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TECNOLOGIA DOS MATERIAIS CURSO PROCESSO DE PRODUÇÃO 2º SEMESTRE Profº Panesi Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 1 AULA 1 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS METÁLICOS Um bom conhecimento de materiais é importante não só para quem projeta ou constrói como para aquele que simplesmente realiza manutenção de equipamento mecânico (saber substituir um material por outro). Para tanto o material deverá ser avaliado sob dois aspectos fundamentais: suas qualidades mecânicas e seus custos de matéria - prima e de produção. Também é com o conhecimento das propriedades dos materiais que podemos escolher os fatores de segurança e estes influem decisivamente na parte econômica do projeto. O número de materiais usados na construção mecânica é elevadíssimo, bastando dizer que só de aços existem várias centenas de tipos. Se considerarmos um automóvel, por exemplo, veremos que o número de materiais diferentes que o compõem, ultrapassa uma centena. Como exemplo, podemos citar que as válvulas de admissão e escapamento são feitas contendo silício, cromo e níquel e a segunda pode ser de um aço especial contendo silício e cromo em percentagens diferentes. Já nos motores de avião as válvulas de escapamento podem ser ocas e cheias de sódio ou mercúrio. Ao estudarmos a classe dos materiais metálicos podemos dividi-los em dois grupos distintos: ferrosos e não ferrosos. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 2 PROPRIEDADES FÍSICAS a) Densidade ( ) É a relação entre a massa de uma substância e o volume ocupado pela mesma. = m /V ( Kg/m3) b) Peso Específico() É a relação do peso da substância e o volume ocupado pela mesma. = P / V = mg / V = .g ( N/ m3) c) Condutividade Térmica (k) Propriedade que possuem certos corpos de transmitir com maior ou menor facilidade o calor. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 3 Tabela 1.1 Condutividade térmica e densidade de certos metais a 20ºC Elemento Condutividade térmica (W/mK) Densidade (Kg/ m3) Alumínio 236 2702 Cobre 399 8933 Ouro 316 19300 Ferro 81,1 7870 Manganês 7,78 7290 Molibdênio 138 10240 Níquel 91 8900 Mercúrio --------- 13546 Platina 71,4 21450 Bronze --------- 8800 d) Condutividade elétrica Propriedade que possuem certos corpos de transmitir com maior ou menor facilidade a corrente elétrica. A condutividade está relacionada com a resistividade, ou seja, quanto menor for a resistividade de um material, menor a sua resistência elétrica. Tabela 1.2 Resistividade de alguns materiais a 20ºC Material Resistividade (m) Prata 1,6 x10-8 Cobre 1,7 x10-8 Alumínio 2,7 x10-8 Ferro 10 x10-8 Níquel-cromo 150 x10-8 Semicondutores 10-1 a 104 Isolantes 1011 a 1018 PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS a) Maleabilidade Propriedade do material de ser deformado permanentemente, pela compressão, sem se romper, ou seja, a possibilidade de ser laminado ou amassado. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 4 b) Ductilidade Propriedade do material de ser deformado permanentemente, pela tração, sem se romper, ou seja, a possibilidade de ser estirado ou trefilado. c) Soldabilidade Capacidade do material de ser soldado (rejuntado) por caldeamento (compressão a quente das partes a serem unidas, sem utilização de material auxiliar). Materiais de baixa caldeabilidade só podem ser soldados através de eletrodos especiais. A soldabilidade depende do tempo em que o metal permanece num estado sólido – plástico, sob o efeito do calor produzido pela ação soldante. O metal ou liga que passar instantaneamente do estado sólido para o líquido é dificilmente soldável. (Ex.: ferro fundido). d) Temperabilidade Propriedade que certos metais possuem de modificarem a sua estrutura cristalina após um aquecimento prolongado seguido de resfriamento brusco. e) Usinabilidade Capacidade do material apresentar maior ou menor resistência de ser usinado (cortado, desbastado, furado, etc.) pela ação de uma ferramenta de corte. Podemos relaciona-la também com a “vida da ferramenta de corte”, ou com a “energia ou tempo necessário ara removermos certa quantidade de material”. Os graus de usinabilidade dos diferentes aços são estabelecidos em função do aço de CORTE LIVRE SAE 1112 que é tido como o de 100% de usinabilidade. Por exemplo, se disser que a usinabilidade de aço SAE 1070 é de 45 %, significa que na usinagem deste aço, o rendimento é de 45% em relação ao do aço SAE 1112. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 5 Os fatores envolvidos nessas propriedades são entre outros: Natureza do material sob usinagem Natureza do material da ferramenta Forma da ferramenta Condições de corte: velocidade, avanço, profundidade de corte Natureza da operação de corte: torneamento, frezamento, etc. Natureza do corte: contínua ou interrompido Condições da máquina operatriz Refrigeração Devido a necessidade de termos um custo cada vez mais baixo na indústria, para reduzirmos os custos em uma produção em massa, a usinabilidade é uma propriedade de grande interesse e assim, temos uma série de profissionais estudando métodos de melhorarmos a usinabilidade dos materiais. Podemos assim melhorar a usinabilidade dos materiais basicamente por dois métodos: Modificação do desenho da ferramenta Alteração da sua estrutura PROPRIEDADES MECÂNICAS a) Plasticidade Propriedade do material de suportar uma deformação permanente sem se romper. A plasticidade tem grande importância nas operações de dobramento, estampagem e extrusão. O material quando submetido a um esforço sofre uma deformação permanente, e só se rompe quando a tensão aplicada ao material ultrapassa a tensão máxima. A plasticidade é influenciada pelo calor ( aço ao rubro torna-se bastante plástico). Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 6 O inverso da plasticidade é a fragilidade ou quebrabilidade; assim, um material é dito frágil ou quebradiço quando o mesmo ao romper-se apresenta uma pequena deformação. A plasticidade pode ser subdividida em: Maleabilidade Ductilidade b) Tenacidade A tenacidade mede a capacidade que o material tem de absorver energias até fraturá-lo incluindo a deformação elástica e plástica quando essa energia é absorvida progressivamente. Para que um material seja tenaz, ele deve exibir tanto resistência como ductilidade. c) Elasticidade É a propriedade do material, cuja deformação causada por uma tensão, desaparece quando esta deixa de agir. Em termos de engenharia, o maior interesse concentra-se mais na tensão do que na deformação, e é esta a razão porque se registra, para os dados técnicos de elasticidade o valor da tensão que representa o limite de elasticidade. Ex.: aço para molas. d) Dureza Propriedade do material de se opor à penetração de outro material. Quando aumentamos a dureza de um material aumentamos a sua resistência mecânica e sua fragilidade, diminuindo a sua ductilidade. Na prática, representa duas coisa importantes: resistência ao desgaste resistência a deformação ( ou conformação) Por esta razão, os materiais mais duros são usados na fabricação depeças sujeitas a maiores esforços, atrito constante, etc., enquanto os materiais Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 7 mais dúcteis são usados em aplicações que necessitam de conformação mecânica (laminação, dobramento, estampagem, etc.). No ensaio de tração, percebemos que, quanto mais duro é o material, maiores são os seus limites de escoamento e de ruptura, sendo a dureza diretamente proporcional ao limite de resistência do material, de maneira que, conhecido o valor de sua dureza pelo método Brinell (HB), podemos determinar o limite de resistência do material. Existem, na prática, vários padrões para medirmos a dureza do material e entre os mais usados, incluem-se os métodos Brinell, Rockwell, Vickers e Shore. Dentre as propriedades mecânicas, a mais importante é a resistência mecânica. Essa propriedade permite que o material seja capaz de resistir à ação de determinados tipos de esforços, como a tração e a compressão (resistência à tração e resistência à compressão). A resistência mecânica relaciona-se às forças internas de atração existentes entre as partículas que compõem o material. Quando as ligações covalentes unem um grande número de átomos, como no caso do carbono, a dureza do material é grande. Recursos para melhorarmos as propriedades mecânicas dos materiais: Alterar composição química Processos mecânicos de fabricação Alteração do tamanho do grão Tratamentos térmicos Fatores que influem na seleção do material: Vejamos os principais fatores que devem ser considerados na seleção de um material industrial: Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 8 Condições de trabalho, podendo ser subdivididas em: solicitações mecânicas local de trabalho do material Assim, uma peça que vai ser submetida a um esforço de tração, não poderá ser feita de um material de pequena resistência à tração, como por exemplo de ferro fundido comum. Na indústria de laticínios os materiais empregados são resistentes à corrosão como por exemplo o aço inoxidável. Disponibilidade de material: para se escolher um material ele deve ser disponível em quantidade necessária e também quando desejado para reposição de peças. A escolha do material não deve ser feita apenas em livros, mas sim nos catálogos de fabricantes. Custo: por custo entendemos não só o material em bruto como também o dos processos de fabricação, isto é, o custo total, isto porque um material pode ter preço reduzido mais implicar em processo de fabricação dispendioso. Aparência: a aparência é importante quando o produto se destina ao grande público. Assim uma peça de alumínio anodizado é agradável a vista (tampos de panelas, etc.). Já para uma peça estrutural que está escondida, a aparência não é tão importante. É em virtude da aparência que se usa niquelados, cromados, materiais plásticos coloridos, oxidados (armas, ferramentas), partes esmaltadas (porcelanizadas), fundição sob pressão (zamak, plásticos). Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 9 Adaptabilidade para os processos de produção: certos materiais se prestam melhor que outro para determinados processos de fabricação incluindo ou não tratamentos térmicos, e assim dependendo do equipamento que dispomos somos conduzidos a escolha de certos materiais (sapatas de freio de chapas de aço estampadas e soldadas por pontos em lugar de liga de alumínio fundida). Forma da peça: em certos casos a forma da peça condiciona o processo de fabricação e dessa maneira influi indiretamente na escolha do material. É o caso de um bloco de motor, cujo processo normal de fabricação é a fundição. Já grandes motores diesel possuem o bloco fabricado a partir de chapas grossas e perfilados soldados. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 10 AULA 2 SIDERURGIA E METALURGIA Normalmente os metais quando encontrados na natureza não estão prontos para o uso, mas sim fazendo parte da composição de minerais denominados minérios. Tomemos como exemplo o metal alumínio, na sua utilização nos produtos comerciais ele se encontra na forma de substância simples. É chamado de alumínio metálico e representado por Al. Essa substância simples não é encontrada na natureza, mas sim se encontra esse elemento combinado com outros, nas chamadas substâncias compostas. O termo mineral relaciona toda substância natural presente na crosta terrestre. As rochas são agregados naturais formados por um ou mais minerais. Assim pode-se dizer que o elemento químico alumínio é encontrado em substâncias compostas denominadas de minerais, que por sua vez estão presentes em rochas. Na tabela 2.1 são dados os metais mais importantes e alguns de seus minérios. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 11 Tabela 2.1 Metais e seus minérios Metal Fórmula do minério Nome do minério Ouro Au Ocorre não combinado Platina Pt Ocorre não combinado Mercúrio HgS Hg Cinábrio Ocorre não combinado (raramente) Prata Ag2S Ag Argentita Corre também não combinada Cobre Cu2S CuS.FeS Cu Calcosita Calcopirita Ocorre também não combinado Zinco ZnS Blenda ou esfalerita Níquel FeS.NiS Pentlandita Chumbo PbS Galena Estanho SnO2 Cassiterita Manganês MnO2 Pirolusita Cromo FeO.Cr2O3 Cromita Ferro Fe2O3 Fe3O4 FeCO3 Hematita Magnetita Siderita Alumínio Al2O3 Bauxita Figura 2.1 A Hematita Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 12 Figura 2.2 A Siderita História do ferro A revolução industrial, iniciada na Grã-Bretanha no fim do século XVIII, representou a transição da sociedade agrária e têxtil para a sociedade industrial, que se baseava no carbono, como combustível, e no ferro, como matéria-prima fundamental para a fabricação das máquinas. Conhecido desde os tempos pré-históricos, o metal da nome a idade do ferro, período histórico que sucedeu a idade do bronze. Pertencente ao grupo dos metais de transição, o ferro é o quarto elemento químico em abundância na crosta terrestre. Na natureza, apresenta-se principalmente combinado com o oxigênio em forma de óxidos como mostra a tabela 1.1.O minério de ferro, fundido, tem múltiplas aplicações e grande utilidade industrial. Quando puro, o ferro é um metal branco-cinzento brilhante. Caracteriza- se pela grande ductibilidade, que permite transformá-lo em fios e arames, e maleabilidade, que facilita a fabricação de folhas laminares. Entre suas propriedades físicas destaca-se o magnetismo, que o torna um ótimo material para fabricar ímãs. Quanto às propriedades químicas, o ferro é inalterável, em temperatura normal, quando exposto ao ar seco. Submetido ao ar úmido, o ferro metálico sofre oxidação e se transforma lentamente em ferrugem (óxido de ferro), o que pode ser evitado se o ferro for revestido de metal mais Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 13 resistente à corrosão, como zinco (ferro galvanizado), estanho (folha-de- flandres) ou cromo (ferro cromado). O ferro é atacado facilmente por ácidos. As ligas do tipo ferro-carbono podem ser classificadas em quatro grupos distintos: (1) aço doce, liga que contém menos de 0,06% de carbono e cuja estrutura é essencialmente ferrosa; (2) aços, ligas com conteúdo de carbono entre 0,06% e 2%, que se subdividem em aços ao carbono, aços-ligas e aços especiais ou aços finos; (3)ferro fundido, liga que contém mais de dois por cento de carbono, em geral de reduzida ductibilidade e maleabilidade, utilizada na fabricação de peças moldadas e tubos. No aço, a dureza está na razão direta da percentagem de carbono na liga. . Metalurgia Metalurgia é o processo básico de obtenção dos metais na natureza. Esse processo é dado através de uma seqüência que começa no solo (lavra) passando pela moagem e purificação do minério e logo em seguida dependendo do metal, sofrerá o processo de redução que normalmente se dá dentro de alto fornos. Após a said do alto forno o metal é purificado novamente para finalmente ser beneficiado obtendo assim o produto desejado. O princípio de obtenção do metal se baseia na redução de algum elemento para que esse metal não oxide. Logo, ao se retirar o minério da natureza, esse, se não passar pelo processo metalúrgico dependendo do tipo de metal, sofrerá corrosão imediata não servindo assim para fins industriais. A corrosão é portanto um processo natural que tende a oxidar os metais; exatamente o oposto da metalurgia, que visa reduzi-los. Os diversos metais conhecidos apresentam diferentes tendências para sofrer corrosão. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 14 Exemplo: Quanto maior a tendência de um metal de sofrer corrosão, maior a dificuldade para obtê-lo a partir do minério, através de sua redução. Após a obtenção do minério de ferro pelo processo de lavra, moagem e purificação, ele é introduzido juntamente com outros materiais no alto forno, local onde ocorrerá o processo de redução. Figura 2.3 O processo de lavra Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 15 Figura 2.4 Moagem e purificação Alto forno O alto forno é um aparelho de grandes proporções com uma altura que pode chegar aos 25 metros e 9metros de diâmetro na sua base maior. Ele é revestido internamente por uma parede de tijolos refratários de espessura de 0,5 metros. O volume interno é da ordem de 1000m3. São basicamente três os ingredientes que são dispostos no alto forno: O minério de ferro, isto é, a substância que contém o óxido de ferro. O calcário (rocha à base de carbonato de cálcio) para remover impurezas. O coque, que é o agente combustível e redutor. Coque é normalmente produzido na própria siderúrgica, através da queima parcial do carvão mineral. Isto é necessário para remover o material volátil do carvão e, assim, aumentar sua resistência mecânica de forma a suportar a carga de minério e calcário. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 16 Figura 2.5 Alto Forno convencional As reações químicas principais que ocorrem são: Formação do monóxido de carbono a partir do carvão e do oxigênio C(s) + O2 CO2(g) CO2(g) + C(s) 2CO(g) Formação do ferro a partir da hematita e do monóxido de carbono produzido anteriormente Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 17 Fe2O3(s) + 3CO(g) 2Fe(l) + 3CO2 (g) Número de oxidação do Fe2O3(s) : 3+ e 2- Número de oxidação do CO(g) : 2+ e 2- Número de oxidação do Fé: 0 Número de oxidação do CO2 (g): 4+ e 2- Nessa reação o Fe reduziu ( diminui o nox) de 3+ para 0 e o CO oxidou (aumentou o nox) de 2+ para 4+. Formação da escória a partir do calcário e da sílica que acompanha o minério de ferro CaCO3(s) CaO(s) + CO2 (g) CaO(s) + SiO2(s) CaSiO(l) Periodicamente são retirados do alto forno a escória e o gusa. O gusa é uma liga Fé-C que contém entre 3,5% e 4,5% de carbono, é um material muito duro mas ao mesmo tempo frágil. A escória constituída de silicato de cálcio, é utilizada em pavimentação e na fabricação de cimento e adubo. O gusa não pode ser utilizado comercialmente devido suas baixas qualidades como a ductilidade ou a maleabilidade. Sendo assim é necessário obter um material que possua além de dureza também outras propriedades importantes como ductilidade, maleabilidade, tenacidade e flexibilidade. Para isso é preciso que o gusa sofra uma drástica redução de carbono, essa diminuição é feita nos conversores a oxigênio onde o gusa sofre uma reação com o oxigênio que produz CO e CO2. Quando o produto contiver entre 0,005% e 2% de carbono pode ser denominado de aço. ganga escória Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 18 Pela tabela 2.1 percebe-se porque alguns metais são mais fáceis de obter na natureza e outros não. Tabela 2.1 Potenciais de redução de alguns elementos Elementos Potencial Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 19 Tabela 2.3 Principais países produtores de ferro País Reservas de minério de ferro(KT/m3 ) Produção de ferro e aço bruto (KT/m3 ) EUA 23000 67656 China 53600 37160 Polônia 15 14142 Alemanha 387 35880 África do Sul 15370 8383 França 6200 18402 Brasil 81559 7680 Itália 2 24188 Peru 4403 274 Venezuela 7258 2206 O Brasil conta com pequenas reservas de carvão mineral nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No entanto, esse carvão é considerado de má qualidade para uso siderúrgico, devido a sua alta porcentagem de cinzas e enxofre, que além de reduzir o poder calorífico do carvão, também influi nas características do aço. Entretanto essa má qualidade também é decorrência do fato de os alto-fornos brasileiros serem cópias dos estrangeiros, construídos para utilização de carvão com características diferentes. As grandes siderúrgicas brasileiras, como a CSN, USIMINAS E COSIPA utilizam carvão mineral proveniente de Santa Catarina. Este carvão possui um poder calorífico em torno de 500 Kcal/Kg ( 20900 KJ/Kg), enquanto o carvão estrangeiro é da ordem de 8000 Kcal/Kg (33440 KJ/Kg). A produção de ferro gusa nas siderúrgicas é acompanhada a cada corrida, através de boletins de produção. Nesses boletins são registrados as massas de matérias- primas empregadas e as de produtos obtidos. A produção mundial atualmente de carvão metalúrgico gira em torno de 2 bilhões de toneladas, sendo a China o maior produtor, com um volume de 1,1 bilhão de toneladas por ano. A Austrália, segundo maior produtor, com 400 milhões de toneladas, é o maior exportador e também um dos principais fornecedores das siderúrgicas brasileiras. O preço do carvão hoje, está em torno de US$ 125 a tonelada, representando entre 40% e 50% do custo de produção de aço líquido. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 20 Tabela 2.4 Boletim de produção Carga do alto-forno (T) Ferro gusa (T) Escória (T) Minério 66 Carvão 36,4 Calcário 3,2 40,0 12,4 O processamento do minério de ferro pode ser representado pela equação global: 2Fe2O3(s) + 6C(s) + 3O2(g) 4Fe(s) + 6CO2 (g) + energia 2x160g 6x 12g 3x2x16g 4x 56g 6x 44g 320g de 72g de 96g de 224g de ferro 264g de dióxido óxido carbono oxigênio de carbono de ferro III 320 g de ferro III produzem 224 g de ferro Pela tabela 2.4 sabe-se que a partir de 66T de minériode ferro são obtidas 40T de ferro gusa. A quantidade de ferro gusa prevista é bem diferente da real. Pela equação química anterior temos: 320g de Fe2O3(s) produzem 224g de Fe 66x106 g de Fe2O3(s) devem produzir xg de Fe x = 66x106 g / 320 = 46,2 x106 g = 46,2 T de Fe Como a quantidade real obtida foi de 40 T, o rendimento do processo será 46,2 T ----- 100% 40 T ------ rendimento Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 21 rendimento = 40/ 46,2 x100 = 86% ou seja, o rendimento de um processo é dado pela expressão rendimento = massa de produto obtida / massa de produto esperada x 100 No caso do minério de ferro brasileiro, o grau de pureza da hematita é cerca de 86,57%. Isso significa que em cada 100 partes da massa de qualquer amostra desse minério, 86,57 partes são constituídas por óxido de ferro III. As 13,43 partes restantes correspondem à ganga. Considerando os dados do boletim de produção, quando se carrega o alto forno com 66 T de minério, apenas 57,14 vão se transformar em ferro, as 8,86 T restantes darão origem à escória. Isto é confirmado pelo seguinte cálculo 100 T do minério correspondem 86,57 T de hematita 66 T do minério ---------------- x ( quantidade real de hematita) Retornando-se a Eq. global da produção de ferro 2Fe2O3(s) + 6C(s) + 3O2(g) 4Fe(s) + 6CO2 (g) Pode-se calcular qual a massa de ferro produzida quando se usa 66 T de minério cuja pureza é de 86,57% de minério de ferro. 320x 106 T produzem 224 x106 T 57,14 T --------------- x x = 39,99 T de ferro ( aproximadamente 40T ), exatamente como mostra o boletim de produção. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 22 Combustíveis É a partir da combustão que o homem tem obtido a maior parte da energia que ele necessita. Para isso, é necessário um dos elementos principais para obter essa energia, isto é, o combustível. Álcool, gasolina, óleo diesel, lenha, carvão mineral, gás liquefeito de petróleo e querosene são exemplos de combustíveis atualmente utilizados em diferentes setores da atividade humana. Considera-se combustão como sendo a transformação química que envolve a queima de um material combustível em presença de um comburente (geralmente o oxigênio), sendo frequentemente utilizados com o objetivo de obter energia na forma de calor. No entanto, a produção de calor, embora necessária, não é condição suficiente para que um material seja considerado um bom combustível. Além da capacidade de liberar calor, o combustível deve apresentar também certas características que garantam um bom desempenho durante a sua queima. Uma dessas características é a volatilidade ou facilidade de evaporação. O álcool e a gasolina, por apresentarem essa facilidade são utilizados em motores de explosão. É devido a maior volatilidade da gasolina que, nos carros movidos às custas desse combustível, a partida é mais rápida do que nos carros movidos a álcool. Um outro aspecto a ser considerado na avaliação de um combustível, refere-se a sua inflamabilidade . Todo combustível tem uma temperatura de inflamação determinada, temperatura em que a evaporação se dá em proporção suficiente para o combustível inflamar-se e manter a queima contínua. Essa temperatura é alcançada através do fornecimento de uma “energia inicial” que o aquece, elevando sua temperatura até a temperatura de inflamação. Desse modo, a combustão se inicia de modo endotérmico e prossegue desenvolvendo calor. Um dos aspectos a considerar na escolha de um combustível é a sua eficiência, avaliada em relação à quantidade de calor que é capaz de produzir. A quantidade de calor liberada por unidade de massa (ou de volume) do material combustível é indicada como seu poder calorífico, que é expresso em Kcal/Kg ou KJ/Kg. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 23 Tabela 2.5 Poder calorífico de alguns combustíveis Combustível Poder calorífico em KJ/Kg e em Kcal/Kg GLP 49030 11730 Gasolina isenta de álcool 46900 11220 Gasolina com 20% de álcool 40546 9700 Querosene 45144 10800 Óleo Diesel 44851 10730 Carvão metalúrgico nacional 28424 6800 Gás canalizado 17974 4300 Lenha 10550 2524 Etanol 29636 7090 Álcool combustível 27200 6507 Metanol 22200 5311 Metano 53922 12900 Propano 49951 11950 Butano 49324 11800 Acetileno 40964 9800 Hidrogênio 120802 28900 Carvão mineral O carvão mineral é uma mistura de compostos ricos em carbono e ocorre na crosta terrestre, resultante da fossilização da madeira. A madeira é formada por carbono, oxigênio e hidrogênio, na fossilização, o hidrogênio e o oxigênio são eliminados na forma de gás carbônico, metano e água. Assim, o resíduo carvão mineral vai se enriquecendo e se transformando em carbono ao passar do tempo. A hulha é uma variedade de carvão mineral que apresenta, aproximadamente, 80% de carbono que quando aquecida entre 1000 e 1300ºC, na presença de corrente de ar obtém-se três tipos de frações: Fração gasosa: Obtenção de combustíveis domésticos e muito utilizada antigamente na iluminação de ruas (lampião a gás). Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 24 Fração líquida: Aqui é obtido o benzeno, tolueno, xileno, naftaleno, etc. Fração sólida: Fase em que se obtém o carvão coque utilizado na obtenção do aço. Produtos siderúrgicos AS LIGAS FERRO-CARBONO São as que apresentam em sua composição os elementos normais ( carbono, silício, manganês, enxofre, e fósforo). AS LIGAS FERRO-CARBONO ESPECIAIS São as que apresentam em sua composição elementos diferentes dos comumente apresentados nas ligas comuns. Para estudarmos a classificação das ligas de ferro carbono comuns devemos considerar os seguintes aspectos: O aumento do teor de carbono baixa o ponto de fusão da liga ferro- carbono. As lidas de ferro-carbono que contém carbono na porcentagem compreendida entre 0,005 e 1,7% são maleáveis e tem o nome de aço. As ligas especiais apresentam essa propriedade com teores de carbono até 2%. A partir de 2% o produto perde sua maleabilidade e recebe o nome de não maleável. O produto não maleável pode tornar-se maleável se retirarmos o excesso de carbono do mesmo. O material resultante é denominado maleabilizado. Resumidamente temos de acordo com o teor de carbono: Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 25 O ferro gusa é um produto bruto. As suas propriedades não permitem o emprego industrial direto, o gusa é duro, frágil, não maleável, porém fundível, contendo sempre doses de substâncias estranhas como o silício, fósforo, enxofre, manganês, etc. Ao quebrarmos um lingote de gusa a fratura pode se apresentar branca (prateada) ou cinza. Quando há predominância de cementita (Fe3C) o gusa é chamado branco, sendo duro, frágil, ponto de fusão entre 1100 e 1300ºC e quando há predominância de grafita a fratura é cinza escuro e o gusa é cinzento. É menos duro que o gusa branco, ponto de fusão entre 1200 e 1250ºC. A formação da grafita é favorecida pelo silício, isto é, o gusa cinzentocontém sempre um certo teor de silício, enquanto o manganês tem o efeito de favorecer a formação da cementita. A eliminação completa do fósforo e enxofre, substâncias nocivas, é praticamente impossível; o teor máximo admissível no gusa para o mesmo servir à fundição é de 0,15% de enxofre e de 1,0% de fósforo. Ferro fundido O ferro fundido é o produto da refusão do gusa, levada a efeito para torná-lo mais homogêneo, acertando ao mesmo tempo a sua composição para aplicações determinadas. É um produto muito usado na indústria por possuir: Baixo custo. Boa capacidade de absorver vibrações. Boa capacidade de resistir à fadiga e concentrações de tensões. Alta resistência á compressão e ao desgaste. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 26 Boas características no que se refere à fundição possibilitando a obtenção de peças. De formatos bastante complexos. Quanto a sua constituição o ferro fundido pode ser branco, cinzento, nodular e maleável. A composição química de um ferro fundido é geralmente a seguinte: Carbono total: 3 a 4,5% Silício: 1 a 2% Manganês: até 0,7% Enxofre: até 0,1% Fósforo: 0,6% a 0,8% O carbono total é a soma do carbono combinado na cementita e do carbono grafítico. O ferro fundido cinzento possui uma dureza reduzida e em vista da grafita pode ser usinado com facilidade. A usinagem geralmente é feita a seco. O ferro fundido branco é duro e não usinável. Contém 2 a 4% de carbono, sob a forma combinada. Ele é principalmente usado para a fabricação do ferro maleável e para a moldagem de um número limitado de peças em que se deseja como características principais uma extrema dureza e alta resistência ao desgaste. O ferro fundido nodular é obtido pelo acréscimo de pequenas quantidades de magnésio ou césio (meio quilo por tonelada aproximadamente) aqui a grafita aparece sob a forma de nódulos ou esferas e se distribui mais uniformemente por todo o material, dando uma material muito resistente e altamente dúctil. No caso dele possuir níquel (até 3,5%) ele se torna altamente resistente à corrosão(inoxidável). Características do ferro nodular: Alta tenacidade Alta fluidez Excelente resistência ao desgaste Excelente soldabilidade Maior usinabilidade que o ferro fundido cinzento Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 27 Temperável Sistema de classificação O sistema de classificação dos aços varia de acordo com o tipo de ferro fundido em função das suas faixas de composição química, de acordo com a tabela 2.6 Tabela 2.6 Tipo C Si Mn P S Cinzento 2,5 – 4,0 % 1,0 – 3,0 % 0,2 – 1,0 % 0,002 – 1,0 % 0,02 – 0,25 % Dúctil 3,0 – 4,0 % 1,8 – 2,8 % 0,1 – 1,0 % 0,01 – 0,1 % 0,01 – 0,03 % Branco 1,8 – 3,6 % 0,5 – 1,9 % 0,25 – 0,8 % 0,06 – 0,2 % 0,06 – 0,2 % Maleável 2,2 – 2,9% 0,9 – 1,9 % 0,15 – 1,2 % 0,02 – 0,2 % 0,02 – 0,2% Aplicações Ferro fundido cinzento Este material é frágil e quebradiço devido a sua microestrutura, não servindo muito bem a aplicações que requeiram elevada resistência à tração. Sua resistência e ductilidade são maiores sob compressão, além de terem excelentes capacidades de amortecimento de vibrações e elevada resistência ao desgaste mecânico. São aplicados como componente estrutural de máquinas e equipamentos pesados sujeitos à vibração, peças fundidas de vários tipos que não necessitam de elevada resistência mecânica, pequenos blocos cilíndricos, pistões, cilindros, discos de embreagem e peças fundidas de motores a diesel. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 28 Ferro fundido dúctil Sua estrutura nodular confere maiores resistência mecânica e ductilidade ao material, aproximando suas características das do aço. Suas aplicações incluem válvulas carcaça de bombas, virabrequins, engrenagens, pinhões, cilindros e outros componentes de máquinas e automóveis. Ferro fundido branco Extremamente duro e frágil, chegando a ser inadequado para a usinagem em alguns momentos. Sua aplicação é restrita aos casos em que dureza elevada e resistência ao desgaste são necessárias, como nos cilindros de laminação. O ferro fundido branco, geralmente, é utilizado como um processo intermediário na produção do ferro fundido maleável. Ferro fundido maleável Produto da transformação do ferro fundido branco após tratamento térmico em temperatura e atmosfera adequada. Apresenta características de elevada resistência mecânica e consideráveis ductilidade e maleabilidade. É aplicável tanto em temperaturas normais quanto mais elevadas. Flanges, conexões para tubos, peças para válvulas ferroviárias e navais, e outras peças para indústria pesada são algumas das aplicações típicas do ferro fundido maleável Estrutura Cristalina Os metais quando solidificam eles cristalizam, ou seja, os seus átomos que no estado líquido, estavam se movimentando mais livremente e sem nenhuma organização, agora estão localizados em posições relativamente definidas e ordenadas, que se repetem em três dimensões, formando uma figura geométrica que é o cristal. Existem sete sistemas cristalinos: triclínico, monoclínico, ortorômbico, hexagonal, trigonal, tetragonal e cúbico. De acordo Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 29 com a disposição dos átomos, originam-se desses sistemas 14 possíveis distribuições de acordo com o tipo de metal e suas respectivas temperaturas e pressão. Essas distribuições dos átomos é chamada de reticulados ou redes. Tabela 2.7 Raios atômicos e estruturas cristalinas para alguns metais Metal Estrutura cristalina Raio atômico (nm) Metal Estrutura critalina Raio atômico (nm) Alumínio CFC 0,1431 Molibdênio CCC 0,1363 Cádmio HC 0,1490 Níquel CFC 0,1246 Cromo CCC 0,1249 Platina CFC 0,1387 Cobalto HC 0,1253 Prata CFC 0,1445 Cobre CFC 0,1278 Titânio HC 0,1445 Ouro CFC 0,1442 Tungstênio CCC 0,1371 Ferro CCC 0,1241 Zinco HC 0,1332 Chumbo CFC 0,1750 CÉLULAS UNITÁRIAS As células unitárias são pequenos volumes que representam a disposição geométrica dos átomos, como o modelo atômico é repetido indefinidamente, torna-se conveniente subdividir a rede cristalina em células unitárias. A distância repetida chamada de parâmetro cristalino, dita o tamanho de uma célula unitária, é também a dimensão da aresta da célula unitária. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 30 Figura 2.7 Parâmetro cristalino (Pc) Exemplo 1: A célula unitária do cromo é cúbica e contém dois átomos. Determine o parâmetro cristalino para o cromo. SOLUÇÃO Consultando a tabela periódica obtemos a massa atômica do Cr = 52 U e a massa molar = 52g. a densidade do cromo é: 7,20g/cm3. A massa por célula unitária é = 2 . 52g / 6,02 x1023 = 172,76x10-24 g Mas, Densidade = massa / volume Volume = massa / densidade = 172,76 x10-24 g / 7,20x106 g/m3 = 23,994 x10-30 m3 Volume do cubo = aresta3 Então a aresta ou o parâmetro cristalino = 0,2884 x10-9 m ou 0,2884 nm Um conjunto de células unitárias forma o cristal com contornos geométricos, onde ao adquirir os contornos irregulares pelo seu crescimento passa a chamar-se grão. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 31 Figura 2.8 Estrutura cristalina granular Cada grão é constituído de milhares de células unitárias, estas por sua vez, consistem em grupos de átomosdispostos em posições fixas, formando figuras geométricas como foi indicado na figura 2.8. ALOTROPIA Alotropia ou polimorfismo é a propriedade de certos metais, apresentam reticulados cristalinos diferentes, conforme a variação da temperatura. Como exemplo temos o ferro que no estado sólido e temperatura ambiente apresenta uma grade cúbica centrada no espaço, essa denominação é chamada de cubo de corpo centrado. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 32 Figura 2.9 Cubo de corpo centrado Aquecendo-se o ferro a 910ºC os átomos mudam de posição e o conjunto se modifica e a grade anterior se transforma em grade cúbica de face centrada. Figura 2.10 Cubo de face centrada Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 33 Continuando o aquecimento até 1390ºC, o cubo de face centrada transforma-se novamente em cubo de corpo centrado. Podemos resumir essas transformações de acordo com a tabela 2.8 Tabela 2.8 Transformações alotrópicas do ferro Modificação Estrutura cristalina Faixa de estabilidade(ºC) Alfa CCC Até 910 Gama CFC 910-1390 Delta CCC 1390-1535 RETICULADOS CÚBICOS Numa rede cristalina de cubos de corpo centrado, cada átomo dos vértices é repartido com os sete outros vértices dos cubos vizinhos, possuindo cada vértice somente 1/8 de átomo, ou seja, 8. 1/8 + 1(átomo do centro) = 2 átomos por célula unitária. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 34 Figura 2.11 2 átomos por célula unitária Já na rede de cubos de faces centradas, cada cristal possui 1/8 de átomo em cada vértice e meio átomo no centro de cada face. Os átomos das faces são repartidos com as faces adjacentes. 8.1/8 + 6.1/2 = 4 átomos. Figura 2.12 4 átomos por célula unitária Exemplo 2 Calcule o volume de uma célula unitária CFC em termos do raio atômico R Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 35 SOLUÇÃO De acordo com a figura 2.12 a partir do triângulo reto na face, temos VC = a 3 = (2R 2 ) 3 = 16R3 2 No caso para uma célula unitária CCC temos a seguinte relação da aresta em função do raio atômico: a = 4R/ 3 CÁLCULO DE MASSA ESPECÍFICA Um conhecimento da estrutura cristalina de um sólido metálico permite o cálculo de sua massa específica teórica através da relação ρ = AcNV nA onde n = número de átomos associados a cada célula unitária A = peso atômico 22 2 4 2 )4( 2 )4( )4(2 )4( 2 2 2 22 222 Ra R a R a R a Ra Raa Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 36 Vc = volume da célula unitária NA = número de avogrado ( 6,023 x 10 23 átomos/mol) Exemplo 3 O cobre possui um raio atômico de 0,128nm, uma estrutura cristalina CFC e um peso atômico de 63,5g/mol. Calcule a sua massa específica teórica e compare a resposta com a sua massa específica medida. SOLUÇÃO ρ= AcNV nA = ANR nA )216( 3 = = = )/10023,6](/)1028,1(216[ )/5,63)(/4( 2338 molátomosxáriacélulaunitcmx molgáriacélulaunitátomos = 8,89g/cm3 O valor encontrado na literatura para a massa específica do cobre é de 8,94/cm3, o que está em excelente aproximação com o resultado anterior. FATOR DE EMPACOTAMENTO ATÔMICO (FEA) O FEA é a soma dos volumes das esferas de todos os átomos no interior de uma célula unitária dividida pelo volume da célula unitária, ou seja: FEA = volume dos átomos em uma célula unitária / volume total da célula unitária Tipicamente, os metais possuem fatores de empacotamento atômico relativamente elevados comparados a outros materiais. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 37 Exemplo 4 Demonstre que o fator de empacotamento atômico para a estrutura cristalina CFC é de 0,74. SOLUÇÃO O volume de uma esfera é 3 3 4 R , e uma vez que existem quatro átomos por célula unitária CFC, o volume total dos átomos (ou esferas) é 4 3 3 4 R = 3 3 16 R e de acordo com o exemplo 2, o volume total da célula unitária é 16R3 2 , portanto, o fator de empacotamento atômico é FEA = 216 ) 3 16 ( 3 3 R R = 0,74 DEFEITOS DOS CRISTAIS Os defeitos nos cristais podem ser causados pela sua arrumação durante o seu crescimento, por vibração, vazios ou lacunas etc. Consideremos até nesse momento a rede cristalina como um empilhamento perfeitamente simétrico, mas, na realidade, os metais não são perfeitos. Do ponto de vista geométrico podemos classificar os defeitos das redes cristalinas em Defeitos de ponto Defeitos de linha Defeitos de superfícies Os defeitos pontuais podem ser Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 38 Lacunas pontuais: é a mais simples, normalmente ocorre quando falta um átomo no reticulado normal. Figura 2.13 Lacuna Átomos intersticiais: um átomo é preso numa posição intermediária dentro do reticulado cristalino. Figura 2.14 Átomos intersticiais Defeito de linha é a discordância, que é o acúmulo de vários átomos numa mesma linha com o mesmo tipo de defeito. Já os defeitos de superfícies aparecem geralmente nos contornos dos grãos ou junções dos cristais. DEFEITOS DURANTE A SOLIDIFICAÇÃO DOS METAIS -Bolhas: vazios oriundos de gases dissolvidos no líquido e que ficaram retidos no lingote fundido. Para se evitar as bolhas utilizam-se, desoxidantes. Ex: Fe-Si, Fe-Mn, que evitam a formação de CO ou CO2, pois se combinam com o O2. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 39 -Trincas: são ocasionadas pelas tensões excessivas que se desenvolvem durante o resfriamento ou ainda devido ao formato desigual das peças, impedindo o resfriamento uniforme. -Segregação: ao solidificar um metal, as impurezas como: fósforo e enxofre, não são tão solúveis no estado sólido como no líquido, portanto são repelidas para o líquido quando a solidificação se propaga. A solidificação cominha da periferia para o centro, portanto é no centro que as impurezas se acumulam, esse fenômeno é denominado segregação. -Rechupe: a solidificação de um metal se inicia pelas partes que estão em contato com as paredes do molde ou na parte superior, onde o metal está exposto ao ar. O metal ao passar do estado líquido para o sólido diminui seu volume, portanto aparecerá uma região central no lingote ou peça que se chama rechupe. DEFORMAÇÃO PLÁSTICA DOS METAIS A deformação plástica acarreta uma mudança de lugar permanente dos átomos da rede cristalina. Com a interrupção das tensões, os átomos da rede cristalina não retornam as suas distâncias interatômicas normais, ou seja, não voltam as suas posições de origem. Dois mecanismos estruturais básicos podem estar presentes no cristal durante o processo de deformação plástica: escorregamento e maclação. No escorregamento uma parte do cristal move-se em relação a outra parte, segundo determinados planos e direções. Na maclação uma parte do cristal inclina-se em relação a outra parte a partir de um plano limite das duas partes. O principal mecanismo de deformaçãoplástica, contudo, é o de escorregamento provocado pela movimentação de discordâncias. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 40 Figura 2.15 Escorregamento e maclação A presença de contornos de grão interfere no comportamento dos metais quando sujeitos a deformação. Assim sendo nos metais policristalinos, como ocorre geralmente, o tamanho de grão é um dos fatores importantes a considerar na sua deformação plástica, assim como nas suas propriedades mecânicas. A deformação quando aplicada nos metais policristalinos, ocorre no interior dos grãos. Ao passar de um grão para outro, a orientação cristalográfica muda bruscamente.os grãos que estão orientados em relação a direção do esforço aplicado, deformam-se em primeiro lugar, em seguida deformam-se os grãos menos favoravelmente orientados. A deformação em geral não se dá através dos contornos dos grãos, pode-se dizer assim que esses contornos constituem uma região de maior resistência mecânica. Dessa Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 41 forma podemos concluir que a medida que diminui o tamanho de grão, aumenta a resistência à deformação mecânica. DEFORMAÇÃO A FRIO E DEFORMAÇÃO A QUENTE Costuma-se distinguir o trabalho mecânico a frio do trabalho mecânico a quente, por uma temperatura indicada como temperatura de recristalização, que é característica de cada metal e definida como “a menor temperatura na qual uma estrutura deformada de um metal trabalhado a frio é restaurada ou é substituída por uma estrutura nova, livre de tensões, após a permanência nessa temperatura por um tempo determinado”. O trabalho mecânico a frio ao causar uma deformação plástica abaixo da temperatura de recristalização provoca o chamado encruamento cujos efeitos são traduzidos por uma deformação da estrutura cristalina e modificação das propriedades mecânicas do material, efeitos esses tanto mais intensos, quanto maior a intensidade do esforço mecânico a frio. O material encruado também sofre uma diminuição da condutibilidade elétrica ficando num estado de elevadas tensões internas devido ao aumento do número de discordâncias. Um metal no estado normal ( recozido) contém cerca de 106 a 108 discordâncias por centímetro quadrado, enquanto que um metal severamente encruado contém cerca de 1012 discordâncias por centímetro quadrado. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 42 Tabela 2.8 Efeito do encruamento de alguns metais e ligas As propriedades e a estrutura do metal alteradas pelo trabalho a frio podem ser recuperadas ou devolvidas ao estado anterior ao encruamento mediante um tratamento térmico de recristalização ou recozimento. O principal efeito da recuperação é o alívio das tensões internas, restaurando-se ao mesmo tempo certos característicos físicos alterados, como a condutibilidade elétrica que aumenta rapidamente. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 43 Tabela 2.9 Temperatura de recristalização de alguns metais Metal Temperatura de recristalização (ºC) Temperatura de fusão (ºC) Alumínio 150 660 Magnésio 200 650 Prata 200 960 Ouro 200 1063 Cobre 200 1083 Ferro 450 1536 Platina 450 1769 Níquel 600 1450 Molibdênio 900 2610 Tungstênio 1200 3410 Polimorfismo Dois cristais são polimorfos quando possuem estruturas cristalinas diferentes, mas a mesma composição. Materiais não cristalinos (amorfos) São aqueles nos quais os átomos não se repetem num arranjo em largas distâncias. Exemplos: Vidro Gases Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 44 QUESTÕES DO CAPÍTULO 1) O que é metalurgia? 2) O que é corrosão? 3) Quem apresenta no estado natural, maior tendência a sofrer oxidação, o alumínio ou o ferro? Explique 4) Quais são as etapas de obtenção do ferro? 5) O que é Fe2O3 ? 6) Qual a finalidade do carvão no alto forno? 7) O que é fazer reduzir um elemento químico? 8) Quais são as principais impurezas que compõem o ferro gusa? 9) Qual a característica principal do ferro gusa? 10) O que é aço? 11) Quais as principais propriedades mecânicas que o aço deve possuir? 12) O que é ferro alfa? 13) O que é ferro gama? 14) O que é CCC e qual a sua faixa de estabilidade para o ferro puro? 15) A célula unitária do Fe é cúbica e contém 4 átomos. Determine o parâmetro cristalino do Fe em metros. 16) Qual a diferença do ferro fundido branco para o cinzento? 17) Quais são as reações que ocorrem no alto forno? 18) O que é encruamento? 19) Cite três defeitos dos cristais 20) O que é um material maleabilizado? 21) Quais são as vantagens do ferro fundido? 22) Cite quatro tipos de reticulados cristalinos 23) O que é alotropia? 24) O que é escorregamento e maclação? 25) Um material metálico passou por um processo de conformação a frio e sofreu encruamento, como podemos melhorar a sua estrutura? Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 45 26) É possível prever quanto minério será necessário para obter 20 toneladas de ferro? 27) Quanto de carvão é consumido quando 30Tde ferro são produzidas? 28) Quanto de calcário a usina emprega quando retira 10T de escória? 29) Utilizando a tabela periódica, procurar as massas atômicas dos elementos que constituem as seguintes substâncias e calcule as massas molares de cada uma delas: a) óxido de ferro II FeO b) dióxido de carbono; CO2 c) carbonato de cálcio; CaCO3 d) gás oxigênio; O2 30) Quantos gramas de ferro podem ser obtidos a partir da transformação de 160Kg de óxido de ferro III? 31) Quantos gramas de óxido de ferro III são necessários para interagir com 216Kg de carvão? 32) Queimando-se 40g de carvão, produziu-se 131g de dióxido de carbono. Qual o rendimento desse processo? 33) Qual a massa de ferro que se forma ao se carregar o alto-forno com hematita de pureza 89,9%? Considere o rendimento do processo como 100%. 34) Qual a massa de ferro contida em 32T de hematita de pureza 90%? 35) Um litro de álcool combustível tem massa de 0,79Kg. Qual os eu poder calorífico em Kcal/L? 36) Se um litro de gasolina pesa 0,745Kg, qual o seu poder calorífico em Kcal/L? 37) O tanque de um carro tem 60L de capacidade. Quantos litros de álcool devem ser queimados para liberar a mesma quantidade de calor que 60L de gasolina? Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 46 38) Se o raio atômico do chumbo vale 0,175nm, calcule o volume de sua célula unitária em metros cúbicos. 39) Mostre que para uma estrutura cristalina cúbica de corpo centrado o comprimento da aresta da célula unitária a e o raio atômico R estão relacionados pela expressão a = 4R/ 3 40) O molibdênio possui uma estrutura cristalina CCC, um raio atômico de 0,1363nm e um peso atômico de 95,94g/mol. Calcule e compare a sua massa específica teórica com o valor experimental. 41) O nióbio possui um raio atômico de 0,1430nm e uma massa específica de 8,57g/cm3. Determine se ele possui uma estrutura cristalina CFC ou CCC. 42) Mostre que o fator de empacotamento atômico para a estrutura cristalina CCC vale 0,68. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 47 AULA 3 AÇO Aço: liga Fe-C contendo geralmente de 0,008 até cerca de 2% de C (carbono), além de certos elementos residuais do processo, sendoum material tenaz, de excelentes propriedades, de fácil trabalho, podendo também ser forjável. Principais influências do carbono nas propriedade do aço: Aumento da dureza Aumenta o limite de resistência e limite de escoamento Redução da ductilidade Diminui a tenacidade Diminuição do alongamento Aumenta a temperabilidade (formação da martensita) Dificulta a soldagem (endurecimento e trincas na solda e na ZAT – zona afetada termicamentre) AÇOS- CARBONO São os aços resultantes de uma combinação química de ferro e carbono, nas quais o teor de carbono varia entre 0,05 a 1,7%. Comumente tais aços contém além do Fe e C, outros elementos como o manganês, silício, enxofre e o fósforo que entram na composição em porcentagens pequenas e que são considerados impurezas. Porém se o teor de manganês for superior a 1,65% ou o do silício acima de 0,60%, 0s aços serão classificados entre os de liga. As Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 48 propriedades mecânicas dos aços- carbono variam quase que exclusivamente em função do teor de carbono existentes nas respectivas composições, pois, quanto maior o teor deste, o aço se torna mais duro e resistente à tração, enquanto que diminui em tenacidade, alongamento e maleabilidade. EFEITOS DOS ELEMENTOS COMPONENTES Ferro (Fe): é o elemento básico da liga. Carbono ( C): elemento determinativo dos aços-carbono. Manganês ( Mn): é adicionado ao aço no curso de sua produção siderúrgica, como elemento desoxidante e dessulfurizante, e a maior parte dele é removida em forma de escória, permanecendo na composição final um teor inferior a 1,65%. Silício (Si): todos os aços-carbono contém silício em proporção que varia de 0,05 a 0,30%, a qual constitui uma impureza normal, não exercendo grandes influências nas propriedades dos aços. Enxofre (S): é tolerado nos aços um teor mínimo de 0,055% nos aços denominados de “corte livre”, em que esse elemento é adicionado até 0,35% para melhorar a usinabilidade dos mesmos. Fósforo (P): quando o teor ultrapassar certos limites, esse elemento passa a constituir um dos componentes mais nocivos para os aços, uma vez que os tornam frágeis e quebradiços. CLASSIFICAÇÃO DOS AÇOS-CARBONO Comumente os aços–carbono são classificados, segundo o teor de carbono como indica a tabela 1.1 Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 49 Tabela1.1 Classificação dos aços-carbono Carbono (%) Denominação Até 0,15 Extra doce 0,15 a 0,30 Doce 0,30 a 0,40 Meio doce 0,40 a 0,60 Meio duro 0,60 a 0,70 Duro 0,70 a 1,20 Extra duro 1,20 a 1,70 Emprego especial Os aços-carbono com teor de carbono superior a 0,30% adquirem têmpera e até 0,30% podem ser endurecidos superficialmente através de um tratamento especial denominado cementação. Com até 0,30% de carbono eles são encontrados comercialmente em forma de chapas, fios, vergalhões, perfilados e tubos. Com mais de 0,30% de carbono os aços são fornecidos em forma de barras ( circulares, sextavadas, quadradas, retangulares). Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 50 AÇOS-LIGA Os Aços-liga contém quantidades específicas de elementos de liga diferentes daqueles normalmente utilizados nos aços comuns. Estas quantidades são determinadas com o objetivo de promover mudanças nas propriedades físicas e mecânicas que permitam ao material desempenhar funções específicas. Os aços-liga costumam ser designados de acordo com o(s) seu(s) elemento(s) predominante(s), como por exemplo, aço-níquel, aço- cromo e aço-cromo-vanádio. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 51 Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 52 Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 53 EFEITOS DOS ELEMENTOS DE LIGA Níquel: Aumentam a resistência ao desgaste, o limite de elasticidade, a dureza e a tenacidade. Adicionado juntamente com o cromo fica conhecido como aços inoxidáveis. Cromo: Aumentam o limite de elasticidade, dureza, a resistência ao desgaste e melhora a propriedade de têmpera em água ou óleo sem muita deformação. É classificado entre os aços inoxidáveis com teor superior a 10%. Manganês: Só é considerado elemento de liga quando sua porcentagem for superior a 1,65%. Adicionado em pequenas quantidades aumenta a dureza, a resistência ao desgaste e a resistência a tração. Molibdênio: Depois do carbono esse elemento é o que exerce maior influência na dureza do aço. Aumenta a profundidade de têmpera, aumentando também a resistência à corrosão dos aços inoxidáveis. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 54 Tungstênio: Aumenta a dureza do aço e sua resistência ao calor, assim como a tensão de ruptura e o limite de escoamento. Cobalto: Entra na composição dos aços para as ferramentas de corte e na fabricação de imãs permanentes. Pequenas proporções são adicionados aos aços especiais para as ferramentas, que lhes proporcionam maior dureza, no entanto, em grandes porcentagens tornam os aços menos resistentes ao impacto. Silício: Todas as categorias de aços contém algumas porcentagens de silício e em sua maioria entre 0,10 a 0,35%. Ele desoxida os aços e com um teor de até 1,75% aumentam o limite de elasticidade e a resistência ao impacto. Vanádio: Tem a propriedade de aumentar a resistência a tração sem diminuir a ductilidade. Com maiores porcentagens, emprega-se na fabricação de aços rápidos. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 55 Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 56 AULA 4 TRATAMENTO TÉRMICO DOS AÇOS Denomina-se de tratamento térmico a qualquer operação que envolva um aquecimento do material até certa temperatura, seguido de um resfriamento adequado, visando a mudança da estrutura do aço, bem como suas propriedades em geral. De acordo com o objetivo do tratamento e do resultado que se queira obter, os aços devem ser aquecidos até as respectivas temperaturas preestabelecidas e também, serem resfriados de maneira apropriada. Definições: Austenita: é a solução sólida do carbono em ferro gama. Ferrita: é a solução sólida do carbono em ferro alfa. Cementita: o carboneto de ferro (Fe3C). Grafita: a variedade alotrópica do carbono (estrutura cristalina hexagonal). Perlita: ferrita + cementita Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 57 AQUECIMENTO DO AÇO O que acontece com o aço ao ser aquecido? No caso de aço não ligado que contém 0,4% de carbono: - em temperatura de 300°C a estrutura do aço ao carbono é igual a sua estrutura na temperatura ambiente: ferrita (cor branca) e perlita (cor preta); - em temperatura de 723°C inicia-se uma transformação em sua estrutura: a ferrita transforma-se em austenita e a cementita da perlita se decompõe; - em temperatura de 800°C toda a estrutura do aço transforma-se em austenita. O gráfico anterior ilustra uma região de mudança de fase em intervalo de temperatura: A ferrita e a perlita transformam-se em austenita. Essa região é chamada zona crítica: área em que as células unitárias do ferro CCC se transformam em CFC, durante o aquecimento do aço. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 58 A austenita forma-se no aço a partir de 723° C. Encontra-se na região acima da zona crítica, na zona de austenitização, conforme se pode observar no gráfico. A austenitatem uma estrutura cúbica da face centrada (CFC), apresentando menor resistência mecânica e boa tenacidade. Não é magnética. Os cristais de ferro puro observados ao microscópio formam uma estrutura denominada ferrita. A ferrita é ferro alfa, ou seja, ferro puro que pode conter em solução, pequenas quantidades de Si-P e outras impurezas. Cristaliza no sistema cubo de corpo centrado, tem uma resistência aproximada de 28 Kg/mm2, 35% de alongamento e uma dureza de 90 Brinell. É o mais mole de todos os constituintes, muito dúctil, maleável e magnético. O teor de carbono exerce significativa influência nas propriedades mecânicas do aço. Quanto maior, maiores a dureza e a resistência à tração. Entretanto, aços com elevados teores de carbono são prejudicados pela maior fragilidade devido à maior quantidade de cementita, uma substância bastante dura mas quebradiça. A cementita deposita-se em forma de finas lamelas entre os cristais de ferro formando outra estrutura regular denominada de perlita. A perlita aparece geralmente por esfriamento lento da austenita, tem uma resistência de 80Kg/mm e um alongamento de 15%. Ao microscópio, a perlita apresenta-se como um desenho parecido com uma impressão digital. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 59 Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 60 TRATAMENTOS TÉRMICOS De modo geral, o tratamento térmico consiste em aquecer e resfriar uma peça de metal para que ela atinja ás propriedades mecânica desejadas como dureza, elasticidade, ductibilidade e resistência a tração, que são chamadas propriedades mecânicas do metal. A peça adquiri esta propriedade sem que se modifique o estado físico do metal. PROCESSO A peça de aço deve ser colocada em um forno com temperatura definida para o tipo de material, durante o tempo que foi calculado para alcançar o efeito desejado. Retira-se com segurança do forno com o uso de uma tenaz e submete-se ao resfriamento. O resultado desse processo é a mudança nas propriedades mecânicas do aço, e dependem de três fatores: - Temperatura de aquecimento - Velocidade de resfriamento - Composição química do material FATORES DE INFLUÊNCIA NOS TRATAMENTOS TÉRMICOS O tratamento térmico representa um ciclo tempo temperatura, de modo que, basicamente, os fatores a considerar são os seguintes: aquecimento, tempo de permanência à temperatura e resfriamento. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 61 AQUECIMENTO. Considerando como objetivo fundamental do tratamento térmico a modificação das propriedades mecânicas do material, verifica-se que isto só é conseguido mediante uma alteração da sua estrutura. Nestas condições, a liga considerada deve ser aquecida a uma temperatura que possibilite tal modificação. Esta temperatura corresponde geralmente valores acima da temperatura de recristalização do material; no caso dos aços chamamos de temperatura crítica. No aquecimento deve ser considerado o fator velocidade de aquecimento, que não pode ser muito lenta, caso contrário haverá excessivo crescimento de grão, Ou muito rápida, o que poderá provocar empenamento ou mesmo aparecimento de fissuras. TEMPO DE PERMANÊNCIA À TEMPERATURA. A influência do tempo de permanência à temperatura de aquecimento é mais ou menos idêntica a influência da máxima temperatura de aquecimento, ou seja, o tempo à temperatura deve ser suficiente para que as peças se aqueçam de modo uniforme através de toda sua seção. Deve-se evitar tempo além do estritamente necessário para que isto ocorra, pois pode haver indesejável crescimento de grão, além da oxidação de determinadas ligas. RESFRIAMENTO. A escolha do meio de resfriamento é fundamental no processo de tratamento térmico e depende essencialmente da estrutura final desejada. O aumento do percentual do carbono na liga é o responsável pelo aumento da dureza do aço. Esse aumento do carbono se traduz pelo aumento da cementita na mistura. Com os tratamentos térmicos podemos modificar as formas de cristalização do aço e a disposição do carbono na liga, modificando, assim, a dureza do material. A modificação da forma de cristalização é conseguida através da Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 62 velocidade de resfriamento podendo endurecer ou “amolecer“ o material. TIPOS DE TRATAMENTOS TÉRMICOS Existem duas classes de tratamentos: Os tratamentos térmicos: que por simples aquecimento e resfriamento, modificam as propriedades de toda a massa do aço. Os tratamentos termoquímicos: que modificam as propriedades somente numa fina camada superficial da peça. Nesses tratamentos a peça é aquecida juntamente com produtos químicos e posteriormente resfriada. RECOZIMENTO Esse tratamento térmico tem por objetivo redução da dureza que os aços possam apresentar devido a processos anteriores tais como: conformação a frio (encruamento), tratamentos térmicos, processos de soldagem, fundição ou outros processos que gerem endurecimento. Torna o aço mais homogêneo, melhora sua ductilidade tornando-o facilmente usinável. O tratamento consiste em elevar-se a temperatura da peça até a transformação completa em austenita e resfriar-se lentamente. de uma maneira geral, indica-se o resfriamento com a peça envolvida em areia para os aços de baixo carbono e o resfriamento controlado dentro do forno, para os Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 63 aços de alto carbono. Após o recozimento a perlita se apresenta mais grosa resultando daí uma menor dureza e resistência NORMALIZAÇÃO Pode ser também chamado de recozimento de normalização. O seu objetivo é dotar o aço de suas características normais (material laminado a quente e resfriamento ao ar). A normalização refina a granulação do aço; apaga vestígios de tratamentos térmicos anteriores; elimina