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Levantamento e Conservação do Solo DETERMINAÇÃO DAS PERDAS DE SOLO POR EROSÃO HÍDRICA PERDAS DE SOLO DEVIDO AO CULTIVO A estimativa de perdas de solo, sob determinado sistema de cultivo é de suma importância, pois permite avaliar o impacto ambiental das práticas em uso e definir as mais adequadas e conservacionistas para cada condição climática e edáfica. Métodos diretos e indiretos de estimativas de perdas de solo podem ser usados. Nos métodos diretos, as perdas são avaliadas diretamente no campo em parcelas de coleta de sedimentos. Nos indiretos, as estimativas são feitas tendo por base modelos matemáticos com parâmetros definidos após intensa experimentação de campo, tendo em consideração os principais fatores que determinam as perdas de solo por erosão. MODELOS EMPÍRICOS DE PREDIÇÃO DE PERDAS DE SOLO: EUPS O uso de equações empíricas para avaliar as perdas de solo de uma área cultivada é uma prática indispensável para o planejador conservacionista. Em 1954, no Runoff and Soil – Loss Data Center, do Agricultural Research Service, com sede na Universidade de Purdue, foi desenvolvida a atual equação de predição de perdas de solo. A partir daí, uma série de pesquisadores tentam aprimorar a precisão das equações de perdas de solo, usadas presentemente, o que foi possível através de dados experimentais obtidos de análises minuciosas de milhares de canteiros de perdas de solo e dados a elas relacionados. Somente nos Estados Unidos, de 1955 a 1975, foram mais de oito mil canteiros avaliados. A nova técnica de previsão das perdas não só tem maior segurança como pode ser utilizada em escala universal, dependendo, nesse caso, da existência ou obtenção de dados locais específicos. A Equação Universal de Perdas de Solo (EUPS) (Wischmeier e Smith, 1965) exprime a ação dos principais fatores que sabidamente influenciam a erosão pela chuva. Tal equação se expressa por: 1 Levantamento e Conservação do Solo A = R K L S C P (1) em que, A é a perda média de solo por unidade de área e de tempo (t ha-1 ano-1); R (fator erosividade da chuva) é o potencial erosivo médio anual das chuvas (MJ mm ha- 1 h-1 ano-1); K (fator erodibilidade do solo) é a perda de solo por unidade do fator erosividade da chuva, para um solo específico, quando mantido continuamente descoberto e com preparo de solo realizado no sentido do declive, em uma parcela com 25m de comprimento e 9% de declividade (t ha h ha-1 MJ-1 mm-1); L (fator comprimento de rampa) é a razão entre as perdas de solo de uma área com um comprimento de rampa qualquer e aquela de 25m de comprimento, para o mesmo tipo de solo e declividade; S (fator grau do declive) é a razão entre as perdas de solo de uma área com declividade qualquer e aquela com 9% de declividade, para o mesmo tipo de solo e mesmo comprimento de rampa; C (fator uso do solo e manejo da cultura) é a razão entre as perdas de solo de uma área com uma cultura e manejo específicos e aquela mantida continuamente descoberta e com o preparo de solo realizado em declive; e P (fator prática de controle da erosão) é a razão entre as perdas de solo de uma área cultivada com determinada prática e aquela mantida continuamente descoberta e com o seu preparo realizado em declive. FATORES QUE AFETAM AS PERDAS DE SOLO CHUVA (R) O fator chuva (R) é um índice numérico que expressa a capacidade da chuva, esperada em dada localidade, de causar erosão em uma área sem proteção. Extensivos estudos de dados