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Curso Ética e Administração Pública.pdf saberes.senado.leg.br Ética e Administração Pública SUMÁRIO MÓDULO I – ÉTICA ................................................................................................................ 1 Unidade 1 - Importância do estudo, histórico e conceituação .......................... 2 Unidade 2 - Ética x Moral .............................................................................................. 13 MÓDULO II - Ética em contexto ..................................................................................... 15 Unidade 1 - A Ética, eu e o outro ............................................................................... 16 Unidade 2 - Ética e sociedade ..................................................................................... 20 Unidade 3 - Ética, imprensa e novas mídias ......................................................... 23 Unidade 4 - Ética e lei .................................................................................................... 26 Unidade 5 - Ética e Estado ............................................................................................ 28 Unidade 6 - Ética, vida e natureza ............................................................................ 32 MÓDULO III - Ética na Administração Pública........................................................... 35 Unidade 1 - Administração Pública ............................................................................ 36 Unidade 2 - Ética e Administração Pública ............................................................. 39 Unidade 3 - Ética no Legislativo ................................................................................. 56 1 MÓDULO I – ÉTICA Ao final deste Módulo, você conhecerá um pouco do histórico da Ética e sua conceituação, e será capaz de diferenciar Ética e Moral. 2 Unidade 1 - Importância do estudo, histórico e conceituação Nesta unidade, abordaremos os seguintes pontos: importância do estudo da Ética; as raízes da Ética; e conceitos formais e informais. Importância do estudo da Ética Hiroshima, Japão, anos 40 Vietnã, anos 60 África, anos 80 3 Brasil, ainda hoje Você ainda tem dúvidas sobre a importância do estudo e da prática da Ética? Nós também não. Portanto, prossigamos no curso. As raízes da Ética Por favor não estou sendo ético ao utilizar o papel A4 do órgão onde trabalho para imprimir as fotos da minha última festa de aniversário? Por que fere a Ética dizer que é minha uma ideia nova que foi desenvolvida por outro servidor público que atua no meu setor? E ainda: quando alguém liga e peço ao meu colega de trabalho para dizer que não estou: é uma atitude ética? Como se pode perceber, as questões éticas estão até nas mais simples ações humanas e nas mais corriqueiras atividades profissionais. Ética: nas duas últimas décadas, no Brasil, temos cada vez mais nos familiarizado com essa palavra, até então quase uma ilustre desconhecida, estudada só nas universidades, e em apenas alguns cursos. Era, com frequência, acompanhada de termos filosóficos, porque entendia-se que a Ética vinha da Filosofia, e nela, principalmente nela, deveria ser estudada. 4 Por isso, costumávamos ouvir, e ainda ouvimos, que a Ética surge com os gregos, notadamente com a trinca Sócrates, Platão e Aristóteles, a partir do Século IV a.C. Mas terá sido assim mesmo? Importância do estudo, histórico e conceituação Dizer que a Ética surgiu no período áureo da antiga filosofia grega é um pouco simplista. Na verdade, desde que o ser humano se reconheceu como racional e viu no outro um semelhante seu, a questão ética surgiu. A preocupação com o pensar e agir de modo coerente e de forma a preservar a vida está na própria humanidade. Evitando, porém, nos alongarmos nessa discussão, lembremos que, antes dos gregos, havia culturas milenares, do médio e extremo orientes, portadoras de grande sabedoria, que já consideravam as questões éticas em seu relacionamento social. Exemplos podemos encontrar, entre outras, nas civilizações egípcia, hindu, chinesa e judaica. No antigo Egito, civilização de mais de 6.000 anos, as atividades profissionais revestiam-se de caráter ético em todas as suas manifestações, mesmo porque eram intrinsecamente ligadas às crenças e ritos religiosos. Os rituais da civilização egípcia, tais como a mumificação dos corpos e o colossal erguimento de pirâmides, demonstravam o reconhecimento da importância e do significado da vida como força cósmica. 5 Os chineses, também há milênios, bem como os hindus, mantinham sua Ética baseada na cosmologia, na interação entre tudo o que existe e, por isso mesmo, na integração do indivíduo ao todo. Essa visão de mundo conduz a profundas implicações éticas, tanto em relação à vida em sociedade quanto à simbiose homem-natureza. No Ocidente, a tradição judaico-cristã, também de raiz oriental, foi a que mais influenciou nossa formação ética. O Antigo Testamento apresenta extenso repertório de leis e mandamentos (inclusive o Livro das Leis e os Dez Mandamentos registrados por Moisés). Os ensinamentos cristãos, estes baseados na vida de Jesus, moldaram eticamente, em especial, a Europa e as Amé ricas. Se o ser humano, muito antes do período clássico grego, já se preocupava com as questões éticas, cabe, então, repetir a pergunta e formular outra: 6 Por que se atribui a Sócrates, Platão e Aristóteles o surgimento da Ética? E o que isso interessa à Administração Pública? A primeira será respondida a seguir. Quanto à segunda pergunta, será abordada um pouco mais adiante, mas já é interessante refletirmos sobre as implicações. Fundadores da Ética Considerá-los como legítimos “pais fundadores” da Ética é justificado, principalmente porque, pela abordagem das questões humanas sob uma forma radicalmente mais racional do que a de seus antecessores, eles foram determinantes para a separação entre Religião e Filosofia. Assim, abordada já sob o ponto de vista filosófico, a Ética descola-se das amarras religiosas, ditadas pelos deuses de então, e é vista como decorrente da racionalidade do ser humano. Sócrates é o primeiro dos três a aplicar a razão para chegar às questões éticas, tais como: existe algo que pode ser considerado Bem e o seu contrário, chamado de Mal? Podemos discernir no mundo e nas atitudes aquilo que é Justiça daquilo que é Injustiça? Podemos chamar de Belo aquilo cuja essência ética e equilíbrio nos encanta, comove e ilumina, e considerar Feio o inverso? E o principal: somos capazes de, efetivamente, agir dentro dos princípios de Verdade, Beleza e Justiça? A aplicação da Ética na vida foi talvez a maior contribuição daquele filósofo. Tanto que, injustamente julgado e condenado à morte, os amigos e 7 discípulos ofereceram-se para subornar os guardas e garantir-lhe a liberdade em outras terras, mas Sócrates, então, declara que não aceita, visto que contrariaria a Verdade. Pois bem, Sócrates foi mestre de Platão, e este, professor de Aristóteles. Daí por que as preocupações éticas foram sendo progressivamente estudadas. Observe a imagem à esquerda. Ela reproduz parte do famoso quadro “Escola de Atenas”, de Rafael Sanzio. Na obra, vemos ao centro os filósofos Platão (com manto vermelho) e Aristóteles (manto azul). Como veremos a seguir, o quadro apresenta algumas importantes referências que nos levam ao tema deste curso: a Ética. Agora, veja um detalhe da cena anterior. Você consegue perceber que, com a mão esquerda, Platão segura um livro? O filósofo traz o Timeu, um dos seus famosos diálogos, cujo tema central é a Justiça. Com a mão direita, ele aponta para cima, indicando que essa justiça, e portanto a Ética, pode ser encontrada em estado puro somente no mundo das ideias. 