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Apostila de Educação Ambiental - A CRISE AMBIENTAL E A QUESTÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

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A CRISE AMBIENTAL E A QUESTÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL
Desde a década de 70 a humanidade vem tomando consciência de que existe uma crise ambiental planetária. Não se trata apenas de poluição de áreas isoladas, mas de uma real ameaça à sobrevivência dos seres humanos, talvez até de toda a biosfera. O notável acúmulo de armamentos nucleares nas décadas de 50, 60 e 70 ocasionou um sério risco de extermínio, algo que nunca tinha sido possível anteriormente. A multiplicação de usinas nucleares levanta o problema do escape de radiatividade para o meio ambiente e coloca a questão do que fazer com o perigoso lixo atômico. O acúmulo de gás carbônico também na atmosfera representa um risco de catástrofe, pois ocasiona o crescimento do efeito estufa, que eleva as médias térmicas da maior parte dos climas do planeta.
 Muitos outros problemas ambientais podem ser lembrados. Um deles é a contaminação de alimentos por produtos químicos nocivos à saúde humana, como agrotóxicos, adubos químicos, hormônios e medicamentos aplicados comumente ao gado para que ele cresça mais rapidamente ou não contraia doenças. Podemos acrescentar ainda a crescente poluição dos oceanos e mares, o avanço da desertificação, o desmatamento acelerado das últimas grandes reservas florestais originais do planeta (Amazônia, bacia do rio Congo e Taiga), a extinção irreversível de milhares ou até milhões de espécies vegetais e animais, etc.
 Podemos falar numa consciência ecológica da humanidade em geral, embora com diferentes ritmos - mais avançada no Norte e mais tardia nos países subdesenvolvidos - que se iniciou por volta da década de 70 e cresce a cada ano. Trata-se da consciência de estarmos todos numa mesma “nave espacial”, o planeta Terra, o único que conhecemos que possibilitou a existência de uma biosfera. Trata-se ainda da consciência de que é imperativo para a própria sobrevivência da humanidade modificar o nosso relacionamento com a natureza. A natureza deixa aos poucos de ser vista como mero recurso inerte e passa a ser encarada como um conjunto vivo do qual fazemos parte e com o qual temos que procurar viver em harmonia.
           
UM PROBLEMA MUNDIAL 
 Um fato que ficou claro desde os anos 70 é que o problema ambiental, embora possa apresentar diferenças nacionais e regionais, é antes de mais nada planetário, global. A longo prazo, de nada adianta, por exemplo, transferir indústrias poluidoras de uma área (ou país) para outra, pois do ponto de vista da biosfera nada se altera. Não podemos esquecer que a atmosfera é uma só, que as águas se interligam (o ciclo hidrológico), que os ventos e os climas são planetários.
 Vamos imaginar que estamos numa enorme casa, com todas as janelas e portas fechadas, e há uma fogueira num quarto nobre envenenando o ar. Alguém propõe então transferir a fogueira para outro quarto, considerado menos nobre. Isso elimina o problema de ar contaminado? Claro que não. No máximo pode dar a impressão de que por algum tempo melhorou a situação dos que ocupam o quarto nobre. Todavia, depois de um certo período (horas ou dias), fica evidente que o ar da casa é um só e que a poluição num compartimento propaga-se para todo o conjunto. A biosfera, onde se inclui o ar que respiramos, as águas e todos os ecossistemas, é uma só apesar de muito maior que essa casa hipotética. O ar, embora exista em grande quantidade, na realidade é limitado e interligado em todas as áreas. Poderíamos abrir portas e janelas daquela casa, mas isso não é possível para a biosfera, para o ar ou as águas do nosso planeta.
