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EAD - NÚCLEO COMUM LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL Vera Lúcia Massoni Xavier da Silva Adeilde Vieira Menegazzo Djalma Rebelatto de Gouveia Apresentação da disciplina APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA O ensino da língua materna se modificou no decorrer dos anos, indo ao encontro das exigências do mundo moderno, que não admite mais o desrespeito às diferenças. É assim que a leitura e a produção textual não podem se limitar ao estudo da norma culta, visto que não há uma cultura melhor que outra e consequentemente uma língua superior. Dessa forma nosso curso não vai se ater a regras grarmaticais mas sim á leitura que vai além da decodificação, atingindo as nuances e sutilezas do discurso nos mais variados gêneros textuais, sejam eles na linguagem verbal ou não verbal. Entendemos sim que o registro padrão de uma sociedade se torna a norma culta e por isso o leitor e produtor de textos terá acesso a ela, mas não pela memorização de regras isoladas e sim pela prática da leitura, que inclusive respeita e valoriza todas as variantes linguísticas. É formando leitores proficientes que teremos consequentemente um produtor de texto dotado de clareza e correção, sem abrir mão da originalidade. Seja, portanto, bem-vindo ao nosso curso. Leitura e Produção Textual Programa da disciplina Ementa Texto e discurso. Fundamentos de Análise do Discurso. Linguagem verbal e não verbal. A importância da leitura para entender o mundo.Intertextualidade. Argumentação e Linguagem. Tipos de Argumentação., Texto Narrativo e Descritivo, Figurativo e Temático, Os Elementos da Comunicação e as Funções da Linguagem, com abordagem mais aprofundada das funções poética e metalinguística, O Plano Sonoro do Texto, A Construção do Sentido: Pressupostos e Implícitos, Ambiguidade, Ironia Objetivos Propiciar pressupostos teóricos para leitura e produção textual. Estudar o texto e as diferentes vozes que o tecem. Entender o texto e sua relação com contexto. Ler e produzir textos. Metodologia Adotamos para a disciplina Leitura e Produção Textual uma metodologia que alia a teoria à prática, propiciada por meio de atividades que permitam, a partir de exemplos, a reflexão sobre os mistérios do texto. Critérios de Avaliação No sistema EAD, a legislação estabelece a avaliação presencial, sem, no entanto, se definir como a única forma possível e recomendada. Na avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço predeterminados; diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de estabelecimento de prazos. A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 1) Trabalhos individuais ou a partir da interatividade com seus pares; 2) Provas bimestrais realizadas presencialmente; 3) Trabalhos de pesquisa. Leitura e Produção Textual As estratégias de recuperação incluirão: 1) Retomada dos conteúdos abordados nos módulos, quando não satisfatoriamente dominados pelo aluno; Bibliografia Básica BRANDÃO, H. N. Introdução à análise do discurso. SP: UNICAMP, 2004. KOCH, L. V. Coerência Textual. S P: Contexto, 2007. LAJOLO, M. Do mundo da leitura para leitura do mundo. SP: Ed. Ática, 2007. Bibliografia Complementar BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. SP: Nova Fronteira, 2009. FIORIN, J.L. E SAVIOLI, F.P. Lições de texto: leitura e redação. SP: Ática,2002 INFANTE U. Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação, SP: Scipione, 1997. KLEIMAN, Â. Texto e leitor: Aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Ed. Pontes, 2004. ____________. Oficina de leitura, SP: Pontes,2011 Leitura e Produção Textual Sumário Unidade 01 O que é texto? 01 Unidade 11 O texto narrativo 35 04 Unidade 02 - Análise do discurso: um dispositivo teórico para a leitura do texto 38 Unidade 12 Texto figurativo e texto temático 07 Unidade 03 - Diferentes Linguagens: Verbal e Não-Verbal 41 Unidade 13 Os elementos da comunicação 10 Unidade 04 Fotografia e Produção de Sentido 44 Unidade 14 As funções da linguagem 12 Unidade 05 Intertextualidade 48 Unidade 15 A Metalinguagem 16 Unidade 06 O Texto e o Contexto 51 Unidade 16 - A função poética e o plano sonoro do texto 19 Unidade 07 Argumentação 55 Unidade 17 Pressupostos e implícitos 23 Unidade 08 Tipos de Argumentação 58 Unidade 18 A descrição 27 Unidade 09 Produção Textual 61 Unidade 19 A ambiguidade 30 Unidade 10 Gêneros Textuais 64 Unidade 20 A ironia Leitura e Produção Textual CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar o conceito de texto; Discutir os mistérios do texto. Nessa unidade, enfocaremos o texto, seu conceito e seus mistérios. Nossa comunicação não se concretiza por palavras ou frases, mas, por textos e, saber lê-los é fundamental a qualquer indivíduo. Unidade 01 O que é texto? ESTUDANDO E REFLETINDO O que é texto? Muito se tem dito sobre o texto e sobre a necessidade de enfocá-lo nos seus diferentes aspectos organizacionais e estruturais. Mas cabe indagar, em primeiro lugar, o que é um texto e o que faz com que um texto seja texto. Um dos conceitos mais correntes afirma ser o texto um todo organizado de sentido, excluindo-se, dessa maneira, a ideia de que texto é um amontoado de frases e de parágrafos. Texto é uma materialidade concreta, é a manifestação de um conteúdo, portanto, é um plano de expressão (veículo por onde se transmite uma informação). Dessa maneira, um mesmo conteúdo pode ser concretizado por planos de expressão diferentes, como, por exemplo, a fome pode ser materializada por uma pintura, por um gesto - linguagens não verbais - por um romance – linguagem verbal- ou por um filme - linguagem visual e verbal. Enfocando-se a linguagem verbal, um conteúdo como a desobediência pode ser organizado de forma diferente. É o caso do relato bíblico sobre a expulsão de Adão e Eva do Paraíso e a história do Chapeuzinho Vermelho, em que se depreendem a desobediência e a punição, como conteúdos explorados. Considerando-se a arquitetura, linguagem não verbal, observamos tratar-se de um texto, pois, em suas linhas, em seus traçados, estão revelados diferentes conteúdos. Vejamos dois exemplos. Leitura e Produção Textual 01 Na arquitetura barroca, a expressão típica são as Igrejas, que se destacam pelo dinamismo e pela imponência, pelas colunas contorcidas e espirais, transmitindo impressão de poder e de movimento. Na imagem acima, observamos essa riqueza dos detalhes, principalmente, do portal da igreja, que reflete o pensamento dominante na época de que quanto mais elaborada fosse a forma, mais valiosa seria a obra. Diferentemente, na imagem acima, verificamos linhas retas, sem detalhes elaborados, levando-nos a ponderar que essa arquitetura coaduna-se aos princípios da modernidade, governada pela velocidade. O próprio lema da construção de Brasília corrobora essa afirmação: “Cinquenta anos em cinco”. BUSCANDO CONHECIMENTO O texto é um objeto simbólico, porque é produzido por um sujeito em um determinado tempo e espaço. O texto é a materialização do discurso, entendido como suporte abstrato que o sustenta. Nesse caso, ancorando os textos, há subjacentes os discursos. Discurso é um suporte abstrato que sustenta os vários textos que circulam na sociedade. Entender um texto é detectar o(s) discurso(s) que o sustentam. Como observamos até aqui, os textos, sejam eles visuais ou verbais, materializam p o si c i o n a m e n t o s d o s s u j e i t o s s o b r e determinados fatos do mundo. Eis, aí, os discursos. Vamos efetuar a leitura do texto abaixo e descobrir o que pensam os sujeitos que nele falam. REI, O GALO DEMOCRATA � -Pois é... Tive que resolver o que é que eu ia fazer da minha vida. Pensei pra burro. Acabei resolvendo que ia lutar pelas minhas ideias. Achei aquilo bacana! Na escola, quando a gente lê a vida de Tiradentes, e desse pessoal importante, vem sempre essa frase junto: “homens que lutaram pelas suas ideias”. � - Que legal, Rei. E você lutou ? - Não. Foi só resolver lutar que eles me levaram de volta pro galinheiro. Leitura e Produção Textual 02 Então eu chamei as minhas galinhas e pedi, por favor, pra elas me ajudarem. Expliquei que vivia muito cansado de ter que mandar e desmandar nelas todas, noite e dia. Mas elas falaram: “Você é nosso dono. Você é que resolve tudo pra gente”. Sabe, Raquel, elas não botavam um ovo, não davam uma ciscadinha, não faziam coisa nenhuma, sem vir me perguntar: “Eu posso? Você deixa? E se eu respondia: “Ora minha filha, o ovo é seu, a vida é sua, resolva como você achar melhor”, elas desatavam a chorar, não queriam mais comer, emagreciam, até morriam. Elas achavam que era melhor ter um dono mandando o dia inteiro: “faz isso! faz aquilo! bota um ovo! pega um minhoca!” do que ter que resolver qualquer coisa. Diziam que pensar dá muito trabalho. - Ué. - Pois é. - Quer dizer que elas não te ajudaram? - Se ajudaram? Ah! Quando eu expliquei que desde pequeno eu sonhava com um galinheiro legal, todo mundo dando opiniões, resolvendo as coisas, achando furada essa história de um galo mandar e desmandar a vida toda sabe o que elas me fizeram? Chamaram o dono do galinheiro, e deram queixa de mim. - No duro? - Fiquei danado. Subi ao poleiro e berrei: “Não quero mandar sozinho! Quero as galinhas mandando junto com os galos!”