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Pró-reitoria de EaD e CCDD 1 Gestão da Sustentabilidade Aula 06 Prof. Dr. Rodrigo Silva Pró-reitoria de EaD e CCDD 2 Conversa inicial A Sustentabilidade é baseada em um princípio simples: tudo o que precisamos para a nossa sobrevivência e bem-estar depende, direta ou indiretamente, do nosso ambiente natural – do meio ambiente. Para buscar a sustentabilidade, é necessário criar e manter as condições para que os seres humanos e a natureza possam existir em harmonia produtiva para apoiar as gerações presentes e futuras. Em nossa aula de hoje, estudaremos sobre a sustentabilidade como uma ferramenta competitiva de mercado, assim como outras estratégias relacionadas a ela e que são (ou serão) empregadas pelas organizações que desejam ser competitivas em seus negócios. Contextualizando Ouvimos a palavra “sustentável” ou "sustentabilidade" quase todos os dias. Mas, o que isso significa, exatamente? É sobre pessoas e cultura, o nosso ambiente, ou empregos e dinheiro? É sobre cidades ou sobre o país? É sobre você e eu, ou é algo para outras pessoas se preocuparem? A sustentabilidade é sobre todas essas coisas, além de outras. A palavra sustentabilidade passou a fazer parte do nosso vocabulário cotidiano a partir de 1987, com a publicação do documento O Nosso Futuro Comum, elaborado pela Comissão Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (também conhecida como Comissão Brundtland). Esse relatório definiu desenvolvimento sustentável como "o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”. Pró-reitoria de EaD e CCDD 3 Mas, note que esta definição não aborda, em nenhum momento, questões relacionadas ao meio ambiente. Inicialmente, a ideia de sustentabilidade era relacionada à seguinte questão: como os países pobres chegariam (ou poderiam chegar) aos padrões de vida dos países ricos? Essa meta significava dar aos países desfavorecidos melhor acesso aos recursos naturais, incluindo água, energia e alimentos, os quais vêm de uma forma ou de outra, a partir do meio ambiente. Por isso, a forte relação entre os dois: meio ambiente e sustentabilidade. Na esfera corporativa, podemos definir sustentabilidade como um conjunto de políticas e estratégias utilizadas pelas empresas para minimizar o seu impacto ambiental sobre as gerações futuras. Atualmente, as empresas que não empregam estratégias voltadas para a sustentabilidade em seus processos de gestão estão fadadas a sair do mercado. Problematizando Veja esta notícia vinculada ao site do Sebrae: “O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de produção de calçados e possui mercado interno respeitável e alvo de interesse de indústrias calçadistas estrangeiras. Em 2010, foram fabricados 693 milhões de pares de calçados no país, que movimentaram 12,3 bilhões de dólares, segundo dados da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados). 780 milhões de pares foram consumidos pelo mercado interno, significando consumo médio per capta de 4,1 calçados/pessoa. Os índices de produção e consumo per capta apontam crescimento de 13,1%, entre 2008 e 2010. Existem mais de 8 mil empresas calçadistas espalhadas no país, sendo que a maioria está localizada nas regiões sul e sudeste. Pró-reitoria de EaD e CCDD 4 Nesse contexto, a busca por diferencial competitivo é enorme e os calçados ecológicos representam possibilidade de se destacar e agradar consumidores ligados à causa da sustentabilidade, como também o mundo da moda, sempre atento às novidades comportamentais e criativas. Calçados não são apenas peças de proteção para os pés, mas objetos do desejo de mulheres, homens, jovens e crianças. Hoje em dia, eles revelam o perfil ideológico das pessoas.” Após a leitura da notícia, você, que possui uma pequena fábrica de calçados, decide investir na fabricação de calçados ecológicos com estratégias voltadas à sustentabilidade. Para isso, decide (re)elaborar seu plano de negócios. Dentre as estratégias competitivas para ingressar com pé direito no mercado, por qual você e a diretoria da sua empresa devem investir? a) Investir em inovação, ecodesign e processos de produção mais limpa (P+L). b) Investir em mão de obra barata e em uma nova localização para instalar as novas máquinas. c) Investir na compra de matérias-primas mais baratas, e trazer novos funcionários de outras filiais e treiná-los para exercer as novas funções. d) Diversificar os locais de venda dos produtos que serão fabricados e baixar os preços. Comentário sobre as opções As estratégias de gestão e negócios voltados à sustentabilidade devem ser direcionadas à inovação. Duas estratégias de inovação discutidas em aulas anteriores são o ecodesign e a produção mais limpa, o que configura a resposta correta. O investimento em mão de obra barata e uma localização para uma nova fábrica não são estratégias de sustentabilidade. O primeiro porque configura Pró-reitoria de EaD e CCDD 5 uma exploração do trabalho, e o segundo porque seria mais um local para emissão e produção de resíduos. Matérias primas baratas podem implicar em produtos de baixa qualidade, atingindo negativamente os clientes. Ainda, a contratação de mais mão de obra não é a melhor opção, que tal treinar e capacitar a mão de obra já existente? Ou ainda, apostar na mão de obra local? A diversificação de locais de venda e baixar os preços não podem ser consideradas estratégias de sustentabilidade, pois não atingem o tripé: economia, sociedade e meio ambiente. Pesquise Quais são as estratégias votadas para a sustentabilidade das grandes empresas? Pesquise no site de Nestlé, Unilever, Pepsico as estratégias de sustentabilidade que cada uma divulga em suas páginas e compare-as. Faça uma pequena tabela com diferenças e semelhanças. Tema 01: Sustentabilidade como Estratégia competitiva O mundo enfrenta, atualmente, a maior crise ambiental dos últimos tempos: como sustentar mais de 7 bilhões de pessoas, mantendo um ambiente habitável? Assim, há uma necessidade de gerenciar o ambiente global de uma forma mais sustentável. A gestão ambiental e a sustentabilidade ambiental são um campo multidisciplinar, que se concentra em encontrar soluções para os problemas ambientais mais urgentes do mundo. Pró-reitoria de EaD e CCDD 6 A sustentabilidade é baseada em um princípio muito simples: tudo o que precisamos para a nossa sobrevivência e bem-estar depende, direta ou indiretamente, do nosso ambiente natural. Para buscar a sustentabilidade, é necessário criar e manter as condições em que os seres humanos e a natureza podem existir em harmonia (coexistir), com o objetivo de que as gerações futuras também possam usufruir do que temos hoje. Atribui-se fortemente ao capitalismo a grave crise socioambiental vivenciada pela humanidade, visto que esta forma de pensar prega o acúmulo de riquezas, o consumo e a exploração exacerbada dos recursos naturais (MAIA e PIRES, 2011). Assim, para Checkland (2000), citado em Maia e Pires (2011), “A tomada de decisões direcionadas à sustentabilidade exige do decisor a capacidade de lidar com múltiplas variáveis e dimensões de forma simultânea, juntamente com os problemas desestruturados de difícil definição”. Para Sachs (2008), em sua obra A riqueza de todos, quatro são os desafios para alcançar a sustentabilidade (Figura 1) e quatro são as causas da crise socioambientalmundial (Figura 2). Figura 1. Os quatro desafios para alcançar a sustentabilidade, segundo Sachs (2008). Pró-reitoria de EaD e CCDD 7 Figura 2. As quatro causas da crise socioambiental mundial, segundo Sachas (2008). Atualmente, a sustentabilidade deve ser encarada como elemento-chave nos processos de tomada de decisão, garantindo, por exemplo, que sua cadeia de fornecimento e de outros parceiros também tenham práticas fortes de sustentabilidade. Assim, podemos dizer que a sustentabilidade não é apenas responsabilidade ambiental. Investidores sugerem que a sustentabilidade inclui fatores ambientais, políticos, culturais, éticos, sociais e de governança, como local de trabalho e relações com a comunidade. Estudos1 mostram que as organizações com boas práticas de sustentabilidade tendem a ter melhor desempenho e são capazes de acessar melhores taxas de financiamento. O forte desempenho de sustentabilidade por si só não é suficiente para alcançar esses benefícios. No entanto, as organizações precisam comunicar tais informações para as partes interessadas através dos seus relatórios de sustentabilidade. Assim, concluímos que a sustentabilidade é um fator importante no sentido de ajudar as empresas a atingir – e manter – suas estratégias competitivas. 1Sustainable Investing: Establishing long-term financial performance, DB Climate Change Advisors, Deutsche Bank Group, June 2012. Beiting Cheng, IoannisIoannou, and George Serafeim, Corporate social responsibility and access to finance, Harvard Business School, working paper 11-130, May 2012. Pró-reitoria de EaD e CCDD 8 Tema 02: A importância dos Relatórios de Sustentabilidade A grade dificuldade que as empresas encontram em relação à sua sustentabilidade está relacionada a: como medi-la? Ou mesmo: como usar e quais indicadores usar para medi-la? Nesse contexto, os relatórios de sustentabilidade têm exercido importante papel na divulgação desses possíveis indicadores. De acordo com a GRI (Global Reporting Initiative)2, uma das mais renomadas organizações do mundo no assunto, o relatório de sustentabilidade (RS) é um relatório publicado por uma empresa ou organização sobre os impactos econômicos, ambientais e sociais causados pelas suas atividades diárias. Além disso, um relatório de sustentabilidade também deve apresentar um modelo de valores e governança da organização, além de demonstrar a ligação entre a sua estratégia e seu compromisso para uma economia global sustentável (GRI, 2016). Vale destacar que os RS podem ajudar fortemente as organizações a medir, compreender e comunicar o seu desempenho econômico, ambiental, social e de governança e, em seguida, definir metas e gerir a mudança de forma mais eficaz (GRI, 2016). Os relatórios de sustentabilidade surgiram como uma prática comum de negócios neste século. Assim, o foco na sustentabilidade ajuda as organizações a gerenciar seus impactos sociais e ambientais e melhorar a eficiência operacional e gestão de recursos naturais. É importante mencionar que o processo de adesão a estes relatórios é totalmente voluntário e, segundo Bassetto (2010), tem por objetivos: Apoiar e facilitar a gestão das questões de sustentabilidade das empresas de maneira sistemática; 2 GRI é uma organização internacional independente e sem fins lucrativos que ajuda as empresas, governos e outras organizações a compreender e comunicar o impacto da empresa sobre questões críticas de sustentabilidade, tais como as alterações climáticas, direitos humanos, corrupção e muitos outros. Pró-reitoria de EaD e CCDD 9 Divulgar os riscos e oportunidades; Construir uma reputação corporativa mais transparente. Apesar do caráter voluntário, estes documentos (que devem ficar à disposição para consulta) são resultados das pressões da sociedade e dos stakeholders, no sentido de desejarem por explicações das ações de responsabilidade socioambiental das organizações. Ainda, vale destacar que os acionistas e investidores se utilizam destes documentos para suas tomadas de decisões em relação à compra de ativos destas empresas (BASSETTO, 2010). No Brasil, o pioneirismo dessa divulgação se deu através da produtora de cosméticos Natura, ainda nos anos 2000. Atualmente, de modo geral, as grandes empresas optam por relatórios cujos indicadores tenham grande adesão aos seus projetos de sustentabilidade. Podemos citar como indicadores de sustentabilidade nos relatórios: Produto interno bruto (PIB); Índice de desenvolvimento humano (IDH); Índice de sustentabilidade ambiental (ISA); Índice de Gini. A seguir, uma figura (Figura 3) com os principais benéficos dos relatórios de sustentabilidade, segundo a GRI (2016): Pró-reitoria de EaD e CCDD 10 Figura 3. Um ciclo de relatórios de sustentabilidade eficaz, que inclui um programa regular de coleta de dados, comunicação e respostas, deverá beneficiar todas as organizações relatoras, tanto interna como externamente. Para ser útil, um relatório precisa ter um padrão unificado que permite que eles sejam rapidamente avaliados, julgados e comparados. Como grande parte das organizações multinacionais em todo o mundo adotou os relatórios de sustentabilidade, destacamos que o mais amplamente adotado tem sido os Relatórios de Sustentabilidade da Global Reporting Initiative (GRI). Pró-reitoria de EaD e CCDD 11 Tema 03: Inovação em Sustentabilidade A Comissão Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, em 1987, publicou o documento Nosso Futuro Comum, e observou que a sustentabilidade pode ser enquadrada como uma troca entre as empresas e a sociedade. A busca pela sustentabilidade já está começando a transformar o cenário competitivo, o que irá forçar as empresas a mudar a maneira como elas pensam sobre produtos, tecnologias, processos e modelos de negócios. A chave para o progresso, especialmente em tempos de crise econômica, é a inovação, e superar estes desafios e capacitar a sociedade a prosperar em um planeta com recursos cada vez mais limitados são uma necessidade imperativa. Para isso, um processo de inovação significativa, chamada de sustentabilidade orientada para a inovação (SOI), é importante (NIDOMOLU, PRAHALAD, RANGASWAMI, 2009). O manual de Oslo define inovação como “(...) a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, nas organizações