 Outro aspecto do caráter mundial que a crise ambiental possui é que praticamente tudo o que ocorre nos demais países acaba nos afetando. Até algumas décadas atrás era comum a opinião de que ninguém tem nada a ver  com os outros, cada país pode fazer o que bem entender com o seu território e com as suas paisagens naturais. Hoje isso começa a mudar. Vai ficando claro que explosões atômicas russas ou norte-americanas, mesmo realizadas no subsolo ou em áreas desérticas desses países, acabam mais cedo ou  mais tarde nos contaminando pela propagação da radiação. Também a poluição dos mares e oceanos (e até dos rios, que afinal desembocam no mar), mesmo realizada na litoral de algum país, acaba se propagando, atingindo com o tempo outros países. As enormes queimadas de florestas na África ou na América do Sul não dizem respeito unicamente aos países que as praticam; elas fazem diminuir a massa vegetal sobre o planeta ( e as plantas, pela fotossíntese, contribuem para a renovação do oxigênio do ar) e, o que é mais importante, liberam enormes quantidades de gás carbônico na atmosfera, fato que acaba por atingir a todos os seres humanos. Inúmeros outros exemplos poderiam ser mencionados. Todos eles levam à conclusão de que a questão do meio ambiente é mundial e é necessário criar formas de proteção da natureza que sejam planetárias, que não fiquem dependentes somente de interesses locais - e as vezes mesquinhos - dos governos nacionais.
CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E A PRÁTICA COTIDIANA
Concluímos que ao tratarmos a questão da consciência ambiental aliada a sua prática, devemos atentar para a complexidade de questões que envolvem o problema, principalmente com relação ao individuo de querer ou estar preparado para assimilar conceitos e aplicá-los.
O processo de efetividade da formação da cidadania ambiental se dá a partir da tomada de consciência crítica do individuo com a realidade onde este está inserido, ou seja, de forma individualizada.
Para Fernandes (2003, p. 01), "cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente em relação ao ambiente em que está inserido".Esse comportamento está diretamente relacionado à soma do seu processo cognitivo (julgamentos, expectativas e vivência de cada um), ou seja, a interação das suas percepções individuais.
O individuo ao mesmo tempo em que é influenciado, tem poder de influenciar seus pares e essas influências estão diretamente relacionadas á sua condição de desenvolvimento e qualidade de vida, que quase sempre é direcionada pela sua condição sócio-econômica e cultural. Em regra cada indivíduo, então, organiza sua própria maneira de viver, subordinada a cultura, à educação, ao poder econômico e ao meio ao qual pertence.
Segundo Takayanagui (1993, p. 93), o indivíduo organiza sua própria maneira de viver e essa forma de conduzir sua vida, esta intrinsecamente ligada a sua cultura, à educação, seu poder econômico e ao meio ao qual pertence; o autor chama a atenção para a complexidade dessa questão, principalmente para a dificuldade na mudança de comportamento de cada um.
Com relação á motivação e à conscientização, o que se percebe é que obedecendo ou não ao determinismo genético, subsiste a iniciativa do homem de assumir diferentes tipos de comportamento e de definir o que quer para si, traçando de modo individual seus objetivos de vida.
Assim, pode-se encontrar um indivíduo ou mesmo um grupo de pessoas que, mesmo conhecendo a problemática ambiental e até mesmo que prega de forma eloqüente em seus discursos uma postura ecologicamente correta, na prática não adotam uma postura coerente com suas falas, ou seja, promovem a conscientização, mas não agem de modo efetivo.
Sem desconsiderar a necessidade dos governos e organizações do setor privado em promover a adoção de atitudes positivas em relação ao consumo sustentável, desenvolvendo e implementando programas de esclarecimento do público e serviços que utilizem tecnologias ambientalmente saudáveis, se faz importante que exista vontade política, de todas as pessoas diretamente envolvidas, sejam elas públicas ou privadas, individuais ou coletivas.
TROCANDO AS LENTES 
A EA surge em um terreno marcado por uma tradição naturalista. Superar essa marca, median​te a afirmação de uma visão socioambiental, exi​ge um esforço de superação da dicotomia entre natureza e sociedade, para poder ver as relações de interação permanente entrea vida humana social e a vida biológica da natureza. 
A visão socioambiental orienta-se por uma ra​cionalidade complexa e interdisciplinar e pensa o meio ambiente não como sinônimo de natureza intocada, mas como um campo de interações en​tre a cultura, a sociedade e a base física e biológi​ca dos processos vitais, no qual todos os termos dessa relação se modificam dinâmica e mutua​mente. Tal perspectiva considera o meio ambien​te como espaço relacional, em que a presença humana, longe de ser percebida como extem​porânea, intrusa ou desagregadora ("câncer do planeta"), aparece como um agente que pertence à teia de relações da vida social, natural e cultural e interage com ela. Assim, para o olhar socioam​biental, as modificações resultantes da interação entre os seres humanos e a natureza nem sempre são nefastas; podem muitas vezes ser susten​táveis, propiciando, não raro, um aumento da biodiversidade pelo tipo de ação humana ali exercida. Nesse caso, poderíamos pensar essa relação como um tipo de sociobiodiversidade, ou seja, uma condição de interação que enriquece o meio ambiente, como é o caso de vários grupos extrativistas e ribeirinhos e dos povos indígenas. 
A conseqüência de uma visão predominante​mente naturalista-conservacionista é a redução do meio ambiente a apenas uma de suas dimen​sões, desprezando a riqueza da permanente in​teração entre a natureza e a cultura humana. O caráter histórico e sempre dinâmico das relações humanas e da cultura com o meio ambiente está fora desse horizonte de compreensão, o que impe​de, conseqüentemente, que se vislumbrem outras soluções para o problema ambiental. 
Em resumo, a visão socioambiental não nega a base "natural" da natureza, ou seja, suas leis físicas e seus processos biológicos, mas chama a atenção para os limites de sua apreensão como mundo autônomo reduzido à dimensão física e biológica. Trata-se de reconhecer que, para apreender a problemática ambienta!, é neces​sária uma visão complexa de meio ambiente, em que a natureza integra uma rede de relações não apenas naturais, mas também sociais e culturais. 
Ao trocar as lentes, vamos ser capazes de com​preender a natureza como ambiente, ou seja, lu​gar das interações entre a base física e cultural da vida neste planeta. Nessa mudança, deslocamo​-nos do mundo estritamente biológico das ciências naturais para o mundo da vida, das humanidades e também dos movimentos sociais, bem mais complexo e abrangente. Esse deslocamento atin​ge não apenas as mentalidades, mas também as palavras e os conceitos. 
Outra Ecologia é Possível: A Ecologia do Movimento Ecológico
A palavra ecologia, além de designar uma área do conhecimento científico, foi associada aos movimentos e práticas sociais que ganharam as ruas e conquistaram muitos adeptos para o projeto de mudança da sociedade em uma direção “ecológica”. A Ecologia “migrou” do vocabulário científico para designar também projetos políticos e valores sociais, como a utopia da boa sociedade, a convivência harmônica com a natureza, a crítica aos valores da sociedade de consumo e ao industrialismo.
Contudo, é preciso ressaltar que, quando usada no contexto dos movimentos sociais, já não é a mesma ecologia dos biólogos. Quando falamos, por exemplo, em movimento ecológico, crise ecológica, consciência ecológica, ação ecológica, etc., estamos adentrando outro universo, em que a palavra está nomeando um campo de preocupações e ações sociais.
Nesse sentido, a ecologia é uma “ideia migrante”, uma ideia-ponte, que transitou de um mundo a outro, do conhecimento científico às lutas sociais, e hoje habita esses dois mundos com sentidos e pretensões diferentes em cada um deles. A partir de então ecologia se torna crítica à sociedade de consumo, criando a expectativa de uma nova sociedade.
Para compreendermos o ideário ecologista é preciso resgatar a atmosfera social e cultural presente no contexto do surgimento dos movimentos ecológicos. Esses movimentos incluem todos aqueles grupos, associações e organizações da sociedade civil que surgiram com grande força no Hemisfério Norte (Estados Unidos e Europa) desde o fim da década de 60 do século passado, mas também pelo Brasil e na América Latina, nas décadas de 70 e 80, denunciando os riscos e impactos ambientais do modo de vida das sociedades industriais modernas. Constituídos principalmente de jovens, e imersos no clima contracultural, articulavam as influências do movimento estudantil de 1968, da nova esquerda e do pacifismo em um ideário de mudança social e existencial, de contestação à sociedade consumista e materialista, tendo como horizonte utópico uma vida livre das normalizações e repressões sociais e em harmonia com a natureza.
Ecologismo e suas Raízes Contraculturais
As ideias ecologistas tiveram origem em um momento da história recente em que a utopia e as energias para a transformação da sociedade estavam em alta. Sonhar, desejar e ousar era a tônica. Esse clima esteve associado a movimentos de questionamento da ordem vigente que, na Europa e nos Estados Unidos, emergiram nos anos 60, tais como a contracultura e a chamada “nova esquerda” – cujo marco foram as manifestações estudantis de maio de 1968 na França.
Os anos 70 inauguraram um período em que as forças étnicas e das minorias eclodiram por toda parte, reivindicando novos direitos e, principalmente, o reconhecimento de diferentes visões, identidades e estilos de vida. Por isso, tais agrupamentos foram chamados de novos movimentos sociais. Esse pródigo momento caracterizou-se por um sentimento amplamente compartilhado de que tudo era possível, de que era “proibido proibir” e de que havia um desatar global de energias.
As sociedades do Hemisfério Norte pulsavam ao compasso da expansão financeira e cultural. A abertura para as alteridades terceiro-mundistas, étnicas e de gênero agudizou as contradições e instalou a luta pelas liberdades e possibilidades de autonomia que pareciam realidades muito próximas para os que fizeram e viveram a contracultura naqueles anos.
Poder-se-ia dizer que foram anos de utopia e ousadia, embalados por uma visão romântica da revolução radical e da contestação à ordem e às disciplinas limitantes do potencial humano e social com o qual se podia sonhar.
Roszak, que foi também um militante do movimento, situa a contracultura como uma reação à tecnocracia, entendida como: “A forma social na qual a sociedade industrial atinge o ápice de sua integração organizacional (...) é o ideal de modernização, planejamento, racionalização que busca legitimidade nas formas científicas de conhecimento” (1972, p.19).
Nesse sentido, a contracultura opõe-se, sobretudo, ao paradigma ocidental moderno, industrial, científico, questionando a racionalidade e o modo de vida da chamada Grande Sociedade – expressão do pensamento crítico da época para designar o padrão social estabelecido.
Dessa forma, a contracultura transcendeu os limites da vida sociopolítica norteamericana e europeia e marcou uma revisão crítica para a sociedade ocidental, fazendo adeptos e valorizando estilos alternativos de vida. Nesse sentido, cabe pensá-la como um macromovimento sociocultural que pode ser observado entre as classes médias urbanas do Ocidente, cuja direção de mudança aponta para a autonomia como valor central. O ecologismo é, reconhecidamente, herdeiro direto desse macromovimento, resgatando seu traço distintivo: a luta por autonomia e emancipação em relação à ordem dominante e a afirmação de novos modos de vida.
Discutir o ecologismo sem situá-lo em relação ao ambiente utópico que lhe dá origem e à sua filiação contracultural seria reduzir a compreensão daquilo que fundamentalmente o inspira e lhe confere poder de atração e convocação à ação. Nele, a visão da natureza como contraponto da vida urbana, tecnocrática e industrial aparece combinada com o sentimento da contestação. O repúdio a uma racionalidade instrumental, aos ideais de progresso, ao individualismo e à lógica do custo-benefício meramente econômicopode ser observado no ideal de uma sociedade ecológica que se afirma como via alternativa à sociedade capitalista de consumo.
Ao levar a problemática ambiental para a esfera pública, o ecologismo confere ao ideário ambiental uma dimensão política. A crítica ecológica situa-se entre as vozes contestatórias do estilo de vida contemporâneo, denunciando sua face materialista, agressora do meio ambiente e bélica. Isso, contudo, não significa que o ecologismo abandone todos os ideais da modernidade ocidental, pois continua preconizando valores éticos e democráticos, bem como uma educação virtuosa do sujeito ecológico.
