Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
9 INTRODUÇÃO A importância da organização sindical dos trabalhadores, bem como o direito à liberdade de associação, surge da conscientização dos trabalhadores de que a luta de classes se faz necessária para que haja conquistas de condições mínimas de trabalho. A Constituição Federal de 1988 garantiu ao trabalhador o direito à liberdade de associação profissional ou sindical em seu artigo 8º, atendendo seu status de Direito Fundamental. João Trindade Cavalcante Filho1 define direitos fundamentais: “[...] como os direitos considerados básicos para qualquer ser humano, independentemente de condições pessoais específicas. São direitos que compõem um núcleo intangível de direitos dos seres humanos submetidos a uma determinada ordem jurídica”. (CAVALCANTE FILHO). Os Direitos Fundamentais expressam valores superiores e positivados na Constituição de um país, considerando sua condição suprema dentro de um Estado. Esses direitos fundamentais podem ser considerados de primeira, segunda ou terceira dimensão ou geração. Os direitos fundamentais de primeira dimensão surgem com a Revolução Francesa, no Século XVIII, quando os indivíduos passaram a buscar o direito de liberdade nas suas relações privadas, sem a intervenção estatal. Assim, esses direitos possuem caráter negativo, já que requerem a abstenção do Estado. Exemplos de direitos de primeira dimensão são: o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à liberdade de expressão, entre outros. Os direitos de segunda dimensão estão intrinsecamente ligados ao valor de igualdade e surgem da conscientização da sociedade de que não bastaria ao Poder Público respeitar direitos mínimos dos cidadãos, como na primeira dimensão, mas também ser responsável em promover certos valores 1 CAVALCANTE FILHO, João Trindade. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/repositorio/cms/portaltvjustica/portaltvjusticanoticia/anexo/joao_trindadade __teoria_geral_dos_direitos_fundamentais.pdf>. Acesso em: 31 de ago 2017. 10 para que os seres humanos pudessem efetivamente gozar de um mínimo existencial, exemplificativamente temos os direitos econômicos, sociais e culturais, onde se encontra o direito à liberdade de associação. Apenas para complementar, os direitos fundamentais de terceira geração, em suma, estão relacionados aos valores de fraternidade e solidariedade, como o direito ao meio ambiente e o direito de propriedade. A liberdade de associação é considerada como direito de segunda dimensão em razão do momento da sua afirmação histórica e não pela essência do direito, pois o direito à liberdade é reconhecido pelo Estado na primeira dimensão, mas a conscientização da necessidade de agrupamento dos trabalhadores para conquista de direitos mínimos surge, apenas, no século XVIII, com a Revolução Industrial, em função dos problemas sociais trazidos pelas mudanças mercadológicas. 11 CAPÍTULO I – HISTÓRIA DO SINDICALISMO 1.1 Origem do sindicalismo no plano internacional A afirmação do sindicalismo foi um processo demorado e marcado por conflitos. Amauri Mascaro Nascimento2 ensina que: [...] O sindicalismo é fruto da sedimentação de um movimento que percorreu um longo caminho até chegar à fase contemporânea [...] Para a defesa coletiva de seus interesses, os trabalhadores se organizaram sob diferentes formas, dentre as quais a mais importante é a sindical [...] (NASCIMENTO, 2012, p.57). A palavra sindicato encontra proximidade com a palavra síndico, ou seja, como um representante escolhido para defender direitos e interesses daqueles que o escolheram, assim os Amauri Mascaro Nascimento3: A palavra síndico é encontrada no direito romano para designar os mandatários encarregados de representar uma coletividade. No direito grego aparece a expressão sundike. Na França o vocábulo “síndico” (syndic) é utilizado como sinônimo de sujeito diretivo de grupos profissionais. Segundo Juan García Abellán daí derivou-se a palavra sindicato, para se referir aos trabalhadores e associações clandestinas, por eles organizadas no período subsequente à Revolução Francesa de 1789, no qual foram proibidas as coalizões. Em 1810, a Chambre Syndicale du Bâtiment de la Sainte-Chapelle, entidade parisiense constituída de diversas corporações patronais, emprega a mesma expressão formalmente. (NASCIMENTO, 2011, p. 1301). Homero Batista Mateus da Silva4 afirma que “a palavra guilda que originou do inglês guild evoca os tempos de corporações de oficio” (SILVA, 2015, p.16). Ressalta-se que as guildas possuíam fins religiosos e de assistência recíproca. Para parte da doutrina, as corporações de ofício foram um marco para o movimento sindical, sendo que, para outros, em razão da falta de liberdade individual, não pode ser considerado como tal. 2 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de Direito Sindical. 7ª ed. São Paulo: LTr, 2012, p.57. 3 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 1301. 4 SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de Direito do Trabalho Aplicado. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.16. 12 Nesse ponto, concordamos com José Claudio Monteiro De Brito Filho5, para quem “a forma de corporações de oficio, que reuniam, dentro de si, o capital (representado pelos mestres) e o trabalho (companheiros e aprendizes) nos leva a concluir não poderem ser elas consideradas o embrião do sindicalismo”. (BRITO FILHO, 2015, p. 52). As corporações de ofício eram de espécies de agremiações de trabalhadores formadas por mestres, companheiros e aprendizes, esses poderiam chegar a condição de mestres; tal concepção era apenas teórica, pois, na realidade, as corporações de ofício não passavam de monopólio dos proprietários das oficinas, sendo os companheiros os verdadeiros prestadores de serviços, que pagavam aos mestres para poderem exercer o oficio, dessa forma, os mestres exploravam as demais classes. Os aprendizes eram trabalhadores, em regra, menores, mas que estavam ali para aprender a profissão. Assim sendo, o indivíduo não possuía liberdade de trabalhar no sistema das corporações. Em 1789, com a Revolução Francesa, a burguesia passou a lutar contra a intervenção estatal no setor privado, pois buscavam a liberdade para que pudessem se autoafirmar e assim usufruir de seus direitos. Esse momento levou à instauração do Estado Liberal. Segundo Amauri Mascaro6 “coube à Revolução Francesa colocar a relação jurídica entre empregado e empregador na categoria da locação de serviços, com o princípio da liberdade contratual e a supressão das corporações de ofício”. (NASCIMENTO, 2011, p. 865). Com o liberalismo, o Estado se abstém de interferir nas relações privadas e passa a reconhecer o direito de liberdade como direito ínsito ao ser humano. Ressalta-se que o Estado não concedeu qualquer direito, apenas reconheceu o que já era do indivíduo. Nessa fase da Revolução Francesa, com a promulgação da Lei Le Chapelier, em 1791, na França, houve a proibição das corporações de oficio, bem como qualquer agremiação, de trabalhadores ou não. 5 BRITO FILHO, José Claudio Monteiro. Direito sindical. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2015, p.52. 6 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 865. 13 Amauri Mascaro Nascimento7 explica que: É possível considerar,como primeira manifestação proibitiva da associação dos trabalhadores, a Revolução Francesa de 1789 e o Liberalismo, enquanto consideraram a associação incompatível com a liberdade do homem. Nesse sentido, a Lei Le Chapelier (1791) inequivocamente exemplifica a fase de proibição das coalizões dos trabalhadores. Outras manifestações ocorreram no mesmo sentido. Na Grã-Bretanha uma antiga elaboração jurisprudencial da common law, como cita Antonio Ojeda Avilés, considera contrário ao interesse público todo pacto limitativo da liberdade de comércio individual, seguindo as teorias econômicas que exaltam a livre iniciativa mas vedam as uniões, com o que as leis sobre coalizões (1799 e 1800) proíbem as organizações ou reuniões de trabalhadores enquanto tiverem a finalidade de obter melhores salários ou influir sobre as condições de trabalho. Em diversos países, na mesma época, os sindicatos foram proibidos, considerados como conspiração delitiva, inclusive em países que haviam reconhecido o direito de associação, como a Bélgica. (NASCIMENTO, 2011, p. 1230, Grifo nosso). Com a Revolução industrial, os trabalhadores perceberam a necessidade de se agruparem, o que ocorreu em razão da alteração do sistema produtivo, entendendo assim, a necessidade imperiosa da luta de classes. Nesse sentido ensina Segadas Vianna8: A invenção da máquina e a sua aplicação à indústria iriam provocar a revolução nos métodos de trabalho e, consequentemente, nas relações entre patrões e trabalhadores; primeiramente a máquina de fiar, o método de pudlagem ( que permitiu de modo a preparar o ferro e transformá-lo em aço), o tear mecânico, a máquina a vapor multiplicando a força de trabalho, tudo isso iria importar na redução da mão de obra porque, mesmo com o aparecimento das grandes oficinas e fábricas, para obter um determinado resultado na produção, não era necessário tão grande número de operários. (VIANNA, 1997, p.34). O desenvolvimento industrial provocou a reunião dos trabalhadores ao redor das empresas, possibilitando o aparecimento de condições para a classe operária. Conforme Alberto Emiliano9: Seguindo a doutrina francesa, três são as etapas da consolidação jurídica das organizações sindicais. Sucessivamente, apresentam-se as fases da proibição, tolerância e reconhecimento. Em um primeiro momento, a associação de trabalhadores era vedada. Dispositivos que integravam o ordenamento jurídico inglês e francês, por exemplo, 7 Ibid., p. 1230. 