Buscar

TANATOLOGIA ASPECTO LEGAIS DA MORTE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Introdução 
O direito à vida compreende um direito fundamental e supremo a 
ser tutelado pelo ordenamento jurídico. Pensado em face das 
questões polêmicas atuais, o direito à vida é analisado sob o viés do 
princípio da dignidade da pessoa humana. 
Discute-se a legitimidade da prática de eutanásia, distanásia e 
ortotanásia por meio da análise de questões polêmicas que 
permeiam essas formas de abreviação da vida, tratando-se de sua 
conceituação e das razões que motivam o paciente ou sua família a 
optar por antecipar sua morte, sob o enfoque doutrinário e os 
ensinamentos de grandes pensadores como Genival Veloso e Delton 
Croce. 
Explicitam-se, ainda, os conceitos de morte propostos pelo nosso 
ordenamento jurídico e pela doutrina, enfatizando a dificuldade em 
estabelecer um conceito seguro e eficiente da morte, mormente por 
se tratar de um processo complexo. Destaca-se o conceito de morte 
encefálica como pressuposto para análise da ortotanásia, sendo 
imprescindível a precisão do momento da morte, nos termos legais, 
para que se possa aceitar sua prática. 
Finalmente, passa-se à análise do direito à vida enquanto 
expressão da Bioética, ramo do conhecimento auxiliar às ciências 
biológicas e médicas, que enfrenta as novas questões postas pela 
sociedade e pelo direito, buscando soluções ou respostas, sob o 
enfoque da ética e moral. 
EUTANÁSIA, ORTOTONÁSIA, DISTANÁSIA E MISTANÁSIA 
DISTINÇÃO 
Eutanásia é a conduta de abreviar a morte, em virtude de 
compaixão, ante um paciente incurável, vítima de intensa dor física 
ou psíquica e com a iminente certeza de morte. 
Ortotanásia é a conduta de suspender o uso de medicamentos 
ou equipamentos que prolongam a vida de um paciente em coma 
irreversível e considerado em “morte encefálica”, vítima de grave 
comprometimento da coordenação da vida vegetativa e privado das 
relações sociais. 
Por último, distanásia é suspensão do tratamento insistente, 
desnecessário e prolongado de um paciente em estado terminal, nos 
dizeres de Genival Veloso: “que não apenas é insalvável, mas 
também submetido a tratamento fútil.” 
 
 Eutanásia 
A eutanásia corresponde à abreviação da vida do paciente em 
estado terminal e que sofre de intensa dor física ou psicológica. Note-
se que aquele que assiste a sua prática, fornecendo os meios para 
tanto, ou, ainda, induz ou instiga o paciente é considerado 
responsável, podendo ser considerado partícipe ou coautor do crime 
que vier a ser concretizado. 
A eutanásia é repudiada pelo nosso ordenamento jurídico, por 
exemplo, a Resolução CFM nº 1.480, de 8 de agosto de 2007 e o 
Código de Ética Médica. Outrossim, a própria Constituição Federal e 
legislação infraconstitucional vedam a prática da eutanásia, elevando 
a proteção da vida ao patamar de direito fundamental. 
Portanto, dúvidas não há quanto à ilegalidade de sua prática, de 
modo que, somente, resta a discussão do ponto de vista médico, 
ético e moral de sua viabilidade. 
A eutanásia perpassa pela análise de três elementos, a saber: 
paciente terminal, dor e “compaixão”. 
O paciente terminal é aquele que não tem perspectiva de cura, 
cuja moléstia o levará a óbito em um breve lapso de tempo. Ora, a 
medicina e demais ciências afetas à área tecnológica vêm 
demonstrando que, a cada dia, aquilo que era considerado incurável, 
quase uma barreira intransponível, tem solução. 
Com o desenvolvimento da ciência, descobrem-se caminhos 
que, se não solucionam, pelo menos prolongam o tempo de vida do 
paciente, por exemplo, os coquetéis antirretrovirais, de modo que se 
torna insubsistente a fundamentação da prática da eutanásia na 
impossibilidade de perspectiva de cura. 
O segundo elemento a ser analisado é a dor, pois esta implicará 
no terceiro elemento. 
Receio da morte é natural a todo ser humano, entretanto, em 
certos casos, o intenso sofrimento, quer seja psíquico ou físico, faz 
com que o homem perca esse medo, enxergando na morte uma 
solução. 
Inquestionável que a dor intensa deve ser combatida, todavia, 
ainda, assim não é justificativa hábil a permitir a prática da eutanásia, 
pois há outras soluções que não a morte. 