. - Que legal! � - Legal coisa nenhuma; levaram-me preso. � - Mas por quê? � - Pra eu aprender a não ser um galo diferente. (Lygia.B. Nunes). O texto acima, embora envolva aves (galo e galinhas) não é um texto de bichos, mas de homens. Vários elementos presentes corroboram essa afirmação, tais como: pensar o que fazer da vida, lutar por ideias, aprender coisas na escola, galinha com nome (Raquel), entre outras passagens. Ora, esses exemplos evidenciam características de seres humanos. � Em relação à forma de se abordar os temas no texto, observamos uma arena de conflitos, pois, de um lado, há a voz daqueles que querem a liberdade de escolha e de expressão das ideias (“desde pequeno eu sonhava com um galinheiro legal, todo mundo dando opiniões, resolvendo coisas, achando furada essa história de galo mandar e desmandar a vida toda”); de outro, a coerção, a punição, imposição pela força, como se pode depreender em “Legal coisa nenhuma; levaram-me preso”. Ao lado dessas duas visões de mundo, há outra, ou seja, a das galinhas que se sujeitavam à submissão, não querendo tomar para si qualquer opção que não fosse o mando de seu senhor. Essa afirmação encontra-se explicitada em “Elas achavam melhor ter um dono mandando o dia inteiro (...) do que ter que resolver qualquer coisa. Diziam que pensar dá muito trabalho”. Leitura e Produção Textual 03 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar os pressupostos básicos para a leitura de um texto. Entender a importância da Análise do Discurso para o estudo do texto. A Análise do Discurso (doravante AD) não teria sentido, se não fosse para aprimorar o ensino de Língua Portuguesa. Os elementos com os quais essa teoria vai operar são, na verdade, as ferramentas necessárias ao estudo do texto e à formação de um leitor consciente e reflexivo acerca dos fatos do mundo e da própria língua. Unidade 02 Análise do discurso: um dispositivo teórico para a leitura do texto ESTUDANDO E REFLETINDO A AD prevê que ler um texto é verificar como ele funciona, ou seja, deve-se buscar o que o texto diz como o texto diz o que diz e por que o texto diz o que diz. Com esse pressuposto, há novo posicionamento em relação à leitura, que passa a ser entendida não como mera decodificação de palavras e de frases, mas como construção de sentido. Para isso, é necessário um aparato para se trabalhar toda a expressividade de um texto. O primeiro passo para o entendimento de um texto é considerarmos que, na sociedade, os grupos sociais que a compõem se posicionam de modo distinto diante dos fatos do mundo. Isso é o que se pode chamar de ideologia. Bem, se esses grupos veem o mundo de forma diferente, é claro que, ao falarem, o farão de modo diferente também. Por exemplo, sobre o aborto, há posicionamentos favoráveis e contrários; o mesmo se pode dizer sobre a eutanásia, sobre a diminuição da maioridade penal, etc. Dessa maneira, há vários dizeres sobre um mesmo tema, sobre um mesmo aspecto social. Então, entender um texto é detectar os diferentes posicionamentos que nele se manifestam. Leitura e Produção Textual 04 BUSCANDO CONHECIMENTO Vamos ler um texto e verificar como se apresentam, na superfície textual, as diferentes formas de ver e entender o mundo. Compras de Natal A cidade deseja ser diferente, escapar às suas fatalidades. Enche-se de brilhos e cores; sinos que não tocam balões que não sobem anjos e santos que não se movem estrelas que jamais estiveram no céu. As lojas querem ser diferente, fugir à realidade do ano inteiro: enfeitam-se com fitas e flores, neve de algodão de vidro, fios de ouro e prata, cetins, luzes, todas as coisas que possam representar beleza e excelência. Tudo isso para celebrar um Meninozinho envolto em pobres panos, deitado numas palhas, há cerca de dois mil anos, num abrigo de animais, em Belém. Todos vamos comprar presentes para os amigos e parentes, grandes e pequenos, e gastaremos, nessa dedicação sublime, até o último centavo, o que hoje em dia quer dizer a última nota de cem cruzeiros, pois, na loucura do regozijo unânime, nem um prendedor de roupa na corda pode custar menos do que isso. Grandes e pequenos, parentes e amigos são todos de gosto b izar ro e extremamente suscetíveis. Também eles conhecem todas as lojas e seus preços — e, nestes dias, a arte de comprar se reveste de exigências particularmente difíceis. Não poderemos adquirir a primeira coisa que se ofereça à nossa vista: seria uma vulgaridade. Teremos de descobr i r o imprev is to , o incognoscível, o transcendente. Não devemos também oferecer nada de essencialmente necessário ou útil, pois a graça destes presentes parece consistir na sua desnecessidade e inutilidade. Ninguém oferecerá, por exemplo, um quilo (ou mesmo um saco) de arroz ou feijão para a insidiosa fome que se alastra por estes nossos campos de batalha; ninguém ousará comprar uma boa caixa de sabonetes desodorantes para o suor da testa com que — especialmente neste verão — teremos de conquistar o pão de cada dia. Não: presente é presente, isto é, um objeto extremamente raro e caro, que não sirva a bem dizer para coisa alguma. Por isso é que os lojistas, num louvável esforço de imaginação, organizam suas sugestões para os compradores, valendo-se de recursos que são a própria imagem da ilusão. Numa grande caixa de plástico transparente (que não serve para nada), repleta de fitas de papel celofane (que para nada servem), coloca-se um sabonete em forma de flor (que nem se possa guardar como flor nem usar como sabonete), e cobra-se pelo adorável conjunto o preço deuma cesta de rosas. Todos ficamos extremamente felizes! Leitura e Produção Textual 05 São as cestinhas forradas de seda, as caixas transparentes os estojos, os papéis de embrulho com desenhos inesperados, os barbantes, gatilhos, fitas, o que na verdade oferecemos aos parentes e amigos. Pagamos por essa graça delicada da ilusão. E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias. Durável — apenas o Meninozinho nas suas palhas, a olhar para este mundo. Texto extraído do livro "Quatro Vozes", Editora Record - Rio de Janeiro, 1998, pág80.(Saiba tudo sobre a vida e a obra de Cecília Meireles visitando " ", ou visite o site Biografias (http://baudashistoriasepoemas.blogspot.com.b r/2010/07/cecilia-meireles.html). Cecília Meireles Logo de início, já podemos observar o posicionamento do sujeito produtor, cuja intenção é opor a realidade à fantasia criada na época de Natal, como se observa em: cidade quer ser diferente, quer fugir das fatalidades. As pessoas também participam desse clima ilusionista e saem em busca de presentes, mesmo que isso signifique gastar o último centavo. Chama-nos a atenção o posicionamento do produtor do texto, ao se referir à espécie de presentes que costumamos dar no Natal: sabonete em forma de flor quem nem é utilizada como flor, nem como sabonete. É justamente aí que verificamos o tema do texto: o consumismo. Assim, é possível traçarmos um paralelo entre o que se pratica, consensualmente, no Natal, e entre o que deveria ser feito: dar comida a quem precisa; oferecer caixa de sabonete e desodorante àquele que trabalha arduamente sob o sol. Leitura e Produção Textual 06 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar os pressupostos básicos para a leitura de um texto. Entender a importância da Análise do Discurso para o estudo do texto. A Análise do Discurso (doravante AD) não teria sentido, se não fosse para aprimorar o ensino de Língua Portuguesa. Os elementos com os quais essa teoria vai operar são, na verdade, as ferramentas necessárias ao estudo do texto e à formação de um leitor consciente e reflexivo acerca dos fatos do mundo e da própria língua. ESTUDANDO E REFLETINDO Não importa o tipo de linguagem (verbal ou visual) empregada no texto, o que devemos considerar é que os textos sempre materializam posicionamentos do sujeito sobre o mundo. Se atentarmos para o texto publicitário abaixo, veiculado na Revista Veja, observaremos certos valores sociais endossados. Em outras palavras, é consenso que a mulher, vamos dizer corpo de violão, é considerada bonita perfeita e de quem os homens mais gostam. Aproveitando-se desse discurso de “mulher boa”, as Havaianas transpuseram esse valor para as sandálias masculinas. Assim, essa sandália é tão boa e gostosa quanto às mulheres com curvas. Leitura e Produção Textual Unidade 03 Diferentes linguagens: verbal e não-verbal 07 Observe agora o outdoor abaixo. No texto acima, além da imagem há o emprego da linguagem verbal. Agora, é bom deixar claro que a leitura do texto não se faz, a partir de partes isoladas, mas há que se considerar o todo. Nessa totalidade, o sujeito produtor do texto, sem negar a necessidade de retirada dos outdoors das ruas de São Paulo, explicita que a prioridade é acabar com a miséria, propiciar condições de vida decentes aos cidadãos. Vale dizer que a imagem das pessoas morando nas ruas é fundamental para que o produtor do texto corrobore sua intenção de expressar crítica à sociedade atual. BUSCANDO CONHECIMENTO O primeiro passo para a leitura do texto publicitário é o conhecimento de