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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Michelle Balhesteros LINFOMA DE CÃES E GATOS CURITIBA 2006 LINFOMA DE CÃES E GATOS CURITIBA 2006 Michelle Balhesteros LINFOMA DE CÃES E GATOS CURITIBA 2006 LISTA DE ABREVIATURAS ADH: Hormônio Antidiurético AINEs: Antiinflamatórios Não-Esteróides BID: Duas Vezes ao Dia CHOP: Ciclofosfamida, Doxorrubicina, Vincristina e Prednisona COAP: Ciclofosfamida, Vncristina, Prednisona e Citosina Arabinosida COP: Ciclofosfamida, Vincristina e Prednisona dl: Decilitro DNA: Ácido Desoxirribonucléico FeLV: Vírus da Leucemia Felina FIV: Vírus da Imunodeficiência Felina ICC: Insuficiência Cardíaca Congestiva IM: Intramuscular IV: Intravenoso kg: Kilograma LMP: Clorambucil, Metotrexato e Prednisona mEq: Miliequivalente Mg: Miligrama ml: Mililitro OMS: Organização Mundial da Saúde SNC: Sistema Nervoso Central PGE1 e PGE2: Prostaglandinas PTH: Paratormônio QID: Quatro Vezes ao Dia RNA: Ácido Ribonucléico SC: Subcutâneo SID: Uma Vez ao Dia TID: Três Vezes ao Dia UI: Unidade Internacional VO: Via Oral µg: Micrograma µl: Microlitro 4 LISTA DE TABELAS TABELA 1 - SISTEMA DE ESTADIAMENTO TNM PARA CANINOS E FELINOS COM LINFOMA.......................................................................................5 TABELA 2 - SINAIS CLÍNICOS E ACHADOS DO EXAME FÍSICO NOS CANINOS E FELINOS COM LINFOMAS EXTRANODAIS.......................................15 TABELA 3 - AFECÇÕES ASSOCIADAS A HIPERCALCEMIA..................................25 TABELA 4 - TRATAMENTO DA HIPERCALCEMIA..................................................28 TABELA 5 - PROTOCOLO PARA O LINFOMA EM CÃES: CICLO INICIAL DE OITO TRATAMENTOS...................................................................................35 TABELA 6 - PROTOCOLO PARA LINFOMA EM GATOS: CICLO INICIAL DE OITO TRATAMENTOS...................................................................................36 TABELA 7 - PROTOCOLOS QUIMIOTERÁPICOS USADOS NO TRATAMENTO DOS CANINOS E FELINOS* COM LINFOMA NA OHIO STATE UNIVERSITY VETERINARY TEACHING HOSPITAL..........................41 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - CADELA BULL MASTIFF, TRÊS ANOS DE IDADE, APRESENTANDO AUMENTO DE TONSILAS DECORRENTE DA APRESENTAÇÃO MULTICÊNTRICA DO LINFOMA CANINO............................................6 FIGURA 2 - LINFOMA ALIMENTAR. ESTÔMAGO DE UM CÃO, COM INTENSO ESPESSAMENTO DA MUCOSA, ULCERAÇÕES E ÁREAS DE HIPEREMIA (setas) DECORRENTES DA INFILTRAÇÃO DE CÉLULAS LINFÓIDES NEOPLÁSICAS.................................................7 FIGURA 3 - LINFOMA MEDISTÍNICO EM UM CÃO, QUE APRESENTAVA EFUSÃO PLEURAL E AUMENTO DE LINFONODOS MEDIASTÍNICOS (seta).......................................................................................................8 FIGURA 4 - LINFOMA NÃO EPITELIOTRÓPICO. NÓDULOS NO DORSO DE UM CÃO LABRADOR IDOSO.......................................................................9 FIGURA 5 - LINFOMA NÃO EPITELIOTRÓPICO. VISUALIZAÇÃO PRÓXIMA DO CÃO DA FIGURA 4. REALIZOU-SE TRICOTOMIA PARA MELHOR VISUALIZAÇÃO DOS TUMORES........................................................10 FIGURA 6 - LINFOMA NÃO EPITELIOTRÓPICO. O LINFOMA INFILTROU-SE NO TECIDO CONJUNTIVO........................................................................10 FIGURA 7 - LINFOMA NÃO EPITELIOTRÓPICO. TUMOR EM FORMATO DE C NO TRONCO DE UM CÃO IDOSO............................................................11 FIGURA 8 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. PLACA ESCAMOSA ERITEMATOSA TÍPICA DE LESÕES NEOPLÁSICAS DISCRETAS.............................12 FIGURA 9 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. VISUALIZAÇÃO PRÓXIMA DO CÃO DA FIGURA 8. LESÕES ULCERADAS E ERITEMATOSAS MAIS GRAVES...............................................................................................12 FIGURA 10 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. VISUALIZAÇÃO DO CÃO DA FIGURA 8 E 9. NÓDULOS ERITEMATOSOS NO TRONCO.............................13 FIGURA 11 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. VISUALIZAÇÃO PRÓXIMA DO CÃO DAS FIGURAS 8 A 10. GRANDE TUMOR ALOPÉCICO ERITEMATOSO COM DEPRESSÃO CENTRAL.................................13 FIGURA 12 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. NÓDULOS E PÁPULAS ERITEMATOSAS. OBSERVE A SEMELHANÇA COM AS LESÕES DE FOLICULITE.........................................................................................14 FIGURA 13 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. ULCERAÇÃO DE MUCOSA E PROLIFERAÇÃO TECIDUAL SÃO CARACTERÍSTICAS DE LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. OBSERVE A SEMELHANÇA COM DERMATITE AUTO-IMUNE.......................................................................................14 FIGURA 14 - LINFOMA EXTRANODAL. PRESENÇA D ETECIDO NEOPLÁSICO LINFÓIDE EM ÁTRIO ESQUERDO, ENVOLVEMDO A REGIÃSO DA VÁLVULA MITRAL, EM UM CÃO QUE APRESENTAVA EFUSÃO PERICÁRDICA E DISPNÉIA EXPIRATÓRIA.......................................15 FIGURA 15 - CÃO COM QUEMOSE (seta preta), NEOVASCULARIZAÇÃO, EDEMA DE CÓRNEA (seta branca) E CERATITE ULCERATIVA DECORRENTES DE LINFOMA OCULAR PRIMÁRIO........................16 FIGURA 16 - A, MANIFESTAÇÃO OCULAR DE LINFOSSARCOMA EM UM CÃO, COM INFILTRAÇÃO DA ÚVEA ANTERIOR COM CÉLULAS NEOPLÁSICAS. B, INFILTRAÇÃO DA ÍRIS COM LINFÓCITOS IMATUROS. C, DETALHE DAS CÉLULAS NA ÍRIS............................17 FIGURA 17 - RADIOGRAFIA ABDOMINAL LATERO-LATERAL. OBSERVA-SE EFUSÃO PLEURAL ATRAVÉS DA SEPARAÇÃO DOS LOBOS PULMONARES DA PLEURA PARIETAL, COMPRESSÃO PULMONAR POR FLUIDO DENSO, SILHUETA CARDÍACA E MEDIASTINO CRANIAL NÃO APARENTES...............................................................22 FIGURA 18 - DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS........................................................33 SUMÁRIO RESUMO...................................................................................................................................1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................2 1 ETIOLOGIA.........................................................................................................................3 2 EPIDEMIOLOGIA ..............................................................................................................4 3 CLASSIFICAÇÃO E SINAIS CLÍNICOS ........................................................................5 3.1 CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA.......................................................................5 3.2 CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA .................................................................18 3.3 CLASSIFICAÇÃO IMUNOLÓGICA.................................................................19 4 DIAGNÓSTICO .................................................................................................................20 4.1 EXAMES COMPLEMENTARES.....................................................................20 4.2 RADIOGRAFIAS E ULTRA-SONOGRAFIAS.................................................21 5 SÍNDROME PARANEOPLÁSICA..................................................................................24 5.1 HIPERCALCEMIA ..........................................................................................24 5.2 HIPOGLICEMIA..............................................................................................29 5.3ERITROCITOSE.............................................................................................31 5.4 ANEMIA..........................................................................................................32 5.5 FEBRE............................................................................................................33 6 TRATAMENTO .................................................................................................................34 6.1 INDUÇÃO DA REMISSÃO .............................................................................37 6.2 MANUTENÇÃO ..............................................................................................38 6.3 REINDUÇÃO DA REMISSÃO OU RESGATE................................................39 6.4 INTENSIFICAÇÃO..........................................................................................40 6.5 PROCOLOS “BARATOS”...............................................................................40 7 PROTOCOLOS QUIMIOTERÁPICOS PARA LINFOMA EM CÃES ......................43 7.1 DOXORRUBICINA .........................................................................................43 7.2 DOXORRUBICINA, VINCRISTINA E CICLOFOSFAMIDA.............................44 7.3 CICLOOFOSFAMIDA, VINCRISTINA E PREDNISONA (COP I) ...................45 7.4 CICLOFOSFAMIDA, VINCRISTINA E PREDNISONA (COP II) .....................46 7.5 CICLOFOSFAMIDA, VINCRISTINA, PREDNISONA e METOTREXATO .477.6 CICLOFOSFAMIDA, VINCRISTINA, PREDNISONA e L-ASPARAGINASE..........49 7.7 CICLOFOSFAMIDA, VINCRISTINA, L-ASPARAGINASE e METOTREXATO.......................................................................................................50 7.8 CICLOFOSFAMIDA, VINCRISTINA, PREDNISONA, DOXORRUBICINA e L- ASPARAGINASE ......................................................................................................51 7.9 L-ASPARAGINASE, CLORAMBUCIL, VICRISTINA, DOXORRUBICINA e PREDNISONA (UNIVERSIDADE DE WISCONSIN – MADISON) ............................52 7.10 L-ASPARAGINASE, VINCRISTINA, CICLOFOSFAMIDA, DOXORRUBICINA, PREDNISONA, METOTREXATO e CITARABINA ARABINOSIDA...........................54 7.11 CICLOFOSFAMIDA, VINCRISTINA, PREDNISONA, L-ASPARAGINASE, DOXORRUBICINA ....................................................................................................56 7.12 TERAPIA DE RESGATE PARA LINFOMAS CANINOS COM DOXORRUBICINA e DACARBAZINA.......................................................................58 7.13 PROTOCOLOS INTENSIVOS COM MAIORES DOSES E NÚMEROS DE TRATAMENTOS, SEM TERAPIA DE MANUTENÇÃO PARA LINFOMAS DE CÃES .........................................................................................................................59 8 PROTOCOLOS QUIMIOTERÁPICOS PARA LINFOMA EM GATOS...................61 8.1 DOXORRUBICINA .........................................................................................61 8.2 CICLOFOSFAMIDA, VINCRISTINA e PREDNISONA....................................62 8.3 CICLOFOSFAMIDA, VINCRISTINA, PREDNISONA e METOTREXATO ......63 8.4 CICLOFOSFAMIDA, VINCRISTINA, PREDNISONA e DOXORRUBICINA ...65 8.5 VINCRISTINA, L-ASPARAGINASE, CICLOFOSFAMIDA, DOXORRUBICINA, METOTREXATO e PREDNISONA ...........................................................................66 8.6 VINCRISTINA, L-ASPARAGINASE, CICLOFOSFAMIDA, DOXORRUBICINA, METOTREXATO e PREDNISONA ...........................................................................68 PROGNÓSTICO ....................................................................................................................70 CONCLUSÃO.........................................................................................................................71 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................72 LINFOMA EM CÃES E GATOS RESUMO Neoplasia de origem linfóide, o linfoma compreende aproximadamente 83% das desordens proliferativas do tecido hematopoiético no cão. Vários critérios são utilizados para classificar o linfoma canino. Os linfomas podem ser multicêntrico, alimentar, cutâneo, mediastínico ou extranodal. O critério histológico baseia-se na morfologia celular e nos padrões teciduais, determinados por sistemas de classificação humana e adaptados para a doença canina. Sabe-se que 80% dos casos ocorrem em animais entre 5 e 11 anos de idade. Uma condição paraneoplásica que sempre, ou quase sempre, acompanha o linfossarcoma é a hipercalcemia, que deve ser tratada concomitantemente com a doença neoplásica. O diagnóstico é obtido a partir de um exame físico, um hemograma completo, contagem de plaquetas, perfil bioquímico, urinálise, exames citológicos e/ou histológicos. O tratamento baseia-se na utilização de drogas antineoplásicas. Neste trabalho, são revisados os aspectos clínicos, importância da classificação para determinar o prognóstico e auxiliar na terapia. Palavras-Chave: Cães, neoplasia, sistema linfóide, oncologia, linfoma, linfossarcoma. INTRODUÇÃO Neoplasia que se origina do tecido linfóide, como linfonodo, baço ou fígado (COUTO, 1992), o linfoma é o principal tumor hematopoiético no cão (MORENO, K. e BRACARENSE, A.P., 2006). Além desses locais, o linfoma também pode ter origem em sítios extranodais como pele, o sistema nervoso central (SNC), ossos, coração, cavidade nasal e globo ocular (FIGHERA,R.A. et a.l, 2005). As características dessa neoplasia em cães são similares àquelas do linfoma do tipo não–Hodgkin humano (FOURNELL-FLEURY, C. et al., 2002). Em cães, o linfoma compreende aproximadamente 83% das desordens proliferativas do tecido hematopoiético e 7-24% de todas as neoplasias da espécie (VAIL, D.M. et al., 2001). O linfoma pode afetar cães de todas as idades, predominantemente aqueles de meia idade (5 a 11 anos), não apresenta predileção relacionada ao sexo (MASSONERO, K.R., 2000). O linfoma canino, cujo aparecimento é espontâneo, representa 8,5 a 9% de todos os tumores caninos, e sua ocorrência só é inferior à de neoplasia mamárias e cutâneas. Caracteriza-se por elevada agressividade e, ao contrário do que ocorre em felinos, a relação com agentes virais não foi definitivamente demonstrada, apesar de relatos anteriores sobre a associação de retrovírus nas células tumorais. Alguns estudos apontam a relação entre neoplasia em cães e a exposição a herbicidas, principalmente o ácido 2,4-dicloro-fenoxiacético, que em pessoas e animais aumentam as possibilidade de aparecimento do tumor (MacEWEN,E.G. et al., 2001). O linfoma diferencia-se da leucemia por esta ter origem na medula óssea e por normalmente não apresentar linfoadenopatia generalizada (LEITER E MATUS, 1986; RASKIN e KRENBIEL, 1989). A presença de anemia e linfocitose são indicativos para biópsia da medula óssea, sendo a realização do mielograma de grande importância para o estadiamento do linfoma (MADEWELL e FELDMAN, 1980; MacEWEN e YOUNG, 1996). 3 1 ETIOLOGIA Conforme Amorim et al, 2006, O linfoma é considerada a neoplasia mais freqüente em gatos porque, exclusivamente em felinos, essa neoplasia pode ser causada pelo retrovírus denominado vírus da leucemia felina (FeLV). Aproximadamente 75% dos gatos com linfoma apresentam sorologia positiva para o vírus da leucemia felina (FeLV-positivos). Nos caninos, a etiologia dos linfomas é considerada multifatorial, pois nenhum agente etiológico único foi identificado. No entanto, um componente genético é evidente, já que a prevalência dessa neoplasia é elevada em determinadas linhagens sanguíneas (NELSON e COUTO, 2006). 4 2 EPIDEMIOLOGIAExistem duas formas de aparecimento da doença. A primeira apresenta maior incidência por volta de três anos de idade e a segunda ocorre aproximadamente entre os dez e os doze anos de idade, em felinos. O primeiro grupo é composto, em sua maioria, por gatos FeLV-positivos, e o segundo inclui predominantemente gatos FeLV-negativos. A maioria dos cães com idade entre seis a doze anos, também existe uma predisposição racial como Boxer, Basset Hound, Rottweiler, Cocker Spaniel, São Bernardo, Scottish Terrier, Aierdale Terrier, Buldog Inglês e Golden Retriever (NELSON e COUTO, 2006). Não é observada preferência por sexo (RISSI et al, 2005). 5 3 CLASSIFICAÇÃO E SINAIS CLÍNICOS 3.1 CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA Tradicionalmente, o linfoma é classificado com base no local anatômico. Também se pode utilizar a classificação anatômica proposta pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda aceita e muito utilizada, embora seja considerada incompleta (KIUPEL et al., 1999). Essa classificação também contempla o estadiamento clínico do linfoma, determinando a infiltração do tumor em outros órgãos e a presença ou ausência de sinais clínicos (Tabela 1). A maioria dos animais apresenta grau III ou IV da doença quando da avaliação clínica. Isso ocorre devido à demora no encaminhamento do animal ao clínico veterinário, culminando com a progressão da doença (OWEN, LN, 1980). TABELA 1 - SISTEMA DE ESTADIAMENTO TNM PARA CANINOS E FELINOS COM LINFOMA ESTÁDIO ASPECTOS CLÍNICOS I Comprometimento de um linfonodo solitário II Mais de um linfonodo aumentado, mas apenas de um lado do diafragma (i.e., cranial ou caudal) III Comprometimento generalizado dos linfonodos IV Os mesmos achados do estádio III mais hepatomegalia e/ou esplenomegalia V Qualquer um acima, mais comprometimento extranodal ou da medula óssea Subestádio a: Assintomático Subestádio b: Doente TNM, tumor, linfonodo, metástase Fonte: NELSO e COUTO. Medicina Interna de Pequenos Animais, 2006. 3.1.1 Linfoma Multicêntrico É a forma mais comum, representa 84% dos casos. Caracteriza-se pelo aumento generalizado dos linfonodos superficiais, de consistência firme e indolores, 6 podendo haver infiltração das células neoplásicas no fígado, no baço, na medula óssea e nas tonsilas (Figura 1). A maioria dos animais são assintomáticos no momento da apresentação clínica, porém quando sintomáticos haverá histórico de perda de peso, letargia, anorexia e episódios de febre. Em estágios avançados da doença pode-se observar hepatoesplenomegalia e em 27 – 34% dos casos observa- se infiltração pulmonar (MacEWEN et al., 2001). FIGURA 1 - CADELA BULL MASTIFF, TRÊS ANOS DE IDADE, APRESENTANDO AUMENTO DE TONSILAS DECORRENTE DA APRESENTAÇÃO MULTICÊNTRICA DO LINFOMA CANINO. Fonte: Revista Clínica Veterinária, ano XI, n. 62, maio/junho, 2006. Quando o linfoma acomete o fígado, pode ocorrer icterícia pela hiperbilirrubinemia indireta e ascite pela hipoproteinemia (WILCOCK e YAGER, 1989). Quando acomete os pulmões, a neoplasia aparece nas radiografias como uma área de densidade nodular mal definida, com padrão alveolar irregular, raramente como uma lesão única. Sendo assim, o diagnóstico radiográfico é difícil de ser feito, a não ser que a lesão esteja associada a linfadenopatia hilar, mediastínica ou esternal (ACKERMAN e MADEWELL, 1980). Quando ocorre 7 infiltração do miocárdio, os sinais se assemelham a várias afecções que induzem insuficiência cardíaca (VAN VLEET e FERRANS, 1998). Poucas doenças causam linfadenopatia generalizada a ponto de serem confundidas com linfoma multicêntrico, mas os diagnósticos diferenciais devem incluir histoplasmose, blastomicose, erliquiose, brucelose, mieloma múltiplo, leucemia linfóide e lúpus eritematoso sistêmico (VAIL e OGILVIE, 1998). 