Buscar

Quarta aula - Linguagem e ideologia

Prévia do material em texto

LÍNGUA PORTUGUESA 
Prof. Alisson Luiz 
 
Linguagem e ideologia 
 
“A ideologia emerge das instituições em geral: escola, 
família, Estado, religião, associações para fins 
diversos, empresas, as quais estabelecem normas 
para as relações sociais. Por meio de agentes 
definidos – políticos, professores, pais, padres, 
pastores-, a ideologia manifesta seu discurso a 
funcionários, alunos, empregados, filhos e leigos. Fala 
sobre as coisas, as situações, interpretando-
as”.(Marilena Chauí, in Convite a Filosofia – Ed. Ática) 
As habilidades necessárias para reconhecer ideologias em 
determinados tipos de discursos, a partir de marcas linguísticas 
Saber ler nas “entrelinhas” é saber articular os 
conhecimentos prévios às informações textuais, 
inclusive as que dependem de pressuposições e 
inferências (semânticas e/ou pragmáticas) autorizadas 
pelo texto; isso permite dar conta de ambiguidades, 
ironias, expressões figuradas, opiniões e valores 
implícitos, fenômenos que denotam as intenções do 
autor. Um texto pode dizer muita coisa sem ser 
explícito. 
A tira de Hagar, o horrível veicula um pressuposto, já que é uma ideia expressa 
de forma não explícita; mas que o leitor pode inferir através da seguinte 
expressão: 
 
Quero homens casados! 
O leitor deve levar em consideração que o perfil de Hagar é a de 
um “viking” que, por mais que tente impor a imagem de chefe 
de família, de um dominador, de machista convicto; deixa-se 
dominar pela esposa Helga, cujos atributos são de uma mulher 
“machona”, mandona e dominadora. Ao proferir: Quero homens 
casados!!, somando essa expressão a toda organização textual 
que compõe o quadro; o leitor ativa o conhecimento prévio, 
inferindo os seguintes contextos: 
Negativo 
- desgastado; 
- chateado; 
- cansado; 
- aturar os filhos; 
- aturar a mulher; 
- gastar dinheiro. 
Homem Casado: 
- responsável; 
- maduro; 
- de caráter; 
- provedor; 
- protetor; 
- organizado; 
Positivo 
Ao propor aos homens: disposição ao sacrifício, concordância e 
aceitação das ordens estabelecidas, o fato de não se incomodar com 
as situações inusitadas e, sobretudo, homens acostumados com o 
perigo; o leitor articula os modelos cognitivos globais que vão 
estabelecer, imediatamente, a figura de um soldado, de homens que 
são solicitados, anualmente, para compor a corporação de um 
exército. Pessoas que serão preparadas para os contextos de guerra. O 
humor consiste, exatamente, no fato de o personagem proferir a frase: 
Quero homens casados!! O pressuposto acarreta uma informação 
implícita: apenas os homens casados estão preparados para o 
sacrifício, para o temor, para o perigo e para acatar as ordens; ou seja, 
uma situação de guerra não difere de uma situação de convívio 
familiar. A leitura do quadrinho disponibiliza ao leitor a seguinte 
inferência: Hagar enquadra-se tal como os outros convocados para a 
tripulação, já que o convívio com Helga e os filhos propiciam sacrifício, 
incômodo e regras. 
A persuasão e o convencimento pela linguagem 
verbal e/ou não verbal 
O que é persuasão? 
Persuasão não é uma técnica de lavagem cerebral, mas 
é a manipulação da mente humana sem que se tenha 
consciência do que causou uma um dança de opinião. 
A diferença entre persuasão e o convencimento é que a 
persuasão apela para a vontade e a emoção, enquanto 
que o convencimento apela à inteligência e à razão. 
A base da persuasão encontra-se no acesso à parte 
direita do cérebro que é ligada à criatividade e 
imaginação. Como a metade esquerda do cérebro é 
analítica e racional, a idéia é desviar a atenção do 
cérebro mantendo o lado esquerdo ocupado. 
 
Uma das técnicas para distrair o lado esquerdo do 
cérebro, muito usada por políticos e advogados é 
chamada de “apertar o laço”. 
 
Através de um discurso, o indivíduo lança perguntas 
cuja resposta é SIM. Em seguida coloca argumentos 
que favoreçam a opinião da plateia a seu favor. Por 
último vem a sugestão de uma ação alinhada com a 
opinião do orador. Uma vez que a plateia esteve 
concordando com a opinião do orador, fica fácil de ser 
persuadida a aceitar a sugestão. 
 
Exemplo 
"Senhoras e senhores: vocês estão indignados com os altos 
preços dos alimentos? Vocês estão cansados dos astronômicos 
preços dos combustíveis? Estão doentes com a falta de controle 
da inflação? Bem, vocês sabem que o Outro Partido permitiu 
uma inflação de 18 por cento no ano passado; vocês sabem que 
o crime aumentou 50 por cento por todo o país nos últimos 12 
meses, e vocês sabem que seu cheque de pagamento 
dificilmente vem cobrindo os seus gastos. Bem, a solução destes 
problemas é me eleger na próxima eleição" - John Jones, candidato ao 
Senado dos EUA 
 
 
Um texto persuasivo busca sensibilizar o lado emocional de seu 
público alvo, isso explica porque os anúncios exploram tanto as 
emoções. 
 