8 SUSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições do Direito do Trabalho. 17. ed. São Paulo: Ltr, 1997. V.1, p. 34. 9 NETO, Alberto Emiliano de Oliveira. Contribuições Sindicais. O Direito Fundamental da Liberdade Sindical e as Modalidades de Financiamento dos Sindicatos, 2008. Disponível em: https://tede.pucsp.br/bitstream/handle/8334/1/Alberto%20Emiliano%20de%20Oliveira%20Neto. pdf. Consulta realizada em: 25.01.2017. 14 proibiam a reunião de trabalhadores e tipificavam como crime a atuação sindical, respectivamente. A atividade sindical, contudo, era inevitável. A proibição deixou de produzir efeitos e passou-se a um momento de tolerância mais tarde sucedido pelo reconhecimento jurídico das associações sindicais. (OLIVEIRA NETO, 2008, p. 9). Após a fase de proibição das coalizões, o Estado percebeu a necessidade de aceitá-las com restrições, ou melhor, tolerá-las, já que a proibição não impediu que as mesmas existissem, ainda que não tivessem reconhecimento legal, eram entes de fato. Assim, só após a fase de tolerância, os trabalhadores tiveram a percepção de que precisavam se agrupar para serem ouvidos, pois sozinhos não conseguiriam causar impacto. Jessica Maria Sabino Guedes10 traz uma síntese bastante interessante dessas três fases: [...] neste período as organizações sindicais, apesar de não terem reconhecimento legal, já eram entes de fato. Ressalta, ainda, que apenas em um segundo momento, o Estado aprovou leis que autorizassem o direito de associação sindical. Entretanto, a mera condescendência do Estado com as associações não foi suficiente para acompanhar a evolução do sindicalismo, que cada vez mais ocupava um papel importante nas relações sociais. Surge, nesse contexto, a fase do reconhecimento. Como a própria denominação permite vislumbrar, a terceira fase é caracterizada pelo reconhecimento estatal da figura dos sindicatos. Ainda, de acordo com o referido autor, este reconhecimento se deu em duas dimensões de acordo com a postura do Estado. Em alguns países, o reconhecimento ocorreu sob o controle estatal (conforme explicitado no capítulo anterior esse foi o caso da maioria dos países da América Latina) e nos demais, o sindicalismo foi reconhecido com liberdade. (GUEDES, 2014, grifo nosso). Em 1919, como marco histórico importante, houve a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial. A Convenção 87 da OIT11, em 1948, preconizou a liberdade sindical em um modelo ideal, no qual trabalhadores e empregadores tinham direito de constituir seus organismos sindicais, administrando-se, organizando-se e 10 GUEDES, Jessica Maria Sabino. O princípio da liberdade sindical e o sindicato único: uma análise do modelo de organização brasileiro, 2014. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/10082/1/2014_JessicaMariaSabinoGuedes.pdf. Consulta realizada em: 25.01.2017. 11BRASIL. OIT (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO). Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/content/liberdade-sindical-e-prote%C3%A7%C3%A3o-ao-direito-de- sindicaliza%C3%A7%C3%A3o. Consulta realizada em: 25.02. 2017. 15 exercendo as próprias funções de modo livre, sem restrições estatais ou de terceiros. Salienta-se que a Convenção 87 não foi ratificada pelo Brasil em razão de conflitos principiológicos, assim como explica Amauri Mascaro do Nascimento12 : “a Constituição Federal (art. 8º) impede a ratificação da Convenção n. 87 da OIT. Dispõe que o sistema sindical deve ser confederativo, com sindicatos, federações e confederações, e proíbe a criação de mais de uma associação sindical, em qualquer nível, representativa de certa categoria em uma mesma base territorial.”. (NASCIMENTO, 2011, p. 1257). Amauri Mascaro13 também especifica que: Corolário do princípio é a incompatibilidade da unicidade sindical com a Convenção n. 87, assim considerada a proibição, por lei, da existência de mais de um sindicato representativo da mesma categoria na mesma base territorial. É aqui que se situa a polêmica questão que divide o movimento sindical: de um lado, a tese da pluralidade sindical, de outro, a da unicidade sindical. Há uma diferença doutrinária entre pluralidade, unicidade e unidade. Pluralidade é o direito de fundação, na mesma base territorial, de tantos sindicatos quantos os grupos pretenderem. Unicidade, como ficou dito, é a vedação legal de mais de um sindicato da mesma categoria na mesma base territorial. Unidade é a união espontânea dos grupos e sindicatos, não por força de lei, mas por opção própria, valendo-se da liberdade sindical. Está clara a posição da Organização Internacional do Trabalho quando sustenta (Comitê de Liberdade Sindical, Informe n. 16) que, “apesar de que os trabalhadores podem ter interesse em evitar que se multipliquem as organizações sindicais, a unidade do movimento sindical não deve ser imposta, mediante intervenção do Estado, por via legislativa, pois essa intervenção é contrária ao princípio incorporado nos arts. 2 e 11 da Convenção n. 87”. No mesmo sentido é a afirmação segundo a qual (Comitê de Liberdade Sindical, n. 18), “seé evidente que a Convenção não quis fazer da pluralidade sindical uma obrigação, pelo menos exige que isto seja possível em todos os casos”. (NASCIMENTO, 2011, p. 1296). Apontamos alguns artigos importantes da Convenção 87 da OIT14: Art. 2 - Os trabalhadores e os empregadores, sem distinção de qualquer espécie, terão o direito de constituir, sem autorização prévia, organizações de sua escolha, bem como o direito de se filiar a essas organizações, sob a única condição de se conformar com os estatutos das mesmas. Art. 3 [...] 12 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 1257. 13 ibid., p. 1256. 14 BRASIL. OIT (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO). Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/content/liberdade-sindical-e-prote%C3%A7%C3%A3o-ao-direito-de- sindicaliza%C3%A7%C3%A3o. Consulta realizada em: 25.02. 2017. 16 1. As organizações de trabalhadores e de empregadores terão o direito de elaborar seus estatutos e regulamentos administrativos, de eleger livremente os seus representantes, organizar a gestão e a atividade dos mesmos e de formular seu programa de ação. 2. As autoridades públicas deverão abster-se de qualquer intervenção que possa limitar esse direito ou entravar o seu exercício legal. Art. 4 - As organizações de trabalhadores e de empregadores não estarão sujeitas à dissolução ou à suspensão por via administrativa. Art. 5 - As organizações de trabalhadores e de empregadores terão o direito de constituir federações e confederações, bem como o de filiar- se às mesmas, e toda organização, federação ou confederação terá o direito de filiar-se às organizações internacionais de trabalhadores e de empregadores. Em que pese o Brasil não tenha ratificado a Convenção 87, cumpre ressaltar que, em 1998, a OIT editou a Declaração sobre os Princípios e Direitos Fundamentais15, a qual dispõe no item “2” que todos os membros integrantes da OIT, ainda que não tenham ratificado as convenções tidas como fundamentais, devem respeitá-las. Na visão de José Carlos Arouca16: O capitalismo de Estado, numa visão construtiva do pós-guerra em busca da paz universal, procurou incluir o trabalho num triângulo harmonioso que pudesse atender todos os lados: Estado, capital e trabalho representado pela Convenção 87, de 1948, sobre liberdade sindical, compreendendo a liberdade individual de fundar e filiar-se a sindicato ou simplesmente alhear-se à organização de classe. (AROUCA, 2012, p.84/96). Em 10 de dezembro de 1948, foi aprovado pela Assembleia Geral das Nações Unidas a Declaração Universal dos Direitos Humanos17, que garante a todo homem organizar sindicatos e neles ingressar, para a proteção de seus direitos, art.XXII, item 4. Interessante observar que, em 1950 e 1951, nascem dois procedimentos importantes dentro da OIT, conforme Alberto Emiliano18: [...] Um procedimento especial destinado à proteção da liberdade sindical que complementa os procedimentos gerais de controle da aplicação das normas da OIT e que está a cargo de dois órgãos: a 15 BRASIL. OIT (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO). Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/oit/doc/declaracao_oit_547.pdf. Consulta realizada em: 25.02. 2017. 