3.1.2 Linfoma Alimentar O linfoma alimentar representa 5 a 7% dos casos, e localiza-se principalmente no estômago (Figura 2) e no intestino delgado. Cães com linfoma alimentar podem apresentar sinais gastrentéricos como anorexia, vômito, diarréia, melena e perda de peso secundária à síndrome da má-absorção/má-digestão. A ocorrência de enterite linfocitária-plasmocitária é um fator de predisposição para o linfoma alimentar em cães da raça Basenji. Alguns oncologistas incluem as formas hepática, esplênica e renal nesta categoria (MacEWEN et al., 2001). FIGURA 2 - LINFOMA ALIMENTAR EM ESTÔMAGO DE UM CÃO, COM INTENSO ESPESSAMENTO DA MUCOSA, ULCERAÇÕES E ÁREAS DE HIPEREMIA (setas) DECORRENTES DA INFILTRAÇÃO DE CÉLULAS LINFÓIDES NEOPLÁSICAS. Fonte: Revista Clínica Veterinária, ano XI, n. 62, maio/junho, 2006. 8 3.1.3 Linfoma Mediastínico Esta forma de linfoma ocorre em aproximadamente 5% dos casos, sendo caracterizada pelo aumento dos linfonodos mediastínicos (Figura 3) e/ou do timo. Como o timo é o órgão linfóide responsável pela maturação dos linfócitos T, os linfomas mediastínicos são compostos em sua maioria por células T malignas (MacEWEN et al., 2001). Cães com essa apresentação podem manifestar sinais respiratórios, efusão pleural, compressão de lobos pulmonares ou síndrome da veia cava cranial, que se caracteriza por edema e tumefação simétrica da cabeça, pescoço e membros torácicos. Cerca de 40% dos linfomas mediastinais no cão associam-se a hipercalcemia, que pode causar poliúria, polidipsia, anorexia e fraqueza. FIGURA 3 - LINFOMA MEDISTÍNICO EM UM CÃO, QUE APRESENTAVA EFUSÃO PLEURAL E AUMENTO DE LINFONODOS MEDIASTÍNICOS (seta). Fonte: Revista Clínica Veterinária, ano XI, n. 62, maio/junho, 2006. 3.1.4 Linfoma Cutâneo O linfoma cutâneo pode ter apresentação localizada ou generalizada, sendo classificado como epiteliotrópico (Mycosis fungoides), nomeado assim devido à forma de cogumelo em humanos e não epiteliotrópico. Pode envolver também a mucosa oral e, em casos mais avançados, infiltrar linfonodos, fígado, baço e medula óssea. A forma epiteliotrópica é a mais comum e, similarmente ao que ocorre nos seres humanos, origina-se nas células T uma variante da Mycosis fungoides, 9 caracterizada por envolvimento generalizado da pele com evidências de circulação de linfócitos T malignos no sangue periférico, é referida em humanos como Síndrome de Sizary e também relatada em cães e gatos (YOUNG et al., 2001). 3.1.4.1 Linfoma não epiteliotrópico (Figuras 4 a 7) Neoplasia maligna oriunda de linfócitos B ou T incomum em cães e gatos, com maior incidência em animais idosos. Notam-se, comumente, múltiplos nódulos na derme até o subcutâneo, cujas superfícies podem apresentar alopecia e úlcera. Localizam-se, mais freqüentemente, no tronco, cabeça e extremidades. Raramente atinge a mucosa oral (MEDLEAU e HNILICA, 2003). FIGURA 4 - LINFOMA NÃO EPITELIOTRÓPICO. NÓDULOS NO DORSO DE UM CÃO LABRADOR IDOSO. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais, 2003. 10 FIGURA 5 - LINFOMA NÃO EPITELIOTRÓPICO. VISUALIZAÇÃO PRÓXIMA DO CÃO DA FIGURA 4. REALIZOU-SE TRICOTOMIA PARA MELHOR VISUALIZAÇÃO DOS TUMORES. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais, 2003. FIGURA 6 - LINFOMA NÃO EPITELIOTRÓPICO. O LINFOMA INFILTROU-SE NO TECIDO CONJUNTIVO. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais, 2003. 11 FIGURA 7 - LINFOMA NÃO EPITELIOTRÓPICO. TUMOR EM FORMATO DE C NO TRONCO DE UM CÃO IDOSO. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais,2003. 3.1.4.2 Linfoma Epiteliotrópico (Micose Fungóide) (Figuras 8 a 13) Nos cães, as lesões podem incluir placas e/ou nódulos solitários a múltiplos, com diâmetro variando de poucos milímetros a vários centímetros. Pode haver alopecia, descamação, prurido e eritema generalizado. Pode ocorrer despigmentação mucocutânea e úlcera e/ou estomatite ulcerativa. Em geral, a doença evolui lentamente e, nos casos crônicos, pode-se constatar linfadenomegalia periférica e sintomas sistêmicos. Nos gatos, podem apresentar prurido e eritroderma esfoliativo com alopecia e crostas. Pode haver nódulo ou placa eritematosa especialmente na cabeça e no pescoço. As lesões orais e mucocutâneas sã menos comuns que em cães (MEDLEAU e HNILICA, 2003). 12 FIGURA 8 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. PLACA ESCAMOSA ERITEMATOSA TÍPICA DE LESÕES NEOPLÁSICAS DISCRETAS. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais, 2003. FIGURA 9 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. VISUALIZAÇÃO PRÓXIMA DO CÃO DA FIGURA 8. LESÕES ULCERADAS E ERITEMATOSAS MAIS GRAVES. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais, 2003. 13 FIGURA 10 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. VISUALIZAÇÃO DO CÃO DA FIGURA 8 E 9. NÓDULOS ERITEMATOSOS NO TRONCO. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais, 2003. FIGURA 11 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. VISUALIZAÇÃO PRÓXIMA DO CÃO DAS FIGURAS 8 A 10. GRANDE TUMOR ALOPÉCICO ERITEMATOSO COM DEPRESSÃO CENTRAL. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais, 2003. 14 FIGURA 12 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. NÓDULOS E PÁPULAS ERITEMATOSAS. OBSERVE A SEMELHANÇA COM AS LESÕES DE FOLICULITE. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais, 2003. FIGURA 13 - LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. ULCERAÇÃO DE MUCOSA E PROLIFERAÇÃO TECIDUAL SÃO CARACTERÍSTICAS DE LINFOMA EPITELIOTRÓPICO. OBSERVE A SEMELHANÇA COM DERMATITE AUTO-IMUNE. Fonte: KEDLEAU, L.; HNILICA, K. A. Dermatologia de Pequenos Animais, 2003. 3.1.5 Linfoma Extranodal As várias formas extranodais de linfoma incluem linfomas ocular, sistema nervoso central (SNC), ósseo, cardíaco (Figura 14), renal, vesical e da cavidade 15 nasal. Os sinais clínicos e achados do exame físico típicos em caninos e felinos com linfomas extranodais estão resumidos na Tabela 2 (NELSON e COUTO, 2006). FIGURA 14 - LINFOMA EXTRANODAL. PRESENÇA DE TECIDO NEOPLÁSICO LINFÓIDE EM ÁTRIO ESQUERDO, ENVOLVEMDO A REGIÃSO DA VÁLVULA MITRAL, EM UM CÃO QUE APRESENTAVA EFUSÃO PERICÁRDICA E DISPNÉIA EXPIRATÓRIA. Fonte: Revista Clínica Veterinária, ano XI, n. 62, maio/junho, 2006. TABELA 2 - SINAIS CLÍNICOS E ACHADOS DO EXAME FÍSICO NOS CANINOS E FELINOS COM LINFOMAS EXTRANODAIS ÓRGÃO ENVOLVIDO APRESENTAÇÃO CLÍNICA ACHADOS FÍSICOS SNC Sinais do SNC solitários ou multifocais Qualquer achado neurológico Olho Cegueira, infiltrados, fotofobia* Infiltrados, uveíte, descolamento de retina, glaucoma Rins Poliúria/Polidipsia, azotemia, eritrocitose* Renomegalia, massas renais Pulmão Tosse, dispnéia Nenhum, alterações radiográficas Pele Qualquer lesão primária ou secundária Qualquer lesão primária ou secundária *Somente nos cães Fonte: NELSO e COUTO. Medicina Interna de Pequenso Animais, 2006. 16 3.1.5.1 Linfoma Ocular Este linfoma maligno é o tumor intra-ocular secundário mais comum no cão (ETTINGER E FELDMAN). O linfoma ocular ocorre tanto em felinos quanto em caninos. O comprometimento ocular em caninos é comumente associado à forma multicêntrica; tanto o comprometimento ocular primário quanto o comprometimento ocular associado à forma multicêntrica são comum em felinos. Uma variedade de sinais e lesões pode estar presente nesses pacientes, incluindo fotofobia, blefaroespasmo, epífora, hifema, hipópio, massas oculares, infiltração da terceira pálpebra, uveíte anterior, comprometimento coriorretinal e descolamento da retina (NELSON e COUTO, 2006). (Figuras 15 e 16A, B e C) FIGURA 15 - CÃO COM QUEMOSE (seta preta), NEOVASCULARIZAÇÃO, EDEMA DE CÓRNEA (seta branca) E CERATITE ULCERATIVA DECORRENTES DE LINFOMA OCULAR PRIMÁRIO. Fonte: Revista Clínica Veterinária, anoXI, n. 62, maio/junho, 2006. 17 FIGURA 16 - A, MANIFESTAÇÃO OCULAR DE LINFOSSARCOMA EM UM CÃO, COM INFILTRAÇÃO DA ÚVEA ANTERIOR COM CÉLULAS NEOPLÁSICAS. B, INFILTRAÇÃO DA ÍRIS COM LINFÓCITOS IMATUROS. C, CÉLULAS NA ÍRIS. Fonte: SLATTER. Fundamentals of Veterinary Ophthalmology, 1998. 3.1.5.2 Linfoma Nasofaríngeo É relativamente comum nos felinos, mas é extremamente raro nos caninos. Os sinais clínicos são semelhantes àqueles vistos nos gatos com qualquer distúrbio do trato respiratório superior e incluem espirros, secreção nasal uni ou bilateral (variando de mucopurulento a hemorrágica), respiração estertorosa, exoftalmia e deformidade facial; esta é uma das formas mais comuns de apresentação do linfoma extranodal visto em felinos (NELSON e COUTO, 2006). 