que as coisas estão no mundo, por exemplo, carros, casas, homens, mulheres, animais, porém, no momento em que o homem as utiliza por meio da linguagem, elas deixam de ser objetos e passam a signos portadores de ideologia (visão de mundo de um grupo social). Assim, a pomba branca, antes de tudo é um pássaro, mas quando colocada em contextos sociais, como igrejas, palestras, em cenário de guerra, ou qualquer outro tipo de reunião ou solenidade pública, ela passa a ter uma outra dimensão, um outro sentido. Deixa de ser apenas um pássaro e passa a símbolo da paz. A pomba branca é um signo com dimensões ideológicas. Assim, muitos outros objetos passaram a funcionar como veículos de transmissão de ideologia, como o caso da balança, símbolo da justiça, a estrela vermelha, símbolo do PT, a cruz, símbolo do cristianismo. O que acontece com o discurso da propaganda? Ele é eficaz na medida em que assume a linguagem da coletividade, seu universo ideológico e sua tradição cultural, pois se destina ao maior número possível de compradores em potencial. A propaganda consciente produz e reproduz cultura, contribui para grande repercussão, é uma publicidade verdadeiramente artística. Conforme Vestergaard (1994), o papel da publicidade consiste em influenciar os consumidores no sentido de aquisição do produto; o publicitário não é capaz de criar novas necessidades, mas acelera ou retarda as tendências existentes. Portanto, a propaganda reflete muito de perto as tendências do momento e os sistemas de valores sociais da sociedade. Leitura e Produção Textual 08 Contudo, é de se esperar que o método de persuasão varie conforme o produto e conforme idade, sexo e classe social do provável comprador. Como a propaganda está voltada para o futuro comprador, ela oferece-lhe uma imagem dele próprio que se torna fascinante graças ao produto ou opor tunidade que ela está procurando vender. O objetivo básico da publicidade é preencher a carência de identidade de cada leitor, a necessidade que cada um tem de aderir a valores e estilos de vida que confirmem os seus próprios e lhe permitam compreender o mundo e seu lugar nele. Abaixo, vamos mostrar um texto publicitário, com vistas a detectar os valores nele manifestados. A imagem visual desse texto é bastante simples. À direita, observamos a garrafa da Smirnoff, estando o centro ótico bem claro. Há uma colher com um pepino sobre ela. Entretanto, esse pepino é introduzido na garrafa, como se fosse possível perfurar o vidro. Acontece que, dentro da garrafa, a imagem projetada não é mais a do pepino, mas a de caviar. Bom, a primeira coisa a assinalar é que a bebida Smirnoff tem o poder de transformar pepino em caviar. Assim, pode-se beber Smirnoff, mesmo não tendo caviar, com pepino, que ela muda, ela transforma. Agora, cabe-nos perguntar onde estão os valores sociais? É simples. O pepino, conforme saber de consenso, é barato, indigesto, apresentando até um uso conotativo: tudo o que é p rob lema , pa ra nós , é um pep ino . Diferentemente, o caviar é caro, é chic, consumido pelas classes sociais mais elevadas, é até tema de música de Zeca Pagodinho: “Você sabe o que é caviar? Nunca vi, nem comi, eu só ouço f a l a r ”. En t ão , a Sm i rnoff não é necessariamente uma bebida de milionários, mas, mesmo sem poder aquisitivo, você transforma, pelo poder da bebida, funcionando como a Lâmpada de Aladim, coisas ruins em coisas boas. Leitura e Produção Textual 09 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Vamos refletir um pouco sobre fotografias. Todos nós temos fotos de filhos, de pais, de pessoas de nossa família, de lugares que visitamos, porém alguma vez paramos e analisamos o que essas fotos expressam? Na verdade, a foto é um ícone, isto é, uma representação da realidade. Unidade 04 Fotografia e produção de sentido ESTUDANDO E REFLETINDO Asfotos, na verdade, são documentos e, por meio delas, podemos resgatar hábitos, vestimentas e costumes de uma determinada época. (Só para brincarmos um pouco, examinem fotos antigas de casamento de vossos pais ou avós, por exemplo. Por meio delas, reconstruímos toda uma época em termos de moda, alimentação etc.). Passemos agora à análise de uma foto, retirada da Internet. Leitura e Produção Textual 10 A foto acima nos mostra uma reunião de pessoas dispostas em uma mesa. Pela imagem, observamos que, na refeição, é servido mais de um prato, pois abaixo do prato fundo, usado provavelmente para um caldo, há outros rasos. A bebida mais frequente na mesa é o vinho e o sabemos pelas garrafas que se encontram expostas. Outras bebidas (água e refrigerante) podem ser visualizadas, porém em quantidade menor. Além disso, há frutas e pães sobre a mesa. Entretanto, o que mais deve atrair nossa atenção é o fato de as mulheres se encontrarem separadas dos homens. Em outras palavras, elas não se encontram no primeiro plano da imagem, mas bem ao fundo. Esse fato pode remeter-nos à situação de inferioridade da mulher, ou seja, ela não é para ser vista em grandes detalhes como os homens, mas deve ficar escondida. Trata-se de um recorte da realidade em que o homem é o grande provedor e, como tal, merece ser exibido; às mulheres, a cozinha e o silêncio. Atualmente, a mídia tem explorado sobremaneira o uso de fotos que acompanham as notícias dadas. Essas imagens devem ser lidas não como mera ilustração, mas para uma complementação da mensagem verbal. Vale ressaltar que, muitas vezes, a imagem diz mais do que as palavras; outras, elas discordam do texto escrito, permitindo-nos a compreensão das intenções do produtor do texto. Selecionei uma imagem publicada na Folha de S. Paulo, no dia 13 de setembro de 2001, época do atentado às torres gêmeas nos Estados Unidos. Voltemos os olhos à foto. Na foto acima, a primeira coisa que atrai nosso olhar é o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, pois ele é que está em destaque: é maior que os demais. Em seguida, em tamanho um pouco menor está o também ex- presidente Bush, pai do presidente, que, por sinal, está à esquerda, em tamanho minúsculo. Nada em um texto é colocado por acaso, mas tudo produz sentido e o fato de o presidente Bush (filho) estar projetado em tamanho pequeno, ao lado do pai, leva-nos à possibilidade de leitura de ele ser à sombra do pai. Leitura e Produção Textual 11 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Reconhecer e explicar as relações intertextuais apresentando as diferentes funções. Unidade 05 Intertextualidade ESTUDANDO E REFLETINDO O nome parece complicado, mas não é. Podemos definir intertextualidade como um diálogo, uma conversa, entre textos. Há três tipos de intertextualidade: citação, alusão e estilização. A citação consiste em trazer, literalmente, palavras e expressões de um texto a outro. É interessante ressaltar que esse mecanismo é comum até em nossa fala cotidiana. Por exemplo, quem nunca se ouviu dizendo: “Como dizia Vinícius de Moraes, a beleza é fundamental”. Na introdução de nossos encontros, eu fiz uma intertextualidade, pois citei a voz de Clarice Lispector. No texto “Sobre a morte e o morrer”, de Rubem Alves, há várias citações. Dê uma olhada. Outra forma de intertextualidade é a alusão, que consiste na tomada de alguns elementos de um texto, substituindo-os por outros, com vistas à alteração do sentido. Um bom exemplo de alusão é o programa de TV Casseta e Planeta. Em outras palavras, eles tomam personagens e fatos de novelas, trocam por outros, efetuando a alteração de sentido e, consequentemente, produzem o humor. A estilização consiste na retomada de certas características de um texto, como, por exemplo, a configuração gráfica (poesia ou prosa), certos estilos concernentes ao tipo de linguagem (culta ou popular); certas características temáticas. Vejamos os textos a seguir: Leitura e Produção Textual 12 O escorpião e a rã O fogo crepita feroz e avassalador. Na margem do largo rio que permeia a floresta, encontram-se dois inimigos figadais: a rã e o escorpião. Lépida e faceira, a rã prepara-se para o salto nas águas salvadoras. O escorpião, que não sabe nadar, aterroriza-se ante a morte certa, estorricado pelas chamas ou impiedosamente tragado pelas águas revoltas. Arguto e num esforço derradeiro, implora o escorpião: — Bela rã, leva-me nas tuas costas na travessia do rio! — Não confio em ti! Teu ferrão é inclemente e mortal — responde a rã. — Jamais tamanha ingratidão. Ademais, se eu te picar, é morte certa para nós dois. — É v e r d a d e — p e n s o u candidamente o bondoso batráquio. Então suba! E lá se foram irmanados e felizes. No entanto, no meio da travessia, a rã é atingida no dorso por uma impiedosa ferroada. Entremeando dor e revolta, trava o derradeiro diálogo: — Quanta maldade! — exclama a rã, contorcendo-se. Não vês que morreremos os dois? — Sim, responde o escorpião, mas essa é a minha natureza! O escorpião e o sapo Era uma vez um escorpião que estava na beira de um rio, quando a vegetação da margem começou a queimar. E le ficou desesperado, pois, se pulasse na água, morreria afogado e, se permanecesse onde estava, morreria queimado. Nisso, viu um sapo que estava preparando-se para saltar no rio e, assim, livrar-se do fogo. Pediu-lhe, então, que