido, principalmente, com a 
existência de Impérios.
O Império de Carlos Magno surge, neste especial ambiente da Europa 
Medieval, como uma magnífica representação da «Civitas Dei» na 
concepção de Santo Agostinho, assente como esteve num vasto território 
europeu submetido a uma autoridade dual — política e religiosa, mas que 
no topo da hierarquia, na pessoa do Papa, reencontrara transitoriamente 
uma certa forma de unidade.
De igual modo, o Sacro Império Romano-Germânico conforma-se ainda, 
em larga medida, com o modelo político de uma Europa unificada sob o 
signo da Igreja de Cristo. 
Neste contexto político-religioso, o movimento das Cruzadas, que 
dominou um longo período histórico em que eram ainda bem frouxos os 
conceitos de soberania nacional, apresenta-se como a expressão inequívoca 
de uma Europa una que, mobilizando as energias colectivas, surge perante 
os «infiéis» a defender ideias e objectivos comuns a povos e príncipes 
5
submetidos todos, espiritual e temporalmente, à autoridade 
voluntariamente acatada dos Papas de Roma.
 A caracterização da Europa como “entidade histórico-cultural e política” 
terá sido um dos legados do Humanismo renascentista, por oposição ao 
período medieval que valorizava o sentido geográfico de Europa.
A desvalorização do papel político da Igreja (MC)
Não obstante a vitória alcançada sobre os Imperadores alemães, 
que permitira reafirmar a soberania temporal da Igreja, esta saiu consi-
deravelmente enfraquecida das lutas que do século X ao século XIII os 
Papas se viram obrigados a sustentar.
A partir do século XIV é com os Reis de França que se reacende a longa 
batalha entre o poder de Roma e o poder de Príncipes que, arrogando-se a 
qualidade de representantes directos de Deus na Terra, pretendiam eximir-
se a qualquer ingerência do Papado no domínio temporal.
A Igreja é agora, porém, nesta segunda fase da luta, a grande vencida, 
com enorme prejuízo do seu anterior poder político e mesmo da influência 
espiritual que até então exercera.
A transferência dos Papas para Avinhão (1309), o Cisma do Ocidente 
(1378-1429) e, sobretudo, a Reforma Protestante (1517), representam os 
momentos culminantes da decadência do prestígio e da autoridade de 
Roma sobre a Europa Cristã.
O despertar das modernas soberanias europeias e a quebra da 
unidade políticae religiosa da Europa
As relações entre os diversos Estados europeus são dominadas 
por um clima de rivalidade permanente a exprimir-se 
frequentemente em luta armada.
À medida que no quadro das diversas nações europeias se 
robustece o poder central e se afirma o princípio da unidade 
nacional, acentua-se o risco de confrontos directos, que o Papado 
deixara de ter autoridade para arbitrar, entre Estados que 
emergem, cada vez mais coesos, fortes e senhores dos seus 
destinos, de complexos processos de integração nacional e de 
afirmação do poder absoluto dos respectivos soberanos.
As guerras religiosas, que representam um momento crucial do 
processo de afirmação da independência nacional em face do 
Papado e de elaboração de um novo mapa político da Europa — 
dando ocasião a prolongadas e esgotantes provas de força, marcam 
também a época histórica em que se inicia um esforço sistemático 
na busca de fórmulas de equilíbrio das potências europeias, 
6
independentes e soberanas dentro dos limites territoriais do 
Estado.
A comunidade da civilização mantém-se certamente. Mas a 
unidade religiosa e política da Europa, que o Papado preservara 
durante um milénio, essa parecia definitivamente perdida. (MC)
A Europa evoluiu da contestada unidade política da “Res Publica 
Christiana” para o período pós-medieval da pluralidade de Estados 
soberanos. Com o advento do Estado soberano, independente nas relações 
internacionais, supremo nas relações internas, ficou, definitivamente, 
prejudicado o ideal de unidade europeia baseada na tutela política do 
Império ou na autoridade temporal do Papa. Perdurou, contudo, uma 
tradição de “nostalgia de unidade” que se alimentou, numa primeira fase, 
das referências à unidade de base religiosa (“Res Publica Christiana”). 
A República Cristã foi, de facto, à época um princípio de comunidade 
internacional.
É preciso, no entanto, estabelecer comparações até aos dias de hoje:
O conceito de Sociedade Internacional é assente numa soberania Estadual.
As Organizações Internacionais assentam num método Intergovernamental 
(assente numa mera cooperação e não numa integração de soberanias; 
mera articulação).
No entanto, a Comunidade Internacional que hoje “outra vez” vigora (UE), é 
aquela em que os Estados abdicam cada vez mais de alguns poderes 
externos (modelo comunitário, de integração de soberanias: existem 
entidades supranacionais que decidem no âmbito do interesse comum; 
existe uma integração de soberanias, com uma entidade supraestadual).
O Direito da UE é cada vez mais parâmetro de validade do Direito Interno. 
Uma vez concretizada a Reforma e com ela a divisão religiosa da 
Cristandade ocidental, a “nostalgia de unidade” reinventa-se como 
imperativo ético e político através de modelos teóricos e idealistas de “paz 
perpétua”, subordinados ao supremo objectivo de neutralizar e prevenir as 
guerras fratricidas de conquista territorial entre os Estados europeus. À 
excepção dos planos, entre outros, de Pierra Dubois (De recuperatione 
Terrae Sanctae, 1304) e de Dante Alighieri (De Monarquia, 1308), os 
projectos mis importantes são concebidos para uma Europa de soberanias 
nacionais, cuja referência política e normativa seria ordem jurídica 
interestadual consagrada pela chamada Paz de Vestefália (1648).
O cumprimento, noutros continentes, de uma «missão de civiliza-
ção» em que os Estados europeus se auto-investiram, permitiu assim, por 
algum tempo, preservar a convivência pacífica dos povos da Europa.
O «Balance of Power» e o «Concerto Europeu» 
No epílogo da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), conflito de causas 
políticas e religiosas, a celebração do Tratado de Paz reconhece a igualdade 
7
entre Estados soberanos e enquadra o aparecimento de uma pluralidade de 
Estados independentes em clara ruptura com o paradigma anterior da 
autoridade partilhada, e disputada, entre o Papa e o Imperador (Sacro 
Império Romano-Germânico). Dominados por um espírito mais ou menos 
visionário, são vários os autores que conquistaram o seu lugar na galeria 
honorífica dos precursores do movimento europeu, uma espécie de 
“tetravós fundadores” da União Europeia: Antoine Marini (1461), que 
inspirou Jorge Podiebrad, rei da Boémia com o seu “Pacto Confederal”, com 
uma proposta de aliança entre os reinos cristãos para travar o avanço dos 
turcos; Duque de Sully e o “Grande Desígnio” (princípios do século XVII); 
William Penn e o seu “Ensaio para a paz presente e futura da Europa”, 
publicado em 1693; Abade Saint-Pierre que publica em 1716-1717 o 
“Projecto de tratado para fazer com que a paz seja perpétua entre os 
soberanos cristãos”, obra extensa e difícil que seria mais tarde retomada e 
divulgada por Jean-Jacques Rousseau através do seu “Extracto do 
projecto de paz perpétua do Abade de Saint-Pierre e juízo sobre a paz 
perpétua” (1768); Jeremy Bentham que idealizou um “Plano para a Paz 
Universal de Perpétua” (1789); Emmanuel Kant que, no acaso da sua vida, 
escreve “Pela Paz Perpétua” (1795), estudo breve e denso que Grangeia, de 
imediato, grande notoriedade.