Nesse contexto, há o programa governamental federal que visa 
a implantar unidades de cuidado paliativo. Esse programa é 
destinado a pacientes em estado terminal e vem sendo 
gradativamente implantado em diversos estados da federação. 
O intuito do programa é amenizar a dor suportada por aqueles 
que têm de se submeter a tratamentos agressivos como o câncer, 
sem que isso signifique uma perspectiva de cura, apenas se almeja 
prolongar o tempo de sobrevida com maior qualidade. 
Sem o intuito de adentrar às polêmicas do programa como 
desestímulo à busca da cura definitiva para a moléstia, deve-se 
ressaltar que é um caminho viável para amenizar o problema, na 
medida em que, com a ausência ou diminuição do sofrimento físico 
ou psicológico, não haveria mais razão que fundamentasse a prática 
da eutanásia, preservando-se o direito à vida, bem jurídico supremo 
em nosso ordenamento jurídico. 
Nesse sentido, dignas de transcrição as palavras de Genival 
Veloso 
O sofrimento, por mais que comova, não pode 
constituir um meio seguro ou num termômetro para 
medir-se a gravidade de um mal, nem tampouco 
autoriza a decidir sobre questões de vida ou morte: 
não pode servir como recurso definitivo para aferir 
tão delicada questão. 
Por último, deve ser analisada a compaixão como combustível 
que alimenta a discussão quanto à legalização da prática da 
eutanásia. 
Retornando à discussão anterior, combatendo-se a dor, não 
haverá mais que se falar em sofrimento e, por conseguinte, 
compaixão. Ademais, este sentimento não pode ser elevado a ponto 
de prevalecer em face do direito à vida. 
Observe-se, ainda, que a opção por abreviar a vida não é 
possível nem ao próprio paciente, visto que a vida é bem inalienável 
e indisponível. Portanto, se nem ao paciente é dado consentir sobre 
a prática da eutanásia, quiçá à família deste. 
 Ressalte-se, ainda, que o ser humano é movido por sentimento 
e paixões, optando em situações de adversidades por caminhos que 
em sã consciência não trilharia. Aquele que angustiado com a morte 
iminente, prefere à morte rápida que viver com esse dilema. 
Ora, vive-se numa sociedade de risco, em que a morte é o preço 
que se paga por estar vivo. A cada instante morrem pessoas por todo 
o mundo. Esse é um fenômeno natural da vida, o ciclo biológico. 
A morte é certa para todos. A dúvida paira, apenas, no que 
concerne ao tempo. Em certos casos, aquele que sabe o tempo de 
vida que lhe resta, termina por aproveitar mais seu tempo, em 
detrimento daquele que se ocupa com seus afazeres do labor e 
“esquece da vida”. 
A questão seria então de tratar o a questão psicológica do 
paciente, informando-lhe e conscientizando-o do parco tempo que 
lhe resta, e não incentivar a prática da eutanásia em razão do 
sofrimento. 
 Ortotanásia 
 Conceito de morte 
Antes de adentrar ao tema propriamente dito, necessário que se 
façam breves comentários sobre o conceito de morte, pois a 
discussão perpetrada sobre a ortotanásia gira em torno do momento 
em que é possível afirmar que o sujeito está morto. 
Vive-se na era de “crise dos conceitos”, o conceito de morte não 
foge à regra. Nos dizeres de Delton Croce: “Assim como não se pode 
definir a vida, é teoricamente impossível conceituar a morte. Por isso, 
deveria bastar-nos procurar compreender e aceitar essa única e 
insofismável verdade.” 
Afirma Veloso que a dificuldade em definir a morte é porque ela 
não é um fato instantâneo, na verdade seria uma sequência de 
fenômenos gradativamente processados nos vários órgãos e 
sistemas de manutenção da vida, seria, pois, um processo, 
caracterizando sofisma definir o momento em que se deu.O doutrinador leciona ainda que: 
A morte, como elemento definidor do fim da 
pessoa, não pode ser explicada pela parada de um 
determinado órgão, por mais hierarquizado e 
indispensável que seja. É na extinção do complexo 
pessoal, representado por um conjunto, que não 
era constituído só de estruturas e funções, mas de 
uma representação global. O que morre é o 
conjunto que se associava para a integração de 
uma personalidade. 
