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Introdução O direito à vida compreende um direito fundamental e supremo a ser tutelado pelo ordenamento jurídico. Pensado em face das questões polêmicas atuais, o direito à vida é analisado sob o viés do princípio da dignidade da pessoa humana. Discute-se a legitimidade da prática de eutanásia, distanásia e ortotanásia por meio da análise de questões polêmicas que permeiam essas formas de abreviação da vida, tratando-se de sua conceituação e das razões que motivam o paciente ou sua família a optar por antecipar sua morte, sob o enfoque doutrinário e os ensinamentos de grandes pensadores como Genival Veloso e Delton Croce. Explicitam-se, ainda, os conceitos de morte propostos pelo nosso ordenamento jurídico e pela doutrina, enfatizando a dificuldade em estabelecer um conceito seguro e eficiente da morte, mormente por se tratar de um processo complexo. Destaca-se o conceito de morte encefálica como pressuposto para análise da ortotanásia, sendo imprescindível a precisão do momento da morte, nos termos legais, para que se possa aceitar sua prática. Finalmente, passa-se à análise do direito à vida enquanto expressão da Bioética, ramo do conhecimento auxiliar às ciências biológicas e médicas, que enfrenta as novas questões postas pela sociedade e pelo direito, buscando soluções ou respostas, sob o enfoque da ética e moral. EUTANÁSIA, ORTOTONÁSIA, DISTANÁSIA E MISTANÁSIA DISTINÇÃO Eutanásia é a conduta de abreviar a morte, em virtude de compaixão, ante um paciente incurável, vítima de intensa dor física ou psíquica e com a iminente certeza de morte. Ortotanásia é a conduta de suspender o uso de medicamentos ou equipamentos que prolongam a vida de um paciente em coma irreversível e considerado em “morte encefálica”, vítima de grave comprometimento da coordenação da vida vegetativa e privado das relações sociais. Por último, distanásia é suspensão do tratamento insistente, desnecessário e prolongado de um paciente em estado terminal, nos dizeres de Genival Veloso: “que não apenas é insalvável, mas também submetido a tratamento fútil.” Eutanásia A eutanásia corresponde à abreviação da vida do paciente em estado terminal e que sofre de intensa dor física ou psicológica. Note- se que aquele que assiste a sua prática, fornecendo os meios para tanto, ou, ainda, induz ou instiga o paciente é considerado responsável, podendo ser considerado partícipe ou coautor do crime que vier a ser concretizado. A eutanásia é repudiada pelo nosso ordenamento jurídico, por exemplo, a Resolução CFM nº 1.480, de 8 de agosto de 2007 e o Código de Ética Médica. Outrossim, a própria Constituição Federal e legislação infraconstitucional vedam a prática da eutanásia, elevando a proteção da vida ao patamar de direito fundamental. Portanto, dúvidas não há quanto à ilegalidade de sua prática, de modo que, somente, resta a discussão do ponto de vista médico, ético e moral de sua viabilidade. A eutanásia perpassa pela análise de três elementos, a saber: paciente terminal, dor e “compaixão”. O paciente terminal é aquele que não tem perspectiva de cura, cuja moléstia o levará a óbito em um breve lapso de tempo. Ora, a medicina e demais ciências afetas à área tecnológica vêm demonstrando que, a cada dia, aquilo que era considerado incurável, quase uma barreira intransponível, tem solução. Com o desenvolvimento da ciência, descobrem-se caminhos que, se não solucionam, pelo menos prolongam o tempo de vida do paciente, por exemplo, os coquetéis antirretrovirais, de modo que se torna insubsistente a fundamentação da prática da eutanásia na impossibilidade de perspectiva de cura. O segundo elemento a ser analisado é a dor, pois esta implicará no terceiro elemento. Receio da morte é natural a todo ser humano, entretanto, em certos casos, o intenso sofrimento, quer seja psíquico ou físico, faz com que o homem perca esse medo, enxergando na morte uma solução. Inquestionável que a dor intensa deve ser combatida, todavia, ainda, assim não é justificativa