de perdas de solo associados com as características de chuva mostram que, quando outros fatores, à exceção da chuva, são mantidos constantes, as perdas de solo ocasionadas pelas chuvas nos terrenos cultivados são diretamente 2 Levantamento e Conservação do Solo proporcionais ao valor do produto de duas características de chuva: sua energia cinética total e sua intensidade máxima em trinta minutos. Esse produto representa um termo de interação que mede o efeito de como a erosão por impacto, o salpico e a turbulência se combinam com a enxurrada para transportar as partículas de solo desprendidas. O valor EI – índice de erosão ou erosividade - é considerado a melhor relação encontrada para medir a potencialidade erosiva da chuva. O valor R da EUPS, para dado local, nada mais é do que a média dos valores anuais de EI de um período longo de tempo (vinte anos ou mais). Devido a serem os registros de pluviógrafos escassos ou inexistentes em alguns países e as análises dos diagramas dos pluviógrafos para a energia cinética extremamente morosas e trabalhosas, diversos autores tentaram correlacionar o índice de erosão com fatores climáticos, fatores esses de fácil medida e que não requerem registros de intensidade de chuva. Lombardi Neto e Moldenhauer (1980), utilizando 22 anos de registros de precipitação de Campinas, encontraram alto coeficiente de correlação para a regressão linear entre o índice médio mensal de erosão e o coeficiente chuva, modificado do coeficiente original proposto por Fournier. A relação obtida foi: EI = 67,355 (r2/P)0,85 (2) onde: EI é a média mensal do índice de erosão em MJ ha-1 mm-1; r é a precipitação média mensal em mm; P é a precipitação média anual em mm. O índice de erosão médio anual, isto é, o fator R para um local, é a soma dos valores mensais dos índices de erosão. Para um longo período de tempo, vinte anos ou mais, essa equação estima com relativa precisão os valores médios de EI de um local, usando somente totais de chuva, os quais são disponíveis para muitos locais. ERODIBILIDADE DO SOLO (K) 3 Levantamento e Conservação do Solo O termo erodibilidade refere-se à habilidade potencial do solo em resistir à erosão hídrica, governada pelas características e propriedades do solo (Lal, 1988). Medidas experimentais do valor K, conforme as normais estabelecidas no surgimento da EUPS são custosas e requerem muitos anos de determinações, além de ser difícil isolar os efeitos de solo de outros fatores. Tais motivos tornaram necessária a estimativa da erodibilidade do solo por outros meios. O fator K pode ser estimado por meio da equação proposta por Denardin (1990), obtida a partir de índices de erodibilidade de 31 solos brasileiros, estimados sob condições de chuvas naturais ou simuladas: K = 0,00608397 PERM + 0,00834286 MO – 0,00116162 ALAS – 0,00037756 AREIA (3) (R2=0,90; p=0,01), em que, K é a erodibilidade do solo (t ha h ha-1 MJ-1 mm-1); PERM é a permeabilidade do perfil de solo codificada conforme Wischmeier et al. (1971): 1 = rápida (>250 mm h-1), 2 = moderada a rápida (130 a 250 mm h-1). 3 = moderada (65 a 130 mm h-1), 4 = lenta a moderada (20 a 65 mm h-1), 5 = lenta (5 a 20 mm h-1) e 6 = muito lenta (< 5 mm h-1); MO é o teor de matéria orgânica do solo (%); ALAS é o teor de óxido de alumínio extraível por ácido sulfúrico (%); e AREIA é o teor de partículas com diâmetro entre 2,0 e 0,5 mm (areia grossa + areia muito grossa), determinado pelo método da pipeta (%). COMPRIMENTO DE RAMPA E GRAU DE DECLIVE (LS) A intensidade de erosão pela água é grandemente afetada tanto pelo comprimento de rampa como pelo seu gradiente. Esses dois efeitos são representados na EUPS pelas letras L e S, respectivamente. Para aplicação prática da equação, são considerados conjuntamente como o fator topográfico: LS. 4 Levantamento e Conservação do Solo O efeito associado do comprimento de rampa e grau de declive assim estabelecido pressupõe declives essencialmente uniformes, isto é, não considera se eles sãocôncavos ou convexos, pois seus efeitos nas perdas por erosão não estão ainda bem avaliados. Contudo, dados escassos indicam que o uso do gradiente médio de um comprimento de rampa pode subestimar as perdas de solo de declives convexos e superestimar aquelas de declives côncavos. Quando a parte final de uma rampa se apresenta mais declivosa que a superior, o gradiente deve ser usado para representar o declive de todo o comprimento de rampa no cálculo do fator LS. Para declive côncavo, a deposição de material ocorre na parte inferior e, em tal caso, o comprimento e o grau de declive a empregar é da parte superior a partir do ponto onde o solo começa a depositar. Para estimar os fatores L e S pode-se utilizar a equação de Bertoni e Lombardi Neto (1990), que estima esses dois fatores de forma combinada: LS = 0,00984 C0,63 D1,18 (4) em que, LS é o fator topográfico; C é o comprimento de rampa (m); e D é o grau de declive (%). O quadro 1 apresenta o fator LS da EUPS para várias combinações de grau de declive e comprimento de rampa, obtidas pela equação 4. 5 Levantamento e Conservação do Solo Quadro 1. Fator LS da Equação Universal de Perdas de Solo para várias combinações de grau de declive e comprimento de rampa. Declive (%) Comprimento de rampa (metros) 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 80 100 1 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09 0,10 0,11 0,12 0,12 0,13 0,16 0,18 2 0,06 0,09 0,12 0,15 0,17 0,19 0,21 0,23 0,25 0,26 0,28 0,29 0,35 0,41 4 0,14 0,22 0,28 0,33 0,38 0,43 0,47 0,51 0,55 0,59 0,63 0,67 0,80 0,92 6 0,23 0,35 0,45 0,54 0,62 0,69 0,77 0,83 0,90 0,96 1,02 1,07 1,29 1,48 8 0,32 0,49 0,63 0,76 0,87 0,98 1,08 1,17 1,26 1,34 1,43 1,51 1,81 2,08 10 0,41 0,64 0,82 0,98 1,13 1,27 1,40 1,52 1,64 1,75 1,86 1,96 2,36 2,71 12 0,51 1,79 1,02 1,22 1,40 1,57 1,73 1,89 2,03 2,17 2,30 2,43 2,92 3,36 14 0,61 0,95 1,22 1,46 1,68 1,89 2,08 2,26 2,43 2,60 2,76 2,92 3,51 4,03 16 0,71 1,11 1,43 1,71 1,97 2,21 2,44 2,65 2,85 3,05 3,23 3,42 4,10 4,72 18 0,82 1,27 1,64 1,97 2,27 2,54 2,80 3,04 3,27 3,50 3,72 3,93 4,71 5,43 20 0,93 1,44 1,86 2,23 2,57 2,88 3,17 3,44 3,71 3,96 4,21 4,45 5,34 6,14 6 Levantamento e Conservação do Solo USO E MANEJO DO SOLO (C) As perdas de solo que ocorrem em uma área, mantida continuamente descoberta, pode ser estimada pelo produto dos termos R, K, L e S da Equação Universal de Perdas de Solo. Entretanto, se a área estiver cultivada, as perdas de solo serão reduzidas devido à proteção que a cultura oferece ao solo. Essa redução depende das combinações de cobertura vegetal, seqüência de cultura e práticas de manejo. Depende, também, do estádio de crescimento e desenvolvimento da cultura durante o período das chuvas. O fator uso e manejo do solo (C) é a relação esperada entre as perdas de solo de um terreno cultivado em dadas condições e as perdas correspondentes de um terreno mantido continuamente descoberto e cultivado. Os efeitos das variáveis uso e manejo não podem ser avaliados independentemente, devido