8 Platão defendia que o homem alcançava a excelência, quando permanentemente buscava o belo, o nobre, o justo. As implicações éticas são, portanto, bastante claras. Em contrapartida, Aristóteles (à direita), com a mão esticada horizontalmente, representa a visão mais focada no mundo físico e no humano. Daí por que ele - é possível ver no detalhe - segura um de seus escritos, a Ética. Ele é considerado o fundador da disciplina Ética como um dos ramos da Filosofia. Verdade, justiça, bondade e honestidade foram temas recorrentes e aprofundados pelos gregos clássicos. 9 Portanto, embora não sejam os primeiros a tratar de Ética, seguramente os três filósofos contribuíram para seu estudo, importância e aplicação à vida individual e em sociedade. A seguir veremos como tais conceitos evoluíram. Conceitos formais e informais Existem inúmeros conceitos para Ética, de acordo com abordagens mais ou menos acadêmicas. Vamos ver alguns? Existem os de tipo erudito: "O todo da Ética é integrado pela Deontologia [deveres] e pela Diceologia [direitos]." (Paulo L. Netto lobo) Outros, um tanto simples e bem humorados: "Por que o indivíduo seria honesto no escuro?" (Niklas Luhmann) Ainda há os que vão à raiz do termo: "Ética é termos a coragem de sermos o que realmente somos" (victor D. Sallis) 10 E, claro, os dicionarizados. Examinemos os verbetes dos dois mais difundidos dicionários brasileiros: Conceito de ética, Dicionário Aurélio – Século XXI [Do lat. ethica < gr. ethiké.] Estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada sociedade, seja de modo absoluto. Conceito de ética, Dicionário Houaiss 1 parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo esp. a respeito da essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social 2 conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade Que tal conhecermos também a definição sob a ótica de um cientista político renomado? 11 Para Norberto Bobbio, Ética é “a atribuição [subjetiva] de valor ou importância a pessoas, condições e comportamentos e, sob tal dimensão, é estabelecida uma noção específica de Bem a ser alcançado em determinadas realidades concretas, sejam as institucionais ou sejam as históricas”. Síntese dos Conceitos Vamos propor uma síntese dos conceitos apresentados. Simplificando, poderíamos dizer que Ética é o estudo da conduta humana, ou a busca da conduta humana voltada para o bem e para o correto. E, mais que o estudo simplesmente, a incorporação dos valores éticos decorrentes desse estudo, que deverão passar a integrar a conduta do indivíduo e, por extensão, das sociedades. Mas o conceito e a prática do bem e do correto não diferem de uma pessoa para outra? De uma nação para outra? De um momento histórico para outro? Sim. Por isso, há que se estabelecer uma distinção entre Ética e Moral. É o que faremos a seguir. Mas antes, leia o box abaixo. Diógenes de Abdera, o cínico, era um filósofo-mendigo que viveu na Grécia antiga por volta do século IV A.C. Diz-se que, ao invés de casa, morava num barril e contestava com ironia o modus vivendi e a pretensa sabedoria dos cidadãos atenienses, bem como a corrupção da época. Conta-se com uma de suas peripécias, que ele costumava sair com uma lanterna em pleno dia, com ar muito sério e investigativo. Aos passantes que lhe perguntavam o que procurava, ele respondia com gravidade: - Um homem honesto. Procuro por um homem honesto. 12 E seguia resoluto, olhando pelos cantos e também iluminando bem de perto o rosto dos cidadãos gregos. o Diógenes de Abdera, o cínico, era um filósofo-mendigo que viveu na Grécia antiga por volta do século IV A.C. Diz- se que, ao invés de casa, morava num barril e contestava com ironia o modus vivendi e a pretensa sabedoria dos cidadãos atenienses, bem como a corrupção da época. o Conta-se com uma de suas peripécias, que ele costumava sair com uma lanterna em pleno dia, com ar muito sério e investigativo. Aos passantes que lhe perguntavam o que procurava, ele respondia com gravidade: o - Um homem honesto. Procuro por um homem honesto. o E seguia resoluto, olhando pelos cantos e também iluminando bem de perto o rosto dos cidadãos gregos. 13 Unidade 2 - Ética x Moral Nesta unidade, vamos estabelecer a distinção entre os dois conceitos, de forma a prosseguir nossos estudos com maior segurança quanto ao uso destas expressões. Diferenciando Ética e Moral Muito se discute sobre o que difere Ética e Moral. De certa forma, a palavra Ética tem sido usada com frequência em lugar de Moral, uma vez que esta última adquiriu para muitos um sentido pejorativo, ligado a “moralidade” e “moralismo”. Respeitadas as opiniões divergentes, podemos estabelecer, numa síntese razoável e simples, as principais diferenças entre elas. Ética Moral Princípios Costumes Adquirida pela reflexão Adquirida no meio em que se vive Imutável Mutável Valores Práticas Imposto pelo indivíduo a si mesmo Imposta pela sociedade 14 Mais abrangente que a moral Decorrente da ética Universal Cultural O quadro acima demonstra que existem diferenças entre ambas, mas que também há interdependência. Pode-se, por exemplo, colocar a Ética em prática pela via da Moral. Quer um exemplo? Temos toda uma legislação para prevenir e punir crimes contra a vida – ou seja, a legislação (de ordem moral) está reforçando e colocando em prática um princípio ético (a vida é o maior valor humano). Parabéns! Você chegou ao final do primeiro Módulo de estudo do curso Ética e Administração Pública. Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e responda aos Exercícios de Fixação, que o resultado não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas! Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 15 MÓDULO II - Ética em contexto Ao final deste Módulo II, você será capaz de compreender o papel e a importância da Ética em relação a outros sujeitos sociais. 16 Unidade 1 - A Ética, eu e o outro Nesta unidade, vamos tratar dos princípios éticos de um indivíduo em relação a si próprio e em relação a seu semelhante. O que podemos compreender dos conceitos e informações apresentadas é que o ser humano é dotado de razão e por isso pode, sim, tomar a iniciativa de seus atos com vista a buscar o bom e o justo ou, por outro lado, a maldade e a injustiça. Claro, estes conceitos – bom, mau, justo e injusto – não chegam a ser universais, diferindo de acordo com a cultura, a época, o grupo social e muitas outras variáveis. Porém, há dois valores que, de fato, são universais: a vida humana e, decorrente desta, a importância do outro. Este princípio, o da alteridade (alter, em latim, significa “outro”), implica dizer que o ser humano, por ser gregário, necessita viver em grupo, tem no seu semelhante um igual, com os mesmos direitos básicos que ele próprio. Existem algumas máximas populares e religiosas que ecoam essa verdade: "Não faz ao outro o que não queres que façam a ti." "Ama ao próximo como a ti mesmo." 17 Existem também aquelas que contrariam o preceito: "O inferno são os outros." (Jean-Paul Sartre) Para o bem ou para o mal é pelo contato com o outro e pela visão do outro que me reconheço como integrante dessa categoria chamada humanidade. Para referendar o que acabamos de ver, o imaginário popular e a indústria cultural criaram personagens esplêndidos para ilustrar o que acontece com uma pessoa criada longe de qualquer ser humano. Alguns deles: 18 Rômulo e Remo: Os irmãos gêmeos mitológicos teriam sido amamentados e criados por uma loba e posteriormente sido os responsáveis pela fundação de Roma na Antiguidade. Tarzan: O filho das selvas, personagem do escritor Edgar Rice Burroughs, que aparece pela primeira vez em 1912, no livro Tarzan of the Apes. O garoto europeu, perdido na África e criado por macacos de uma espécie fictícia denominada mangani, protagonizou dezenas de livros, histórias em quadrinhos, animações e filmes. (Na foto, um dos muitos Tarzans do cinema, com sua inseparável amiga Cheetah – em português, Chita.) 