hábil a permitir a prática da eutanásia, pois há outras soluções que não a morte. Nesse contexto, há o programa governamental federal que visa a implantar unidades de cuidado paliativo. Esse programa é destinado a pacientes em estado terminal e vem sendo gradativamente implantado em diversos estados da federação. O intuito do programa é amenizar a dor suportada por aqueles que têm de se submeter a tratamentos agressivos como o câncer, sem que isso signifique uma perspectiva de cura, apenas se almeja prolongar o tempo de sobrevida com maior qualidade. Sem o intuito de adentrar às polêmicas do programa como desestímulo à busca da cura definitiva para a moléstia, deve-se ressaltar que é um caminho viável para amenizar o problema, na medida em que, com a ausência ou diminuição do sofrimento físico ou psicológico, não haveria mais razão que fundamentasse a prática da eutanásia, preservando-se o direito à vida, bem jurídico supremo em nosso ordenamento jurídico. Nesse sentido, dignas de transcrição as palavras de Genival Veloso O sofrimento, por mais que comova, não pode constituir um meio seguro ou num termômetro para medir-se a gravidade de um mal, nem tampouco autoriza a decidir sobre questões de vida ou morte: não pode servir como recurso definitivo para aferir tão delicada questão. Por último, deve ser analisada a compaixão como combustível que alimenta a discussão quanto à legalização da prática da eutanásia. Retornando à discussão anterior, combatendo-se a dor, não haverá mais que se falar em sofrimento e, por conseguinte, compaixão. Ademais, este sentimento não pode ser elevado a ponto de prevalecer em face do direito à vida. Observe-se, ainda, que a opção por abreviar a vida não é possível nem ao próprio paciente, visto que a vida é bem inalienável e indisponível. Portanto, se nem ao paciente é dado consentir sobre a prática da eutanásia, quiçá à família deste. Ressalte-se, ainda, que o ser humano é movido por sentimento e paixões, optando em situações de adversidades por caminhos que em sã consciência não trilharia. Aquele que angustiado com a morte iminente, prefere à morte rápida que viver com esse dilema. Ora, vive-se numa sociedade de risco, em que a morte é o preço que se paga por estar vivo. A cada instante morrem pessoas por todo o mundo. Esse é um fenômeno natural da vida, o ciclo biológico. A morte é certa para todos. A dúvida paira, apenas, no que concerne ao tempo. Em certos casos, aquele que sabe o tempo de vida que lhe resta, termina por aproveitar mais seu tempo, em detrimento daquele que se ocupa com seus afazeres do labor e “esquece da vida”. A questão seria então de tratar o a questão psicológica do paciente, informando-lhe e conscientizando-o do parco tempo que lhe resta, e não incentivar a prática da eutanásia em razão do sofrimento. Ortotanásia Conceito de morte Antes de adentrar ao tema propriamente dito, necessário que se façam breves comentários sobre o conceito de morte, pois a discussão perpetrada sobre a ortotanásia gira em torno do momento em que é possível afirmar que o sujeito está morto. Vive-se na era de “crise dos conceitos”, o conceito de morte não foge à regra. Nos dizeres de Delton Croce: “Assim como não se pode definir a vida, é teoricamente impossível conceituar a morte. Por isso, deveria bastar-nos procurar compreender e aceitar essa única e insofismável verdade.” Afirma Veloso que a dificuldade em definir a morte é porque ela não é um fato instantâneo, na verdade seria uma sequência de fenômenos gradativamente processados nos vários órgãos e sistemas de manutenção da vida, seria, pois, um processo, caracterizando sofisma definir o momento em que se deu.O doutrinador leciona ainda que: A morte, como elemento definidor do fim da pessoa, não pode ser explicada pela parada de um determinado órgão, por mais hierarquizado e indispensável que seja. É na extinção do complexo pessoal, representado por um conjunto, que não era constituído só de estruturas e funções, mas de uma representação global. O que morre é o conjunto