às diversas interações que ocorrem. Assim, uma cultura pode ser plantada, continuamente, em um mesmo local, ou então, em rotação com outras culturas. A proteção da cobertura vegetal não só depende do tipo de vegetação, do stand e do seu desenvolvimento, como também varia grandemente nos seus diferentes meses ou estações do ano. Portanto, a eficácia de reduzir a erosão depende da quantidade de chuvas erosivas que ocorrem durante esse período, quando a cultura e as práticas de manejo apresentam uma proteção mínima. O fator C mede o efeito combinado de todas as relações das variáveis de cobertura e manejo acima mencionadas. A proteção oferecida pela cobertura vegetal, durante o seu ciclo vegetativo, é gradual. Para fins práticos, divide-se o ano agrícola em cinco períodos ou estádios da cultura, definidos de tal modo que os efeitos de cobertura e manejo podem ser considerados aproximadamente uniformes dentro de cada período. Os cinco períodos ou estádios da cultura, usados para calcular os valores de C para um local, são definidos a seguir: • período D – preparo do solo: do preparo do solo ao plantio; 7 Levantamento e Conservação do Solo • período 1 – plantio: do plantio até um mês após o plantio; • período 2 – estabelecimento: do fim do período 1 até dois meses após o plantio; • período 3 – crescimento e maturação: de dois meses após o plantio até a colheita; • período 4 – resíduo: da colheita até o preparo do solo. As intensidades de perdas de solo são computadas para cada um desses estádios, e para cada cultura sob várias condições (seqüências de culturas, níveis de fertilidade, produção, quantidade de resíduos, etc.). Para a obtenção do valor C, as intensidades de perdas de solo de cada período são combinadas com dados relativos à chuva, isto é, em relação à porcentagem de distribuição do índice de erosão (EI) anual para determinado local. Foram calculados os valores do fator C para vários tipos de coberturas vegetais e estes são apresentados no Quadro 2. 8 Levantamento e Conservação do Solo Quadro 2. Valores do fator C (uso do solo e manejo da cultura) aplicáveis à Equação Universal de Perdas de Solo para diferentes usos do solo, tendo por base as referências e critérios apresentados por Roose (1977), FAO (1977), Wischmeier e Smith (1978), Leblond e Guerin (1983), Bertoni e Lombardi Neto (1990) e Martins (2001). Uso do solo Idade Ritmo de crescimento(3) C Solo desnudo -- Ausente 1,000 Floresta nativa densa -- -- 0,001 Cerrado -- -- 0,010 Eucalipto(1) 0-3 meses Alto Médio Baixo 0,005 0,015 0,025 3-6 meses Alto Médio Baixo 0,003 0,009 0,015 6-12 meses Alto Médio Baixo 0,001 0,003 0,006 > 12 meses -- 0,001 Pinus(2) 0-6 meses Alto Médio Baixo 0,005 0,015 0,025 6-12 meses Alto Médio Baixo 0,003 0,009 0,015 12-24 meses Alto Médio Baixo 0,001 0,003 0,006 > 24 meses -- 0,001 Pastagem em bom estado (não degradada) -- Médio e Alto 0,010 Pastagem queimada e, ou, superpastejada (degradada) -- Baixo 0,100 9 Levantamento e Conservação do Solo PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS (P) O fator P da equação universal de perdas de solo é a intensidade esperada de perdas de solo com determinada prática conservacionista e as perdas de solo quando a cultura está plantada no sentido do declive (morro abaixo). As práticas conservacionistas mais comuns para as culturas anuais são: plantio em contorno, plantio em faixas de contorno, terraceamento e alternância de capinas. Os quadros 3 e 4 apresentam alguns valores de P, que