19 Mogli: Criado originalmente pelo escritor indo-britânico Rudyard Kipling num conto chamado O livro da selva, foi imortalizado por Walt Disney em uma de suas memoráveis animações. Narra também a história de um garoto criado na selva, cujos melhores amigos são um urso e uma pantera, tendo por inimigos uma serpente e um violento tigre. Nell: No filme estrelado pela atriz Jodie Foster, uma garota cresce na floresta sem a presença de humanos, após a morte do pai. Não desenvolve a capacidade de comunicação linguística humana e sofre muito na tentativa de socializar-se, após ser retirada do isolamento selvagem. O vídeo abaixo, conduzido por Viviane Mosé, mostra-nos a condição de alheamento em relação ao outro, sem dúvida um dos piores males da sociedade moderna. (Duração: 9min25) – Clique aqui 20 Unidade 2 - Ética e sociedade Nesta unidade, veremos a Ética quando aplicada não mais ao indivíduo, mas entre os diversos integrantes de um grupo. Se a Ética está intrinsecamente ligada ao outro, então ela se aplica igualmente à sociedade como um todo, visto ser esta composta de muitos “outros” a relacionar-se com determinado indivíduo. Dessa forma, temos que, ainda aqui, reconhecer a existência de princípios éticos a serem respeitados, sob pena de o grupo humano fragmentar-se sob ideias e atividades danosas aos indivíduos e, portanto, ao próprio grupo. Exemplo disso pode ser encontrado na prática do trabalho escravo. Há pouco mais de dois séculos, ou menos ainda, era comum o trabalho de escravos ou o trabalho em troca de comida pura e simplesmente. Mesmo crianças de até cinco anos de idade eram empregadas nas fábricas inglesas, em plena Revolução Industrial. Na cidade de Ouro Preto, do Ciclo do Ouro, no século XVIII, crianças também eram amarradas a cordas e descidas por buracos escuros, para trazerem de lá o minério. Já no século XX, era frequente no Brasil a ação dos "gatos", aliciadores de pessoas para trabalhar em regiões pouco habitadas ou latifúndios, cujo salário aviltado deveria ser trocado por comida, o que acabava convertendo- se em dívida e escravidão. 21 Submeter o ser humano a condições degradantes de trabalho é hoje crime reconhecido em todo o planeta, embora ainda praticado em diversos países. Porém, é fora de dúvida a razão ética primordial que condena tais atos: valorizar o indivíduo em sua condição humana. Alguém, contudo, poderia afirmar: – Ora, mas então a Ética evolui? Ela se transforma ao sabor das culturas, povos e civilizações? No passado, o trabalho escravo e infantil era corriqueiro; hoje é condenado. Tal afirmação, apesar de merecer reflexão de nossa parte, desconsidera que hoje ou há milênios, a vida humana era e é uma dádiva a ser preservada. Ocorre que o conhecimento e o processo civilizatório evoluíram, sim – a despeito do que dizem os pessimistas de ontem e sempre. Nesse sentido, seria como se a Ética mais profunda e duradoura estivesse progressivamente sendo "descoberta" pela humanidade, quando esta, ao olhar para trás, visse claramente os erros cometidos e, mediante reflexão, considerasse que pudesse adotar universalmente novas práticas, voltadas ao bem comum e em todos os tempos. O cuidado, de novo, para não confundir Ética e Moral. Compare o tema do trabalho escravo com o caso a seguir. 22 Andar nu, em público, é considerado ilegal e inadmissível. Mas essa proibição não é um valor aplicável a várias tribos indígenas. E em Tambaba, uma praia na Paraíba, onde se pratica o naturismo, a situação pode até se inverter. Existe um espaço específico em que é proibido entrar com roupas. O nu é a regra. O exemplo acima não nos deve confundir. Trata-se não de questão ética, mas sim moral. A moral pode ser relativizada pelos costumes e frequentemente muda de país para país, de um momento histórico para outro. Muda mesmo, como no caso acima, de uma praia para outra. Já a Ética possui alicerces bem mais firmes e se pretende mesmo válida para todos os indivíduos, em qualquer região e em qualquer época. 23 Unidade 3 - Ética, imprensa e novas mídias Nesta unidade, vamos estabelecer a distinção entre os dois conceitos, de forma a prosseguir nossos estudos com maior segurança quando ao uso dessas expressões, bem como elencar os desafios éticos que se apresentam às mídias convencional e digital. O pensador da comunicação Marshall McLuhan, na década de 60 do século XX, já apontava que o mundo se tornaria uma imensa "aldeia global", ou seja, com o incremento da tecnologia de informação e comunicação, haveria maior, mais eficiente e mais rápida integração entre indivíduos, grupos sociais e nações. Mais recentemente, na década de 90 passada, o jornalista norte- americano Thomas Friedman lança o livro "O Mundo é Plano", em que demonstra indubitavelmente que a previsão de McLuhan se confirmara: o mundo se tornara não apenas unificado, mas ideias, criações, serviços e mercadorias eram criados ou prestados por grupos de pessoas e empresas que frequentemente não estavam num mesmo espaço físico e nem no mesmo país, e tais artigos circulavam pelo planeta com velocidade antes nunca vista e crescente. Num mundo sabidamente integrado em tempo real, a questão ética vem à tona com relevância ainda maior. 24 Sim, pois, se antes história e reputações eram criadas ou destruídas ao longo de décadas, anos, meses ou dias, na era da comunicação em que vivemos isso ocorre no curto período de horas ou minutos. O papel das mídias convencionais e virtuais aparece maximizado, pois as informações e opiniões veiculadas atingem milhões, às vezes bilhões de pessoas. Nesse contexto, o rigor na apuração das informações e a responsabilidade na veiculação da notícia aparecem como destaque para a prática ética do jornalismo e da prestação de serviços via mídia. Uma das formas de fazê-lo é quando da emissão de juízos de valor por parte de um veículo de comunicação. Tanto a posição pró ou contra sobre determinado tema poderá ser considerada ética, se ficar explícito ao ouvinte, telespectador, leitor ou internauta que aquela é a opinião daquele veículo de mídia, ou seja, é a verdade "para ele". Outra modalidade que, expressando ponto de vista, coloca o destinatário da informação à vontade para criar seu próprio entendimento é a prática da imprensa de, após artigo assinado, explicitar a expressão: "O artigo não expressa necessariamente a opinião deste periódico." Assim, a revista ou jornal mantém postura de transparência sobre a opinião do articulista (autor do artigo). 25 Em geral, os periódicos se utilizam de uma coluna denominada Editorial, cujo conteúdo expressa o pensamento daquele veículo de comunicação. Wikileaks o O site Wikileaks conseguiu, com um informante, documentos contendo conversas ocorridas no âmbito do governo norte- americano e também de outros, causando mal-estar diplomático e acusações de que o site cometera ilegalidade ao divulgá-las. o Ora, o sigilo de fonte de jornalistas é garantido, por isso o site veiculou os documentos, inclusive em parceria com grandes periódicos da Inglaterra e da Alemanha. Por outro lado, os documentos pertencem ao governo dos EUA, que os guardava sob o status de segredo de estado, com vista a garantir a segurança do país. Por isso, ele resolveu retaliar o site e seu fundador. o Quer relembrar ou saber um pouco mais sobre o caso? Clique no link abaixo. o E então, quem está sendo mais e quem está sendo menos ético? http://www1.folha.uol.com.br/especial/2010/wikileaks/ 26 Unidade 4 - Ética e lei Nesta unidade, vamos compreender as justas oposições, interseções e limites entre Ética e Lei. A lei é, geralmente, preceito de ordem moral e, portanto, costuma se modificar bastante de acordo com o povo que a cria e para a qual ela é orientada. Assim, é da natureza das leis que procurem refletir a Ética, mas elas não são a "Ética em si". Vejamos os seguintes exemplos: Há poucas décadas, era comum os pais fumarem, ansiosos, na sala de espera da maternidade, esperando o nascimento do filho. Na época, era legal e admissível; hoje, ilegal e antiético. Valor ético: Devemos preservar tanto a nossa saúde física quanto a dos outros, em especial daqueles que não podem se defender (as parturientes e os bebês da maternidade). 