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História Mundial Aula 02 - Estratégia - ABIN 2018

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Aula 02
História Mundial p/ ABIN (Oficial de Inteligência - Área 1) Pós-Edital
Professores: Diogo D´angelo, Pedro Soares
História Mundial
Agência Brasileira de Inteligência
WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ
2
Apresentação 
Saudações caro aluno! 
É com muita satisfação que apresentamos mais uma de nossas aulas a você! 
Continuando nosso cronograma, apresentaremos agora nosso texto sobre as 
revoluções industriais e as ideias econômicas e políticas do século XIX: o 
liberalismo e o socialismo, pontos 1.1 e 1.2 do edital. 
A aula será organizada da seguinte forma: apresentaremos os principais 
desenvolvimentos das revoluções industriais e do capitalismo do século XIX, em 
seguida, abordarmos o liberalismo dos pontos de vista político e econômico para, 
então, avançarmos para as ideias de esquerda ± marxismo e anarquismo. 
Depois passaremos para a resolução de questões. 
Todo vapor à frente! 
 
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Agência Brasileira de Inteligência
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3
 
Revoluções Industriais
A Primeira revolução Industrial e o protagonismo inglês: ferro, carvão e lã
 
Entre a segunda metade do século XVIII (a partir de aproximadamente 1760) 
e a primeira metade do século XIX a produção manufatureira tradicional de 
tecidos (como o próprio nome diz, à base do trabalho 100% artesanal) foi 
radicalmente eclipsada, em um par de poucos anos, por algo fundamentalmente 
mais inovador, o aparecimento de máquinas de tear mecânicas, permitindo que 
poucos tecelões fossem capazes de produzir linhos de alta qualidade no lugar 
de dezenas. 
Particularmente importante para o estopim dessas mudanças foram os 
industriais britânicos. Não por uma capacidade inventiva peculiar em relação a 
outros povos, visto que alguns destes, como os próprios franceses, segundo Eric 
Hobsbawm, possuíam tecnologias mais avançadas do que suas 
contemporâneas inglesas1. Nem ainda por uma cultura letrada avançada, posto 
que, igualmente, alguns de seus vizinhos continentais possuíam escolas e 
universidades de melhor qualidade do que aquelas encontradas em solo 
britânico. Por quê, portanto, o protagonismo inglês? 
A resposta para este questionamento reside na história política da Inglaterra. 
Menos de um século antes do tear mecânico ou da primeira máquina à vapor 
ganharem vida em galpões improvisados das pequenas e pacatas cidades 
inglesas, a ilha britânica fora sacudida por ventos revolucionários. Entre 1640 e 
1688 desenrolou-se na Inglaterra um agitado contexto de guerras entre 
diferentes grupos políticos, sob pretextos e com objetivos claramente diversos, 
que desencadearam o despertar de uma nova e igualmente revolucionária forma 
GH�JRYHUQR�HP�VXD�~OWLPD�IDVH��FRQKHFLGD�FRPR�³5HYROXomR�*ORULRVD´� �����-
89): a monarquia parlamentar. Baseados na premissa de que o monarca não 
poderia, sozinho, continuar a guiar o interesse público mediante a sua exclusiva 
1 HOBSBAWM, Eric. J. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009, pág, 38.
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4
vontade, pouco-a-pouco, ao longo do século XVII, o Parlamento inglês assumiu 
a liderança governamental, centrando-a sobre seus membros. Guilherme III, que 
ascendeu ao trono depois da Revolução Gloriosa, enterrou de vez o gérmen do 
absolutismo monárquico britânico ao assinar a Declaração de Direitos (Bill of 
Rights). 
Muitos dos envolvidos diretos no estopim da Revolução Inglesa e QD�³YLWyULD´�
do Parlamento estavam diretamente ligados aos setores historicamente 
GHQRPLQDGRV� GH� ³EXUJXHVLDV´2, em suma, banqueiros, capitães mercantes, 
donos de fábricas, produtores rurais (gentry) etc. Muitos de seus membros 
estiveram ligados aos puritanos, grupo religioso de base calvinista, 
predominante à época na Escócia, que primeiro se revoltou contra Carlos I no 
início do período revolucionário. Este é um ponto importante de se salientar, visto 
que serão essas mesmas burguesias as responsáveis pela condução, ao lado 
de uma nobreza em franca transformação, das novas políticas econômicas 
inglesas (e as principais interessadas na modernização da produção de itens em 
seu país). 
O século XVIII será, conforme Hobsbawm, o século do fortalecimento de uma 
original consciência burguesa sobre a sociedade inglesa, transformando honra 
e terras, as maiores valorações de outrora, em valores menores perante a 
ascensão do capital (dinheiro) e do lucro. Gerar lucro, portanto, tornou-se a nova 
meta dos ricos britânicos (ainda que a nobreza tradicional, ao menos em sua 
cultura e consciência, tenha permanecido avessa à cultura da excessiva 
valorização do lucro). Para se aumentar os lucros era necessário que, 
primeiramente, se expandisse a produção. 
A expansão da produção de seu por meio de um processo violento conhecido 
FRPR�RV�µ&HUFDPHQWRV¶�TXH�RFRUUHUDP�GR�VpFXOR�;9,,�DR�;9,,,��(VVH�SURFHVVR�
resultou no empobrecimento do campesinato que, buscando melhores 
condições de vida, saiu do campo e se dirigiu aos centros urbanos. Nesses 
2
 $�WHUPLQRORJLD�³EXUJXHVLD´�HP�UHIHUrQFLD�DRV�VHWRUHV�GLUHWDPHQWH�OLJDGRV�j�SURGXomR�LQGXVWULDO�
e concatenados com a liderança do sistema capitalista será aqui utilizado em concordância com 
parcela significante da historiografia tradicional de linha marxista, referencial para o certame. 
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locais, formaram uma massa de trabalhadores disponíveis para as manufaturas 
que estavam em plena fase de crescimento 
O apogeu da indústria têxtil se daria durante a primeira metade do século 
XIX, graças à inserção da economia britânica ao redor do mundo mediante os 
conhecidos Tratado desiguais (dos quais tratamos no PDF de Neocolonialismo 
e Imperialismo) e por seu flagrante protagonismo diplomático sobre os interesses 
europeus após a queda de Napoleão Bonaparte e a definição do Concerto de 
Viena. Os ingleses, fosse por temperamento particular, fosse por necessidade 
pragmática, levavam em seus navios não somente caixas de tecidos e roupas 
manufaturadas, mas também os seus costumes, ideias e cultura. E seu capital! 
A partir de 1830, o movimento industrial iniciado pelos ingleses (e do qual 
permaneceria como líder até a Primeira Guerra Mundial) se expandiu para a 
Europa Continental e, atravessando o Atlântico, aportou nos Estados Unidos da 
América, território historicamente orgulhoso de sua cultura de liberdade 
econômica e protagonismo comercial, e ali prosperou. Na Europa, os principais 
focos de industrialização estiveram, assim como na Inglaterra, umbilicalmente 
ligados às zonas de extração de carvão (principal fonte de energia deste século) 
e de ferro (matéria-prima essencial para a produção de maquinário pesado) 
conhecidas. Dentre elas se destacaram o norte da França e o sul da Bélgica, na 
região do rio Sambre, que marca a divisa destes dois países, e o vale do Ruhr, 
na então Confederação Germânica. Igualmente se desenvolveram, em 
decorrência da produção industrial daquelas regiões acima mencionadas, as 
grandes zonas portuárias europeias, como os portos de Hamburgo e Bremen 
(Alemanha), Roterdã (atual Holanda) e Le Havre e Marselha (respectivamente 
localizados na Normandia e na Provença). 
 