que se associava para a integração de uma personalidade. Não obstante a complexidade do tema, a ciência é obrigada a trilhar caminhos em busca de respostas concretas, especialmente com o aumento dos números de transplantes, em que não é possível esperar por todos os sinais da morte como putrefação, maceração, dentre outros. Nesse contexto, há dois critérios utilizados para definir a morte, quais sejam, a circulatória e a cerebral. No que concerne ao critério circulatório, o intuito é definir a morte quando se verifica parada irreversível da circulação e da respiração – morte cardiorrespiratória. Ressalte-se que esse critério não desconstitui o que foi dito acima, apenas representa uma tentativa, diga-se por passagem, frustrada de definir o momento da morte. O conceito de morte cardiorrespiratória, por sua imprecisão, não é adotado. De fato, é forte o conceito de morte cerebral, sendo este o adotado no Brasil, a saber Resolução CFM nº 1.480, de 5 de agosto de 1997: Art. 9º Constatada e documentada a morte encefálica, deverá o Diretor Clínico da instituição hospitalar, ou quem for delegado, comunicar tal fato aos responsáveis legais do paciente, se houver, e à central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos a que estiver vinculado a unidade hospitalar onde o mesmo se encontrava internado. Observe-se que o a Resolução utiliza expressão morte encefálica. Genival Veloso afirma que “a tendência é aceitar a “morte encefálica”, traduzida como aquela que compromete seriamente a vida de relação e coordenação da vida vegetativa, diferente, pois, da “morte cerebral” ou “morte cortical”, que compromete apenas a vida de relação.” O doutrinador propõe um padrão para definição baseado nos seguintes critérios 1. Ausência total de resposta cerebral, com perda absoluta da consciência. Nos casos de coma irreversível, presença de uma eletroencefalograma plano (tendo cada registro a duração mínima de 30 minutos), separados por um intervalo nunca inferior a 24 horas. Esse dado não deve prevalecer para recém-nascidos ou em situações de hipotermia induzida artificialmente, de administração de drogas depressivas do sistema nervoso central, de encefalites e de distúrbios metabólicos ou endócrinos. 2. Abolição dos reflexos cefálicos, como hipotonia muscular e pupilas fixas e indiferentes ao estímulo luminoso. 3. Ausência da respiração espontânea por 5 minutos, após hiperventilação com oxigênio 100%, seguida da introdução de um caráter na traqueia, com fluxo de 6 litros de O por minuto. 4. Causa do coma conhecida. 5. Estruturas vitais do encéfalo lesadas irreversivelmente. Os critérios propostos são de grande valia para a discussão sobre ortotanásia, pois a questão do coma irreversível é o ponto nevrálgico da questão, na medida em que caracterizada morte encefálica para os conceitos atuais, não haveria que se falar em desumanidade ou ilegalidade de sua prática. Aspectos éticos A ortotanásia é conceituada como suspensão dos meios artificiais de manutenção da vida. Sua prática vem ganhando credibilidade perante a sociedade, pois com fundamento nos critérios acima expostos não haveria que se falar em abreviação da vida. Inicialmente, necessário que se diferencie quatro situações críticas que conduzem a dilemas éticos: pacientes em estado vegetativo continuado, pacientes em morte encefálica, pacientes terminais e pacientes em estado vegetativo permanente. Nos dizeres de Genival Veloso: “Paciente em estado vegetativo continuado ou persistente é aquele que apresenta lesões recentes do sistema nervoso central, com ou sem diagnóstico definido, mas que deve ter seus cuidados conduzidos nos moldes dos pacientes salváveis.” O paciente terminal é aquele cuja evolução de sua doença não responde mais a nenhuma medida terapêutica conhecida e aplicada, sem expectativas de cura ou de prolongamento da vida. Por sua vez, paciente em estado vegetativo permanente é aquele que não tem evidência de consciência, não se expressa e não entende os fatos em torno de si, sobrevivendo com respiração