27 Em boa parte dos países islâmicos, em especial nos estados teocráticos, a esposa, oficial e declaradamente, é subordinada ao marido. Lá, é legal e admissível; aqui, ilegal e antiético. Valor ético: Os seres humanos não podem ser considerados superiores uns aos outros e devem ter os mesmos direitos de cidadania. Existem pessoas que, consternadas pela situação do outro, dão esmola a mendigos nas ruas e a pedintes nos semáforos; mas também existem as que se negam a dar esmolas, por considerar que este ato alimenta a preguiça, a exploração infantil e mesmo o tráfico e consumo de drogas. Para uns, a doação é legal e admissível; para outros, deveria ser ilegal e é antiética. Valor ético: Os seres humanos não podem ser abandonados à condição de fome e mendicância. Como vimos, existem situações na experiência humana que podem nos colocar em dilema: qual é a conduta ética a praticar numa ou noutra situação? 28 Unidade 5 - Ética e Estado Nesta unidade, vamos adentrar a relação entre a Ética e o Estado constituído, de maneira a compreendermos a importância desse relacionamento. Esta parte servirá também para fundamentar, na sequência, o papel da Ética na Administração Pública. O Estado é um organismo criado e mantido pela sociedade. Assim, em geral ocorre que suas leis, aperfeiçoadas e atualizadas ao longo do tempo, reflitam a preocupação ética. No caso do Brasil, temos o primeiro grande exemplo em nossa própria Constituição Federal, a lei maior do País. Observe o art. 1º de nossa Carta Magna, que estipula os fundamentos da nação-Brasil e no qual colorimos alguns trechos: TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 29 Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Note que os itens em verde têm inegável fundamentação ética. Em outras palavras, os pilares legais do Estado brasileiro são marcadamente éticos. Por favor, releia-os e lembre-se: toda a legislação brasileira deve se pautar pela Constituição, e todo o texto constitucional está, em tese, de acordo com os princípios acima. Se no plano interno há essa preocupação, a Constituição Federal também prevê que no relacionamento com os outros países o Brasil deve comportar- se de acordo com princípios éticos. Mais uma vez, colorimos os trechos que exemplificam isso: Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; 30 VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Essa preocupação se estende por toda a Constituição brasileira. Basta notarmos que há partes inteiras dedicadas à Educação, ao atendimento médico e à segurança da população. Existem também capítulos dedicados à proteção dos índios e do meio ambiente, à segurança jurídica dos cidadãos e diversos outros itens que, vistos em bloco, constituem nítida preocupação ética. Assim, o Estado reproduz, em ampla escala, o que o cidadão, as comunidades, as cidades, enfim, toda a sociedade busca: a Ética. Para você se aprofundar nas relações entre participação e representação políticas, especificamente considerando os aspectos éticos, sugerimos a leitura do texto 'Para um modelo das relações entre eticidade universalista e sociedade política democrática no Brasil', do Professor Eurico Gonzales Cursino dos Santos, disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos complementares'. 31 Fórum - Conflitos éticos: você decide PENA DE MORTE A Constituição brasileira prevê apenas um caso para a admissão da pena de morte: a guerra. “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;” Considerando sob o prisma ético, por um lado podemos dizer que o princípio embutido naquela norma é que o inimigo, numa guerra, pode causar um mal muito maior do que o de sua eliminação, e que a própria guerra é um cenário tão atípico, delicado e fora dos padrões convencionais, que isso justificaria a pena de morte para ele. Por outro lado, considerando a vida como intocável, talvez o bem maior a ser defendido pela Ética, pode-se alegar que o dispositivo constitucional torna-se incoerente: preserva a vida discutível. 32 Unidade 6 - Ética, vida e natureza Nesta unidade, abordaremos um dos mais comentados temas da atualidade, mas que constitui um debate ainda novo em termos históricos: os princípios baseados na vida e na natureza. Uma das mais recentes preocupações éticas da humanidade é a questão ambiental. Há cerca de 30, 40 anos, o ser humano pouco se importava com a emissão de poluentes, também pouquíssimo conhecimento tinha do aquecimento global, dos buracos na camada de ozônio causados por CFC (clorofluorcarbonos) e da extinção de diversas espécies terrestres, aéreas ou aquáticas. Também se considerava que recursos como a água doce e os minérios, incluindo aí os hidrocarbonetos (dentre os quais destaca-se o petróleo), eram quase infinitos e que, portanto, sua exploração poderia ocorrer de forma indiscriminada, no ritmo mais forte possível, buscando o máximo de eficiência em sua retirada. Não havia, ou eram escamoteados, dados científicos e governamentais alertando para a gravidade da situação que se aproximava. Apenas na década de 80 do século XX, os partidos verdes europeus começaram a conquistar número significativo de votos a serem respeitados, desfazendo, assim, junto à sociedade, a sua imagem de "novos hippies" ou de "um bando de vegetarianos" querendo fazer política partidária. 33 A partir daí que as questões ambientais alcançaram outro nível de debate. Os cientistas que já se dedicavam ao estudo do planeta em suas variações climáticas começaram a ser procurados pelos governos, para se manifestarem sobre os problemas ambientais. Organizações não governamentais, as ONGs, surgiram ou se fortaleceram nos mais diversos países, em todos os continentes. Também houve a internacionalização de algumas dessas instituições, como o Greenpeace e a WWF, e a criação no Brasil de importantes organizações voltadas à ecologia, como a SOS Mata Atlântica. O que há em comum entre essas ações e associações é a preocupação com a vida na face da Terra? Proteger os animais, as florestas, os mares, a qualidade da água e do ar, entre outros itens da pauta ambiental, harmoniza-se, portanto, com a questão ética maior, que é a da preservação da vida. Aqui nos deparamos com um conceito, que é um verdadeiro novo ramo de estudos: é a chamada Bioética. A Bioética surgiu para que a humanidade reflita sobre as fronteiras de sua atuação no que concerne à vida. Assim, pertencem ao campo de estudos da Bioética temas como o aborto, a eutanásia, as experiências genéticas, a pena de morte e vários outros 34 assuntos que têm a vida como centro da discussão e da decisão sobre como se deve e como não se deve agir. Vídeo Mais um pouco de Ética... Entrevistado, Mário Sérgio Cortella explora um pouco mais as questões éticas, trazendo, inclusive, uma proposta polêmica: erotizar a natureza. Clique aqui. Parabéns! Você chegou ao final do Módulo II de estudo do curso Ética e Administração Pública. Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma releitura do mesmo e responda aos Exercícios de Fixação, que o resultado não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar o seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz a correção imediata das suas respostas! Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 35 MÓDULO III - Ética na Administração Pública Após o estudo deste módulo você será capaz de, quanto à Administração Pública: o conceituá-la e reconhecer seus agentes; o conhecer os princípios que a regem; o identificar as principais instâncias de controle interno e externo; o reconhecer a questão ética implícita em cada um dos itens acima; o refletir sobre a ética no Poder Legislativo. 