3.1.5.3 Linfoma Renal É relativamente comum nos felinos, mas raro nos caninos. Os felinos com essa forma anatômica são primeiramente avaliados por apresentarem sinais clínicos vagos, geralmente secundários à insuficiência renal crônica. Ao exame físico, o felino se encontra emaciado e geralmente anêmico e apresenta rins firmes, irregulares e aumentados; ambos os rins são comumente acometidos. Existe uma associação significativa entre os linfomas do SNC e renal em felinos, por isso alguns clínicos recomendam o uso de drogas antineoplásicas que atinjam altas concentrações no SNC (citosina arabinosídeo, lomustina) no tratamento de felinos com comprometimento renal com o objetivo de prevenir uma disseminação secundária para o SNC (NELSON e COUTO, 2006). B A C 18 3.1.5.4 Linfoma Neural Os caninos e felinos com linfoma neural apresentam-se com uma variedade de sinais neurológicos que refletem a localização e a extensão das neoplasias. Três formas de apresentação são clinicamente reconhecíveis: linfoma epidural solitário, linfoma do neutróflo (intracraniano ou intra-espinhal) – também chamado de linfoma do SNC verdadeiro – e linfoma do nervo periférico. O linfoma epidural solitário é comum nos gatos jovens FeLV-positivos. Os linfomas neurais podem ser primários (i.e., linfoma epidural) ou podem ser secundários à forma multicêntrica. A recidiva do linfoma no SNC é uma forma de apresentação relativamente comum em cães que foram tratados com quimioterapia para linfoma multicêntrico por meses a anos; esses pacientes desenvolvem um início agudo de sinais neurológicos, tipicamente enquanto a neoplasia multicêntrica ainda está em fase de remissão. Essa recidiva do SNC tardia é provavelmente relacionada com o fato de que a maioria das drogas usadas para tratar linfomas não atravessa a barreira hematoencefálica quando usada em doses-padrão; assim, o SNC torna-se um refúgio para as células tumorais. 3.2 CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA Diferentes classificações histológicas para o linfoma humano têm sido adaptadas para o linfoma canino (OWEN, LN, 1980). Dois sistemas de classificação do linfoma humano, a Working Formulation (National Câncer Institute) e o sistema Kiel, foram os mais facilmente adaptados e são considerados mais completos que os outros sistemas de classificação. A classificação histológica da OMS abrange os seguintes subtipos: pouco diferenciado; linfoblástico, linfocítico e prolinfocítico; e histiocítico, histioblásticoe histiolinfocítico. Entretanto, por apresentar baixo valor prognóstico, essa classificação é pouco utilizada(MORENO e BRACARENSE, 2006). A Working Formulation classifica o tumor com base no padrão tecidual (difuso ou folicular) e no tipo celular (pequena e clivada; grande; e imunoblástica). Já o sistema Kiel modificado avalia a morfologia celular (antroblástico, centrocítico e imunoblástico) e a imunofenotipagem (células B ou T) ambos os sistemas classificam se o tumor é de baixa ou alta malignidade (MacEWEN et al., 2001). 19 Os sistemas de classificação, auxiliam na determinação do prognóstico dos linfomas. A classificação da Working Formulation tem maior correlação na determinação do tempo de sobrevida do animal (KIUPEL et al.,1999). O padrão de arquitetura folicular em cães não está correlacionado ao prognóstico, sendo encontrado na maioria dos casos. Em seres humanos, ao contrário, aproximadamente 30% dos linfomas não-Hodkings são foliculares, na maioria dos estudos, demonstrou-se que linfomas de alto grau de malignidade apresentam remissão completa em resposta à quimioterapia com maior freqüência que aqueles de menor malignidade. No entanto, cães com linfoma de baixo grau de malignidade têm maior tempo de vida sem quimioterapia agressiva (MacEWEN et al., 2001). 3.3 CLASSIFICAÇÃO IMUNOLÓGICA Nos cães com linfoma, a imunofenotipagem passou a ter importância prognóstica, quando se verificou que o linfoma de células T tinha prognóstico pior para o tempo de vida e o período livre da doença do que o linfoma de células B (KIUPEL et al.,1999). A grande dificuldade para a padronização foi a indisponibilidade de marcadores para células linfóides de cães. No entanto, nos últimos anos foi demonstrado que marcadores de células B e T de humanos são eficazes também na marcação de células B e T de alguns animais. Os relatos atuais consideram o anticorpo monoclonal anti-mb1 (CD79a) como um marcador pan-B, e o anticorpo policlonal humano anti-CD3 como efetivo marcador de células T, ambos em secções de tecido fixados em formalina e incluídos em parafina (FOURNELL-FLEURY et al., 2002). Em cães, observa-se maior incidência de linfomas com imunofenótipo B, porém há estudos que relatam alta incidência do fenótipo T (37,9%), sem correlação entre morfologia celular e imunofenotipagem (MORENO e BRACARENSE, 2006). 20 4 DIAGNÓSTICO O linfoma pode ser diagnosticado por meio de exames citológicos ou histopatológicos. O diagnóstico precoce depende da forma de apresentação do linfoma. Sendo assim, a forma multicêntrica é rapidamente diagnosticada devido à apresentação clássica de linfadenomegalia, bastando ao clínico realizar biópsia aspirativa por agulha fina e/ou biópsia incisional do(s) linfonodo(s) superficial(is) aumentado(s). Cabe ainda, ao clínico veterinário, realizar exames complementares para investigar outras possíveis causas de linfadenomegalia. Por outro lado, o diagnóstico das apresentações extranodais é mais demorado, pois outras doenças provocam os mesmos sinais clínicos observados em cada apresentação (MacEWEN et al., 2001). Após a confirmação de linfoma, exames complementares são necessários para investigar o envolvimento de outros órgãos cujas funções estejam alteradas devido à infiltração de células neoplásicas. Recomenda-se realizar os seguintes exames complementares: hemograma completo com contagem de plaquetas, perfil bioquímico completo, urinálise, análise da medula óssea, radiografias de tórax e abdômen, ultrassonografia de tórax e abdômen, eletrocardiograma e ecocardiograma, pois fármacos como a doxorrubicina são potencialmente cardiotóxicos em doses cumulativas. Em algumas situações poderá ocorrer o surgimento de líquidos cavitários (efusões), que devem ser analisados para adequada classificação e/ou diagnóstico de linfoma pela detecção de células neoplásicas no sedimento. 4.1 EXAMES COMPLEMENTARES As alterações hematológicas resultam da infiltração de células neoplásicas na medula óssea, hipofunção ou hiperfunção esplênica (causada por infiltrados neoplásicos), doenças crônicas ou anormalidades paraneoplásicas imunomediadas (anemia hemolítica ou trombocitopenia imunes). Certas anormalidades 21 hematológicas (i.e., monocitose, reações leucemóides) podem ser provocadas pela produção local ou sistêmica de substâncias bioativas pelas células tumorais (i.e., fatores de crescimento hematopoéticos, interleucinas). As anormalidades bioquímicas séricas resultam tanto da produção de substâncias bioativas pelas células tumorais (i.e., paraneoplasia) quanto da insuficiência do órgão secundária à infiltração neoplásica. Em geral, o hemograma e o perfil bioquímico não são diagnósticos nos caninos e felinos com linfoma. As anormalidades hematológicas comuns incluem anemia, leucocitose, neutrofilia (com ou sem desvio à esquerda), monocitose, presença de células linfóides anormais no sangue periférico (i.e., leucemia de células do linfossarcoma), trombocitopenia, citopenias isoladas ou combinadas e reações leucoeritroblásticas, entre outras. A linfocitose é rara em caninos e felinos com linfoma; quando presente, é geralmente de pequena magnitude (i.e., < 10.000 a 12.000/µl). As anormalidade bioquímicas séricas são mais comuns nos cães do que nos gatos com linfoma e consistem principalmente em hipercalcemia e gamopatias. A hiperproteinemia é outra anormalidade paraneoplásica que ocorre em raras ocasiões, nos cães e gatos com linfoma. Ela pode ser secundária à produção de proteína monoclonal por células do linfoma e pode resultar no desenvolvimento de síndromes de hiperviscosidade. 4.2 RADIOGRAFIAS E ULTRA-SONOGRAFIAS As alterações nos cães e gatos variam de acordo com as diferentes formas anatômicas, mas em geral são secundárias a linfadenopatia ou organomegalia (esplenomegalia, hepatomegalia e renomegalia); ocasionalmente a infiltração em outros órgãos (pulmão) pode elevar ao aparecimento de anormalidades radiográficas adicionais. As alterações radiográficas nos cães e gatos com linfoma multicêntrico incluem linfadenopatia esternal ou traqueobrônquica ou ambas; infiltrados pulmonares intersticial, broncoalveolar ou mistos; derrame pleural (raro); linfadenopatia intra-abdominal (mesentérica ou ilíaca); hepatomegalia; esplenomegalia; renomegalia; ou massas intra-abdominais. Raramente, lesões 22 ósseas líticas ou proliferativas são identificadas nas radiografias torácicas ou abdominais simples. Nos caninos e felinos com linfoma mediastinal, as alterações radiográficas são geralmente limitadas à presença de uma massa mediastinal anterior com ou sem derrame pleural (Figura 17). Em cães e gatos com linfoma alimentar, as anormalidades são raramente detectadas nas radiografias abdominais simples (<50%). Quando presentes, variam em natureza, mas incluem principalmente hepatomegalia, esplenomegalia e massa mesoabdominais. A radiografia contrastada positiva do trato gastrintestinal superior geralmente revelam irregularidades nas mucosas, defeitos de enchimento luminal e espessamento irregular da parede. FIGURA 17 - RADIOGRAFIA ABDOMINAL LATERO-LATERAL DE UM GATO. OBSERVA-SE EFUSÃO PLEURAL ATRAVÉS DA SEPARAÇÃO DOS LOBOS PULMONARES DA PLEURA PARIETAL, COMPRESSÃO PULMONAR POR FLUIDO DENSO, SILHUETA CARDÍACA E MEDIASTINO CRANIAL NÃO APARENTES. Fonte: Revista Clínica Veterinária, ano XI, n. 63, julho/agosto, 2006. A ultra-sonografia em escala de cinza constitui um instrumento valioso na avaliação dos cães ou gatos com linfoma intra-abdominal suspeitado ou confirmado. A técnica também é útil na avaliação de massa mediastinais em ambas as espécies. As alterações na ecogenicidade dos órgãos parenquimatoso (fígado, baço, rins) detectadas por essatécnica geralmente refletem mudanças na textura do órgão secundárias a infiltrações neoplásicas. Adicionalmente, estruturas ou órgãos 23 linfóides aumentados podem ser facilmente identificados usando-se essa técnica. Várias anormalidades são comumente detectadas por ultra-sonografia em caninos e felinos com linfoma intra-abdominal; isso inclui hepatomegalia, esplenomegalia, alterações na ecogeniciddae do fígado ou baço, espessamento intestinal, linfadenopatia, massas esplênicas e efusão. 