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FEDERALISMO O federalismo encontra suas raízes na experiência norte-americana. As 13 Colônias inglesas independentes desde 1776, uniram-se numa Confederação, firmando entre si um tratado de direito internacional, os chamados “Artigos da Confederação”. Com o propósito de aperfeiçoar esses “Artigos” adveio a Convenção da Filadélfia em 1787 que promulgou a Constituição dos Estados Unidos da América, substituindo a Confederação por uma Federação, o que os federalistas consideravam uma “união mais perfeita”, em que os Estados-membros, não mais soberanos, mas ainda autônomos, abriam mão de parcela de suas competências ao poder central da União. A doutrina denomina esse fenômeno federalista nos EUA de “federalismo por agregação” pois laços federativos acarretaram a perda do poder soberano, entretanto, esta “perda” foi interpretada – em especial na Virgínia, Pensilvânia, Nova York e Massachusetts - como uma necessidade de aperfeiçoar a forma confederativa. Diferente do fenômeno federalista brasileiro, que foi um “federalismo por segregação” (uma federação que adveio de um Estado Unitário). A primeira Constituição-tratado da história seria, de igual modo, resultado de um processo histórico, e não decorrente de uma teoria prévia. A intenção dos constituintes federais de 1787 era a de formar um “Estado Federal forte”, pela aglutinação dos Estados confederados, ou seja, muito mais do que havia conseguido a própria Confederação. O conceito clássico de Federação - do latim foedus (pacto, aliança) – relaciona-se a uma união de Estados sob as seguintes características fundamentais tradicionais: a) A união faz nascer um novo Estado e, concomitantemente, aqueles que aderiram à federação perdem a condição de “Estados”. No caso norte- americano, como no brasileiro, foi dado o nome de “Estado” a cada unidade federal, mas apenas como artifício político, porquanto na verdade não são Estados. b) A base jurídica do Estado federal é uma Constituição, não um tratado. Baseando-se a união numa Constituição, todos os assuntos que possam interessar a qualquer dos componentes da federação devem ser conduzidos de acordo com as normas constitucionais. O tratado é limitado, porque só regula os assuntos nele previstos expressamente, além de ser possível sua denúncia por qualquer dos contratantes, o que não acontece com a Constituição. c) Na federação não existe direito de secessão. Uma vez efetivada a adesão de um Estado este não pode mais se retirar por meios legais. d) Só o Estado Federal tem soberania. Os Estados que ingressarem na federação perdem sua soberania no momento do ingresso, preservando, contudo, a autonomia política limitada. e) No Estado Federal as atribuições da União e das unidades federadas são fixadas na Constituição, por meio de uma distribuição de competências. f) O poder político é compartilhado pela União e pelas unidades federadas. Existe um governo federal, do qual participam as unidades federadas e o povo, e existem governos regionais dotados de autonomia política, podendo fixar sua própria orientação nos assuntos de seu interesse, desde que não contrariem a Constituição Federal. Para assegurar a participação das unidades no governo federal foi constituído o poder legislativo bicameral. O Senado é o órgão de representação dos Estados, sendo de praxe assegurar- se a todas as unidades federadas igual número de representantes. Na outra Casa do poder legislativo é o próprio povo quem se faz representar. A Constituição de 1988 estabelece a forma federativa para o Estado brasileiro, repetindo a fórmula adotada pelos textos constitucionais desde a promulgação da primeira Carta Republicana em 1891, que superou o modelo de Estado unitário adotado pela Constituição de 1824. O modelo federativo estabelecido na Constituição de 1988 apresenta características básicas do Estado Federal: 1) autonomia dos entes federados (União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios) prevista no caput do art. 18. Luís Roberto Barroso, divide a autonomia nos seguintes elementos: * auto-organização ; * autogoverno ; * auto-administração A auto-organização é a capacidade de elaborar e promulgar seus próprios documentos jurídicos referenciais, como a Constituição Estadual ou a Lei Orgânica Municipal. O autogoverno é a capacidade de escolha, através do sufrágio eleitoral, dos membros do Poder Legislativo e Chefes do Poder Executivo. E a auto-administração é a capacidade de estruturação e organização de seus próprios órgãos públicos. Uma segunda característica é a ... 2) repartição de competências entre os entes federados 3) presença de mecanismos de solução de conflitos entre os entes federados com participação da Corte Suprema e do instituto da intervenção (artigo 34) 4) participação dos Estados-membros no cenário político federal através do Senado Federal, órgão de composição paritária, ou seja, o mesmo número de Senadores – 3 ! – para cada Estado-membro (26) e o Distrito Federal (1), independente de contingente populacional ou participação no PIB nacional, por exemplo, segundo dados de 2010 do IBGE, O Estado de São Paulo contribui com 33% do PIB nacional e Estados como Acre, Roraima e Amapá com, apenas, 0,2 % cada. Independente disso, O Estado de São Paulo possui 3 representantes no Senado, como Acre, Roraima e Amapá. 5) indissolubilidade da federação, prevista no art. 1º, caput da CF/88, inviabilizando a secessão. ESTUDO DE CASO: Na Constituição Federal de 1988 houve ampliação da autonomia municipal, outorgando-se aos Municípios o poder de elaborar sua própria Lei Orgânica. Anteriormente ao novo texto, somente o Estado do Rio Grande do Sul fazia essa concessão. O Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, editou em 1975 a Lei Complementar nº 01/1975 que dispunha sobre a “Lei Orgânica dos Municípios do Estado do Rio de Janeiro”. Nesse diapasão, foram proibidas eleições diretas para Prefeitos de Municípios considerados área de interesse para a segurança nacional ou estância hidromineral, além de todas as capitais, totalizando 68 Municípios. Tema que desperta, atualmente, grande interesse à municipalidade é o projeto de lei aprovado no Congresso Nacional sobre a distribuição dos Royalties do petróleo entre Estados e Municípios que, além de alterar as disposições previstas na Constituição (art. 20,§1º), mexem, também, em contratos já existentes nos campos licitados pelo sistema de concessão, MESMO NOS DO PRÉ-SAL. Prevê a CF/88 , em seu art. 20, §1º que "é assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração". Alterar o critério de repartição sem examinar a questão indenizatória será apregoar desproporcionalidade ao conceito constitucional de "compensação financeira". Portanto, as localidades que mais produzem petróleo e gás devem receber valores maiores. Assim sendo, qualquer modificação legislativa na atual estrutura (distribuição/regime de partilha) poderá ser considerada comoinconstitucional e com possibilidade de ferir o pacto federativo.
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