Não obstante a complexidade do tema, a ciência é obrigada a 
trilhar caminhos em busca de respostas concretas, especialmente 
com o aumento dos números de transplantes, em que não é possível 
esperar por todos os sinais da morte como putrefação, maceração, 
dentre outros. Nesse contexto, há dois critérios utilizados para definir 
a morte, quais sejam, a circulatória e a cerebral. 
No que concerne ao critério circulatório, o intuito é definir a morte 
quando se verifica parada irreversível da circulação e da respiração 
– morte cardiorrespiratória. Ressalte-se que esse critério não 
desconstitui o que foi dito acima, apenas representa uma tentativa, 
diga-se por passagem, frustrada de definir o momento da morte. 
O conceito de morte cardiorrespiratória, por sua imprecisão, não 
é adotado. De fato, é forte o conceito de morte cerebral, sendo este 
o adotado no Brasil, a saber Resolução CFM nº 1.480, de 5 de agosto 
de 1997: 
Art. 9º Constatada e documentada a morte 
encefálica, deverá o Diretor Clínico da instituição 
hospitalar, ou quem for delegado, comunicar tal 
fato aos responsáveis legais do paciente, se 
houver, e à central de Notificação, Captação e 
Distribuição de Órgãos a que estiver vinculado a 
unidade hospitalar onde o mesmo se encontrava 
internado. 
Observe-se que o a Resolução utiliza expressão morte 
encefálica. Genival Veloso afirma que “a tendência é aceitar a “morte 
encefálica”, traduzida como aquela que compromete seriamente a 
vida de relação e coordenação da vida vegetativa, diferente, pois, da 
“morte cerebral” ou “morte cortical”, que compromete apenas a vida 
de relação.” 
O doutrinador propõe um padrão para definição baseado nos 
seguintes critérios 
1. Ausência total de resposta cerebral, com 
perda absoluta da consciência. Nos casos de 
coma irreversível, presença de uma 
eletroencefalograma plano (tendo cada registro a 
duração mínima de 30 minutos), separados por um 
intervalo nunca inferior a 24 horas. Esse dado não 
deve prevalecer para recém-nascidos ou em 
situações de hipotermia induzida artificialmente, 
de administração de drogas depressivas do 
sistema nervoso central, de encefalites e de 
distúrbios metabólicos ou endócrinos. 
2. Abolição dos reflexos cefálicos, como 
hipotonia muscular e pupilas fixas e indiferentes ao 
estímulo luminoso. 
3. Ausência da respiração espontânea por 5 
minutos, após hiperventilação com oxigênio 100%, 
seguida da introdução de um caráter na traqueia, 
com fluxo de 6 litros de O por minuto. 
4. Causa do coma conhecida. 
5. Estruturas vitais do encéfalo lesadas 
irreversivelmente. 
Os critérios propostos são de grande valia para a discussão sobre 
ortotanásia, pois a questão do coma irreversível é o ponto nevrálgico 
da questão, na medida em que caracterizada morte encefálica para 
os conceitos atuais, não haveria que se falar em desumanidade ou 
ilegalidade de sua prática. 
 Aspectos éticos 
A ortotanásia é conceituada como suspensão dos meios 
artificiais de manutenção da vida. Sua prática vem ganhando 
credibilidade perante a sociedade, pois com fundamento nos critérios 
acima expostos não haveria que se falar em abreviação da vida. 
Inicialmente, necessário que se diferencie quatro situações 
críticas que conduzem a dilemas éticos: pacientes em estado 
vegetativo continuado, pacientes em morte encefálica, pacientes 
terminais e pacientes em estado vegetativo permanente. 
Nos dizeres de Genival Veloso: “Paciente em estado vegetativo 
continuado ou persistente é aquele que apresenta lesões recentes 
do sistema nervoso central, com ou sem diagnóstico definido, mas 
que deve ter seus cuidados conduzidos nos moldes dos pacientes 
salváveis.” 
O paciente terminal é aquele cuja evolução de sua doença não 
responde mais a nenhuma medida terapêutica conhecida e aplicada, 
sem expectativas de cura ou de prolongamento da vida. 
Por sua vez, paciente em estado vegetativo permanente é aquele 
que não tem evidência de consciência, não se expressa e não 
entende os fatos em torno de si, sobrevivendo com respiração 
autônoma, por um longo tempo, necessitando de cuidados médicos. 
Por último, o paciente em coma aperceptivo apresenta ausência 
de atividade motora supraespinhal e apneia, além de 
comprovadamente não possuir atividade elétrica cerebral, ou 
atividade metabólica cerebral, ou ausência de perfusão sanguínea 
cerebral, caracterizando, portanto, morte encefálica. 
Na hipótese do paciente em coma aperceptivo, deve-se definir se 
o paciente se enquadra no conceito de morte encefálica, pois, em 
sendo o caso, não há que se falar em abreviação da vida, sendo 
plenamente válida a prática da ortotanásia por meio do desligamento 
dos aparelhos que artificialmente mantém as demais funções vitais 
como a circulatória. 
Na situação fática supramencionada, o desligamento dos 
aparelhos é medida adequada. Não há que se falar em vida de 
acordo com os critérios legais. Ademais, a situação do paciente é 
irreversível. 
Nos demais casos, o desligamento dos aparelhos deve ser 
combatido sob o enfoque humanista de valorização da vida. 
Inclusive, o próprio ordenamento jurídico pátrio não permite tal 
abreviação da vida, de sorte que aquele que praticar tal conduta 
incorrerá nos tipos penais previstos. 
A propósito, o artigo 66 do Código de Ética Médica veda ao 
médico “utilizar, em qualquer caso, meios destinados a abreviar a 
vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu responsável 
legal.” Rememore-se, ainda, o juramento de Hipócrates: “a ninguém 
darei, para agradar, remédio mortal, nem conselho para induzir à 
perdição”. 
Não obstante a impossibilidade da legalização de sua prática nos 
casos em que não for diagnosticada a morte encefálica, há um certo 
clamor social que defende a sua prática indiscriminada, sob o 
argumento de economicidade e dignidade da pessoa humana. 
No que concerne ao argumento de economicidade, é necessário 
que se esclareça que a vida humana é um bem extrapatrimonial e 
insuscetível de apreciação econômica, portanto, qualquer tentativa 
nesse sentido afronta o direito fundamental à vida, insculpido na 
Constituição Federal. 
Noutra vertente, o princípio da dignidade da pessoa humana tem 
de ser analisado sob o enfoque do neoconstitucionalismo em que não 
há que se falar em direito absoluto. Nesse diapasão, esclarecedor o 
ensinamento de Alexy 
Por isso, em palavras do próprio Alexy, o 
princípio da dignidade da pessoa comporta graus 
de realização, e o fato de que, sob determinadas 
condições, com um alto grau de certeza, preceda 
a todos os outros princípios, isso não lhe confere 
caráter absoluto, significando apenas que quase 
não existem razões jurídico-constitucionais que 
não se deixem comover para uma relação de 
preferência em favor da dignidade da pessoa 
humana sob determinadas condições. 
Dessa forma, não há que se falar em direito absoluto, devendo, 
portanto, o princípio da dignidade da pessoa humana ser contraposto 
ao direito à vida. 
Observe-se que a vida é pressuposto para a dignidade, sem vida 
não há que se falar em dignidade. Uadi nos ensina que “sem a 
proteção incondicional do direito à vida, os fundamentos da república 
federativa do Brasil não se realizam. Daí a Constituição Federal 
proteger todas as formas de vida, inclusive a intrauterina.” 
Em razão disso, pode-se afirmar que o direito à vida é omais 
importante de todos os direitos. De igual modo, não há fundamento 
razoável que permita a legalização da ortotanásia em pessoas que 
comprovadamente apresentem quadro reversível. 
No entanto, não se desconhece a mínima possibilidade de 
sobrevivência do paciente. Nesse sentido, esclarecedora o 
preâmbulo da Declaração de Hong Kong – adotada pela 41ª 
Assembleia Geral da AMM, Hong Kong, setembro de 1989 - sobre 
estado vegetativo persistente: 
Por outro lado, as chances de recuperar a 
consciência depois de ser vegetativo durante três 
meses são muito pequenas. São reivindicadas 
exceções raras, mas alguns destes casos podem 
estar representados por pacientes que não 
entraram logo em coma logo após o dano 
causado. Em última instância, todos estão 
severamente inválidos. 
Ante o exposto, a ortotanásia quando praticada em pacientes 
com morte encefálica, deve ser incentivada, pois sem vida para fins 
legais, nem possibilidade médica de reversão do quadro do paciente, 
não há que se falar juridicamente em abreviação da vida. 
 Distanásia 
A distanásia é o tratamento insistente, desnecessário e 
prolongado de um paciente terminal, que não é apenas insalvável, 
como também submetido a tratamento fútil. 
É o caso dos pacientes terminais portadores do vírus da AIDS ou 
que sofrem de câncer sem perspectiva de cura, nos casos em que o 
quadro clínico do paciente é avançado, situação na qual as opções 
de tratamento disponíveis já não surtem mais efeitos, nem 
prolongariam em tempo razoável a vida do indivíduo. 
A análise da distanásia versa sobre a suspensão desse 
tratamento ineficaz, a qual deve ser feita sob o enfoque interno e 
externo, ou seja, quando a manifestação de vontade em não se 
submeter a tratamento se origina, respectivamente, do próprio 
paciente ou de familiares, amigos e até mesmo do Estado. Ressalte-
se que ninguém é abrigado a se submeter a tratamento penoso ou 
que coloque em risco sua vida,nos termos do art. 15 do Código Civil. 
Dessa forma, o médico não pode ser responsabilizado caso 
suspenda o tratamento em atendimento ao pedido do paciente que 
possua livre capacidade para consentir. Diferentemente, seria a 
hipótese em que o médico se recusasse a tratar o indivíduo por se 
encontrar em estado terminal, configurando, inclusive, conduta 
delituosa, podendo se enquadrar, a depender das circunstâncias do 
caso concreto, em omissão de socorro. 
Em retorno ao ponto anterior, na maioria dos casos, o paciente 
escolhe suspender o tratamento em virtude da forte depressão que 
abala sua razão e vontade de viver. É comum o ser humano não 
saber lhe dar com a morte iminente, pois tem receio do que lhe 
espera “do outro lado”, se é que podemos falar nisso. 
Portanto, dever-se-ia trabalhar a questão emocional do paciente 
para que aceite sua condição. Genival Veloso levanta a discussão 
sobre o direito à verdade ao paciente em estado terminal. Leciona 
que a verdade deve ser dita ao paciente, pois é do seu interesse 
saber sobre sua saúde: “o certo é que dizer a verdade, por mais 
necessária que ela seja, não é sinônimo de relato frio e brutal.” 
Nos casos delicados, em que o médico percebe que a informação 
poderá causar danos ao paciente, deve comunicar o fato a um 
familiar seu ou responsável legal, cumprindo o que determina o artigo 
59 do Código de Ética Médica. 
Dessa forma, tomando os devidos cuidados, o médico está 
evitando situações em que o indivíduo, dominado pela depressão, 
opta pela suspensão do tratamento. 
Questão totalmente diversa é um terceiro, por exemplo, familiar, 
o Estado ou o próprio médico decidir por suspender o tratamento, 
pois a vida é um bem inalienável e indisponível, de forma que o 
paciente não poderá ter sua vida tolhida por questões econômicas ou 
qualquer outra que seja. 
No caso dos familiares que avocam para si a decisão pela 
abreviação da vida, essa escolha é motivada por questões de 
compaixão, por não suportarem presenciar tanto sofrimento de seu 
ente querido. No entanto, observe que a compaixão não é 
fundamento razoável perante um bem tão precioso que é a vida. 
Por outro lado, o Estado fundamenta o debate por conveniência 
de redução de gastos públicos. Entretanto, a vida é um bem 
personalíssimo, fundamental e, por conseguinte, extrapatrimonial. 
Dessa forma, não há como mensurá-la economicamente e, portanto, 
quantificar o que vale mais: a vida de uma pessoa ou outro bem como 
a educação de vários. 
Todos aqueles que são a favor da humanidade e lutam pela 
manutenção da vida são contra qualquer retrocesso no sentido de 
permitir a prática da distanásia por escolha de terceiros que não o 
paciente em sã consciência, na medida em que este é o único capaz 
de mensurar seu real sofrimento em conviver com sua doença e 
certeza de morte iminente, cabendo-lhe unicamente, portanto, a 
escolha. 
Mistanásia 
A mistanásia é um termo pouco utilizado, mas representa a morte 
miserável, antes da hora, conhecida como eutanásia social. Pode 
ocorrer em casos de omissão de socorro, erro médico, negligência, 
imprudência e imperícia. 
No Brasil, não importa qual a forma de eutanásia, ela é proibida 
pela legislação e com pena prevista no Código Penal para o 
infrator. A Confederaçao Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) 
também não concorda com qualquer forma de eutanásia. 
Entretanto, recomenda que em caso de paciente crônico em 
estágio avançado da doença, em que a morte torna-se iminente, 
deve ser oferecida toda a manutenção para seu conforto, com 
administração de analgésicos que busquem equilibrar períodos de 
sono com períodos de lucidez; além disso, a família deve ter livre 
acesso e poder participar em todos os momentos dos cuidados 
prestados ao paciente, incluido a liberdade para a prática de sua 
crença. 