podem ser aplicados diretamente na equação de perdas de solo, para as práticas conservacionistas de proteção do solo contra a erosão. Quando a prática conservacionista for terraço ou patamar, que influem no valor do fator LS, também devem ser consideradas as práticas do Quadro 3. Como exemplo, terraço (influindo sobre o fator LS) e plantio em nível (determinando o fator P). Caso sejam usadas outras práticas além das contidas no quadro 3, o valor de P será o produto dos valores dessas práticas. A prática do terraço irá influir sobre o comprimento de rampa. Assim, para as áreas terraceadas, o comprimento do declive a usar na determinação do valor de LS na equação é o espaçamento entre terraços. O valor de P para área terraceada, portanto, deverá ser o mesmo do plantio com cordões permanentes, uma vez que, reduzindo o comprimento do declive, reduzem-se as perdas de solo pela raiz quadrada do comprimento. A prática de patamar irá influir sobre o declive do terreno,além do comprimento de rampa. No cálculo do fator LS considerar a declividade dentro do patamar e não a declividade do terreno, como também considerar a largura do patamar como comprimento de rampa. 10 Levantamento e Conservação do Solo Quadro 3. Valor do fator P aplicáveis à Equação Universal de Perdas de Solo, para algumas práticas conservacionistas, tendo por base as referências e critérios apresentados por Bertoni e Lombardi Neto (1990), Lombardi Neto et al. (1976), Margolis (1978), Margolis et al. (1985a e b) e Silva et al. (1986). Práticas conservacionistas Valor de P Plantio morro abaixo 1,00 Plantio em nível (declividade < 8%) 0,50 Plantio em nível (declividade 8 a 12%) 0,60 Plantio em nível (declividade 12 a 18%) 0,70 Plantio em nível (declividade > 18%) 0,80 Plantio em faixa de rotação (declividade < 8%) 0,70 Plantio em faixa de rotação (declividade 8 a 18%) 0,80 Plantio em faixa de rotação (declividade > 18%) 0,90 Cordão permanente (declividade < 8%) 0,50 Cordão permanente (declividade 8 a 18%) 0,65 Cordão permanente (declividade >18%) 0,75 Alternância de capinas + plantio em contorno 0,40 11 Levantamento e Conservação do Solo Quadro 4. Valores do fator P (prática de controle à erosão) aplicáveis à Equação Universal de Perdas de Solo, para diferentes usos e práticas de manejo do solo, tendo por base as referências e critérios apresentados por Roose (1977), Wischmeier e Smith (1978), Marques e Bertoni (1961) e Bertoni e Lombardi Neto (1990). Manejo do Solo Preparo Primário Preparo Secundári o Resíduos vegetais (cobertura da área) Sentido de preparo P Floresta nativa densa Não realizado > 90% -- 0,001 Pastagem não degradada Não realizado > 90% -- 0,01 Pastagem degradada Não realizado < 70% -- 0,02 Cultivo mínimo: preparo do solo restrito às linhas de plantio, realizado com subsolador florestal ou coveadeira mecânica Não realizado 70% 35 a 70% < 35% em nível ou desnível em nível ou desnível em nível ou desnível 0,01 0,02 0,03 Grade “bedding” ou arado reformador Não realizado Incorporados ou queimados Em nível ou “cortando” as águas 0,25 Queima, coveamento manual, plantio em nível Não realizado < 20% Em nível 0,05 Convencional: grade aradora (ou pesada) ou enxada rotativa Grade niveladora Incorporados ou queimados Em nível Morro abaixo 1,00 1,00 Convencional: arado de disco ou de aiveca Grade niveladora Incorporados ou queimados Em nível Morro abaixo 0,75 1,00 12 Levantamento e Conservação do Solo TOLERÂNCIA DE PERDAS DE SOLO O uso racional do solo é feito visando