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História Mundial Aula 03 - Estratégia - ABIN 2018

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Aula 03
História Mundial p/ ABIN (Oficial de Inteligência - Área 1) Pós-Edital
Professores: Diogo D´angelo, Pedro Soares
História Mundial
Agência Brasileira de Inteligência
WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ
2
Apresentação 
Olá caro aluno! 
 
 Nesta aula vamos acompanhar o movimento diplomático mundial de 1815 
até por volta de 1871, ponto 1.4 do edital. Abordaremos sucintamente o Concerto 
de Viena montado após a derrota de Napoleão e depois, sendo o mais 
importante para a prova, o período de crise desse sistema. 
 Para FRPSUHHQGHU� EHP� D� GHVWUXLomR� GD� LGHLD� GH� ³KHJHPRQLD� FROHWLYD´�
devemos abordar também a unificação da Itália e da Alemanha. Ao término das 
explicações, colocamos alguns exercícios para você! 
 Avante nos estudos! 
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WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ
3
1. A Restauração europeia 
Tendo passado o furacão napoleônico, que transformara o cenário europeu 
de maneira indelével, os líderes dos grandes países da Europa se reuniram em 
Viena para discutir o que fazer e traçar estratégias para montar um novo sistema 
internacional que tentasse, ao máximo, restaurar a ordem que existia antes da 
Revolução e evitar que novos conflitos desse gênero tornassem a ocorrer. 
Neste sentido, DV�³JUDQGHV�SRWrQFLDV´��FRQFHLWR�LQWURGX]LGR�QR�&RQJUHVVR�1, 
quais sejam, Áustria, Prússia, Rússia, Inglaterra e França2, reuniram-se em 
Viena para restabelecer a ordem anterior à Revolução Francesa, num 
movimento que Hobsbawm considera como uma tentativa de deter o curso da 
história.3 
Os princípios gerais que guiaram as negociações em Viena foram a 
Restauração dos territórios antes de Napoleão, da Legitimidade ± de entronizar 
as dinastias derrotadas ± e do Equilíbrio de poder entre os Estados europeus. 
Vamos problematizar cada um desses aspectos. 
A Restauração do mapa europeu, apesar de ser algo simples, pode enganar-
nos. De fato, houve um esforço considerável para retornar as fronteiras 
HXURSHLDV� DQWHULRUHV� j� 5HYROXomR�� $� )UDQoD� IRL� UHDOLQKDGD� jV� ³IURQWHLUDV�
QDWXUDLV´�� D� &RQIHGHUDomR� GR� 5HQR� IRL� GHVIHLWD� H� D� ÈXVWULD� FRQVHJXLX� VHXV�
territórios italianos. Contudo, houve mudanças significativas, as mais 
importantes no território alemão. As centenas de pequenos principados do 
Sacro-Império foram reduzidas para cerca de trinta e foram reagrupadas numa 
1 VISENTINI, Paulo Fagundes. Manual do candidato: história mundial contemporânea (1776-
1991): da independência dos Estados Unidos ao colapso da União Soviética. Brasília: FUNAG, 
2012, p. 45. 
2 A França participou do Congresso sendo representada por Talleyrand. Este argumentou que a 
França Restaurada fora vítima da Revolução e conseguiu fazer com que seu país mantivesse 
prestígio e influências nos negócios Europeus mesmo tendo sido o agressor responsável pelas 
guerras. Cf. Visentini, p. 45. 
3 HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1981, p. 127.
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WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ
4
nova organização, a Confederação Germânica, e a Prússia ganhou territórios a 
oeste (tornando-se um Estado descontínuo) próximos da França. 
'H�PDQHLUD�FODUD��D�FKDPDGD�³5HVWDXUDomR´�QmR�UHVWDXURX�R�PDSD�HXURSHX�
exatamente como ele existia antes. E o motivo disso repousa sobre o fato de que 
os grandes cinco pensaram, sob os auspícios ingleses particularmente, cujas 
capacidades militares se provaram ao longo das guerras napoleônicas, em uma 
QRYD� FRQILJXUDomR� TXH� SXGHVVH� WUD]HU� SD]� ³GXUDGRXUD´�� 3DUD� WDQWR�� ID]LD-se 
necessário remodelar o território alemão. A unificação não era uma saída 
possível. O poderio de um território alemão unificado causava temor na Europa. 
Contudo, ao invés de manter os principados alemães fragmentados ± o que daria 
grande margem de atuação para a França ± decidiram consolidar a Alemanha, 
conforme expressão utilizada por Kissinger,4 criando a tal Confederação citada 
acima. Os objetivos de estratégias internacionais relativos à criação dessa 
entidade política serão comentados mais à frente. 
 
4 KISSINGER, Henry. Diplomacia. Lisboa: Gradiva, 2007, p. 67. 
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5
 
A Europa central antes da Revolução Francesa 
 
A Europa Restaurada 
 
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6
 
A Legitimidade foi um princípio significativo para este período e selou a base 
sobre a qual se edificaria o sistema de Viena. Para além do retorno das dinastias 
aos seus respectivos tronos, a legitimidade inspiraria, em última análise, 
intervenções nos países europeus para esmagar revoluções contrárias aos reis 
legítimos. Foi o caso, por exemplo, da intervenção francesa na Espanha em 1823 
e, mais à frente, da intervenção russa na Áustria em 1848. As primeiras 
rachaduras sobre esse sistema, no entanto, apareceriam quando os países 
americanos começassem seus processos de independência, o que veremos 
adiante. 
Por fim, o Equilíbrio de poder era o grande objetivo dos pactuantes dos 
acordos de Viena. Uma nova ordem internacional se formava e se propunha a 
resolver os conflitos em conjunto, de modo a impedir novos conflitos e a 
emergência de uma nova hegemonia. 
O sistema internacional resultante, conhecido como Concerto Europeu, 
obteve relativo sucesso em manter a paz, já que somente em 1854 as potências 
entrariam em conflito na guerra da Criméia (Rússia versus França e Inglaterra), 
H�HVWDEHOHFHX�R�TXH�DOJXQV�DXWRUHV�FKDPDP�GH�³FRQGRPtQLR�GH�SRGHU´5 ou de 
³KHJHPRQLD� FROHWLYD´6 nas relações interestatais. Os mecanismos pelos quais 
conseguiram manter esse equilíbrio foi por meio: 
x Da Quádrupla Aliança (formada em 1814), composta pela Inglaterra, 
Áustria, Prússia e Rússia, cujo objetivo era atuar para manter o 
equilíbrio, colocando em xeque, particularmente, a França; 
x Da Santa Aliança, uma organização composta por Áustria (católica), 
Prússia (luterana) e Rússia (ortodoxa), em que se misturavam 
elementos consevadores da ordem política com aspectos religiosos. 
x De Congressos em que se discutiam os atritos e as questões 
internacionais, dos quais se destacam o Congresso de Aix-la-Chapelle 
5 Cf. Visentini, p. 45.
6 Cf. Cervo, p. 49. 
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em 1818, o de Troppau de 1820, o de Laybach de 1821 e o de Verona 
em 1822; 
Não entraremos em detalhes sobre o funcionamento do sistema e todas as 
tramas e movimentações diplomáticas do período. Aqui, cabe-nos saber: 1. A 
Inglaterra não apoiou a Santa Aliança e se recusou a aprovar qualquer medida 
que resultasse em compromissos internacionais baseados em princípios ± no 
caso, o princípio da legitimidade das casas reais europeias; 2. A Áustria possuía 
um governo muito conservador e necessitava do apoio terrestre russo, tanto 
quanto do auxílio diplomático britânico. Essa dualidade seria um problema 
adiante. 3. Não houve guerra de grande importância entre as potências até o 
estouro da guerra da Criméia. Ou seja, o sistema de Viena, também conhecido 
como sistema de Metternich (o diplomata austríaco que o montou) foi um 
sucesso durante tRGD� D� SULPHLUD� PHWDGH� GR� VpFXOR� ;,;� H� VHX� ³HVStULWR´� ± de 
discussão de problemas internacionais entre as potências ± permaneceu até as 
vésperas da I Guerra Mundial. 
Mais importante para o período estipuladono edital da ABIN é a crise desse 
sistema, ocorrida por uma série fatores, dentre os quais destacaremos a 
revolução de 1848, a guerra da Criméia e as unificações alemã e italiana. 
 