do local de trabalho ou nas relações externas” (OECD, 1997, p. 55). Ligando esta definição ao aspecto da sustentabilidade, Kemp e Pearson (2008) criaram o conceito de eco inovação como: “(...) a produção, assimilação ou exploração de um produto, processo de produção, serviço ou método de gestão ou de negócio que é novo para a organização (desenvolvendo ou adotando-a) e que resulta, ao longo do seu ciclo de vida, em reduções de riscos ambientais, poluição e outros impactos negativos do uso de recursos, inclusive energia, comparado com alternativas pertinentes” (KEMP; PEARSON, 2008, p. 7;). Pró-reitoria de EaD e CCDD 12 Portanto, ao tratar a sustentabilidade como uma meta atual, as empresas devem desenvolver competências as quais os concorrentes serão pressionados a corresponder. Assim, as iniciativas de sustentabilidade impulsionarão o valor de negócios de várias maneiras através de aumento da receita, redução de custos e gestãode riscos. Destacamos que a inovação em sustentabilidade é diferente da inovação em si, pois exige certa flexibilidade por parte da organização como, por exemplo: pensar em resultados a longo prazo (IONESCU-SOMERS E SZEKELY, 2013). Ainda para Ionescu-Somers e Szekely (2013), há três tipos de inovação possíveis, quando se fala em sustentabilidade: 1. Inovação incremental – é aquela que acontece paulatinamente, evitando ao máximo os riscos (conservadora); 2. Inovação radical – embora dentro de um modelo de negócios tradicional, há inovação e criação de novos modelos de negócios; 3. Transformação sistêmica – reinvenção de modelos de negócios insustentáveis. Ainda, os mesmos autores abordam que há três tipos de incertezas que podem, de alguma maneira, afetar a inovação voltada para a sustentabilidade: Ambiental – relacionada aos recursos naturais/matérias-primas; Política – relacionada, principalmente, aos aspectos legais; Comportamental – relacionada à aceitação das novas tendências, tanto por parte dos consumidores como dos diretores da organização. Para José Carlos Barbieri (2010), uma organização inovadora sustentável é aquela que, em seus produtos, processos e serviços, se utiliza de características de inovar se voltando para a sustentabilidade. Pró-reitoria de EaD e CCDD 13 Ainda para o mesmo autor (citado em GOMES et al, 2016) a inovação sustentável: “compreende a introdução (produção, assimilação ou exploração) de produtos, processos produtivos, métodos de gestão ou negócios, novos ou significativamente melhorados para a organização e que traz benefícios econômicos, sociais e ambientais, comparados com alternativas pertinentes" (BARBIERI, 2010 citado em GOMES et al, 2016). Schaltegger e Wagner (2011) destacam três aspectos positivos para se inovar em sustentabilidade (Figura 4). São eles: Figura 4. As três razões fundamentais para a inovação sustentável, segundo Schaltegger e Wagner (2011). Pró-reitoria de EaD e CCDD 14 Tema 04: A Criação (ou geração) de Valor Compartilhado Ainda seguindo a linha de inovação em sustentabilidade, abordaremos a questão da criação de valor compartilhado (CVC) nas empresas. Do inglês Creating Shared Value (CVS), a CVC é um conceito estabelecido por Porter e Kramer, em 2011 – Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça) – como um modelo de gestão inovador. Para os autores, os fatores competitivos determinantes de uma dada organização e o bem-estar das comunidades que estão à volta dela são reciprocamente dependentes. Nesse sentido, a redefinição do capitalismo deve-se partir do reconhecimento sobre tais conexões entre o progresso social e econômico (PORTER e KRAMER, 2011). Existe uma marcante diferença entre a Responsabilidade Social Corporativa – RSC (assunto abordado na aula 5) e a CVC. Para Porter (2011), a RSC traduz apenas a lucratividade de uma empresa enquanto de sua atuação nas questões sociais. Já a CVC, se traduz como uma nova abordagem de relacionamento entre as empresas e a sociedade. Ainda, para os mesmos autores, eles mencionam que as empresas ignoram completamente qualquer efeito adverso, na sociedade e ao meio ambiente, das suas atividades e serviços, promovendo escassez de recursos e redução de salários da mão de obra, tornando-se insustentáveis no cerne do conceito (PORTER e KRAMER, 2011). Também, “as necessidades sociais, e não apenas as necessidades econômicas convencionais definem mercados, assim como danos sociais podem criar custos internos para as firmas” (PORTER & KRAMER, 2011, p. 5). Os criadores desse conceito afirmam que a CVC é uma excelente estratégia de inovação para a sustentabilidade, pois, além de trazer crescimento aos negócios, tem o reconhecimento moral da sociedade que está à sua volta. A CVC prega que o capitalismo tenha viés social (porém, não filantrópico), contrapondo às ideias do economista inglês Milton Friedman (prêmio Nobel de Pró-reitoria de EaD e CCDD 15 economia, em 1976), que mencionava que o único papel da empresa é gerar lucro (HOFFMAN, 2000). Tal inovação e colaboração devem acontecer através de diferentes atores da sociedade como, por exemplo, ONGs, a sociedade civil, o governo e, é claro, as empresas (Figura 5). É preciso pontuar também que os interesses do negócio devem estar em consonância (e não opostamente) aos interesses da sociedade, e não ao contrário, já que, para que as empresas possam oferecer tais benefícios sociais, ela deve estar bem financeiramente – este fato é o que Hart e Prahalad (2002) denominaram de capitalismo inclusivo. Para os mesmos autores, dois são os desafios das grandes empresas para a população menos abastada: Produção e distribuição de produtos e serviços sensíveis a sua cultura; Que sejam ambientalmente sustentáveis e economicamente lucrativos. Figura 5. Fatores que englobam o processo de concepção do CVC para a base da pirâmide, de acordo com Porter e Kramer (2011). Pró-reitoria de EaD e CCDD 16 Ainda sobre a Figura 5, os autores afirmam que no item 1 é preciso utilizar as carências da sociedade (saúde, moradia, danos ambientais, entre outros) como uma oportunidade de inovar em seus processos, ou seja, como um mercado ainda a ser explorado. Já no item 2, nota-se que a cadeia de valores de uma organização (uso de água, matérias-primas – recursos naturais, mão de obra) afeta a produtividade da empresa, e vice-versa, assim, investimento nas questões socioambientais, diminuiriam os gastos da própria organização com esses aspectos, em caso de problemas. Por fim, no item 3, os autores estabelecem que o cluster3 de empresas é uma alternativa viável para uma determinada comunidade. Tema 05: Sustentabilidade e Governança Corporativa Governança corporativa e sustentabilidade estão entre os temas mais debatidos pelo mundo corporativo, nos dias atuais. Ambos os conceitos estão alinhados e devem estar em perfeita harmonia com as ações das empresas do século 21. A sustentabilidade, em seu papel, visa garantir a perduração dos recursos naturais e dos aspectos sociais da comunidade mundial, através das ações das empresas visando ao desenvolvimento sustentável, ao passo que a governança corporativa visa garantir o sucesso longevo da organização. De acordo com Carlsson (2001), governança corporativa consiste nas regras de gestão que visem minimizar ao máximo os possíveis conflitos de interesses entre diferentes partes da organização. 3 Cluster é um grupo geograficamente concentrado de empresas interligadas e instituições associadas em um campo particular, ligadas por aspectos comuns e por complementaridades (NETO et al, 2012). Pró-reitoria de EaD e CCDD 17 De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, as boas práticas de governança estão pautadas em 4 princípios (MALACRIDA e YAMAMOTO, 2006): Transparência; Equidade; Prestação responsável de contas, Responsabilidade corporativa. Assim, notamos que governança corporativa não diz respeito apenas a questões financeiras, mas também envolvem aspectos socioambientais e, por sua vez, a sustentabilidade (NUNES et al, 2010). O alinhamento das práticas de governança corporativa e de sustentabilidade vem sendo comunicado pelas empresas através dos seus relatórios de sustentabilidade. Ainda, para Lopes (2003), alguns aspectos fundamentais devem ser levados em conta quando se dialoga sobre a governança: Figura 6. Aspectos da governança corporativa, segundo Lopes (2003). Pró-reitoriade EaD e CCDD 18 De acordo com Kean Ow-Yong (2006), há uma forte tendência mundial em concentrar os investimentos em negócios sustentáveis (sociaoambiental) e rentáveis e, nesse contexto, a Bovespa lançou, em 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que está baseado na transparência das empresas em relação à comunicação de seus aspectos de eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa, já que a confiança do mercado (para investimento) está diretamente relacionada a esses índices (CORREIA; AMARAL; LOUVET, 2011). Assim, a governança corporativa é cada vez mais aplicada a uma forma estendida de monitorar atividades corporativas, que incluem o impacto na sociedade e no ambiente natural. Portanto, as práticas