24 5 SÍNDROME PARANEOPLÁSICA Conforme OGILVIE (2003), os tumores geralmente induzem o surgimento de sinais clínicos diretamente, mediante a invasão ou obstrução de estrutura ou função de qualquer parte do corpo, ou indiretamente, pela produção de alterações num animal, em local distante do tumor ou de suas metástases. Estes efeitos remotos da neoplasia são conhecidos como síndromes paraneoplásicas. 5.1 HIPERCALCEMIA A definição de hipercalcemia é a de uma concentração sérica total de cálcio em jejum >12 mg/dl nos cães e >11 mg/dl nos gatos. Os cães jovens podem apresentar hipercalcemia suave (geralmente <13 mg/dl) relacionada ao crescimento esquelético. As amostras sanguíneas lipêmicas e/ou hemolisadas podem resultar em elevações espúricas de cálcio e devem ser interpretadas com cautela (CAROTHERS et al, 1998). Segundo OGILVIE (2006), esta anormalidade eletrolítica pode resultar em depressão, insuficiência renal, encefalopatia, coma e morte. Cerca de 20 a 40% dos cães com hipercalcemia associada ao linfoma têm a forma mediastínica anterior da moléstia. O desenvolvimento de sinais clínicos de hipercalcemia depende da magnitude da elevação de cálcio, de quão rapidamente a hipercalcemia se desenvolveu e da duração da hipercalcemia. A polidipsia e a poliúria constituem os sinais mais comuns da hipercalcemia, devido à estimulação direta do centro da sede e a redução da capacidade dos rins em concentrar a urina. Podem resultar anorexia, vômito e constipação da redução da musculatura lisa gastrintestinal. Podem ocorrer depressão, tremores musculares e ataques convulsivos como manifestações neurológicas. Podem se desenvolver 25 arritmias cardíacas a partir dos efeitos diretos no miocárdio ou secundárias a mineralização cardíaca (CAROTHERS et al, 1998). TABELA 3 - AFECÇÕES ASSOCIADAS A HIPERCALCEMIA Afecções não-patológicas Lipemia Amostras séricas sem jejum Cães jovens em crescimento Erro laboratorial de manipulação inadequada da amostra Afecções Transitórias Hemoconcentração Hiperproteinemia Afecções Patológicas Hipercalcemia associada a malignidade Linfoma Adenocarcinoma das glândula apócrinas do saco anal Mieloma Múltiplo Tumores ósseos metastáticos Tumores variados (leucemia linfocítica, carcinoma mamário, fibrossarcoma, adenocarcinoma pancreático, tumor das células intersticiais testiculares, carcinoma pulmonar, carcinoma de células escamosas, adenocarcinoma tireóideo e osteossarcoma) Hipoadrenocorticismo Insuficiência Renal Hipervitaminose D Intoxicação por colecalciferol (rodenticida) Iatrogênica – suplementação dietética Plantas domésticas (Cestrus diurnum (jasmim diurno), Solanum Malacoxylon e Triestum flavescens) Doença granulomatosa - blastomicose Hiperparatireoidismo primário Lesões ósseas – septicemia e osteoporose de desuso Hipotermia severa Fonte: Distúrbios Paratireóideos e do Metabolismo do Cálcio – Clínica de Pequenos Animais Foram descritos dois mecanismos principais para a explicação da hipercalcemia associada à neoplasia. O primeiro deles, a hipercalcemia osteolítica local, resulta da invasão do osso ou da medula óssea por células malignas. A 26 hipercalcemia resulta de fatores de reabsorção óssea que atuam localmente, como o paratormônio (PTH) ectópico produzido pelo tumor, prostaglandinas (PGE1, PGE2), e fatores ativadores dos osteoclastos. Os tumores associados a hipercalcemia osteolítica local são o mieloma múltiplo, linfoma e neoplasia mamária. O mecanismo mais comum da hipercalcemia associada à neoplasia é a hipercalcemia humoral. Nesta forma da síndrome paraneoplásica, o tumor induz os fatores circulantes que estimulam a reabsorção óssea osteoclástica e, possivelmente, o aumento na reabsorção renal do cálcio. Os diagnósticos diferenciais que devem ser considerados quando um animal é apresentado devido a hipercalcemia são: erro laboratorial, erro de interpretação (cães jovens em crescimento), hiperproteinemia decorrente da desidratação, insuficiência renal aguda, intoxicação por vitamina D e cálcio, distúrbios granulomatosos, distúrbios ósseos não-neoplásicos, hipoadrenocorticismo e hiperparatireoidismo primário. As alterações no funcionamento renal são as manifestações clínicas mais comuns da hipercalcemia causada pela afecção maligna. O primeiro sinal é a incapacidade de concentração da urina. Há uma redução na sensibilidade dos túbulos contornados distais e ductos coletores ao hormônio antidiurético (ADH). As propriedades vasoconstritoras do cálcio diminuem o fluxo sanguíneo renal e a velocidade de filtração renal. O epitélio sofre alterações degenerativas, necrose e calcificação. A afecção renal progressiva manifesta-se clinicamente com poliúria, polidipsia, vômito, hipostenúria e desidratação. O cálcio também pode afetar diretamente os sistemas gastrintestinal, cardiovascular e neurológico, causando anorexia, vômito, constipação, bradicardia, hipertensão, astenia da musculatura esquelética, depressão, coma e convulsões. O diagnóstico da causa de hipercalcemia pode ser difícil. Os achados laboratoriais associados freqüentes são: elevação do nitrogênio sérico derivado da uréia, normo ou hipofosfatemia, hipercalciúria, hiperfosfatúria, hipernatúria e redução da velocidade da filtração glomerular. 27 5.1.1 Tratamento O tratamento mais importante para a hipercalcemia da neoplasia é a identificação e, especificamente, eliminação do tumor. Nos casos de linfoma, a administração prematura de glicocorticóides ou de qualquer outro agente anticâncer pode interferir com a identificação da fonte da anormalidade dificultando que o clínico e o patologista obtenham diagnóstico citológico ou histopatológico claro durante semanas a meses. A hipercalcemia resultante da moléstia neoplásica é tratada mediante o uso apropriado da cirurgia, quimioterapia, radioterapia e modificadores da resposta biológica. A decisão de tratar especificamente a hipercalcemia depende da sua gravidade e da gravidade dos sinais clínicos. Para as elevações leves (12,5 mg/dl) em animais com sinais clínicos mínimos, freqüentemente a situação é controlada com hidratação adequada e monitoração periódica de cálcio, fósforo e creatinina até que seja identificada e eliminada a etiologia subjacente, ou até que a hipercalcemia e sinais clínicos subseqüentes progridam até um ponto que necessite de terapia adicional. Em casos de hipercalcemia moderada com sinais clínicos concomitantes, estará indicado o tratamento agressivo, com freqüência vinculado ao uso de solução salina intravenosa em volumes que excedem a manutenção diária (290 ml/kg/dia). Evitar a depleção de potássio, mediante o acréscimo de potássio a algum líquido, com base nos níveis séricos de potássio. Além disto, o paciente deve ser observado para sinais compatíveis com a hiper-hidratação e insuficiência cardíaca congestiva (ICC). A administração de NaCl 0,9% IV é eficaz na expansão do volume do líquido extracelular, aumento da velocidade de filtração glomerular, diminuição da reabsorção tubular renal de cálcio, epromoção da excreção de cálcio e sódio. A administração de furosemida, um diurético (2,2 a 8,8 mg/kg, BID, IV ou VO), em pacientes hipercalcêmicos bem hidratados inibe a reabsorção de cálcio ao nível da alça ascendente de Henle. A prednisona (1,1 a 2,2 mg/kg, BID, VO) é eficaz no tratamento porque inibe o fator ativador dos osteoclastos, prostaglandinas, vitamina D, e a absorção do cálcio através do trato intestinal. Este glicocorticóide é também citotóxico para algumas células tumorais. Portanto, o clínico deve cercar-se de precauções ao administrar prednisona, pois o medicamento pode obscurecer a extensão do tumor e, assim, pode adiar o diagnóstico de linfoma e protelar o tratamento apropriado. Outros tratamentos que podem ser considerado em casos 28 incomuns são: calcitonina, mitramicina, inibidores da prostaglandina sintetase, bifosfonatos, nitrato de gálio, e fosfato oral. Segundo OGILVIE (2003). com a calcitonina (8,8 a 17,6 unidades MRC/kg SC), sugere-se que o medicamento provoca redução rápida e dramática nos níveis de cálcio, que poderão permanecer baixos durante dias. Mitramicina também é eficaz (55 µg/kg IV), uma a duas vezes por semana. Difosfonatos são eficazes para o controle a longo prazo da hipercalcemia crônica em seres humanos. Ao contrário dos fosfatos que ligam o cálcio no trato gastrintestinal, os bifosfonatos ligam-se a hidroxiapatita no osso, e inibem a dissolução dos cristais. Finalmente, o nitrato de gálio foi aprovado recentemente para o tratamento da hipercalcemia em seres humanos; aparentemente este