2. ³/H�3ULQWHPSV�GHV�SHXSOHV´��o ano de 1848 e a Primavera dos Povos 
 
As décadas de 1820 e 1830 foram marcadas por diversas insurreições 
revolucionárias em todo o continente europeu. Em 1820, países como a Grécia 
e Portugal observaram surgir, em seu seio, movimentos de caráter liberal e 
constitucionalista, os quais antagonizavam os interesses gestados pelas 
monarquias restauradas após o Congresso de Viena em 1815. Ao fervor liberal 
de 1820, somou-se, durante 1830, um crescente espírito nacionalista, o qual 
repercutiu com maior intensidade na França, com a queda dos Bourbon, nas 
regiões italianas, onde o ímpeto pela unificação crescia em ritmo acelerado, e 
também na Bélgica, Prússia, Espanha, Portugal e Polônia. Até mesmo do outro 
lado do oceano, nas antigas colônias ibéricas na América, viu-se o despontar 
revolucionário. 
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O ano de 1848, na esteira do processo desencadeado nas décadas de 20 e 
30, voltou a solapar o edifício sobre o qual se reerguera o concerto europeu no 
pós-1815, amplamente questionado pelos setores ligados às lideranças 
industriais e aos setores médios e pobres urbanos, sobretudo aqueles de 
inclinação socialista. Na realidade, o ano de 1848 foi de tal modo decisivo para 
o desenrolar de uma nova ordem política e institucional no cenário europeu, com 
reflexos também em outros continentes, que passou a ser conhecido pela 
DOFXQKD�GH�³3ULPDYHUD�GRV�3RYRV´� 
Eric Hobsbawm remonta, em sua obra, ao período inicial de detonação do 
ímpeto revolucionário Europa afora: 
Na França, o centro natural e detonador das revoluções européias, a 
república foi proclamada em 24 de fevereiro. Por volta de 2 de março, 
a revolução havia ganho o sudoeste alemão; em 6 de março, a Bavária, 
11 de março, Berlim, 13 de março, Viena, e, quase imediatamente, a 
Hungria; em 18 de março Milão e, em seguida, a Itália (onde uma 
revolta independente havia tomado a Sicília). Além disso, 1848 foi a 
primeira revolução potencialmente global, cuja influência direta pode 
ser detectada na insurreição de 1848 em Pernambuco (Brasil) e 
poucos anos depois na remota Colômbia. Num certo sentido, foi o 
SDUDGLJPD�GH�XP�WLSR�GH�³UHYROXomR�PXQGLDO´�FRP�R�TXDO��GDOL�HP�
diante, rebeldes poderiam sonhar e que, em raros momentos 
como no pós-guerra das duas conflagrações mundiais, eles 
pensaram poder reconhecer. (Grifo Meu)7 
 
Percebemos que, conforme aponta Hobsbawm, o ano de 1848 se caracteriza 
pela internacionalização dos anseios revolucionários. Como uma pólvora acesa, 
a revolução, iniciada por operários franceses em protestos contrários às medidas 
tomadas por seu monarca, rapidamente se espalha por quase toda a Europa, 
chegando até mesmo ao outro lado do Atlântico. Encontravam-se em marcha, 
como pontua Saraiva, três ideias-força na Europa, e que marcaram o curso 
dessas revoluções de 1848, afetando: 
(...) as relações internacionais: nacionalismo, democracia e 
interesse popular. As três são inter-relacionadas. A democracia era 
vista como emergência dos direitos do povo, de tal sorte que a cada 
demos corresponderia um Estado independente. Liberais e 
nacionalistas julgavam isso inevitável e justo, admitindo intervenções 
pela causa. Os conservadores preocupavam-se, tanto mais quando 
7 HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital (1848-1875), pág. 20.
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socialistas e teóricos raciais contribuíam para a efervescência das 
ideias.8 
 
A principal ideia motora das jornadas de 1848, ainda mais do que o 
liberalismo norteador das jornadas de 1820 e 30, era a ideia de nacionalismo. 
De operários socialistas a burgueses liberais, uma grande massa de populares 
tomou as ruas da Europa para reivindicar a soberania de suas nações (italianos, 
alemães, húngaros, sérvios, tchecos, eslavos, dentre outras) frente aos grandes 
impérios multiculturais assentados pelo concerto europeu de 1815. O Império 
Austríaco dos Habsburgos foi o mais afetado pela luta de diferentes nações 
envolvidas pelo seu imenso e heterogêneo império, levando à demissão de 
Metternich, o principal articulador do concerto de Viena, e ao enfraquecimento 
gradual dos austríacos no cenário europeu. 
Embora explosiva e quase simultânea no continente europeu, a revolução de 
1848 foi rapidamente sufocada pela articulação de elementos e grupos 
antirrevolucionários, particularmente os junker na Prússia, a nobreza e alta 
burguesia na França e o czar russo. Tão rápido quanto seu aparecimento foi seu 
fim. 
No entanto, apesar do cenário europeu ter retornado quase que fielmente ao 
ponto inicial, as jornadas de 1848 deixaram marcas indeléveis na cultura política 
regional: graças a ela Luís Napoleão chegou à presidência da França, passando, 
em 1852, mediante a um golpe de Estado, ao título de imperador como Napoleão 
III. Como imperador, Napoleão marcou os rumos da Europa por meio de ataques 
abertos ao concerto europeu de 1815, desmontando-o dentro de pouco tempo. 
Além disto, outras marcas de 1848 foram: o enfraquecimento austríaco no 
cenário europeu, o fortalecimento dos nacionalismos italiano e alemão, sob a 
gerência da Prússia, e o surgimento de uma nova força política que viria a 
dominar a cena internacional nas décadas posteriores, qual seja, os socialistas, 
comunistas e anarquistas. Apesar de ter sido apenas uma primavera passageira, 
8 SARAIVA, José Flávio Sombra. História das Relações Internacionais Contemporâneas, pág. 76.
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os ventos de 1848 continuaram a ser sentidos nas estações que ainda estariam 
por vir. 
 
Mapa dos movimentos de 1848 
3. A guerra da Crimeia e a crise do sistema de Viena 
 
Após a revolução de 1848, a Europa passaria por várias transformações, 
alcançando suas relações interestatais. Muito significativa seria a saída, finda a 
revolução, de um dos grandes idealizadores e criadores da ordem Viena do 
governo austríaco, Metternich. Não levaria muito tempo depois desses eventos 
para o que o sistema criado após Napoleão viesse a naufragar. 
A crise logo veio em 1854, envolvendo três das cinco grandes potências, 
Rússia, França e Grã-Bretanha, num conflito sobre a questão oriental, ou seria 
melhor dizer, da desintegração do Império Otomano e os Bálcãs. Vejamos os 
meandros deste conflito que poria fim ao sistema de Metternich. 
Como vimos, em 1848, o sobrinho de Napoleão se tornou o primeiro 
presidente da II República Francesa e em 1852, proclamou-se, depois de um 
plebiscito, imperador dos franceses. Este personagem histórico foi central para 
os principais desenvolvimentos que ocorreram na política internacional do 
período, junto com Bismarck, e falaremos bastante dele aqui. Essa relevância se 
deve ao fato de que Napoleão III odiava o sistema de Viena, que havia sido 
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criado, segundo sua visão, para controlar a França e impedi-la de crescer. 
Portanto, suas diretrizes para as relações internacionais francesas desde que 
assumiu o poder foram voltadas para, sistematicamente, tentar mudar o mapa 
europeu criado em 1815 e fazer da França novamente uma potência 
hegemônica. Como veremos, ele não terá êxito. 
Para além dessa visão ± acertada± do Congresso de Viena, algumas 
características pessoais de Napoleão III são significativas para compreendermos 
o papel francês na construção da ordem internacional que se seguiria à guerra 
da Crimeia. Ele tinha sonhos bastante grandiosos para a França, mas, segundo 
H. Kissinger, era incapaz de seguir firmemente em seus propósitos quando 
surgiam dificuldades; sua habilidade para lidar com questões diplomáticas era 
bastante limitada porque se submetia, por vezes, à busca por popularidade 
interna; deixou-se guiar por seus ideais de autodeterminação nacional, mesmo 
quando interesses franceses pediam o contrário; por fim, demonstrou grande 
incapacidade na análise e na tomada de decisão quando surgiram conflitos e 
oportunidades durante o período de seu governo. 
Analisando o quadro das relações interestatais no início de seu governo, 
Napoleão III percebeu que seria necessário, de imediato, acabar com a Santa 
Aliança e os acordos de defesa mútua instaurados em Viena. Para tanto, seria 
necessário destruir a confiança mútua entre as potências, criando problemas em 
áreas periféricas da Europa, longe do centro dos interesses de seus rivais, ou 
seja, o centro europeu. 
O local e o pretexto encontrado por Napoleão para concentrar suas energias 
foram os Bálcãs, num período em que o Império Otomano se desintegrava. As 
potências envolvidas na região eram a Rússia, diretamente interessada na 
geopolítica local e antiga rival dos otomanos, a Grã-Bretanha, por seu interesse 
na manutenção do controle dos estreitos sob domínio Otomano (e tutela inglesa, 
claro) e a Áustria, que, embora aliada da Rússia, não queria o domínio russo na 
região. 
Napoleão III decidiu ali atuar para desafiar a Rússia. Esta escolha foi feita por 
dois motivos: 1) porque o governo do czar Nicolau I era hostil a Napoleão, já que 
este havia subido ao poder por meio de uma revolução, o que causava medo 
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aos russos. E 2) porque esta hostilidade russa em relação aos franceses era, na 
análise de Napoleão, uma tentativa de dotar as potências conservadoras de uma 
unidade de propósito que havia tornado frágil desde 1848. 
Desmantelar a Santa Aliança, jogando seus membros uns contra os outros 
seria um grande golpe contra o sistema de Viena e deixaria aberto o futuro para 
mudanças. De fato, sem a Rússia, a Áustria ficaria muito vulnerável aos ataques 
franceses e italianos em suas possessões na península, aberta ao sul nos Bálcãs 
e isolada internacionalmente. A Prússia, por sua vez, liberta do controle russo 
poderia ambicionar crescer na Alemanha às expensas austríacas. Sem a Santa 
Aliança, também a Rússia deixaria de contar, inicialmente, com colaboradores 
no centro europeu para barrar a França. Essa estratégia adotada por Napoleão 
mostrar-se-ia a mais inteligente e a única exitosa de todo seu governo. 
Para entendermos bem este conflito da Crimeia, precisamos ter ciência de 
um componente das relações internacionais da época que não faz parte, ou não 
faz tanto, do sistema internacional atual: o prestígio. Uma variável difícil de ser 
mensurada, o prestígio era de suma importância para os países da época e era 
indicador da riqueza, poder, cultura, capacidade de influência e interferência nos 
outros países, dentre tantas outras coisas. E esse não era somente um fator de 
importância para as monarquias ou para a Europa, mas para todo o Ocidente. 
Pois foi neste ponto específico que Napoleão decidiu atacar a Rússia. Não 
que seu intento inicial já fosse de provocar uma guerra, mas diminuir o prestígio 
russo. Para tanto escolheu um motivo que não só provocaria o czar, como 
também tinha chances de minar as relações entre a Áustria (católica) e a Rússia 
(ortodoxa), qual seja, a proteção dos lugares sagrados e dos cristãos em terreno 
otomano.9 
Em 1852, a França exigiu dos otomanos que entregassem o controle dos 
lugares sagrados para monges católicos, negando aos ortodoxos o papel 
protetor que tinham até então. A irritação russa foi imediata e justamente o que 
o imperador francês esperava. Nicolau I imediatamente tentou reverter a 
situação, buscando mostrar aos países da Europa ocidental que os otomanos 
9 BRIDGE, F.R.; BULLEN, Roger. The great powers and the European states system (1814-
1914). Londres: Pearson & Longman, 2005, p. 114. 
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temiam mais os russos que os franceses. A primeira tentativa foi de enviar uma 
missão diplomática pedindo que o ministro turco que havia cedido aos franceses 
fosse demitido e reconhecendo que o czar russo fosse reconhecido como 
protetor dos cristãos do império otomano, tal como havia sido estabelecido em 
acordo de 1774. Os turcos, no entanto, negaram e as tensões se ampliaram. 
Preocupado com a repercussão da missão diplomática e do aumento das 
hostilidades turco-russas, o czar enviou outras missões à Inglaterra e à Áustria, 
para assegurá-las de que respeitaria os interesses das potências na região. 
Como resposta à negativa do governo do sultão, tropas russas invadiram as 
províncias da Moldavia e da Valáquia, então sob domínio turco. O governo do 
czar afirmou que não desocuparia o local até que suas demandas fossem 
atendidas. 
Esse movimento foi visto pela Grã-Bretanha e pela Áustria com bastante 
preocupação. Para a primeira, isso era sinal do avanço russo sobre os estreitos 
entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo, o que era um ponto bastante sensível 
para a política externa inglesa. Para a última, o controle dos russos naquelas 
províncias colocava bastante pressão sobre as fronteiras ao sul da monarquia 
austro-húngara. As potências tentaram então uma solução por meio de um 
congresso em 1853, que falhou por não atender as expectativas russas. Para 
frear o que era visto como expansionismo russo, os ingleses enviaram uma frota 
para águas turcas. Essa atitude de confrontação britânica havia colocado, 
irrevogavelmente, o Reino Unido numa aliança com a França contra a Rússia. 
Essas indicações de apoio das potências ocidentais deram confiança ao 
Império Otomano, que declarou guerra ao Império Russo em 4 de outubro de 
1853. Pouco depois, os russos conseguiram uma vitória naval importante em 
Sinope. Em sequência, em março de 1854, o Reino Unido e a França deram um 
ultimato à Rússia, para que desocupasse as províncias turcas, o que foi rejeitado 
em São Petersburgo. Iniciava-se a Guerra da Crimeia. 
O czar buscou apoio europeu, mandando missões diplomáticas aos seus 
aliados em Berlim e em Viena, querendo deles declarações de neutralidade. 
Contudo, essas missões falharam e, com elas, a Santa Aliança. 
 
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Em termos gerais, a guerra da Crimeia marcou uma alteração definitiva das 
relações internacionais na Europa. A Inglaterra e a Rússia, que até então 
possuíam o protagonismo no sistema de Viena, foram substituídas por uma 
França revigorada depois de derrotar os russos, seus principais adversários 
desde 1815. Napoleão conseguira transformar um conflito localizado, causado 
por motivos aparentemente pequenos, em uma oportunidade de completa 
mudança do sistema europeu. 
Para a Áustria, a guerra foi um grande dilema.10 Ela precisava da Rússia para 
manter-se segura interna e externamente, como mostrou a revolução de 1848, 
mas sua presença nos Bálcãs era fragilíssima. No entanto, caso a Rússia 
vencesse, estabelecer-se-ia ao sul da Áustria, agravando a situação. Portanto, 
naquele momento, sua segurança exigia o enfraquecimento russo e a 
necessidadede uma região de buffer entre os dois Estados. Assim, contra meio 
século de relações diplomáticas amigáveis, a Áustria lançou um ultimato, em 
julho de 1854, para que os russos desocupassem as províncias da Moldávia e 
da Valáquia. Diante da possibilidade de outra potência se juntar às outras já em 
guerra, o czar cedeu. 
O fim da aliança austro-russa foi de grande importância para os 
desenvolvimentos posteriores na Europa. Os czares que se seguiram não 
perdoaram a Áustria pelo que fez. 'LVVH�R�F]DU�j�pSRFD��³the time has come not 
to fight the Turks and theirs allies, but to concentrate all our efforts against 
perfidious Austria and to punish her severely for her shameful ingratitude´�11 
Incapaz de perceber sua dependência em relação à Rússia, a Áustria 
enfraqueceu-se no cenário internacional, mas particularmente na Confederação 
Alemã. Bismarck notaria esse isolamento internacional e aproveitar-se-ia dele 
depois para expulsar os austríacos da Alemanha. 
As potências ocidentais auxiliadas diplomaticamente pela Áustria, depois de 
vitória expressiva em Sebastopol em 1855, decidiram negociar a paz. O tratado 
10 Idem, p. 118. 
11 (P� WUDGXomR� OLYUH�� ³&KHJRX� D� KRUD� QmR� GH� OXWDU� FRQWUD� RV� WXUFRV� H� VHXV� DOLDGRV�� PDV� GH�
concentrar todos os nossos esforços com a pérfida Áustria e para puni-la severamente por sua 
YHUJRQKRVD�LQJUDWLGmR�´�Apud Bridge; Bullen, 2005, p. 119. 
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de Paris estabelecia duras perdas para os russos, como o fim da presença naval 
russa no Mar Negro, a entrega da Bessarábia para a Moldávia e a embocadura 
do rio Danúbio aos turcos. A perda da Bessarábia, por demanda austríaca, foi 
um grande golpe ao orgulho russo e que fez aumentar o ódio em relação ao 
governo de Viena. 
 
Mapa das operações militares da Guerra da Crimeia 
Embora uma vitória diplomática para Napoleão, por ter colocado fim às 
instituições de 1815, a guerra não resultou numa mudança expressiva do mapa 
europeu no Ocidente, tal como ele esperava e pelo qual ele continuaria lutando 
até o fim de seu governo. 
Para a Inglaterra, significou a perda da preponderância que ela possuía até 
então nos assuntos diplomáticos europeus, passando a liderança para a França. 
Para a Rússia, o acordo de 1856 levou a uma mudança importante no foco de 
sua política exterior, como nos dizem Bridge e Bullen: 
The Russians were deeply humiliated by the exclusion of their 
naval forces from the Black Sea. They regarded it as an affront 
to their status as a great power. After the Peace of Paris the 
principal objective of their foreign policy was to rid themselves of 
this humiliation. Under Nicholas I Russia had been the guardian 
of the status quo LQ�(XURSH��«���$IWHU������WKH�PDLQWHQDQFH�RI�
order in Europe was relegated to second place. This was a 
SURIRXQG� FKDQJH�� ZKLFK� VLJQLILFDQWO\� DOWHUHG� 5XVVLD¶V� UHODWLRQV�
ZLWK�WKH�RWKHU�SRZHUV���«��,Q�WKH�GHFDGH�DIWHU������WKH\�>8QLWHG�
Kingdom and Russia] had worked together in Europe to contain 
the French threat to the 1815 settlement. On most issues the 
other powers had been forced to follow either a British or a 
Russian lead. In the fifteen years after the Crimean War the 
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British and the Russians ceased to co-operate; consequently 
they ceased to dominate Europe.12 
 