minimizar os efeitos da erosão a um nível tolerável de perdas, que permita manter uma produtividade elevada por um longo tempo. É sabido que medidas de conservação do solo reduzem a erosão, sem contudo eliminá-la completamente. Encontrar um ponto de equilíbrio entre os melhoramentos do solo proporcionado por um manejo racional e as perdas de qualidade da mesma gleba provocadas pela erosão deve ser objetivo a ser procurado no intuito de preservação desse recurso natural. A tolerância de perdas representa a máxima intensidade de erosão do solo permitida de ocorrer, mantendo integral suas propriedades, por longo prazo e com segurança. A tolerância de perdas de solo é expressa em toneladas de solo por hectare, perdidas por ano. CÁLCULO DA TOLERÂNCIA DE PERDAS DE SOLO Os valores de tolerância de perdas de solo podem ser estabelecidos com base no trabalho desenvolvido por Lombardi Neto e Bertoni (1975), considerando cada tipo de solo individualmente. As propriedades do solo consideradas essenciais no estabelecimento de padrões de limites de tolerância de perdas de solo são: a profundidade do solo favorável ao desenvolvimento do sistema radicular e a relação textural dos horizontes de subsuperfície e horizontes superficiais. A profundidade do solo favorável ao desenvolvimento do sistema radicular é a característica mais importante. Para solos bem desenvolvidos, como os Latossolos, a profundidade máxima admitida para o desenvolvimento do sistema radicular foi de 1,00 metro. A relação textural (de argila) entre os horizontes de subsuperfície e os horizontes superficiais afeta, principalmente, a infiltração e a permeabilidade do solo. 13 Levantamento e Conservação do Solo Uma relação textural de argila alta indica uma capacidade de infiltração menor nos horizontes de subsuperfície, acelerando, com isso, a intensidade de erosão dos horizontes superficiais. Estabelece-se o seguinte critério para o cálculo de peso de terra por unidade de superfície de cada horizonte de perfil do solo: a) quando o valor da relação textural é inferior a 1,5, considera-se para cada horizonte estudado do perfil o peso total de terra por hectare do horizonte; b) quando o valor da relação textural é de 1,5 a 2,5, considera-se para os horizontes superficiais apenas 75% do seu peso de terra por hectare, e 75% da espessura do horizonte de subsuperfície logo abaixo do horizonte A; c) quando o valor da relação textural é maior do que 2,5, considera-se para os horizontes superficiais 50% do seu peso de terra por hectare, e 50% da espessura do horizonte de subsuperfície logo abaixo do horizonte A. Para cálculo do limite de tolerância não é considerado o horizonte superior ao C ou R, à exceção dos Neossolos Litólicos e Neossolos Regolíticos. Os horizontes BC (antigo B3) também não são incluídos nos cálculos. Para o cálculo da quantidade de terra por unidade de superfície, toma-se, para cada horizonte considerado do perfil de solo, sua espessura e a densidade do solo, levando em conta o critério adotado para a relação textural entre os horizontes de subsuperfície e os superficiais. O cálculo é efetuado com a seguinte equação: P = 100 x h x Ds (1) Em que P é o peso de terra em um hectare em t ha-1 h é a espessura do horizonte em cm Ds é a densidade do solo em g cm-3 14 Levantamento e Conservação do Solo O total de terra do perfil da unidade de solo é obtido somando a quantidade de terra de cada horizonte considerado. Estabeleceu-se o prazo de um milênio para desgastar aquela