36 Unidade 1 - Administração Pública Nesta unidade, trataremos o conceito de administração pública e agentes públicos. Conceitos De saída é importante diferenciarmos dois conceitos que muitas vezes são confundidos: Governo e Administração Pública. Por Governo devemos entender o conjunto dos poderes e instituições públicas, considerado sobretudo pelo "comando" destes. O Governo é quem conduz os negócios públicos, estabelecendo linhas-mestras de atuação. Já a Administração Pública caracteriza-se pelas funções próprias do Estado e a prática necessária para o cumprimento dessas funções. Assim, é a Administração Pública a executora das atividades visando ao bem comum. Não cabe à Administração Pública a prática de atos de governo, mas sim de atos administrativos próprios do Estado. Ela é responsável pela execução desses atos, daí por que seus agentes devem primar pela Ética, pois estão agindo em nome de todos em prol da coletividade. Por isso é também importante conceituarmos "serviço público", nas palavras do mestre Hely Lopes Meirelles: "Serviço público é todo aquele prestado pela Administração ou por seus delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da coletividade ou simples conveniência do Estado." Quando o conceito se refere a "delegados", está tratando daqueles que, mesmo não sendo servidores públicos, recebem da Administração Pública a tarefa de agir em nome dela. 37 É comum as empresas públicas de energia elétrica ou de água e saneamento terceirizarem algumas de suas atividades, como a ligação ou religação do fornecimento. Por isso, no Distrito Federal, por exemplo, vemos veículos identificados como "A serviço da CEB" (a Companhia Energética de Brasília). Essa prática acontece em todas as unidades da Federação. Assim, também é importante que conceituemos quem são os agentes públicos, ou seja, aqueles que compõem a Administração Pública ou que para ela prestam serviços. É o que veremos a seguir. Agentes públicos Agentes públicos: servidores e empregados públicos A denominação mais abrangente para aqueles que prestam serviços em nome do Estado é a de agentes públicos, cuja característica principal é a de serem pessoas físicas prestando serviços ao Estado. Os agentes públicos, ainda, podem ser subdivididos em quatro categorias, demonstrada no quadro abaixo. Agentes administrativos: servidores públicos num sentido mais amplo. Agentes delegados: são os particulares incumbidos pelo Estado de prestarem serviços ou executar atividades; Agentes honoríficos: razoavelmente raros na Administração Pública, a eles são incumbidas atribuições por sua honorabilidade ou profundo conhecimento num dado ramo do saber (é o caso de membro de júri e mesários eleitorais); 38 Agentes políticos: aqueles em função de maior poder decisório ou do primeiro escalão (ministros, congressistas, magistrados, presidentes de estatais, entre outros). Vamos nos deter um pouco mais sobre os agentes administrativos, que compõem a grande maioria da Administração Pública brasileira. Os agentes administrativos dividem-se em: Agentes Temporários: contratados por período limitado de tempo; Empregados públicos: contratados pelo regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT); Militares: os pertencentes aos quadros das Forças Armadas; Servidores públicos: contratados pelo regime estatuário ocupam cargos públicos pertencentes à Administração direta, às autarquias ou às fundações públicas. 39 Unidade 2 - Ética e Administração Pública Nesta unidade, abordaremos os seguintes pontos: princípios da Administração Pública; práticas éticas; instâncias externas de controle (ONGs, sites e outros); e códigos de Ética. Princípios da Administração Pública Legalidade Este princípio assegura que a Administração Pública só pode agir em nome da lei e respaldada por ela. Caso esse princípio não seja obedecido, a atividade pública será ilícita e, por tanto, deverá ser punida. Impessoalidade Aqui se assegura que os atos administrativos são de responsabilidade da Administração Pública e não de um servidor público específico. Por outro lado, é também este princípio que proíbe a promoção pessoal de ocupantes de cargos públicos. Exemplo clássico era o de se batizarem viadutos e pontes com o nome do governador ou do prefeito. Atualmente, isso só pode ocorrer em homenagem a pessoas ilustres já falecidas, evitando justamente a autopromoção por meio da Administração Pública e seus recursos. 40 Moralidade Este princípio, em síntese, alerta que “nem tudo que é legal é honesto”. Há casos em que, apesar da permissão da lei, em certas circunstâncias, uma ou outra ação administrativa pode caracterizar-se como não moral ou não ética. Veja o que diz o inciso LXXIII do art. 5° de nossa Constituição: “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”. Em outros termos, é o seguinte: Imaginemos que um cidadão presencie a utilização de carros oficiais (portanto, pertencentes à Administração Pública) para fins particulares. Ele poderá coletar provas e propor ação na Justiça para cessar o ato e reparar o dano. Como está agindo em nome da cidadania (se o fizer de boa fé), não precisará custear nada na Justiça, nem mesmo se vier a perder a causa. A conclusão é de que era um cidadão interessado em preservar a moralidade da Administração Pública. Publicidade Este princípio, também mandamento constitucional, é hoje mais popularmente conhecido como transparência, termo que veio à tona, na história recente, com a derrocada ad URSS, em que se exigia a glasnost (=transparência). 41 Em suma, significa que atos administrativos, pelo seu caráter público, deve ser dada ampla divulgação, de modo que o cidadãos possam acompanhar e avaliar tais atividades. Há outro sentido para o termo, muito bem explicitado pela Constituição Federal, quando, em seu art. 5°, inciso XXXIII, afirma que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. Eficiência De todos os princípios que devem ser seguidos pela Administração Pública, este é o mais recente e já observa a modernidade exigida por qualquer instituição, pública ou privada. Ele estipula que não basta os atos públicos serem legais, impessoais, de acordo com a moral e amplamente divulgados: eles devem também buscar a eficiência, o atendimento real dos objetivos a que se propõem, sempre em nome da sociedade, da população, que os financia. O servidor público e as práticas éticas Se a Administração Pública se rege por princípios, os agentes públicos são os responsáveis por colocá-los em prática. No caso específico dos servidores públicos, estes têm normas para atuação. 42 Do mesmo modo que um trabalhador na iniciativa privada deve prestar contas de suas atividades, produção e atitudes ao seu empregador, também o servidor público deve fazê-lo. Neste caso, a Administração Pública, em seus diversos níveis e nas várias instituições de que é formada, possui uma hierarquia própria. Há deveres e direitos daqueles que nela trabalham, bem como dos usuários de seus produtos e serviços. Mas como o servidor público pode se conscientizar do que constituem os seus direitos e deveres? Em primeiro lugar, basta dar uma boa lida na Constituição Federal, particularmente no Título III (Da Organização do Estado), Capítulo VII (Da Administração Pública), Seção II (Dos Servidores Públicos) Por ser a Lei Maior do País, é recomendável que se comece por aí: nenhuma outra lei irá contrariá-la; portanto, no que ela se referir aos direitos e deveres do servidor e à amplitude e limites de sua atuação, ali certamente estarão envolvidas questões éticas e estabelecidos princípios e práticas de atuação. Em segundo lugar, o servidor público deve ter sempre por perto, para consulta, o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das autarquias, inclusive as em regime especial, e das fundações públicas federais. Em terceiro lugar, ele deve procurar saber se existe um Código de Ética próprio, de sua categoria funcional ou da própria instituição. Tais códigos 43 costumam explicitar com maior minúcia