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Do Adimplemento e Extinção das Obrigações Da Confusão como Forma de Pagamento ⌘ Conceito e Características: A obrigação pressupõe a existência de dois sujeitos: ativo e o passivo. Credor e Devedor devem ser pessoas diferentes. Se essas duas qualidades, por alguma circunstância, encontrarem-se em uma só pessoa, extingue-se a obrigação, porque, ninguém pode ser juridicamente obrigado para consigo mesmo ou propor demanda contra si próprio. Em razão desse princípio, dispõe o art. 381 do CC: “Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor.” Logo, portanto, que se reúnam na mesma pessoa as qualidades de credor e devedor, na mesma obrigação, dá-se a confusão (Pontes de Miranda – “mesmeidade do titular”) e a obrigação se extingue. Anote-se que a confusão não acarreta a extinção da dívida agindo sobre a obrigação, e sim sobre o sujeito ativo e passivo, na impossibilidade do exercício simultâneo da ação creditória e da prestação. Consiste, destarte, num “impedimentum praestandi”. ⌘ Confusão ≠ Compensação: A confusão distingue-se da compensação, malgrado em ambas exista a reunião das qualidades de credor e devedor. Confira-se: CONFUSÃO COMPENSAÇÃO Reúnem-se numa só pessoa as duas qualidades, de credor e devedor, ocasionando a extinção da obrigação. Há dualidade de sujeitos, com créditos e débitos opostos, que se extinguem reciprocamente até onde se defrontarem. ⌘ Hipóteses de Confusão: A confusão não exige manifestação de vontade, extinguindo o vínculo “ope legis” pela simples verificação dos seus pressupostos: reunião, na mesma pessoa, das qualidades de credor e devedor para consigo próprio. Pode ocorrer de ato inter vivos, como na cessão de crédito, ou mortis causa, quando, p.ex., o herdeiro é, ao mesmo tempo, devedor e credor do falecido. Se forem vários os herdeiros, o devedor coerdeiro ficará liberado unicamente da parte concorrente entre sua quota hereditária e sua dívida com o “de cujus”. Na realidade, a confusão é mais frequente nas heranças. O caso mais comum é o do filho que deve ao pai e é sucessor deste. Morto o credor (pai), o crédito transfere-se ao filho, que é exatamente o devedor. Opera-se, nesse caso, a confusão “ipso iure”, desaparecendo a obrigação. Mas a confusão pode resultar também, como visto, da cessão de crédito, bem como do casamento pelo regime da comunhão universal de bens e da sociedade. O fenômeno ocorre, igualmente, em outros ramos do direito, embora, às vezes, com outra denominação. “No direito das coisas, significa a reunião de coisas líquidas (art. 1.272) e é causa de extinção das servidões, pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma pessoa (art.1389,I), bem como extingue o usufruto, pela consolidação (art. 1410, IV), quando o usufrutuário adquire o domínio do bem por ato inter vivos ou causa mortis.” ⌘ Espécies de Confusão: Dispõe o art. 382 do CC: “A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela.” Pode ser, portanto: total ou parcial. Na última, o credor não recebe a totalidade da dívida por não ser, p.ex., o único herdeiro do devedor. Os sucessores do credor são dois filhos e o valor da quota recebida pelo descendente devedor é menor do que o de sua dívida. Nesse caso, subsiste o restante da dívida. O efeito é semelhante ao da compensação, quando as duas prestações extinguem-se até onde se compensarem. Por sua vez, prescreve o art. 283 do CC: “A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.” Em se tratando de obrigação solidária passiva, e se na pessoa de um só dos devedores reunirem-se as qualidades de credor e devedor, a confusão operará somente até a concorrência da quota deste. Se obrigação solidária ativa, a confusão será também parcial ou impropria (em contraposição à confusão própria, abrangente da totalidade do crédito), permanecendo, quanto aos demais, a solidariedade. ⌘ Efeitos da Confusão: A confusão extingue não só a obrigação principal mas também os acessórios, como a fiança e o penhor, pois cessa para o fiador e outros garantes o direito de regresso, incompatível com os efeitos da confusão. Mas a reciproca não é verdadeira. A obrigação principal, contraída pelo devedor, permanece caso a confusão opere-se nas pessoas do credor e do fiador. Extingue-se a fiança, porque ninguém pode ser fiador de si próprio, mas não a obrigação. Igualmente se houver confusão entre fiador e devedor: desaparece a garantia, porque deixa de oferecer qualquer vantagem para este, mas subsiste a obrigação principal. ⌘ Cessação da Confusão: Prescreve o art. 284 do CC: “Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior.” O fenômeno pode acontecer, p.ex., no caso de abertura da sucessão provisória em razão da declaração de ausência e posterior aparecimento do presumidamente morto; no caso de renúncia de herança ou, ainda, em caso de anulação de testamento já cumprido, que conferiu ao devedor direitos hereditários, confundindo-se, nesse mesmo devedor, o direito ao crédito e o ônus debitoris. Nestas hipóteses, não se pode falar que a confusão efetivamente extinguiu a obrigação, mas que somente a neutralizou ou paralisou até ser restabelecida por um fato novo. Trata-se não de uma “ressurreição do crédito” que foi extinto, e sim, mais propriamente, de uma “pós-ineficacização da confusão”. “Em geral, o restabelecimento advém de duas causas: ou porque transitória a que gerou a confusão ou porque adveio de relação jurídica ineficaz”. 1
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