autônoma, por um longo tempo, necessitando de cuidados médicos. Por último, o paciente em coma aperceptivo apresenta ausência de atividade motora supraespinhal e apneia, além de comprovadamente não possuir atividade elétrica cerebral, ou atividade metabólica cerebral, ou ausência de perfusão sanguínea cerebral, caracterizando, portanto, morte encefálica. Na hipótese do paciente em coma aperceptivo, deve-se definir se o paciente se enquadra no conceito de morte encefálica, pois, em sendo o caso, não há que se falar em abreviação da vida, sendo plenamente válida a prática da ortotanásia por meio do desligamento dos aparelhos que artificialmente mantém as demais funções vitais como a circulatória. Na situação fática supramencionada, o desligamento dos aparelhos é medida adequada. Não há que se falar em vida de acordo com os critérios legais. Ademais, a situação do paciente é irreversível. Nos demais casos, o desligamento dos aparelhos deve ser combatido sob o enfoque humanista de valorização da vida. Inclusive, o próprio ordenamento jurídico pátrio não permite tal abreviação da vida, de sorte que aquele que praticar tal conduta incorrerá nos tipos penais previstos. A propósito, o artigo 66 do Código de Ética Médica veda ao médico “utilizar, em qualquer caso, meios destinados a abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu responsável legal.” Rememore-se, ainda, o juramento de Hipócrates: “a ninguém darei, para agradar, remédio mortal, nem conselho para induzir à perdição”. Não obstante a impossibilidade da legalização de sua prática nos casos em que não for diagnosticada a morte encefálica, há um certo clamor social que defende a sua prática indiscriminada, sob o argumento de economicidade e dignidade da pessoa humana. No que concerne ao argumento de economicidade, é necessário que se esclareça que a vida humana é um bem extrapatrimonial e insuscetível de apreciação econômica, portanto, qualquer tentativa nesse sentido afronta o direito fundamental à vida, insculpido na Constituição Federal. Noutra vertente, o princípio da dignidade da pessoa humana tem de ser analisado sob o enfoque do neoconstitucionalismo em que não há que se falar em direito absoluto. Nesse diapasão, esclarecedor o ensinamento de Alexy Por isso, em palavras do próprio Alexy, o princípio da dignidade da pessoa comporta graus de realização, e o fato de que, sob determinadas condições, com um alto grau de certeza, preceda a todos os outros princípios, isso não lhe confere caráter absoluto, significando apenas que quase não existem razões jurídico-constitucionais que não se deixem comover para uma relação de preferência em favor da dignidade da pessoa humana sob determinadas condições. Dessa forma, não há que se falar em direito absoluto, devendo, portanto, o princípio da dignidade da pessoa humana ser contraposto ao direito à vida. Observe-se que a vida é pressuposto para a dignidade, sem vida não há que se falar em dignidade. Uadi nos ensina que “sem a proteção incondicional do direito à vida, os fundamentos da república federativa do Brasil não se realizam. Daí a Constituição Federal proteger todas as formas de vida, inclusive a intrauterina.” Em razão disso, pode-se afirmar que o direito à vida é omais importante de todos os direitos. De igual modo, não há fundamento razoável que permita a legalização da ortotanásia em pessoas que comprovadamente apresentem quadro reversível. No entanto, não se desconhece a mínima possibilidade de sobrevivência do paciente. Nesse sentido, esclarecedora o preâmbulo da Declaração de Hong Kong – adotada pela 41ª Assembleia Geral da AMM, Hong Kong, setembro de 1989 - sobre estado vegetativo persistente: Por outro lado, as chances de recuperar a consciência depois de ser vegetativo durante três meses são muito pequenas. São reivindicadas exceções raras, mas alguns destes casos podem estar representados por pacientes que não entraram logo em coma logo após o dano causado. Em última instância, todos estão severamente inválidos. Ante o exposto, a