o transportasse nas costas para o outro lado. O sapo respondeu-lhe que não faria de jeito nenhum o que ele estava solicitando, porque ele poderia dar-lhe uma ferroada, levando-o à morte por envenenamento. O escorpião retrucou que o sapo precisaria guiar-se pela lógica; ele não poderia dar-lhe uma ferroada, pois, se o sapo morresse, ele também morreria, porque se afogaria. O sapo disse que o escorpião estava certo e concordou em levá-lo até a outra margem. No meio do rio, o escorpião pica o sapo. Este, sentindo a ação do veneno, vira-se para aquele e diz que só gostaria de entender os motivos que fizeram que ele o picasse, já que o ato era prejudicial também para o escorpião. Este, então, responde que simplesmente não podia negar a sua natureza. Leitura e Produção Textual 13 Você deve ter percebido que os dois textos abordam a mesma coisa, ou seja, a natureza dos seres. É uma narração de um acontecimento passado, portanto, é uma estilização. Cabe, entretanto, uma ressalva: os textos acima são fábulas, isto é, história sobre bichos. Mas, será que elas só podem ser lidas assim? É claro que não; na verdade, os textos acima reproduzem comportamentos humanos; são, portanto, histórias de gente, ou seja, cedo ou tarde o homem mostra a sua verdadeira natureza. BUSCANDO CONHECIMENTO Para entender o que é o conceito de "intertextualidade", um exemplo divertido. O jogo do "não confunda": Não confunda "bife à milanesa" com "bife ali na mesa", Não confunda "conhaque de alcatrão" com "catraca de canhão", Não confunda "força da opinião pública" com "opinião da força pública". Como se vê, é possível elaborar um texto novo a partir de um texto já existente. É assim que os textos "conversam" entre si. É comum encontrar ecos ou referências de um texto em outro. A essa relação se dá o nome de intertextualidade. Para entender melhor a palavra, pense em sua estrutura. O sufixo inter, de origem latina, se refere à noção de relação (entre). Logo, intertextualidade é a propriedade de textos se relacionarem. Leitura e Produção Textual 14Intertextualidade na poesia Veja como Chico Buarque de Holanda, um dos mais importantes compositores brasileiros, utiliza a intertextualidade em uma canção sua. Em "Bom Conselho", ele faz referências a provérbios populares. Chico Buarque inverte os provérbios, questionando-os e olhando-os sob outro ângulo, atribuindo-lhes novos sentidos. (http://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/intertextualidade-textos-conversam-entre- si.htm) Provérbios populares Canção de Chico Buarque “Uma boa noite de sono combate os males” “Quem espera sempre alcança” “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço" “Pense, antes de agir” “Devagar se vai longe” “Quem semeia vento, colhe tempestade” Bom Conselho Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inútil dormir que a dor não passa Espere sentado Ou você se cansa Está provado, quem espera nunca alcança Venha, meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio vento na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade (Chico Buarque, 1972). Leitura e Produção Textual 15 16 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar as relações entre o texto e o momento histórico em que foi produzido. Nenhum texto é produzido do nada, mas todo texto tem ligação direta com o momento histórico social em que foi produzido. Unidade 06 O Texto e o Contexto ESTUDANDO E REFLETINDO Todo texto é resultante de condições de produção, ou seja, tem relação direta com o momento em que foi criado e com quem o produziu. Se observarmos, por exemplo, os textos publicitários com mulheres, observamos que, antigamente, eles apresentavam mulheres donas de casa, mulheres mães e esposas. Diferentemente, nas propagandas atuais, já visualizamos uma nova mulher: a empresária, a que ocupa um espaço externo tal quais os homens. Acontece que os tempos são outros, a mulher é outra e esse novo discurso das e sobre as mulheres manifesta-se nos textos. Não só nos textos publicitários é possível a constatação dessa relação; nas canções populares isso também é frequente. Basta que citemos a Amélia e a comparemos com Banho de Espuma, de Rita Lee. A mulher Amélia era submissa, contentava-se com tudo, não reclamava de nada; diferentemente, mulher de Rita Lee é sexuada, é dona de seus desejos, enfim, é a nova mulher. De acordo com essas considerações, é lícito afirmar que a leitura de um texto, além de nossa memória, depende do momento histórico em que foi produzido. Muitas vezes, se não conhecermos essas condições, deixamos de produzir todos os sentidos possíveis manifestados na superfície textual. Na imagem abaixo, publicada no dia 2 de junho de 2002, um dia antes do início da Copa do Mundo, é possível recuperar a memória que subjaz a ela e, ao mesmo tempo, ligá-la à história. Leitura e Produção Textual 17 O primeiro olhar, na imagem, dirige- nos para Ronaldinho, que está em primeiro plano, tendo ao fundo a imagem de Ronaldinho Gaúcho. Ao determos o olhar em Ronaldinho, imediatamente, nos vem à mente a imagem de um feto dentro do útero. É como se esse feto estivesse forçando as paredes uterinas para nascer. Trata-se do saber que temos sobre fetos projetados em ultrassom, que é ativado para a leitura do texto. Entretanto, essa não é a única memória que se pode observar nessa foto, mas recuperamos, também, outros fatos que foram importantes na vida do jogador. Assim, é lícito questionar renascer para o quê? Em primeiro lugar renascer para a vida profissional, uma vez ter sido o jogador vítima de vários problemas físicos no joelho, sendo considerado, pelos maiores especialistas do mundo, como acabado para o futebol. Mas ele renasceu. Além disso, o jogador deveria renascer como ídolo para o povo brasileiro, que tem na memória a final da Copa do Mundo de 1998, quando Ronaldinho fora acometido de um mal súbito, até hoje pouco explicado, mas muito comentado, sendo-lhe quase impossível participar da partida. Apesar disso, jogou os noventa minutos, pois se sabe que o craque tinha um contrato com a Nike, que o obrigava a atuar os noventa minutos de jogo. Isso realmente aconteceu, porém o jogador se arrastava em campo. BUSCANDO CONHECIMENTO Charges e o momento histórico Já mencionamos que todo texto tem ligação direta com o momento histórico e social em que foi produzido. Então, a leitura do texto pode implicar a reconstrução de um determinado momento. Vale dizer que a charge, para ser lida e para a produção de sentido, depende do momento, do fato social que a motivou. Você sabe o que é Charge? Vamos defini-la. O termo charge é proveniente do francês “charger” (carregar, exagerar). É uma espécie de crônica humorística, tem o caráter de crítica, provocando o hilário, cujo efeito é conseguido por meio do exagero. Ela se caracteriza por ser um texto visual humorístico e opinativo, que critica um personagem ou fato específico. Leitura e Produção Textual 18 As charges são muito usadas para se efetuarem críticas sociais. Na charge acima, há uma crítica ferrenha aos políticos brasileiros, já que vivemos uma época permeada de escândalos. É interessante observar que a primeira criança vangloria-se de possuir pai bandido. O que é valor negativo, passa a positivo aos olhos dessa criança. No entanto, esses valores (ser bandido, traficante, etc.) são negados pela segunda criança, pois emprega a expressão “grande coisa”. Porém, ao afirmar que o pai foi deputado, prefeito, governador e, considerando-se o momento de corrupção, desvios de dinheiro público por parte dos políticos, equiparam-se políticos e bandidos. Sugestões de alguns sites: - O que é o contexto? http://pt.wikipedia.org/wiki/Contexto - O texto e o contexto. http://www.brasilescola.com/redacao/o-texto-contexto.htm - Aspecto necessário para compreender e interpretar bem um texto. http://infolaboratorio.blogspot.com.br/2012/03/contexto-e- intertextualidade.html - Contexto http://www.infoescola.com/redacao/contexto/ Leitura e Produção Textual 19 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Conceituar argumentação, diferenciar convencimento e persuasão. Todo nosso ato de fala está comprometido, pois só falamos para interagir com o outro, levar o outro a crer no que eu digo. Nesse sentido, todo texto que produzo está dotado de uma intenção: convencer ou persuadir o outro. Nesta unidade, percorremos os caminhos da argumentação. Unidade 07 Argumentação ESTUDANDO E REFLETINDO Linguagem é interação social por meio da língua, embasada na argumentação. Mas o que é argumentar? Argumentar á a arte de convencer ou persuadir alguém. Como e por que isso ocorre é o que vamos estudar. Para Koch (2002) argumentar é orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões. Ora, orientar o discurso a favor de determinadas conclusões requer que o falante convença ou persuada o outro. Convencer é fazer com que o outro creia no que eu digo, provando, demonstrando a partir de fatos e dados. Trata-se de se recorrer à razão e à lógica para fornecer dados, fatos que comprovam minha opinião e, dessa maneira, agir sobre o outro. Vamos ver um exemplo de argumentação, baseada na razão e da lógica. Leitura e Produção Textual 20 