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chão movido por um motor a vapor, cuja energia é gerada a partir da queima de 
carvão. Tal simplicidade material foi o responsável pela abertura de portas para 
uma nova realidade industrial, ainda mais dinâmicae revolucionária do que a 
fase anterior. 
O caro estudante poderá se questionar sobre a validade desta afirmação, 
indagando-se de que modo uma locomotiva a vapor é de tal forma revolucionária. 
Explicamos: não entrando nas minúcias da engenhosidade envolvida em torno 
da criação do motor a vapor (o que por si só revolucionou a produção industrial), 
reflitamos que, para o funcionamento objetivo da locomotiva, far-se-ia necessário 
três fatores básicos, o trilho (pelo qual se move); a estação (o posto voltado à 
coleta de mercadorias e pessoas, bem como para o reabastecimento de carvão 
e para pequenos reparos) e, obviamente, a locomotiva (isto é, os vagões per se). 
A fabricação destes itens demandava a produção de vários itens, o que 
incentivou ainda mais a produção industrial. A pré-fabricação demandaria, é 
claro, fábricas bem equipadas e mão-de-obra qualificada. Ademais, para garantir 
os custos da produção e os salários dos funcionários eram necessários capitais, 
que por sua vez ascenderiam de centros bancários (como a City de Londres). 
Percebeu a quantidade de atividades envolvidas em torno da construção de uma 
simples estrada de ferro, cujo simples objetivo é o transporte de uma enorme 
locomotiva de um ponto A a um ponto B? Podemos resumir esse pensamento 
em um simples axioma: ³3DUD�RQGH�IRVVH�R�WUHP��SDUD�Oi�VHJXLULD�R�FDSLWDO´. 
A expansão das linhas férreas por toda a Europa continental manteve 
ocupado, na clássica colocação da historiografia marxista, os bancos e os 
capitais industriais europeus, pelo menos entre 1830 e 1850. Neste contexto de 
rápido desenvolvimento industrial, a sociedade europeia, já há muito em 
transformação, encontrou o seu clímax. No curso de menos de um século, 
famílias inteiras de camponeses haviam buscado refúgio e sustento junto às 
fábricas surgidas nas cidades europeias. Pode-se entrever, diante de tal cenário, 
o inchaço urbano e a inadequação dos locais de habitação, em sua maioria sujos 
cortiços (geralmente grandes e velhos casarões abarrotados de famílias pobres) 
ou ainda (se houvesse sorte) em vilarejos insalubres nos entornos das fábricas. 
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O rápido avanço de capitais e o fortalecimento dos centros bancário europeus 
passaram a coordenar o ritmo dos aglomerados industriais do continente. Logo 
este pacto traria à luz um tipo diferente e quase autônomo de capitalismo: o 
financeiro. O esgotamento do mercado europeu, repleto de competição 
industrial, fez com que o capital financeiro europeu (em especial britânico, 
francês, holandês e alemão) buscasse novos rumos. A América se tornou o 
primeiro alvo (à exceção dos EUA, que andava muito bem por si só, sem 
necessitar de capitais estrangeiros), especialmente a partir da década de 1880, 
levando muitas de suas nações, a exemplo de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, 
Peru e Colômbia, dentre outros, a se inserirem plenamente à lógica do 
capitalismo internacional, basicamente como exportadores de matérias-primas 
(carne, café, alimentos, etc) e importadores de itens industriais europeus. Mais 
tarde esta situação fomentaria o argumento dos nacional-desenvolvimentistas 
(com base nos estudos da Cepal no âmbito da 218�� GH� TXH� HVVD� ³OyJLFD�
SHUYHUVD´� VXSRVWDPHQWH� LPSRVWD� SHORV� HXURSHXV� WHULD� DWUDVDGR� D�
industrialização dos países latino-americanos e, por consequência, retardado o 
desenvolvimento econômico da região (ignorando que este enriquecimento 
afetou positivamente, ainda que com óbvias nuances, todos os setores sociais 
envolvidos na produção das matérias-primas). 
O rápido desenvolvimento do capitalismo e os consequentes impactos por 
ele gerado sobre a espectro social foram objeto de estudo de diversos autores, 
tanto os defensores de suas benesses, quanto os ferozes críticos de seus 
impactos negativos. O desenvolvimento destas análises se deu de forma 
especial na segunda metade do XIX, a Belle Époque, graças ao avanço das 
ciências humanas, especialmente em torno da História, Sociologia e Economia. 
Vejamos algumas destas linhas de pensamento e reflexão do Capitalismo na 
SUy[LPD�SDUWH��GDV�TXDLV�VH�GHVWDFDP�R�OLEHUDOLVPR��RV�VRFLDOLVPRV�³XWySLFRV´��R�
anarquismo e o marxismo. 
O liberalismo: a polissemia de um conceito
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A primeira questão sobre a qual devemos nos atentar sobre o conceito de 
³OLEHUDOLVPR´� p� TXH� HOH� p� SROLVVrPLFR�� LVWR� p�� SRVVXL� PXLWR� VLJQLILFDGRV� H�
ramificações diferentes. Num primeiro nível, é necessário distinguir duas 
ramificações: pode-se falar de ³OLEHUDOLVPR�SROtWLFR´�H�GH�³OLEHUDOLVPR�HFRQ{PLFR´��
ou seja, conjuntos de ideias políticas e conjuntos de ideias econômicas, que, 
embora ligadas por alguns aspectos em comum, têm diferenças entre elas e 
dentro delas. 
Vamos iniciar nosso aprofundamento a partir do liberalismo econômico e 
suas ramificações e posteriormente para o político. Fique atento, no entanto, 
para o fato de que, por vezes, os processos dos liberalismos são, por vezes, 
sincrônicos. 
 
O liberalismo econômico e a Fisiocracia
No século XVIII, análises sobre as economias dos países europeus se 
tornaram cada vez mais complexas e sistemáticas que resultaram em teorias de 
muita importância para o século seguinte. Estas análises surgiram como 
respostas aos vários problemas dos diferentes Estados, resultando, portanto, em 
diversas interpretações. Programas de política econômica não eram novos, isto 
é, já havia existido outras pessoas que haviam pensado e tentado sistematizar 
os problemas que seus países enfrentavam, conforme suas situações 
específicas. A diferença agora era o número, o alcance e a conexão entre as 
áreas econômicas, resultando numa linha de pensamento organizada, em 
oposição à intuição empírica que caracterizava as políticas econômicas até 
aquele período histórico. 
Por mais incrível que nos possa soar atualmente, estas ideias econômicas se 
derivaram dos campos de especulação filosófica, qual seja, a da teologia. Era 
parte do pensamento teológico a noção de que havia no mundo uma ordem 
natural que se autorregulava ± a Providência divina. Esta ação da Providência 
era sempre vista como benigna ± já que advinda dos céus ± e que levaria ao 
bem dos homens (lembremos da passagem da carta de S. Paulo aos Romanos, 
FDStWXOR� ��� YHUVtFXOR� ���� ³7XGR� FRRSHUD� SDUD� R� EHP� GDTXHOHV� TXH� DPDP� D�
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'HXV´). Da teologia, essa concepção de mundo migrou para a política ± ajudando 
a moldar a ideia de que a composição da sociedade é inspirada numa ordem 
natural, que por sua vez é inspirada na ordem divina, inalcançável ± e, por fim, 
para o mundo econômico ± que até o século XVIII era quase inseparável do 
universo político. 
A noção de uma ordem natural que correlacionava todo o mundo era um 
poderoso estímulo para a investigação dos fenômenos físicos, sociais, políticos 
e econômicos, na medida em que realizar estas pesquisas seria conhecer mais 
e melhor a Providência divina e seus planos. Esta noção, somada às análises 
dos problemas particulares de cada país levou a trabalhos de generalização das 
atividades humanas, particularmente da economia. 
Esse movimento intelectual ocorreu a muitas pessoas ao mesmo tempo no 
mesmo momento histórico. Uma linha mestra que guiava a todos neste aspecto 
era o de que os vários fenômenos econômicos eram relacionadas e que as 
decisões tomadas pelos indivíduos tendiam a estabelecer padrões. A ênfase, no 
entanto, nesta autorregulaçãoe como ela ocorria variou conforme os 
pensadores. 
Os pensadores mais sistemáticos e os únicos a formarem uma escola de 
pensamento foram os fisiocratas franceses. A Fisiocracia foi uma linha de 
pensamento que propunha que a agricultura seria a única área da economia que 
realmente criava riquezas. Partindo das considerações que fizemos acima, 
acreditavam que, caso as produções fossem deixadas por conta própria, elas 
tenderiam a crescer sempre ± laissez faire, laissez passer, le monde va de lui-
même,3 frase síntese do movimento. Os fisiocratas chegaram em suas 
formulações teóricas a partir da análise de dois problemas práticos da França: a 
agricultura estagnada e o problema fiscal da Coroa, que estavam 
correlacionados. Na França a agricultura era a única atividade financeira capaz 
de produzir uma receita líquida, isto é, uma receita que superava os custos de 
produção. Daí provinha a defesa apaixonada, pelos fisiocratas, de uma 
agricultura de larga escala livre em vez de pequenas propriedades produtoras. 
Por esta razão igualmente, eles queriam o fim das restrições de movimentação 
3 ³'HL[DL�ID]HU��GHL[DU�SDVVDU��R�PXQGR�FDPLQKD�SRU�VL�PHVPR�´ 
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de pessoal e de trabalhadores dentro do país ± que ainda era restrita pela 
servidão em algumas partes do país. Livre movimentação permitiria mais braços 
para trabalhar onde fosse necessário. Vale lembrar que estamos falando de um 
momento histórico em que não havia máquinas nos campo para plantar ou colher 
a produção. Logo, grandes produções implicavam muitas pessoas trabalhando. 
Esses pensadores também se mostravam favoráveis ao fim dos privilégios 
fiscais dos nobres e do clero tanto quanto os monopólios das guildas. Os 
privilégios fiscais porque estes faziam com que as receitas do Estado fossem 
inadequadas para manter suas atividades, forçando-o a manter esses mesmo 
privilégios e monópolios para se refinanciar ± num círculo econômico negativo. 
Os monopólios das guildas, por sua vez, impediam a livre movimentação e a 
competição que permitiria menores preços e produtos de maior qualidade. 
Adam Smith, por sua vez, analisava outras questões quando escreveu suas 
obras, afinal, estava imerso no contexto econômico escocês e inglês e, portanto, 
enfrentando várias outras problemáticas. Smith, como filósofo moral, estava 
preocupado ± espante-se ± com a questão das virtudes e a construção de uma 
sociedade moral. Todas as suas obras tinham isso por objetivo quando as 
escreveu. Sua primeira, e que foi um sucesso logo depois de lançada, foi a 
³7HRULD�GRV�6HQWLPHQWRV�0RUDLV´��1HOD��HOH�FRmpreendia uma série de processos 
intrapessoais e interpessoais que exortavam os leitores a uma atitude mais 
virtuosa, que levasse a uma autorreflexão de seu próprio comportamento em 
relação a si mesmo e aos demais. 
O objetivo de Smith não era diferente quando ele escreveu seu livro mais 
FRQKHFLGR�KRMH��³$�5LTXH]D�GDV�1Do}HV´��1HVWH�VHX�WUDWDGR�VREUH�D�SURGXomR�
de riquezas, ele faz uma série de afirmações que se tornariam cânon décadas 
depois para os defensores de um Estado pequeno e pouco interventor na 
economia e na sociedade. Para Smith, o Estado deveria ater-se às atividades da 
economia que não despertavam a vontade dos indivíduos de investir e sobre 
aquelas vitais para a sociedade, a justiça e a segurança em particular. Todo o 
resto, e o comércio em particular, deveria ser liberalizado para ação dos 
indivíduos. Isto é, os monopólios existentes deveriam ser quebrados e abertos à 
competição. 
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pegar dinheiro emprestado. Logo, um comerciante desse período ± que 
HQIUHQWDYD� D� FRPSHWLomR� SRU� FUpGLWR� ³QD� SUDoD´� ± deveria se mostrar alguém 
virtuoso e confiável para conseguir entrar na competição. Uma questão 
específica que resultou numa análise complexa, não?4 
Estes pensamentos foram desdobrados em outras regiões, conforme as 
problemáticas específicas, como foi o caso espanhol e italiano. Uma região que 
permaneceu mais ligado ao pensamento mercantilista foi a Alemanha, cujos 
principados mantiveram as políticas protecionistas e de incentivo às produções 
manufatureiras por mais tempo ± um conjunto de ideias econômicas conhecido 
como Cameralismo. 
Em suma, caro aOXQR��DV�LGHLDV�³OLEHUDLV´�GD economia surgiram num contexto 
de questionamento das bases do Antigo Regime. Analisando as situações de 
cada um de seus países, os diversos intelectuais do período alcançaram 
respostas próximas que, em geral, abalavam a base econômica do Antigo 
Regime ± o protecionismo mercantilista com seus monopólios. Suas respostas 
para os problemas eram: acabar com os monopólios de produção e de 
comercialização de bens; retirar o Estado das áreas não-essenciais da 
economia; incentivar a competição; diminuir os impostos de importação; acabar 
com os privilégios fiscais das castas sociais; racionalizar o fisco estatal. 
Estas ideias não seriam imediatamente aceitas e postas em prática pelos 
governantes. Progressivamente, algumas dessas concepções seriam adotadas. 
Alguns dos liberais franceses chegaram ao poder durante o reinado de Luís XVI 
e tentariam implementar seu programa liberal, com pouco sucesso naquele 
momento histórico. Outras monarquias absolutas também realizariam algumas 
reformas pontuais antes da revolução francesa, que se intensificariam depois ± 
como o Zollverein alemão. 
Se percebeu, mencionamos que monarquias absolutas ± ou seja, sistemas 
políticos não-liberais ± adotaram algumas medidas da agenda liberal na 
economia. EntãR��SRGHPRV�FRQFOXLU��TXH�DV�GXDV�³IDFHV´�GR�OLEHUDOLVPR�GH�TXH�
falamos antes podem existir separadamente ± embora, nesse período, o 
4 SANTOS, P. H. S.. ³Adam Smith e a sociedade comercial.´ Em tempo de História (digital), v. 
26, p. 25-37, 2015.
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Outro autor significativo para a criação desse core de ideias do liberalismo foi 
Montesquieu, filósofo iluminista francês. Sua ideia mais importante seria aquela 
da separação dos poderes, ou seja, de que os poderes do Estado ± de executar, 
de legislar e de julgar ± deveriam ser separados da figura do soberano que, na 
sua época, acumulava-os todos. Essa concepção dos poderes do Estado teria 
um imenso impacto sobre os países ocidentais depois da Revolução Francesa e 
seria, sem dúvida, uma das mais importantes e práticas noções sobre política. 
Em terceiro lugar, podemos ainda elencar as contribuições de Benjamin 
Constant para encorpar o ideário liberal. Para Constant, para além da divisão de 
poderes e da restrição da atuação do governo em relação aos indivíduos, os 
governos deveriam ser representativos, ou melhor, deveriam ser conduzidos por 
pessoas que representassem a população. Constant acreditava que o modelo 
de democracia direta tal qual criado na Grécia já não era possível pela dimensão 
dos países, a quantidade de pessoas/eleitores e pelas características mesmas 
das novas economias, que não permitiam uma dedicação exclusiva à política. 
Assim sendo, seria necessário que o povo ± HQWHQGHQGR�³SRYR´�FRPR�DTXHOHV�
que detinham os direitos políticos ± elegesse um grupo de pessoas que pudesse 
representar a vontade nacional numa Assembleia e decidir sobre os processos 
políticos. Cosntant também ganha um papel importante na história de nosso país 
SRUTXH�HOH�IRL�R�FULDGRU�GR�³3RGHU�0RGHUDGRU´�QR�TXDO�VHULD�LQVSLUDGR�R�TXDUWR�
poder de nossa Constituição imperial de 1824. 
O liberalismo também seria estreitamente ligado aoconstitucionalismo, isto 
p��j�LGHLD�GH�TXH�VHU�³OLEHUDO´�HUD�GHIHQGHU�XPD�FRQVWLWXLomR�HVFULWD�para seu país. 
O porquê de se defender uma constituição relacionava-se à ideia de que com na 
constituição ± a lei maior ± se estabeleceriam as divisões dos poderes e as 
relações entre o Estado e os indivíduos, marcando os direitos civis e políticos 
destes últimos, os quais o Estado não poderia retirar. Este impulso para a criação 
de constituições e eleições para os parlamentos seria dada com a Revolução 
Francesa. 
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Em suma, aluno, o liberalismo político refere-se a um conjunto de ideias que 
defendia: as garantias e direitos dos indivíduos contra a ação do Estado; 
constituições escritas; representação política; divisão dos poderes. 
 
A crítica ao Capitalismo organizado: socialistas, marxistas e
anarquistas
Os socialistas utópicos
Assim como observamos no caso do Liberalismo, também o termo 
³VRFLDOLVPR´� HVWi� FDUUHJDGR� GH� SROLVVHPLDV� H� QXDQFHV� LQWHUQDV�� ,VWR�� DOLiV��
decorre de uma peculiaridade própria da segunda metade do século XIX: a 
YRFDomR� SHORV� ³-LVPRV´� H� SHOD� SDGURQL]DomR� FDUWHVLDQD� GRV� PDLV� tQILPRV�
aspectos da vida em sociedade, sendo, não por um acaso, o contexto do 
GHVSHUWDU� GDV� FKDPDGDV� ³FLrQFLDV� VRFLDLV´�� dentre as quais se destaca a 
Sociologia, a mais proeminente das áreas de conhecimento a se debruçar sobre 
o estudo das ideias socialistas. 
Mas ao historiador não cabe apenas a busca pela ideia, mas também pelo 
seu contexto, isto é, pelo seu encaixe em um espaço temporal próprio. Conforme 
já vimos, as Revoluções Industriais tiveram grande impacto sobre o meio social 
europeu, especialmente após 1815 e o desenvolvimento do capitalismo industrial 
nas regiões continentais, tendo por modelo o que já estava se sucedendo havia 
um século no Reino Unido. 
Tal como ocorrera na Inglaterra, também no restante da Europa houve o 
crescimento dos grandes centros urbanos, por consequência das migrações 
maciças de camponeses oriundos das regiões rurais em busca de empregos e 
melhores condições de vida nos centros industriais. A forjadura desse mundo 
industrial esteve umbilicalmente ligada ao que posteriormente seria estudado 
FRPR� R� SHUtRGR� GH� KHJHPRQLD� GDV� ³EXUJXHVLDV� QDFLRQDLV´�� 6XD� LQIOXrQFLD� IRL�
ainda mais marcante na Europa continental, posto que, ao contrário da 
pragmática relação de interesses entre aristocracia rural e burguesias mercantis 
ocorrida na Inglaterra pós-Revolução Gloriosa, ali pouco caso fez os setores 
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aristocráticos tradicionais da perspectiva burguesa de economia e política. Não 
obstante, fosse por meios revolucionários (a exemplo da Revolução Francesa) 
fosse a partir de reformas políticas, o século XIX pertenceu não mais à velha 
classe dominante aristocrática, mas sim a uma nova e pujante classe burguesa. 
O desenrolar de um novo ethos ³EXUJXrV´� QD� (XURSD� GR século XIX foi 
possível não somente pelo apossamento das economias dos grandes Estados-
nações europeus, mas principalmente pelo crescente ganho de poder político 
verificado entre membros das burguesias ao longo deste século. Isto posto, os 
pressupostos ideológicos que levaram ao enfraquecimento da velha classe 
aristocrática face aos seus sucessores entre o fim do século XVIII e a primeira 
metade do XIX logo se tornaram a regra do jogo. Podemos enumerar alguns 
destes pressupostos, que, ainda que parte da consciência política dos europeus 
desde ao menos a Idade Média, somente agora se consolidariam à nível de 
políticas públicas: a defesa da propriedade privada (não somente à nível de 
terras, como também à nível de consciência e liberdades individuais), de uma 
economia alheia às regulações dos governantes, de uma sociedade regida pelo 
ideal liberDO� GH� XP� ³LPSpULR� GDV� /HLV´�� SHOD� GLYLVmR� GR� WUDEDOKR� FRP� EDVH� QD�
produção, comércio e lucro, dentre outros. 
Foi neste contexto de forte industrialização e estopim da consciência 
burguesa de mundo que surgiu, sobretudo em torno do eixo França-Reino Unido, 
XPD�VpULH�GH�LGHRORJLDV�GH�IXQGR�VRFLDO�TXH�VH�DXWRGHQRPLQDUDP�³VRFLDOLVWDV´��
Segundo Bobbio: 
Em geral, o Socialismo tem sido historicamente definido 
como programa político das classes trabalhadoras que se 
foram formando durante a Revolução Industrial. A base 
comum das múltiplas variantes do Socialismo pode ser 
identificada na transformação do ordenamento jurídico e 
econômico fundado na propriedade privada dos meios de 
produção e troca, numa organização social na qual: a) o 
direito de propriedade seja fortemente limitado; b) os 
principais recursos econômicos estejam sob o controle 
das classes trabalhadoras; c) a sua gestão tenha por 
objetivo promover a igualdade social (e não somente 
jurídica e política), através da intervenção dos poderes 
públicos.5 
5
 Socialismo In BOBBIO, Norberto (org.) Dicionário de Política. v. 2. Brasília: Editora UnB, 2007, 
pp. 1196-1197. 
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Apesar de possuírem linhas de pensamento em geral (conforme apresentada 
na citação acima), a perspectiva acerca do papel a ser desempenhado pelos 
mais pobres no ganho de visibilidade e direitos e da própria noção que tinham 
de si próprios foi diferente ao longo do tempo. Basicamente, podemos 
considerar, afim de melhor compreender as diferenças de ideias e propósitos 
entre os diferentes ramos socialistas, dois períodos diferentes: o primeiro se 
refere ao contexto 1789-1848, momento compreendido entre o início da 
Revolução Francesa e o desenrolar da Primavera dos Povos, enquanto o 
segundo corte cronológico se refere à segunda metade do XIX. 
Durante o primeiro momento se desenvolveu na Europa aquilo que mais tarde 
seria conhecido como socialismo utó ico, termo cunhado pelos alemães Karl 
Marx e Friedrich Engels em suas obras, que aliás deram suporte e vida à vertente 
socialista presente na segunda metade do XIX, o autodenominado socialismo 
científico. Engana-se quem por ventura pensar que se trata de uma diferença de 
cunho meramente semântico, posto que a cisão entre estes socialistas se refere 
a tópicos bastante profundos. Primeiramente, a visão acerca das conquistas 
sociais, encarada pelos utópicos como benesses a serem angariadas mediante 
reformas sociais pacíficas, enquanto que para os antagonistas científicos 
tratava-se de direitos a serem conquistados à força pelos trabalhadores, sem 
FRQFHVV}HV�SDUD�FRP�DV�³EXUJXHVLDV�GRPLQDQWHV´. 
A primeira vertente, utópica, do socialismo é deveras heterogênea (o que é 
um dos seus mais marcantes contrastes em relação aos socialistas científicos). 
Ali encontramos diversos autores, destacando-se Robert Owen, Saint-Simon, 
Charles Fourier, Louis Blanc, dentre outros. Robert Owen (1771-1858), o 
primeiro de nosso rol, foi um rico industrial galês do setor de tecidos, cujas 
origens humildes lhe providenciaram uma aguçada ação assistencial juntos aos 
operários de sua fábrica, localizada na região de New Lanark na Escócia (local 
que mais tarde se tornaria uma espécie de Meca para socialistas reformistas no 
final do XIX). Suas ideias foram prioritariamente testadas em sua própria fábrica. 
Indo na contramão das práticas vigentes entre industriais de toda a Europa, 
Owen tratou de diminuir a jornada de trabalho de seus operários para 10 horas 
diárias (face às costumeiras 12 a 16 horas de trabalho comuns à época), também 
construiu um bairro operário com boas condições de infraestruturapara atender 
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Trata-se do francês Charles Fourier (1772-1837), outro grande oponente do 
liberalismo e da economia capitalista. Tornou-se famoso pela criação dos 
utópicos falanstérios (ou falanges), unidades de produção cooperativistas e 
autossuficientes, que serviriam ao mesmo tempo como lar e local de trabalho 
daqueles que ali viessem a residir. Para Fourier, assim como para Rousseau, o 
homem, sendo intrinsecamente bom, deveria vencer determinados obstáculos 
sociais de modo a conseguir alcançar suas plenas capacidades individuais. 
Fourier acreditava que estes obstáculos estavam cristalizados na forma 
capitalista de organização econômica, no individualismo egoístico e pela 
LPSRVLomR� GH� YDORUHV� FRQVLGHUDGRV� RSUHVVRUHV´� H� ³UHVWULWLYRV´� SRU� SDUWH� GRV�
costumes cristãos (dentre eles a ideia de um matrimônio monogâmico, por ele 
desprezado). A resolução destes obstáculos se daria em locais afastados do 
meio social, onde homens e mulheres fossem capazes de autogerir suas 
próprias vidas e satisfazer, deste modo, suas paixões e vocações pessoais, sem 
RV�HPSHFLOKRV�LQHUHQWHV�j�³KLSyFULWD´�VRFiedade cristã-ocidental burguesa de seu 
tempo. O fourienismo se espalhou pelo mundo por meio de imigrantes franceses 
adeptos de suas ideias, que levaram a experiência dos falanstérios para diversos 
países, incluso o próprio Brasil, onde se fundou, por volta de 1841 o Falanstério 
de Saí em Santa Catarina. Não obstante, à exceção de alguns poucos casos 
relativamente exitosos nos Estados Unidos, nenhum dos falanstérios, nem as 
ideias de seu idealizador, alcançaram notoriedade com o passar dos anos. 
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autores anteriores. Em realidade, muito se discute na atualidade se é 
verdadeiramente justo incluí-lo no rol dos socialistas, visto que seus ideais mais 
se assemelhavam com os dos pais do liberalismo econômico (dentre eles Adam 
Smith, autor de cabeceira de Saint-Simon) do que com os de seus 
contemporâneos socialistas. Fato é, no entanto, que o Conde de Saint-Simon 
(título a que mais tarde renunciaria em prol de seus ideais) foi largamente 
estudado por socialistas de todo o XIX, incluso Marx e Engels, que analisaria o 
pensamento do francês com certas honrarias na obra A evolução do socialismo 
da utopia à ciência, de 18888. 
Saint-Simon acreditava que os pontos principais a serem levados em 
consideração na promoção de indivíduos e nas interações sociais seriam a 
meritocracia e a fraternidade. Pensava ser possível a construção de uma 
sociedade regida com base nestes princípios, o que ganhou contornos em sua 
ideia de classe industrial, isto é, um conjunto de pessoas ligadas à cadeia 
produtiva industrial (vista, aliás, com bons olhos pelo pensador) que, devido às 
suas capacidades de liderança e mérito, tornar-se-iam as lideranças naturais do 
corpo social. Assim, bons líderes industriais teriam por objetivo guiar toda a 
sociedade, especialmente os mais pobres, a um estado de prosperidade e 
progresso perpétuo, baseados nas benesses intrínsecas ao capitalismo. Ao 
Estado (entidade que tenderia a praticamente inexistir no futuro utópico de Saint-
Simon) caberia tão somente garantir o interesse social das medidas 
SURSXJQDGDV�SHOD�FODVVH�LQGXVWULDO�H�LPSHGLU�D�DomR�³SDUDVLWiULD´�GDTXHOHV�TXH�
colocassem em risco o bem comum. Perceba que, apesar do seu radical apoio 
aos pontos positivos da sociedade industrial, Saint-Simon não deixava de 
ressaltar que o fim último de toda a ação política e econômica deveria ser os 
mais pobres e desprovidos de direitos. 
8
 Idem, pág. 1198. 
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Figura 10. Louis Blanc 
O socialismo dito utópico se baseou largamente em ideais de emancipação 
social dos mais pobres, de igualdade de condições entre as diferentes classes 
sociais e, sobretudo, na busca pela concordância entre industriais e operários, 
que resultaria, fosse por meio de reformas pacíficas (como defendiam Owen, 
Saint-Simon e Blanc), fosse a partir da criação de organizações fechadas regidas 
por regras próprias (como os falanstérios de Fourier), na consolidação de uma 
sociedade mais fraterna e justa. Note, entretanto, que a despeito de se tratarem 
de intelectuais que basearam suas ideias em fontes em comum, houve pouca 
homogeneidade de interesses entre os utópicos. 
A partir da década de 1840, o jovem filósofo e economista alemão Karl Marx 
buscou ampliar e refinar a crítica aos problemas sociais presentes na sociedade 
industrial de seu tempo, iniciada por seus predecessores. Não obstante, e apesar 
de render elogios às motivações daqueles intelectuais, Marx seria para sempre 
conhecido como o primeiro socialista a ³comprovar cientificamente´ as suas 
ideias e a tornar triunfante a perspectiva do dito socialismo científico na 
posteridade, afastando a realidade inerente às contradições internas do meio de 
SURGXomR�FDSLWDOLVWD�GDV�³IiEXODV�XWySLFDV´�GRV�SULPHLURV�VRFLDOLVWDV� 
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O marxismo de Karl Marx
O marxismo é comumente abordado como um sinônimo ou mesmo uma 
espécie de síntese do pensamento socialista. Refere-se aqui ao marxismo como 
a vertente política triunfante que levou a cabo, no primeiro quartel do século XX, 
uma interpretação bastante específica do pensamento de seu criador, Karl Marx, 
e de seu fiel escudeiro, o rico descendente de industriais Friedrich Engels. Antes, 
contudo, de adentrarmos os aspectos do intricado pensamento de Marx e das 
QXDQFHV�SUHVHQWHV�HP�PHLR�DRV�³PDU[LVPRV´��DSUHVHQWemos o personagem em 
questão. 
Karl Marx (1818-1883), nasceu na região da Prússia e ali desenvolveu os 
seus primeiros estudos em Direito, disciplina que mais tarde abandonaria em 
favor da Filosofia. Seus primeiros escritos significativos foram tratados de caráter 
interpretativo e revisório das obras de Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-
1831). Foi na Universidade de Berlim, durante a década de 1830, que Marx teve 
contato com a meticulosa dialética hegeliana. 
O pensamento de Hegel é bastante complexo e profundo. Poderíamos aqui 
escrever longamente sobre ele, mas seria um esforço intelectual desnecessário 
para o concurso. Assim, pedindo vênia àqueles que conhecem a fundo a obra 
do pensador alemão, podemos didaticamente resumir suas ideias assim: Hegel 
acreditava que as ideias faziam mover a história, num movimento dialético. Este, 
SRU�VXD�YH]��SRGH�VHU�FRPSUHHQGLGR�FRPR�XPD�WHVH�VHQGR�³FRQWHVWDGD´�SRU�XPD�
antítese que se torna uma síntese. Esta síntese torna-se, então, uma nova tese 
TXH� HQWmR� VHUi� ³FRQWHVWDGD´ novamente por outra antítese e assim 
sucessivamente num movimento progressivo de avanço contínuo das ideias. 
Marx, no entanto, ainda jovem se tornou um forte crítico da dialética 
hegeliana, conforme fora concebida originalmente. Sua principal crítica se devia 
ao papel das ideias no transcurso da história (e consequentemente ao 
protagonismo de um espírito universal que tudo e direciona). Marx divisava que, 
ao contrário do que concebera Hegel em seu idealismo, não são as ideias que 
moldam e transformam o mundo e o homem, mas sim as condições materiais 
de sobrevivência do homem. Vide, portanto, que Marx não discordava da 
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Mais tarde, em Bruxelas, junto a Engels, Marx assistiu atônito ao rápido 
alastrar das brasas revolucionárias de 1848, e ali escreveu, em meio a um 
mundo revolto em pólvora e cinzas, o primeiro (e mais popular) de seus escritos 
revolucionários: o Manifesto do Partido Comunista (Manifest der 
Kommunistischen Partei), originalmente concebido como um panfleto de ideias 
sob a égide da Liga dos Comunistas, órgão criado por seus antigos camaradas 
de Colônia, considerado por muitos como a semente da qual germinaria a I 
Internacional Comunista mais tarde. Enquanto defendia em seu manifesto 
radicais transformações sociais nas nações industrializadas europeias, Marx 
abria o caminho para a defesa de uma futura ordem mundial de base proletária 
(o termo é aqui entendido como o operário urbano mantenedor, com base 
XQLFDPHQWH�HP�VHX�VDOiULR��GH�XPD�³SUROH´�� 
Apesar da publicação do Manifesto ser atualmente entendida por muitos 
como a concretização de um Marx comunista, na realidade não passara de 
apenas um ensaio inflamado (mas pouco ³FLHQWtILFR´��LVWR�p��EDVHDGR�HP�DQiOLVHV�
racionais da realidade objetiva). E ele compreendia essa realidade: era 
necessário esmiuçar o seu pensamento e sua crítica da realidade exploratória 
do sistema capitalista, caso contrário se transformaria, ao seu ver, em mais um 
utópico idealizador de uma ordem futura intangível e inalcançável. Fator 
importante para o amadurecimento de seu pensamento foi a expulsão que 
sofrera dos governos belga e prussiano (pois retornara brevemente para 
Colônia), o que acarretaria em seu exílio em Londres, que se tornaria a morada 
definitiva até a sua morte. 
Em Londres, além de publicar para o New York Tribune, Marx passou a 
conviver diariamente com os escritos dos renomados economistas clássicos 
britânicos, dedicando-se especialmente ao pensamento de David Ricardo e 
Adam Smith. De seus estudos e interpretações das ideias destes dois grandes 
pensadores, decorreu o papel primário da relação sujeito-trabalho no 
pensamento marxista, bem como tantas outras influências, tais como a 
concepção de valor, divisão social do trabalho e mais-valia. 
Compreendamos! 
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Para Marx, conforme vimos, as ideias se submetem à realidade material dos 
homens (e não o contrário, como para Hegel). A relação do homem com o 
mundo, portanto, gera, como síntese, aquele que é o principal fio condutor de 
transformação do mundo e de auto realização do Homem: o trabalho (olha a 
dialética aqui pessoal!). O homem interage com o mundo a sua volta por meio 
de seus trabalhos, e deste modo, de forma dialética, compreende a natureza e 
nela se insere. Sendo o homem um ser essencialmente social, conclui-se, 
portanto, que o trabalho é um ato social, e, assim, desenvolve-se em sociedade. 
Perceba, caro estudante, o que Marx quer nos falar aos berros: AS RELAÇÕES 
SOCIAIS ESTÃO INTERCONECTADAS COM AS RELAÇÕES DE 
PRODUÇÃO! 
 