ortotanásia quando praticada em pacientes com morte encefálica, deve ser incentivada, pois sem vida para fins legais, nem possibilidade médica de reversão do quadro do paciente, não há que se falar juridicamente em abreviação da vida. Distanásia A distanásia é o tratamento insistente, desnecessário e prolongado de um paciente terminal, que não é apenas insalvável, como também submetido a tratamento fútil. É o caso dos pacientes terminais portadores do vírus da AIDS ou que sofrem de câncer sem perspectiva de cura, nos casos em que o quadro clínico do paciente é avançado, situação na qual as opções de tratamento disponíveis já não surtem mais efeitos, nem prolongariam em tempo razoável a vida do indivíduo. A análise da distanásia versa sobre a suspensão desse tratamento ineficaz, a qual deve ser feita sob o enfoque interno e externo, ou seja, quando a manifestação de vontade em não se submeter a tratamento se origina, respectivamente, do próprio paciente ou de familiares, amigos e até mesmo do Estado. Ressalte- se que ninguém é abrigado a se submeter a tratamento penoso ou que coloque em risco sua vida,nos termos do art. 15 do Código Civil. Dessa forma, o médico não pode ser responsabilizado caso suspenda o tratamento em atendimento ao pedido do paciente que possua livre capacidade para consentir. Diferentemente, seria a hipótese em que o médico se recusasse a tratar o indivíduo por se encontrar em estado terminal, configurando, inclusive, conduta delituosa, podendo se enquadrar, a depender das circunstâncias do caso concreto, em omissão de socorro. Em retorno ao ponto anterior, na maioria dos casos, o paciente escolhe suspender o tratamento em virtude da forte depressão que abala sua razão e vontade de viver. É comum o ser humano não saber lhe dar com a morte iminente, pois tem receio do que lhe espera “do outro lado”, se é que podemos falar nisso. Portanto, dever-se-ia trabalhar a questão emocional do paciente para que aceite sua condição. Genival Veloso levanta a discussão sobre o direito à verdade ao paciente em estado terminal. Leciona que a verdade deve ser dita ao paciente, pois é do seu interesse saber sobre sua saúde: “o certo é que dizer a verdade, por mais necessária que ela seja, não é sinônimo de relato frio e brutal.” Nos casos delicados, em que o médico percebe que a informação poderá causar danos ao paciente, deve comunicar o fato a um familiar seu ou responsável legal, cumprindo o que determina o artigo 59 do Código de Ética Médica. Dessa forma, tomando os devidos cuidados, o médico está evitando situações em que o indivíduo, dominado pela depressão, opta pela suspensão do tratamento. Questão totalmente diversa é um terceiro, por exemplo, familiar, o Estado ou o próprio médico decidir por suspender o tratamento, pois a vida é um bem inalienável e indisponível, de forma que o paciente não poderá ter sua vida tolhida por questões econômicas ou qualquer outra que seja. No caso dos familiares que avocam para si a decisão pela abreviação da vida, essa escolha é motivada por questões de compaixão, por não suportarem presenciar tanto sofrimento de seu ente querido. No entanto, observe que a compaixão não é fundamento razoável perante um bem tão precioso que é a vida. Por outro lado, o Estado fundamenta o debate por conveniência de redução de gastos públicos. Entretanto, a vida é um bem personalíssimo, fundamental e, por conseguinte, extrapatrimonial. Dessa forma, não há como mensurá-la economicamente e, portanto, quantificar o que vale mais: a vida de uma pessoa ou outro bem como a educação de vários. Todos aqueles que são a favor da humanidade e lutam pela manutenção da vida são contra qualquer retrocesso no sentido de permitir a prática da distanásia por escolha de terceiros que não o paciente em sã consciência, na medida em que este é o único capaz de mensurar seu real sofrimento em conviver com sua doença e certeza de morte iminente, cabendo-lhe unicamente, portanto, a escolha. Mistanásia A mistanásia é um termo pouco utilizado, mas representa