quantidade de terra por unidade de superfície, não considerando nos cálculos a formação dos solos por fenômenos de intemperismo. Dividindo-se por 1000 o peso de terra por unidade de superfície, tem-se a tolerância de perdas de terra por ano para cada unidade de solo, ou seja, a quantidade máxima de terra que o solo pode perder, por ano, mantendo-se um nível adequado de produtividade. APLICAÇÃO DA EUPS Seja uma gleba de Latossolo Roxo na região de Altamira, tendo 8% de declive e o, terreno, com cerca de 100 metros de comprimento de rampa. Deverá ser cultivado com uma rotação de culturas de quatro anos: Pasto, pasto, milho e soja. O preparo do solo será convencional e as culturas plantadas em contorno, sendo que os restos culturais do milho e soja serão incorporados nesse preparo. A fertilidade do solo é razoável e, a produção esperada, de média a alta. R = 6 8 6 K = 0 , 1 2 L S = 2 , 0 8 C = 0 , 1 3 7 6 P = 0 , 5 A = R x K x L S x C x P A = 6 8 6 X 0 , 1 2 X 2 , 0 8 X 0 , 1 3 7 6 X 0 , 5 A = 1 1 , 8 t / h a / a n o Se a cultura fosse plantado em morro abaixo, o valor de P seria 1,0, e a perda esperada seria de 23,1 t/ha/ano. Quadro 5. Limites de tolerância de perdas de solo (t ha-1 ano-1) por erosão para alguns solos do Estado de São Paulo. 15Levantamento e Conservação do Solo 9,6 4,6 a 11,3 Solos de Campos de Jordão Solos pouco desenvolvidos 4,2 1,9 a 7,3 Litossolo 12,3 11,5 a 13,3 Latossolo vermelho-escuro, orto 12,0 10,9 a 12,5 Latossolo roxo 15,0 13,4 a 15,7 Latossolo vermelho-escuro, f. arenosa 12,6 12,5 a 12,8 Latossolo vermelho-amarelo, orto 9,8 4,3 a 12,1 Latossolo vermelho-amarelo, f. rasa 14,2 13,6 a 15,3 Latossolo vermelho-amarelo, f. arenosa 12,6 11,1 a 14,0 Latossolo vermelho-amarelo, f. terraço 11,2 10,9 a 11,5 Latossolo vermelho- amarelo, húmico 14,0 9,7 a 16,5 Regossolo Com B Latossólico MédiaAmplitude observada Tolerância das perdas de soloSolo 9,6 4,6 a 11,3 Solos de Campos de Jordão Solos pouco desenvolvidos 4,2 1,9 a 7,3 Litossolo 12,3 11,5 a 13,3 Latossolo vermelho-escuro, orto 12,0 10,9 a 12,5 Latossolo roxo 15,0 13,4 a 15,7 Latossolo vermelho-escuro, f. arenosa 12,6 12,5 a 12,8 Latossolo vermelho-amarelo, orto 9,8 4,3 a 12,1 Latossolo vermelho-amarelo, f. rasa 14,2 13,6 a 15,3 Latossolo vermelho-amarelo, f. arenosa 12,6 11,1 a 14,0 Latossolo vermelho-amarelo, f. terraço 11,2 10,9 a 11,5 Latossolo vermelho- amarelo, húmico 14,0 9,7 a 16,5 Regossolo Com B Latossólico MédiaAmplitude observada Tolerância das perdas de soloSolo 6,6 5,2 a 7,6 Podzólico vermelho-amarelo, orto 7,9 3,4 a 11,2 Podzólico vermelho amarelo, v. Piracicaba 9,1 6,9 a 13,4 Podzólico vermelho-amarelo, Laras 5,7 2,1 a 6,6 Podzólico com cascalho 4,5 3,8 a 5,5 Podzolizado Lins e Marília, v. Lins 6,0 3,0 a 8,0 Podzolizado Lins e Marília, v. Marília 12,1 9,8 a 12,9 Mediterrâneo vermelho-amarelo 13,4 11,6 a 13,6 Terra Roxa estruturada Com B textural MédiaAmplitude observada Tolerância das perdas de soloSolo 6,6 5,2 a 7,6 Podzólico vermelho-amarelo, orto 7,9 3,4 a 11,2 Podzólico vermelho amarelo, v. Piracicaba 9,1 6,9 a 13,4 Podzólico vermelho-amarelo, Laras 5,7 2,1 a 6,6 Podzólico com cascalho 4,5 3,8 a 5,5 Podzolizado Lins e Marília, v. Lins 6,0 3,0 a 8,0 Podzolizado Lins e Marília, v. Marília 12,1 9,8 a 12,9 Mediterrâneo vermelho-amarelo 13,4 11,6 a 13,6 Terra Roxa estruturada Com B textural MédiaAmplitude observada Tolerância das perdas de soloSolo 16 Levantamento e Conservação do Solo 17
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