O filósofo alemão sustenta um princípio de paz que não depende 
apenas da celebração de um pacto de federação entre os Estados europeus 
(a “Sociedade Europeia” de Saint-Pierre) ou de associação entre os 
pequenos Estados para contrabalançar a hegemonia dos grandes Estados 
(Jean-Jacques Rousseau). Kant propõe uma “Federação de Estados livres”, 
de acordo com o modelo de constituição republicana baseada na separação 
de poderes e na igualdade perante a lei. O filósofo de Konisberga não se 
limita a defender um modelo federal. O traço mais distintivo, e 
notavelmente contemporâneo, da sua proposta é a ênfase que coloca na 
relação necessária entre a forma democrática do poder estadual e a 
garantia de paz entre os povos. Advoga ainda a aplicação de um Direito 
Cosmopolítico, baseado no contrato de livre e permanente associação 
entre os Estados, tendo como pressuposto o respeito do “estado de direito” 
por oposição ao “estado de natureza”, e no qual podemos identificar a 
antevisão do actual Direito Comunitário.
A Paz de Vestefália (1648) faz inscrever no Direito das Gentes o 
princípio da plena soberania dos Estados que actuam nas relações 
internacionais como titulares exclusivos do poder e que o exercem de modo 
livre e unilateral. A conquista passa a ser ilícita.
A política do equilíbrio de forças (“balance of power”), orientada para 
impedir a prevalência hegemónica de um ou de vários Estados, foi, contudo, 
responsável pela insegurança permanente das relações entre Estados 
europeus ao longo dos séculos XVII e XVIII. O constante reagrupamento das 
nações, ao sabor das mais improváveis alianças, deveria impedir um Estado 
de atingir a supremacia política. A estratégia de alianças entre as Nações 
8
mais poderosas reduziu os pequenos Estados ao pagamento do elevado 
tributo da submissão a desígnios e interesses alheios.
A tentativa napoleónica de unificação do espaço europeu, 
fruto de um imperialismo apoiado na força de exércitos em 
movimento através do continente, só por um curto espaço de 
tempo interrompeu a aplicação, que desde o século XVI vinha a ser 
ensaiada, dos princípios e regras do «Balance of Power» baseado 
num sistema de alianças entre potências europeias, cujo eixo podia 
oscilar por razões conjunturais mas sem alteração profunda do 
peso das coligações em presença.(MC)
A Santa Aliança, que emerge do Congresso de Vienaem que se 
procedera à liquidação por via diplomática da aventura imperial da 
França e a política do «Concerto Europeu» que se lhe seguiu, expri-
mem o pleno triunfo das soberanias nacionais em que o continente 
se achava retalhado; soberanias que, forçadas a coexistir num 
estreito quadro geográfico, buscam fórmulas de convivência 
possível, moderam as irrupções de agressividade ocorridas aqui e 
além, arbitram autoritariamente, se necessário pela força das 
armas, os conflitos pontuais a nível interno ou internacional e 
retocam paulatinamente, atentas ao princípio das nacionalidades, o 
mapa político da Europa. (MC)
O “Concerto Europeu” assentou em conferências diplomáticas, que 
serviram como instrumento institucional de prevenção da guerra.
A Revolução Francesa (equilíbrio europeu é quebrado por ela: pela força 
e pelas ideias) e o desígnio expansionista de Napoleão Bonaparte 
provocaram uma alteração radial deste modus vivendi: por um lado, as 
forças francesas pelejaram por toda a Europa com o objectivo de substituir 
o antigo equilíbrio e, em vez dele, impor a autoridade imperial da França; e, 
por outro lado, as novas ideias sobre a igualdade e a liberdade como 
princípios fundadores da sociedade humana mostraram-se tão perigosas 
para as monarquias europeias quanto o eram os exércitos napoleónicos.
Encerrado o ciclo bélico das invasões napoleónicas, as quatro grandes 
potências vencedores (Áustria, Inglaterra, Prússia e Rússia) estabeleceram a 
Santa Aliança. O Congresso de Viena, que reuniu entre Outubro de 1814 e 
Junho de 1815, consagrou a nova estratégia de coexistência das soberanias 
nacionais.
Do lado das iniciativas individuais, o século XIX oferece múltiplos 
exemplos de projectos que revigoram a associação entre o ideário pacifista 
e a necessidade de congregar as nações e os povos europeus. Neste 
período da democracia liberal na Europa, são vários os “avós fundadores” 
da unidade europeia, dos destacamos: 1) Conde de Saint-Simon que, em 
1814, preconiza no estudo intitulado “Da Reorganização da Sociedade 
Europeia” uma Europa de estrutura federal que deveria girar em torno da 
9
França, Grã-Bretanha e a futura Alemanha reunificada. Saint-Simon foi, por 
isto, um precursor da tendência institucionalista que no século XX vigará 
sob a forma dos Tratados Institutivos das Comunidades Europeias. Como 
defendera Kant, também Saint-Simon postula o princípio democrático de 
organização da futura “sociedade europeia”; 2) Benjamin Constant rejeita 
frontalmente a política de conquista e de subjugação militar, bem como a 
concepção jacobina da nação centralizada; em alternativa, propõe no texto, 
significativamente designado como “Do espírito da Conquista e da 
Usurpação nas suas relações com a civilização europeia” (1815), um 
federalismo assente na União pacifica dos povos europeus e no respeito da 
liberdade das nações federadas; 3) Ernest Renan sugere em 1870, em 
plena guerra franco-prussiana, a formação da federação europeia como 
meio de aproximar as duas nações tradicionalmente antagónicas. Sob esta 
perspectiva o plano de Renan antecipa algumas das linhas de força que 
serão apresentadas, oitenta anos depois, através da Declaração Schuman e 
serão concretizadas com a instituição da Comunidade Europeia do Carvão e 
do Aço. A veia premonitória de Ernest Renan também se pode vislumbrar na 
forma veemente como assinala os riscos de uma nação europeia 
hegemónica, antevendo assim o sentido da História inscrito no epílogo das 
Duas Grandes Guerras, em particular a segunda, que tornou definitiva a 
impossibilidade, no plano político, militar e civilizacional, de reeditar a 
experiencia do império. Numa carta datada de 15 de Setembro de 1871, 
Renan identificava a Europa como uma “Confederação de Estados reunidos 
por uma ideia comum de civilização”. Ainda segundo este pensador, 
importa respeitar a individualidade de cada nação, construída sobre a 
língua, a raça, a história, a religião, mas também sobre algo que é ainda 
mais tangível: o consentimento actual, a vontade das diferentes pessoas em 
viver juntas um determinado projecto político. A importância reconhecida ao 
consentimento como elemento fundamental de legitimação de qualquer 
comunidade política será, porventura, o contributo mais duradouro e actual 
de Ernest Renan para o processo de integração política da Europa – 
consentimento dos cidadãos no seio dos seus Estados; 
consentimento dos Estados, de todos os Estados, em relação ao 
acto fundador da Federação.
A ampla projecção que o movimento federalista europeu conheceu ao 
longo do século XIX foi ainda devedora da realização de congressos 
internacionais que atraíram, senão a presença, pelo menos a atenção, da 
flor da intelectualidade europeia. Em meados de Oitocentos, têm lugar os 
chamados Congressos da Paz: 1848, em Bruxelas; 1849, em Paris; 1850, em 
Francoforte; 1851, em Londres.
No congresso de Paris, Vítor Hugo, que colhia na época os louros de 
um merecido prestigio como poeta e dramaturgo, abriu os trabalhos com 
um empolgado discurso europeísta: “(…) Um dia virá em que existirão 
dois grupos imensos, os Estados Unidos da América e os Estados 
Unidos da Europa (…). No século XX haverá uma nação extraordinária e 
esta nação terá por capital Paris e não se chamará França, chamar-se-á 
10
Europa (…)”. Vítor Hugo, o mais exaltado e eloquente dos profetas da união 
europeia, não resistiu, contudo, ao apelo do arreigado nacionalismo francês 
quando visionou Paris como futura capital europeia, quando confiou à 
França o papel de “nação-mãe” que moldaria a vida e o pensamento dos 
Estados Unidos da Europa. 
Mas existem diferenças entre os “Estados Unidos da Europa” e os Estados 
Unidos da América que têm que ser definidas:
- As diferentes línguas (várias vs Inglês);
- Existe um motivo “federalista” nos E.U.A. - a resistência/libertação do jugo 
britânico, vertente que nunca existiria tão assumida na Europa, de um 
inimigo externo comum;
- Prevalecem assim as diferenças.