agente inibe a reabsorção óssea, mediante a adsorção e redução da solubilidade dos cristais de hidroxiapatita (Tabela 4). TABELA 4 - TRATAMENTO DA HIPERCALCEMIA Tratamento Dose Indicações Comentários Expansores de Volume Solução salina a 0,9%* SC 75 – 100 ml/kg/SID Hipercalcemia suave Contra-indicado no caso se encontre presente edema periférico Solução salina a 0,9%* IV 100 – 125 ml/kg/SID Hipercalcemia moderada a severa Contra-indicado no caso de insuficiência cardíaca congestiva e hipertensão Diuréticos Furosemida 2 – 4 mg/kg, cada 12h até cada 8h, IV, SC ou VO Hipercalcemia moderada a severa Necessária a expansão de volume antes do uso dessa droga Agente Alcalinizante Bicarbonato de sódio 1 mEq/kg, volume lento; pode-se continuar a 0,3 x déficit básico x kg por dia Hipercalcemia severa Requer monitoração próxima Glicocorticóides Prednisona 1 – 2,2 mg/kg, BID, VO, SC ou IV Hipercalcemia moderada a severa Não utilize essas drogas antes da identificação de etiologia 29 Continuação: TABELA 4: TRATAMENTO DA HIPERCALCEMIA Dexametasona 0,1 a 0,22 mg/kg, BID, IV ou SC Hipercalcemia moderada a severa Essas drogas podem tornar o diagnóstico definitivo difícil Inibidores da Reabsorção Óssea Calcitonina 4 – 6 UI/kg, SC, cada 12h até cada 8h Intoxicação por hipervitaminose D A resposta pode ser de curta duração; pode ocorrer vômito Difosfonatos, EHDP 5 mg/kg, diariamente, BID Hipercalcemia moderada a severa Caro; o uso nos cães é limitado Mitramicina 25 µg/kg, EV em D5A, por 2 - 4h, cada 2 - 4 semanas Hipercalcemia refratária severa Uso limitado nos cães e gatos; nefrotoxicidade e hepatoxicidade Vários EDTA 25 - 75 mg/kg/h Hipercalcemia refratária severa Nefrotóxica Diálise peritoneal Dialisado de cálcio baixo Hipercalcemia refratária severa Duração de resposta curta; não se descreve o uso em hipercalcemia *Torna-se necessária suplementação com potássio. Acrescente 5 a 40 mEq de KCl/l, dependendo da concentração sérica de potássio. Fonte: Distúrbios Paratireóideos e do Metabolismo do Cálcio. Clínica de Pequenos Animais 5.2 HIPOGLICEMIA O insulinoma é a neoplasia mais comum associada a hipoglicemia no cão. Muitos tumores, exceto os tumores das células das ilhotas, são fontes ectópicas de produção do hormônio. Estes tumores são o carcinoma hepatocelular, hepatoma, tumor plasmocitóide, linfoma, leiomiossarcoma, melanoma oral, hemangiossarcoma, e adenocarcinoma das glândulas salivares. Os possíveis mecanismos da hipoglicemia em casos de tumores extrapancreáticos são a secreção de substância similar à insulina, a utilização acelerada de glicose pelo tumor, e a não efetivação da gliconeogênese e/ou glicogenólise pelo fígado. Os diagnósticos diferenciais mais comuns de causas não-malignas de hipoglicemia são o hiperinsulinismo, disfunção hepática, insuficiência adrenocortical, hipopituitarismo, tumores extrapancreáticos, inanição, infecção, e erro laboratorial. 30 Os sinais clínicos associados a hipoglicemia, ocorrentes em animais de companhia, são geralmente observados quando a glicose sanguínea cai para valores inferiores a 45 mg/dl. Os sinais neurológicos predominam porque a reserva de carboidratos é limitada no tecido nervoso, e o funcionamento do cérebro depende de quantidade adequada de glicose. Os sinais neurológicos são: debilidade, desorientação, e convulsões, que podem progredir até convulsões, coma, e morte. A hipoglicemia é o estímulo potente para a liberação de catecolaminas, hormônio do crescimento, glicocorticóides, e glucagon. Estas substâncias compensam a hipoglicemia, ao promoverem a glicogenólise. Os tumores produtores de insulina são diagnosticados pela identificação de concentrações de insulina inadequadas (normais ou elevadas) em associação com baixas concentrações sanguíneas de glicose. A identificação da hipoglicemia associada à neoplasia em alguns casos pode depender da coleta periódica de amostrar durantes um jejum de 72 horas. O diagnóstico é firmado quando a glicemia está dramaticamente reduzida, mas com níveis de insulina elevados. 5.2.1 Tratamento Visto que muitos tumores indutores da hipoglicemia como síndrome paraneoplásica são malignos, a extirpação cirúrgica pode ser o tratamento de escolha. No caso de insulinomas, pode estar indicada a pancreatectomia parcial; a pancreatite e o diabete melito iatrogênicos são complicações reconhecidas. Freqüentemente o tratamento clínico se faz necessário antes, durante e depois da terapia definitiva, especialmente em casos de insulinomas, em que a taxa metastática é elevada. Prednisona (1,1 a 4,4 mg/kg, BID, VO) é freqüentemente eficaz para a elevação dos níveis glicêmicos, por induzir a gliconeogênese hepática e por diminuir a utilização periférica da glicose. Diazóxido (22 a 88 mg/kg, BID, VO) pode ser efetivo para a elevação dos níveis glicêmicos, mediante a inibição direta da secreção de insulina pancreática e da absorção da glicose pelos tecidos, incrementando a glicogenólise induzida pela epinefrina, e aumentando a velocidade de mobilização dos ácidos graxos livres. Os efeitos hiperglicêmicos do diazóxido podem ser potencializados pela administração concomitante de hidroclorotiazida (4,4 a 8,8 mg/kg, diariamente VO). Propranolol (22 a 88 mg/kg, TID, VO), um agente 31 bloqueador β-adrenérgico, pode também ser efetivo no aumento dos níveis glicêmicos, mediante os seguintes mecanismos: bloqueio da liberação da insulina, bloqueio dos receptores β-adrenérgicos a nível das células beta pancreáticas, inibição da liberação de insulina mediante a estabilização das membranas, e alteração da afinidade dos receptores periféricos da insulina. 5.3 ERITROCITOSE A eritrocitose secundária à neoplasia resulta do aumento na produção de eritropoetina, ou ocorre secundariamente, devido a hipoxia induzida pelo tumor, que subseqüentemente deflagra a produção de eritropoetina. A eritropoetina é normalmente produzida pelos rins em cães e gatos, e pelos corpos carotídeos dos gatos; assim, não surpreende que tumores renais tenham sidoassociados a eritrocitose. Os seguintes tumores induzem infrequentemente o aumento patológico na massa eritrocitária sanguínea, por meios diretos ou indiretos: tumores celulares renais, linfoma e tumores hepáticos. Quando a eritrocitose é secundária a concentrações elevadas de eritropoetina, podem ser responsáveis quatro mecanismos possíveis: 1. Produção tumoral de eritropoetina; 2. Indução da hipoxia por efeito da massa tumoral, quando uma obstrução vascular ou hipoxia subseqüentemente induz o aumento na eritropoetina; 3. Elaboração de fator induzido pelo tumor, que estimula a liberação de eritropoetina; 4. Alteração, induzida pelo tumor, no metabolismo da eritropoetina. Outras causas de eritrocitose são: desidratação, distúrbios pulmonares e cardíacos, desvios venoarteriais, moléstia de Cushing, administração crônica de esteróides adrenocorticais e policitemia Vera. A policitemia Vera é distúrbio mieloproliferativo que resulta da proliferação clonal de precursores eritrocitários. A eritrocitose de origem paraneoplásica pode ser diferenciada da policitemia Vera pela ausência de pancitose ou esplenomegalia, e da policitemia secundária pela não ocorrência de saturação de oxigênio arterial. 32 5.3.1 Tratamento A remoção cirúrgica do tumor produtor de eritropoetina ou do tumor indutor de hipoxia regional ou sistêmica é o tratamento de escolha. Flebotomias podem, temporariamente, reduzir a massa eritrocitária no sangue. Hidroxiuréia, em agente quimioterápico (88 a 110 mg/kg, BID, VO) pode ser utilizada na indução da supressão reversível da medula óssea, mediante a inibição da síntese de DNA, sem que ocorra a inibição do RNA síntese de proteína. 5.4 ANEMIA Esta síndrome paraneoplásica pode ser causada pela anemia da moléstia crônica, invasão da medula óssea por células tumorais, perda de sangue, supressão da medula pela quimioterapia, hiperesplenismo, afecção imunomediada, anemia megaloblástica, deficiência de vitaminas e ferro, anemia hemolítica microangiopática e aplasia exclusivamente eritrocitária (Figura 18). Na maioria dos pacientes, não é detectada uma causa nítida de anemia, sendo firmado o diagnóstico de “anemia de moléstia crônica”. A anemia de moléstia crônica é observada geralmente em animais com tumores metastáticos ou disseminados, e é a causada por período reduzida de vida dos eritrócitos, distúrbio no metabolismo do ferro, depressão da resposta da medula óssea e armazenamento desordenado do ferro. O tratamento visa à eliminação do problema neoplásico. 33 FIGURA 18 - DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Fonte: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C.Síndromes Paraneoplásicas – Cap 77, v. 1. p. 737. 5.5 FEBRE A febre é complicação comum do tratamento do câncer e, em muitos casos, a pirexia se deve à infecção. Comumente a febre associada ao tumor é definida como febre inexplicada que coincide com o crescimento ou eliminação de um tumor. As febres induzidas por tumor podem ser decorrentes da liberação de pirógenos pelas células tumorais, leucócitos normais, ou outras células normais. Estes pirógenos elaborados por tumores podem atuar sobre o hipotálamo, para a variação da regulagem da temperatura corporal. Embora a incidência de febre associada ao câncer seja desconhecida em animais, poderá ser verificado que a febre de origem desconhecida é causada pelo câncer em até 40% das pessoas. 