São muitos os males que o causa no organismo cigarro do usuário, é interessante ressaltar que até as pessoas que convivem com fumantes ( ) podem fumantes passivos d es e n v o l v e r d o e n ç a s relacionadas ao fumo. O cigarro é feito de tabaco, erva da família das s o l a n á c e a s , c u j o n o m e científico é Nicotiana tabacum. Sabe-se, hoje, que o cigarro c o n t é m m a i s d e 4 5 0 0 substâncias tóxicas como alcatrão, polônio 210 e urânio (sendo que os dois últimos são radioativos), dentre as quais 43 c o m p r o v a d a m e n t e cancerígenas. Devemos lembrar que, embora o Estado permita sua fabricação e comercialização ( g r a ç a s a o s i m p o s t o s arrecadados) , a , n icot ina presente no cigarro, é uma droga extremamente viciante, e causa dependência física e psicológica. No Brasi l , o tabagismo é responsável por mais de 120.000 mortes ao ano. http://www.infoescola.com/dr ogas/os-males-do-cigarro/ No início do texto, o seu produtor assinala seu ponto de vista, emite sua opinião: são muitos os males que o cigarro causa. No entanto, quando a opinião não está alicerçada em dados, em fatos, ela pode ser derrubada. Assim, para comprovar sua opinião, podemos elencar os seguintes argumentos: - O cigarro contém mais de 4500 substâncias tóxicas como alcatrão, polônio 210 e urânio (sendo que os dois últ imos são r a d i o a t i v o s ) , d e n t r e a s q u a i s 4 3 comprovadamente cancerígenas. - A , presente no cigarro, é nicotina uma droga extremamente viciante, e causa dependência física e psicológica. No Brasil, o tabagismo é responsável por mais de 120.000 mortes ao ano. Os argumentos empregados pelo produtor do texto embasam-se em dados concretos, dados numéricos. Eis o ato de convencer. Persuadir é levar o outro a crer no que eu digo, embasando-me na emoção. Neste caso, o ato de persuasão trabalha a emoção, a vontade do outro. Neste caso, a publicidade, por exemplo, emprega a persuasão, pois nos sensibiliza de tal forma, que chega a criar certas carências em nossa vida. Vejamos o texto abaixo, extraído do site(ptBR&tbm=isch&sa=X&ei=yan_TeTKH4ycg Qfw1JzeCw&ved=0CDYQvwUoAQ&) Leitura e Produção Textual Assim que lançamos olhar para a imagem, imediatamente, observamos que a sandália Havaiana encontra-se coberta de flores. Ora, o sentido que se depreende daí é que pisar em havaianas é tão macio, quanto pisar em flores. Aí está nossa emoção, de repente, queremos uma sandália que nos seja confortável, macia, além, evidentemente, de bela como um canteiro florido. BUSCANDO CONHECIMENTO A arte de argumentar teve início na Grécia antiga, aproximadamente, em 427 a. C. Nesta época, iniciava-se a primeira experiência democrática. Para combate ao autoritarismo, exigia-se que os atenienses dominassem a arte de falar bem. Para tanto, alguns mestres, cuja autodenominação era sofista, se dirigiram a Atenas. Dado o fato de serem mestres itinerantes, eram dotados de vasto conhecimento, sobretudo, de usos e costumes de diferentes partes da Grécia. Seus ensinamentos pautaram- se pela possibilidade de defesa de diferentes pontos de vista sobre determinada questão. Essa visão foi adotada por Sócrates e Platão. Já abordamos anteriormente que vivemos imersos em discursos: científico, jurídico, político, religioso, senso comum. Se, por exemplo, um guarda rodoviário estende o braço para nós em uma estrada, imediatamente, estacionamos o carro e o fazemos, porque há um discurso das leis do trânsito. Vale dizer, no entanto, que de todos os discursos que circulam na sociedade o mais significativo é o do senso comum. Segundo Abreu (2002), o discurso do senso comum permeia todas as classes sociais, formando a opinião pública. Dessa maneira, dizer, por exemplo, que as instituições do poder brasileiro, na atualidade, é corrupto, é opinião de pessoas cultas e não-cultas, universitárias, dentre outras. Você sabe de onde vêm os ditados populares? Não? É simples, eles surgem do senso comum. Tomemos o ditado “Na briga do mar com o rochedo, quem leva a pior é o caranguejo”. Nele observamos uma verdade comum: na briga entre os grandes, quem sai perdendo são os pequenos. Vamos transportar isso para a cena política. Assim, teríamos que os partidos políticos digladiam-se entre si, mas o povo sai sempre perdendo, pois, no final, há sempre acertos e acordos entre eles que, vale dizer, nunca privilegiam os mais necessitados. Podemos d izer que o momento das grandes descober tas , das grandes invenções, foram também momentos em que as pessoas foram capazes de opor-se ao discurso do senso comum. Geralmente, essas pessoas, em um primeiro instante, se tornam alvo da incompreensão da massa que defende o senso comum. Leitura e Produção Textual 21 22 Foi o que aconteceu com a chamada Revolta da Vacina, uma rebelião popular ocorrida no Rio de Janeiro, de 12 a 15 de novembro de 1904, quando Oswaldo Cruz, diretor-geral da Saúde Pública do governo de Rodrigues Alves, quis vacinar a população da cidade contra febre Amarela. A opinião geral era de que se tratava de inocular a doença nas pessoas. Dizem que até mesmo Rui Barbosa posicionou-se contra a medida, alegando constrangimento das senhoras em expor o braço nu para tomar vacina. Os cariocas, i n fl a m a d o s , l e v a n t a r a m b a r r i c a d a s , q u e b r a r a m lampiões de iluminação pública e incendiaram alguns bondes da cidade. ABREU, 2002, p. 31. Os sofistas, para levar o povo a se opor contra o discurso do senso comum utilizava-se de paradoxos, isto é, opiniões contrárias ao senso comum, com v i s t a s a conduz i - lo s ao estranhamento, isto é, tornar novo o que era habitual. Chico Buarque, em sua música Bom Conselho, pode ser um bom exemplo de estranhamento, pois, a partir do senso comum, lança novos saberes. Assim em “Ouça um bom conselho, que lhe dou de graça”, opõe-se ao saber de consenso “se conselho fosse bom, seria vendido não dado”; em “Devagar é que não se vai longe” instaura um novo saber, oposto ao dito popular: “Devagar se vai ao longe”. Leitura e Produção Textual 23 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Explicitar os tipos de Argumentação. Argumentar é convencer ou persuadir o outro por meio de procedimento linguístico, com vistas a levar o receptor do texto a não apenas receber e compreender a mensagem, mas, principalmente, que o aceite, que creia nela. Os argumentos não precisam ser construídos apenas com base no raciocínio lógico, na razão, mas podem, também, ser plausíveis. Nesta unidade, vamos tratar dos tipos de argumentos possíveis para que o texto seja consistente. Unidade 08 Tipos de argumentação ESTUDANDO E REFLETINDO Dos vários tipos de argumentos, Fiorin e Saviolli (1996) destacam: argumento de autoridade; argumento baseado no consenso; argumento baseado em provas concretas; argumento baseado no raciocínio lógico; argumento da competência linguística. Por Argumento de Autoridade, compreende-se a citação de autores, notadamente, reconhecidos numa certa área do saber. Na verdade, o argumento de autoridade auxilia-nos a comprovar nosso ponto de vista, além de criar a imagem de que somos leitores. No texto da unidade anterior, Rubem Alves escreve: Diz Alberto Caeiro que o mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele. Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito. Os olhos são a porta pela qual a beleza entra na alma. Leitura e Produção Textual24 No fragmento acima, para corroborar seu ponto de vista de que os olhos são a porta pela qual a beleza entra, Rubem Alves recorre a duas citações. A primeira diz respeito ao heterônimo de Fernando pessoa, Alberto Caeiro “mundo é para ser visto, e não para pensarmos nele”; a segunda refere-se aos poemas bíblicos “Nos poemas bíblicos da criação está relatado que Deus, ao fim de cada dia de trabalho, sorria ao contemplar o mundo que estava criando: tudo era muito bonito”. Ora, os dois argumentos empregados por Rubem Alves conduz-nos a crer que os olhos são a porta por onde entra a beleza. O argumento de autoridade pode ser forte para a comprovação de uma ideia, no entanto, é preciso tomar cuidado para não se fazer citação errada ou incompatível com aquilo que se quer fazer crer. Argumento com base no consenso diz respeito a certas ciências cujas proposições são evidentes e indemonstráveis, como por exemplo, quando afirmamos que duas metades formam um inteiro e que este é maior que as partes, estamos nos referindo a um axioma matemático. Há outras ciências, cujas proposições são máximas, aceitas como verdadeiras em determinada época. É preciso não confundir consenso c o m f r a s e p r o n t a , c l i c h ê o u f r a s e s preconceituosas do tipo: Só é pobre quem não trabalha. Quando exteriorizamos um ponto de vista, um julgamento sobre algum fato, faz-se necessário comprová-lo com fatos pertinentes e adequados. Nesse caso, estamos empregando Argumento baseado em provas concretas. Se dissermos, por exemplo, que não vai chover e não comprovarmos com fatos, tais como, não há nuvens no céu, o sol brilha intensamente, nossa afirmação será contestada, pois alguém poderá dizer:,”Vai, sim, olha a nuvem que está se formando ali”. O argumento com base em provas concretas requer