Finalizada a Guerra da Crimeia, um novo momento iniciar-se-ia nas relações 
entre os Estados europeus. Ao desmoronamento do sistema de Viena, 
seguiram-se quase duas décadas de guerras intermitentes entre as grandes 
potências, que remodelaram a Europa, particularmente as guerras de unificação 
da Itália e da Alemanha. 
(�R�TXH�YLULD�D�VXEVWLWXLU�R�PRGHOR�GH�0HWWHUQLFK"�4XDO�VHULD�D�³OLQJXDJHP´�
utilizada nas relações entre os países a partir daquele momento? Em uma 
palavra, cheia de significado, a Realpolitik. 
Enquanto que o sistema de Viena havia mantido em cheque ambições dos 
SDtVHV�SRU�PHLR�GRV�FRQJUHVVRV�H�GH�XP�DSHOR�³PRUDO´�DRV�PHPEURV��R�ILP�GD�
legitimidade como princípio para o relacionamento entre as unidades políticas 
faria com que a nova configuração fosse guiada pelas simples considerações de 
poder ± militar em especial. A partir de então, estabelecendo-se definitivamente 
após 1871, seria o cálculo de força, e não princípios morais ou de caráter 
religioso, o guia para a formação de alianças, para a definição dos momentos de 
ataque ou, em última análise, para a manutenção do equilíbrio entre os Estados. 
Com a Realpolitik a linguagem do poder levaria adiante uma busca incessante 
por manter o equilíbrio por meio da força militar ± a chamada paz armada que 
vingaria de 1871 a 1914. 
Passemos então para algumas características do período após o fim do 
sistema de Viena e então para as unificações italiana e alemã. 
12 Idem, p. 124-�����(P�WUDGXomR�OLYUH��³2V�UXVVRV�VH�VHQWLUDP�SURIXQGDPHQWH�KXPLOKDGRV�SHOD�
exclusão de suas forças navais do Mar Negro. Eles perceberam isso como uma afronta a seu 
status de grande potência. Depois do acordo de Paris, o principal objetivo de sua política externa 
foi livrarem-se dessa humilhação. Sob Nicolau I, a Rússia foi a guardiã do status quo na Europa. 
(...) Depois de 1856, a manutenção da ordem na Europa foi relegada a segundo plano. Isso foi 
uma profunda mudança, que significativamente alterou as relações da Rússia com as outras 
potências. (...) Na década depois de 1841, eles [Reino Unido e Rússia] trabalharam juntos para 
conter a ameaça francesa ao sistema de 1815. Na maioria dos assuntos, as outras potências 
foram forçadas a seguir ou a liderança britânica ou russa. Nos quinze anos após a guerra da 
Crimeia, britânicos e russos cessaram de cooperar; consequentemente, eles deixaram de 
GRPLQDU�D�(XURSD�´ 
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4. As relações entre os Estados entre 1856 a 1871 
4.1 As características gerais 
As alianças e os princípios estabelecidos no Congresso de Viena mantiveram 
a Europa em relativa paz durante 40 anos. O temor de novas guerras provinha 
não só do receio de mudanças que alterassem o equilíbrio de poder, mas 
também da possibilidade de conflitos domésticos nas monarquias mais 
tradicionais e conservadoras, particularmente pelo surgimento de movimentos 
liberais e nacionalistas ± que o digam a Áustria e os principados italianos. Depois 
da guerra da Crimeia, no entanto, isso se alteraria substancialmente, com alguns 
OtGHUHV�FDSLWDQHDQGR�HVVHV�IHUYRUHV�H�VHQWLPHQWRV� µUHYROXFLRQiULRV¶�HP�Do}HV�
belicosas para alcançar seus objetivos políticos. Assim, a guerra seria um meio 
de fortalecer os regimes conservadores contra os inimigos internos, a lógica 
inversa do período pré-1848.13 Neste sentido, seriam as monarquias mais 
tradicionais a revolucionar o sistema de Estados neste momento! 
A guerra deixou de ser vista como um grande perigo à estrutura social, mas 
sim o meio pelo qual se alcançaria as alterações que a elite política considerava 
importante. Neste momento histórico, não se vislumbrava na Europa a 
possibilidade de uma conflagração generalizada que envolvesse todas as 
potências. Os conflitos eram localizados e com finalidades muito claras e 
pontuais. 
Depois da assinatura da paz de 1856, a ideia de manutenção do status quo 
D�WRGR�FXVWR�IRL�DEDQGRQDGD�H�HP�VHX�OXJDU�IRL�FULDGR�XP�VLVWHPD�³IURX[R´��VHP�
amarras, que permitiu as mudanças territoriais que se seguiram. Era o fim das 
alianças de longo prazo baseadas em princípios gerais. Agora chegava o 
momento das alianças de curto prazo, agressivase de objetivos claros. A paz 
existiria enquanto ela fosse do interesse dos Estados, como afirmou o ministro 
da Baviera em Viena já em 1857: 
The cabinets want peace, because they and Europe require it, 
and they work together in this direction at every opportunity, bur 
more or less as their own interests demand and without having 
ay common line in principle. That such a state of affairs is 
precarious is quite obvious. Many things are left to chance, many 
things to the boldness of one cabinet or another. The peace has 
13 Idem, p. 126. 
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no firm basis; it will last only so long as it remains a 
necessity for one power or another and so long as interests 
do not come all to openly into conflict.14 (Grifo nosso) 
 