relativas às ações de responsabilidade socioambiental implementadas pelas empresas podem (e devem) ser observadas como uma extensão da governança corporativa, que abarca meios para comprovar para o seu público-alvo (stakeholders), que se preocupa com o desenvolvimento sustentável e o bem-estar da comunidade. Trocando ideias Quais são as estratégias de sustentabilidade mais utilizadas pelas empresas? Busque essas informações nos relatórios de sustentabilidade de grandes empresas na internet (empresas à sua escolha) e discutam sobre o que foi encontrado. Pró-reitoria de EaD e CCDD 19 Na Prática Criação de Valor Compartilhado (CVC) Valor compartilhado é uma estratégia de gestão voltada para empresas que criam valor de negócio mensurável através da identificação e resolução dos problemas sociais que se cruzam com os seus negócios. O conceito foi definido pelo professor Michael Porter e Mark Kramer. Assim, a CVC define um novo papel para empresas na sociedade, que vai além dos modelos tradicionais de responsabilidade social corporativa. Em vez de focar em mitigar danos nas operações existentes da empresa, as estratégias de valor compartilhado envolvem em escala e inovação das empresas para promover o progresso social. A tarefa de hoje é elaborar um projeto de CVC para uma indústria de alimentos. Para isso, o seu projeto deve levar em consideração as seis áreas de atuação dentro da empresa e, para cada uma dela, você e sua equipe de gestores devem desenvolver uma estratégia de valor compartilhado. As áreas são: 1. Nutrição 2. Água 3. Desenvolvimento local 4. Fornecimento responsável 5. Meio Ambiente 6. Direito Humanos Seja breve e objetivo em cada um dos itens. Lembre-se: cada CVC deve beneficiar a comunidade como um todo. Mãos à obra! Pró-reitoria de EaD e CCDD 20 Protocolo de Resolução da situação proposta 1. Defina um prazo para que todas as estratégias planejadas estejam cumpridas ou implementadas. Vamos pensar em daqui a cinco anos. 2. Reúna a equipe para conhecer os pontos a serem trabalhados. Deve-se conhecer cada item com relação a consumidores, público de interesse, fornecedores, local e tipo de matéria-prima adquirida, os impactos ambientais, direitos dos trabalhadores e benefícios, entre outros. 3. A partir desse diagnóstico, as equipes serão separadas de acordo com as afinidades de cada área. Assim, as ideias serão colocadas no papel mais rapidamente. 4. Após a elaboração de estratégias para cada área, todas as equipes se reúnem para verificar a consonância entre as estratégias. É a hora de alinhar os objetivos! 5. Os resultados são apresentados para a alta diretoria da empresa e para alguns stakeholders (selecionados pelas equipes). 6. Por fim, com a aprovação da alta gestão, colocam-se em prática as estratégias! O trabalho foi baseado no CVC da Nestlé. Para verificar o resultado, acesse seu site, clique em cada um dos itens e veja quais foram as estratégias utilizadas para cada área. Bons estudos! Pró-reitoria de EaD e CCDD 21 Síntese Na aula de hoje, abordamos diversos aspectos relacionados à sustentabilidade como uma ferramenta competitiva de mercado. Os aspectos relacionados à esse tema são bastante amplos, mas todos ligados às questões socioambientais as quais as empresas passaram a incorporar em suas estratégias de gestão e negócios. Inovação, relatórios de sustentabilidade, Responsabilidade socioambiental e criação de valor compartilhado foram alguns dos temas discutidos aliado à sustentabilidade corporativa. Por fim, abordamos alguns conceitos de governança aplicada à sustentabilidade, tema que tem sido muito discutido nas esferas corporativas atuais em todo o mundo. Referências BARBIERI, J. C.; VASCONCELOS, I. F. G. de; ANDREASSI, T.; VASCONCELOS, F. C. de. Inovação e sustentabilidade: novos modelos e proposições. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 50, n. 2, abr./jun. 2010. BASSETTO, L. I. A incorporação da responsabilidade social e sustentabilidade: um estudo baseado no relatório de gestão 2005 da companhia paranaense de energia – COPEL. Gestão & Produção, v. 17, n. 3, p. 639-651, 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/ S0104- 530X2010000300016>. CORREIA, L. F.; AMARAL, H. F.; LOUVET, P. Um índice de avaliação da qualidade da governança corporativa no Brasil. Revista Contabilidade & Finanças, v. 22, n. 55, p. 45-63, 2011. GLOBAL REPORTING INITIATIVE. 2016. Disponível em: <https://www.globalreporting.org/information/about-gri/Pages/default.aspx>. 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