Em 1889, inicia-se um novo ciclo de assembleias internacionais, os 
chamados Congressos Universais da Paz, legatários directos da ideia da paz 
perpétua propalado nos séculos XVII e XVIII e dos congressos de meados do 
século XIX. No discurso de abertura do Congresso Universal da Paz, que 
decorreu em Paris em 1889, o apelo é claro no sentido de garantir a paz no 
Mundo pela via da “união federal da Europa”, de modo a pôr termo à 
anarquia em que teriam caído as relações entre as nações europeias. Nesse 
mesmo ano, seria criada a União Interparlamentar (*), destinada a promover 
a cooperação entre os parlamentos nacionais como veículos privilegiados da 
ideologia pacifista. Já no século XX, no período entre as duas Grandes 
Guerras, os Congressos Universais da Paz não terão sido fonte de 
concepções originais sobre o destino da Europa, mas, o que foi muito 
relevante para a época, possibilitaram uma divulgação alargada das 
diferentes correntes europeístas e pacifistas em contraponto à ideologia 
nacionalista e crescentemente belicista que, pelo menos a partir dos finais 
da década de vinte, se tornou uma ameaça real de iminência de novo 
conflito armado.
Nos finais do século XIX, os nacionalismos europeus entraram em rota 
de colisão. A partilha dos territórios coloniais da África e da Ásia agudizou 
tradicionais antagonismos e tornou-se um factor permanente de disputa. A 
pulsão centrífuga dos interesses inconciliáveis suplantou o objectivo de 
garantir um equilíbrio entre as grandes potências europeias. A derradeira 
política de alianças acabaria por definiro alinhamento de forças no conflito 
mundial de 1914-1918: de um lado, o Acordo (Entente) entre a França, a 
Rússia e a Grã-Bretanha; do outro, a Tripla Aliança entre a Alemanha, a 
Áustria-Hungria e a Itália.
(*) A União Inter-Parlamentar (UIP), com sede em Genebra, conta, 
actualmente, como membros 155 parlamentos nacionais (entre 
estes, a Assembleia da Republica) e 9 membros associados 
(parlamentos de organizações internacionais, como a Assembleia 
Parlamentar do Conselho da Europa e o Parlamento Europeu).
11
B. No período entre as duas Guerras Mundiais
Foi, porém, no período entre as duas guerras mundiais, em 
pleno século XX, que se assistiu à criação de um clima 
particularmente favorável à divulgação do velho sonho de unidade 
política; e a tragédia europeia de 1939-1945 viria a permitir a 
reposição, em novas bases, de projectos concretos de integração 
da Europa.
Logo após a guerra de 1914-1918, LUIGI EINAUDI, que viria a ser 
Presidente da República Italiana, publicava uma primeira mensa-
gem em que expunha a necessidade de congregar os povos 
europeus que acabavam de sair de uma luta prolongada e cruel e 
de os solidarizar na construção de uma Europa unida, capaz de 
desempenhar no mundo o tradicional e eminente papel que 
historicamente fora e deveria continuar a ser o seu.(MC)
Esta ideia era já então compartilhada por muitos europeus de 
mérito. Mas os conflitos de interesses desencadeados na altura da 
assinatura do Tratado de Versalhes contribuíram largamente para 
exacerbar os nacionalistas reinantes, pouco propícios à aceitação 
imediata do generoso pensamento de EINAUDI e daqueles que o 
retomaram, como foi o caso do Conde COUDENHOVE-KALERGI, de 
HERRIOT, de Loucheur.(MC)
A Guerra de 1914-1918 elevou a uma escala até então desconhecida 
todos os horrores resultantes de longos e sangrentos conflitos militares: a 
morte, a fome, as doenças, a devastação e a desesperança na humanidade 
do Homem. A tragédia da I Grande Guerra afectou, de modo determinante, 
as mentalidades e levou, intelectuais e estadistas, a redefinir prioridades. A 
união da Europa foi mesmo subordinada ao lema “Unir-se ou morrer” 
(Gaston Riou no livro “Europe, ma Patrie”, publicado em 1928).
A Grande Guerra teve ainda o efeito de apressar o declínio da Europa 
face aos Estados Unidos da América. No rescaldo das calamidades da I 
Grande Guerra, germinava o pessimismo europeu.
Foi uma guerra devastadora e com um nível de destruição enorme. 
Culminou no Armistício (1918) e iria servir de impulsionador dos 
movimentos Pan-Europeus.
A Sociedade das Nações, criada em Genebra a 10 de Fevereiro de 
1920 (com origem no Tratado de Versalhes de 1919), nasceu e viveu 
enfraquecida pelo paradoxo de uma época de transição: impulsionada pelas 
ideias e pela vontade do Presidente Woodrow Wilson, este não logrou, 
contudo, convencer o Senado das vantagens da participação dos Estados 
Unidos da América na nova Organização. Assim, lançada num período de 
crescente afirmação internacional deste Estado do outro lado do Atlântico, a 
Sociedade das Nações, pese embora a sua vocação mundial, acabou por 
12
funcionar sob o domínio das potências europeias, em particular a Grã-
Bretanha e a França.
A acção de COUDENHOVE-KALERGI 
Como acontecera no século XIX, de novo as elites intelectuais 
assumem uma posição de vanguarda, por vezes marcada por um certo 
radicalismo político, de defesa da ideia europeia. No início da década de 
Vinte, contrariando a corrente do pessimismo europeu, numerosas 
associações e publicações periódicas promovem e divulgam as teses da 
unidade europeia. Entre estas iniciativas, sobressai distintivamente a obra e 
a pugnacidade de um Europeu: o Conde Coudenhove-Kalergi.
O Conde COUDENHOVE-KALERGI, jovem aristocrata austro-
húngaro, tornou-se o apóstolo da unificação da Europa, tarefa à 
qual iria consagrar a sua vida. KALERGI tinha várias nacionalidade e 
portanto uma visão + cosmopolita e – nacionalista.
Os esforços de KALERGI alcançaram resultados encorajadores, sobre-
tudo no tocante à formação de uma opinião pública mais aberta ao 
anseio de uma Europa unida.
Em consonância com a luta de KALERGI, O então ministro dos 
Negócios Estrangeiros da França, HERRIOT, lançou em 1925, no 
Parlamento Francês, um primeiro apelo oficial à união da Europa.
Logo em 1926, diversos economistas e homens de negócios 
exprimiram a sua adesão à ideia da criação de uma «União 
Económica e Aduaneira Europeia» cuja designação exprime um 
objectivo ainda hoje perfeitamente actual na medida em que se 
considere que uma sólida união económica constitui a base 
necessária da desejada união política.
Em 1927, o ministro francês LOUCHEUR propunha, por seu turno, a 
criação de cartéis europeus do carvão, do aço e dos cereais. Desta 
forma, no curto espaço de cinco anos haviam sido lançadas as 
ideias, propostas de actuação e medidas fundamentais de um pro-
jecto coerente de integração europeia: acção sobre a opinião 
pública, especialmente sobre a opinião parlamentar; e utilização da 
integração económica, ainda que inicialmente restringida a 
sectores bem delimitados, como instrumento da integração 
política.(MC)
Em 1923, publicou, em Viena, o seu mais conhecido livro – 
Paneuropa. A ideia de base que registou no seu diagnostica é a da crise e 
a da decadência da Europa, ideia que, como vimos, já havia sido assinalada, 
antes de 1923, por outros pensadores. A terapia que propôs para a doença 
da Europa consistia na criação de uma nova entidade, a União Paneuropa, 
que não deveria, contudo, integrar nem a Rússia nem a Grã-Bretanha. A 
justificação da sua proposta respeitava tanto o objectivo de garantir a paz 
13
nas relações entre as nações europeias como a necessidade de assegurar a 
defesa comum da Europa contra a política hegemónica da Rússia e o 
poderio económico dos Estados Unidos. 
