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Ética e Administração Pública

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Ética e Administração
Pública
SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO I – ÉTICA ................................................................................................................ 1 
Unidade 1 - Importância do estudo, histórico e conceituação .......................... 2 
Unidade 2 - Ética x Moral .............................................................................................. 13 
MÓDULO II - Ética em contexto ..................................................................................... 15 
Unidade 1 - A Ética, eu e o outro ............................................................................... 16 
Unidade 2 - Ética e sociedade ..................................................................................... 20 
Unidade 3 - Ética, imprensa e novas mídias ......................................................... 23 
Unidade 4 - Ética e lei .................................................................................................... 26 
Unidade 5 - Ética e Estado ............................................................................................ 28 
Unidade 6 - Ética, vida e natureza ............................................................................ 32 
MÓDULO III - Ética na Administração Pública........................................................... 35 
Unidade 1 - Administração Pública ............................................................................ 36 
Unidade 2 - Ética e Administração Pública ............................................................. 39 
Unidade 3 - Ética no Legislativo ................................................................................. 56 
 
 
1 
 
 
MÓDULO I – ÉTICA 
 
 
 
Ao final deste Módulo, você conhecerá um 
pouco do histórico da Ética e sua conceituação, 
e será capaz de diferenciar Ética e Moral. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
Unidade 1 - Importância do estudo, histórico e conceituação 
 
 
Nesta unidade, abordaremos os seguintes pontos: 
 
 importância do estudo da Ética; 
 as raízes da Ética; e 
 conceitos formais e informais. 
 
 
 
Importância do estudo da Ética 
Hiroshima, Japão, 
anos 40 
 
 
 
Vietnã, 
anos 
60 
 
 
África, anos 80 
 
 
 
3 
 
Brasil, ainda 
hoje 
 
 
 
 
 Você ainda tem dúvidas sobre a importância do estudo e da prática da 
Ética? 
 
 Nós também não. Portanto, prossigamos no curso. 
 
 As raízes da Ética 
 
 Por favor não estou sendo ético ao utilizar o papel A4 do órgão onde 
trabalho para imprimir as fotos da minha última festa de aniversário? 
 Por que fere a Ética dizer que é minha uma ideia nova que foi 
desenvolvida por outro servidor público que atua no meu setor? 
 E ainda: quando alguém liga e peço ao meu colega de trabalho para 
dizer que não estou: é uma atitude ética? 
 
 Como se pode perceber, as questões éticas estão até nas mais simples 
ações humanas e nas mais corriqueiras atividades profissionais. 
 Ética: nas duas últimas décadas, no Brasil, temos cada vez mais nos 
familiarizado com essa palavra, até então quase uma ilustre desconhecida, 
estudada só nas universidades, e em apenas alguns cursos. Era, com 
frequência, acompanhada de termos filosóficos, porque entendia-se que a 
Ética vinha da Filosofia, e nela, principalmente nela, deveria ser estudada. 
 
4 
 
 Por isso, costumávamos ouvir, e ainda ouvimos, que a Ética surge com os 
gregos, notadamente com a trinca Sócrates, Platão e Aristóteles, a partir do 
Século IV a.C. 
 Mas terá sido assim mesmo? 
Importância do estudo, histórico e conceituação 
 Dizer que a Ética surgiu no período áureo da antiga filosofia grega é um 
pouco simplista. 
 Na verdade, desde que o ser humano se reconheceu como racional e viu 
no outro um semelhante seu, a questão ética surgiu. A preocupação com o 
pensar e agir de modo coerente e de forma a preservar a vida está na própria 
humanidade. 
 Evitando, porém, nos alongarmos nessa discussão, lembremos que, antes 
dos gregos, havia culturas milenares, do médio e extremo orientes, 
portadoras de grande sabedoria, que já consideravam as questões éticas em 
seu relacionamento social. 
 Exemplos podemos encontrar, entre outras, nas civilizações egípcia, 
hindu, chinesa e judaica. 
 
 No antigo Egito, civilização de mais de 
6.000 anos, as atividades profissionais 
revestiam-se de caráter ético em todas as suas 
manifestações, mesmo porque eram 
intrinsecamente ligadas às crenças e ritos 
religiosos. 
 
 Os rituais da civilização egípcia, tais como a mumificação dos corpos e 
o colossal erguimento de pirâmides, demonstravam o reconhecimento da 
importância e do significado da vida como força cósmica. 
 
 
5 
 
 
 
 Os chineses, também há milênios, 
bem como os hindus, mantinham sua 
Ética baseada na cosmologia, na 
interação entre tudo o que existe e, por 
isso mesmo, na integração do indivíduo 
ao todo. 
 
 Essa visão de mundo conduz a 
profundas implicações éticas, tanto em relação à vida em sociedade quanto 
à simbiose homem-natureza. 
 
 
 
 No Ocidente, a tradição judaico-cristã, 
também de raiz oriental, foi a que mais 
influenciou nossa formação ética. 
O Antigo Testamento apresenta extenso 
repertório de leis e mandamentos (inclusive o 
Livro das Leis e os Dez Mandamentos 
registrados por Moisés). 
 
 Os ensinamentos cristãos, estes baseados 
na vida de Jesus, moldaram eticamente, em 
especial, a Europa e as Amé ricas. 
 
 
 
 Se o ser humano, muito antes do período clássico grego, já se preocupava 
com as questões éticas, cabe, então, repetir a pergunta e formular outra: 
6 
 
 Por que se atribui a Sócrates, Platão e Aristóteles o surgimento da Ética? 
E o que isso interessa à Administração Pública? 
 A primeira será respondida a seguir. Quanto à segunda pergunta, será 
abordada um pouco mais adiante, mas já é interessante refletirmos sobre as 
implicações. 
 
Fundadores da Ética 
 Considerá-los como legítimos “pais fundadores” da Ética é justificado, 
principalmente porque, pela abordagem das questões humanas sob uma 
forma radicalmente mais racional do que a de seus antecessores, eles foram 
determinantes para a separação entre Religião e Filosofia. 
 Assim, abordada já sob o ponto de vista filosófico, a Ética descola-se das 
amarras religiosas, ditadas pelos deuses de então, e é vista como decorrente 
da racionalidade do ser humano. 
 
 Sócrates é o primeiro dos três a aplicar a 
razão para chegar às questões éticas, tais como: 
existe algo que pode ser considerado Bem e o seu 
contrário, chamado de Mal? Podemos discernir no 
mundo e nas atitudes aquilo que é Justiça daquilo 
que é Injustiça? Podemos chamar de Belo aquilo 
cuja essência ética e equilíbrio nos encanta, 
comove e ilumina, e considerar Feio o inverso? 
 
 E o principal: somos capazes de, efetivamente, agir dentro dos 
princípios de Verdade, Beleza e Justiça?
A aplicação da Ética na vida foi talvez a maior contribuição daquele 
filósofo. Tanto que, injustamente julgado e condenado à morte, os amigos e 
7 
 
discípulos ofereceram-se para subornar os guardas e garantir-lhe a liberdade 
em outras terras, mas Sócrates, então, declara que não aceita, visto que 
contrariaria a Verdade. 
 Pois bem, Sócrates foi mestre de Platão, e este, professor de Aristóteles. 
Daí por que as preocupações éticas foram sendo progressivamente 
estudadas. 
Observe a imagem à esquerda. 
 Ela reproduz parte do famoso quadro 
“Escola de Atenas”, de Rafael Sanzio. 
 Na obra, vemos ao centro os filósofos 
Platão (com manto vermelho) e Aristóteles 
(manto azul). 
 Como veremos a seguir, o quadro 
apresenta algumas importantes referências que nos levam ao tema deste 
curso: a Ética. 
 
 
 Agora, veja um detalhe da cena anterior. 
 Você consegue perceber que, com a mão esquerda, Platão segura um 
livro? 
 O filósofo traz o Timeu, um dos seus famosos diálogos, cujo tema 
central é a Justiça. 
 Com a mão direita, ele aponta para cima, indicando que essa justiça, e 
portanto a Ética, pode ser encontrada em estado puro somente no mundo 
das ideias. 
8 
 
 Platão defendia que o homem alcançava 
a excelência, quando permanentemente 
buscava o belo, o nobre, o justo. 
 
 
 As implicações éticas são, portanto, 
bastante claras. 
 
 
 
 
 
 
 Em contrapartida, Aristóteles (à direita), 
com a mão esticada horizontalmente, 
representa a visão mais focada no mundo 
físico e no humano. 
 Daí por que ele - é possível ver no 
detalhe - segura um de seus escritos, a 
Ética. Ele é considerado o fundador da 
disciplina Ética como um dos ramos da 
Filosofia. 
 
 Verdade, justiça, bondade e honestidade foram temas recorrentes e 
aprofundados pelos gregos clássicos. 
 
9 
 
 Portanto, embora não sejam os primeiros a tratar de Ética, seguramente 
os três filósofos contribuíram para seu estudo, importância e aplicação à vida 
individual e em sociedade. 
 A seguir veremos como tais conceitos evoluíram. 
 
Conceitos formais e informais 
 Existem inúmeros conceitos para Ética, de acordo com abordagens mais 
ou menos acadêmicas. 
 Vamos ver alguns? 
 Existem os de tipo erudito: 
"O todo da Ética é integrado pela Deontologia [deveres] e pela Diceologia 
[direitos]." 
 
 (Paulo L. Netto lobo) 
 
 
 Outros, um tanto simples e bem humorados: 
"Por que o indivíduo seria honesto no escuro?" 
 
(Niklas Luhmann) 
 
 
 Ainda há os que vão à raiz do termo: 
"Ética é termos a coragem de sermos o que realmente somos" 
 
 (victor D. Sallis) 
 
 
 
10 
 
 
 E, claro, os dicionarizados. Examinemos os verbetes dos dois mais 
difundidos dicionários brasileiros: 
 
 
Conceito de ética, Dicionário Aurélio – Século 
XXI 
 
[Do lat. ethica < gr. ethiké.] 
 
Estudo dos juízos de apreciação referentes à 
conduta humana suscetível de qualificação do 
ponto de vista do bem e do mal, seja 
relativamente a determinada sociedade, seja 
de modo absoluto. 
 
 
 
Conceito de ética, Dicionário Houaiss 
1 parte da filosofia responsável pela 
investigação dos princípios que motivam, 
distorcem, disciplinam ou orientam o 
comportamento humano, refletindo esp. a 
respeito da essência das normas, valores, 
prescrições e exortações presentes em 
qualquer realidade social 
2 conjunto de regras e preceitos de ordem 
valorativa e moral de um indivíduo, de um 
grupo social ou de uma sociedade 
 
 
 Que tal conhecermos também a definição sob a ótica de um cientista 
político renomado? 
11 
 
 
 Para Norberto Bobbio, Ética é “a 
atribuição [subjetiva] de valor ou 
importância a pessoas, condições e 
comportamentos e, sob tal dimensão, é 
estabelecida uma noção específica de Bem 
a ser alcançado em determinadas realidades concretas, sejam as 
institucionais ou sejam as históricas”. 
 
 
Síntese dos Conceitos 
 Vamos propor uma síntese dos conceitos apresentados. 
 Simplificando, poderíamos dizer que Ética é o estudo da conduta humana, 
ou a busca da conduta humana voltada para o bem e para o correto. 
 E, mais que o estudo simplesmente, a incorporação dos valores éticos 
decorrentes desse estudo, que deverão passar a integrar a conduta do 
indivíduo e, por extensão, das sociedades. 
 Mas o conceito e a prática do bem e do correto não diferem de uma 
pessoa para outra? De uma nação para outra? De um momento histórico para 
outro? 
 Sim. Por isso, há que se estabelecer uma distinção entre Ética e Moral. 
 É o que faremos a seguir. Mas antes, leia o box abaixo. 
Diógenes de Abdera, o cínico, era um filósofo-mendigo que viveu na Grécia 
antiga por volta do século IV A.C. Diz-se que, ao invés de casa, morava 
num barril e contestava com ironia o modus vivendi e a pretensa sabedoria 
dos cidadãos atenienses, bem como a corrupção da época. 
Conta-se com uma de suas peripécias, que ele costumava sair com uma 
lanterna em pleno dia, com ar muito sério e investigativo. Aos passantes 
que lhe perguntavam o que procurava, ele respondia com gravidade: 
- Um homem honesto. Procuro por um homem honesto. 
12 
 
E seguia resoluto, olhando pelos cantos e também iluminando bem de perto 
o rosto dos cidadãos gregos. 
 
 
 
o Diógenes de Abdera, o cínico, era um 
filósofo-mendigo que viveu na Grécia 
antiga por volta do século IV A.C. Diz-
se que, ao invés de casa, morava num 
barril e contestava com ironia o 
modus vivendi e a pretensa sabedoria 
dos cidadãos atenienses, bem como a 
corrupção da época. 
o Conta-se com uma de suas 
peripécias, que ele costumava sair 
com uma lanterna em pleno dia, com 
ar muito sério e investigativo. Aos 
passantes que lhe perguntavam o que 
procurava, ele respondia com 
gravidade: 
o - Um homem honesto. Procuro por 
um homem honesto. 
o E seguia resoluto, olhando pelos 
cantos e também iluminando bem de 
perto o rosto dos cidadãos gregos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Unidade 2 - Ética x Moral 
 
 Nesta unidade, vamos estabelecer a distinção entre os dois conceitos, 
de forma a prosseguir nossos estudos com maior segurança quanto ao uso 
destas expressões. 
 
 
Diferenciando Ética e Moral 
 
 Muito se discute sobre o que difere Ética e Moral. 
 
 De certa forma, a palavra Ética tem sido usada com frequência em lugar 
de Moral, uma vez que esta última adquiriu para muitos um sentido 
pejorativo, ligado a “moralidade” e “moralismo”. 
 
 Respeitadas as opiniões divergentes, podemos estabelecer, numa síntese 
razoável e simples, as principais diferenças entre elas. 
 
 
 
Ética Moral 
Princípios Costumes 
Adquirida pela reflexão Adquirida no meio em que se vive 
Imutável Mutável 
Valores Práticas 
Imposto pelo indivíduo a si mesmo Imposta pela sociedade 
14 
 
Mais abrangente que a moral
Decorrente da ética 
Universal Cultural 
 
 
 O quadro acima demonstra que existem diferenças entre ambas, mas que 
também há interdependência. 
 
 Pode-se, por exemplo, colocar a Ética em prática pela via da Moral. 
 
 Quer um exemplo? 
 Temos toda uma legislação para prevenir e punir crimes contra a vida – 
ou seja, a legislação (de ordem moral) está reforçando e colocando em 
prática um princípio ético (a vida é o maior valor humano). 
 
 
 Parabéns! Você chegou ao final do primeiro Módulo de estudo do curso 
Ética e Administração Pública. 
 Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e responda aos Exercícios de Fixação, que o resultado 
não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar 
o seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
 
15 
 
MÓDULO II - Ética em contexto 
 
 
Ao final deste Módulo II, você será capaz de 
compreender o papel e a importância da Ética 
em relação a outros sujeitos sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
Unidade 1 - A Ética, eu e o outro 
 
 Nesta unidade, vamos tratar dos princípios éticos de um indivíduo em 
relação a si próprio e em relação a seu semelhante. 
 
 
 O que podemos compreender dos conceitos e informações apresentadas 
é que o ser humano é dotado de razão e por isso pode, sim, tomar a iniciativa 
de seus atos com vista a buscar o bom e o justo ou, por outro lado, a maldade 
e a injustiça. 
 
 Claro, estes conceitos – bom, mau, justo e injusto – não chegam a ser 
universais, diferindo de acordo com a cultura, a época, o grupo social e muitas 
outras variáveis. 
 
 Porém, há dois valores que, de fato, são universais: a vida humana e, 
decorrente desta, a importância do outro. 
 
 Este princípio, o da alteridade (alter, em latim, significa “outro”), implica 
dizer que o ser humano, por ser gregário, necessita viver em grupo, tem no 
seu semelhante um igual, com os mesmos direitos básicos que ele próprio. 
 
Existem algumas máximas populares e religiosas que ecoam essa verdade: 
 
"Não faz ao outro o que não queres que façam a ti." 
 
 "Ama ao próximo como a ti mesmo." 
 
 
17 
 
Existem também aquelas que contrariam o preceito: 
 
 
"O inferno são os outros." 
 
(Jean-Paul Sartre) 
 
 
 
 
 Para o bem ou para o mal é pelo contato com o outro e pela visão do 
outro que me reconheço como integrante dessa categoria chamada 
humanidade. 
 
 Para referendar o que acabamos de ver, o imaginário popular e a indústria 
cultural criaram personagens esplêndidos para ilustrar o que acontece com 
uma pessoa criada longe de qualquer ser humano. Alguns deles: 
 
 
 
 
18 
 
 
Rômulo e Remo: Os irmãos 
gêmeos mitológicos teriam 
sido amamentados e criados 
por uma loba e 
posteriormente sido os 
responsáveis pela fundação 
de Roma na Antiguidade. 
 
 
 
 
 
Tarzan: O filho das selvas, personagem do 
escritor Edgar Rice Burroughs, que aparece 
pela primeira vez em 1912, no livro Tarzan of 
the Apes. O garoto europeu, perdido na África 
e criado por macacos de uma espécie fictícia 
denominada mangani, protagonizou dezenas 
de livros, histórias em quadrinhos, animações 
e filmes. (Na foto, um dos muitos Tarzans do 
cinema, com sua inseparável amiga Cheetah – 
em português, Chita.) 
 
 
 
 
19 
 
 
Mogli: Criado 
originalmente pelo escritor 
indo-britânico Rudyard 
Kipling num conto 
chamado O livro da selva, 
foi imortalizado por Walt 
Disney em uma de suas 
memoráveis animações. 
Narra também a história 
de um garoto criado na 
selva, cujos melhores amigos são um urso e uma pantera, tendo por 
inimigos uma serpente e um violento tigre. 
 
 
 
Nell: No filme estrelado pela atriz Jodie 
Foster, uma garota cresce na floresta sem a 
presença de humanos, após a morte do pai. 
Não desenvolve a capacidade de 
comunicação linguística humana e sofre 
muito na tentativa de socializar-se, após ser 
retirada do isolamento selvagem. 
 
 
 
O vídeo abaixo, conduzido por Viviane Mosé, mostra-nos a condição de 
alheamento em relação ao outro, sem dúvida um dos piores males da 
sociedade moderna. (Duração: 9min25) – Clique aqui 
 
20 
 
 Unidade 2 - Ética e sociedade 
 
Nesta unidade, veremos a Ética quando aplicada não mais ao indivíduo, 
mas entre os diversos integrantes de um grupo. 
 
 
 Se a Ética está intrinsecamente ligada ao outro, então ela se aplica 
igualmente à sociedade como um todo, visto ser esta composta de muitos 
“outros” a relacionar-se com determinado indivíduo. 
 
 Dessa forma, temos que, ainda aqui, reconhecer a existência de princípios 
éticos a serem respeitados, sob pena de o grupo humano fragmentar-se sob 
ideias e atividades danosas aos indivíduos e, portanto, ao próprio grupo. 
 
 Exemplo disso pode ser encontrado na prática do trabalho escravo. Há 
pouco mais de dois séculos, ou menos ainda, era comum o trabalho de 
escravos ou o trabalho em troca de comida pura e simplesmente. Mesmo 
crianças de até cinco anos de idade eram empregadas nas fábricas inglesas, 
em plena Revolução Industrial. 
 
 Na cidade de Ouro Preto, do Ciclo do Ouro, no século XVIII, crianças 
também eram amarradas a cordas e descidas por buracos escuros, para 
trazerem de lá o minério. 
 
 Já no século XX, era frequente no Brasil a ação dos "gatos", aliciadores 
de pessoas para trabalhar em regiões pouco habitadas ou latifúndios, cujo 
salário aviltado deveria ser trocado por comida, o que acabava convertendo-
se em dívida e escravidão. 
 
21 
 
 Submeter o ser humano a condições degradantes de trabalho é hoje crime 
reconhecido em todo o planeta, embora ainda praticado em diversos países. 
 
 Porém, é fora de dúvida a razão ética primordial que condena tais atos: 
valorizar o indivíduo em sua condição humana. 
 
 Alguém, contudo, poderia afirmar: 
 
– Ora, mas então a Ética evolui? Ela se transforma ao sabor das culturas, 
povos e civilizações? No passado, o trabalho escravo e infantil era corriqueiro; 
hoje é condenado. 
 
 Tal afirmação, apesar de merecer reflexão de nossa parte, desconsidera 
que hoje ou há milênios, a vida humana era e é uma dádiva a ser preservada. 
Ocorre que o conhecimento e o processo civilizatório evoluíram, sim – a 
despeito do que dizem os pessimistas de ontem e sempre. Nesse sentido, 
seria como se a Ética mais profunda e duradoura estivesse progressivamente 
sendo "descoberta" pela humanidade, quando esta, ao olhar para trás, visse 
claramente os erros cometidos e, mediante reflexão, considerasse que 
pudesse adotar universalmente novas práticas, voltadas ao bem comum e 
em todos os tempos. 
 
 O cuidado, de novo, para não confundir Ética e Moral. 
 
 Compare o tema do trabalho escravo com o caso a seguir.
22 
 
Andar nu, em público, é considerado 
ilegal e inadmissível. 
 
Mas essa proibição não é um valor 
aplicável a várias tribos indígenas. 
 
E em Tambaba, uma praia na 
Paraíba, onde se pratica o 
naturismo, a situação pode até se 
inverter. Existe um espaço 
específico em que é proibido entrar 
com roupas. O nu é a regra. 
 
 
 O exemplo acima não nos deve confundir. Trata-se não de questão ética, 
mas sim moral. 
 
 A moral pode ser relativizada pelos costumes e frequentemente muda de 
país para país, de um momento histórico para outro. Muda mesmo, como no 
caso acima, de uma praia para outra. 
 
 Já a Ética possui alicerces bem mais firmes e se pretende mesmo válida 
para todos os indivíduos, em qualquer região e em qualquer época. 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
Unidade 3 - Ética, imprensa e novas mídias 
 
 
 Nesta unidade, vamos estabelecer a distinção entre os dois conceitos, 
de forma a prosseguir nossos estudos com maior segurança quando ao uso 
dessas expressões, bem como elencar os desafios éticos que se apresentam 
às mídias convencional e digital. 
 
 
 
 O pensador da comunicação Marshall McLuhan, na década de 60 do século 
XX, já apontava que o mundo se tornaria uma imensa "aldeia global", ou seja, 
com o incremento da tecnologia de informação e comunicação, haveria maior, 
mais eficiente e mais rápida integração entre indivíduos, grupos sociais e 
nações. 
 
 Mais recentemente, na década de 90 passada, o jornalista norte-
americano Thomas Friedman lança o livro "O Mundo é Plano", em que 
demonstra indubitavelmente que a previsão de McLuhan se confirmara: o 
mundo se tornara não apenas unificado, mas ideias, criações, serviços e 
mercadorias eram criados ou prestados por grupos de pessoas e empresas 
que frequentemente não estavam num mesmo espaço físico e nem no mesmo 
país, e tais artigos circulavam pelo planeta com velocidade antes nunca vista 
e crescente. 
 
 Num mundo sabidamente integrado em tempo real, a questão ética vem 
à tona com relevância ainda maior. 
 
24 
 
 Sim, pois, se antes história e reputações eram criadas ou destruídas ao 
longo de décadas, anos, meses ou dias, na era da comunicação em que 
vivemos isso ocorre no curto período de horas ou minutos. 
 
 O papel das mídias convencionais e virtuais aparece maximizado, pois as 
informações e opiniões veiculadas atingem milhões, às vezes bilhões de 
pessoas. 
 
 Nesse contexto, o rigor na apuração das informações e a responsabilidade 
na veiculação da notícia aparecem como destaque para a prática ética do 
jornalismo e da prestação de serviços via mídia. 
 
 Uma das formas de fazê-lo é quando da emissão de juízos de valor por 
parte de um veículo de comunicação. Tanto a posição pró ou contra sobre 
determinado tema poderá ser considerada ética, se ficar explícito ao ouvinte, 
telespectador, leitor ou internauta que aquela é a opinião daquele veículo de 
mídia, ou seja, é a verdade "para ele". 
 
 Outra modalidade que, expressando ponto de vista, coloca o destinatário 
da informação à vontade para criar seu próprio entendimento é a prática da 
imprensa de, após artigo assinado, explicitar a expressão: 
 
"O artigo não expressa necessariamente a opinião deste periódico." 
 
 Assim, a revista ou jornal mantém postura de transparência sobre a 
opinião do articulista (autor do artigo). 
 
25 
 
 Em geral, os periódicos se utilizam de uma coluna denominada Editorial, 
cujo conteúdo expressa o pensamento daquele veículo de comunicação. 
 
 
 
Wikileaks 
o O site Wikileaks conseguiu, com um informante, documentos 
contendo conversas ocorridas no âmbito do governo norte-
americano e também de outros, causando mal-estar 
diplomático e acusações de que o site cometera ilegalidade 
ao divulgá-las. 
o Ora, o sigilo de fonte de jornalistas é garantido, por isso o 
site veiculou os documentos, inclusive em parceria com 
grandes periódicos da Inglaterra e da Alemanha. Por outro 
lado, os documentos pertencem ao governo dos EUA, que os 
guardava sob o status de segredo de estado, com vista a 
garantir a segurança do país. Por isso, ele resolveu retaliar o 
site e seu fundador. 
o Quer relembrar ou saber um pouco mais sobre o caso? Clique 
no link abaixo. 
o E então, quem está sendo mais e quem está sendo menos 
ético? 
 
 
http://www1.folha.uol.com.br/especial/2010/wikileaks/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
26 
 
Unidade 4 - Ética e lei 
 
Nesta unidade, vamos compreender as justas oposições, interseções e 
limites entre Ética e Lei. 
 
 A lei é, geralmente, preceito de ordem moral e, portanto, costuma se 
modificar bastante de acordo com o povo que a cria e para a qual ela é 
orientada. Assim, é da natureza das leis que procurem refletir a Ética, mas 
elas não são a "Ética em si". 
 
 Vejamos os seguintes exemplos: 
 
 
 
Há poucas décadas, era 
comum os pais fumarem, 
ansiosos, na sala de espera 
da maternidade, esperando o 
nascimento do filho. 
Na época, era legal e 
admissível; hoje, ilegal e 
antiético. 
Valor ético: Devemos preservar tanto a nossa saúde física quanto a dos 
outros, em especial daqueles que não podem se defender (as parturientes 
e os bebês da maternidade). 
 
 
 
 
27 
 
 
 
Em boa parte dos países 
islâmicos, em especial nos 
estados teocráticos, a 
esposa, oficial e 
declaradamente, é 
subordinada ao marido. 
Lá, é legal e admissível; 
aqui, ilegal e antiético. 
Valor ético: Os seres humanos não podem ser considerados superiores uns 
aos outros e devem ter os mesmos direitos de cidadania. 
 
 
 
 Existem pessoas que, 
consternadas pela situação do outro, 
dão esmola a mendigos nas ruas e a 
pedintes nos semáforos; mas 
também existem as que se negam a 
dar esmolas, por considerar que este 
ato alimenta a preguiça, a exploração 
infantil e mesmo o tráfico e consumo 
de drogas. 
 Para uns, a doação é legal e admissível; para outros, deveria ser ilegal 
e é antiética. 
 Valor ético: Os seres humanos não podem ser abandonados à condição 
de fome e mendicância. 
 
 Como vimos, existem situações na experiência humana que podem nos 
colocar em dilema: qual é a conduta ética a praticar numa ou noutra situação? 
 
28 
 
Unidade 5 - Ética e Estado 
 
Nesta unidade, vamos adentrar a relação entre a Ética e o Estado 
constituído, de maneira a compreendermos a importância desse 
relacionamento. Esta parte servirá também para fundamentar, na 
sequência, o papel da Ética na Administração Pública. 
 
 O Estado é um organismo criado e mantido pela sociedade. Assim, em 
geral ocorre que suas leis, aperfeiçoadas e atualizadas ao longo do tempo, 
reflitam a preocupação ética. 
 No caso do Brasil, temos o primeiro grande exemplo em nossa própria 
Constituição Federal, a lei maior do País. 
 Observe o art. 1º de nossa Carta Magna, que estipula os fundamentos da 
nação-Brasil e no qual colorimos alguns trechos: 
 
 
TÍTULO I 
Dos Princípios Fundamentais 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, 
formada
pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito 
Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o 
Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 
29 
 
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do 
Brasil: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades 
sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, 
cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 
 
 Note que os itens em verde têm inegável fundamentação ética. Em outras 
palavras, os pilares legais do Estado brasileiro são marcadamente éticos. 
 
 Por favor, releia-os e lembre-se: toda a legislação brasileira deve se 
pautar pela Constituição, e todo o texto constitucional está, em tese, de 
acordo com os princípios acima. 
 
 Se no plano interno há essa preocupação, a Constituição Federal também 
prevê que no relacionamento com os outros países o Brasil deve comportar-
se de acordo com princípios éticos. Mais uma vez, colorimos os trechos que 
exemplificam isso: 
 
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações 
internacionais pelos seguintes princípios: 
I - independência nacional; 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
IV - não-intervenção; 
V - igualdade entre os Estados; 
VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
30 
 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X - concessão de asilo político. 
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração 
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando 
à formação de uma comunidade latino-americana de nações. 
 
 
 Essa preocupação se estende por toda a Constituição brasileira. Basta 
notarmos que há partes inteiras dedicadas à Educação, ao atendimento 
médico e à segurança da população. Existem também capítulos dedicados à 
proteção dos índios e do meio ambiente, à segurança jurídica dos cidadãos e 
diversos outros itens que, vistos em bloco, constituem nítida preocupação 
ética. 
 
 Assim, o Estado reproduz, em ampla escala, o que o cidadão, as 
comunidades, as cidades, enfim, toda a sociedade busca: a Ética. Para você 
se aprofundar nas relações entre participação e representação políticas, 
especificamente considerando os aspectos éticos, sugerimos a leitura do 
texto 'Para um modelo das relações entre eticidade universalista e sociedade 
política democrática no Brasil', do Professor Eurico Gonzales Cursino dos 
Santos, disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos complementares'. 
 
 
 
 
 
 
31 
 
Fórum - Conflitos éticos: você decide 
 PENA DE MORTE 
 
 A Constituição brasileira prevê 
apenas um caso para a admissão da 
pena de morte: 
a guerra. 
 “Art. 5º Todos são iguais perante a 
lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à 
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
XLVII - não haverá penas: 
 a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, 
XIX;” 
 Considerando sob o prisma ético, por um lado podemos dizer que o 
princípio embutido naquela norma é que o inimigo, numa guerra, pode 
causar um mal muito maior do que o de sua eliminação, e que a própria 
guerra é um cenário tão atípico, delicado e fora dos padrões convencionais, 
que isso justificaria a pena de morte para ele. 
 Por outro lado, considerando a vida como intocável, talvez o bem maior 
a ser defendido pela Ética, pode-se alegar que o dispositivo constitucional 
torna-se incoerente: preserva a vida discutível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
 
 
Unidade 6 - Ética, vida e natureza 
 
Nesta unidade, abordaremos um dos mais comentados temas da 
atualidade, mas que constitui um debate ainda novo em termos históricos: 
os princípios baseados na vida e na natureza. 
 
 
 
 Uma das mais recentes preocupações éticas da 
humanidade é a questão ambiental. 
 Há cerca de 30, 40 anos, o ser humano pouco 
se importava com a emissão de poluentes, também 
pouquíssimo conhecimento tinha do aquecimento 
global, dos buracos na camada de ozônio causados 
por CFC (clorofluorcarbonos) e da extinção de 
diversas espécies terrestres, aéreas ou aquáticas. 
 Também se considerava que recursos como a água doce e os minérios, 
incluindo aí os hidrocarbonetos (dentre os quais destaca-se o petróleo), eram 
quase infinitos e que, portanto, sua exploração poderia ocorrer de forma 
indiscriminada, no ritmo mais forte possível, buscando o máximo de eficiência 
em sua retirada. Não havia, ou eram escamoteados, dados científicos e 
governamentais alertando para a gravidade da situação que se aproximava. 
 
 Apenas na década de 80 do século XX, os partidos verdes europeus 
começaram a conquistar número significativo de votos a serem respeitados, 
desfazendo, assim, junto à sociedade, a sua imagem de "novos hippies" ou 
de "um bando de vegetarianos" querendo fazer política partidária. 
 
33 
 
 A partir daí que as questões ambientais alcançaram outro nível de debate. 
 
 Os cientistas que já se dedicavam ao estudo do planeta em suas variações 
climáticas começaram a ser procurados pelos governos, para se 
manifestarem sobre os problemas ambientais. 
 
 Organizações não governamentais, as ONGs, surgiram ou se fortaleceram 
nos mais diversos países, em todos os continentes. Também houve a 
internacionalização de algumas dessas instituições, como o Greenpeace e a 
WWF, e a criação no Brasil de importantes organizações voltadas à ecologia, 
como a SOS Mata Atlântica. 
 
 O que há em comum entre essas ações e associações é a preocupação 
com a vida na face da Terra? 
 
 Proteger os animais, as florestas, os mares, a qualidade da água e do ar, 
entre outros itens da pauta ambiental, harmoniza-se, portanto, com a 
questão ética maior, que é a da preservação da vida. 
 
 Aqui nos deparamos com um conceito, que é um verdadeiro novo ramo 
de estudos: é a chamada Bioética. 
 
 A Bioética surgiu para que a humanidade reflita sobre as fronteiras de sua 
atuação no que concerne à vida. 
 
 Assim, pertencem ao campo de estudos da Bioética temas como o aborto, 
a eutanásia, as experiências genéticas, a pena de morte e vários outros 
34 
 
assuntos que têm a vida como centro da discussão e da decisão sobre como 
se deve e como não se deve agir. 
 
 
Vídeo 
Mais um pouco de Ética... 
Entrevistado, Mário Sérgio Cortella explora
um pouco mais as questões 
éticas, trazendo, inclusive, uma proposta polêmica: erotizar a natureza. 
Clique aqui. 
 
 
Parabéns! Você chegou ao final do Módulo II de estudo do curso Ética e 
Administração Pública. 
 Como parte do processo de aprendizagem, sugerimos que você faça uma 
releitura do mesmo e responda aos Exercícios de Fixação, que o resultado 
não influenciará na sua nota final, mas servirá como oportunidade de avaliar 
o seu domínio do conteúdo. Lembramos ainda que a plataforma de ensino faz 
a correção imediata das suas respostas! 
 Para ter acesso aos Exercícios de Fixação, clique aqui. 
 
 
 
35 
 
MÓDULO III - Ética na Administração Pública 
 
 
 
Após o estudo deste módulo você será capaz de, 
quanto à Administração Pública: 
o conceituá-la e reconhecer seus agentes; 
o conhecer os princípios que a regem; 
o identificar as principais instâncias de 
controle interno e externo; 
o reconhecer a questão ética implícita em 
cada um dos itens acima; 
o refletir sobre a ética no Poder Legislativo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
 
Unidade 1 - Administração Pública 
 
Nesta unidade, trataremos o conceito de administração pública e agentes 
públicos. 
 
Conceitos 
 De saída é importante diferenciarmos dois conceitos que muitas vezes são 
confundidos: Governo e Administração Pública. 
 Por Governo devemos entender o conjunto dos poderes e instituições 
públicas, considerado sobretudo pelo "comando" destes. O Governo é quem 
conduz os negócios públicos, estabelecendo linhas-mestras de atuação. 
 Já a Administração Pública caracteriza-se pelas funções próprias do 
Estado e a prática necessária para o cumprimento dessas funções. Assim, é 
a Administração Pública a executora das atividades visando ao bem comum. 
 Não cabe à Administração Pública a prática de atos de governo, mas sim 
de atos administrativos próprios do Estado. Ela é responsável pela execução 
desses atos, daí por que seus agentes devem primar pela Ética, pois estão 
agindo em nome de todos em prol da coletividade. 
 Por isso é também importante conceituarmos "serviço público", nas 
palavras do mestre Hely Lopes Meirelles: 
"Serviço público é todo aquele prestado pela Administração ou por seus 
delegados, sob normas e controles estatais, para satisfazer necessidades 
essenciais ou secundárias da coletividade ou simples conveniência do 
Estado." 
 
 Quando o conceito se refere a "delegados", está tratando daqueles que, 
mesmo não sendo servidores públicos, recebem da Administração Pública a 
tarefa de agir em nome dela. 
37 
 
 
 É comum as empresas públicas de energia elétrica ou de água e 
saneamento terceirizarem algumas de suas atividades, como a ligação ou 
religação do fornecimento. Por isso, no Distrito Federal, por exemplo, vemos 
veículos identificados como "A serviço da CEB" (a Companhia Energética de 
Brasília). Essa prática acontece em todas as unidades da Federação. 
 Assim, também é importante que conceituemos quem são os agentes 
públicos, ou seja, aqueles que compõem a Administração Pública ou que para 
ela prestam serviços. É o que veremos a seguir. 
 
Agentes públicos 
Agentes públicos: servidores e empregados públicos 
 A denominação mais abrangente para aqueles que prestam serviços em 
nome do Estado é a de agentes públicos, cuja característica principal é a de 
serem pessoas físicas prestando serviços ao Estado. Os agentes públicos, 
ainda, podem ser subdivididos em quatro categorias, demonstrada no quadro 
abaixo. 
 
 
Agentes administrativos: servidores públicos num sentido mais amplo. 
 
Agentes delegados: são os particulares incumbidos pelo Estado de 
prestarem serviços ou executar atividades; 
 
Agentes honoríficos: razoavelmente raros na Administração Pública, a 
eles são incumbidas atribuições por sua honorabilidade ou profundo 
conhecimento num dado ramo do saber (é o caso de membro de júri e 
mesários eleitorais); 
 
38 
 
Agentes políticos: aqueles em função de maior poder decisório ou do 
primeiro escalão (ministros, congressistas, magistrados, presidentes de 
estatais, entre outros). 
 
 Vamos nos deter um pouco mais sobre os agentes administrativos, que 
compõem a grande maioria da Administração Pública brasileira. 
 
 Os agentes administrativos dividem-se em: 
 
Agentes Temporários: contratados por período limitado de tempo; 
Empregados públicos: contratados pelo regime da Consolidação das Leis 
do Trabalho (CLT); 
Militares: os pertencentes aos quadros das Forças Armadas; 
Servidores públicos: contratados pelo regime estatuário ocupam cargos 
públicos pertencentes à Administração direta, às autarquias ou às 
fundações públicas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
Unidade 2 - Ética e Administração Pública 
 
Nesta unidade, abordaremos os seguintes pontos: 
 princípios da Administração Pública; 
 práticas éticas; 
 instâncias externas de controle (ONGs, sites e outros); e 
 códigos de Ética. 
 
Princípios da Administração Pública 
 
 
Legalidade 
 
Este princípio assegura que a Administração Pública só pode agir em nome 
da lei e respaldada por ela. 
 
Caso esse princípio não seja obedecido, a atividade pública será ilícita e, 
por tanto, deverá ser punida. 
 
 
 
Impessoalidade 
 
Aqui se assegura que os atos administrativos são de responsabilidade da 
Administração Pública e não de um servidor público específico. 
Por outro lado, é também este princípio que proíbe a promoção pessoal de 
ocupantes de cargos públicos. Exemplo clássico era o de se batizarem 
viadutos e pontes com o nome do governador ou do prefeito. Atualmente, 
isso só pode ocorrer em homenagem a pessoas ilustres já falecidas, 
evitando justamente a autopromoção por meio da Administração Pública e 
seus recursos. 
 
40 
 
 
Moralidade 
Este princípio, em síntese, alerta que “nem tudo que é legal é honesto”. Há 
casos em que, apesar da permissão da lei, em certas circunstâncias, uma 
ou outra ação administrativa pode caracterizar-se como não moral ou não 
ética. 
Veja o que diz o inciso LXXIII do art. 5° de nossa Constituição: “qualquer 
cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato 
lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à 
moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e 
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais 
e do ônus da sucumbência”. 
Em outros termos, é o seguinte: 
Imaginemos que um cidadão presencie a utilização de carros oficiais 
(portanto, pertencentes à Administração Pública) para fins particulares. Ele 
poderá coletar provas e propor ação na Justiça para cessar o ato e reparar 
o dano. Como está agindo em nome da cidadania (se o fizer de boa fé), 
não precisará custear nada na Justiça, nem mesmo se vier a perder a causa. 
A conclusão é de que era um cidadão interessado em preservar a 
moralidade da Administração Pública. 
 
 
 
 
 
 
Publicidade 
Este princípio, também mandamento constitucional, é hoje mais 
popularmente
conhecido como transparência, termo que veio à tona, na 
história recente, com a derrocada ad URSS, em que se exigia a glasnost 
(=transparência). 
41 
 
Em suma, significa que atos administrativos, pelo seu caráter público, deve 
ser dada ampla divulgação, de modo que o cidadãos possam acompanhar 
e avaliar tais atividades. 
Há outro sentido para o termo, muito bem explicitado pela Constituição 
Federal, quando, em seu art. 5°, inciso XXXIII, afirma que “todos têm 
direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse 
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo 
da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja 
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”. 
 
 
 
Eficiência 
De todos os princípios que devem ser seguidos pela Administração Pública, 
este é o mais recente e já observa a modernidade exigida por qualquer 
instituição, pública ou privada. 
Ele estipula que não basta os atos públicos serem legais, impessoais, de 
acordo com a moral e amplamente divulgados: eles devem também buscar 
a eficiência, o atendimento real dos objetivos a que se propõem, sempre 
em nome da sociedade, da população, que os financia. 
 
 
O servidor público e as práticas éticas 
 
 Se a Administração Pública se rege por princípios, os agentes públicos são 
os responsáveis por colocá-los em prática. 
 
 No caso específico dos servidores públicos, estes têm normas para 
atuação. 
 
42 
 
 Do mesmo modo que um trabalhador na iniciativa privada deve prestar 
contas de suas atividades, produção e atitudes ao seu empregador, também 
o servidor público deve fazê-lo. 
 
 Neste caso, a Administração Pública, em seus diversos níveis e nas várias 
instituições de que é formada, possui uma hierarquia própria. Há deveres e 
direitos daqueles que nela trabalham, bem como dos usuários de seus 
produtos e serviços. 
 
 Mas como o servidor público pode se conscientizar do que constituem os 
seus direitos e deveres? 
 
 Em primeiro lugar, basta dar uma boa lida na Constituição Federal, 
particularmente no Título III (Da Organização do Estado), Capítulo VII (Da 
Administração Pública), Seção II (Dos Servidores Públicos) 
 
 Por ser a Lei Maior do País, é recomendável que se comece por aí: 
nenhuma outra lei irá contrariá-la; portanto, no que ela se referir aos direitos 
e deveres do servidor e à amplitude e limites de sua atuação, ali certamente 
estarão envolvidas questões éticas e estabelecidos princípios e práticas de 
atuação. 
 
 Em segundo lugar, o servidor público deve ter sempre por perto, para 
consulta, o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das 
autarquias, inclusive as em regime especial, e das fundações públicas 
federais. 
 
 Em terceiro lugar, ele deve procurar saber se existe um Código de Ética 
próprio, de sua categoria funcional ou da própria instituição. Tais códigos 
43 
 
costumam explicitar com maior minúcia o que é ético no comportamento 
profissional do servidor e o que ele deve evitar, sob pena de transgressão. 
 
 Então, veja que temos no Brasil três níveis básicos a serem “checados” 
quanto à Ética Profissional do servidor público: 
 1) Constituição Federal (e Constituições 
estaduais e Lei Orgânica do Distrito Federal); 
 2) Regime dos Servidores Públicos 
(federal, estaduais/distrital e municipais); 
 3) Código de Ética (se houver). 
 
 Observe que esses três níveis vêm sob uma forma legal, ou seja, 
expressos por legislação própria, por uma norma que é a todos imposta e 
deve ser por todos respeitada. 
 
Deveres e proibições do servidor público na Lei nº 8.112/90 
 Você viu na tela anterior o link e a referência ao regime jurídico dos 
servidores. Muita gente conhece ou ao menos já ouviu falar da “8112”. 
 É assim que, informalmente, servidores públicos, advogados e 
concurseiros se referem à Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que 
trata do regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias 
e das fundações públicas federais. 
 
 Para não nos alongarmos muito na lei em si, que pode ser consultada na 
íntegra no link acima, optamos por apresentar aqui um quadro sintetizando 
deveres, com seus respectivos princípios, do servidor público estatutário, ou 
seja, daquele servidor que é regido pela Lei nº 8.112/90. 
 
44 
 
 Repare que cada atividade traz em si, explícita ou implicitamente, um dos 
princípios da Administração Pública, vale dizer, um item ético. 
 
DEVERES 
Atividade Princípio a cumprir 
exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo MORALIDADE 
ser leal às instituições a que servir MORALIDADE 
observar as normas legais e regulamentares LEGALIDADE 
cumprir as ordens superiores, exceto quando 
manifestamente ilegais 
LEGALIDADE 
atender com presteza: ao público em geral, prestando as 
informações requeridas, ressalvadas as protegidas por 
sigilo; à expedição de certidões requeridas para defesa de 
direito ou esclarecimento de situações de interesse 
pessoal; às requisições para a defesa da Fazenda Pública 
EFICIÊNCIA 
levar ao conhecimento da autoridade superior as 
irregularidades de que tiver ciência em razão do cargo 
LEGALIDADE 
zelar pela economia do material e a conservação do 
patrimônio público 
ECONOMICIDADE 
guardar sigilo sobre assunto da repartição MORALIDADE 
manter conduta compatível com a moralidade 
administrativa 
MORALIDADE 
ser assíduo e pontual ao serviço EFICIÊNCIA 
tratar com urbanidade as pessoas MORALIDADE 
representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de 
poder 
LEGALIDADE 
 
 
Fonte: Lei nº 8.112/90 – Título IV, Capítulo I, art. 116. 
45 
 
 Apresentamos um outro quadro, agora sintetizando proibições, com seus 
respectivos princípios, ao servidor público estatutário, ou seja, daquele 
servidor que é regido pela Lei nº 8.112/90. 
 
PROIBIÇÕES 
Atividade Princípio violado 
ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia 
autorização do chefe imediato 
LEGALIDADE 
MORALIDADE 
retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, 
qualquer documento ou objeto da repartição 
LEGALIDADE 
MORALIDADE 
recusar fé a documentos públicos LEGALIDADE 
opor resistência injustificada ao andamento de documento 
e processo ou execução de serviço 
EFICIÊNCIA 
promover manifestação de apreço ou desapreço no 
recinto da repartição 
MORALIDADE 
cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos 
previstos em lei, o desempenho de atribuição que seja de 
sua responsabilidade ou de seu subordinado 
LEGALIDADE 
coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a 
associação profissional ou sindical, ou partido político 
IMPESSOALIDADE 
manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de 
confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o 
segundo grau civil 
IMPESSOALIDADE 
valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de 
outrem, em detrimento da dignidade da função pública 
IMPESSOALIDADE 
participar de gerência ou administração de sociedade 
privada, personificada ou não personificada, exercer o 
comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou 
comanditário 
LEGALIDADE 
MORALIDADE 
atuar, como procurador ou intermediário,
junto a 
repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios 
previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo 
grau, e de cônjuge ou companheiro 
LEGALIDADE 
IMPESSOALIDADE 
MORALIDADE 
46 
 
receber propina, comissão, presente ou vantagem de 
qualquer espécie, em razão de suas atribuições 
LEGALIDADE 
IMPESSOALIDADE 
aceitar comissão, emprego ou pensão de estado 
estrangeiro 
LEGALIDADE 
IMPESSOALIDADE 
MORALIDADE 
praticar usura sob qualquer de suas formas 
LEGALIDADE 
 
MORALIDADE 
proceder de forma desidiosa EFICIÊNCIA 
utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em 
serviços ou atividades particulares 
IMPESSOALIDADE 
ECONOMICIDADE 
cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo 
que ocupa, exceto em situações de emergência e 
transitórias 
LEGALIDADE 
exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis 
com o exercício do cargo ou função e com o horário de 
trabalho 
IMPESSOALIDADE 
recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando 
solicitado 
LEGALIDADE 
 
Fonte: Lei nº 8.112/90 – Título IV, Capítulo II, art. 117. 
 
 
 
 
 
Dicas para reafirmar a prática ética do servidor público 
Como é aparentemente fácil não ser ético 
 Cobramos sempre ética do outro, mas nos esquecemos de que o primeiro 
lugar a implantá-la é dentro de nós mesmos. 
47 
 
 Exemplo: é muito comum falarmos dos políticos em geral - são 
gananciosos, corruptos, não pensam na população. Mas quem de nós já não 
ficou tentado ao se defrontar com uma situação de “levar vantagem”? 
 Veja abaixo: já lhe aconteceu algum desses episódios? 
 
Utilizar a carteirinha de estudante de um colega para um show caro, ou 
mesmo obter sem ser propriamente estudante? 
Comemorar um troco a mais, errado, que o caixa da padaria entregou? 
Constatar, feliz, que o funcionário público não nos cobrou a multa que era 
obrigatória num dado caso? 
Pagar suborno ao mau policial que nos parou na blitz? 
 
 Se essas situações já lhe ocorreram e você sequer ficou tentado, 
parabéns! Está com o seu "eticômetro" funcionando bem e sempre. Mas 
muitos de nós, nesses casos, podemos ser levados a pensar: 
 
 
- Ora, se meu carro for apreendido, vou pagar dez vezes mais para retirá-
lo do depósito. 
 
Ou: - Ora, estou deixando de levar uma multa, quando existe toda a 
roubalheira do dinheiro público. E na verdade essa multa nem é lá muito 
justa... 
 
Ou: - Ora, o caixa da padaria deve enganar vários fregueses todos os dias, 
fica sempre no lucro. Além do mais, que padaria careira... 
Ou: - Ora, por que só estudantes podem pagar meia-entrada? Eu sou 
professor (ou arquiteto, ou advogado, etc.) e tenho a mesma necessidade 
de lazer e cultura. 
 
 
48 
 
Enfim, em geral buscamos uma justificação racional para nossos atos que 
contrariam a moral ou a Ética. 
 
Atitudes éticas: modo de usar 
 Portanto, como acabamos de ver, um recurso para driblar a Ética é 
relativizar a verdade. Mas pense bem: é pequeno o número de vezes que, se 
pararmos e refletirmos um pouco, teremos dúvida real sobre se uma atitude 
é ética ou não. Por isso, devemos sempre nos lembrar de que a Verdade é 
um princípio tão ético que se inscreve como pilar da religião e da filosofia. 
 
 Ética é quase sinônimo de postura correta, de conduta verdadeira tanto 
nas menores quanto nas maiores ações. Uma das noções de Ética é 
consciência pessoal em relação a seus atos, à justeza deles e ao cuidado com 
sua repercussão sobre o outro. 
 
 Mas ser ético é ser perfeito? Longe disso. Ainda cometeremos deslizes e 
atitudes incorretas. Porém, a diferença é que eles tenderão a ser cada vez 
mais excepcionais e/ou inconscientes. 
 
Vamos, então, a uma pequena lista, apenas ilustrativa, de ações éticas que 
podemos praticar em nosso dia a dia? 
 
 
 Dê o crédito a seus colegas e subordinados, quando tiverem boas ideias 
e ações. Não se aproprie do mérito deles. 
 
Não aceite presentes cuja causa esteja em sua função, seu trabalho. 
 
49 
 
Seja honesto consigo mesmo e com os outros. 
 
Aja de acordo com a lei. 
 
(Para isso, consulte a legislação, de modo a assegurar-se da correção de 
seus atos. Lembre-se de que a ninguém é dado alegar desconhecimento da 
lei.) 
 
Considere os recursos públicos como se denominam: públicos, de todos e 
para todos. 
 
Seja ético também quando ninguém o estiver observando. 
 
 
 
 Existem aqueles que são éticos no atacado, mas antiéticos no varejo, ou 
seja, praticam grandes e vistosos atos éticos, mas, no cotidiano, cometem 
uma série de "pecadilhos éticos". Durante um longo período histórico 
considerava-se que esse "jeitinho" para burlar a ética era um traço de caráter 
do brasileiro. 
 O Brasil, contudo, tem mudado em sua cultura e nas práticas. Isso vem 
avançando a ponto de termos hoje indivíduos e grupos sociais, preocupados 
e vigilantes com as questões éticas. E esse número só cresce, com a 
percepção de que o agir bem traz benefícios a todos e a cada um. Por isso, 
agir de maneira correta deve ser um exercício diário e consciente. 
 Repetimos: Ética equivale à conduta verdadeira tanto nas menores 
quanto nas maiores ações. 
 
 
 Instituições são mais ou menos éticas de acordo com as pessoas que nelas 
atuam. Assim, devemos ter cuidado com expressões como “o parlamento não 
50 
 
é ético”. Estamos falando de todos os integrantes desse parlamento ou de 
alguns de seus representantes? O que devemos considerar é que a ética está 
ou não nas pessoas - mais ainda, está em suas atitudes. 
 
 A preocupação ética dos membros de uma instituição reflete-se 
diretamente na impressão que a população em geral tem daquela instituição. 
As pessoas fazem a instituição e não o contrário. A decisão final é de cada 
um, de acordo com seus princípios e consciência individual. 
 
 Isto se aplica ainda mais a instituições governamentais, em que estão em 
questão a forma e os objetivos para os quais são gerados os recursos 
públicos. 
 
 Dessa forma, há duas maneiras de se encarar uma questão relativa à lei: 
 
 1) o "jeitinho", ou dura lex, sed lex ("a lei é dura mas estica", conforme 
a anedota); 
 
 2) dura lex, ex lex (a lei é dura mas é lei). 
 
 
 A postura ética se coaduna apenas com a opção de número 2, porém pode 
nos surgir a seguinte pergunta: 
 
 - Ora, e se uma lei for injusta, devo seguir a legalidade ou a justiça? 
 
51 
 
 A questão já foi e continua a ser motivo de debate e controvérsia ao longo 
dos séculos. Basta lermos o clássico "Antígona" (clique aqui para baixá-lo na 
íntegra), monumental peça teatral de Sófocles, representada pela primeira 
vez em 422 a.C., e veremos que essa preocupação é bem antiga para 
cidadãos e governantes. 
 
 A resposta, porém, hoje nos parece mais segura: caso se considere a lei 
injusta, siga-se ainda assim a lei. Busque-se a justiça por meio do Judiciário 
para reparar uma legislação danosa e busque-se a mudança dessa norma por 
meio do Legislativo, o responsável pela criação e também supressão das leis. 
 
 Com a evolução e democratização dos processos legislativos, e ainda com
a maior transparência e rapidez nos procedimentos, resultado das novas 
tecnologias de informação e comunicação, hoje podemos ser mais 
conscientes de nossas escolhas e mais ágeis em nossa atuação cidadã. 
 
Códigos de Ética 
 Os chamados Códigos de Ética são documentos criados por instituições ou 
categorias profissionais específicas, para regular a atuação desses agentes. 
 Selecionamos, abaixo, alguns dos importantes códigos brasileiros. Trata-
se de uma seleção, dentre tantas outras possíveis. 
 É interessante que você clique nos links e procure ler, no todo ou em 
parte, esses Códigos de Ética. 
 Sem querer pautar sua leitura, recomendamos, apenas a título de 
sugestão, duas abordagens críticas: 
 1) procure lê-las comparativamente, notando o que possuem em comum 
e em que se diferenciam pela natureza específica de sua atuação; e/ou 
 
52 
 
 2) leia-as considerando se se trata realmente de Códigos de Ética (mais 
universais) ou Códigos Morais (relativos a posturas de uma dada época, 
região ou cultura). 
 
Boa leitura! 
 
CÓDIGO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR - SENADO 
 
Este é o Código a que estão submetidos todos os parlamentares de nossa 
Câmara Alta, ou seja, o Senado Federal. 
 
 
 
 
CÓDIGO DE ÉTICA E DECORO PARLAMENTAR - CÂMARA DOS 
DEPUTADOS 
Também a Câmara dos Deputados possui seu Código de Ética. Leia-o e 
compare-o com o do Senado e de outras categorias de servidores públicos 
e profissionais. 
 
CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO SERVIDOR PÚBLICO CIVIL DO 
PODER EXECUTIVO FEDERAL 
 
Aplica-se ao servidor público civil do Poder Executivo, mas, pela 
abrangência, muitos de seus fundamentos são aplicáveis a outros níveis da 
Administração Pública. 
 
 
CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA 
53 
 
O Judiciário brasileiro possui Código de Ética próprio, com seus princípios e 
também os seus limites de atuação. Conheça-os. 
 
 
CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA 
 
De autoria do Conselho Federal de Medicina (CFM), foi atualizado e passou 
a vigorar, em sua nova versão, a partir de 13 de abril de 2010. 
 
Por ser um documento da área médica, que tem por missão maior a 
preservação da vida, vale a pena dar uma olhada. 
 
CÓDIGO DE ÉTICA E DISCIPLINA DOS ADVOGADOS 
 
Este é um documento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e 
estabelece os princípios e limites para a ação dos advogados em todo o 
Brasil. 
 
Neste caso, por ser uma função que visa garantir o direito das pessoas, 
também é um bom referencial para a análise da conduta ética. 
 
 
Instâncias externas de controle 
 No setor público, atuam no controle externo alguns órgãos ou instituições 
específicas. Seguem alguns exemplos: 
 Tribunal de Contas da União (TCU) 
 Tribunais de Contas dos Estados e do DF 
 Controladoria-Geral da República 
 Ministério Público Federal 
 Ouvidorias públicas 
 
54 
 
 Nota-se que, com o surgimento e universalização da internet, o controle 
externo vem sendo realizado também por organizações não governamentais 
e mesmo grupos de cidadãos, valendo-se das informações veiculadas pelos 
sites da Presidência da República, do Senado Federal, da Câmara dos 
Deputados, do Supremo Tribunal Federal, apenas para ficarmos na instância 
maior dos respectivos poderes. 
 O Senado, por exemplo, mantém o Portal da Transparência, com 
informações relevantes sobre seus trabalhos, gastos, remuneração e diversos 
outros temas de importância para o eleitor e o cidadão. 
 Além disso, a imprensa, num país democrático, também no papel de 
controle externo, no sentido de que investiga, denuncia e cobra 
posicionamento das autoridades contra atos lesivos ao Estado e à sociedade. 
 Abaixo, mais alguns links para instâncias ou ações externas de controle. 
o Contas Abertas 
o Transparência Brasil 
o Portal da Transparência 
o Instituto Ethos 
 
Instâncias internas de controle. 
 
 Essas unidades administrativas são comumente denominadas no serviço 
público de "Controle Interno". Daí por que se encontram nos organogramas 
das instituições públicas nomes como "Secretaria de Controle Interno", 
"Coordenação de Controle Interno" e seus similares. 
 
 Alguns órgãos da Administração Pública, seguindo o exemplo do Governo 
Federal, preferem utilizar "Controladoria", termo enxuto, que mantém 
inalterada a significação e, por conseguinte, seu espectro de atuação. 
 
 Uma instância interna de controle (ou Controle Interno, ou Controladoria) 
é o setor responsável por fiscalizar os atos da própria instituição. Com esse 
55 
 
objetivo, ela pode também estabelecer mecanismos educacionais ou 
normativos para garantir boas práticas, antecipando-se mesmo à ação 
fiscalizatória. 
 
 Conflitos éticos: você decide 
 
FAIRPLAY OU REGRA 
 
Analise os dois casos abaixo, ilustrados pelos respectivos vídeos 
(se quiser, pode também debater a questão em nosso fórum temático) 
 
 
O jogador do Ajax, da Holanda, ao devolver gentilmente a bola ao 
adversário, numa atitude de fairplay (jogo limpo), sem querer marca um 
gol no outro time, que, parado, apenas aguardava a devolução. 
Veja o que segue. A atitude seguinte do Ajax provoca aplausos efusivos dos 
torcedores no estádio. 
 
 
Vídeo 1/2 
 
 
Mas observe este outro lance, ocorrido aqui mesmo no Brasil. O jogador do 
Palmeiras a rigor não desrespeita a regra, mas, mesmo assim, provoca 
reclamações veementes do time adversário e vaias da torcida. 
 