Um termo que tem alto poder de persuasão, tanto na linguagem 
escrita como verbal, é a palavra imaginação. Derivada da palavra 
imagem, significa criar uma imagem na mente. Ela está entre as 
palavras mais persuasivas do mundo. Para comprovar faça o teste 
a seguir: Imagine uma praia com o mar tranquilo num dia de sol. 
Conseguiu? Ótimo! Agora tente o seguinte: Não imagine uma 
bicicleta num lindo gramado de uma praça. Conseguiu não pensar 
na bicicleta? Claro que não. Isso acontece porque quando falamos 
ou lemos a palavra "imagine" nossa mente entende o comando 
como a visão do objeto. Antes de se materializar todas as coisas 
são criadas primeiramente em nossas mentes. 
Novamente estamos lidando com o lado direito do cérebro. Outra 
forma de reforçar a persuasão é através dos Comandos Embutidos. 
Pesquisadores têm mostrado que os movimentos realizados com a 
mão esquerda ativam o lado direito do cérebro, por isso o orador 
pode estar dizendo uma coisa e através dos movimentos de sua 
mão pode estar tentando obter uma determinada resposta através 
da persuasão. Aqui, entramos na área da Neurolinguística com a 
influência da linguagem corporal na transmissão de uma 
mensagem. 
 
Sujeito e linguagem 
O homem, ao utilizar um galho para se defender de outros 
animais, “começou a instrumentalizar os objetos, os quais só se 
tornaram instrumentos efetivamente quando, devido a sua 
condição de reflexão, de ideação, ele conseguiu perceber as 
finalidades de sua ação”(BACCEGA, 1998, p.16). E o homem só 
consegue perceber os objetivos de sua ação quando as concebe 
e, para isso, é fundamental a linguagem. 
 Uma abordagem da linguagem jamais pode, assim, se ater apenas à descrição dos 
fatos linguísticos. É imprescindível uma abordagem de natureza sócio-histórica desse 
processo, que explique criticamente esses fatos e os processos de produção social 
das normas e usos linguísticos, que surgem das necessidades de uma determinada 
sociedade num determinado momento. Desvelam-se, então, “as motivações, os 
interesses, as necessidades e, sobretudo, os condicionantes sociais presentes em um 
determinado segmento econômico, do qual fazem parte os interlocutores” 
(BACCEGA, 1998, p.17). 
A linguagem como produtora de 
identidade 
Segundo Le Page (1980), todo ato de fala é um ato de identidade. A linguagem é o 
índice por excelência da identidade. As escolhas lingüísticas são processos inconsciente 
que o falante realiza e está associado a múltiplas dimensões constitutivas da 
identidade social e aos múltiplos papéis sociais que o usuário assume na comunidade 
de fala. O que determina a escolha de uma ou outra variedade é a situação concreta 
de comunicação. 
No Brasil, as diferenças linguísticas não são seriamente levadas em conta. A escola é 
norteada para ensinar a língua da cultura dominante e tudo o que se afaste desse 
código defeituoso deve sereliminado. É sabido que o comportamento linguístico é um 
indicador claro da estratificação social, os grupos sociais são diferenciados pelo uso da 
língua e que o prestígio do português culto, padronizado pelas gramáticas, dicionários 
e cultivado na literatura e em diversos domínios institucionais da sociedade não se 
restringe apenas aos grupos de seus usuários, o cidadão erudito que tem a língua-
padrão como meio natural de comunicação, mas perpassa todos os segmentos sociais 
inclusive as classes mais populares, que demonstram uma valorização em relação à 
“boa linguagem”, “à fala daqueles que têm estudo”. 
Aluga-se 
Raul Seixas 
A solução pro nosso 
povo 
Eu vou dá 
Negócio bom assim 
Ninguém nunca viu 
Tá tudo pronto aqui 
É só vim pegar 
A solução é alugar o 
Brasil!... 
Nós não vamo paga 
nada 
Nós não vamo paga 
nada 
É tudo free! 
Tá na hora agora é free 
Vamo embora 
Dá lugar pros gringo 
entrar 
Esse imóvel tá prá 
alugar 
 
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!... 
Os estrangeiros 
Eu sei que eles vão 
gostar 
Tem o Atlântico 
Tem vista pro mar 
A Amazônia 
É o jardim do quintal 
E o dólar dele 
Paga o nosso mingau... 
Nós não vamo paga 
nada 
Nós não vamo paga 
nada 
É tudo free! 
Tá na hora agora é free 
Vamo embora 
Dá lugar pros gringo 
entrar 
Pois esse imóvel está 
prá alugar 
Alugar! Ei! 
 
Agradeço a força e a persistência 
de todos que continuam a vir. 
 
 
Professor Alisson deseja a todos um 
ótimo fim de semana!!!

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes