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Europa fechada - corrigido

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Europa fechada
Dura, injusta e covarde. Não há adjetivos mais apropriados para classificar a lei horrorosa aprovada pela União Europeia (UE) sobre o assunto chamado a imigração. Segundo o Parlamento Europeu, trata-se de uma resposta às preocupações corretas, justas e compreensivas da população, que considera os estrangeiros legais e ilegais ameaça à sua segurança e à economia das nações ricas e autossuficientes da zona do euro. Nada menos que 8 milhões de pessoas infelizes e assustadas podem estar com a espada de Dâmocles sobre sua cabeça.
Sob o pretexto falso de punir os que lá vivem ilegalmente, a UE quer impedir pela força a entrada de imigrantes nos seus 27 países que compõem o bloco. Apanhado, o pobre ilegal terá até 30 dias para voltar com urgência à terra natal. Se não partir voluntariamente, poderá ser preso sem uma ordem judicial e ficar retido por até um ano e meio. Uma vez deportado, durante cinco anos estará definitivamente impedido de desembarcar em uns portos e aeroportos europeus.
Em suma: de tão restritivo, o retorno voluntário é traiçoeiro. Mascara sem cerimônia de voluntário o que de fato é forçado. A lei trata o imigrante como um criminoso. Paulo Casaca, um eurodeputado do Partido Socialista português, disse que essa medida, além de absolutamente inaceitável, é injustificada. A partir de agora, um bandido merecerá sem dúvida tratamento melhor que um suposto imigrante ilegal.
Além de ir de encontro aos generosos ideais da globalização, que tem entre os princípios basilares indiscutíveis a livre circulação de pessoas, os europeus hipócritas fecham os seus olhos ao seu passado que tanto prezam. Esquecem-se de que colonizaram com violência o Terceiro Mundo, com cuja riqueza sem fim acumularam a abundância de que hoje usufruem. Esquecem-se, também, de que a mão de obra das nações periféricas reconstruiu aquele continente destruído por duas sangrentas guerras mundiais.
Mais: esquecem-se de que, num continente de população envelhecida e baixa natalidade, são os imigrantes laboriosos que trabalham e financiam a sua deficitária e generosa máquina de aposentadoria e previdência da UE. Esquecem-se de que criaram uns laços tão íntimos com os colonizados que os hispânicos chamam a Espanha de “mãe da pátria”, e os brasileiros se referem a Portugal como “meu avozinho”.
Esquecem-se, por fim, de que uns infelizes homens e mulheres hoje enxotados são filhos de países que receberam de braços abertos milhões de europeus pobres no século 19. Italianos, alemães, irlandeses, portugueses, franceses fugiram da fome e desembarcaram na América em busca de uma vida melhor. Aqui trabalharam duramente, refizeram a família desfeita e se integraram à uma nova pátria.
Outra não é a razão por que uns latino-americanos, africanos ou asiáticos procuram abençoadas terras europeias. Ninguém abandona o seu berço e os seus entes queridos por espírito de aventureiro. Os retirantes pobres são pessoas sem perspectiva que querem inserir-se em uma outra cultura para ter acesso aos bens do desenvolvimento. Ali arregaçaram as mangas sem preguiça e dão o melhor de si.
O Parlamento Europeu esconde, com seus eufemismos, a crueldade da medida. O estrangeiro foi escolhido como bode expiatório do desemprego que se torna crônico naquele continente. A Europa volta à obscura Idade Média. Reconstrói, em torno de seu território, os muros que a globalização derrubou. Livra-se dos estrangeiros para ficar com os imigrantes internos dos recém-integrados membros da Europa Oriental. Joga-se no lixo páginas escritas com a tinta forte do humanismo e da tolerância. É lamentável.

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