o que é ético no comportamento profissional do servidor e o que ele deve evitar, sob pena de transgressão. Então, veja que temos no Brasil três níveis básicos a serem “checados” quanto à Ética Profissional do servidor público: 1) Constituição Federal (e Constituições estaduais e Lei Orgânica do Distrito Federal); 2) Regime dos Servidores Públicos (federal, estaduais/distrital e municipais); 3) Código de Ética (se houver). Observe que esses três níveis vêm sob uma forma legal, ou seja, expressos por legislação própria, por uma norma que é a todos imposta e deve ser por todos respeitada. Deveres e proibições do servidor público na Lei nº 8.112/90 Você viu na tela anterior o link e a referência ao regime jurídico dos servidores. Muita gente conhece ou ao menos já ouviu falar da “8112”. É assim que, informalmente, servidores públicos, advogados e concurseiros se referem à Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que trata do regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais. Para não nos alongarmos muito na lei em si, que pode ser consultada na íntegra no link acima, optamos por apresentar aqui um quadro sintetizando deveres, com seus respectivos princípios, do servidor público estatutário, ou seja, daquele servidor que é regido pela Lei nº 8.112/90. 44 Repare que cada atividade traz em si, explícita ou implicitamente, um dos princípios da Administração Pública, vale dizer, um item ético. DEVERES Atividade Princípio a cumprir exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo MORALIDADE ser leal às instituições a que servir MORALIDADE observar as normas legais e regulamentares LEGALIDADE cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente ilegais LEGALIDADE atender com presteza: ao público em geral, prestando as informações requeridas, ressalvadas as protegidas por sigilo; à expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou esclarecimento de situações de interesse pessoal; às requisições para a defesa da Fazenda Pública EFICIÊNCIA levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo LEGALIDADE zelar pela economia do material e a conservação do patrimônio público ECONOMICIDADE guardar sigilo sobre assunto da repartição MORALIDADE manter conduta compatível com a moralidade administrativa MORALIDADE ser assíduo e pontual ao serviço EFICIÊNCIA tratar com urbanidade as pessoas MORALIDADE representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder LEGALIDADE Fonte: Lei nº 8.112/90 – Título IV, Capítulo I, art. 116. 45 Apresentamos um outro quadro, agora sintetizando proibições, com seus respectivos princípios, ao servidor público estatutário, ou seja, daquele servidor que é regido pela Lei nº 8.112/90. PROIBIÇÕES Atividade Princípio violado ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização do chefe imediato LEGALIDADE MORALIDADE retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer documento ou objeto da repartição LEGALIDADE MORALIDADE recusar fé a documentos públicos LEGALIDADE opor resistência injustificada ao andamento de documento e processo ou execução de serviço EFICIÊNCIA promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da repartição MORALIDADE cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabilidade ou de seu subordinado LEGALIDADE coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a associação profissional ou sindical, ou partido político IMPESSOALIDADE manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil IMPESSOALIDADE valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função pública IMPESSOALIDADE participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário LEGALIDADE MORALIDADE atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou companheiro LEGALIDADE IMPESSOALIDADE MORALIDADE 46 receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em razão de suas atribuições LEGALIDADE IMPESSOALIDADE aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro LEGALIDADE IMPESSOALIDADE MORALIDADE praticar usura sob qualquer de suas formas LEGALIDADE MORALIDADE proceder de forma desidiosa EFICIÊNCIA utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços ou atividades particulares IMPESSOALIDADE ECONOMICIDADE cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias LEGALIDADE exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho IMPESSOALIDADE recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado LEGALIDADE Fonte: Lei nº 8.112/90 – Título IV, Capítulo II, art. 117. Dicas para reafirmar a prática ética do servidor público Como é aparentemente fácil não ser ético Cobramos sempre ética do outro, mas nos esquecemos de que o primeiro lugar a implantá-la é dentro de nós mesmos. 47 Exemplo: é muito comum falarmos dos políticos em geral - são gananciosos, corruptos, não pensam na população. Mas quem de nós já não ficou tentado ao se defrontar com uma situação de “levar vantagem”? Veja abaixo: já lhe aconteceu algum desses episódios? Utilizar a carteirinha de estudante de um colega para um show caro, ou mesmo obter sem ser propriamente estudante? Comemorar um troco a mais, errado, que o caixa da padaria entregou? Constatar, feliz, que o funcionário público não nos cobrou a multa que era obrigatória num dado caso? Pagar suborno ao mau policial que nos parou na blitz? Se essas situações já lhe ocorreram e você sequer ficou tentado, parabéns! Está com o seu "eticômetro" funcionando bem e sempre. Mas muitos de nós, nesses casos, podemos ser levados a pensar: - Ora, se meu carro for apreendido, vou pagar dez vezes mais para retirá- lo do depósito. Ou: - Ora, estou deixando de levar uma multa, quando existe toda a roubalheira do dinheiro público. E na verdade essa multa nem é lá muito justa... Ou: - Ora, o caixa da padaria deve enganar vários fregueses todos os dias, fica sempre no lucro. Além do mais, que padaria careira... Ou: - Ora, por que só estudantes podem pagar meia-entrada? Eu sou professor (ou arquiteto, ou advogado, etc.) e tenho a mesma necessidade de lazer e cultura. 48 Enfim, em geral buscamos uma justificação racional para nossos atos que contrariam a moral ou a Ética. Atitudes éticas: modo de usar Portanto, como acabamos de ver, um recurso para driblar a Ética é relativizar a verdade. Mas pense bem: é pequeno o número de vezes que, se pararmos e refletirmos um pouco, teremos dúvida real sobre se uma atitude é ética ou não. Por isso, devemos sempre nos lembrar de que a Verdade é um princípio tão ético que se inscreve como pilar da religião e da filosofia. Ética é quase sinônimo de postura correta, de conduta verdadeira tanto nas menores quanto nas maiores ações. Uma das noções de Ética é consciência pessoal em relação a seus atos, à justeza deles e ao cuidado com sua repercussão sobre o outro. Mas ser ético é ser perfeito? Longe disso. Ainda cometeremos deslizes e atitudes incorretas. Porém, a diferença é que eles tenderão a ser cada vez mais excepcionais e/ou inconscientes. Vamos, então, a uma pequena lista, apenas ilustrativa, de ações éticas que podemos praticar em nosso dia a dia? Dê o crédito a seus colegas e subordinados, quando tiverem boas ideias e ações. Não se aproprie do mérito deles. Não aceite presentes cuja causa esteja em sua função, seu trabalho. 