No que se refere aos aspectos jurídico-institucionais, esta União 
Paneuropa, com sede em Viena e representações nacionais nos Estados-
membros, teria um parlamento com duas câmaras (Conselho Federal, 
formado por um delegado de cada Estado e um Assembleia, composta por 
delegados designados pelos parlamentos nacionais), um tribunal federal e 
uma chancelaria controlada pelas duas câmaras. Defendia uma cidadania 
europeia vinculada à cidadania nacional, fazendo recair sobre a União o 
dever de respeitar a identidade cultural e nacional dos seus povos.
A obra de Coudenhove-Kalergi tem suscitado reparos no que respeita 
a uma alegada ambiguidade ou insuficiência das suas propostas sobre a 
configuração jurídica da Paneuropa e o tema da soberania dos Estados. Na 
verdade, cumpre admiti-lo, não se trata de um óbice ou lacuna específica do 
seu programa paneuropeu. O problema relativo à forma jurídica da União, 
Confederação, Federação ou outra, e a natureza da limitação imposta à 
soberania dos Estados-membros permanece, até aos nosso dias, como a 
grande questão em aberto, à qual, e apesar de todos os avanços verificados 
no sentido da integração politica da Europa comunitária, ainda não foi 
possível dar uma resposta definitiva.
Historicamente a Confederação é uma forma transitória: geralmente evolui 
para uma Federação, mas pode regredir se ocorrerem conflitos internos 
entre Estados dentro da própria Confederação.
A acção de ARISTIDES BRIAND
No período entre guerras, o passo de maior transcendência política foi 
dado pela proposta francesa de criação de uma federação chamada “União 
Europeia”, pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, AristideBriand. 
Após ter sondado vários dos seus colegas europeus sem ter 
deparado com reservas sérias senão do lado da Grã-Bretanha; após 
ter conseguido a aprovação da sua iniciativa pelo Parlamento 
Francês na altura do voto sobre a sua declaração de investidura 
como Presidente do Conselho; e de ter anunciado as suas intenções 
em conferência de imprensa, BRIAND decide finalmente, em 5 de 
Setembro de 1929, submeter à Assembleia da SDN o seu projecto 
de União Europeia.
“Eu julgo que entre povos que estão geograficamente 
agrupados, como os povos da Europa, deve existir uma espécie de 
laço federal. É este o laço que eu desejaria esforçar-me por 
estabelecer…”
14
 A ideia foi aprofundada e desenvolvida num Memorando do 
Governo francês enviado aos governos europeus e, depois, a 8 de 
Setembro de 1930, formalmente apresentado à Sociedade das 
Nações.
A proposta de BRIAND era sem dúvida bastante equívoca, na 
medida em que não é fácil ver como um laço federal entre Estados 
Europeus poderia ser compatibilizado com o total respeito da 
soberania dos Estados-Membros da organização a constituir. Mas, 
não obstante esta formulação prudente, as propostas de BRIAND 
foram acolhidas, após um primeiro movimento de simpatia, se não 
mesmo de entusiasmo, com grandes reservas, manifestadas 
sobretudo por parte da Grã-Bretanha. (MC)
Ou seja, a ideia de um Estado Federal para a Europa – um 
“Estado de Estados” (um Estado composto).
O plano francês repousava, sobre a ideia algo vaga de criar uma 
“espécie de vínculo federal”. A sua concretização suporia a aprovação de 
um pacto constituinte da “União Europeia”, com uma Conferencia Europeia, 
representativa de todos os Estados, um Comité Político Permanente, como 
órgão executivo, e um Secretariado. A união deveria basear-se no respeito 
da independência e soberania nacional de cada um dos seus Estados. Esta 
garantia sobre a intangibilidade das soberanias dos Estados visaria, 
certamente, sossegar os defensores da causa nacional, a começar pela 
própria opinião pública francesa, mas era, do ponto de vista político e 
jurídico, uma contradição insanável. Qualquer fórmula de união federal 
pressupõe e implica uma limitação efectiva de parcelas fundamentais da 
soberania, o que conduz a uma transformação do Estado soberano em 
Estado semi-soberano ou não-soberano. A relação necessária que se 
estabelece entre a instituição da federação e a perda da soberania é um 
dado objectivo, largamente comprovado pelas múltiplas experiencias de 
Estados Federais que nos é dado observar através do Direito Constitucional 
Comparado. Em suma: não existe, nem poderá existir, união federal de 
Estados soberanos.
Ou seja, assentava numa defesa contraditória de um vínculo federal 
na Europa:
Federação de Estados vs Soberania Estadual.
Consequências da Federação: Criação de Estado supra-nacional.
A proposta francesa de 1930, contudo, maior realismo quando se 
refere à vertente económica da União. Esta deveria promover “a 
aproximação das economias dos Estados europeus, realizada sob a 
responsabilidade política dos governos solidários”. 
Antes de 1930, já o objectivo económico do projecto de unidade 
europeia mobilizara esforços e vontades: em 1925, surge a “União 
Aduaneira Europeia”, gizada por conhecidos peritos com o intento de tornar 
15
possível a criação de um grande mercado livre, aberto à circulação de 
pessoas, mercadorias e capitais. Em 1926, fora criada a “Associação para a 
União Económica Europeia”, presidida pelo insigne economista francês 
Charles Gide. O próprio Coudenhove-Kalergi criou um “Conselho Económico 
Paneuropeu franco-alemão”.
As propostas no sentido de lançar uma união aduaneira e fundar as 
relações comerciais entre as nações europeias sobre uma base de livre 
comércio eram potenciadas pelo duplo objectivo de, por um lado, proteger a 
economia europeia e, por outro lado, garantir a sua maior competitividade 
na relação com o crescente poderio económico dos Estados Unidos da 
América.
A crise económica dos anos 30 e o triunfo dos regimes autoritários de 
inspiração nacionalista baldaram qualquer possibilidade de concretização da 
proposta francesa, se é que uma tal possibilidade chegou a existir no plano 
estritamente político-diplomático.
Em todo o caso, a percepção que temos, hoje, dos projectos 
federativos da década de Vinte põe em evidência dos aspectos só 
aparentemente contraditórios: por um lado, traduzem um certo idealismo 
político que não teve verdadeiro eco fora dos círculos intelectuais e 
diplomáticos; por outro lado, lançam determinadas ideias, como é a da 
cidadania europeia, e desenvolvem uma perspectiva a partir da dinâmica 
económica que, mais tarde, estarão na base da criação e aprofundamento 
das Comunidades Europeias. Com razão afirmava Henri Brugmans que 
“num empreendimento como o da união europeia só os visionários são 
realistas”.
Entre 1930 e II Grande Guerra, a ideia da União politica na Europa 
soçobrou perante acontecimentos tão adversos como a crise económica e 
social e, em particular, a ascensão ao poder do partido nacional-socialista 
na Alemanha e a politica de agressão militar e conquista prosseguida pela 
Itália, Alemanha e União Soviética. 
De qualquer modo, a proposta de BRIAND não surgiu no melhor 
momento. Apanhada na lenta e entorpecedora engrenagem da SDN, só em 
Setembro de 1930 veio a ser designada uma «Comissão para o Estudo da 
União Europeia» presidida pelo próprio BRIAND que nela trabalhou 
devotadamente durante dois anos.
Mas em fins de 1932 BRIAND morre; no ano imediato, HITLER con-
quista o poder na Alemanha, consolidando assim o triunfo de um 
ideário inspirado num nacionalismo exacerbado e agressivo, oposto 
a qualquer projecto de unidade europeia assente na livre expressão 
da vontade dos diversos povos da Europa.