 
Vídeo 2/2 
 
 
56 
 
Unidade 3 - Ética no Legislativo 
 
Nesta unidade, trataremos os seguintes pontos: 
 
 por que uma "Ética no Legislativo"?; 
 mitos e duras verdades; 
 os códigos de Ética do Legislativo Federal; 
 os conselhos de Ética; e 
 dilemas e novos caminhos. 
 
 
 
Por que uma "Ética no Legislativo"? 
 
 Após tudo o que viu neste curso, você pode estar se perguntando: 
 
 
 
 
Ética é algo universal. Por que, então, falar em uma "Ética no Legislativo"? 
 
 
 
 
 Da mesma forma que analisamos a Ética do ponto de vista da mídia ou 
do ponto de vista sob o qual a coloca um ou outro grupo social, existem 
princípios específicos, que podemos também chamar de éticos, para 
categorias específicas de pessoas. 
57 
 
 
Uma dessas categorias é a da profissão. 
 
 De início, é fundamental lembrarmos: o Poder Legislativo, tal como 
concebido no Brasil, tem uma função REPRESENTATIVA. 
 
 Neste sentido, os imperativos éticos estão presentes desde o nascimento 
da atividade do parlamentar. Ora, como posso ser o representante de 
milhares ou milhões de pessoas sem considerar suas opiniões e pensamento 
em cada atividade rotineira que exerço? 
 
 Para ficarmos apenas no Legislativo, isto vale para senador, deputados 
federal, estadual e distrital e também para vereador, em todo o território 
brasileiro. 
 
Mitos e duras verdades 
 
 Apresentamos, a seguir, uma listagem das críticas comumente dirigidas 
aos parlamentares e servidores do Poder Legislativo, contrapondo o que é um 
mito (ou exagero, ou informação distorcida) ao que é uma dura verdade
(erros que podem e devem ser corrigidos). 
 
 Concordando ou não, apresentamos essa listagem, para que você reflita 
e ajude a formar seu próprio juízo de valor. 
 
Mito n° 1: Os parlamentares trabalham pouco 
 
58 
 
Talvez seja este o mito mais fácil de ser desfeito. Uma visita presencial ou 
virtual às Casas legislativas demonstra que, em geral, lá se trabalha, e 
muito. Isto porque o trabalho do parlamentar não se resume à presença e 
aos discursos inflamados em plenário, mas também, e talvez 
principalmente, à presença nas reuniões políticas e com os diversos setores 
da sociedade, nas comissões permanentes e temporárias e em eventos dos 
quais precisa participar em função de sua representatividade. 
 
Dura verdade n° 1: Alguns parlamentares faltam às sessões plenárias 
 
Alguns parlamentares, é fato, faltam às sessões plenárias. Porém, esse 
número vem progressivamente diminuindo, mesmo porque o poder do 
parlamentar é decorrente de sua participação efetiva; inclusive o seu 
próprio partido tende a cobrar sua atuação e seus votos. 
 
 
 
 
 
 
Mito n° 2: Os parlamentares desfrutam de inúmeros privilégios 
 
Considerando-se o alto nível de responsabilidade do representante 
legislativo, e também os gastos decorrentes da atividade do mandato 
(releia o item anterior), não se pode efetivamente falar de forma genérica 
em “privilégios”. Em verdade, ajustes têm sido feitos com relação ao tema, 
nos três níveis do Poder Legislativo, o que é salutar para o próprio 
desempenho do mandato eletivo. 
 
Dura verdade n° 2: Alguns parlamentares fazem malversação dos recursos 
do mandato 
 
59 
 
Sim, ainda se reportam casos de nepotismo clássico e cruzado, de 
“caixinha” de servidores em comissão repassada ao parlamentar ou ao 
partido, e aberrações similares. A legislação vem se aprimorando para 
coibir estas e outras transgressões, da mesma forma que a imprensa e 
outras instâncias de controle vêm atuando para denunciar tais fatos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mito n° 3: Os parlamentares só legislam em causa própria ou de seus 
financiadores 
 
Se essa afirmação fosse verdadeira, as minorias na sociedade ainda 
estariam em regime de escravidão e não contariam com benefícios como o 
13° salário, a licença-maternidade e outras conquistas no campo 
trabalhista e social. Mais uma vez, aqui a generalização não condiz com a 
verdade. Se determinados parlamentares, de fato, priorizam seus próprios 
interesses em detrimento de quem o elegeu, cabe ao eleitorado dar-lhes a 
lição definitiva na eleição seguinte: essa é a regra de ouro do sistema 
democrático. E se o parlamentar houver infringido a lei, cabe ao judiciário 
tomar as medidas cabíveis, sempre com a vigilância e o apoio – por que 
não? – da pressão popular. 
 
Dura verdade n° 3: Alguns parlamentares atuam com interesses próprios 
ou escusos 
60 
 
 
Sabe-se que essas práticas existem: há parlamentares que colocam seus 
próprios interesses financeiros ou projetos de poder acima das atribuições 
e deveres para com o mandato que lhes foi conferido pelos cidadãos. Com 
o cuidado de não generalizar, cabem às denúncias contra os arrivistas 
travestidos de parlamentares, até porque maculam a atuação correta e 
diuturna dos que honram seus mandatos. (Veja neste curso os diversos 
links para ouvidorias e instâncias de controle externo, que podem auxiliar 
na checagem da ética na atuação parlamentar). 
 
 
 
 
 
Mitos e duras verdades 2 
 
 
Mito n° 4: Os servidores do Legislativo trabalham pouco e ganham muito 
 
De fato, se tomarmos como base o salário médio dos brasileiros, os 
servidores do Legislativo, do Judiciário e de determinadas carreiras do 
Executivo são bem remunerados. Isso não implica dizer que trabalham 
pouco. Mais uma vez, há que se reconhecer aqui uma injustiça, onde “os 
justos pagam pelos pecadores”. É frequente os servidores do Legislativo 
permanecerem no trabalho noite adentro e até de madrugada, 
notadamente nas sessões de comissões, em cotações de alto impacto social 
no plenário e mesmo no trabalho nos gabinetes. Infelizmente, essas 
particularidades não tem tanto destaque na mídia, mas um maior 
conhecimento da prática legislativa indicará que existem sim, e em bom 
número, esses verdadeiros servidores públicos. 
 
61 
 
Dura verdade n° 4: Alguns servidores do Legislativo não cumprem 
responsabilidades 
 
Num universo tão amplo de servidores, sem dúvida existem os que não 
cumprem a jornada de trabalho prevista e, ainda pior, não se desincumbem 
de suas tarefas. Esses casos têm sido tratados cada vez com maior rigor 
tanto pela lei quanto pelas normas internas das Casas Legislativas. 
Exemplos como o do Senado, com o programa PRORESULTADOS, que visa 
profissionalizar ainda mais os processos e fluxos de trabalho, e a retomada 
da capacitação dos servidores, são importantes para essa mudança de 
cultura. 
 
 
 
 
 
Mito n° 5: No legislativo a maioria dos servidores entra “pela janela” 
 
Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, o concurso público 
é o caminho legal, natural e culturalmente aceito como porta de entrada 
para as carreiras na Administração Pública, o que vale também para o Poder 
Legislativo. 
 
Dura verdade n° 5: Existem algumas exceções para contratação temporária 
sem concurso: 
 
Nos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), existe um número 
restrito de cargos em comissão a serem preenchidos sem concurso público. 
Também houve nos últimos anos um incremento da terceirização de 
algumas atribuições, o que implica contratação sem concurso. No entanto, 
no caso dos comissionados, estes podem ser demissíveis ad nutum (ou 
seja, a qualquer momento e mesmo sem justificação); e os terceirizados 
62 
 
não são propriamente servidores públicos, mas sim os prestadores de 
serviços não terão vínculos com a Administração pública. 
 
 
 
Os Códigos de Ética no Legislativo Federal 
 
 Como estamos em um curso no âmbito legislativo, cabe agora uma pausa 
para que você leia o Código de Ética e Decoro Parlamentar das duas Casas 
Legislativas federais: o Senado e a Câmara dos Deputados. 
 
 Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal 
 Instituído pela Resolução do Senado nº 20, de 1993 
 
 
 
 Código de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados 
 
 Instituído pela Resolução da Câmara nº 25, de 2001 
 
 
 
 
Os Conselhos de Ética 
 
 Senado Federal e Câmara dos Deputados mantêm Conselhos de Ética e 
Decoro Parlamentar para analisar casos de supostas transgressões de 
parlamentares federais. Esses órgãos funcionam como mecanismos internos 
63 
 
de controle à atividade parlamentar, buscando garantir as melhores práticas, 
conduzindo à punição de parlamentares infratores dos princípios éticos 
estabelecidos nos respectivos Códigos de Ética e, por via de consequência, 
transgressões à lei. 
 
 A seguir, os links para os Conselhos. 
 
Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal 
 
 
 
Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados 
 
 
 
Os novos caminhos do Senado

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