Sendo essas as características mais gerais do sistema, vamos ver como se 
comportaram a Rússia, a França e a Grã-Bretanha nesse período (deixaremos 
a Itália e a Prússia para comentários detalhados a parte). 
$�5~VVLD�FHVVDUD�GH�VHU�D�³SROtFLD´�GD�(XURSD��1mR�Vy�VHX�FRPSURPHWLPHQWR�
com a ordem de Viena havia deixado de existir, como dito acima, como também 
seus governantes perceberam as fraquezas russas em face de seus adversários 
ocidentais. O poder militar russo já não era páreo para lidar com as ameaças 
francesas ou britânicas. Também economicamente, a Rússia não era capaz de 
investir tanto no exército quanto na marinha, ficando à mercê da atuação 
marítima inglesa, à época bastante hostil aos russos. Necessitando atuar em 
várias áreas internamente para dinamizar seu país (como viria a fazê-lo com a 
abolição da servidão em 1861), o czar limitou sua atuação internacional para a 
revisão do tratado de Paris, particularmente a exclusão do Mar Negro. 
Não que a Rússia não tivesse importância nos jogos de poder entre os 
Estados, mas sua vontade de vingança contra a Áustria e sua atitude pró-Prússia 
a levariam a ficar à margem dos principais eventos que ocorreriam próximos a 
sua fronteira. Suas atuações mais significativas externamente seriam em direção 
ao Oriente e não ao Ocidente. 
A França, por sua vez, embora tenha alcançado seu objetivo ao destruir o 
concerto de 1815, não conseguiu a revisão dos territórios a oeste que desejava. 
Tentou então, sem obter sucesso, uma entente entre a França, o Reino Unido e 
a Rússia para controlar os assuntos e revisar o mapa europeu. A desconfiança 
russa e a falta de interesse inglês fariam naufragar esse plano. 
14 Apud Bridge; Bullen, 2005, p. 129. (P�WUDGXomR�OLYUH��³2V�JDELQHWHV querem paz porque eles 
e a Europa a necessitam e porque eles trabalham juntos nessa direção a cada oportunidade, 
mas mais ou menos segundo seus interesses a demandam e sem haver qualquer princípio. Que 
tal estado é precário é bastante óbvio. Muitas coisas são deixadas à sorte, muitas coisas para a 
ousadia de um gabinete ou outro. A paz não tem base firme; ela durará enquanto ela continuar 
uma necessidade para uma potência ou outra e enquanto interesses não se tornarem 
abertamente conflituosos´� 
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Devido a isso, forçaria sua mão novamente nas terras italianas, aliando-se 
com o reino do Piemonte contra a Áustria, desencadeando um processo que 
resultaria na unificação italiana. O que ele não esperava era que, tão logo a 
Áustria fosse derrotada, o reino da Itália começaria a criar suas rusgas com o 
Império francês ± como se verá adiante. 
Na sua contínua busca por prestígio e por comando dos assuntos europeus, 
Napoleão III iniciaria uma política voltada para o centro do continente em 
flagrante desacordo com a tradição da política externa francesa: ao invés de 
buscar as múltiplas independências da Alemanha, acabaria por precipitar um 
movimento que resultaria na unificação alemã. 
Tentou ainda expandir o Império para além-mar, forçando sua mão na 
América ao instalar Maximiliano no México ± um império que duraria pouco 
tempo e cujo resultado foi desastroso ± e expandir os territórios franceses na 
África e na Ásia. Disso resultou que as forças francesas ficaram perigosamente 
divididas em várias partes do mundo e na hora do conflito com a Prússia em 
1870, fariam bastante falta. 
O Reino Unido, depois da conferência de Paris, deixaria em segundo plano 
seu papel de líder diretor do equilíbrio europeu, resignando-se a um 
isolacionismo cada vez mais intenso, cuidando somente para que a Rússia não 
se envolvesse em seus planos para o Oriente e que a França não avançasse 
sobre a Bélgica ± o grande sonho de Napoleão III. Esta recusa tácita em imiscuir-
se nos assuntos do continente permitiria a criação dos dois novos Estados que 
se constituiriam em grandes rivais, particularmente o Império alemão. Quando 
se deu conta do que sua ausência havia causado, já seria tarde demais. 
De modo geral, esse seria o panorama até 1871. Você deve ter percebido 
que deixamos a Áustria de fora. Isso porque ela está envolvida nas duas guerras 
de unificação de que se falará agora. 
4.2 A Unificação italiana ± obra de Cavour 
A unificação italiana esteve inserida em um complexo jogo de interesses por 
parte das principais nações europeias e de reinos e possessões estrangeiras 
d
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internas à península italiana. O interesse nacionalista em torno da unificação 
italiana, também conhecida como Risorgimento, remonta-se às consequências 
diretas para a estabilidade da região advindas do pós-Congresso de Viena, 
avançando até os anos de 1870-71, momento em que o Reino da Itália se 
consolidaria em ocasião da Guerra Franco-Prussiana e da tomada de Roma. 
O Congresso de Viena, conforme visto, teve por objetivo a reorganização da 
Europa pós-napoleônica, por meio da consolidação de um concerto europeu que 
privilegiasse a política de alianças e a repartição de poderes entre as principais 
nações europeias, firmadas, sob a égide da Quádrupla Aliança, em torno da 
Inglaterra, Áustria, Prússia, Rússia e, mais tarde, também a França. 
A divisão da península itálica remonta a séculos de ocupação por parte de 
diferentes povos ao longo de quase dois milênios de história. Ocupada ao longo 
dos anos por romanos, germânicos e descendentes dos primeiros habitantes da 
região, a península desenvolveu-se segundo uma preponderante 
heterogeneidade cultural, alavancadas segundo a distância territorial, o que 
pode ser percebido ainda na atualidade quando se compara o norte e o sul da 
Itália. Todavia, os habitantes da península compartilhavam traços linguísticos em 
comum (o que não significa dizer a mesma língua) remontados ao italiano ali 
falado há séculos, bem como à tradições e costumes similares. Porém, coube à 
religião católica, assentada em torno de Roma, sede do papado, o fio condutor 
que ajudou a cimentar os vínculos culturais entre os diferentes territórios 
italianos. 
No início do século XIX, em ocasião das guerras napoleônicas, a região foi 
amplamente envolvida nos interesses franceses, os quais levaram à formação 
de reinos favoráveis a Napoleão, que colocou no trono do Reino de Nápoles o 
seu próprio irmão, José Bonaparte. Derrotado Napoleão, e formada a Santa 
Aliança em 1815, o território italiano foi reestruturado segundo as mesmas 
prerrogativas do Congresso de Viena, as quais se assentavam no 
reestabelecimento da tradição monárquica anterior a Napoleão. 
Além de reempossar as dinastias derrubadas com as guerras napoleônicas, 
o Congresso de Viena dividiu o território italiano de modo a balancear os 
interesses estrangeiros sobre a península.O norte da Itália, a se dizer, a 
c
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popularidade entre os habitantes locais. No início de 1820 houve o surgimento 
de diferentes sociedades secretas envolvidas em torno da defesa da autonomia 
política da Itália, sociedades estas que orbitavam entre os ideais maçônicos e 
republicanos, como a Carbonária, criada pelo general francês e cunhado de 
Napoleão Bonaparte, Joaquim Murat, em Nápoles, e o ideal de constituição de 
uma Itália monárquica sob o governo temporal do papado, o que foi defendido 
pelos neoguelfos, liderados por Vincenzo Gioberti. 
Um ponto em comum entre estas sociedades secretas foi, apesar das 
diferentes inclinações políticas e ideológicas, a defesa de uma Itália unificada. 
No entanto, suas pretensões não conseguiram atingir o apelo popular, 
restringindo-se a poucos grupos ligad s às elites locais, sobretudo em Nápoles 
e na Sicília. Os levantes de 1848, que atingiram grande parte da Europa, deram 
início de facto à luta pela unificação italiana. Neste mesmo ano, Mazzini deu 
início ao movimento Giovine Italia15, o qual contou com o apoio de expoentes 
políticos como Giuseppe Garibaldi, que compôs por pouco tempo a organização. 
As pretensões da Jovem Itália foram amplamente apoiadas pelo rei Carlos 
Alberto, do Reino da Sardenha, o qual, por inclinação liberal e nacionalista, 
apoiou militarmente os revolucionários, declarando guerra contra a Áustria neste 
mesmo ano, sendo, no entanto, derrotado e levado a abdicar do trono em favor 
de seu filho, Vitor Emanuel II. 
Um dos principais aportes ideológicos do nacionalismo italiano verificado nas 
jornadas de 1848 foi o jornal Il Risorgimento, fundado pelo piemontês Camilo 
Benso, o conde de Cavour. Sua influência sobre o movimento revolucionário foi 
tamanha que se atribui aos seus escritos a principal fonte de inspiração do rei 
Carlos Alberto na declaração de guerra à Áustria, bem como da luta em outras 
áreas da Itália, que em 1848 chegou a ter inúmeras insurreições declarando 
diferentes repúblicas, como a República romana, que seria afogada, assim como 
as demais, por uma coalização de forças oriundas das monarquias católicas da 
França, Espanha e Áustria. 
O conde de Cavour se destacou como o principal artífice da unificação 
italiana, graças a sua exímia formação intelectual, seu ímpeto político e sua 
15 Traduzido ĐŽŵŽ� ?:ŽǀĞŵ�/ƚĄůŝĂ ? ?
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tenaz capacidade de articulação diplomática. Cavour viajara em sua juventude 
por toda a Europa, tendo frequentado os melhores institutos educacionais, o que 
fora possível graças a sua herança aristocrática. Em suas viagens, o conde se 
enamorara pelo sistema político britânico, e buscara desde então articular a 
consolidação de um sistema liberal que pudesse tornar possível a modernização 
política e econômica da Itália. 
O principal empecilho, em sua opinião, para a consolidação de sua estratégia 
de modernização era a falta de coesão política entre os diferentes territórios 
italianos, deflagrado pelo constante intervencionismo estrangeiro nos assuntos 
internos da região, sobretudo por parte da Áustria. As derrotas sofridas, ao 
término de 1848, pelos nacionalistas i ianos não foram interpretadas como algo 
definitivo pelo conde, o qual percebera, pelos rumos tomados, que a causa 
unificadora necessitava de um Estado forte a conduzi-la, e, principalmente, do 
apoio de aliados externos. Ele buscaria implementar uma arrojada e intricada 
política externa favorável à causa a partir de 1852, quando foi convidado pelo rei 
Vítor Emanuel II da Sardenha a assumir o cargo de Primeiro-Ministro. Seu 
principal objetivo seria a mobilização internacional à questão italiana. 
Como presidente do Conselho do Reino da Sardenha (Primeiro-Ministro), 
Cavour deu início a uma série de largas reformas políticas e econômicas na 
região, melhorando a agricultura local, investindo na expansão da indústria, 
sobretudo na área de têxteis, ampliando o comércio com outras áreas da Itália e 
com outros países. Suas reformas tinham por objetivo colocar em prática as 
ideias que havia muito gestara em sua mente, sobretudo como um espaço de 
treinamento para algo maior: levar as mudanças para toda a Itália, sob a égide 
da coroa da casa de Savoia. 
Como dito, Cavour bem sabia que os reinos italianos não eram suficientes 
para expulsar os austríacos dos territórios do norte, e este deveria ser o primeiro 
alvo da Sardenha, antes que pudesse mirar o sul, sob influência francesa. Ocorre 
que a Guerra da Criméia, da qual já falamos, abriu um novo horizonte de 
expectativas para as pretensões de Cavour. Ele ponderara que o auxílio à 
coligação franco-britânica poderia suscitar na comunidade internacional o auxílio 
de que necessitava. Terminada a guerra em 1856, com a vitória da coligação, o 
Reino da Sardenha cresceu em estima junto ao Imperador Napoleão III, em 
a
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detrimento de um enfraquecimento gradual da Áustria. O imperador francês 
analisava que um apoio à Itália poderia significar um enfraquecimento ainda 
maior da influência austríaca e, consequentemente, do próprio concerto 
europeu, já razoavelmente desestruturado por conta da guerra.
Em 1858, Napoleão III e o conde de Cavour se encontraram para debater a 
questão da presença austríaca no norte da Itália, e deste encontro surgiu o Pacto 
de Plombières, pelo qual firmava-se o apoio francês à Sardenha em caso de 
ataque externo oriundo da Áustria. Pelo pacto, a França reconhecia a causa 
italiana e aceitava a criação de um Reino unificado da Itália, no entanto, este 
reino deveria abranger as regiões da Lombardia, Veneza, dos ducados de Parma 
e Modena e o norte dos Estados Pontifícios. No centro da península formar-se-
ia um novo reino sob a proteção de Napoleão, em torno do ducado da Toscana, 
enquanto que o restante dos territórios papais e o Reino das Duas Sicílias 
permaneceriam em seus lugares. Ademais, todo o território das províncias de 
Savoia e Nice seria entregue à França em pagamento por seu auxílio militar.16 
O acordo correspondia exatamente aos interesses de Napoleão: 
primeiramente, ajudaria a desmantelar ainda mais a influência austríaca no 
concerto europeu, em segundo lugar conseguiria construir mais um reino vizinho 
leal à coroa francesa, sem que, para tanto, este reino pudesse significar um 
perigo para os interesses franceses. Este era o principal objetivo de Napoleão 
em não aceitar uma completa unificação da península itálica sob uma mesma 
coroa. De certo, este acordo não correspondia aos interesses originais de 
Cavour, o qual advogava pela plena unificação, porém, ao menos por ora, 
representaria uma grande ajuda para os nacionalistas. 
 Entusiasmado pela vitória no campo diplomático, Cavour logo tratou de 
EXVFDU� ³DQLPDU´� R� H[pUFLWR� DXVWUtDFR� D� DWDFDU� RV� VHXV� H[pUFLWRV�� R� TXH�
conseguiria em 1859, por meio de uma série de manobras militares nas fronteiras 
com a Áustria, a qual respondera com um ultimato ao rei Vítor Emanuel II, que 
acabou por ser ignorado. O prestígio do governo austríaco, tópico do qual 
também já tratamos, os impelia ao ataque, o que afastava dos austríacos 
qualquer chance de apoio por meio de uma coalização internacional baseada 
16 Idem, p. 138. 
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nos tratados do Congresso de Viena, uma vez que o ataque fora desferidopor 
ela e não pela Sardenha. 
Napoleão III, honrando o pacto firmado, enviou uma tropa de 100 mil 
soldados para a Sardenha, a fim de combater as forças austríacas. Transcorridas 
as batalhas, com sucessivas derrotas, os austríacos decidiram firmar um 
armistício com os franceses. Napoleão, por sua vez, estava impaciente com os 
rumos inesperados que a participação francesa na guerra gerou dentre os 
católicos franceses, que protestavam contra o imperador devido aos ataques 
desferidos nos territórios sob controle do Papa (vale lembrar que os franceses 
ainda eram, em sua ampla maioria, católicos romanos), e temia que a 
continuação da guerra pudesse levar os protestos a se tornarem uma irrefreável 
revolução. Havia ainda um amargo tempero na caldeira francesa: a possibilidade 
de apoio prussiano à Áustria, o qual fora oferecido em troca de um maior 
protagonismo prussiano dentro da Confederação germânica. 
Em resposta a estes problemas, Napoleão assinou em 11 de julho de 1859 o 
armistício de Villafranca com a Áustria, por meio do qual a França receberia 
desta o controle da Lombardia, que seria passada para a Sardenha, enquanto 
que os reinos e ducados centrais da Itália voltariam a ter os seus governos pró-
Áustria reestabelecidos. A atitude de Napoleão, que feria gravemente o Pacto de 
Plombières, foi ferozmente contestada por Cavour e pelo rei Vítor Emanuel, mas 
sem gerar nenhuma comoção por parte da França. A desilusão levou Cavour a 
demitir-se do cargo de Primeiro-Ministro, o qual voltaria a ocupar em breve. 
Nesse interregno, o rei Vítor Emanuel se viu obrigado a ratificar o armistício por 
meio do Tratado de Zurique. 
A França, apesar das aparências, nada ganhara com o armistício. Napoleão 
logo se viu entre a cruz e a espada: por um lado, ela sabia que não poderia exigir 
os territórios de Nice e Saboia, conforme previsto no pacto original com a 
Sardenha, uma vez que a guerra foi interrompida, e por outro, não havia 
justificativa para a participação francesa nos eventos militares na Itália sem que 
os franceses tivessem ganho nenhuma vantagem com a guerra. 
Esta foi uma das primeiras grandes derrotas diplomáticas de Napoleão III, 
que, no entanto, acabou por ser amenizada graças a um acordo vantajoso para 
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franceses e sardo-piemonteses: Cavour, novamente empossado como Primeiro-
Ministro, prometeu entregar Nice e Saboia à França, caso Napoleão apoiasse a 
anexação dos territórios centrais da Itália pela Sardenha, o que fora referendado 
mediante uma série de plebiscitos votados nessas regiões miradas, todos 
favoráveis, no fim, à anexação. Para resgatar um pouco de seu prestígio, 
Napoleão III decidiu aceitar o acordo. Como se não bastasse, os recentes 
eventos haviam chamado a atenção dos ingleses para a causa italiana, a qual 
passaram a defender de forma integral, de modo a contrabalancear o 
protagonismo francês na península. 
Os prestígios do rei Vítor Emanuel II e do conde de Cavour cresceram 
enormemente entre os nacionalistas italianos após os eventos de 1860, servindo 
de combustível para a consolidação do objetivo inicial do conde: a plena 
unificação da península italiana sob a liderança da Sardenha. Em abril de 1860, 
Giuseppe Garibaldi liderou, com o apoio de Cavour, uma insurreição dentro do 
Reino das Duas Sicílias, logrando êxito após poucos meses de batalha, na qual 
fora apoiado militarmente pelas tropas da Sardenha. O rei Vítor Emanuel 
aproveitara o levante de Garibaldi para marchar sobre os Estados Pontifícios, 
dominando-os quase por completo. Assim, em 1861, além dos Estados 
Pontifícios (à exceção de Roma), anexava-se também à Sardenha o Reino das 
Duas Sicílias. Em 17 de março de 1861, Vítor Emanuel II era coroado rei da Itália. 
O conde de Cavour se tornou o Primeiro-Ministro do novo Reino da Itália 
ainda em fevereiro de 1861, no entanto, ocupou o cargo por apenas quatro 
meses, falecendo em junho de 1861, em meio às negociações pela anexação do 
Vêneto, sob controle da Áustria, e de Roma, ainda sob o cetro papal, à Itália. O 
Vêneto acabou por ser anexado em 1868, graças à derrota austríaca na guerra 
austro-prussiana de 1866, que foi vencida pelas tropas prussianas, apoiadas 
pelos italianos, e pela qual receberam, por apoio prussiano, a região do Vêneto. 
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Cavour 
Ainda faltava a cereja do bolo, pois a cidade eterna permanecia alheia às 
constantes tentativas de anexação por parte da Itália. Em 1862, Garibaldi 
conduziu as tropas italianas até Roma, porém foi rechaçado da cidade, 
sobretudo graças ao apoio dos romanos ao governo papal. A tentativa de uma 
nova anexação em 1867, que a priori fora bem-sucedida, gerou grande comoção 
entre os católicos franceses, levando Napoleão III a enviar tropas para expulsar 
os italianos e recolocar o Papa no poder. 
Ocorre que em 1870, com a deflagração da guerra Franco-Prussiana, 
Napoleão necessitou enviar as tropas francesas presentes em Roma para o 
campo de batalha, desguarnecendo as muralhas de Roma e abrindo o flanco 
romano para a invasão italiana, que sairia vitoriosa em 20 de setembro de 1870. 
O rei Vítor Emanuel buscou oferecer, em 1871, uma indenização ao Papa Pio IX 
pela perda dos territórios, o que foi rechaçado veementemente pelo Sumo 
Pontífice, devido a agressiva invasão italiana nos territórios pontifícios. O Papa 
permaneceu enclausurado no Vaticano desde então, declarando-se um 
SULVLRQHLUR� GR� 5HLQR� GD� ,WiOLD�� $VVLP� VH� LQDXJXURX� D� FKDPDGD� ³4XHVWmR�
5RPDQD´��TXH�VRPHQWH�YHLR�D�VHU�UHVROYLGD�HP�������SRU�PHLR�GD�&RQFRUGDWD�
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de São João Latrão, assinada por Benito Mussolini e o Papa Pio XI, pela qual o 
Estado italiano reconhecia a soberania do Estado do Vaticano. 
 