Mesmo aos mais optimistas a iniciativa de A. BRJAND aparecia 
como uma ideia morta; bem morta, sobretudo, quando começaram 
16
a manifestar-se no quadro europeu iniciativas alemãs que eram o 
claro prenúncio de uma nova guerra. (MC)
C. Depois da II Guerra Mundial
A situação da Europa no termo da II Guerra Mundial
A situação económica - Quando a guerra chega ao seu termo, após seis 
anos de luta devastadora e sangrenta, a Europa não é mais do que um 
vasto campo de ruínas: exausta espiritualmente, dividida por ódios 
indizíveis, profundamente endividada e economicamente destroçada, 
defronta-se com a necessidade imediata de um ingente esforço de 
recuperação da sua capacidade de produção, destinado antes de mais a 
alojar, vestir e alimentar populações carecidas de meios para satisfazer 
necessidades elementares.
Mas o aparelho europeu de produção, que durante seis anos fora em 
larga escala posto ao serviço do esforço de guerra ou destruído no decurso 
das hostilidades, não dispunha de equipamentos, nem de capital, nem de 
matérias-primas que lhe permitissem retomar a actividade normal. Ou seja, 
a Europa saiu fragilizada, devastada economicamente.
A situação política - A par disso, o desfecho da guerra determinara a 
ocupação, pelos exércitos soviéticos, não só de uma vasta parcela do 
território alemão, como igualmente dos países da Europa do Leste e da 
Europa Balcânica. Submetidos a apertado controlo, que permitiu a subida ao 
poder de governos constituídos por elementos favoráveis aos desígnios 
soviéticos, esses Estados viram-se forçados a modelar a sua vida política, 
económica e social, bem como as suas própriasrelações exteriores, na 
conformidade da vontade e da própria imagem do ocupante; e a assumir 
rapidamente, tanto no plano interno como na cena internacional, a fisio-
nomia e o comportamento de estados satélites de Moscovo.
Mas os propósitos expansionistas da União Soviética parecia não se 
limitarem ao espaço europeu que a sorte das operações militares colocara 
directamente sob o seu domínio. Durante a guerra, haviam emergido dos 
quadros da resistência ao ocupante nazi, nos países do Ocidente Europeu, 
fortes e bem organizados partidos comunistas que, após o termo do conflito, 
tentaram apossar-se do poder pela força (como sucedeu na Grécia onde só 
com auxílio exterior foi possível ao govemo legal dominar, após prolongada 
luta, a rebelião armada) ou pelo menos participar no seu exercício (como se 
verificou na França, onde o Partido Comunista cedo veio a revelar-se como o 
mais forte, disciplinado e combativo dos partidos franceses). Também na 
Itália, o predomínio eleitoral da democracia cristã não impedia que o Partido 
Comunista, numeroso e bem estruturado, representasse uma ameaça 
permanente para as instituições democráticas.
Cada um dos Estados do Ocidente Europeu sentia-se, pois, politicamente 
minado e ameaçado, no interior das suas próprias fronteiras, por uma 
«quinta coluna» soviética.
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A situação militar - Por outro lado, as tropas soviéticas achavam-se a 
poucas horas de marcha das fronteiras francesas, e a Europa Ocidental 
sabia-se militarmente indefesa: os E.UA. haviam retirado, logo após o fim da 
guerra, mantendo no Continente Europeu forças pouco mais do que 
simbólicas a afirmar o seu direito de ocupação da Alemanha; a Grã-
Bretanha, única potência europeia a dispor, no termo do conflito, de forças 
armadas eficazes, desmobilizara-as rapidamente. O resto da Europa do 
Ocidente não representava, militarmente, mais do que uma soma de 
fraquezas. Os desígnios hegemónicos da União Soviética — bem expressos 
no domínio total (militar, político e económico) a que sujeitara os países de 
Leste — faziam deste modo pesar sobre a Europa Ocidental uma ameaça 
permanente. (Esta parte sobre a situaão da europa na altura foi 
retirada do MC)
Ou seja, a 2ª GM traduziu-se, politicamente e militarmente, na 
perda de hegemonia dos países europeus.
A palavra de ordem: «Construir a Europa»
Nestas condições, os europeus mais lúcidos sentem que a 
Europa só poderá fazer face à ameaça que sobre ela impende se 
conseguir organizar-se e fortalecer-se na unidade. «Construir a 
Europa» passa, por isso, a ser a palavra de ordem.
A sujeição dos povos da Europa ao domínio alemão dera com 
efeito origem a contactos e favorecera a aproximação, no exílio, de 
dirigentes dos países subjugados, criando-se entre eles um estado 
de espirito que muito contribuiu para a aceitação, após o termo das 
hostilidades, de novos arranjos políticos e económicos. Ganhara-se 
consciência de que, isolados, os pequenos países eram 
particularmente vulneráveis à agressão; e que as dificuldades que 
iriam verificar-se no após-guerra, sobretudo no campo económico e 
social, exigiam soluções inovadoras de que todos pudessem tirar 
proveito.
Foi assim, por exemplo, que o projecto da criação do BENELUX, 
união aduaneira entre a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo, nasceu 
em Londres, durante a guerra, dos contactos entre os dirigentes 
exilados destes três países. (MC)
Assim sendo, um projecto concreto de unificação triunfa, em plena 
guerra: os governos no exílio da Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo 
assinam em Londres, a 5 de Setembro de 1944, o Tratado da União 
Aduaneira, fundamento jurídico de uma união económica que começaria a 
funcionar em 1948 e se mantém até aos nossos dias (BENELUX).
Terminada a guerra, a retórica europeísta é retomada no célebre 
discurso de Winston Churchill de 19 de Setembro de 1946, na cidade 
helvética de Zurique. Depois de evocar o drama do conflito que devastou 
toda a Europa, Churchill prescreve o que designa como “remédio supremo”: 
18
dotar a família europeia “de uma estrutura que lhe permita viver e crescer 
em paz, em segurança e em liberdade. Devemos criar uma espécie de 
Estados Unidos da Europa (…). O primeiro passo a dar é criar um 
Conselho da Europa”. Neste celebrado discurso, Churchill referiu-se ao 
seu país como “amigo e protector da nova Europa”, apartando assim a 
hipótese de participação do Reino Unido no plano de integração política 
europeia. Em Maio de 1953, a propósito da recusa britânica em apoiar a 
projectada, e depois gorada, Comunidade Europeia da Defesa, Churchill 
resumia numa frase a posição da Grã-Bretanha em relação ao desígnio 
europeu e que, em larga medida, ainda nos ajuda a compreender o percurso 
do Reino Unido, já como Estado-membro, desde 1973 até à actualidade: 
“We are with them, but we are no tone of them…”. A atávica desconfiança 
da Inglaterra relativamente aos Estados europeus do Continente, 
especialmente a França, resumida nesta frase.
Churchill defendia os “Estados Unidos da Europa”, que deviam servir como 
reconciliação entre a Alemanha e a França.
O Reino Unido tinha uma forte ligação comercial, com todas as suas 
colónias (que não queria partilhar com os restantes países europeus).
Churchill propunha essa “Federação” para os Europeus mas não para o UK.
Os anos de 1947 e 1948 registam um conjunto de acontecimentos 
que, de modo consequente e directo, vão estar na origem do processo que 
há-de culminar em 1951 na criação pelo Tratado de Paris da primeira 
Comunidade Europeia.
Em 5 de Junho de 1947, o Secretário de Estado norte-
americano, o General George Catlett Marshall, avançou com um 
plano de ajuda económica à reconstrução europeia. Este programa de 
ajuda económica foi condicionado à existência de um acordo entre os 
Estados europeus sobre as necessidades de desenvolvimento, com a 
definição de um plano adequado de aplicação e repartição dos fundos 
financeiros disponibilizados.
No mês seguinte, a proposta foi aceite por 16 Estados, reunidos em 
Paris. A administração do plano foi confiada à Organização Europeia de 
Cooperação Económica (OECE), fundada em 16 de Abril de 1948.
O Plano Marshall (ver também pág. 27) não só proporcionou a 
recuperação das económicas europeias e a reorganização das suas 
estruturas produtivas e comerciais, como, atendendo à gestão 
europeia do Plano, criou novos laços institucionais de cooperação e 
solidariedade política entre os Estados europeus.