16 AROUCA, José Carlos. Organização sindical: pluralidade e unicidade. Fontes de custeio. Revista do TST. Vol. 78, n. 2, p.84/96, São Paulo, abr/jun 2012. 17 ONU. Assembleia Geral das Nações Unidas. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: http://www.unhchr.ch/udhr/lang/spn.htm. Consulta realizada em: 17.08.2017. 18 NETO, Alberto Emiliano de Oliveira. Contribuições Sindicais. O Direito Fundamental da Liberdade Sindical e as Modalidades de Financiamento dos Sindicatos, 2008. Disponível em: https://tede.pucsp.br/bitstream/handle/8334/1/Alberto%20Emiliano%20de%20Oliveira%20Neto. pdf. Consulta realizada em: 25.01.2017. 17 Comissão de Investigação e de Conciliação em Matéria de Liberdade Sindical e o Comitê de Liberdade Sindical. A Comissão, criada em 1950, tem por função analisar queixas relativas a violações dos direitos sindicais apresentadas pelo Conselho de Administração da OIT em conjunto com o Governo interessado. Já o Comitê de Liberdade Sindical, criado em 1951 pelo Conselho de Administração da OIT, consiste em órgão tripartite composto por nove membros e seus suplentes, cujas vagas são ocupadas por representantes dos Estados, trabalhadores e empregadores, chefiados por um presidente independente. Cabe ao Comitê a análise preliminar das queixas apresentadas, bem como recomendar ao Conselho de Administração que busque junto ao Governo interessado as medidas necessárias a resolver o problema que se apresenta e, ao fim, obter o acordo do Governo interessado para que o caso seja levado à Comissão de Investigação e de Conciliação (OLIVEIRA NETO, 2008). Jessica Maria Sabino Guedes19, ao tratar da Convenção n. 87 da OIT, traz pontos de destaque: [...] entre as garantias sindicais universais proclamadas pela Convenção, é importante destacar as seguintes: (i) direito de elaborar seus próprios estatutos e organizar-se, sem qualquer intervenção do Estado, previsto no art. 3º; (ii) garantia contra a suspensão ou dissolução do sindicato pela via administrativa, art. 4º e (iii) direito de as associações sindicais constituírem federações, confederações e se filiarem a organizações internacionais, previsto no art. 5º. (GUEDES, 2014). Posteriormente, a Organização Internacional do Trabalho promulgou a Convenção 9820, que vigora no Brasil desde 1953 e prevê taxativamente no art. 1º, 2, b) que constitui proteção adequada contra atos atentatórios à liberdade sindical vedar a dispensa de um trabalhador por qualquer motivo em virtude de sua filiação a um sindicato ou de sua participação em atividades sindicais. A referida Convenção também dispõe de forma expressa sobre a vedação de ingerência dos empregadores sobre a atividade sindical profissional, inclusive pela criação de sindicatos de fachada. Outro marco importante para o movimento sindical foi o ano de 1966, quando foi aprovado o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais21 19GUEDES, Jessica Maria Sabino. O princípio da liberdade sindical e o sindicato único: uma análise do modelo de organização brasileiro, 2014. Disponível em: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/10082/1/2014_JessicaMariaSabinoGuedes.pdf. Consulta realizada em: 25.01.2017. 20 BRASIL. OIT (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO). Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/union_freedom/doc/convention_98_171.pdf Consulta realizada em: 25.02. 2017. 21BRASIL. PLANALTO (PALÁCIO DO PLANALTO PRESIDENCIA DO BRASIL). Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm. Consulta realizada em: 25.01. 2017. 18 (PIDESC), na Assembleia Geral das Nações Unidas, que teve o artigo 8º dedicado à sindicalização, em seus variados aspectos. A Recomendação 163 da OIT22 e a Diretiva 2002/14/CE23 da União Europeia trouxeram a participação dos trabalhadores na gestão da empresa como o exercício do direito à informação. Europeia. Alain Supiot, citado por Renato Rua de Almeida24: Alain Supiot (4) afirma que a negociação coletiva, quando centrada na empresa e buscando sobretudo a participação da representação eleita e direta dos trabalhadores na sua gestão, é tipicamente uma técnica de procedimentalização e contratualização do direito moderno,sem implicar, absolutamente, um retorno ao Estado mínimo e um abandono das relações sociais à esfera privada, porquanto os direitos sociais de interesse realmente público permanecem garantidos como direitos fundamentais nas Constituições modernas. Pode-se dizer o mesmo em relação à legislação instrumental e procedimental prescrevendo a criação de órgãos de representação e participação dos trabalhadores na gestão da empresa, garantido o direito à informação desses trabalhadores e de seus órgãos representativos e protegendo-os contra atos anti-sindicais. 1.2 Origem do sindicalismo no Brasil No Brasil, Arion Sayão Romita25 aponta que “ [...] inicialmente, vigorou no Brasil o regime de trabalho escravagista. O sistema corporativo de produção e trabalho não poderia vicejar, por pressupor o trabalho livre, embora subordinado a normas estatutárias”. (ROMITA, 1976, p. 35). Em 1891, após a abolição da escravatura, foi promulgada a primeira Constituição Republicana, que conta com dois acontecimentos fundamentais para a evolução do Direito do Trabalho: a instalação de correntes migratórias de mão-de-obra, e a criação da Organização Internacional do Trabalho. A 22 BRASIL. OIT (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO). Recomendação 163: Sobre a Promoção da Negociação Coletiva. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/content/sobre-promo%C3%A7%C3%A3o-da- negocia%C3%A7%C3%A3o-coletiva. Consulta realizada em: 25.02. 2017. 23 UE. União Europeia. Directiva 2002/14/CE do Parlamento Europeu e do Conselho. Disponível em: http://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX%3A32002L0014. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 24 SUPIOT, Alain. Homo juridicus. Paris, 2005, p. 334 apud ALMEIDA, Renato Rua de. A visão histórica da liberdade sindical. Disponível em: http://www.renatoruaemarcusaquino.adv.br/publicacoes.htm. Consulta realizada em: 25.01.2017. 25 ROMITA, Arion Sayão. Direito sindical brasileiro. Brasília, 1976.p.35 apud BRITO FILHO, José Claudio Monteiro. Direito sindical. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2015, p.60. 19 Constituição Republicana garantiu o direito de associação, desde que fosse de forma pacífica. Jose Carlos Arouca26 entende que: Nossa primeira lei sindical, Decreto n. 979, de 6 de janeiro de 1903, de inspiração católica, ficava restrita “aos profissionais da agricultura e indústrias rurais” e mais próxima do cooperativismo. Pregava a união do capital e trabalho no campo — afinal, o Brasil era um país essencialmente agrícola. Vigia a Constituição Republicana de 1891, cujo art. 72, no § 8º [...]permitiu a organização associativa: “A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: (...) § 8º A todos é lícito associarem-se e reunirem-se livremente e sem armas; não podendo intervir a polícia senão para manter a ordem pública”. A medida rompia com o sistema da Constituição do Império, de 1824, que no art. 179, item 25, proibia toda forma de organização de classe: “A inviolabilidade dos direitos civil e políticos dos cidadãos brasileiros que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império pela maneira seguinte: (...) Ficam abolidas as corporações de Ofícios, seus Juízes, Escrivães e Mestres”. A Lei deveu-se à iniciativa do Deputado Joaquim Inácio Tosta atendendo solicitação de 15 corporações operárias e da Federação Cristã de Pernambuco, sendo promulgada no governo Rodrigues Alves. Adotava a autonomia, registro em cartório, liberdade negativa de filiação e retirada, e permitia a formação de uniões ou sindicatos centrais. (AROUCA, 2013, p. 13). Quanto ao sindicalismo urbano, realça Amauri Mascaro do Nascimento27 que: O Decreto n. 1.637 (1907) organizou o sindicalismo urbano de trabalhadores de profissões similares ou conexas. Definiu como funções do sindicato o estudo, a defesa e o desenvolvimento dos interesses gerais da profissão e dos interesses individuais dos seus membros. Previu a criação de conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem para dirimir as controvérsias entre o capital e o trabalho. Preservou a liberdade de constituição dos sindicatos, bastando, para esse fim, simples depósito de cópias dos estatutos na repartição competente. (NASCIMENTO, 2012, p. 101). A partir de 1930 inicia novo período para o sindicalismo, onde atentava contra a autonomia sindical e inviabilizava a pluralidade sindical, o que contrariava o texto constitucional de 1934, que previa a pluralidade, embora de fato não tenha ocorrido. 26 AROUCA, José Carlos. Organização Sindical no Brasil/ Passado-Presente-Futuro (?). São Paulo: LTr, 2013, p.13. 27 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de Direito Sindical. 7ª ed. São Paulo: LTr, 2012, p.57, p. 101. 