Marx compreendera que, para entender as bases fundantes do capitalismo 
industrial, deveria transcender aos sistemas filosóficos (dos quais já apreendera 
o essencial) e recorrer aos estudos da história econômica do capitalismo e das 
relações de produção anteriores, visto que estes, como tudo no mundo, estão 
em constante movimento. Em seus longos estudos, dos quais sobressaíram 
LPSRUWDQWHV� REUDV� FRPR� ³Crítica da Economia Política´� H� ³2� &DSLWDO´, Marx 
defendera que, no transcurso do movimento histórico, as sociedades sempre 
estiveram ligadas a Modos de produção muito próprios de seu tempo, os quais, 
por força da dialética histórica, se viam, após um longo progresso, 
inexoravelmente determinados a serem superados, dadas as suas contradições 
internas, por novos modos de produção mais avançados. Mas cada modo de 
produção subsiste a partir da posse de determinados meios de produção que 
tornam possível a efetivação do trabalho e a produção e troca de mercadorias, 
das quais oriunda o lucro do proprietário destes meios. Logo, eis a lei máxima 
da teoria da história segundo a concepção marxista: cada Modo de produção é 
concebido com base no controle por parte de uma classe dominante, 
controladora dos meios de produção que torna possível o trabalho humano, 
submetendo, deste modo, um grupo de indivíduos ao seu domínio, sendo esta a 
antagonista classe dominada. Todavia, é próprio do movimento histórico que o 
crescente antagonismo entre classe dominante e classe dominada (a 
contradição interna inerente a todos os meios de produção existentes) leve a 
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uma síntese lógica: o surgimento de um novo modo de produção e de uma nova 
dialética entre dominadores-dominados. 
Para Marx, assim, é parte do motor da história que a classe dominante seja 
sempre superada, pois, conforme já afirmara no Manifesto do Partido Comunista 
³$�KLVWyULD�GD�KXPDQLGDGH�p�D�KLVWyULD�GD�OXWD�GH�FODVVHV´. Assim chegamos, ao 
longo dos séculos, ao capitalismo. Em seus estudos históricos, percebeu que o 
modo de produção capitalista (sistema baseado em torno dos lucros 
crescentes gerados pela produção e acúmulo de capital) surgira a partir da 
primeira grande classe revolucionária da história: a própria burguesia. Mas esta 
burguesia, tendo derrotado a antiga nobreza feudal, tornou-se, no lugar daquela, 
a nova classe dominante, e assim gerou a sua antítese, o proletariado, o qual 
tem o seu trabalho explorado para que o burguês possa obter lucros crescentes. 
O que o proletariado deveria fazer para vencer a burguesia que lhe 
explorava? Eis a resposta de Marx: aguardar e se preparar! Aguardar que as 
contradições internas levassem à imediata superação do sistema capitalista e à 
tomada dos meios de produção pelos proletários, os quais, sendo a classe social 
GHILQLWLYD�H�³YHUGDGHLUDPHQWH�FLHQWH´�GH�VHX�SDSHO�KLVWyULFR��QmR�WRPDULD�SDUD�VL�
o papel de nova classe dominante, mas destruiria, de uma vez por todas, o 
sistema de classes sociais e tornaria igualitário, passado o primeiro momento de 
controle do Estado e expurgo da burguesia, os meios de produção a todos os 
indivíduos espalhados pelo globo. Portanto, segundo Marx, o socialismo não é 
somente uma ideia utópica saída das mentes de poucos intelectuais, regidos por 
pretensões próprias, mas sim a natural e definitiva forma de produção a ser 
imposta pelo próprio movimento da história. 
Marx não definiu exatamente o que ocorreria após a superação do 
capitalismo, mas registrou em ³2�FDSLWDO´�TXH��SDVVDGD�XPD�SULPHLUD� IDVH�GH�
tomada de controle dos meios de produção pelo proletariado, denominada mais 
tarde como a ditadura do proletariado9, e de completa reorganização social, em 
XP�VHJXQGR�PRPHQWR�KDYHULD�D�³FRPSOHWD�H[WLQomR�GD�GLYLVmR�GH�FODVVHV�H�GD�
forma mercatória, todo o domínio político desapareceria na sansiomoniana 
³DGPLQLVWUDomR�GDV�FRLVDV´�H�D�UHSDUWLomR�GR�SURGXWR�VRFLDO�VH�UHDOL]DULD�VHJXQGR�
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 Termo cunhado por Lênin. 
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DV� QHFHVVLGDGHV´10. A primeira fase foi mais tarde denominada de sistema 
socialista, enquanto que a segunda e última fase foi denominada como a 
consolidação do sistema comunista. 
 