O Plano Marshall (baseado na doutrina Truman, presidente dos 
EUA), pós 2ª GM foi assim:
- Plano de auxílio para a reconstrução europeia;
- Impedir a expansão do comunismo através do bloco soviético;
- Liberalização do mercado económico, entre os países europeus;
19
- Exigem a reconciliação entre a França e a Alemanha.
No entanto, a opinião pública francesa era avessa a “dar a mão” aos 
alemães, com medo que que este recuperassem os seu poder militar e 
industrial.
O Congresso da Haia
Entre 7 e 11 de Abril de 1948, a cidade de Haia acolheu o chamado 
Congresso da Europa que reuniu mais de 700 delegados, representantes as 
múltiplas correntes do movimento pró-europeu.
Os debates foram dominados pela oposição entre “unionistas”, 
corrente formada, na sua maioria, pode delegados britânicos, e 
“federalistas”, com forte apoio entre os delegados franceses, italianos, 
belgas, holandeses e, no que respeita a categorias sociais, entre os 
sindicalistas.
De um modo sumário, que não reflecte as várias sensibilidades 
dentro de uma e outra corrente e, bem assim, a especificidadede certas 
posições individuais:
• os “unionistas” aparentemente mais realista ou mais prudente, 
agrupava os que, hostis aos abandonos de soberania por parte dos 
Estados, parecia acreditarem, sobretudo, nas vantagens dos 
contactos intergovemamentais e insistiam em que o objectivo último 
da unificação da Europa deveria ser alcançado progressivamente, 
através de uma cooperação cada vez mais estreita entre Estados 
soberano- acreditavam ainda na suficiência da cooperação 
intergovernamental; Ou seja, instituições de cooperação 
clássicas.
• os “federalistas” sonhavam com uma integração de natureza 
federal. Mantendo-se fiel a uma concepção fortemente arreigada, os 
“federalistas” insistem no paralelismo, politico, jurídico e 
institucional, entre a unificação europeia e as mais conhecidas e bem 
sucedidas experiências federais, mormente a união aduaneira alemã 
de 1834 (Zollverein) e a Confederação Germânica de 1818-1866 que 
antecederam a unificação alemã; evocam, em particular, o exemplo 
dos Estados Unidos da América. Em 1948, o sonho antigo de um 
século sobre os Estados Unidos da Europa era, como em certa 
medida ainda o é, um exercício retórico, uma adesão emocional a um 
modelo de associação de Estados que não se coaduna com a 
realidade europeia de Estado-nação. Ou seja, a instituição de 
Estados europeus através de uma federação; integração de 
soberanias num poder central.
O Federalismo era defendido pela França.
O Unionismo era defendido pela Inglaterra (Churchill).
20
O consenso possível no Congresso da Europa permitiu a aprovação de 
uma moção final. No plano político, reclamava-se a convocação de uma 
Assembleia Europeia, eleita pelos parlamentos nacionais, que deveria 
analisar e aprovar as medidas adequadas à criação de uma União 
(confederação) ou de uma Federação. Também se preconizava a instituição 
de um Tribunal que iria assegurar o respeito de uma carta europeia de 
Direitos do Homem. No plano económico-social, ficou expressa a 
necessidade de realizar a união aduaneira, acompanhada da livre circulação 
de capitais e da unificação monetária.
A respeito da natureza não governamental do Congresso da Europa, esta 
iniciativa gerou uma dinâmica que mobilizou as vontades dos homens de 
Estado e os esforços das chancelarias europeias, constituindo, por esta 
razão, o ponto de partida para a criação de organizações europeias nos 
anos seguintes, embora de matriz distinta: em 1949, o Conselho da 
Europa concretizava as aspirações da ala “unionista”; em 1951, a 
Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) vai ao encontro da 
corrente “federalista”, que, abandonando o anterior radicalismo político, se 
convertera ao método funcionalista (que defende o Federalismo a 
prazo e defende a integração económica, em que o que interessa é 
o fim, passos pequenos para a construção de uma Europa 
federativa).
Unidos por um compartilhado apego a uma ideia-mito e ani-
mados todos do mesmo empenho em fazer avançar o processo, os 
congressistas de Haia souberam habilmente camuflar as suas 
divergências doutrinais e chegar a uma moção final que seria 
votada por unanimidade e que, uma vez apreciada pelos 
responsáveis políticos dos Estados da Europa, permitiria a estes 
avançar numa das possíveis direcções.
A par da aprovação desta moção — que não obstante a falta de 
unanimidade dos pontos de vista expressos no Congresso 
constituiu um indiscutível êxito, na medida em que se conseguira 
alcançar um hábil compromisso entre as diversas correntes de 
opinião — os congressistas decidiram a criação de um «Comité para 
a Europa Unida» sob cuja égide a maior parte dos movimentos pró-
europeus acabaria, em 1948, por se federar no seio do 
«MOVIMENTO EUROPEU».
A opinião pública europeia estava já, nesta altura, perfeitamente 
alertada e preparada para os esforços concretos, no sentido da 
edificação da Europa, que iriam desenvolver-se em duas frentes: a 
da cooperação — no pleno respeito da soberania dos Estados 
europeus; e a da integração — que acabaria por se impor — tendente 
à instituição entre os Estados participantes de um embrião de laço 
federal vocacionado para congregar um dia, no quadro dos Estados 
Unidos da Europa, um grupo de países que ao longo dos séculos se 
haviam periodicamente enfrentado nos campos de batalha. (MC)
21
A estrutura institucional e a natureza dos poderes confiados ao Conselho 
da Europa exprimem uma opção clara pela cooperação de tipo 
intergovernamental: apenas o Conselho de Ministros, composto pelos 
representantes dos Estados, dispõe de limitados poderes de decisão; a 
Assembleia Consultiva, que constitui o traço de maior originalidade do 
Conselho, ficou confinada, por imposição britânica, à condição de órgão 
consultivo, desprovida de poderes normativos ou de fiscalização política.
Com sede em Estrasburgo, escolha que visou consagrar o novo 
relacionamento franco-alemão, o Conselho da Europa é uma organização de 
cooperação política que centrou a sua actuação na promoção e defesa dos 
valores relacionados com o sistema da democracia representativa e com os 
princípios fundamentais da liberdade individual, da liberdade política e do 
primado do Direito, se é certo que o Conselho da Europa ficou aquém das 
expectativas geradas em torno da sua criação, e para cuja relativa 
frustração contribuiu de modo decisivo o êxito do método comunitário de 
integração a partir de 1952, não é menos verdade que o seu papel convoca 
duas notas de particular reconhecimento: 
1) A proclamação e garantia dos Direitos do Homem, por via da 
assinatura em 1950 da Convenção Europeia para a Protecção dos 
Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, com a instituição 
do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem; (há que referir que esta 
Convenção ocorreu em consequência da entrada em vigor da Carta das 
Nações Unidas, em 1945).
2) A sua função, recortada pela prática politica, de antecâmara de 
adesão às Comunidades Europeias, submetendo os Estados neófitos em 
experiencia democrática a um controlo (pré e pós-admissão ao Conselho da 
Europa) que constitui uma espécie de certificado de autenticidade da 
verdadeira democracia (Preâmbulo do Estatuto) e do respeito pelos Direitos 
do Homem.
Alargado a 47 Estados, o Conselho da Europa incarna o ideal político 
da Grande Europa que se afirma em torno de uma representação comum de 
valores e de herança cultural. Nesta organização europeia de natureza 
intergovernamental dominam os objectivos de cooperação politica e, nesta 
perspectiva, o Conselho da Europa, numa primeira fase, garantiu o 
necessário enquadramento politico às Comunidades Europeias de âmbito 
económico e, numa segunda fase, posterior à criação da União Europeia em 
1993, facilitou a articulação entre os dois espaços europeus, parcialmente 
sobrepostos, de conformação da vertente política das soberanias dos 
Estados europeus: a Grande Europa, formada por 47 Estados, do Atlântico 
aos Urais, e a Pequena Europa dos 27 Estados que integram a União 
Europeia.