5.5.1 Tratamento A febre diretamente relacionada à moléstia maligna pode ser tratada sintomaticamente com antipiréticos ou medicamentos antiinflamatórios não- esteróides (AINEs). A resolução do distúrbio maligno subjacente comumente resulta no desaparecimento da febre. 34 6 TRATAMENTO Uma vez estabelecido o diagnóstico citológico ou histopatológico de linfoma, o prognóstico e as opções terapêuticas em potencial devem ser discutidos com o proprietário do animal (MacEWEN et al, 2001). As taxas de remissão nos gatos e cães com linfoma tratados com vários protocolos quimioterápicos são de aproximadamente 65% a 75% e 80% a 90%, respectivamente. A maioria dos felinos com linfoma tratados com protocolos quimioterápicos com múltiplos agentes tem expectativa de vida de seis a nove meses; aproximadamente 20% dos gatos vivem por mais de um ano. A maioria dos caninos tratados de forma semelhante vive por mais de 12 a 16 meses; aproximadamente 20% a 30% dos cães continuam vivos dois anos após o diagnóstico. A taxa de sobrevida aproximada nos cães e gatos com linfoma não-tratados é de quatro a oito semanas. Provavelmente, a razão mais importante pela qual a taxa de sobrevida é mais curta nos felinos que nos caninos com linfoma, é que a remissão parece difícil de ser reinduzida, uma vez ocorrendo à infecção pelo FeLV é um fator prognóstico negativo nos gatos com linfoma. Segundo COUTO (2006), mesmo que o paciente apresente um linfoma nodal ou extranodal no estádio I no momento da apresentação, a disseminação sistêmica da doença geralmente ocorre semanas a meses após o diagnóstico. Portanto, dado o fato de que os linfomas são neoplasias sistêmicas, a base do tratamento para animais com linfoma é a quimioterapia. O tratamento dos cães e gatos com linfoma é dividido em diversas fases ou estratégias: indução da remissão, intensificação, manutenção e reindução da remissão ou “resgate” (Tabela 5 e 6). A maioria dos protocolos utiliza diferentes combinações com os seguintes fármacos: vincristina1, ciclosfosfamida2, doxorrubicina3, prednisona4, L-asparginase5, clorambucil6, actinomicina D7, 1 Oncovin (H), Vincasar. 2 Cytosan (V), Genuxal (H), Neosar (V). 3 Adriamyan (V), Adriblastina (H). 4 Deltasone (V), Meticorten (H). 5 Elspar (H), Kidrolase (V). 6 Leukeran (H). 35 citarabina8, metotrexato9 e mitoxantrona10. A manipulação e a administração devem respeitar medidas de segurança para o animal, para o proprietário e para o clínico (MacEWEN et al, 2001). TABELA 5 - PROTOCOLO PARA O LINFOMA EM CÃES: CICLO INICIAL DE OITO TRATAMENTOS 1ª Semana: L-asparaginase 10.000 UI/m² IM Vincristina 0,6 mg/m² IV Prednisona 2,0 mg/kg VO q24h 2ª Semana: Ciclofosfamida 200 mg/m² IV Prednisona 1,5 mg/kg VO q24h 3ª Semana: Vincristina 0,6 mg/m² IV Prednisona 1,0 mg/kg VO q24h 4ª Semana: Doxorrubicina 30 mg/m² IV Prednisona 0,5 mg/kg VO q24h 6ª Semana: Vincristina 0,6 mg/m² IV 7ª Semana: Ciclofosfamida 200 mg/m² IV 8ª Semana: Vincristina 0,6 mg/m² IV 9ª Semana: Doxorrubicina 30 mg/m² IV Fonte: BIRCHARD e SHERDING, Clínica de Pequenos Animais, 1998 7 Cosmegen (H). 8 Cytasar (V), Cytasar-U (V), Alexan (H). 9 Methotrexate (H), Folex, Mexate. 10 Novantrone (H). 36 TABELA 6 - PROTOCOLO PARA LINFOMA EM GATOS: CICLO INICIAL DE OITO TRATAMENTOS 1ª Semana: L-asparaginase 10.000 UI/m² IM Vincristina 0,7 mg/m² IV Prednisona 2,0 mg/kg VO q24h 2ª Semana: Ciclofosfamida 200 mg/m² IV Prednisona 2,0 mg/kg VO q24h 3ª Semana: Vincristina 0,7 mg/m² IV Prednisona 2,0 mg/kg PO q24h 4ª Semana: Doxorrubicina 20 mg/m² IV Prednisona 2,0 mg/kg VO q24h 6ª Semana: Vincristina 0,7 mg/m² IV Prednisona 2,0 mg/kg VO q24h 7ª Semana: Ciclofosfamida 200 mg/m² IV Prednisona 2,0 mg/kg VO q24h 8ª Semana: Vincristina 0,7 mg/m² IV Prednisona 2,0 mg/kgVO q24h 9ª Semana: Metotrexato 10-15 mg/m² IV Prednisona 2,0 mg/kg VO q24h *No segundo e terceiro ciclos, com início na 11ª semana, não será administrada asparaginase. Os tratamentos são aplicados a intervalos de duas semanas no segundo ciclo e de três semanas no terceiro ciclo. Fonte: Fonte: BIRCHARD e SHERDING, Clínica de Pequenos Animais, 1998 Após o diagnóstico, um protocolo quimioterápico de múltiplos agentes, relativamente agressivo (ciclofosfamida, vincristina, citosina arabinosida, prednisona – COAP) é usado para induzir a remissão. Durante essa fase, que dura de 6 a 8 semanas, os animais são avaliados semanalmente, recebem injeções intravenosas (IV) de um agente antimiótico (vincristina) e sã submetidos a exames físicos de rotina com ou sem hemograma. Se ao término dessa fase o paciente for considerado em remissão completa, ou seja, todas as massas neoplásicas desapareceram completamente, é iniciada a fase de manutenção. Durante essa 37 fase, protocolo quimioterápico consiste em três drogas (clorambucil, metotrexato, prednisona – LMP) e é administrado oralmente, de maneira que o animal não requer monitoração intensiva (uma vez a cada seis a oito semanas). Segunda a experiência de COUTO (2006), a quimioterapia de manutenção é necessária quando os protocolos utilizados são baseados em COP. A reindução continua até ocorrer à recidiva tumoral, e nesse momento inicia- se a fase de reindução. Essa fase é semelhante à fase de indução, e são utilizados tratamentos intensivos. Uma vez a remissão seja obtida, o paciente é submetido novamente a um protocolo de manutenção modificado. Se no fim da fase de indução o paciente não estiver em remissão completa, é recomendada a intensificação com L-asparaginase antes de se iniciar a fase de manutenção. 6.1 INDUÇÃO DA REMISSÃO Os agentes deste protocolo consistem em ciclofosfamida, vincristina, citosina arabinosídeo e prednisona. Essas drogas pertencem a quatro diferentes categorias, possuem diferentes mecanismos de ação e não apresentam toxicidade por sobreposição com exceção da ciclofosfamida e citosina arabinosida, que são mielossupressoras; (mas a última é usada apenas por um curto período). A citosina arabinosida é geralmente administrada pela via SC, pois, dada a sua meia-vida curta e o seu mecanismo de ação específico para a fase S, uma injeção IV resulta em morte celular mínima; a administração SC dessa droga é dolorosa nos gatos e em alguns cães. A infusão IV do agente também está associada a mielossupressão. A fase de indução dura de 6 a 8 semanas e são necessárias visitas semanais. Durante a fase de indução, a toxicidade é mínima (< 15% a < 20%) e a adesão do cliente é alta, porque a maioria dos sinais tóxicos está relacionada à hematologia (citopenias) e geralmente não resulta em sinais clínicos visíveis pelos proprietários. A dose limitante da toxicidade do protocolo de indução é hematológica mielossupressão levando a neutropenia; o nadir neutrofílico geralmente ocorre no 7º ou 8º dia, o que é explicado pelo fato de dois agentes mielossupressores serem administrados nos dias 2 e 4 iniciais do tratamento. Na maioria dos casos a neutropenia é discreta (2.000 a 3.500 células/µl). A neutropenia é grave se o animal 38 apresentar infiltrados neoplásicos na medula óssea anteriores ao início do tratamento, mielodisplasia associada ao FeLV ou FIV; distúrbios da medula óssea associados a outros retrovírus ou receberam citosina arabinosídeo em taxas constantes por infusão IV, em vez de pela via SC. A toxicidade gastrintestinal é mínima ou ausente; no entanto, os gatos em tratamento com ciclofosfamida ocasionalmente apresentam anorexia. Conseqüentemente, deve-se administrar essa droga uma vez a cada três semana nos gatos e em dias alternados nos cães. Se ocorrer anorexia, é indicado o tratamento com ciproeptadina, um composto anti-serotonina, na dosagem de 1 a 2 mg por gato VO a cada 8 a 12 horas. A perda de pêlos também é mínima e ocorre primariamente em cães com pelagem lanosa (Poodle, Bichon Frise). Durante essa fase, os proprietários são instruídos a monitorar o apetite e as atividades de seus animais, examinar os linfonodos e a medir a temperatura retal do animal diariamente. Se ocorrer pirexia, os proprietários são instruídos a entrar em contato para que o animal seja submetido a um exame completo e hemograma. O tratamento com COAP resulta na remissão completa dentro de 1 a 14 dias a partir do início da terapia na maioria dos pacientes (> 85% nos cães, > 70% a > 75% nos gatos). A remissão geralmente é mantida durante a fase de indução. Nos cães com linfoma alimentar difuso e naqueles com micoses fungóides ou linfoma mucocutâneo, segunda a experiência de COUTO, 2006, um protocolo mais agressivo contendo doxorrubicina (CHOP; Tabela 7), quando comparado ao protocolo COAP, é mais dispendioso e apresenta mais probabilidade de causar efeitos adversos. 