As Internacionais Comunistas e as primeiras cisões: o anarquismo e a social-
democracia
Após o relativo fracasso das revoltas de 1848 e a desintegração da Liga dos 
Comunistas de Colônia, bem como a perseguição de órgãos de polícia de países 
continentais aos grupos organizados de operários, uma nova estratégia passou 
a ser traçada pelos socialistas europeus.Cabe ressaltar que neste período o 
WHUPR� ³6RFLDOLVPR´� VH� UHIHULD� D� XPD� VpULH� GH� YHUWHQWHV� LQWHUQDV�� 1D� PHVPD�
medida, não podemos cair na confusão de considerar que o pensamento de 
Marx já se fazia preponderante neste período, posto que suas ideias somente se 
tornarão a coluna vertebral da ortodoxia comunista a partir do triunfo de Lênin na 
Revolução Russa. 
Em resposta ao quase profético chamado de Marx em seu Manifesto de 1848 
�³operários de todo o mundo, uni-YRV�´) em 1864 surgiu, com sede em Londres, 
D�³$VVRFLDomR�LQWHUQDFLRQDO�GRV�WUDEDOKDGRUHV´��TXH�ILFDULD�FRQKHFLGD�PDLV�WDUGH�
somente como a I Internacional. Essa associação marcou a história do 
movimento operário europeu, pois 1) rompeu as fronteiras nacionais e, ao menos 
no plano teórico, as fidelidades aos governos nacionais, sendo, desse modo, um 
movimento essencialmente internacionalizante, ���UHXQLX�VRE�XP�³PHVPR�WHWR´�
os principais nomes das diversas vertentes socialistas europeias, bem como de 
outros movimentos de caráter operário ainda não suficientemente adeptos do 
ideário socialista e 3) criou linhas gerais para a ação operária mundo afora (o 
que gerou, por consequência, as primeiras cisões dentro do movimento). 
A I Internacional durou apenas 8 anos, de 1864 a 1872, sendo realizados no 
período 5 congressos gerais, nos quais se debateram os objetivos a serem 
10
 Idem, pág. 1198. 
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alcançados universalmente pelos trabalhadores. A liderança da Internacional, o 
Conselho Geral, era composto de figuras proeminentes, como o próprio Karl 
Marx. As principais vertentes que assumiram forma durante os congressos 
gerais foram os socialistas, subdivididos entre blanquistas; sansimonianos; 
lassalianos e marxistas (que se autodenominavam comunistas), além dos 
anarquistas proudhonianos e bakuninistas, sindicalistas reformistas democratas 
e radicais, dentre outros. Em seu auge, pouco antes de seu fim, a Internacional 
chegou a ter algo próximo de 150 mil membros filiados, espalhados pelos 
grandes centros industriais europeus (Inglaterra, França, Bélgica, norte da 
Espanha e Prússia) e também no nordeste industrializado estadunidense. 
Dentre os pontos de conciliação alcançados pela Internacional e aprovados 
em seus congressos destacam-se o sentimento de solidariedade operária, a 
defesa do fim da propriedade privada e da coletivização dos parques industriais 
e das ferramentas úteis ao trabalho industrial (no vocabulário marxista, os meios 
de produção). No entanto, rixas pessoais e discordâncias doutrinárias elevaram 
o tom de cisma dentro da associação já em seu nascimento. É o caso das 
disputas intelectuais entre Karl Marx e Pierre-Joseph Proudhon. Deixe-me 
esclarecer, primeiramente, uma verdade factual essencial: Proudhon não 
participou da Internacional, pois faleceu no ano de sua inauguração, no entanto, 
as velhas rusgas entre ele e seu antigo amigo Marx vieram novamente à tona 
durante os Congressos da associação por meio dos seus seguidores. 
Na década de 1840, portanto antes mesmo da publicação do Manifesto do 
Partido Comunista e da guinada economicista de seu pensamento, Karl Marx 
participara de diversas discussões teóricas com Proudhon. Os dois chegaram a 
VHU�³FDPDUDGDV´�SRU�XP�FHUWR� WHPSR��à época em que Marx residiu em Paris. 
Não obstante, com o tempo, as diferentes visões acerca da mudança da situação 
RSHUiULD�IDFH�j�³H[SORUDomR´�FDSLWDOLVWD�RV�DIDVWRX��2�SULQFLSDO�SRQWR�GH�GLVFyUGLD��
exposto por Proudhon em seu livro Sistemas de contradições econômicas ou 
Filosofia da Miséria de 1846, era relativo à forma com que o capitalismo deveria 
ser superado, se por meios individuais ou por meios revolucionários. Proudhon, 
em franca discordância à Marx (ao qual critica diretamente neste livro), defendia 
a via individual, pela qual, primeiramente, os indivíduos deveriam se libertar de 
qualquer forma de opressão (fosse econômica, espiritual ou cultural) mediante a 
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auto iluminação. Somente assim, de forma autônoma, os próprios indivíduos 
seriam capazes de se rebelar face ao sistema11. 
Proudhon foi o primeiro intelectual a assumir para si a alcunha de anarquista, 
termo por muitos encarado como algo pejorativo. Sua firme defesa do indivíduo 
em oposição às classes (algo tão caro para o pensamento de Marx) e, sobretudo, 
às organizações que visassem representa-los, posicionou-o entre duas 
fronteiras internas ao anarquismo do XIX: o anarquismo individualista e o 
comunista (representado pelos bakuninistas)12. Outrossim, o separou 
definitivamente de qualquer possível laço ideológico que o unisse à tradição 
marxista. 
A resposta de Marx à provocativa obra de Proudhon veio apenas um ano 
depois, em 1847, sob o nome de Miséria da Filosofia (uma ironia escancarada 
para com o título da obra de seu adversário). Neste livro, que permaneceu 
desconhecido até o seu renascimento sob a I Internacional, Marx critica a visão 
utópica de Proudhon acerca do proletariado e despreza o modelo de federações 
trabalhistas autônomas propostas por este. Por esse motivo, Marx e Engels 
engendrariam mais tarde Proudhon no rol dos socialistas utópicos (o que era 
negado por seus seguidores, no entanto). 
As rixas entre Marx e proudhonianos, com o acréscimo de Bakunin e seus 
seguidores bakuninistas (especialmente espanhóis adeptos do anarquismo 
coletivista, que permaneceu firme na tradição anarquista daquele país até o 
século XX) que desferiam críticas para ambos os lados, levou à definitiva cisão 
dos anarquistas como um todo para com a Internacional, que ao seu ver 
FDPLQKDYD� SDUD� D� ³YLD� DXWRULWiULD´� GH seus principais líderes, como o próprio 
Marx. Assim, com o expurgo dos anarquistas em 187213, a Internacional deixaria 
de existir por um longo período. 
Apenas em 1889, sob a iniciativa de Engels, marxistas e outros socialistas 
voltaram a se reunir em torno de uma Associação operária internacional, que 
11
 Anarquismo In Bobbio, Norberto (org.) Dicionário de Política, v. 1. Brasília: Ed. UnB, 2007, pág. 
24. 
12
 Idem. 
13
 Os anarquistas, sob a liderança de Bakunin, formariam a sua própria associação, por eles 
nomeada como a Internacional de Saint-Imier, que durou de 1872 a 1877.
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ficou conhecida como a II Internacional. Viria a durar até 1916, quando, por 
SUHVVmR� GH� VXDV� ³FRQWUDGLo}HV� LQWHUQDV´�� VREUHWXGR� HQWUH� HVSDUWDTXLVWDV�
alemães, sob liderança de Rosa Luxemburgo, e leninistas, liderado pelo próprio 
Lênin. 
Além daquela rusga definitiva que definiria o fim da II Internacional durante a 
Grande Guerra, outras questões basilares cimentaram o curso das ações dos 
internacionalistas. Após a sua abertura, o primeiro grande ato da associação 
seria a proclamação, em 1º de maio daquele mesmo ano, do Dia Internacional 
dos Trabalhadores. Mas o clima de festa teria data contada. Vale recordar que, 
entre 1872 e 1889, os diferentes movimentos socialistas espalhados pelo 
continente (como os socialdemocratas alemães e os reformistas ingleses) 
continuaram a agir de forma autônoma com diferentes metas traçadas. 
Era essa questão que agitava a associação na virada do século. É digno de 
nota que, ao contrário da baixa popularidade de suas ideias na I Internacional, 
agora, sob clara influência de Engels, a II Internacional seguia um rumo 
claramente marxista, privilegiando o conceito de luta de classes e de revolução 
proletária como forma de obtenção do poder político.Não obstante, 
representantes contrários à via revolucionária, sobretudo ingleses, insistiam em 
outra meta a ser traçada pelo operariado. Em sua visão, o capitalismo pós-1880 
sofrera radicais transformações em relação àquele praticado entre 1850 e 1872. 
Acreditavam que o ganho de conquistas sociais na Inglaterra, por exemplo, 
somente fora possível graças à mobilização dos trabalhadores em torno da 
defesa de seus direitos por meios democráticos, sobretudo por meio da ação 
parlamentar. Portanto, defendiam a via reformista e o completo abandono do 
ideário revolucionário como melhor estratégia a ser tomada pelos trabalhadores. 
Para os marxistas, e em bom linguajar marxista, a proposta reformista dos 
trabalhistas ingleses significava ceder à burguesia e trair o movimento operário. 
2�UHVXOWDGR�SDUD�HVVD�³WUDLomR´�IRL�R�DEDQGRQR�DRV�UHIRUPLVWDV��TXH�SRU�VXD�YH]��
se auto alienaram da via marxista e passaram a integrar, de vez, a recém-criada 
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Fabian Society (Sociedade Fabiana)14, cujas pilares teóricos estão resumidos na 
obra Fabian Essays in Socialism, publicado por George Shaw em 1889. 
Após a exclusão dos reformistas ingleses outra cisão ocorreu, uma que se 
mostraria muito mais dolorosa do que a primeira em relação ao futuro político 
alemão. A partir de 1904, ganharia forma nos congressos da II Internacional uma 
WHQGrQFLD� ³FLQ]D´�HQWUH�RV� WRQV�GH�EUDQFR�H�SUHWR�GH� UHIRUPLVWDV�H�PDU[LVWDV. 
Essa tendência intermediária foi encabeçada pela maioria da socialdemocracia 
DOHPm�� H� IRUDP� FRQVLGHUDGRV� YHUGDGHLURV� ³WUDLGRUHV´� SHOD� DOD� RUWRGR[D� GD�
socialdemocracia alemã, encabeça por Rosa Luxemburgo15. Essa nova 
WHQGrQFLD�³UHYLVLRQLVWD´�SUHJDYD�TXH�XPD�UHYROXomR�LPHGLDWD�VHULD� LPSRVVtYHO��
devido à falta de recursos e de consciência de classe devidamente formadas 
entre os trabalhadores. 
No entanto (e isso os difere dos reformistas) continuavam a pregar a 
superação do Estado de Classes por meio de um rebento revolucionário, ainda 
que o momento exato para esse estouro revolucionário se daria com o passar 
do tempo, na medida em que os operários e suas lideranças conseguissem 
conquistar espaço na sociedade (e conquistar os meios necessários) a partir de 
representação partidária e de conquistas de direitos pelas vias liberal-
demRFUiWLFDV�� $� GHIHVD� GHVWD� YLD� ³UHWDUGDWiULD´� HQIXUHFHX� RV� PDU[LVWDV� PDLV�
ortodoxos, e abriu uma ferida que não viria a cicatrizar no futuro. Após o fim da 
II Internacional, em 1916, marxistas (agora entendidos como leninistas) e 
socialdemocratas (aqueles que haviam rachado com Rosa Luxemburgo durante 
a Grande Guerra) nunca mais voltariam a cooperar, o que se mostraria, anos 
mais tarde, fundamental para a ascensão do nazismo na década de 1930. 
A última rusga a ser averiguada em nosso estudo sobre a II Internacional se 
refere às divergências ideológicas entre Rosa Luxemburgo e Lênin. Ambos 
concordavam em linhas interpretativas gerais: havia um Estado de Classes 
liberal-burguês a ser superado mediante a ação revolucionária organizada dos 
proletários. No entanto, Luxemburgo defendia que a via revolucionária deveria 
14 O fabianismo ainda consiste em doutrina socialista majoritária sobretudo entre os trabalhistas 
históricos britânicos. Alguns de seus mais proeminentes membros foram H.G. Wells, Leonard 
Woolf, Virginia Woolf e Bertrand Russell.
15 BOBBIO, v.2, Idem, pág. 1200.
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subsistir em face das organizações de base dos proletários, na Rússia 
conhecidos como sovietes, e deveria surgir em momentos de aguda crise 
econômica do capitalismo industrial (onde as contradições internas preconizadas 
por Marx atingiriam o seu ápice). Por outro lado, Lênin defendia que toda a ação 
dos sovietes e demais organismos de classes operários deveriam se submeter 
à suprema liderança de um Partido geral e de seu comitê, composto de 
³UHYROXFLRQiULRV� HP� WHPSR� LQWHJUDO´� TXH� VHULDP� FDSD]HV� GH� VH� GHGLFDU�
exclusivamente à revolução comunista. Assim, Lênin, ao contrário de 
Luxemburgo, defendia que a Revolução somente seria possível sob a liderança 
de uma vanguarda revolucionária. 
Essa cisão atingiu a sua máxima forma após 1917, quando, por ventura da 
exitosa revolução armada levada à cabo por Lênin e seus bolcheviques contra o 
regime czarista russo, a teoria leninista passaria a imperar sobre a visão de 
Luxemburgo (que por sua vez, seria derrotada e morta durante uma fracassada 
tentativa revolucionária na Alemanha em 1919). Assim, o leninismo seria pouco-
a-pouco elevado ao nível de ortodoxia dogmática dos Partidos Comunistas, 
especialmente após a ascensão de Stálin na União Soviética e definição das 
GRXWULQDV�FHQWUDLV�GR�FKDPDGR�³PDU[LVPR-OHQLQLVPR´� 
 
A terceira via: a Doutrina Social da Igreja Católica
A segunda metade do século XIX observou a ascensão da radical oposição 
ideológica entre adeptos do liberalismo, tendentes ao apoio às classes 
industriais e à sociedade capitalista, e as levas de operários que buscaram em 
sindicatos anarquistas e associações operárias de cunho socialista o amparo 
social de que necessitavam. Mais do que isto, se utilizarmos um termo 
essencialmente marxista, perceberemos que a divisão de classe estava próxima 
do limite. 
Diante deste cenário, a Igreja Católica decidiu fazer ecoar a sua visão, com 
base nos evangelhos e em sua Tradição e Magistério, acerca da crise social 
galopante no continente europeu, que levava cada vez mais pessoas para o 
apoio às doutrinas revolucionárias. A primeira grande manifestação da Igreja 
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neste sentido se deu por meio da publicação da encíclica Rerum Novarum �³'DV�
&RLVDV�1RYDV´���escrita pelo Papa Leão XIII e publicada em 15 de maio de 1891. 
Nesta encíclica, o papa definiu as bases para a Doutrina Social da Igreja, e 
defendendo as reivindicações dos operários desprovidos de direitos básicos 
frente ao sistema capitalista. Leão XIII resume a perspectiva da Igreja sobre a 
situação então vigente: 
é necessário, com medidas prontas e eficazes, vir em 
auxílio dos homens das classes inferiores, atendendo a 
que eles estão, pela maior parte, numa situação de 
infortúnio e de miséria imerecida. O século passado 
destruiu, sem as substituir por coisa alguma, as 
corporações antigas, que eram para eles uma protecção; 
os princípios e o sentimento religioso desapareceram das 
leis e das instituições públicas, e assim, pouco a pouco, 
os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, 
com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores 
desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada. A 
usura voraz veio agravar ainda mais o mal. Condenada 
muitas vezes pelo julgamento da Igreja, não tem deixado 
de ser praticada sob outra forma por homens ávidos de 
ganância, e de insaciável ambição. A tudo isto deve 
acrescentar-se o monopólio do trabalho e dos papéis de 
crédito, que se tornaram o quinhão dum pequeno número 
de ricos e de opulentos, que impõem assim um jugo quase 
servil à imensa multidão dos proletários.16 
 