microestruturas brutas de fundição; regulariza microestruturas em juntas soldadas. As peças Normalizadas apresentam dureza média e uma boa resistência mecânica ao contrário das peças recosidas que são bem macias; maleáveis e pouco resistentes. O tratamento consiste em aquecer o material até a temperatura de transformação da austenita e fazer- se resfriamento ao ar. As microestruturas obtidas na normalização são semelhantes às do recozimento apenas com a diferença de que a perlita se apresenta mais fina resultando daí uma maior dureza e resistência. REVENIMENTO É um tratamento térmico subcrítico (abaixo da temperatura de transformação da austenita) Tem como objetivo aliviar as tensões na martensita reduzindo significativamente sua fragilidade reduzindo conseqüentemente a dureza obtida na têmpera. A microestrutura obtida é chamada martensita revenida. As temperaturas do revenido podem variar de acordo com o desejo de maior ou menor alívio de tensões internas e a sua conseqüente perda de dureza. Altas temperaturas de revenido podem estar Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 64 entre 550/650° C e baixas temperaturas estão entre 300/400° C. Resfriamento ao ar. TÊMPERA O tratamento de têmpera consiste em elevar-se o material à temperatura de transformação da austenita e resfriar-se o material rapidamente. Esse resfriamento deve ser mais rápido quanto menor for o teor de carbono no material. Podemos utilizar como meios de resfriamento desde a salmouragelada, passando por resfriamento em água gelada, água à temperatura normal, óleo, ar soprado ou ar normal. Os tratamentos de têmpera também podem apresentar diversas maneiras de serem efetuados. Temos a têmpera comum com pouco controle no resfriamento ou as têmperas mais elaboradas que por isso mesmo recebem os nomes de austêmpera ou martêmpera. A microestrutura que se deseja obter na têmpera comum é a martensita. Essa microestrutura apresenta elevada dureza, elevada resistência mecânica e elevada fragilidade. A têmpera comum causa um grau elevado de tensões internas podendo gerar trincas e empenos em peças mais delicadas. Outro resultado dessa têmpera é a perda de tenacidade. Para reduzir esses inconvenientes é indicado a seguir um tratamento de revenimento. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 65 Para se entender os tratamentos térmicos a seguir é necessário conhecer as curvas TTT. As curvas, Temperatura, Tempo, Transformação (TTT) são características que os aços apresentam no resfriamento. Visto em um gráfico x, y (temperatura, tempo) elas assim se apresentam: Vejamos, então como podemos aproveitar essas características dos aços ao serem resfriados. Quando queremos obter uma transformação na estrutura interna de uma peça de aço, devemos aquecê-la a uma temperatura acima da linha de transformação da austenita. Ao resfriá-la podemos fazê-lo mais ou menos lentamente. A distância (tempo) entre o zero e o ponto “a” no gráfico varia para cada tipo de aço podendo ser muito grande ou menor que zero. Por isso devemos conhecer essas curvas do aço que queremos temperar para que possamos utilizar o tipo de têmpera mais adequado. Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 66 Quando a curva do resfriamento, devido à sua pouca velocidade corta as curvas “1 “ e “2 “ no seu ponto alto obtemos uma microestrutura no material formada por perlita grosseira (recozimento). Quando a velocidade de resfriamento é um pouco maior temos como microestrutura, no material, a perlita fina (normalização). Quando essa velocidade é muito grande e não corta as curvas temos a formação de martensita (têmpera comum). MARTÊMPERA A martêmpera tem por objetivo obter na peça tratada uma estrutura de martensita como na têmpera comum, porém devemos controlar o resfriamento para que quando a temperatura alcançar a linha Mi (início da formação da martensita) esse resfriamento é retardado de maneira que a transformação se complete mais lentamente. O meio de resfriamento é normalmente óleo ou sal fundido. O material é mantido maior tempo entre as duas linhas de transformação para que a formação da martensita se dê de maneira uniforme, gerando menores tensões internas. Em seguida a peça é resfriada a qualquer velocidade. Esse tratamento Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 67 normalmente necessita o tratamento de revenimento para aliviar tensões residuais. AUSTÊMPERA É um tratamento de endurecimento dos aços que consiste em aquecer o material acima da temperatura de formação de austenita manter essa temperatura até a completa transformação e fazer um resfriamento brusco até uma temperatura ligeiramente acima da linha Mi. Esse processo é obtido através da manutenção do material em banho de chumbo ou sal (fundidos) (260 a 440° C). Deixando o material a uma temperatura constante durante o tempo em que a linha de resfriamento ultrapassa as curvas “1” e “2” na altura de transformação da bainita (sempre em temperatura constante). A temperatura escolhida depende da dureza que queremos obter. Quanto mais baixo no gráfico atingimos a bainita maior endurecimento vamos conseguir. Esse tratamento dispensa o revenimento por gerar baixas tensões internas. É normalmente indicado para temperar peças delicadas onde os empenos e as deformações são críticos. A desvantagem desse tratamento é que ele não pode ser feito em aços de baixa temperabilidade além de ser um tratamento mais caro. TRATAMENTOS TERMOQUÍMICOS CEMENTAÇÃO A finalidade da cementação é fazer com que um aço de baixo teor de carbono (macio) fique com a superfície dura, reunindo assim as duas características ideais de uma peça. Que seja macia o suficiente para não partir com a continuidade de choques e não se desgastar por abrasão nos pontos onde se Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 68 atrite com outras peças, como nos mancais. Esse tratamento é feito aquecendo a peça em um ambiente rico em carbono, o material do ambiente em que fica a peça pode ser sólido, líquido ou gasoso. A peça deve permanecer nesse ambiente por um tempo suficiente para que o carbono migre através do material da peça tornando assim, a superfície rica em carbono. A espessura da camada dura depende do tempo de permanência da peça nesse ambiente. Essa permanência a alta temperatura faz com que cresça demasiadamente a granulação do material cementado. Para que isso não aconteça o aço deve ser especial para cementação, quer dizer, deve ter elementos de liga que iniba o aumento do grão, com a temperatura. Após o tratamento superficial (cementação) a peça deve ser temperada para que a camada superficial, rica em carbono adquira a dureza desejada. Muitas vezes esse endurecimento é feito através da têmpera por indução. NITRETAÇÃO É um tratamento semelhante à cementação. Apenas em vez do uso da atmosfera de carbono, utiliza-se uma atmosfera rica em nitrogênio. Esse elemento combina-se com alguns elementos de liga do aço (principalmente o alumínio), formando nitretos que têm elevada dureza. Esse tratamento tem como vantagem sobre a cementação o fator de não necessitar têmpera e ainda aumentar a resistência da peca à fadiga e à corrosão. Tem ainda a vantagem de utilizar temperaturas menores que a com menores riscos de empenos da peça nitretada. Tanto na nitretação como na cementação o interior da peça não sofre modificações consideradas. CARBONITRETAÇÃO O meio carbo-nitretante é uma atmosfera gasosa, contendo carbono e nitrogênio ao mesmo tempo. A atmosfera pode ser constituída pelos seguintes gases: Gás de gerador – 77 a 89% Gás natural – 9 a 15% Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 69 Amônia – 2 a 8% A temperatura vária de 700º. a 900º. C e o tempo de tratamento é relativamente pequeno; a espessura das camadas carbo-nitretadas vária de 0,07 a 0,7 mm A carbonitretação é usada, geralmente em peças de pequeno porte, como componentes de relógios e aparelhos eletrodomésticos. Temperaturas ideais de alguns tratamento térmicos Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 70 QUESTÕES DO CAPÍTULO 1)No que consiste a têmpera? 2) Para temperar um aço com 1,40% de carbono recomenda-se aquece-lo a uma temperatura acima de aproximadamente 850ºC e depois resfria-lo rapidamente. Esse procedimento está correto? Caso não esteja explique o processo ideal. 3)Qual ou quais tratamentos térmicos que consiste aquecer um aço com 0,4% de carbono acima do ponto crítico e em seguida resfria-lo ao ar? 4)Quando normalmente utiliza-se o tratamento térmico de alívio de tensões? 5)O que é ferrita? 6)O que é cementita? 7)O que é austenita? 8)O que é perlita? 9)O que é martensita? Profº Tecgº, Me André R. Q. Panesi 71 10)Explique porque no tratamento de Têmpera o aço para aumentar a máxima dureza necessita ser resfriado rapidamente. 11)O que é bainita?
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