cuidado com generalizações. Se alguém diz “Todos os políticos são desonestos”, embora a mídia tenha explorado isso, basta alguém citar um honesto, para que a afirmação seja contestada. Argumento baseado no raciocínio lógico diz respeito às relações estabelecidas entre as proposições. No exemplo abaixo, é possível verificar relações lógicas entre as proposições. Nokia, o mundo todo só fala nele. Vamos iniciar a discussão do exemplo acima, a partir da ambiguidade do termo “fala”. Assim, podemos entender que todo mundo usa o Nokia para se comunicar (fala nele), mas pode-se depreender, também, que todo mundo fala nele, no sentido de elogiar suas qualidades. Bom, você poderia me questionar onde está o raciocínio lógico entre as proposições. É simples: todo mundo fala nele, porque ele é melhor ; estabelecendo-se, portanto, uma relação de causa e consequência. Leitura e Produção Textual 25 Esse tipo de argumento pode ser compromet ido , quando se foge do tema, como podemos verificar no exemplo abaixo. No quarto bloco do penúltimo debate entre os candidatos à prefeitura de São Paulo no primeiro turno, Paulo M a l u f ( P P ) a t a c o u o s concorrentes e foi alvo de várias c r í t i c a s p o r p a r t e d o s adversários. Soninha Francine (PPS) lembrou que o candidato do PP disse que se Pitta não fosse um bom prefeito, as pessoas não deveriam mais votar nele. "É difícil seguir os seus conselhos?", perguntou a candidata. Maluf disse que há 41 anos está no mesmo partido. "A Soninha saiu do PT e foi para o PPS". O ex-prefeito respondeu que não fica em cima do muro e que quando Soninha anda de bicicleta pela cidade, passa por obras de sua administração. O candidato ainda citou uma matéria jornalística na qual Soninha teria dito que fuma maconha. Logo depois, Maluf foi advertido por ter infringido as regras do debate levando material de fora. http://noticias.terra.com.br /eleicoes/2008/interna/0,,OI3217 7 9 5 - E I 1 1 8 7 9 , 0 0 - Maluf+ataca+e+vira+alvo+em+d ebate+em+SP.html No texto acima, observamos que Maluf fugiu ao tema, pois não respondeu, devidamente, à questão que lhe fora dirigida. Outro problema decorrente do mau uso do argumento baseado no raciocínio lógico é a tautologia, isto é, tentar comprovar uma tese, repetindo-a com palavras diferentes. Um exemplo bem comum é João é gordo, porque não é magro. Já abordamos que o uso da língua deve ser adequado à situação comunicativa em que se encontra o falante. Podemos até fazer entre o uso da língua e as roupas com que nos vestimos. Assim, ninguém vai a uma praia e fica de 8:00 h às 12:00 h, debaixo de um sol quente com um vestido longo ou com terno a rigor. O mesmo ocorre com a língua, dependendo da situação formal ou informal e do tipo de receptor, nós empregamos um determinado padrão linguístico. Nessa perspectiva, ninguém diz para o outro: “Por obséquio, queira ir para o inferno”. Sabe por quê? Porque “por obséquio” é formal, imperativo polido e “ir para o inferno” é informal. Em se tratando de argumentação, o modo como dizemos é fundamental para expressar confiabilidade no que falamos. Um médico, por exemplo, deve empregar termos próprios de sua profissão, para comunicar suas experiências; um advogado deverá recorrer à linguagem jurídica para fazer uma petição ou montar um processo. A esse emprego da língua em conformidade com a situação comunicativa em que nos encontramos dá-se o nome de Argumento da competência linguística. Leitura e Produção Textual BUSCANDO CONHECIMENTO Sites para consulta. - Tipos de Argumentação. http://www.brasilescola.com/redacao/a-argumentacao.htm - Dissertação e Narração: Tipos de Argumentos. http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/portugues/redacao/dissertacao_e_narracao/argumentos - Principais Tipos de Argumentos. http://afilosofia.no.sapo.pt/11Tiposargum.htm - A Argumentação. Os diferentes tipos de Argumentação http://www.brasilescola.com/redacao/a-argumentacao.htm Leitura e Produção Textual 26 27 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Reconhecer que a competência textual se desenvolve a partir da leitura e da observação de textos, aprimorando sua produção textual. Unidade 09 Produção Textual ESTUDANDO E REFLETINDO Redigir um texto para muitos pode parecer um procedimento muito difícil. Caso esta habilidade não seja aprimorada, acaba se tornando um estigma. Para que essa habilidade seja aprimorada é preciso desenvolver o hábito da leitura o que proporciona um acervo linguístico mais elaborado, mas que não é suficiente para a elaboração de textos. Existem dois outros fatores que são importantes, o conhecimento linguístico (gramatical) e o próprio conhecimento de mundo. Um texto é construído a partir da combinação perfeita entre as palavras, a disposição das frases e períodos, parágrafos formados por um todo coeso, claro e coerente. Outro aspecto importante é o fato de que constantemente o emissor precisa fazer uma releitura de sua produção, pois, no momento em que está redigindo não se atém para possíveis falhas que podem incidir diretamente na qualidade da mensagem. Ao realizar a releitura, o emissor poderá acrescentar e/ou retirar elementos, que contribuem para o aprimoramento da habilidade discursiva. A produção de textos em sala de aula ganhou papel importante, a redação foi substituída pela produção de textos realizada pelo aluno. Essa troca, aliada a interações e propostas pedagógicas diferentes dentro do conteúdo linguístico, ganha considerável importância devido à necessidade de tornar o aluno leitor-produtor. Visto a importância de leitura e escritaem sala de aula, professor e aluno precisam entender que um texto nasce de outro texto, ou seja, de leituras anteriores e a escola entra nesse contexto como participante desse processo. Leitura e Produção Textual 28 Provocar esse contato é importante, pois reconhece que é a partir da leitura que se aprende e se constrói culturalmente, e dentro de uma concepção de aluno leitor - produtor e numa perspectiva da linguagem como uma atividade interindividual. Para produzir um texto é necessário que alguns aspectos sejam revistos: O tema geral: é o assunto a ser tratado que normalmente abre espaço a outras vertentes; O tema específico: não é fornecido. Trata- se da delimitação do assunto proposto. Quanto mais o escritor especificar o tema geral, mais focado em um objetivo estará e, portanto, mais seguro; Ambiente: se puder escolher, vá para o lugar da casa ou da escola onde você possa se desligar do mundo exterior, para se aprofundar no que irá escrever. Se não puder, busque na sala de aula esse lugar de conforto, de quietude. Além disso, o ambiente deve estar bastante iluminado e arejado; Estrutura: Faça uma introdução de no máximo cinco linhas e aponte nesse momento o assunto a ser tratado, além de levantar seu ponto de vista. No caso da narração, introduza a personagem e o conflito a ser solucionado. No desenvolvimento, esclareça seus argumentos, coloque exemplos, assinale fatos que estejam de acordo com seu ponto de vista sobre o tema. Se for uma narrativa, é o momento de expor os acontecimentos, as ações das personagens. Faça uma conclusão, também em poucas linhas, que reforce ainda mais sua visão sobre o assunto específico e mais ainda, dê uma sugestão, uma resolução. Na narrativa, exponha a solução do conflito; Rascunho: Use o rascunho para que não rasure, para que tenha certeza do que irá escrever, para evitar erros de grafia, pontuação e concordância, pois é uma chance para rever o que escreveu. Uma dica importante é se colocar no papel de leitor, imaginando que aquele texto está em um jornal, revista ou em um livro. Dessa forma, você terá uma visão crítica a respeito de si mesmo enquanto escritor. Ler e Escrever na Escola: o Real, o Possível e o Necessário, Délia Lerner Leitura e Produção Textual 29 “Os comportamentos do leitor e do escritor são conteúdos - e não tarefas, como se poderia acreditar - porque são aspectos do que se espera que os alunos aprendam, porque se fazem presentes na sala de aula precisamente para que os alunos se apropriem deles e possam pô-los em ação no futuro, como praticantes da leitura e da escrita.” Trechos do livro Ler e Escrever na Escola: o Real, o Possível e o Necessário, Délia Lerner, 128 págs., Ed. Artmed BUSCANDO CONHECIMENTO h�p://www.portugues.com.br/redacao/a-producao-textual---uma-analise-discursiva-.html h�p://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/grama�ca-ortografia/32/producao-de-texto--235983-1.asp h�p://www.brasilescola.com/redacao/producao-texto.htm Leitura e Produção Textual 30 Unidade 10 Gêneros Textuais CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Mostrar as diferentes formas de linguagens e que cada gênero textual tem seu próprio estilo diferenciando um do outro através de suas características. ESTUDANDO E REFLETINDO Os textos, embora diferentes entre si façam parte do nosso dia a dia, pois para pedir um café, solicitar o cancelamento do cartão de crédito, convidar um amigo para sair no final de semana, revindicar melhorias para o seu bairro, utilizamos o texto seja ele oral ou escrito. Embora diferentes entre si, os textos possuem pontos em comum, pois