$�YRUD]�FUtWLFD�ODQoDGD�SHOR�6XPR�3RQWtILFH�j�³XVXUD´�GRV�³KRPHQV�iYLGRV�GH�
ganância´��FODUDPHQWH�RV�JUDQGHV�FDSLWDOLVWDV�GH�VHX�WHPSR��QmR�SRGH�VHU��QR�
entanto, confundida por um apoio discreto à crítica socialista. Pois prossegue o 
texto: 
 Os Socialistas, para curar este mal, instigam nos pobres 
o ódio invejoso contra os que possuem, e pretendem que 
toda a propriedade de bens particulares deve ser 
suprimida, queos bens dum indivíduo qualquer devem ser 
comuns a todos, e que a sua administração deve voltar 
para os Municípios ou para o Estado. Mediante esta 
transladação das propriedades e esta igual repartição das 
riquezas e das comodidades que elas proporcionam entre 
os cidadãos, lisonjeiam-se de aplicar um remédio eficaz 
aos males presentes. Mas semelhante teoria, longe de ser 
capaz de pôr termo ao conflito, prejudicaria o operário se 
fosse posta em prática. Pelo contrário, é sumamente 
injusta, por violar os direitos legítimos dos proprietários, 
16 Encíclica Rerum Novarum. LEÃO XIII, 15 de maio de 1891. Disponível em: 
https://w2.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf l-xiii enc 15051891 rerum-
novarum.html. Acesso em: 16/01/2018.
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viciar as funções do Estado e tender para a subversão 
completa do edifício social. 
 
Assim, fica claro que a encíclica busca oferecer aos operários europeus uma 
espécie de terceira via face ao capitalismo liberal e ao radicalismo das 
esquerdas, ao lançar base pela defesa integral da propriedade privada e da 
liberdade individual segundo os valores cristãos como o melhor caminho de 
defesa da integridade e dignidade humana em um tempo de laicização e 
reversão de costumes. Defendia também a ação de grupos organizados de 
trabalhadores católicos, tais quais os sindicatos já existentes, desprovidos, 
porém, de influências ideológicas contrárias à fé. 
A Rerum Novarum agitou os meios sociais e possibilitou a existência de uma 
alternativa clara para os trabalhadores insatisfeitos. Após a sua publicação, 
diversos países, na Europa e em outros continentes, de base católica romana 
perceberam o aparecimento de diversas associações de trabalhadores católicos, 
geralmente organizações instigadas por leigos sob a cooperação de autoridades 
eclesiásticas. Ainda, a Doutrina Social da Igreja tornar-se-ia um ponto fulcral para 
o posicionamento da fé católica em um mundo marcado pela intensa 
modernização tecnológica e pelo rápido desenvolvimento do capitalismo. 
No mundo intelectual, figuras de grande calado, como o francês Hilaire Belloc 
e o inglês Gilbert Keith Chesterton, passaram a propugnar aquela que se tornaria 
a expressão econômica da visão social católica, conhecido por Distributismo. 
Além do mais, diversas outras encíclicas papais se seguiriam a Rerum Novarum 
acerca da temática social, tais como Quadragesimo anno (publicada pelo papa 
Pio XI em 1931), a Mater et Magistra (do papa João XXIII, em 1961) e a encíclica 
Populorum Progressio, de Paulo VI, publicada em 1967, bem como muitos outras 
cartas apostólicas e encíclicas mais modernas. 
 
Agora que aprendemos mais sobre o longo século XIX em suas expressões 
econômicas e ideológicas, que tal praticarmos um pouco? 
 
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Prova CACD ± 2004 
Há algo que não se pode dizer do século XX: que foi um tempo de brumas, 
silêncios e mistérios. Tudo nele foi a céu aberto, agressivamente iluminado, 
escancarado e estridente. E, no entanto, ele é ainda um enigma ² um claro 
enigma, parafraseando Drummond ², e dele não podemos fazer o necrológio 
completo. E porque findou como uma curva inesperada da história, em um 
astucioso desencontro do que achávamos ser o futuro, turvou nossa memória e 
nosso olhar. E tornou-se pedra e esfinge, com um brilho que ainda cega e 
desafia. O século XX foi, sem dúvida, um século das utopias. O seu andamento 
coincidiu com a máxima expansão das categorias fundamentais do mundo 
moderno ² sujeito e trabalho ², eixos que presidiram a atualização e 
exasperaram os limites do liberalismo e do socialismo, as duas grandes utopias 
da modernidade. E talvez por isso exiba uma característica única e contraditória: 
parece ter sido o mais preparado e explicado pelos séculos anteriores e, 
simultaneamente, o que mais distanciou a humanidade de seu passado, mesmo 
o mais próximo, decretando o caráter obsoleto de formas de vida e sociabilidade 
consolidadas durante milênios. O século XX sancionou o Estado-nação como a 
forma, por excelência, de organização das sociedades em peregrinação para o 
futuro e em busca de transparência. Os Estados nacionais ergueram-se como 
personagens privilegiadas de uma história humana cada vez mais cosmopolita, 
para lembrar Kant, modificando de forma radical a paisagem do mundo. Com 
eles, o direito assumiu progressivamente a condição de um idioma universal, 
reagindo sobre o passado e destruindo velhas estruturas hierárquicas fundadas 
em privilégios e na tradição. Mas o século XX não é apenas um tempo de 
esperanças. É também o século do medo e das tragédias injustificáveis. A dura 
realidade dos interesses provoca dois grandes conflitos mundiais, um tenso 
período de guerra fria e uma interminável série de guerras localizadas. Um 
século de violência dos que oprimem e dos que se revoltam. 
Rubem Barboza Filho. Século XX: uma introdução (em forma de prefácio). Apud: Alberto 
Aggio e Milton Lahuerta (Org.). Pensar o século XX. São Paulo: Unesp, 2003, p. 15±9 (com a d 
a p t a ç õ e s ) . 
Considerando o texto acima, julgue os itens seguintes, relativos ao cenário 
histórico do mundo contemporâneo. 
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41
 
72 A moderna industrialização, a partir da Revolução Industrial inglesa, 
desvelou uma nova realidade histórica que o texto indica como visceralmente 
oposta ao que existia antes, tornando obVROHWDV� DV� ³IRUPDV� GH� YLGD� H�
VRFLDELOLGDGH�FRQVROLGDGDV�GXUDQWH�PLOrQLRV´��(VVD�GLIHUHQoD�PDQLIHVWD-se, por 
H[HPSOR��GH�PRGR�³�HVFDQFDUDGR�H�HVWULGHQWH´��QD�PXGDQoD�GR�ORFXV�WUDGLFLRQDO�
da vida social ² homens e mulheres fogem ou são expulsos do mundo agrário 
e rural para as cidades. 
��� /LEHUDOLVPR� H� VRFLDOLVPR�� ³� DV� GXDV� JUDQGHV� XWRSLDV� GD� PRGHUQLGDGH´��
como afirma o texto, encontraram seus limites à mesma época, ainda que por 
motivos e caminhos distintos. Com efeito, a crise social, política e econômica 
verificada nas décadas de 20 e 30 do século XX destruiu as bases do Estado 
liberal ² substituído pelos modelos totalitários fascistas ² e eliminou todo e 
qualquer apoio ideológico ao stalinismo soviético. 
 