6.2 MANUTENÇÃO O protocolo recomendado para a fase de manutenção do tratamento é o LMP, que consiste em clorambucil, metotrexato e prednisona (Tabela 7). Essas três drogas também atuam por três diferentes mecanismos de ação, apresentam toxicidades diferentes e têm suas eficácias comprovadas como agentes únicos nos cães e gatos com linfoma. As vantagens deste protocolo incluem seu custo reduzido; 39 ser de fácil administração; apresentar toxicidade mínima; e ser desnecessária a monitoração intensiva. As toxicidades associadas à quimioterapia de manutenção LMP são mínimas. Das três drogas, o metotrexato é o único associado à toxicidade moderada a grave. Os sinais do trato gastrintestinal consistem em anorexia, vômitos ou diarréia e desenvolvem-se em aproximadamente 25% dos cães e gatos em tratamento com metotrexato. A anorexia e o vômito são mais comuns do que a diarréia e geralmente ocorrem após o paciente ter recebido a droga por mais de duas semanas. Nesses casos, nos dias em que o animal é tratado com metotrexato, a administração de um antiemético, como metoclopramida, na dosagem de 0,1 a 0,3 mg/kg VO a cada 8 horas, diminui ou elimina os sinais do trato gastrintestinal superior. Nos casos de diarréia associada ao metotrexato, o tratamento com um produto contendo subsalicilato de bismuto pode também diminuir ou eliminar os sinais. No entanto, pode ser necessária a descontinuação do tratamento coma droga. A toxicidade hematológica associada à terapia LMP é mínima ou ausente. As anormalidades bioquímicas séricas consistentes com colestase, que se resolvem com a descontinuação da droga, podem evoluir em uma pequena parcela de gatos recebendo clorambucil por semanas a meses. Durante essa fase, o paciente é examinado a cada seis a oito semanas e é submetido a exame físico completo, com a realização de hemograma. Assim como nos protocolos de indução, os proprietários são instruídos a monitorar atividade, apetite, comportamento, temperatura retal e tamanho dos linfonodos nos seus animais. 6.3 REINDUÇÃO DA REMISSÃO OU RESGATE Cão e gato com linfoma, tratado com quimioterapia de manutenção, apresentam recidiva, que ocorre geralmente seis a oito meses após o início da terapia de indução, mas pode ocorrer dentro de semanas após o início da fase de manutenção ou anos após ter sido feito o diagnóstico original. Nesse momento, é indicada a reindução da remissão. A remissão pode ser induzida de uma a quatro 40 vezes adicionais na maioria dos cães com linfoma recidivante. A reindução da remissão geralmente não é tão bem-sucedida nos gatos como nos cães. 6.4 INTENSIFICAÇÃO Se o cão submetido ao protocolo de indução ocorrer apenas uma remissão parcial, pode-se indicar a intensificação com uma ou duas doses de L-asparaginase (10.000 a 20.000 UI/m² IM repetidos emintervalos de duas a três semanas). Essa droga pode rapidamente induzir a remissão completa na maioria dos cães com linfoma que apresentaram somente remissão parcial enquanto tratados com a COAP. A asparaginase não deve ser usada com histórico de pancreatite ou naqueles que estão em alto risco de sofrer pancreatite aguda. A L-asparaginase parece ser menos eficaz nos felinos. A doxorrubicina (1 mg/kg IV a cada 3 semanas) ou a mitoxantrona (4 a 6 mg/m² IV a cada 3 semanas) podem ser usadas como agentes intensificadores nos felinos. 6.5 PROCOLOS “BARATOS” Muito freqüentemente, o clínico avalia um cão ou um gato com linfoma que deve ser tratado com quimioterapia, mas por motivos financeiros ou outros (i.e. tempo de comprometimento), os proprietários não se interessam pela abordagem de quimioterapia padrão com múltiplos agentes. A maioria desses pacientes é assintomática, entretanto, alguma modalidade de tratamento deve ser adotado. COUTO (2006), us somente prednisona, prednisona e clorambucil, somente clorambucil, somente lomustina11 ou prednisona e lomustina com sucesso nos pacientes. Embora a duração da remissão seja mais curta do que quando usa protocolos baseados em COP, a maioria desses pacientes e seus proprietários desfruta de uma sobrevida prolongada (i.e. meses) e de boa qualidade. 11 Citostal (H) 41 TABELA 7 - PROTOCOLOS QUIMIOTERÁPICOS USADOS NO TRATAMENTO DOS CANINOS E FELINOS* COM LINFOMA NA OHIO STATE UNIVERSITY VETERINARY TEACHING HOSPITAL 1. Indução da Remissão Protocolo COAP† Ciclofosfamida:50 mg/m² VO, q48h, nos cães ou 200-300 mg/m² VO, a cada 3 semanas nos gatos Vincristina: 0,5 mg/m² IV semanalmente Citosina arabinosida: 100 mg/m² diariamente por gotejamento IV ou SC por somente 2 dias nos gatos e 4 dias nos cães Prednisona: 50 mg/m² VO, q24h, por uma semana e depois 20 mg/m² VO, q48h 2. Intensificação Caninos L-asparaginase: 10.000-20.000 UI/m² IM (uma ou duas doses) ou Vincristina: 0,5-0,75 mg/m² IV a cada 1-2 semanas Felinos Doxorrubicina: 1 mg/kg IV a cada 3 semanas ou Mitoxantrona: 4-6 mg/m² IV a cada 3 semanas 3. Manutenção‡ Protocolo LMP Clorambucil: 20 mg/m² VO a cada 2 semanas Metotrexato: 2,5 mg/m² VO 2 ou 3 vezes por semana Prednisona: 20 mg/m² VO q48h Protocolo COAP Aplicar da mesma forma acima em semanas alternadas por seis tratamentos, depois a cada 3 semanas por seis tratamentos adicionais, depois tentar manter o animal em tratamento a cada 4 semanas. A terapia de manutenção é continuada até ocorrer recidiva do tumor. 4. Resgate 4. Resgate – cont’d Cães – cont’d Protocolo ADIC (o ciclo é repetido a cada 21 dias) Doxorrubicina: 30 mg/m² (ou 1 mg/kg para cães com menos de 10 kg) IV no dia 1 Dacarbazina13: 700-1.000 mg/m² por infusão IV (por mais de 6-8 horas) no dia 1 Protocolo CHOP (ciclo de 21 dias) Ciclofosfamida: 200-300 mg/m² VO no dia 10 Doxorrubicina: 30 mg/m² (ou 1 mg/kg para cães com menos de 10 kg) IV no dia 1 Vincristina: 0,75 mg/m² IV nos dias 8 e 15 Prednisona: 20-25 mg/m² VO q48h Gatos Protocolo MiC (ciclo de 21 dias) Mitoxantrona: 4-6 mg/m² por gotejamento IV por mais de 4-6 horas no dia 1 Ciclofosfamida: 200-300 mg/m² VO nos dias 10 ou 11 Protocolo AC (ciclo de 21 dias) Doxorrubicina: 1 mg/kg no dia 1 Ciclofosfamida: 200-300 mg/m² VO nos dias 10 ou 11 Protocolo MiCA (ciclo de 21 dias) Mitoxantrona: 4-6 mg/m² por gotejamento IV por mais de 4-6 horas no dia 1 Ciclofosfamida: 200-300 mg/m² VO nos dias 10 ou 11 Citosina arabinosídeo: 200 mg/m² por gotejamento IV por mais de 4-6 horas (misturada no mesmo recipiente com mitoxantrona) no dia 1 Protocolo CHOP (ciclo de 21 dias) 12 Alkeran 13 Asercit (H) 43 Caninos Protocolo D-MAC (ciclo de 14 dias) Dexametasona: 0,23 mg/kg VO ou SC nos dias 1 e 8 Actinomicina D: 0,75 mg/m² em bolus IV no dia 1 Citosina arabinosida: 200-300 mg/m² por gotejamento IV por mais de 4 horas ou SC no dia 1 Melfalan12: 20 mg/m² VO no dia 8§ Protocolo AC (ciclo de 21 dias) Doxorrubicina: 30 mg/m² (ou 1 mg/kg para cães com menos de 10 kg) IV no dia 1 Ciclofosfamida: 100-150 mg/m² VO nos dias 15 e 16 Ciclofosfamida: 200-300 mg/m² VO no dia 10 Doxorrubicina: 1 mg/kg IV no dia 1 Vincristina: 0,5 mg/m² IV nos dias 8 e 15 Prednisona: 20-25 mg/m² VO q48h 5. Protocolos “Baratos” Prednisona: 50 mg/m² VO q24h por 1 semana; em seguida, 25 mg/m² VO q48h Clorambucil: 20 mg/m² VO a cada duas semanas Lomustina: 60-90 mg/m² VO a cada 3 semanas nos cães; 10 mg (dose total) a cada 3 semanas nos gatos Prednisona e clorambucil: mesmas doses acima Prednisona e lomustina: mesmas doses acima *Os protocolos podem ser usados tanto para caninos quanto para felinos, a menos que haja outra especificação. †Empregar por 6-10 semanas e depois empregar LMP. ‡Empregar até ocorrer recidiva, depois passar para o “resgate”. §Após quatro doses, substituir clorambucil (20 mg/m² VO a cada duas semanas) por melfalan. Fonte: NELSON e COUTO. Medicina Interna de Pequenos Animais, 2006 44 7 PROTOCOLOS QUIMIOTERÁPICOS PARA LINFOMA EM CÃES (RODASKI e DE NARDI, 2006) 7.1 DOXORRUBICINA Posologia: Doxorrubicina: 30 mg/m² IV, administrada durante 30 minutos. Esquema para administração: Dia Doxorrubicina 1° X 21° Repetir a aplicação de doxorrubicina e continua r a administração a cada três semanas, num total de seis sessões. Observações: Esse protocolo não é indicado para cães com evidência de cardiomiopatias. Proceder à avaliação cardíaca (auscultação cardíaca, eletrocardiograma e ecocardiografia previamente à primeira aplicação e às sessões subseqüentes), além dos exames hematimétricos incluindo a contagem de plaquetas. Variações do protocolo: - 30 mg/m² IV, para cães com mais de 10 kg e 1 mg/kg IV, para cães com menos de 10 kg; - previamente à administração de doxorrubicina, aplicar 1 mg/kg IM de cloridrato de difenidramina; - perfazer um total de quatro a seis sessões. 45 7.2 DOXORRUBICINA, VINCRISTINA E CICLOFOSFAMIDA Posologia: Doxorrubicina: 30 mg/m² IV, para cães com mais de 10 kg; 1 mg/kg IV, para cães com menos de 10 kg. Vincristina: 0,5 a 0,75 mg/m² IV Ciclofosfamida: 200 mg/m² VO ou IV Cloridrato de difenidramina14: 1 mg/kg IM Esquema para administração: Dia Doxorrubicina Ciclofosfamida Vincristina 1º x x 15º X 21º Repetir todo o ciclo num total de três a seis vezes. Observações: Aplicar doxorrubicina após prévio tratamento com difenidramina. Protocolo contra-indicado para cães com insuficiência cardíaca. Avaliar as condições cardíacas através da história, exame semiológico, eletrocardiograma e ecocardiografia, previamente e após cada ciclo. Proceder à contagem de células sanguíneas e de plaquetas antes de cada administração de quimioterápicos. 14 Benadryl 46 7.3 CICLOOFOSFAMIDA, VINCRISTINA E PREDNISONA (COP I) Posologia:Ciclofosfamida: 300 mg/m² VO, semanalmente Vincristina: 0,75 mg/m² IV, semanalmente Prednisona: 1 mg/kg VO, a cada 24h ou a cada 48h Esquema para administração: Semana Vincristina Ciclofosfamida Prednisona 1ª X X X (a cada 24h) 2ª e 3ª X X (a cada 48h) 4ª X X X (a cada 48h) A partir da 4ª semana repetir os quimioterápicos da 1ª semana a cada 21 dias. Manter
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