podem se repetir no conteúdo, no tipo de linguagem, na estrutura. Apresentando um conjunto de características semelhantes, seja na estrutura, conteúdo ou tipo de linguagem, configura-se o gênero textual. Os gêneros textuais são estruturas linguísticas concretas definidas por propriedades sociocomunicativas, ou seja, dentro de um contexto cultural e com função comunicativa. Essa estrutura abrange um conjunto praticamente ilimitado de características determinadas pelo estilo do autor, conteúdo, composição e função, e podem ser orais ou escritas como descrito pela tabela a seguir: Leitura e Produção Textual 31 Gêneros orais e escritos Domínios sociais de comunicação Aspectos tipológicos Capacidade de linguagem dominante Exemplo de gêneros orais e escritos Cultura Literária Ficcional Narrar Detalhes de ação através da criação da intriga no domínio do verossímil Conto de Fadas, fábula, lenda, narrativa de aventura, narrativa de ficção cientifica, narrativa de enigma, narrativa mítica, história engraçada, biografia romanceada, romance, romance histórico, novela fantástica, conto, crônica literária, adivinha, piada Documentação e memorização das ações humanas Relatar Representação pelo discurso de experiências vividas, situadas no tempo. Relato de experiência vivida, relato de viagem, diário íntimo, testemunho, anedota ou caso, autobiografia, curriculum vitae, notícia, reportagem, crônica social, crônica esportiva, histórico, relato histórico, ensaio ou perfil biográfico, biografia. Leitura e Produção Textual 32 Discussão de problemas sociais controversos Argumentar Sustentação, refutação e negociação de tomadas de posição. Textos de opinião, diálogo argumentativo, carta de leitor, carta de solicitação, deliberação informal, debate regrado, assembleia, discurso de defesa (advocacia), discurso de acusação (advocacia), resenha crítica, artigos de opinião ou assinados, editorial, ensaio. Transmissão e construção de saberes Expor Apresentação textual de diferentes formas dos saberes Texto expositivo, exposição oral, seminário, conferência, comunicação oral, palestra, entrevista de especialista, verbete, artigo enciclopédico, texto explicativo, tomada de notas, resumo de textos expositivos e explicativos, resenha, relatório científico, relatório oral de experiência. Instruções e prescrições Descrever ações Regulação mútua de comportamentos Instruções de montagem, receita, regulamento, regras de jogo, instruções de uso, comandos diversos, textos prescritivos. Tabela 1 - Gêneros orais e escritos. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/G%C3%AAneros_de_textos Leitura e Produção Textual 33 Cada gênero possui sua característica, não sendo possível definir a quantidade de gêneros textuais existentes. Eles são criados com o objet ivo de sat i s fazer a determinadas necessidades de comunicação, podendo aparecer e desaparecer de acordo com a época. Por isso, podemos afirmar que o gênero textual é uma questão de uso. Entretanto, é importante destacar que não existe um texto que seja, por exemplo, exclusivamente argumentativo. Ao afirmar que o texto é argumentativo, as características dominantes são levadas em consideração para identificar e diferenciar dos demais gêneros textuais. Exemplo: Carta: quando se trata de "carta aberta" ou "carta ao leitor", tende a ser do tipo dissertativo-argumentativo com uma linguagem formal, em que se escreve à sociedade ou a leitores. Quando se trata de "carta pessoal", a presença de aspectos narrativos ou descritivos e uma linguagem pessoal é mais comum. Propaganda: é um gênero textual dissertativo-expositivo onde há a o intuito de propagar informações sobre algo, buscandosempre atingir e influenciar o leitor apresentando, na maioria das vezes, mensagens que despertam as emoções e a sensibilidade do mesmo. Bula de remédio: é um gênero textual descritivo, dissertativo-expositivo e injuntivo que tem por obrigação fornecer as informações necessárias para o correto uso do medicamento. Receita: é um gênero textual descritivo e injuntivo que tem por objetivo informar a fórmula para preparar tal comida, descrevendo os ingredientes e o preparo destes, além disso, com verbos no imperativo, dado o sentido de ordem, para que o leitor siga corretamente as instruções. Tutorial: é um gênero injuntivo que consiste num guia que tem por finalidade explicar ao leitor, passo a passo e de maneira simplificada, como fazer algo. Editorial: é um gênero textual dissertativo- argumentativo que expressa o posicionamento da empresa sobre determinado assunto, sem a obrigação da presença da objetividade. Not í c ia : podemos per fe i tamente identificar características narrativas, o fato ocorrido que se deu em um determinado momento e em um determinado lugar, envolvendo determinadas personagens. Características do lugar, bem como dos personagens envolvidos são, muitas vezes, minuciosamente descritos. Leitura e Produção Textual 34 Reportagem: é um gênero textual jornalístico de caráter dissertativo-expositivo. A reportagem tem, por objetivo, informar e levar os fatos ao leitor de uma maneira clara, com linguagem direta. En t rev i s ta : é um gênero tex tua l fundamentalmente dialogal, representado pela conversação de duas ou mais pessoas, o entrevistador e o(s) entrevistado(s), para obter informações sobre ou do entrevistado, ou de algum outro assunto. Geralmente envolve também aspectos dissertativo-expositivos, especialmente quando se trata de entrevista a imprensa ou entrevista jornalística. Mas pode também envolver aspectos narrativos, como na entrevista de emprego, ou aspectos descritivos, como na entrevista médica. História em quadrinhos: é um gênero narrativo que consiste em enredos contados em pequenos quadros através de diálogos diretos entre seus personagens, gerando uma espécie de conversação. Charge: é um gênero textual narrativo onde se faz uma espécie de ilustração cômica, através de caricaturas, com o objetivo de realizar uma sátira, crítica ou comentário sobre algum acontecimento atual, em sua grande maioria. Poema: trabalho elaborado e estruturado em versos. Além dos versos, pode ser estruturado em estrofes. Rimas e métrica também podem fazer parte de sua composição. Pode ou não ser poético. Dependendo de sua estrutura, pode receber classificações específicas, como haicai, soneto, epopeia, poema figurado, dramático, etc. Em geral, a presença de aspectos narrativos e descritivos é mais frequente neste gênero. Poesia: é o conteúdo capaz de transmitir emoções por meio de uma linguagem, ou seja, tudo o que toca e comove pode ser considerado como poético (até mesmo uma peça ou um filme podem ser assim considerados). Um subgênero é a prosa poética, marcada pela tipologia dialogal. Figura 1 - Exemplos de gêneros textuais. Disponível em : http://www.portuguesxconcursos.com.br/p/tipologia-textual- tipos-generos.html Para facilitar a aprendizagem, entenda que o gênero textual é a parte concreta, prática, enquanto a tipologia textual integra um campo mais teórico, mais formal. BUSCANDO CONHECIMENTO Site 1 Site 2 Site 3 Site 4 Leitura e Produção Textual 35 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivo: Estudar as especificidades do texto narrativo, levando em conta que não existe texto em estado puro e que a classificação em dissertação, narração e descrição é meramente didática. Unidade 11 O texto narrativo ESTUDANDO E REFLETINDO Enquanto a descrição consiste na exposição de características num tempo fixo, o texto narrativo apresenta uma passagem de tempo , po r me io de uma re l a ção de anter ior idade ou de poster idade , que necessariamente, não precisa vir nesta ordem linear. No entanto não se deve confundir descrição dinâmica com narração. A descrição dinâmica consiste numa caracterização, em um tempo fixo, mas com verbos de movimento. Vejamos o exemplo: A Bailarina Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Não conhece nem dó nem ré mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem mi nem fá Mas inclina o corpo para cá e para lá Não conhece nem lá nem si, mas fecha os olhos e sorri. Roda, roda, roda, com os bracinhos no ar e não fica tonta nem sai do lugar. Põe no cabelo uma estrela e um véu e diz que caiu do céu. Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Mas depois esquece todas as danças, e também quer dormir como as outras crianças. (Cecília Meireles pensador.uol.com.br/frase/NjA4NzQy/) Leitura e Produção Textual 36 Observe no texto acima que até a penúltima estrofe, por não haver a passagem do tempo, não ocor re nar ração . Ver i fica-se apenas a caracterização dos gestos da menina em um tempo fixo. Todavia essa caracterização é feita por meio de formas verba is que denotam movimento: “inclina”, “roda”, “fecha os olhos”, “sorri”. Portanto, até a penúltima estrofe, o texto é estruturado numa descrição dinâmica. Já, na última estrofe, na conclusão do texto, manifesta-se, a narração por meio do advérbio de tempo “depois”, imprimindo uma relação de posteridade. Logo o poema é predominantemente descritivo, mas com o fecho narrativo. BUSCANDO CONHECIMENTO Passaremos agora a estudar os principais elementos da narrativa, ou seja, os aspectos que compõem uma narração e que devem ser levados em conta por um leitor proficiente. O Foco Narrativo: é a voz que faz o relato, é o narrador, que pode ser em 1ª pessoa (narrador- personagem, participa da história) ou 3ª pessoa (não participa da história), que geralmente é onisciente (relata ao leitor o íntimo das personagens). Vale ressaltar que todo relato é parcial, visto que o narrador manipula o leitor a ficar favorável à ideia defendida por ele. É o caso do narrador Bentinho, protagonista de Dom Casmurro de Machado de Assis, que, sem ter provas, acusa sua esposa Capitu de ter dado à luz um filho que não é dele, conduzindo o leitor a acreditar neste seu ponto de vista. Já o narrador onisciente é percebido através de verbos que denotam interioridade como “pensar”, “imaginar”, “sonhar”, “desconfiar”, etc. Veja o exemplo abaixo: “Fabiano roncava de papo para cima... Sonhava agoniado... Fabiano se agitava. soprando. Muitos soldados amarelos tinham aparecido, pisavam- lhe os pés com enormes retinas e ameaçavam-no c o m f a c õ e s t e r r í ve i s . " ( G r a c i l i a n o R a m o s www.passeiweb.com/estudos/livros/vidas_secas ) As Personagens: são classificadas como protagonistas (personagens principais) e secundárias. O Tempo: pode ser Cronológico ou Psicológico. O tempo cronológico é marcado pelo transcorrer natural das horas, dias, meses e anos. Já o tempo psicológico é o que transcorre no íntimo de cada personagem (ou de cada ser humano), numa ordem determinada pelo seu desejo ou imaginação. É o tempo interior que se alarga ou se encurta conforme o estado de espírito da personagem. Para exemplificar, observe esta passagem do conto Missa do Galo (Machado de Assis), em que o narrador-personagem espera a meia-noite da véspera de Natal: Leitura e Produção Textual 37 “Os minutos voavam, aocontrário do que costumam fazer, quando são de espera; ouvi bater onze horas, mas quase sem dar por elas, um acaso”. Observe como o tempo para o narrador o tempo passa rápido, pois, era esta a sensação que ele, tinha naquele momento.. Espaço: trata-se do local onde se desenvolve o enredo, podendo ser interno (interior de um estabelecimento, de um meio de transporte) ou externo (ao ar livre). Em algumas narrativas, o espaço é tão importante que chega a ser o título da obra, como é o caso de O Cortiço de Aluísio Azevedo, A Cidade e as Serras de Eça de Queirós, Estação Carandiru de Dráuzio Varela, etc. Enredo: também denominado trama ou intriga é o desenrolar dos acontecimentos, que estruturam a ação de um texto narrativo. O enredo pode ser organizado de várias formas. A mais comum é a narrativa linear, que se desenvolve da seguinte maneira: 1) Apresentação: das personagens, do espaço e das referências temporais. 2) Complicação: surgimento de um conflito ou de conflitos, que conduzem a narrativa a um ponto de tensão. 3) Clímax: é o ponto máximo de tensão. 4) Desfecho ou desenlace: resolução do conflito com o equilíbrio que se restabelece depois do clímax. Exemplo: Numa tarde ensolarada do verão carioca, Hélio e seu amigo Duda caminhavam pelo calçadão de Copacabana, quando foram abordados por um homem estranho. Pararam, receosos, pensando se tratar de um assalto. Grande foi o alívio, quando reconheceram ser apenas um bêbado que tentava retornar para a sua casa. Concluímos, portanto, que a narração de um episódio impl ica , a lém do narrador, a interferência dos seguintes elementos: enredo – o quê? personagem – quem? espaço – onde? tempo – quando? Leitura e Produção Textual 38 CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Estudar as especificidades e distinções entre os textos figurativo e temático. Tornar o texto poético familiar ao aluno. Unidade 12 Texto figurativo e texto temático ESTUDANDO E REFLETINDO Observe os seguintes enunciados: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura” e “com muita persistência, atinge-se o objetivo.” Ambos querem dizer a mesma coisa, ou seja, apresentam o mesmo conteúdo, porém expresso de formas diferentes. O primeiro enunciado é um texto figurativo, pois expõe o conteúdo com termos predominantemente concretos, denominados figuras: “água”, “pedra”. Já o segundo enunciado transmite o conteúdo por meio de palavras abstratas, denominadas temas: persistência e objetivo, sendo, portanto um texto temático. É importante frisar que um texto figurativo pode apresentar temas e o temático, figuras, no entanto deve-se verificar o que é predominante. Enquanto os textos temáticos são mais objetivos, centrados na função informativa ou referencial da linguagem, os textos figurativos são mais subjetivos, abertos a mais de uma interpretação, centrados, portanto, na função poética da linguagem; é o caso dos provérbios, fábulas, poemas e prosas poéticas. Vale ressaltar que pode haver textos temáticos sem figuras, porém todo texto figurativo sempre vai pressupor um tema sob a figura. A compreensão de um texto figurativo, portanto, requer do leitor abstrair o tema que está subjacente à figura. Vejamos o exemplo: Infância Um gosto de amora comida com sol. A vida chamava-se "Agora". (Guilherme de Almeida - www.jornaldepoesia.jor.br/gu1.html) Leitura e Produção Textual 39 Acima temos um haicai, poema de origem japonesa e de forma fixa, pois sempre se estrutura em três versos, sendo que o primeiro e o último verso são sempre escritos em cinco sílabas poéticas (redondilha menor) e o segundo verso sempre em sete sílabas (redondilha maior). Como consequência, obtém-se a concisão. Estamos diante de um texto figurativo, em que predominam substantivos concretos, as figuras “amora” e “sol”, que subentendem respectivamente doçura e claridade, termos que nos remetem ao tema da felicidade, substantivo abstrato. Logo a infância para o poeta é uma época de felicidade. Ao afirmar que “o tempo chamava-se agora”, o eu lírico pressupõe, pela forma verbal “chamava” no pretérito, que o tempo, no momento que ele cria o poema, não é mais a infância e nem se vive mais o agora, o momento presente. Todo texto sugere uma oposição e no poema de Guilherme de Almeida esta oposição se manifesta, contrapondo passado (infância, com valor positivo: felicidade) e presente (momento de criação do poema, com valor negativo: perda da capacidade de aproveitar o momento presente). BUSCANDO CONHECIMENTO O texto figurativo é composto pela linguagem figurada, também denominada cono ta t i va , cu j a abo rdagem ex ige o conhecimento de pr incipais figuras de linguagem expostas a seguir: - Símile: é uma comparação entre elementos de universos semânticos (de sentido) diferentes, com o emprego dos termos comparativos (como, mais que, menos que, etc.). - Metáfora: é a figura em que um termo substitui outro numa relação de semelhança ou similaridade entre elementos de universos semânticos diferentes, sendo também uma comparação abreviada, em que o termo comparativo e até mesmo a qualidade comum não estão expressos, mas subentendidos. Observe: Esta criança é forte como um touro. (símile) x Esta criança é um touro. (metáfora); “lábios de mel” (metáfora) x lábios doces como o mel (símile). Perceba que, embora “criança” seja do universo humano e “touro” do universo animal, há algo similar entre eles, à força. Temos, portanto, uma relação metafórica, porém a presença do conectivo “como” faz com que o primeiro enunciado se denomine símile. O mesmo se dá com a expressão “lábios de mel”, pois “lábios” se inserem no universo humano e “mel” no universo animal, por ser produto da abelha. Leitura e Produção Textual 40 - Metonímia ou Sinédoque: substituição de uma palavra por outra de universo semântico próximo, sendo, portanto, mais objetiva que a metáfora: Gosto de ler Machado de Assis (livros); “O bonde vai cheio de pernas” (pessoas) Ao contrário da relação metafórica, “livros” tem estreita relação com Machado de Assis, que é escritor, bem como é normal que pessoas tenham pernas. Logo estamos diante de relações metonímicas. - Antítese: emprego de termos de significado diferente, sem gerar uma ideia absurda, por não haver simultaneidade: Ontem acordei contente e fui dormir descontente. O enunciado acima não traz nenhuma informação absurda, embora apresente palavras de sentidos opostos. Isso porque as ações não são simultâneas, ocorreram ao logo do tempo. - Pa r a d o x o : i d e i a s c o n t r á r i a s , a pa re n t e m e n t e a b s u rd a s , p o r h a v e r simultaneidade. “(Amor) É um contentamento descontente.” Ao contrário da antítese, acima há s imu l t ane idade , que ge ra uma ide i a aparentemente absurda, pois como pode o amor ser, ao mesmo tempo, contente e descontente? Estamos diante de um paradoxo, por meio do qual o poeta quer dizer que o amor é um sentimento contraditório, pois é contentamento porque estamos envolvidos com alguém que nos preenche, mas, ao mesmo tempo, é descontente, pois nos deixa inseguros, com medo de perder este sentimento que nos faz tão bem. Vejamos outros exemplos de paradoxo: “museu de grandes novidades”; “mentiras sinceras”; “No meu céu a estrela-guia se perdeu”. - Ironia: querer dizer o contrário do que se afirma, visando a critica: “Marcela amou-me durante quinze
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