Prova CACD ± 2008 ± Questão 23 
Com relação ao peso da industrialização no desenvolvimento do capitalismo, 
do século XVIII aos nossos dias, julgue (C ou E) os seguintes itens. 
 
( ) A fase inicial da industrialização, predominantemente inglesa, a partir do 
século XVIII, foi marcada pela produção de bens de consumo, especialmente os 
têxteis, e pela utilização do ferro e do carvão como base do processo produtivo. 
( ) Embora emitindo sinais que apontavam para a universalização futura do 
capitalismo, a industrialização ascendente ao longo do século XIX foi 
monopolizada pela Inglaterra e manteve-se adstrita à Europa Ocidental. 
( )Novas formas de produção de energia, como a hidrelétrica, e novos 
combustíveis, como o petróleo, tiveram discreta participação no ciclo industrial 
que, já no final do século XIX, colocava o motor a explosão no centro do processo 
industrial. 
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( ) As formas de indústrias desenvolvidas nas últimas décadas do século XX 
e início do século XXI modificaram o paradigma da linha clássica de produção 
em favor da produção informatizada e com alto grau de automação e tecnologia. 
 
Prova CACD ± 2010± Questão 59 
A Revolução Industrial começou na Inglaterra na segunda metade do século 
XVIII. A respeito desse assunto, assinale a opção correta. 
 
A Como a Inglaterra foi pouco beneficiada pela Revolução Comercial, a 
Revolução Industrial veio a oferecer-lhe oportunidade para recuperar seu relativo 
atraso econômico. 
B À época, a população inglesa era equivalente, em número, à da França, 
embora a Inglaterra tivesse dimensões bem menores. 
C O carvão, o ferro ² as duas grandes riquezas da Inglaterra² já eram 
fartamente exploradas no início da Revolução. 
D O fato de ter um sistema financeiro ainda precário não impediu que a 
Inglaterra levasse adiante seu processo de industrialização. 
E A Inglaterra não dispunha de recursos agrícolas e florestais suficientes para 
as suas necessidades. 
Prova CACD ± 2010 ± Questão 63 
Quanto aos vários sentidos de que se revestiu historicamente a noção de 
liberalismo político, assinale a opção incorreta: 
 
A rejeição sistemática ao status quo. 
B valorização dos direitos individuais. 
C defesa intransigente da liberdade. 
D faculdade de escolha sem coerção. 
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E conformidade com a lei. 
 
Prova CACD ± 2010 ± Questão 65 
A propósito da famosa Encíclica Rerum Novarum, de 1891, julgue C ou E. 
 ( ) O papa Leão XIII, responsável pelo documento, condenou explicitamente 
o regime capitalista. 
 ( ) A Encíclica admitia a luta de classes, pois considerava iníqua a 
propriedade privada. 
 ( ) A Encíclica apelava aos empregadores para que respeitassem a 
dignidade dos operários. 
 ( ) Dada a própria natureza do sistema industrial, a Encíclica considerava 
inútil a ação dos sindicatos. 
 
Prova CACD ± 2012 ± Questão 46 
A respeito da Revolução Industrial na Europa e de fatos a ela relacionados, 
julgue (C ou E) os itens subsequentes. 
 
( )A disseminação da economia industrial na Europa Continental foi facilitada 
pelos grandes fluxos de investimentos internacionais que surgiram dos 
excedentes de capitais, com o objetivo de boas oportunidades de negócios, o 
que permitiu a injeção de capitais no sistema financeiro europeu e de tecnologias 
no processo de industrialização. 
( )A expansão da Revolução Industrial na Europa favoreceu o surgimento 
de movimentos políticos e sociais, alguns deles relacionados ao rápido processo 
de urbanização que se verificou no continente a partir do século XIX. 
( )A economia industrial no continente europeu foi dinamizada, entre outros 
importantes fatores, pela inexistência, até a década de 60 do século XIX, de 
políticas protecionistas de comércio exterior. 
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( )O retardo do desenvolvimento da economia industrial nos países da 
Europa Continental, comparativamente ao da Grã-Bretanha, deveu-se à precária 
cultura liberal empreendedora e às dificuldades econômicas advindas de 
conflitos armados. 
 
Prova CACD ± 2012 ± Questão 48 
A história mundial contemporânea, iniciada no último terço do século XVIII, 
apresenta-se como uma sucessão de sistemas mundiais intercalados por fases 
de transição e configuração de novas lideranças. Assim, de 1776 (ano da 
independência dos EUA e da publicação de A Riqueza das Nações, de Adam 
Smith) a 1890, a Pax Britânica, embasada na Revolução Industrial e regulada 
pelo liberalismo, deu início ao mundo dominado pelas potências anglo-
saxônicas. 
Paulo G. Fagundes Visentini e Analúcia Danilevicz Pereira. História do mundo 
contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 10 (com adaptações). 
 
Tendo o texto acima como referência inicial e considerando aspectos da 
história econômica mundial, julgue (C ou E) os itens seguintes. 
 
( )O processo de colonização vigente nas décadas finais do século XIX 
integra um contexto de expansão do sistema produtivo, do qual resultam a busca 
de mercados consumidores, de matéria-prima industrial e de bases estratégicas, 
bem como o surgimento de áreas propícias ao investimento de capitais e ao 
recebimento dos contingentes populacionais excedentes das metrópoles. 
( )Em A Riqueza das Nações, Adam Smith critica o mercantilismo, alinhando-
se, nesse aspecto, com os fisiocratas franceses, mas deles se afastando ao 
sustentar que ao Estado compete conduzir e proteger a economia nacional na 
disputa por mercados com outros países. 
( )Ao longo do século XIX, nas regiões economicamente mais dinâmicas, 
capitalismo e sociedade industrial consolidaram-se em meio a um cenário de 
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crescente urbanização, de formação e expansão do mercado de trabalho 
assalariado, de uma economia cada vez mais permeada por bens 
industrializados, de concentração e centralização da riqueza e dos capitais em 
grandes empresas, e de um mercado em franco processo de mundialização. 
( )Maior potência industrial do século XIX, a Inglaterra, que optou pela 
mediação política de autoridades locais em suas colônias, não se beneficiou da 
corrida imperialista na mesma proporção alcançada por seus concorrentes 
diretos, como a Alemanha. 
 
Prova CACD ± 2015 ± Questão 51 
Iniciada nas últimas décadas do século XVIII, na Inglaterra, a Revolução 
Industrial é um processo que se prolonga no tempo. A partir de meados do século 
XIX, ela conheceu novo e extraordinário impulso, etapa normalmente definida 
como Segunda Revolução Industrial. Esse período é assinalado pela difusão do 
uso do aço, da eletricidade e do petróleo, entre outras inovações. Com referência 
a esse período da moderna industrialização, julgue (C ou E) os próximos itens. 
 
1 O ritmo da industrialização europeia, principalmente na Alemanha, 
Inglaterra e Itália, foi prejudicado pelo encarecimento das novas formas de 
energia e pela falta de mão de obra, decorrente da emigração em massa de 
europeus para os EUA e para a América do Sul. 
2 Incrementou-se o comércio internacional, tendo havido, ainda, expansão 
econômica da América Latina, particularmente da economia primária e de 
exportação. 
3 A utilização de novos materiais e fontes de energia ampliou a capacidade 
de produção e consolidou o capitalismo como sistema dominante. 
4 O processo industrial expandiu-se para os diferentes continentes e, 
simultaneamente, o sistema financeiro internacionalizou-se. 
 
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Exercícios comentados
 
Prova CACD ± 2004 
 
Há algo que não se pode dizer do século XX: que foi um tempo de brumas, 
silêncios e mistérios. Tudo nele foi a céu aberto, agressivamente iluminado, 
escancarado e estridente. E, no entanto, ele é ainda um enigma ² um claro 
enigma, parafraseando Drummond ², e dele não podemos fazer o necrológio 
completo. E porque findou como uma curva inesperada da história, em um 
astucioso desencontro do que achávamos ser o futuro, turvou nossa memória e 
nosso olhar. E tornou-se pedra e esfinge, com um brilho que ainda cega e 
desafia. O século XX foi, sem dúvida, um século das utopias. O seu andamento 
coincidiu com a máxima expansão das categorias fundamentais do mundo 
moderno ² sujeito e trabalho ², eixos que presidiram a atualização e 
exasperaram os limites do liberalismo e do socialismo, as duas grandes utopias 
da modernidade. E talvez por isso exiba uma característica única e contraditória: 
parece ter sido o mais preparado e explicado

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