A criação do Conselho da Europa pelo Tratado de Londres de 5 de 
Maio de 1949 consagrou a ruptura definitiva entre a corrente “unionista” e a 
corrente “federalista”. Os paladinos de uma Europa federal, como Jean 
22
Monnet, tomam consciência do distanciamento assumido pelo Reino Unido 
e pelos Estados nórdicos em relação ao projecto federal e, por outro lado, 
reconhecendo a impossibilidade de enveredar de imediato pela integração 
política, passam a defender uma estratégia que confereprioridade à 
componente económica sobre a componente política no processo de 
integração europeia. Abre-se, assim, caminho para a criação das 
Comunidades Europeias.
Notas complementares:
A história do processo de construção europeia é apenas uma etapa da longa 
história da Europa como entidade politica e cultural. Com o objectivo de 
sistematizar a evolução do projecto de unidade europeia, propomos a 
divisão em três períodos:
1) Dos primórdios até à I Grande Guerra (a pré-história da União 
Europeia);
2) Do Tratado de Versalhes até ao final da década de quarenta do 
século passado (a proto-história da União Europeia);
3) De 9 de Maio de 1950, data de divulgação da Declaração Shuman, 
até aos nossos dias (a história da União Europeia).
A expressão “Estados Unidos da Europa” – cuja paternidade se atribui aos 
escritores italianos Cattaneo e Gioberti no Congresso da Paz, realizado em 
Bruxelas no ano de 1848, mas verdadeiramente projectada para a ribalta do 
debate europeu por Vítor Hugo, um ano depois, no Congresso de Paris, 
conhece no período entre as duas Grandes Guerras uma assinalável 
aceitação junto da elite intelectual pró-europeia.
Richard Coudenhove-Kalergi nasceu no Japão, filho de um diplomata 
austro-húngaro de ascendência grega e holandesa. A sua origem 
aristocrática entronca na nobreza austríaca (os Coudenhove) e veneziana 
(os Calergi). Estudou no ambiente cosmopolita e aristocrático do império 
austro-húngaro em declínio. Austríaco por nascimento e checo em virtude 
do Tratado de Saint-Germain, acabaria por se naturalizar francês em 1939. 
A sua profissão de fé no ideal europeu não será, seguramente, alheia à 
influência cosmopolita de um percurso pessoal marcado por acontecimentos 
que o vincularam a várias comunidades nacionais, propiciando uma 
simbiose perfeita de cidadania europeia.
Em 1947, Coudenhove-Kalergi, o paladino do movimento paneuropeu, 
promoveu a criação da União Parlamentar Europeia, integrada por membros 
dos parlamentos de diferentes Estados europeus, embrião dos futuros 
órgãos parlamentares da Europa: primeiro, a Assembleia Parlamentar do 
Conselho da Europa, depois o Parlamento Europeu das Comunidades 
Europeias.
23
A importância reconhecida nos projectos europeístas dos anos Vinte à 
dimensão aduaneira e económica de um futuro modelo de Europa unida 
entronca na experiencia histórica alemã da união aduaneira (Zollverein). 
Criada em 1834 com a participação de 18 Estados alemães, aos quais se 
juntaram depois outros, a Zollverein institui um regime de livre comércio 
entre os Estados participantes, com isenção de direitos aduaneiros. A 
Zollverein tornou possível um maior desenvolvimento de circulação de 
mercadorias e pessoas e deu um impulso decisivo ao sector industrial 
emergente. O inegável sucesso da Zollverein esteve na base da integração 
económica dos Estados alemães que culminou na unificação política em 
1870, seguida da unificação monetária em 1871.
A ideologia nacional-socialista utilizou a ideia de uma “Europa 
ameaçada” para legitimar a sua política de agressão. Em Maio de 1941, 
Hitler sentenciava: “(…)esta não é uma guerra como as outras guerras, é 
uma revolução da qual sairá uma nova Europa, reorganizada e próspera”. 
Um dos mais proeminentes teóricos desta “Europa reorganizada” sob tutela 
nazi foi Carl Schmitt que publicou em 1939 e uma obra intitulada A teoria 
dos Grandes Espaços com Estado Director. Nela propunha a associação dos 
Estados europeus em torno da Alemanha que, na qualidade de Estado 
Director, faria frente ao inimigo bolchevique. Esta concepção fundamentou 
o Pacto tripartido de Berlim, de 27 de Setembro de 1940, que previa uma 
“nova ordem” na Europa sob a direcção da Alemanha e da Itália e, para o 
grande espaço asiático, do Japão.
3.º A Criação das Comunidades Europeias
A criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço
A questão alemã
Vencida em 1945, a Alemanha, destroçada, dividida, privada 
mesmo de instituições representativas do Estado — não tivera 
qualquer intervenção nos esforços de construção europeia nem fora 
admitida a participar nos diversos acordos que haviam permitido 
dar-lhe expressão jurídica.
A evolução da situação política na Europa e no mundo, que já 
obrigara os países europeus vencedores da II Guerra Mundial a 
refazer o seu sistema de alianças militares, ia porém aconselhá-los 
a ter em conta a existência da Alemanha Ocidental, subtraída ao 
domínio russo e que graças ao generoso auxílio americano iniciara 
uma fase de prodigiosa recuperação económica que em breve 
levaria o mundo surpreendido a falar do «milagre alemão».
Em Setembro de 1949, fora proclamada a República Federal 
da Alemanha. A recuperação da economia alemã, conjugada com a 
definição da sua estrutura jurídico-institucional (Lei Fundamental 
de Bona), fizeram renascer a Alemanha Ocidental na cena 
internacional, com o apoio dos Estados Unidos da América. Ao 
24
mesmo tempo, aumentavam os sinais de alarme em França sobre 
as implicações futuras desta recuperação rápida e tão bem 
apadrinhada. (MC)
Situada no coração da Europa, da qual sempre constituiu uma parcela 
essencial, a Alemanha não podia mais ser ignorada nem excluída das 
grandes correntes do movimento europeu, sob pena de se criar uma 
situação anómala e cheia de riscos para uma Europa que nunca poderia 
considerar-se verdadeiramente integrada enquanto dela estivesse ausente 
a grande nação germânica.(mc)
A FASE DA INTEGRAÇÃO
DA DECLARAÇÃO SCHUMAN AOS TRATADOS DE PARIS E DE ROMA
A adesão à proposta francesa
Uma iniciativa ousada: a Declaração SCHUMAN (MÉTODO FUNCIONALISTA)
O passo decisivo que pôs em marcha o processo de integração 
europeia, conducente à criação da CECA, a primeira das três Comunidades, 
foi a histórica Declaração Shuman.
A 9 de Maio de 1950, na Sala do Relógio do Quai d’Orsay, Robert 
Schuman, ministro francês dos Negócios Estrangeiros, anunciou um plano 
que, tendo passado para a História ligado ao seu nome, teria sido concebido 
por Jean Monnet e elaborado com a ajuda de Etienne Hirsh, Pierre Uni e, em 
particular, Paul Reuter.
Tal solução, que teria por efeito imediato permitir o controlo bilateral 
da produção de matérias-primas fundamentais para o desenvolvimento de 
qualquer futuro esforço de guerra ou prossecução de objectivos de domínio 
económico, consistia em «colocar o conjunto da produção franco-alemã do 
carvão e do aço sob o controlo de uma alta autoridade comum, numa 
organização aberta à participação de outros países da Europa».
Para além disso, as propostas contidas na declaração Schuman cor-
respondiam com grande oportunidade, clarividência e audácia, a três 
acutilantes questões com que a Europa se defrontava no início dos anos 50:
• a questão económica — resultante da necessidade urgente de 
reorganizar a siderurgia europeia e, em geral, as indústrias de base;
• a questão política — vital para a paz da Europa, como CHURCHILL 
lucidamente pusera em relevo no seu célebre discurso de Zurich, que 
consistia na necessidade imperiosa de regular em novas bases, 
adequadas a eliminar as causas de novos conflitos sangrentos, as 
relações franco-alemãs; e
• a questão mais ampla da unificação europeia, que exigia a 
superação de fórmulas tradicionais de simples cooperação, manifes-
tamente incapazes de promover a integração da Europa Ocidental.