a morte miserável, antes da hora, conhecida como eutanásia social. Pode ocorrer em casos de omissão de socorro, erro médico, negligência, imprudência e imperícia. No Brasil, não importa qual a forma de eutanásia, ela é proibida pela legislação e com pena prevista no Código Penal para o infrator. A Confederaçao Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também não concorda com qualquer forma de eutanásia. Entretanto, recomenda que em caso de paciente crônico em estágio avançado da doença, em que a morte torna-se iminente, deve ser oferecida toda a manutenção para seu conforto, com administração de analgésicos que busquem equilibrar períodos de sono com períodos de lucidez; além disso, a família deve ter livre acesso e poder participar em todos os momentos dos cuidados prestados ao paciente, incluido a liberdade para a prática de sua crença. CONCLUSÃO Visto à luz da teoria humanista e dos princípios da Bioética, o direito à vida, pressuposto dos demais direitos, apresenta toda a sua complexidade quando se discute a decisão de sua abreviação em prol de outros princípios como a dignidade da pessoa e de sentimentos de compaixão ou, ainda, para satisfação de interesses meramente econômicos e mercadológicos. Nesse passo, restou explicitado o confronto social e doutrinário que emerge entre a garantia da vida e o princípio da dignidade da pessoa humana. De um lado, indivíduos abalados emocionalmente com a certeza de morte iminente, sendo submetidos a tratamentos penosos que castigam seu corpo e sua alma, mas de forma alguma se entregam às adversidades da vida. Noutra vertente, a desistência pela vida de alguns pacientes e a compaixão dos familiares que enxergam uma vida indigna e incompatível com os sonhos e metas traçados pelo seu ente querido. Se, por uma via, não se pode obrigar o indivíduo a se submeter a tratamento penoso, em desrespeito ao princípio da dignidade da pessoa humana e a sua autonomia, não se pode tolher os sonhos e a vontade de viver, dando-lhe substância que abrevie sua vida ou desligando os parelhos que o mantém vivo quando não lhe é nem sequer perguntado qual a sua vontade. Nesse ínterim, nada obstante serem veementemente rechaçadas a prática de condutas que restrinjam o direito à vida pelo nosso ordenamento jurídico, a discussão doutrinária alcança importante espaço, enfrentadas as questões postas à luz dos princípios éticos e morais. De tal forma, resta impraticável a eutanásia, sob qualquer pretexto e ainda que requerido pelo paciente em sã consciência, pois não é dado à medicina fazer o mal ao próximo. A ortotanásia, quando praticado nos moldes propostos por Genival Veloso, é possível, pois diagnosticada a morte encefálica não há que se falar em abreviação da vida. Por fim, a distanásia, entendida como tratamento penoso e inútil, somente poderá ser praticada com o aval do paciente, sobpena de solapar-se o direito à autonomia em se submeter a tratamento médico com risco de vida ou penoso. REFERÊNCIAS BIONDO, Chaiane Amorim; Silva, Maria Júlia Paes da; SECCO, Lígia Maria Dal. Distanásia, eutanásia e ortotanásia: percepções dos enfermeiros de unidades de terapia intensiva e implicações na assistência. Disponível em: Distanásia, eutanásia e ortotanásia: percepções dos enfermeiros de unidades de terapia intensiva e implicações na assistência. Acesso em: 03 dez. 2011. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 2. ed. rev e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. CROCE, Delton & Jr. CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal. 4. ed. rev e ampl. São Paulo: Saraiva, 1998. FERREIRA, Jussara Suzi Assis Borges Nasser. Bioética e Biodireito. Disponível em: http://www.josecaubidinizjunior.com.br/sol/imagens_clientesens/4/1 45.pdf. Acesso em: 03 dez 2011. FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. FRANÇA. Genival Veloso de. Direito Médico. 9. ed. ver. atual. e ampl. Rio da : Forense, 2007. LOCH, Jussara de Azambuja. Princípios da Bioética. 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