49 Seja honesto consigo mesmo e com os outros. Aja de acordo com a lei. (Para isso, consulte a legislação, de modo a assegurar-se da correção de seus atos. Lembre-se de que a ninguém é dado alegar desconhecimento da lei.) Considere os recursos públicos como se denominam: públicos, de todos e para todos. Seja ético também quando ninguém o estiver observando. Existem aqueles que são éticos no atacado, mas antiéticos no varejo, ou seja, praticam grandes e vistosos atos éticos, mas, no cotidiano, cometem uma série de "pecadilhos éticos". Durante um longo período histórico considerava-se que esse "jeitinho" para burlar a ética era um traço de caráter do brasileiro. O Brasil, contudo, tem mudado em sua cultura e nas práticas. Isso vem avançando a ponto de termos hoje indivíduos e grupos sociais, preocupados e vigilantes com as questões éticas. E esse número só cresce, com a percepção de que o agir bem traz benefícios a todos e a cada um. Por isso, agir de maneira correta deve ser um exercício diário e consciente. Repetimos: Ética equivale à conduta verdadeira tanto nas menores quanto nas maiores ações. Instituições são mais ou menos éticas de acordo com as pessoas que nelas atuam. Assim, devemos ter cuidado com expressões como “o parlamento não 50 é ético”. Estamos falando de todos os integrantes desse parlamento ou de alguns de seus representantes? O que devemos considerar é que a ética está ou não nas pessoas - mais ainda, está em suas atitudes. A preocupação ética dos membros de uma instituição reflete-se diretamente na impressão que a população em geral tem daquela instituição. As pessoas fazem a instituição e não o contrário. A decisão final é de cada um, de acordo com seus princípios e consciência individual. Isto se aplica ainda mais a instituições governamentais, em que estão em questão a forma e os objetivos para os quais são gerados os recursos públicos. Dessa forma, há duas maneiras de se encarar uma questão relativa à lei: 1) o "jeitinho", ou dura lex, sed lex ("a lei é dura mas estica", conforme a anedota); 2) dura lex, ex lex (a lei é dura mas é lei). A postura ética se coaduna apenas com a opção de número 2, porém pode nos surgir a seguinte pergunta: - Ora, e se uma lei for injusta, devo seguir a legalidade ou a justiça? 51 A questão já foi e continua a ser motivo de debate e controvérsia ao longo dos séculos. Basta lermos o clássico "Antígona" (clique aqui para baixá-lo na íntegra), monumental peça teatral de Sófocles, representada pela primeira vez em 422 a.C., e veremos que essa preocupação é bem antiga para cidadãos e governantes. A resposta, porém, hoje nos parece mais segura: caso se considere a lei injusta, siga-se ainda assim a lei. Busque-se a justiça por meio do Judiciário para reparar uma legislação danosa e busque-se a mudança dessa norma por meio do Legislativo, o responsável pela criação e também supressão das leis. Com a evolução e democratização dos processos legislativos, e ainda com a maior transparência e rapidez nos procedimentos, resultado das novas tecnologias de informação e comunicação, hoje podemos ser mais conscientes de nossas escolhas e mais ágeis em nossa atuação cidadã. Códigos de Ética Os chamados Códigos de Ética são documentos criados por instituições ou categorias profissionais específicas, para regular a atuação desses agentes. Selecionamos, abaixo, alguns dos importantes códigos brasileiros. Trata- se de uma seleção, dentre tantas outras possíveis. É interessante que você clique nos links e procure ler, no todo ou em parte, esses Códigos de Ética. Sem querer pautar sua leitura, recomendamos, apenas a título de sugestão, duas abordagens críticas: 1) procure lê-las comparativamente, notando o que possuem em comum e em que se diferenciam pela natureza específica de sua atuação; e/ou 52 2) leia-as considerando se se trata realmente de Códigos de Ética (mais universais) ou Códigos Morais (relativos a posturas de uma dada época, região ou cultura). Boa leitura! CÓDIGO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR - SENADO Este é o Código a que estão submetidos todos os parlamentares de nossa Câmara Alta, ou seja, o Senado Federal. CÓDIGO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR - CÂMARA DOS DEPUTADOS Também a Câmara dos Deputados possui seu Código de Ética. Leia-o e compare-o com o do Senado e de outras categorias de servidores públicos e profissionais. CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIDOR PÚBLICO CIVIL DO PODER EXECUTIVO FEDERAL Aplica-se ao servidor público civil do Poder Executivo, mas, pela abrangência, muitos de seus fundamentos são aplicáveis a outros níveis da Administração Pública. CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA 53 O Judiciário brasileiro possui Código de Ética próprio, com seus princípios e também os seus limites de atuação. Conheça-os. CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA De autoria do Conselho Federal de Medicina (CFM), foi atualizado e passou a vigorar, em sua nova versão, a partir de 13 de abril de 2010. Por ser um documento da área médica, que tem por missão maior a preservação da vida, vale a pena dar uma olhada. CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DOS ADVOGADOS Este é um documento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e estabelece os princípios e limites para a ação dos advogados em todo o Brasil. Neste caso, por ser uma função que visa garantir o direito das pessoas, também é um bom referencial para a análise da conduta ética. Instâncias externas de controle No setor público, atuam no controle externo alguns órgãos ou instituições específicas. Seguem alguns exemplos: Tribunal de Contas da União (TCU) Tribunais de Contas dos Estados e do DF Controladoria-Geral da República Ministério Público Federal Ouvidorias públicas 54 Nota-se que, com o surgimento e universalização da internet, o controle externo vem sendo realizado também por organizações não governamentais e mesmo grupos de cidadãos, valendo-se das informações veiculadas pelos sites da Presidência da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados, do Supremo Tribunal Federal, apenas para ficarmos na instância maior dos respectivos poderes. O Senado, por exemplo, mantém o Portal da Transparência, com informações relevantes sobre seus trabalhos, gastos, remuneração e diversos outros temas de importância para o eleitor e o cidadão. Além disso, a imprensa, num país democrático, também no papel de controle externo, no sentido de que investiga, denuncia e cobra posicionamento das autoridades contra atos lesivos ao Estado e à sociedade. Abaixo, mais alguns links para instâncias ou ações externas de controle. o Contas Abertas o Transparência Brasil o Portal da Transparência o Instituto Ethos Instâncias internas de controle. Essas unidades administrativas são comumente denominadas no serviço público de "Controle Interno". Daí por que se encontram nos organogramas das instituições públicas nomes como "Secretaria de Controle Interno", "Coordenação de Controle Interno" e seus similares. Alguns órgãos da Administração Pública, seguindo o exemplo do Governo Federal, preferem utilizar "Controladoria", termo enxuto, que mantém inalterada a significação e, por conseguinte, seu espectro de atuação. Uma instância interna de controle (ou Controle Interno, ou Controladoria) é o setor responsável por fiscalizar os atos da própria instituição. Com esse 55 objetivo, ela pode também estabelecer mecanismos educacionais ou normativos para garantir boas práticas, antecipando-se mesmo à ação fiscalizatória. Conflitos éticos: você decide FAIRPLAY OU REGRA Analise os dois casos abaixo, ilustrados pelos respectivos vídeos (se quiser, pode também debater a questão em nosso fórum temático) O jogador do Ajax, da Holanda, ao devolver gentilmente a bola ao adversário, numa atitude de fairplay (jogo limpo), sem querer marca um gol no outro time, que, parado, apenas aguardava a devolução. Veja o que segue. A atitude seguinte do Ajax provoca aplausos efusivos dos torcedores no estádio. Vídeo 1/2 Mas observe este outro lance, ocorrido aqui mesmo no Brasil. O jogador do Palmeiras a rigor não desrespeita a regra, mas, mesmo assim, provoca reclamações veementes do time adversário e vaias da torcida. Vídeo 2/2 56 Unidade 3 - Ética no Legislativo Nesta unidade, trataremos os seguintes pontos: por que uma "Ética no Legislativo"?; mitos e duras verdades; os códigos de Ética do Legislativo Federal; os conselhos de Ética; e dilemas e novos caminhos. Por que uma "Ética no Legislativo"? Após tudo o que viu neste curso, você pode estar se perguntando: Ética é algo universal. Por que, então, falar em uma "Ética no Legislativo"? Da mesma forma que analisamos a Ética do ponto de vista da mídia ou do ponto de vista sob o qual a coloca um ou outro grupo social, existem princípios específicos, que podemos também chamar de éticos, para categorias específicas de pessoas. 