Mapa com as datas das anexações italianas pelo Piemonte-Sardenha 
Roma se tornou a nova capital do Reino da Itália entre 1870-71, e este evento 
marcou o fim do Risorgimento. Graças à inteligência política e tenaz ação 
diplomática do conde de Cavour, o antigo sonho dos nacionalistas carbonários, 
evoluída desde a década de 1820, pôde concretizar-se em um Estado italiano 
unificado, sob a égide da coroa de Saboia e do antigo Reino da Sardenha, 
conforme fora pensado por aquele. Cavour conseguiu entender, e assim soube 
respeitar, o pragmatismo diplomático de um mundo em enérgica mudança. Cabe 
a ele, certamente, o mérito pela capacidade de ação compartilhada com os 
interesses concretos de outras nações, sedentas pelo protagonismo regional. 
Ademais, foi ele o principal responsável por dar uma causa em comum, bem 
como os instrumentos necessários, aos diferentes movimentos nacionalistas 
espalhados pela Península. Tal como Cavour, do outro lado do Reno, no mesmo 
ano da capitulação de Roma, findava-se a guerra franco-prussiana, por meio da 
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qual se erigia mais um Estado forjado sob a excelência do pensamento de um 
visionário político��R�³FKDQFHOHU�GH�)HUUR´�Otto von Bismarck. 
4.3 A Unificação alemã ± obra de Bismarck 
Para compreendermos o processo de unificação alemã, devemos voltar um 
pouco na história do território da Europa central para colocar as problemáticas 
enfrentadas por Bismarck para unificar o que chamamos hoje de Alemanha. 
O centro da Europa fora um território fragmentado, com múltiplos Estados 
que variavam muito de tamanhoentre os séculos XIV-XIX. Organizados por um 
sistema político pouco centralizado ± o Sacro-Império Romano Germânico ± as 
várias unidades políticas germânicas eram bastante ciosas de suas 
independências apesar de se sentirem parte de um mesmo povo e 
compartilhadores de uma mesma cultura. 
Essa realidade permaneceu pouco alterada até o advento da Revolução 
Francesa. Com a subida de Napoleão ao poder e sua tentativa de conquistar a 
Europa, houve uma mudança definitiva no mapa europeu: o fim do Sacro-
Império. Em 1806, o então imperador Francisco II (Franz I da Áustria), depois de 
derrota desastrosa para o exército francês em Austerlitz e da criação da 
Confederação do Reno, abdicou da coroa imperial e assumiu somente a coroa 
da Áustria e dos reinos sob controle austríaco. 
Como vimos, com o Congresso de Viena, o mapa do centro europeu não 
voltou a ser exatamente o que fora antes de Napoleão. De centenas de unidades 
políticas, reduziu-se a pouco mais de 30 principados. No lugar do Sacro-Império, 
criou-se a Confederação Germânica, que abarcava todas os Estados alemães, 
incluso a parte germânica da Áustria. A Confederação tinha propósito defensivo, 
e não ofensivo, e deveria ser um buffer contra outras possíveis invasões 
francesas. 
Os dois maiores Estados da confederação eram a Áustria e a Prússia. A 
liderança era da Áustria, tal como fora a coroa de Kaiser durante, pelo menos, 
dois séculos. Esta liderança, no entanto, já não era inconteste e a Prússia 
buscou, ao longo do século XIX, tomar a dianteira nos assuntos alemães. 
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3DUD�UHDOL]DU�HVWH�LQWHQWR��D�3U~VVLD�GHFLGLX�³DWDFDU´�R�IURQW�HFRQ{PLFR��&ULRX�
assim na década de 1830, o Zollverein, uma união aduaneira com os principados 
alemães, excluindo o império austríaco. A proposta era realizar uma integração 
econômica entre estes Estados, forçando-os a uma interdependência 
econômica, mas particularmente atrelada à Prússia. 
 
Mapa do Zollverein 
A rivalidade alcançaria maiores proporções após a subida de Bismarck ao 
poder na Prússia em 1862. Havia naquele momento histórico dois principais 
projetos de unidade alemã: a grande Alemanha e a pequena Alemanha. O 
primeiro, envolvia a Áustria e era defendida por ela e pelo papado. O plano era 
ampliar a Confederação Germânica, expandindo para todo o domínio do Império 
Austro-Húngaro, tendo Viena um poder dominante. Para o imperador Fransciso 
José (Franz Joseph), o ideal político era a de uma Confederação que assumisse 
a unidade (mas não a unificação) da Alemanha, com liderança austríaca 
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secundada pela Prússia. O projeto da pequena Alemanha excluía a Áustria e 
dava preponderância para a Prússia com o propósito de unficação sob a direção 
de um só governo.17 
Como falamos repetidas vezes, as coisas começaram a serem alteradas no 
concerto de Viena após 1856. Tendo a Áustria abandonado a aliança com a 
Rússia e a Prússia tendo reafirmado seus laços com o czar, o status quo estava 
à beira do colapso. 
Relembrando as palavras do embaixador bávaro, a paz era mantida na 
Europa somente enquanto os gabinetes considerassem isso necessário. Com 
Bismarck à frente do Estado prussiano, a paz já não seria desejada. O chanceler 
alemão sabia que aquele momento histórico era favorável à unificação alemã 
pela Prússia, embora isso não pudesse ser feito de uma vez. Em suma, o 
chanceler sabia o que deveria fazer para alcançar seus objetivos e isso implicava 
enfraquecer a já cambaleante Áustria. 
A situação começaria a mudar na relação Áustria-Prússia na Confederação 
na década de 1860, com o problema da Dinamarca e dos dois ducados 
Schleswig-Holstein. 
Estes dois ducados eram soberanos, mas governados pelos reis 
dinamarqueses desde o fim da Idade Média por meio de união pessoal (ou seja, 
ele era rei da Dinamarca e duque de Schleswig ± um feudo dinamarquês ± e de 
Holstein ± um feudo alemão ±, cada um desses ducados com leis sucessórias 
diferentes). O Schleswig era de maioria dinamarquesa e o Holstein de maioria 
alemã e parte do Sacro-Império. Por um tratado de 1460, os dois ducados não 
poderiam ser separados. Depois da Revolução de 1848, o rei dinamarquês 
promulgou uma constituição comum à Dinamarca e aos ducados, o que levou a 
um movimento separatista nestes. O movimento foi apoiado pela Prússia numa 
guerra, mas que resultou numa paz de status quo em 1851 após intervenção das 
demais potências. 
17 Bridge; Bullen, 2005, p. 146-147.
VISENTINI, Paulo Fagundes. Manual do candidato : história mundial contemporânea (1776-
1991) : da independência dos Estados Unidos ao colapso da União Soviética. Brasília: FUNAG, 
2012, p. 90.
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Holstein (amarelo) e Schleswig (marrom e vermelho claro) na península da Jutlândia 
Situação similar ocorreria em 1863-1864. Os liberais dinamarqueses 
pressionariam o rei para a promulgação de uma nova constituição para o reino 
e para os ducados. Só que dessa vez, os arranjos de Viena já não mais 
impediram a atuação da Prússia e da Áustria, que decidiram envolver-se para 
resolver a situação deixada sem solução em 1851. 
Numa guerra rápida e bem localizada, as duas potências germânicas 
liquidaram rapidamente a vizinha escandinava e tomaram controle dos dois 
ducados. Na paz acertada em 1864, a administração dos dois ducados seria 
compartilhada, a Prússia com Schleswig e a Áustria com Holstein. Esse arranjo 
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se mostraria péssimo para a Áustria, já que poucos anos depois levaria a uma 
guerra entre Prússia e Áustria. 
A guerra dos ducados seria uma amostra das guerras localizadas que 
ocorreriam sem intervenção das potências ± uma situação possível após o 
desmanche do sistema de Metternich. A entrada da Áustria na guerra com a 
Prússia, que não havia acontecido anteriormente, significava uma luta para se 
manter a frente dos assuntos alemães. Incapaz de evitar um conflito e a vitória 
da Prússia sozinha, preferiu adentrar as hostilidades de modo a participar 
também das negociações de paz. Além do mais, para os austríacos, a guerra foi 
percebida como a concretização de seus ideais de política externa: uma aliança 
conservadora e legitimista contra a Revolução (liberal neste caso). 
Para as potências não-germânicas, a guerra não foi vista como um perigo ao 
equilíbrio de poder. Para o czar russo, a vitória do legitimismo perpetrada por 
seu tio prussiano foi um alívio por ser a derrota dos princípios revolucionários. 
Já o imperador francês não tinha muito o que fazer: seus exércitos estavam 
atuando na Argélia e no México, incapacitando-o para influenciar os 
acontecimentos alemães. Os britânicos, por outro lado, não possuíam uma força 
terrestre significativa para se opor aos exércitos germânicos ± Bismarck afirmou 
que caso o exército inglês descesse em solo alemão mandaria a polícia 
prussiana prendê-lo.18 E mesmo que tivessem, para a política externa inglesa, 
uma vitória prussiana, embora ruim para a Dinamarca, seria boa para a Europa 
como um todo. Por incrível que nos pareça hoje, o gabinete inglês achava que 
VHULD�PHOKRU�XPD�$OHPDQKD�IRUWH�FRQWUD�DV�SRWrQFLDV�µDJUHVVLYDV¶�GD�5~VVLD�H�
da França. 
 Neste contexto, não havia saída para os dinamarquese que não ceder às 
pressões de seus vizinhos germânicos. Mas a vitória deles significou a abertura 
de nova rodada deproblemas no centro europeu. Bismarck passaria, 
rapidamente, a planejar os meios de rever a situação da Alemanha, buscando 
um meio de retirar a Áustria de lá. A diplomacia, no entanto, não parecia ser o 
caminho preferido para Bismarck, que escolheu novamente a guerra para impor 
seus interesses. 
18 Idem, p. 152. 
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A administração dos ducados foi o pretexto. Bismarck utilizar-se-ia de alguns 
problemas da administração deles para iniciar problemas com a Áustria. Para 
resolver os problemas, foram convocadas reuniões da Confederação em 
Frankfurt. Nessas reuniões, não houve apoio à posição prussiana, que pedia o 
controle completo dos ducados. Em face da derrota diplomática, já esperada, os 
prussianos se retiraram do congresso e iniciaram as hostilidades contra a Áustria 
e seus aliados. 
A derrocada austríaca foi completa. Pressionada em várias frentes, seu 
exército foi rapidamente derrotado e as intenções prussianas forçadas. Os 
principados foram anexados, a confederação abolida, território alemão da 
Áustria conquistado e vários aliados da Áustria passaram a ficar sob controle da 
Prússia. Os quatro estados do sul alemão foram organizado numa Confederação 
do Sul. 
 
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Guerra Austro-prussiana: Lado austríaco: vermelho e rosa; Lado prussiano: azul 
escuro e azul claro; Neutros: verde; Schleswig-Holstein: amarelo 
Certamente pareceu estranho aos que acompanhavam as relações exteriores 
dos países europeus naquele momento a inação francesa relativamente ao que 
acontecia em seus territórios vizinhos. Como falamos algumas vezes, desde o 
século XVII, a política francesa face ao centro europeu era o de manter diferentes 
independências de modo a garantir a segurança das fronteiras do reino. 
 No entanto, Napoleão III não agiu para evitar a hegemonia prussiana em 
território alemão. Por quê? Alguns motivos podem ser elencados. Em primeiro 
lugar, devemos recordar a rivalidade austro-francesa. Napoleão queria uma 
Áustria enfraquecida porque ela fora uma das artífices do sistema de 1815. Em 
segundo lugar, o imperador francês imaginava que, numa guerra entre Prússia 
e Áustria, esta última teria vantagem e que caso fosse necessário intervir, seria 
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ao lado dos prussianos. Em terceiro lugar, Bismarck deu a entender a Napoleão 
que o apoiaria numa possível tomada da Bélgica e uma revisão do mapa europeu 
± o grande sonho do imperador francês, mas que não ocorreu. Em quarto lugar, 
Napoleão considerava a Confederação Germânica como uma instituição criada 
para opor-se aos interesses franceses. Logo, sua derrocada era, para ele, uma 
vantagem política. Em quinto lugar, sua percepção era a de que uma guerra que 
enfraquecesse as duas principais potências da Alemanha permitiria que ele 
expandisse a influência francesa no território da Europa central. 
 Napoleão III não poderia estar mais errado. Sua neutralidade tornou 
possível a derrocada completa da Áustria e hegemonia da Prússia. A unificação 
alemã estava a um passo de concretizar-se e em grande medida graças à 
inatividade dos franceses. 
 A vitória de Bismarck, embora significativa, não resultou, nem parecia aos 
contemporâneos que resultaria, na unificação. Após a organização da nova 
configuração alemã ± com a Confederação do norte e a aliança defensiva entre 
esta e os estados do sul alemão ± Bismarck se viu em problemas para juntar o 
norte e o sul alemão. Isso por alguns motivos: os estados alemães eram bastante 
ciosos de sua independência e não adeririam livremente ao comando de uma 
casa real. Consideravam, também, que a Prússia ± que liderava a confederação 
do norte ± era muito autoritária, o que significaria, numa unificação, menor 
autonomia para os demais membros. Por fim, os estados ao sul eram de maioria 
católica, enquanto o norte, de protestantes luteranos e calvinistas. 
O problema para Bismarck era o de que ele não poderia, em face da opinião 
pública alemã, simplesmente atacar e anexar seus vizinhos. Isso poderia 
desencadear intervenções de outros países para defender a integridade dos 
vizinhos prussianos ± fosse dos franceses ou dos austríacos. Assim sendo, a via 
que o chanceler de ferro deveria tomar deveria ser, por força maior, a da 
diplomacia. O caminho mais simples ± embora não fácil ± seria o de unificar os 
estados do sul ao desencadear uma guerra de agressão de outro país. Assim, 
os estados do sul se aliariam à Confederação do Norte, facilitando a união. Este 
plano foi facilitado pelo medo que os estados do sul tinham de uma possível 
agressão francesa. Bismarck atuaria, então, desde a vitória sobre os austríacos, 
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no sentido de fomentar esse medo e de provocar a França a uma guerra de 
agressão. 
Enquanto isso, na França, o imperador se via com dificuldades. Não só 
havia isolado seu país das demais potências, como também começava a 
enfrentar problemas internos, com o desgaste de sua imagem e da economia. 
Além disso, começou um clamor público francês contra a Prússia, que percebia 
a vitória prussiana e o controle alemão por ela como uma humilhação à França 
e uma perda de status de grande potência. Essa pressão daria a Napoleão maior 
confiança num possível engajamento militar contra seus vizinhos. 
O pretexto para o conflito foi a candidatura prussiana à coroa espanhola, 
que estava com problemas sucessórios e sobre a qual o príncipe Leopoldo da 
Prússia tinha direito. Para Bismarck, caso houvesse sucesso na candidatura, 
seria colocar um rival da França no trono da Espanha tornando a fronteira sul 
francesa vulnerável. Mas caso fracassasse, poderia resultar num conflito militar 
± desejado por ele ± entre Prússia e França. 
Napoleão exigiu que a candidatura fosse retirada e que o monarca 
prussiano desse garantias de que não haveria mais qualquer tipo de intenção de 
colocar um Hohenzollern no trono espanhol. O rei, no entanto, respondeu 
negando este último pedido ± que era, na realidade, uma humilhação à França. 
Bismarck, então, mudou o tom da resposta do rei, tornando-a mais agressiva e 
publicou nos jornais. A resposta alterada de Bismarck (mas que todos 
acreditavam ser a resposta real do primeiro-ministro) causou grande clamor na 
França por uma guerra que reparasse o orgulho nacional ferido. Napoleão, 
assim, declarou guerra à Prússia em 1870. 
Neste momento, os estados do sul, pelas convenções feitas com a 
Confederação do Norte, entraram na guerra ao lado da Prússia. O conflito durou 
pouco tempo, com o exército francês sofrendo grave derrota em Sedan em 
setembro de 1870 que resultou na captura do imperador Napoleão. Os 
prussianos derrotaram as forças que restaram da III República ± proclamada 
após a notícia da captura de Napoleão ± e coroaram o então rei da Prússia 
imperador da Alemanha dentro do Palácio de Versalhes na França (uma 
verdadeira humilhação ao adversário vencido), unificando os territórios alemães 
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e tomando a região da Alsácia-Lorena dos franceses. Os reinos alemães ± como 
a Prússia e a Baviera ± continuariam a existir dentro do Império, mas sem 
independência de ação. 
A unificação alemã abriria um novo momento na história das relaçõesLQWHUQDFLRQDLV�GD�(XURSD��TXH�ILFRX�FRQKHFLGR�FRPR�³SD]�DUPDGD´��$V�UHODo}HV�
de força foram completamente alteradas com o nascimento do Império alemão 
que, como potência industrial e militar, iria reivindicar seu espaço na expansão 
capitalista e colonial com os demais europeus. As rivalidades que surgiriam 
deste período levariam aos sistemas de alianças e ao grande conflito que 
conhecemos como I Guerra Mundial. Mas esses e outros detalhes traremos na 
aula seguinte! 
 