(mc)
25
O plano Shuman repousava sobre:
• Um objectivo imediato de reconciliação franco-alemã e, para 
este efeito, propunha a gestão em comum do carvão e do aço. Com a 
gestãodestes dois produtos estratégicos subordinada aos poderes da 
Alta Autoridade, resolver-se-ia o problema premente dos níveis de 
produção da vasta região mineira do Ruhr e, aspecto de importância 
maior, submeter-se-ia a um controlo comum as condições de 
produção e de circulação de dois produtos que, tradicionalmente, 
alimentavam o esforço de guerra. Ou seja, a criação de uma 
autoridade comum, ceja competência seria a de gerir a 
comercialização de duas matérias-primas estratégicas: o 
carvão e o aço (e também de “enquadrar” a Alemanha).
• Um outro objectivo, este de realização mediata, mas muito 
mais ambicioso, ficou para sempre associado à Declaração Schuman: 
a criação da federação europeia. As condicionantes deste objectivo 
foram expostas e para lhe dar uma resposta eficaz, que falhara até 
então, foi aventado um novo método de integração: “A Europa não se 
fará de um golpe, nem numa construção de conjunto: far-se-á por 
meio de realização concretas que criem em primeiro lugar uma 
solidariedade de facto”
Em relação à proposta sobre a gestão comum do carvão e do aço, o 
Plano Schuman retoma ideias que eram conhecidas e objecto de estudo 
desde 1943. Em 1944, em entrevista concedida à revista norte-americana 
Fortune, Jean Monnet referia-se a um modelo de gestão conjunta da 
indústria pesada franco-alemã, mediante a transferência de poderes de 
soberania e a criação de um grande mercado. Ou seja, que comece pela 
integração económica.
A proposta de criação de uma federação europeia também não trazia 
consigo o rasgo da inovação. Há mais de um século, a unidade europeia era 
pensada e preconizada sob diferentes modelos organizatórios, com a 
particularidade de quase todos eles reproduzirem o paradigma federal. Na 
verdade, o genuíno toque de inspiração do Plano Schuman reside no 
método proposto, é o chamado método de integração funcionalista ou 
comunitário ou dos “pequenos passos” (alternativa ao método clássico: 
Intergovernamental e Federalista).
Contrariando as experiências anteriores de cooperação, preconiza-se a 
integração, com atribuição de poderes de soberania a um órgão de 
autoridade comum e independente (Alta Autoridade). Concedendo sobre a 
impossibilidade de avançar pelo caminho da união política, aposta-se na 
prioridade da integração dos mercados e, neste contexto, é preferida a 
abordagem sectorial e progressiva em detrimento da abordagem global e 
imediata da união económica e monetária. É o método dos pequenos 
passos: graduais nos avanços e irreversíveis nos efeitos de integração 
alcançados.
26
A Declaração Schuman é ainda a carta de apresentação de um novo e 
fluido conceito: o da supranacionalidade. Não o refere de modo expresso, 
mas estabelece as condições de existência e de funcionamento da Alta 
Autoridade como as de um órgão supranacional – as suas decisões serão 
vinculativas para a França, para a Alemanha e para os países aderentes e 
terão como objectivo uma gestão comum do interesse comum; a sua 
composição será assegurada por personalidades independentes e 
designadas numa base paritária pelos governos; o presidente será escolhido 
de comum acordo entre os governos; disposições adequadas deverão 
prever as vias de recurso das decisões da Alta Autoridade.
De uma maneira necessariamente sumária e ainda algo indefinida, a 
Declaração Shuman anuncia, todavia, os ingredientes fundamentais e 
distintivos do modelo de integração comunitária que ainda podemos 
identificar, adicionados a outros, na actual União Europeia e, 
concretamente, no estatuto da Comissão: vinculação dos Estados-membros 
pelas decisões do órgão de autoridade comum; independência deste órgão, 
mas participação dos Governos dos Estados-membros na sua nomeação; 
instituição de mecanismos de tutela jurisdicional da legalidade dos actos 
adoptados pela autoridade comum.
A reacção à Declaração Schuman de 9 de Maio de 1950 foi rápida e 
positiva. Em 13 de Junho de 1950, Konrad Adenauer, discursou no 
Parlamento de Bona e exprimiu o seu acordo à proposta de gestão comum 
do carvão e do aço vendo nela “o ponto de partida para a realização de 
uma estrutura federativa da Europa”.
Por seu lado, os Países de BENELUX (Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo) e 
a Itália decidiram aceitar o convite francês e participar na iniciativa. A 
primeira manifestação pública de vontade comum data de 3 de Julho de 
1950 e tomou a forma de um comunicado publicado em simultâneo nas seis 
capitais: “Os povos francês, alemão, italiano, belga, holandês e 
luxemburguês, decididos a realizar uma acção comum de paz, de 
solidariedade europeia e de progresso económico e social, têm como 
objectivo imediato a gestão em comum das produções do carvão e do aço e 
a instituição de uma Alta Autoridade nova, cujas decisões vincularão a 
França, a Alemanha, a Itália, a Bélgica, a Holanda, o Luxemburgo e os 
países que venham a aderir”.
A proposta do Governo francês teve imediato e favorável eco nas 
capitais europeias. O Chanceler alemão Konrad ADENAEUR acolheu-a 
com emoção, porque pressentiu claramente as fundas implicações 
futuras do projecto concebido por R. SCHUMAN, quer no tocante à 
reinserção da Alemanha no mundo ocidental quer, em particular, no 
respeitante às relações franco-alemãs.
O acolhimento do Governo italiano e dos três países do BENELUX 
foi igualmente positivo, pelo que logo em 20 de Junho se iniciaram 
entre os seis países as negociações que haveriam de conduzir, em 
27
18 de Abril de 1951, à instituição da Comunidade Europeia do 
Carvão e do Aço (CECA). E a Inglaterra? Pura e simplesmente 
recusou-se a participar. (MC)
O texto do futuro tratado foi preparado por uma conferência de peritos 
dos seis Estados, a partir de 20 de Junho de 1950. O tratado institutivo da 
primeira Comunidade – a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), 
foi solenemente assinado em Paris no dia 18 de Abril de 1951 pelos 
representantes dos Seis. O Tratado de Paris entrou em vigor em 10 de 
Agosto de 1952, depois da última ratificação, notificada pela Itália só 
Governo francês. Destinado a vigorar pelo período de 50 anos, caducaria na 
data acordada de 23 de Julho de 2002. Um período transitório marcou o 
arranque das novas instituições, começando a funcionar primeiro para o 
mercado do carvão e do ferro (10 de Fevereiro de 1953) e, depois, para o 
mercado siderúrgico (1 de Maio de 1953). Jean Monnet foi o primeiro 
Presidente da Alta Autoridade.
O Tratado de Paris de 18 de Abril de 1951 (MC)
O projecto de construção europeia foi, essencialmente, económico.
O Tratado que instituiu a COMUNIDADE EUROPEIA DO CARVÃO E 
DO AÇO (CECA) foi assinado em Paris em 18 de Abril de 1951. Ratificado 
pelos Estados participantes (França, República Federal da Alemanha, Itália, 
Bélgica, Holanda e Luxemburgo), entrou em vigor em 25 de Julho de 1952 
(*).
O Tratado de Paris, fruto de amplas discussões e minuciosos estudos 
realizados no âmbito de uma conferência de especialistas presidida por 
Jean Monnet, consagra não só as soluções como o próprio espírito da 
declaração Schuman:
• Os aspectos característicos de uma organização «parafederal» estão 
com efeito claramente marcados no Tratado: transferência de 
determinadas competências estatais para uma Alta Autoridade 
comunitária dotada de amplos poderes para agir tanto sobre os 
Estados-Membros como sobre as empresas nacionais dos sectores do 
carvão e do aço; produção legislativa autónoma e consequente sobre-
posição de ordens jurídicas; possibilidades abertas

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