57 Uma dessas categorias é a da profissão. De início, é fundamental lembrarmos: o Poder Legislativo, tal como concebido no Brasil, tem uma função REPRESENTATIVA. Neste sentido, os imperativos éticos estão presentes desde o nascimento da atividade do parlamentar. Ora, como posso ser o representante de milhares ou milhões de pessoas sem considerar suas opiniões e pensamento em cada atividade rotineira que exerço? Para ficarmos apenas no Legislativo, isto vale para senador, deputados federal, estadual e distrital e também para vereador, em todo o território brasileiro. Mitos e duras verdades Apresentamos, a seguir, uma listagem das críticas comumente dirigidas aos parlamentares e servidores do Poder Legislativo, contrapondo o que é um mito (ou exagero, ou informação distorcida) ao que é uma dura verdade (erros que podem e devem ser corrigidos). Concordando ou não, apresentamos essa listagem, para que você reflita e ajude a formar seu próprio juízo de valor. Mito n° 1: Os parlamentares trabalham pouco 58 Talvez seja este o mito mais fácil de ser desfeito. Uma visita presencial ou virtual às Casas legislativas demonstra que, em geral, lá se trabalha, e muito. Isto porque o trabalho do parlamentar não se resume à presença e aos discursos inflamados em plenário, mas também, e talvez principalmente, à presença nas reuniões políticas e com os diversos setores da sociedade, nas comissões permanentes e temporárias e em eventos dos quais precisa participar em função de sua representatividade. Dura verdade n° 1: Alguns parlamentares faltam às sessões plenárias Alguns parlamentares, é fato, faltam às sessões plenárias. Porém, esse número vem progressivamente diminuindo, mesmo porque o poder do parlamentar é decorrente de sua participação efetiva; inclusive o seu próprio partido tende a cobrar sua atuação e seus votos. Mito n° 2: Os parlamentares desfrutam de inúmeros privilégios Considerando-se o alto nível de responsabilidade do representante legislativo, e também os gastos decorrentes da atividade do mandato (releia o item anterior), não se pode efetivamente falar de forma genérica em “privilégios”. Em verdade, ajustes têm sido feitos com relação ao tema, nos três níveis do Poder Legislativo, o que é salutar para o próprio desempenho do mandato eletivo. Dura verdade n° 2: Alguns parlamentares fazem malversação dos recursos do mandato 59 Sim, ainda se reportam casos de nepotismo clássico e cruzado, de “caixinha” de servidores em comissão repassada ao parlamentar ou ao partido, e aberrações similares. A legislação vem se aprimorando para coibir estas e outras transgressões, da mesma forma que a imprensa e outras instâncias de controle vêm atuando para denunciar tais fatos. Mito n° 3: Os parlamentares só legislam em causa própria ou de seus financiadores Se essa afirmação fosse verdadeira, as minorias na sociedade ainda estariam em regime de escravidão e não contariam com benefícios como o 13° salário, a licença-maternidade e outras conquistas no campo trabalhista e social. Mais uma vez, aqui a generalização não condiz com a verdade. Se determinados parlamentares, de fato, priorizam seus próprios interesses em detrimento de quem o elegeu, cabe ao eleitorado dar-lhes a lição definitiva na eleição seguinte: essa é a regra de ouro do sistema democrático. E se o parlamentar houver infringido a lei, cabe ao judiciário tomar as medidas cabíveis, sempre com a vigilância e o apoio – por que não? – da pressão popular. Dura verdade n° 3: Alguns parlamentares atuam com interesses próprios ou escusos 60 Sabe-se que essas práticas existem: há parlamentares que colocam seus próprios interesses financeiros ou projetos de poder acima das atribuições e deveres para com o mandato que lhes foi conferido pelos cidadãos. Com o cuidado de não generalizar, cabem às denúncias contra os arrivistas travestidos de parlamentares, até porque maculam a atuação correta e diuturna dos que honram seus mandatos. (Veja neste curso os diversos links para ouvidorias e instâncias de controle externo, que podem auxiliar na checagem da ética na atuação parlamentar). Mitos e duras verdades 2 Mito n° 4: Os servidores do Legislativo trabalham pouco e ganham muito De fato, se tomarmos como base o salário médio dos brasileiros, os servidores do Legislativo, do Judiciário e de determinadas carreiras do Executivo são bem remunerados. Isso não implica dizer que trabalham pouco. Mais uma vez, há que se reconhecer aqui uma injustiça, onde “os justos pagam pelos pecadores”. É frequente os servidores do Legislativo permanecerem no trabalho noite adentro e até de madrugada, notadamente nas sessões de comissões, em cotações de alto impacto social no plenário e mesmo no trabalho nos gabinetes. Infelizmente, essas particularidades não tem tanto destaque na mídia, mas um maior conhecimento da prática legislativa indicará que existem sim, e em bom número, esses verdadeiros servidores públicos. 61 Dura verdade n° 4: Alguns servidores do Legislativo não cumprem responsabilidades Num universo tão amplo de servidores, sem dúvida existem os que não cumprem a jornada de trabalho prevista e, ainda pior, não se desincumbem de suas tarefas. Esses casos têm sido tratados cada vez com maior rigor tanto pela lei quanto pelas normas internas das Casas Legislativas. Exemplos como o do Senado, com o programa PRORESULTADOS, que visa profissionalizar ainda mais os processos e fluxos de trabalho, e a retomada da capacitação dos servidores, são importantes para essa mudança de cultura. Mito n° 5: No legislativo a maioria dos servidores entra “pela janela” Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, o concurso público é o caminho legal, natural e culturalmente aceito como porta de entrada para as carreiras na Administração Pública, o que vale também para o Poder Legislativo. Dura verdade n° 5: Existem algumas exceções para contratação temporária sem concurso: Nos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), existe um número restrito de cargos em comissão a serem preenchidos sem concurso público. Também houve nos últimos anos um incremento da terceirização de algumas atribuições, o que implica contratação sem concurso. No entanto, no caso dos comissionados, estes podem ser demissíveis ad nutum (ou seja, a qualquer momento e mesmo sem justificação); e os terceirizados 62 não são propriamente servidores públicos, mas sim os prestadores de serviços não terão vínculos com a Administração pública. Os Códigos de Ética no Legislativo Federal Como estamos em um curso no âmbito legislativo, cabe agora uma pausa para que você leia o Código de Ética e Decoro Parlamentar das duas Casas Legislativas federais: o Senado e a Câmara dos Deputados. Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal Instituído pela Resolução do Senado nº 20, de 1993 Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados Instituído pela Resolução da Câmara nº 25, de 2001 Os Conselhos de Ética Senado Federal e Câmara dos Deputados mantêm Conselhos de Ética e Decoro Parlamentar para analisar casos de supostas transgressões de parlamentares federais. Esses órgãos funcionam como mecanismos internos 63 de controle à atividade parlamentar, buscando garantir as melhores práticas, conduzindo à punição de parlamentares infratores dos princípios éticos estabelecidos nos respectivos Códigos de Ética e, por via de consequência, transgressões à lei. A seguir, os links para os Conselhos. Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados Os novos caminhos do Senado
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