20 Com a Constituição de 1937, Alberto Emiliano de Oliveira Neto28 acentua que: O texto da Constituição de 1937 expressa muito bem a realidade do movimento sindical daquele período, cuja liberdade era restrita. Em seu texto, a greve e o lock-out. Foram declarados recursos antissociais nocivos ao trabalho e ao capital, além de incompatíveis com os superiores interesses da produção nacional (artigo 139, 2ª parte). Especificamente, o artigo 138 delimitava o âmbito de atuação dos sindicatos profissionais [...] (NETO, 2008). José Claudio Monteiro de Brito Filho29 afirma que “apesar do texto proclamar sobre a liberdade de associação profissional que, na verdade, não podia existir, tantas as restrições a ela criadas [...]. (BRITO FILHO, 2015, p.65). Nessa primeira fase, os sindicatos atuavam como “um braço” do Poder Público, exercendo uma função estatal, prevalecendo assim, o corporativismo. José Carlos Arouca30 nos ensina que: [...] o modelo corporativo prendia-se à intervenção do Estado no domínio econômico e o sindicato assumia papel de ator coadjuvante para que “a economia da população” fosse “organizada em corporações, e estas, como entidades representativas das forças do trabalho nacional, colocadas sob a proteção do Estado, como órgãos destes”, exercendo “funções delegadas de Poder Público” (arts. 135 e 140 da Carta de 1937). (AROUCA, 2013, p. 13). Em 1940 foram publicados o Decreto-lei nº 2.37731 e o Decreto-lei nº 2.38132, que complementaram a Lei Sindical, e, sucessivamente, criaram o imposto sindical, atual contribuição sindical e o sistema de paralelismo, implantando o enquadramento com a criação de categorias. Até a Constituição de 1988, o modelo sindical corporativo se apoiava na unicidade sindical, considerada a proibição, por lei, da existência de mais de 28 NETO, Alberto Emiliano de Oliveira. Contribuições Sindicais. O Direito Fundamental da Liberdade Sindical e as Modalidades de Financiamento dos Sindicatos, 2008. Disponível em: https://tede.pucsp.br/bitstream/handle/8334/1/Alberto%20Emiliano%20de%20Oliveira%20Neto. pdf. Consulta realizada em: 25.01.2017. 29 BRITO FILHO, José Claudio Monteiro. Direito sindical. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2015, p.65. 30 AROUCA, José Carlos. Organização Sindical no Brasil/ Passado-Presente-Futuro (?). São Paulo: LTr, 2013, p.13. 31 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-Lei nº 2.377, de 8 de julho de 1940. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-2377-8-julho- 1940-412315-publicacaooriginal-1-pe.html. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 32 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei nº 2.381, de 9 de julho de 1940.. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-2381-9-julho-1940-412322-norma-pe.html. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 21 um sindicato representativo da mesma categoria na mesma base territorial, controle rígido pelo Estado, havendo interferência direta do Ministério do Trabalho desde a criação até a concessão da carta sindical. E, ainda, a representação por categorias profissionais e econômicas, previamente definidas em lei, assim como a verticalização do sistema confederativo. Ressalta-se apenas que a antiga carta sindical, atual registro sindical, também era concedida pelo Ministério do Trabalho, mas continha prazo de validade e havia o poder discricionário do Estado, que poderia concedê-la ou não, dependendo do seu interesse. Como visto, o modelo sindical foi criado, inicialmente, sob a Constituição de 1934, que expressamente reconhecia a pluralidade sindical. Em 1943, foi promulgada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)33, prevendo no Título V, da organização sindical, mantendo a mesma linha legislativa. Com a Constituição de 1946, como traz Alberto Emiliano de Oliveira Neto34,“ainda que a Constituição de 1946 tenha restituído o direito de greve, em nada mais avançou, ao passo que manteve modelo preexistente no qual aos sindicatos eram atribuídas funções delegadas pelo Estado”. (OLIVEIRA NETO, 2008). A Constituição de 194635 manteve o sindicato como entidade com funções delegadas do Estado. Quanto à fase da ditadura militar, José Carlos Arouca36 ressalta que: Instalada em 1964 foram 1.565 intervenções até 1978, atingindo as organizações sindicais mais expressivas, mas na democracia relativa do Marechal Dutra chegaram a 400. A primeira nos deu a “Lei antigreve”, nº 4.330, mas a segunda foi mais cruel, respondendo pelo Decreto-Lei nº 9.070, referendado pelo Supremo Tribunal Federal. A ditadura militar fechou a central Comando Geral dos Trabalhadores 33 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei nº 5.452, de 1.º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 34 NETO, Alberto Emiliano de Oliveira. Contribuições Sindicais. O Direito Fundamental da Liberdade Sindical e as Modalidades de Financiamento dos Sindicatos, 2008. Disponível em: https://tede.pucsp.br/bitstream/handle/8334/1/Alberto%20Emiliano%20de%20Oliveira%20Neto. pdf. Consulta realizada em: 25.01.2017. 35 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Constituição de 1946. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/consti/1940-1949/constituicao-1946-18-julho-1946-365199- publicacaooriginal-1-pl.html. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 36 AROUCA, José Carlos. Organização sindical: pluralidade e unicidade. Fontes de custeio. Revista do TST. Vol. 78, n. 2, p.85/86, São Paulo, abr/jun 2012. 22 (CGT), mas a democracia de 1946 fechou a Confederação dos Trabalhadores do Brasil (CTB). (AROUCA, 2012, p. 85/86). A partir de 1978 houve um fortalecimento do sindicalismo brasileiro, o novo sindicalismo assentava-se nos trabalhadores das indústrias automobilísticas. Foi um período de mudança, tendo em 1983 a fundação da CUT, Central Única dos Trabalhadores e, posteriormente, da Central Geral dos Trabalhadores (CGT). A luta do movimento sindical, por mudanças, iniciou em São Paulo, sendo que, várias greves foram abertas em 1978 pelos metalúrgicos da região do ABC, iniciando um ciclo sem antecedentes no Brasil. Em 1988, há um marco com a Constituição Federal, sendo que a estrutura da organização sindical foi amplamente debatida na Assembleia Constituinte. José Claudio Monteiro de Brito Filho37 afirma que a Constituição buscou menos interferência do Estado nas organizações sindicais, passa-se a se admitir a sindicalização dos servidores públicos: Muda, então, o panorama do sindicalismo brasileiro, Muda pouco, entretanto, pois ao lado desta liberdade são mantidas as bases do sistema corporativista” [...]“Ela, atendendo aos reclamos dos que buscavam menos interferência do Estado nas organizações sindicais concede a estas liberdade para regrar, de forma autônoma, sua vida interna, além de impedir a interferência e a intervenção do Estado. (BRITO FILHO, 2015, p. 68). Assim, uma maior liberdade foi prevista no artigo 8º da Constituição Federali, com inclusão da autonomia sindical, que proibiu a intervenção ou interferência do Ministério do Trabalho (art. 8º, I, da CF). Recordamos que o Ministério do Trabalho foi criado no Brasil pelo então presidente Getulio Vargas, que permitia o Estado interferir e acabar com qualquer tipo de movimento, inclusive o de greve por parte dos trabalhadores dentro do sindicato. Mas, em que pese a Constituição Federal de 1988 tenha assegurado “a plena liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar”, nos termos do artigo 5º, XVII38, bem como dispor que “É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte” conforme artigo 8º 37 BRITO FILHO, José Claudio. Direito Sindical. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2015, p.68. 38 Ibid. 23 39do referido diploma, restringiu a liberdade quando inseriu alguns dos incisos limitando a autonomia, até mesmo de liberdade As limitações supracitadas previstas na Constituição Federal/88 foram de encontro a Convenção nº 87 da Organização Internacional do Trabalho, e a tendência mundial de consagrar uma liberdade sindical ampla. Para José Carlos Arouca40 a autonomia não existe de fato com a promulgação da Constituição: Autonomia só foi conquistada em 1988, mas hoje existe apenas no papel, comprometida pela ação do Ministério do Trabalho e Emprego exatamente quando antigos e combativos dirigentes sindicais assumem o poder, com o cadastramento, como forma dissimulada de controle, com o reconhecimento traçado na Portaria nº 186, de 2008, pelo chamado Sistema Mediador, que restabeleceu a homologação dos acordos e convenções que fora substituído pelos simples depósito para registro e arquivamento em plena ditadura militar, pelo Sistema HomologNet, com o qual se determinou aos sindicatos como assistir os trabalhadores demitidos. Por sua vez, o Ministério Público do Trabalho combate a contribuição de custeio e anuncia seu propósito de controlar a gestão financeira das associações sindicais, avançando até chegar a matéria de direito penal e vai mais longe quando a pretexto de atingir a prioridade de ação que elegeu, institui a representação interna do pessoal nas empresas com mais de 200 empregados e exige que os sindicatos o acompanhe, com ameaça de punição. Por sua vez, o Tribunal de Contas da União ressuscita a contabilidade autoritária exercida pelo Ministério do Trabalho com seus códigos e modelos. (AROUCA, 2012, p.86). Após anos de discussão sobre a necessidade do registro sindical pelo Ministério do trabalho, o Supremo Tribunal Federal consolidou, em sua jurisprudência, que o órgão realize apenas a fiscalização, para que não haja a violação constitucional da unicidade. O ato de fiscalização estatal se restringe à observância da norma constitucional no que diz respeito à vedação da sobreposição, na mesma base territorial, de organização sindical do mesmo grau. Interferência estatal na liberdade de organização sindical. Inexistência. O Poder Público, tendo em vista o preceito constitucional proibitivo, exerce mera fiscalização. [RE 157.940, rel. min. Maurício Corrêa, j. 3- 11-1997, 2ª T, DJ de 27-3-199841.] Liberdade e unicidade sindical e competência para o registro de entidades sindicais (CF, art. 8º, I e II): recepção em termos, da39 Ibid. 40 AROUCA, José Carlos. Organização sindical: pluralidade e unicidade. Fontes de custeio. Revista do TST. Vol. 78, n. 2, p.86, São Paulo, abr/jun 2012. 41 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário nº. 157.940, rel. min. Maurício Corrêa, j. 3-11-1997, 2ª T, DJ de 27-3-1998. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/visualizarEmenta.asp?s1=000108331&base=baseAco rdaos. Consulta realizada em: 16. 01.2017. 24 competência do Ministério do Trabalho, sem prejuízo da possibilidade de a lei vir a criar regime diverso. O que é inerente à nova concepção constitucional positiva de liberdade sindical é, não a inexistência de registro público – o qual é reclamado, no sistema brasileiro, para o aperfeiçoamento da constituição de toda e qualquer pessoa jurídica de direito privado –, mas, a teor do art. 8º, I, do Texto Fundamental, "que a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato": o decisivo, para que se resguardem as liberdades constitucionais de associação civil ou de associação sindical, é, pois, que se trate efetivamente de simples registro – ato vinculado, subordinado apenas à verificação de pressupostos legais –, e não de autorização ou de reconhecimento discricionários. (...) O temor compreensível – subjacente à manifestação dos que se opõem à solução –, de que o hábito vicioso dos tempos passados tenda a persistir, na tentativa, consciente ou não, de fazer da competência para o ato formal e vinculado do registro, pretexto para a sobrevivência do controle ministerial asfixiante sobre a organização sindical, que a Constituição quer proscrever – enquanto não optar o legislador por disciplina nova do registro sindical, – há de ser obviado pelo controle jurisdicional da ilegalidade e do abuso de poder, incluída a omissão ou o retardamento indevidos da autoridade competente.[MI 144, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 3-8-1992, P, DJ de 28-5-1993.]= AI 789.108 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 5-10-2010, 2ª T, DJE de 28-10-201042.] Posteriormente o Supremo, editou a Sumula 67743 no seguinte sentido: “Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela observância do princípio da unicidade”. O Princípio da Unicidade Sindical é aquele que reconhece a possibilidade da existência de apenas um sindicato por base territorial de cada categoria, sendo que a base territorial não pode ser menor do que a área de um Município, previsto no inciso II do artigo 8º da Constituição Federal44. O Supremo Tribunal Federal45 tratou da constitucionalidade da unicidade em várias jurisprudências: 42 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Injunção nº.144, rel. min. Sepulveda Pertence, j. 3-8-1992, P, DJ de 28-5-1993. Agravo Regimental n. 789.108, rel. min. Ellen Gracie., j. 5-10-2010, 2ª T, DJE de 28-10-2010. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigo.asp?item=173&tipo=CJ&termo=seguran%E7a+pu blica. Consulta realizada em: 16. 01.2017. 43 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº.677. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2316. Consulta realizada em: 16. 01.2017. 44 BRASIL. Brasília, DF: PLANALTO (PALÁCIO DO PLANALTO PRESIDENCIA DO BRASIL). Constituição de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 45 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo de Instrumento n. 609.989. Agravo Regimental, rel. min. Ayres Britto, j. 30-8-2011, 2ª T, DJE de 17-10-2011. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBD.asp?item=177. Consulta realizada em: 18. 08.2017. 25 É pacífica a jurisprudência deste nosso Tribunal no sentido de que não implica ofensa ao princípio da unidade sindical a criação de novo sindicato, por desdobramento de sindicato preexistente, para representação de categoria profissional específica, desde que respeitados os requisitos impostos pela legislação trabalhista e atendida a abrangência territorial mínima estabelecida pela CF.[AI 609.989 AgR, rel. min. Ayres Britto, j. 30-8-2011, 2ª T, DJE de 17-10- 2011.]Vide RE 202.097, rel. min. Ilmar Galvão, j. 16-5-2000, 1ª T, DJ de 4-8-2000Vide RMS 21.305, rel. min. Marco Aurélio, j. 17-10-1991, P, DJ de 29-11-1991. Ainda assim, a liberdade de associação sindical foi de soberana importância para a modificação do panorama trabalhista brasileiro, já que esse tema sempre foi levantado como bandeira política e reivindicado pelos movimentos sindicais nos tempos da ditadura militar. Em 2002, houve instalação do Fórum Nacional do Trabalho para reformas na estrutura sindical, mas fracassou. A Lei nº 13.467, de 13 de julho de 201746, a reforma trabalhista, foi sancionada pelo presidente Michel Temer, como Lei onde se alterou mais de 100 pontos da CLT, principalmente para sobrepor o acordado sobre o legislado, além de uma série de procedimentos na Justiça do Trabalho, bem como a retirada da exigência de participação dos sindicatos em diversos momentos da vida profissional do trabalhador, como, por exemplo, a necessidade de a homologação da rescisão contratual ser feita em sindicatos. 46 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei-13467-13-julho-2017-785204- norma-pl.html. Consulta realizada em: 28.08. 2017. 26 CAPÍTULO II - O SINDICATO E SUAS FUNÇÕES 2.1 O sindicato A lei brasileira estabelece o sindicato como associação para fins de estudo, defesa e coordenação de interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos, ou profissionais liberais, exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas (Consolidação das Leis Trabalhistas, art. 511.47). Os sindicatos são entidades de primeiro grau e fazem parte do sistema confederativo que é composto também pelas Federações, em segundo grau e pelas Confederações em terceiro grau. Os sindicatos são agrupamentos de empresas ou trabalhadores e representam tanto categorias profissionais, profissionais diferenciadas, econômicas e profissionais liberais, tendo como base mínima, o Município. (Constituição da República, art. 8º, inc. II48). Para José Carlos Arouca49, “o sindicato seria, assim, a organização de classe dos trabalhadores aparelhada para negociar com o capital o salário possivelmente justo e melhores condições de trabalho para seus representados ou filiados” (AROUCA, 2012). Segundo Maurício Godinho Delgado50: Entidades associativas permanentes, que representam trabalhadores vinculados por laços profissionais e laborativos comuns, visando tratar de problemas coletivos das respectivas bases representadas, defendendo seus interesses trabalhistas e conexos, com o objetivo de lhes alcançar melhores condições de labor e vida (DELGADO, 2015, p.1391). 47 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 48 BRASIL. Brasília, DF: PLANALTO (PALÁCIO DO PLANALTO PRESIDENCIA DO BRASIL). Constituição de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 49AROUCA, José Carlos.Organização sindical: pluralidade e unicidade. Fontes de custeio. Revista do TST. Vol. 78, n. 2, p.85, São Paulo, abr/jun 2012. 50 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13ª ed. São Paulo: LTr, 2014, p.1391. 27 Amauri Mascaro do Nascimento51 entende que “o sindicato é um sujeito coletivo, como organização destinada a representar interesses de um grupo, na esfera das relações trabalhistas. Tem direitos, deveres, responsabilidades, patrimônio, filiados, estatutos, tudo como uma pessoa jurídica”. (NASCIMENTO, 1989. p. 153). Homero Batista Mateus da Silva52, de forma sucinta, conclui que “o sindicato é uma pessoa de direito privado interno, assimilando-se quase integralmente ao conceito de uma associação de pessoas congregadas em busca de um fim comum”. (SILVA, 2015, p.17). José Claudio Monteiro de Brito Filho53 considera que: [...] Os sindicatos nasceram como forma de concentração de esforços de um grupo de indivíduos em prol de seus interesses comuns, nesse primeiro momento apenas profissionais. Aliás, isso é fato inegável: o sindicato, em princípio, é forma de associação ligada intimamente aos trabalhadores, muito embora ele seja admitido, em alguns países, como o Brasil, também como forma de agrupamento de empregadores. A própria Organização Internacional do Trabalho admite esta sindicalização de trabalhadores e empregadores – em separado, é claro-, no art. 2º da convenção n. 87 [...]. (BRITO FILHO, 2015, p. 105). A legislação brasileira não conceitua propriamente a palavra sindicato, mas pelas definições supra, podemos afirmar que, no Brasil, o sindicato é uma pessoa jurídica, criada por seus membros para defender os direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas, conforme art.8º, inciso III da Constituição Federal54. As Federações, como entidade de segundo grau, são constituídas de, pelo menos, cinco sindicatos com registro no Ministério do Trabalho, sendo da mesma categoria profissional, diferenciada ou econômica. Possuem base mínima estadual, podendo ser até nacional. As Confederações são efeito do agrupamento de, no mínimo, três Federações, respeitadas as respectivas categorias, sendo que atuam em âmbito 51 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Direito Sindical. São Paulo: Saraiva, 1989, p. 153. 52 SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado. Vol.7, 2015, p.17. 53 BRITO FILHO, José Claudio. Direito Sindical. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2015, p.105. 54 BRASIL. Brasília, DF: PLANALTO (PALÁCIO DO PLANALTO PRESIDÊNCIA DO BRASIL). Constituição de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 28 nacional, com sede em Brasília, ditando os procedimentos daquele ramo por ela abrangido, seja profissional ou econômico. Ressalta-se que as Federações não possuem direito de representação da categoria representada por esses sindicatos. As Confederações, como entidades sindicais de terceiro grau, ocupam o maior grau na estrutura sindical, sendo que, para sua criação, deve haver, pelo menos, três Federações com registro sindical da categoria que pretende representar. Destaca-se que por exigência legal sua sede deve ser em Brasília (Distrito Federal). O principal aspecto das Federações e Confederações está na função negocial, pois a negociação coletiva, através da Convenção Coletiva, pertence aos sindicatos, sendo que, apenas de forma complementar, podem celebrar, conforme art. 611, § 2º, da CLT55: As Federações e, na falta destas, as Confederações representativas de categorias econômicas ou profissionais, poderão celebrar convenções coletivas de trabalho para reger as relações das categorias a elas vinculadas, inorganizadas em sindicatos, no âmbito de suas representações. As Centrais Sindicais foram instituídas pela Lei n. 11.648, de 31 de março de 200856, com o intuito de representação geral dos trabalhadores. Elas possuem abrangência nacional e têm como prerrogativa a coordenação da representação dos trabalhadores, bem como a participação de negociações em diálogo social de composição tripartite, onde haja interesse dos trabalhadores. Em que pese haja divergência doutrinaria, o entendimento majoritário é de que elas não estão inseridas no sistema confederativo, sendo este composto apenas pelos Sindicatos, Federações e Confederações, mas fazem parte da estrutura sindical brasileira. 55 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei nº 5.452, de 1.º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Consulta realizada em: 18.08. 2017. 56 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei-13467-13-julho-2017-785204- norma-pl.html. Consulta realizada em: 28.08. 2017. 29 Maurício Godinho Delgado57 entende que as centrais sindicais [...] não compõem o modelo corporativista. De certo modo, representam até seu contraponto, a tentativa de sua superação. Porém, constituem, do ponto de vista social, político e ideológico, entidades líderes do movimento sindical, que atuam e influem em toda a pirâmide regulada pela ordem jurídica [...].(DELGADO, 2014, p.1402). Assim, Sindicatos, Federações e Confederações são tanto de categorias profissionais, profissionais diferenciadas, econômicas e profissionais liberais; já as centrais sindicais representam apenas os trabalhadores, não havendo previsão de entidade semelhante que retrate os empregadores. Quanto à natureza jurídica da entidade sindical, temos no Código Civil que as pessoas jurídicas são de natureza pública ou privada (art. 40 CCB58). José Claudio Monteiro de Brito Filho59 traz que: O fato de o sindicato exercer atribuições de interesse público, não o transforma em ente público, considerando que ele as desempenha em nome dos seus objetivos, que derivam de sua condição de representante de um grupo, profissional ou econômico, não em nome do Estado. (BRITO FILHO, 2015, p.105). Amauri Mascaro Nascimento60 dispõe que: No Brasil, durante o sistema constitucional de 1937 e mesmo depois, o sindicato apresentou características que, embora o conservando como pessoa jurídica de direito privado, o cercavam de fortes conotações publicísticas, como é possível concluir pelas suas atribuições legais nesse período, o exercício de funções delegadas de Poder Público. Após a Constituição de 1988, os vínculos jurídicos com o Estado foram efetivamente rompidos, com a autonomia de organização e de administração, realçando a natureza privada dos sindicatos e a sua função de defesa dos interesses coletivos e individuais dos seus representados (NASCIMENTO, 2011, p. 1304). A natureza privada das entidades sindicais foi robustecida com a Constituição de 1988, que dispôs que “a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, 57 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13ª ed. São Paulo: LTr, 2014, p.1402. 58 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Código Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm. Consulta realizada em: 18.08. 2017. 59 BRITO FILHO, José Claudio Monteiro. Direito sindical. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2015, p.105. xxx 60 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26ª ed. SãoPaulo: Saraiva, 2011, p.1304. 30 vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical”, no seu art. 8º, inciso IIii . Quanto à necessidade ou não do registro em cartório de pessoas jurídicas, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal61 pacificou entendimento sobre a necessidade de registro: A jurisprudência do STF, ao interpretar a norma inscrita no art. 8º, I, da Carta Política – e tendo presentes as várias posições assumidas pelo magistério doutrinário (uma, que sustenta a suficiência do registro da entidade sindical no Registro Civil das Pessoas Jurídicas; outra, que se satisfaz com o registro personificador no Ministério do Trabalho e a última, que exige o duplo registro: no Registro Civil das Pessoas Jurídicas, para efeito de aquisição da personalidade meramente civil, e no Ministério do Trabalho, para obtenção da personalidade sindical) –, firmou orientação no sentido de que não ofende o texto da Constituição a exigência de registro sindical no Ministério do Trabalho, órgão este que, sem prejuízo de regime diverso passível de instituição pelo legislador comum, ainda continua a ser o órgão estatal incumbido de atribuição normativa para proceder à efetivação do ato registral. Precedente: RTJ 147/868, Rel. Min. Sepúlveda Pertence. O registro sindical qualifica-se como ato administrativo essencialmente vinculado, devendo ser praticado pelo Ministro do Trabalho, mediante resolução fundamentada, sempre que, respeitado o postulado da unicidade sindical e observada a exigência de regularidade, autenticidade e representação, a entidade sindical interessada preencher, integralmente, os requisitos fixados pelo ordenamento positivo e por este considerados como necessários à formação dos organismos sindicais.[ADI 1.121 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 6-9-1995, P, DJ de 6-10-1995.]= ADPF 288 MC, rel. min. Celso de Mello, decisão monocrática, j. 21-10-2013, DJE de 25-10-2013= ADI 3.805 AgR, rel. min. Eros Grau, j. 22-4-2009, P, DJE de 14-8-2009 Eduardo Gabriel Saad62 leciona que: O sindicato, em nosso ordenamento jurídico, tem numerosas e amplas atribuições. Umas, inerentes à sua própria natureza de organismo profissional e, outras, delegadas pelo Poder Público. Todavia, vemos nele, ainda, as características de pessoa jurídica de Direito Privado. Não são os sindicatos criados por lei; sua administração é confiada aos representantes escolhidos livremente pelos interessados e não são designados pelo Estado; seu patrimônio não se integra na Fazenda Pública. (SAAD, 2013, p. 706). Renan Bernardi Kalil63 esclarece que: Outro elemento que deve ser mencionado para se caracterizar a natureza jurídica das entidades sindicais é o fato de representarem 61 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Insconstitucionalidade n. 1.121 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 6-9-1995, P, DJ de 6-10-1995. Disponivel em <http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigo.asp?item=173&tipo=CJ&termo=seguran%E7a+p ublica>. Acesso em: 18 ago. 2017 62 SAAD, Eduardo Gabriel et al.CLT Comentada. 46. ed. São Paulo: Ltr, 2013. p. 706. 63 KALIL, Renan Bernardi. As entidades sindicais no ordenamento jurídico brasileiro, 2012. Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,as-entidades-sindicais-no- ordenamento-juridico-brasileiro,39873.html#_ednref9. Consulta realizada em: 18 ago. 2017. 31 interesses coletivos. Trata-se de caráter diferenciador das associações de direito privado previstas no Capítulo II do Título II do Código Civil, tendo em vista que não se trata simplesmente da associação de duas ou mais pessoas, mas de entidade que se constitui para representar toda a categoria profissional ou econômica. Ademais, os objetivos são de conhecimento prévio, quais seja, a representação, promoção e defesa dos interesses da categoria profissional ou econômica. Assim sendo, não restam dúvidas de que, como qualquer pessoa jurídica de direito privado, os sindicatos têm que ser registrados em cartórios de registro de pessoas jurídicas. Quanto à finalidade das entidades sindicais, José Carlos Arouca64 abrange que: Até 1988 as organizações sindicais tinham por fim o estudo, defesa e coordenação dos interesses profissionais ou econômicos, conforme especificava o art. 511 da CLT. Diferentemente, a Constituição, no inciso III do art. 8º, firmou que lhes cabe a defesa de direitos e interesses individuais e coletivos. (AROUCA, 2012, p. 88). Diante disso, a sua finalidade está intimamente ligada às funções que desempenham e que são desenvolvidas em nome dessa finalidade. 2.2 As funções dos sindicatos Quanto às funções do sindicato, há certa uniformidade doutrinaria. 2.2.1. Função negocial ou regulamentar A função negocial tem por objetivo criar normas para melhoria das condições de vida e de trabalho que traduzam os interesses de seus representados. É o poder conferido aos sindicatos concretizados quando da celebração de convenções e acordos coletivos de trabalho, onde são fixadas regras a serem aplicáveis nos contratos individuais, cabível à esfera de representação dos sindicatos acordantes. A Organização Internacional do Trabalho tem a Convenção de n. 15465 que versa sobre a promoção da negociação coletiva, ratificada pelo Brasil. 64 AROUCA, José Carlos. Organização sindical: pluralidade e unicidade. Fontes de custeio. Revista do TST. Vol. 78, n. 2, p.88, São Paulo, abr/jun 2012. 65 BRASIL. OIT (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO). Convenção 154. Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/node/503. Acesso em: 05 jan. 2017. 32 O artigo 8º, inciso VI, da Constituição Federaliii traz a função negocial como prerrogativa exclusiva dos sindicatos, salvo quando a categoria estiver inorganizada em sindicato, quando atuará a Federação e, na falta desta, a Confederação. (artigo 611, §2º, da CLT66). O artigo 7º, inciso XXVI, da Constituição Federaliv, reconhece as convenções coletivas de trabalho, dispondo que “São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho”. A previsão da convenção coletiva está no caput do artigo 611 da CLT67 e traz que a “ Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho.”. A reforma trabalhista, Lei 13.467/201768, acrescentou os artigos 611- A e 611-B, sendo que aquele prevê a prevalência do negociado sobre o legislado para situações taxativas, discriminadas em seus incisos, e este, a licitude quando a convenção coletiva ou de acordo coletivo, exclusivamente, suprimirem ou reduzirem direitos também especificados no artigo respectivo. Recentemente o Plenário do STF no julgamento do RE 895.75969, assim decidiu: Conforme assentado pelo Plenário do STF no julgamento do RE 590.415 (rel. min. Roberto Barroso, DJE de 29-5-2018, Tema 152), a CF ‘reconheceu as convenções e os acordos coletivos como instrumentos legítimos de prevenção e de autocomposição de conflitos trabalhistas’, tornando explícita inclusive ‘a possibilidade desses instrumentos para a redução de direitos trabalhistas’. Ainda segundo esse precedente, as normas coletivas de trabalho podem prevalecer 66 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 1943. Aprova a consolidaçãodas leis do trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Consulta realizada em: 05.01. 2017. 67 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Consulta realizada em: 05.08. 2017. 68 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Código Civil. Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2017/lei-13467-13-julho-2017- 785204-norma-pl.html. Consulta realizada em: 28.08. 2017. 69 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário nº. 895.759, rel. min. Teori Zavascki, j. 8-12-2016, 2ª T, DJE de 23-5-2017. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigo.asp?item=137&tipo=CJ&termo=37. Consulta realizada em: 24. 08.2017. 33 sobre ‘o padrão geral heterônomo, mesmo que sejam restritivas dos direitos dos trabalhadores, desde que não transacionem setorialmente parcelas justrabalhistas de indisponibilidade absoluta’. É válida norma coletiva por meio da qual categoria de trabalhadores transaciona o direito ao cômputo das horas in itinere na jornada diária de trabalho em troca da concessão de vantagens de natureza pecuniária e de outras utilidades. [RE 895.759-AgR-segundo, rel. min. Teori Zavascki, j. 8- 12-2016, 2ª T, DJE de 23-5-2017.]. O artigo 616 da CLT70 traz expressamente que os sindicatos devem negociar já que essa é a função precípua dos sindicatos e, caso se recusem, poderão os empregados de uma ou mais empresas que decidirem celebrar, recorrerem à federação, na falta desta, à confederação e, caso essa também se recuse, podem celebrar diretamente com a empresa. Saliente-se apenas, que, caso o sindicato queira negociar e a outra parte não queira, não há previsão ou punição expressa para que o mesmo atinja seu objetivo, mas é possível buscar reparação caso constatada a prática antissindical. Maurício Godinho Delgado71 ensina que é através dessa função que: [...] entes buscam diálogos com os empregadores e/øu sindicatos empresariais com vistas à celebração dos diplomas negociais coletivos, compostos por regras jurídicas que irão reger os contratos de trabalho das respectivas bases representadas [...]. ( DELGADO, 2014, p. 1406). Essa função que objetiva a elaboração de normas para melhoria de condições de vida e de trabalho que exprimam os interesses de seus representados. 2.2.2 Função assistencial A função assistencial é a imputação conferida pela lei, normas estatutárias e regulamentos dos sindicatos para que estes proporcionem serviços aos seus representados, contribuindo para o desenvolvimento regular e pleno do ser humano. 70 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 71 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13ª ed. SÃO PAULO: LTR, 2014, P.1406. 34 Para muitos autores, essa função não deveria mais ser do sindicato após a Constituição Federal de 1988, já que as entidades sindicais deixaram de ser um braço do poder Público. Amauri Mascaro Nascimento72 traz vários exemplos de atividades assistenciais previstas na CLT, “como educação (art. 514, parágrafo único, b), saúde (art. 592), colocação (art. 513, parágrafo único), lazer (art. 592), fundação de cooperativas (art. 514, parágrafo único, a) e serviços jurídicos (arts. 477, § 1º, 500, 513, 514, b, e Lei n. 5.584, de1970, art. 18)”. (NASCIMENTO, 2011, p.1305). Maurício Godinho Delgado73 prevê que a função assistencial: Consiste na prestação de serviços a seus associados ou, de modo extensivo, em alguns casos, a todos os membros da categoria. Trata- se, ilustrativamente, de serviços educacionais, médicos, jurídicos e diversos outros. (DELGADO, 2014, p.1407). Desse modo, a função assistencial é respeitável para os sindicatos, até mesmo por apoio aos trabalhadores, mas, como visto, não deve ser entendida como função principal. 2.2.3 Função de representação O artigo 8º, inciso III, da Constituição Federal de 1988v, eleva a função de representação da categoria à garantia constitucional ao prever que “ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”. O artigo 513 da CLT74 traz em sua alínea a, como prerrogativa dos sindicatos a função de “[...] representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias os interesses gerais da respectiva categoria ou profissão liberal ou interesses individuais dos associados relativos à atividade ou profissão exercida”. 72 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 1305. 73 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso De Direito Do Trabalho. 13ª ed. SÃO PAULO: LTR, 2014, p. 1407. 74BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei nº 5.452, de 1.º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 35 O dispositivo permite que o sindicato seja parte nos processos judiciais em dissídios coletivos para resolver os conflitos jurídicos ou de interesses, e nos dissídios individuais de pessoas que fazem parte da categoria, exercendo assim a substituição processual. Vejamos os entendimentos da Suprema Corte: Esta Corte firmou o entendimento segundo o qual o sindicato tem legitimidade para atuar como substituto processual na defesa de direitos e interesses coletivos ou individuais homogêneos da categoria que representa. (...) Quanto à violação ao art. 5º, LXX e XXI, da Carta Magna, esta Corte firmou entendimento de que é desnecessária a expressa autorização dos sindicalizados para a substituição processual [RE 555.720 AgR, voto do rel. min. Gilmar Mendes, j. 30- 9-2008, 2ª T, DJE de 21-11-200875.] O art. 8º, III, da CF estabelece a legitimidade extraordinária dos sindicatos para defender em juízo os direitos e interesses coletivos ou individuais dos integrantes da categoria que representam. Essa legitimidade extraordinária é ampla, abrangendo a liquidação e a execução dos créditos reconhecidos aos trabalhadores. Por se tratar de típica hipótese de substituição processual, é desnecessária qualquer autorização dos substituídos. [RE 210.029, rel. p/ o ac. min. Joaquim Barbosa, j. 12-6-2006, P, DJ de 17-8-200776.] Assim, judicialmente, a representação pode ser tanto dos interesses individuais como coletivos, sendo, às vezes, em benefício de toda a categoria ou somente dos associados. Amauri Mascaro Nascimento77 afirma que: A função de representação, perante as autoridades administrativas e judiciais, dos interesses coletivos da categoria ou individuais dos seus integrantes, o que leva à atuação do sindicato como parte nos processos judiciais em dissídios coletivos destinados a resolver os conflitos jurídicos ou de interesses, e nos dissídios individuais de pessoas que fazem parte da categoria, exercendo a substituição processual, caso em que agirá em nome próprio na defesa do direito alheio, ou a representação processual, caso em que agirá em nome do representado e na defesa do interesse deste. (NASCIMENTO, 2011, p. 1406). 75 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinárionº. 555.720. Agravo Regimental, voto do rel. min. Gilmar Mendes, j. 30-9-2008, 2ª T, DJE de 21-11-2008. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigo.asp?item=173&tipo=CJ&termo=seguran%E7a+pu blica. Consulta realizada em: 16. 01.2017. 76 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso extraordinário nº. 210.029, rel. p/ o ac. min. Joaquim Barbosa, j. 12-6-2006, P, DJ de 17-8-2007.Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigo.asp?item=173&tipo=CJ&termo=seguran%E7a+pu blicaConsulta realizada em: 16. 01.2017. 77 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito do Trabalho. 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 1406. 36 Mauricio Godinho Delgado78 entende que é a principal função (e prerrogativa) dos sindicatos: O sindicato organiza-se para falar e agir em nome de sua categoria; para defender seus interesses no plano da relação de trabalho e, até mesmo em plano social mais largo. (...) Essa função representativa, lato sensu, abrange inúmeras dimensões. A privada, em que o sindicato se coloca em diálogo ou confronto com os empregadores, em vista dos interesses coletivos da categoria (aqui a função se confunde com a negocial (...) A administrativa, em que o sindicato busca relacionar-se com o Estado, visando a solução de problemas trabalhistas em sua área de atuação. A pública, em que ele tenta dialogar com a sociedade civil, na procura de suporte para suas ações e teses laborativas. A judicial, em que atua o sindicato também na defesa dos interesses da categoria e de seus filiados. (...) (DELGADO, 2014, p. 1406/1408). 2.2.4 Função econômica A função econômica corresponde aos meios utilizados pelo sindicato para obter as receitas para a manutenção e desenvolvimento de suas atividades. A CLT veda expressamente essa função ao prescrever que: “Às entidades sindicais, sendo-lhes peculiar e essencial a atribuição representativa e coordenadora das correspondentes categorias ou profissões, é vedado, direta ou indiretamente, o exercício de atividade econômica em seu art. 56479”. José Claudio Monteiro80 traz uma divisão bastante interessante, onde diferencia a função econômica em sentido amplo, como a aquisição de receitas e, sentido estrito, restringe ao desempenho de atividades pelo sindicato, nos setores industrial, comercial e de serviços. E ainda, que apenas no primeiro sentido é permitido, já que “no artigo 548, dispõe sobre o patrimônio das associações sindicais estabelecendo que ela se constitui: da contribuição sindical, da contribuição social, dos bens e valores adquiridos e das rendas por eles produzidos, das doações e legados e das multas e outras rendas eventuais”. (BRITO FILHO, 2015, p.142). 78 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito Do Trabalho. 13ª ed. SÃO PAULO: LTR, 2014, p. 1406/1408. 79 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Consulta realizada em: 03.07. 2017. 80 BRITO FILHO, José Claudio Monteiro. Direito sindical. 5ª ed. São Paulo: LTr, 2015, p.142. 37 Eduardo Saad81 entende que: O patrimônio das entidades sindicais é constituído de duas partes distintas: uma, representada pela contribuição sindical, de caráter compulsório; outra, pela contribuição dos associados, pelos legados, etc. E compreensível o controle estatal sobre o uso da primeira parte do patrimônio, máxime devido à sua parafiscalidade'. (SAAD, 2013, p. 752). Ressalta-se que muitos autores entendem que o artigo 564 da CLT não estaria mais em vigor por ser incompatível com a liberdade sindical prevista na Constituição Federal, nesse sentido também Maurício Godinho82 afirma: (...) há duas outras a respeito das quais há certa controvérsia. Trata- se das funções econômicas e das funções políticas. É que ambas estariam vedadas, expressamente, pelo texto legal construído nos períodos de autoritarismo no Brasil. Vejam-se, a propósito, o art. 564 da CLT, proibindo atividade econômica e, a seu lado, os arts. 511 e 521, “d”, vedando atividades políticas. Tais preceitos celetistas vedatórios de atividades sindicais, econômicas e políticas foram recebidos pela Constituição de 1988? A resposta é, seguramente, negativa. Não há como, na vigência efetiva dos princípios de liberdade de associação e de autonomia sindical, assegurados pela Constituição, restringir, nessa extensão, as atividades sindicais. Meras razões de conveniência do legislador infraconstitucional não são bastantes para inibir a força de tais princípios constitucionais. A circunstância de o sindicato exercer atividades econômicas para melhor prover suas funções sindicais melhor se combina, inclusive, com a noção de sindicato livre, pessoa jurídica de direito privado. Ao reverso, a noção de sindicato como braço do Estado, pessoa jurídica de Direito Público ou exercente de atividades estatais, é que se choca com a autonomia econômica da entidade sindical. Neste caso, a proibição de atividades econômicas é um dos instrumentos de controles mais eficazes sobre a constitucional deflagrada pelos princípios de liberdade e autonomia. (DELGADO, 2014, p. 1407) 2.2.5 Função política O artigo 521, letra d, da CLT83 prevê a vedação da função política ao prever que: “São condições para o funcionamento do Sindicato: [...] d) proibição de quaisquer atividades não compreendidas nas finalidades mencionadas no art. 511, inclusive as de caráter político-partidário.”. 81 SAAD, Eduardo Gabriel et al.CLT comentada. 46. ed. São Paulo: Ltr, 2013. p. 752. 82 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 13ª ed. São Paulo: LTr, 2014, p.1407. 83 BRASIL. Brasília, DF: Câmara dos Deputados. Decreto-lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm. Consulta realizada em: 01.09. 2017. 38 José Carlos Arouca84 entende que a função política “é a própria dos partidos constituídos para esse fim”, mas, deixa claro que o sindicato exerce função política quando em busca de seus objetivos, mas está impedido é de dedicar-se ao exercício de atividade político partidária. (AROUCA, 2013, p.154). Mauricio Godinho85 continua a citação acima ao tratar da função política: A mesma reflexão aplica as atividades políticas. O fato de não se recomendável a vinculação de sindicatos a partidos políticos e sua subordinação a linhas político-partidárias, pelo desgaste que isso pode trazer à própria instituição sindical, não se confunde com a ideia de proibição normativa de exercício eventual de ações políticas. A propósito, inúmeras questões aparentemente de cunho apenas político podem, sem dúvida, influenciar, de modo relevante, a vida dos trabalhadores e de seus sindicatos. Ilustrativamente, é o que se passa com a política econômica oficial de certo Estado, que pode alterar, de maneira importante, a curva de emprego/desemprego na respectiva sociedade. Nesse quadro é lícito vedar ao sindicato postar-se contra ou a favor de tal política? Certamente que não, sob pena de os princípios de liberdade sindical e de autonomia dessas entidades se transformarem em inegável simulacro. (DELGADO, 2014, p. 1408). Amauri Mascaro Nascimento86 conclui também que: Com o desemprego e a necessidade de treinamento para novas funções, o sindicato tem colaborado com os desempregados na procura de novas colocações e na sua requalificação profissional mediante ursos destinados a esse fim. Em alguns países, o sindicato participa diretamente da elaboração
Compartilhar