Bismarck (à esquerda) e Napoleão III (à direita) 
 
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Coroação de Guilherme I como Kaiser alemão no palácio de Versalhes 
 
 
Império Alemão em 1871 
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Vamos agora praticar e responder algumas questões sobre esses temas 
que trabalhamos nesta aula? 
1. UDESC 2009 
Assinale a alternativa correta, em relação à chamada Primavera dos Povos. 
 
A) A Primavera dos Povos não influenciou a formação dos movimentos sociais do Século 
XIX. 
B) Foi uma revolução brasileira, mas que atingiu também outros países do Cone Sul. 
C) Houve influência da Primavera dos Povos no Brasil através do movimento dos 
³6HULQJXHLURV´� 
D) Atribuição colocada ao movimento revolucionário francês em 1848, que derrubou a 
monarquia de Luis Felipe e trouxe à discussão a exploração burguesa e a dominação 
política. 
E) A influência da Primavera dos Povos se restringiu às preocupações francesas do 
período. 
 
2. UFMG 2009 
O ano de 1848 ficou célebre em razão da onda de revoluções que varreu, então, a 
Europa - evento denominado Primavera dos Povos. O objetivo maior dos 
revolucionários de toda parte era alcançar a liberdade e combater a opressão; em 
algumas regiões, porém, as palavras de ordem reivindicavam, também, o fim do jugo 
estrangeiro, ou seja, demandavam autonomia para as nações. Considerando-se os 
eventos ocorridos em 1848 e suas conseqüências, é CORRETO afirmar que: 
 
A) na Alemanha, se instalou, com sucesso, uma República parlamentar, que aboliu as 
instituições imperiais e consolidou a unidade do país. 
B) na França, se proclamou, outra vez, a República, mas Luís Napoleão Bonaparte, o 
presidente eleito, instituiu, por meio de um golpe, o II Império. 
C) na Inglaterra, uma série de greves gerais colocou em xeque a Monarquia, que precisou 
recorrer à Lei Marcial para recobrar a ordem. 
D) na Rússia, os revolucionários ocuparam o poder durante alguns meses, o que 
provocou reação sangrenta e guerra civil. 
 
 
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3. MACKENZIE 
A unificação política da Alemanha (1870 ± 1871) teve como conseqüências: 
 
a) a ruptura do equilíbrio europeu, o revanchismo francês, a revolução industrial alemã e 
D�³3ROtWLFD�GH�$OLDQoDV´� 
b) o enfraquecimento da Alemanha e a miséria de grande parte dos habitantes do Sul, 
responsável pela onda emigratória do final do século XIX; 
c) a anexação da Alsácia e Lorena, o empobrecimento do Zollverein e a retração do 
capitalismo; 
d) a corrida colonial, o revanchismo francês, o enfraquecimento do Reich e a anexação 
da Áustria; 
e) o equilíbrio europeu, a aliança com a França, a formação da união aduaneira e a Liga 
dos Três Imperadores 
 
4. UNIP 
As Revoluções de 1848 foram provocadas por diversos fatores, destacando-se, entre 
outros: 
a) o fascismo, o comunismo e o positivismo; 
b) a social-democracia, o anarquismo e o comunismo; 
c) o sindicalismo, o republicanismo e o conservadorismo; 
d) o liberalismo, o nacionalismo e o socialismo. 
e) o populismo, a social-democracia e o parlamentarismo 
 
5. UERJ 
³O permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as 
condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época de todas as 
outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com seu cortejo de representações e 
concepções são dissolvidas, todas as relações recém-formadas envelhecem antes de 
poderem ossificar-se. Tudo que era sólido se volatiza, e os homens são por fim 
REULJDGRV�D�HQFDUDU�FRP�RV�ROKRV�EHP�DEHUWRV�D�VXD�SRVLomR�QD�YLGD�´ 
Karl Marx e Fredrich Engels. Adaptado do Manifesto do Partido Comunista. 
Em 1848, na defesa de uma nova sociedade, o Manifesto Comunista criticou as 
transformações advindas da modernização capitalista nos países da Europa 
Ocidental. 
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Dois aspectos dessa modernização, então criticados, foram: 
 
a) crescimento industrial ± garantia de direitos sociais 
b) aceleração tecnológica ± aumento da divisão do trabalho 
c) mecanização da produção ± elevação da renda salarial média 
d) diversificação de mercados ± valorização das corporações sindicais 
 
 
6. Fuvest 
³)L]HPRV�D�,WiOLD��DJRUD�WHPRV�TXH�ID]HU�RV�LWDOLDQRV´��³$R�LQYpV�GD�3U~VVLD�VH�IXQGLU�
QD�$OHPDQKD��D�$OHPDQKD�VH�IXQGLX�QD�3U~VVLD´� 
Estas frases, sobre as unificações italiana e alemã: 
 
a) aludem às diferenças que as marcaram, pois, enquanto a alemã foi feita em benefício 
da Prússia, a italiana, como demonstra a escolha de Roma para capital, contemplou todas 
as regiões. 
b) apontam para as suas semelhanças, isto é, para o caráter autoritário e incompleto de 
ambas, decorrentes do passado fascista, no caso italiano, e nazista, no alemão. 
c) chamam a atenção para o caráter unilateral e autoritário das duas unificações, imposta 
pelo Piemonte, na Itália, e pela Prússia, na Alemanha. 
d) escondem suas naturezas contrastantes, pois a alemã foi autoritária e aristocrática e a 
italiana foi democrática e popular. 
e) tratam da unificação da Itália e da Alemanha, mas nada sugerem quanto ao caráter 
impositivo de processo liderado por Cavour, na Itália, e por Bismarck, na Alemanha. 
 
7. UFRS 
Leia os itens abaixo que se referem a possíveis resultados imediatos da guerra 
Franco-Prussiana de 1870. 
 
I- A ocupação imperialista da Argélia pela França. 
II- A fundação da Internacional pelos nacional-socialistas da Áustria. 
III- O fim do II Império Francês de Luís Bonaparte e a instauração do II Reich. 
 
Quais estão corretas? 
concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros
História Mundial
Agência Brasileira de Inteligência
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a) Apenas I. 
b) Apenas II. 
c) Apenas III. 
d) Apenas I e III. 
e) I, II e III. 
 
concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros
História Mundial
Agência Brasileira de Inteligência
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Exercícios Comentados 
1. UDESC 2009 
Assinale a alternativa correta, em relação à chamada Primavera dos Povos. 
 
A) A Primavera dos Povos não influenciou a formação dos movimentos sociais do Século 
XIX. 
B) Foi uma revolução brasileira, mas que atingiu também outros países do Cone Sul. 
C) Houve influência da Primavera dos Povos no Brasil através do movimento dos 
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D) Atribuição colocada ao movimento revolucionário francês em 1848, que derrubou a 
monarquia de Luis Felipe e trouxe à discussão a exploração burguesa e a dominação 
política. 
E) A influência da Primavera dos Povos se restringiu às preocupações francesas do 
período. 
 
Comentários: a. A Primavera dos Povos foi, por definição, um grande berço de 
consciências nacionais e de movimentos sociais que povoariam o século XIX na Europa 
e na América. 
b. A Primavera dos Povos foi um fenômeno europeu, que abalou o centro do continente.

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