 
CONCLUSÃO 
Visto à luz da teoria humanista e dos princípios da Bioética, o 
direito à vida, pressuposto dos demais direitos, apresenta toda a sua 
complexidade quando se discute a decisão de sua abreviação em 
prol de outros princípios como a dignidade da pessoa e de 
sentimentos de compaixão ou, ainda, para satisfação de interesses 
meramente econômicos e mercadológicos. 
Nesse passo, restou explicitado o confronto social e doutrinário 
que emerge entre a garantia da vida e o princípio da dignidade da 
pessoa humana. De um lado, indivíduos abalados emocionalmente 
com a certeza de morte iminente, sendo submetidos a tratamentos 
penosos que castigam seu corpo e sua alma, mas de forma alguma 
se entregam às adversidades da vida. Noutra vertente, a desistência 
pela vida de alguns pacientes e a compaixão dos familiares que 
enxergam uma vida indigna e incompatível com os sonhos e metas 
traçados pelo seu ente querido. 
Se, por uma via, não se pode obrigar o indivíduo a se submeter 
a tratamento penoso, em desrespeito ao princípio da dignidade da 
pessoa humana e a sua autonomia, não se pode tolher os sonhos e 
a vontade de viver, dando-lhe substância que abrevie sua vida ou 
desligando os parelhos que o mantém vivo quando não lhe é nem 
sequer perguntado qual a sua vontade. 
Nesse ínterim, nada obstante serem veementemente 
rechaçadas a prática de condutas que restrinjam o direito à vida pelo 
nosso ordenamento jurídico, a discussão doutrinária alcança 
importante espaço, enfrentadas as questões postas à luz dos 
princípios éticos e morais. 
De tal forma, resta impraticável a eutanásia, sob qualquer 
pretexto e ainda que requerido pelo paciente em sã consciência, pois 
não é dado à medicina fazer o mal ao próximo. A ortotanásia, quando 
praticado nos moldes propostos por Genival Veloso, é possível, pois 
diagnosticada a morte encefálica não há que se falar em abreviação 
da vida. Por fim, a distanásia, entendida como tratamento penoso e 
inútil, somente poderá ser praticada com o aval do paciente, sobpena 
de solapar-se o direito à autonomia em se submeter a tratamento 
médico com risco de vida ou penoso. 
REFERÊNCIAS 
BIONDO, Chaiane Amorim; Silva, Maria Júlia Paes da; SECCO, 
Lígia Maria Dal. Distanásia, eutanásia e ortotanásia: percepções 
dos enfermeiros de unidades de terapia intensiva e implicações 
na assistência. Disponível em: Distanásia, eutanásia e ortotanásia: 
percepções dos enfermeiros de unidades de terapia intensiva e 
implicações na assistência. Acesso em: 03 dez. 2011. 
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2. 
ed. rev e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 
CROCE, Delton & Jr. CROCE, Delton. Manual de Medicina 
Legal. 4. ed. rev e ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. 
FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser. Bioética e 
Biodireito. Disponível em: 
http://www.josecaubidinizjunior.com.br/sol/imagens_clientesens/4/1
45.pdf. Acesso em: 03 dez 2011. 
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 8. ed. Rio de 
Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 
FRANÇA. Genival Veloso de. Direito Médico. 9. ed. ver. atual. e 
ampl. Rio da : Forense, 2007. LOCH, Jussara de 
Azambuja. Princípios da Bioética. Disponívl em: 
http://www.nhu.ufms.br/Bioetica/Textos/Princ%C3%ADpios/PRINC
%C3%8DPIOS%20DA%20BIO%C3%89TICA%20%283%29.pdf. 
Acesso em: 03 dez. 2011. 
MARANHÃO, Odon Ramos. Curso Básico de Medicina Legal. 
8. ed. rev. atual e amp. São Paulo: Malheiros Editores, 2000. 
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires & 
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 
5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010. 
 
 
Conforme a NBR 6023:2000 da Associacao Brasileira de Normas 
Técnicas (ABNT), este texto cientifico publicado em periódico 
eletrônico deve ser citado da seguinte forma: PEREIRA, Danillo 
Vilar. Eutanásia, ortotanásia e distanásia à luz da bioética. Conteudo 
Juridico, Brasilia-DF: 06 ago. 2016. Disponivel em: 
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.56480&seo=1>
. Acesso em: 03 abr. 2018. 
 
• 
• 
•

Outros materiais