O Movimento Ecológico no Brasil
No Brasil e na América Latina, a década de 70 do século passado é marcada pela luta pela democracia em um contexto de governos autoritários. As influências da contracultura e da nova esquerda vão-se fazer sentir, porém ganhando matizes peculiares e cronologia um pouco diferente. Ainda que as primeiras lutas ecológicas no Brasil datem dos anos 70, é principalmente nos anos 80, no contexto do processo de redemocratização e abertura política, que entram em cena os novos movimentos sociais, entre eles o ecologismo, com as características contestatórias e libertárias da contracultura.
Nos anos 70, os movimentos e ideias que marcaram o mundo após a Segunda Guerra Mundial, como o desenvolvimentismo, as políticas da Guerra Fria e a reação contracultural, além de eventos mundiais como a chegada do homem à lua, a Guerra do Vietnã, o advento da bomba atômica e do rock de protesto, estão entre as experiências e lembranças de muitos dos líderes e educadores ambientais do Brasil.
Tanto nos depoimentos de ativistas brasileiros quanto na literatura, os anos 70 destacam-se como a década que começa a configurar-se um conjunto de ações, entidades e movimentos que se nomeiam ecológicos ou ambientais e, no plano governamental, uma estrutura institucional voltada para a regulação, legislação e controle das questões de meio ambiente. Essa década, que também contou com a expansão dos meios de comunicação de massa e com a constituição de uma classe média urbana e de segmentos formadores de opinião, vai criar as condições para a expansão e a consolidação das entidades ambientalistas no decênio seguinte. Dessa forma, ao despontar, nos anos 70, o movimento ecológico brasileiro nasce em uma sociedade que, por um lado, está inserida em um contexto internacional e tenta responder às políticas desenvolvimentistas aí definidas, por outro lado, internamente vive sob os traumas da censura e da repressão política do período.
Podemos dizer que o movimento ecológico no Brasil será resultado do encontro de dois contextos socioculturais: a) o contexto internacional da crítica contracultural e das formas de luta do ecologismo europeu e norte-americano; b) o contexto nacional, em que a recepção
do ideário ecológico acontece no âmbito da cultura política e dos movimentos sociais do país, assim como na América Latina. No caso particular da Brasil, por exemplo, não se poderia pensar a questão ambiental sem também levar em conta as formas pelas quais foi sendo marcada por outros movimentos sociais, ao mesmo tempo em que os marcou.
Nos anos 80 e 90 houve progressivo diálogo e aproximação, com mútua influência, entre as lutas ecológicas e os movimentos sociais urbanos, os movimentos populares de um modo geral, a ação política popular, da Igreja da libertação e das Comunidades Eclesiais de Base.
Adquirindo feições locais, o movimento ecológico brasileiro compartilha do caráter internacionalizado da luta ambiental. Talvez o melhor exemplo de luta social local que adquiriu dimensões ecológicas e se transformou em causa apoiada internacionalmente foi a dos seringueiros da Amazônia, sob liderança de Chico Mendes. O que torna isso possível é o fato de a percepção da crise ambiental como questão social ocorrer em uma conjuntura de globalização. O famoso lema ecológico “Agir local, pensar global” já expressa a compreensão de que as realidades locais são profundamente afetadas por ações, decisões e políticas definidas internacionalmente. A remessa de toneladas de resíduos tóxicos dos países industrializados para o Terceiro Mundo, a ação da chuva ácida em uma região diferente daquela que a produz e os desequilíbrios climáticos são exemplos disso.
Muitas vezes, um impacto ambiental bastante localizado é fruto de decisão gerada no bojo das correlações de força e dos princípios da chamada nova ordem econômica mundial.
A pressão para a liberação da produção de sementes transgênicas no Brasil é outro exemplo
que envolve tomada de decisão relacionada ao comércio e às esferas de interesses econômicos internacionais, a qual terá impactos profundos sobre comunidades de produtores rurais, particularmente de pequenos produtores, e sobre o consumo de alimentos transgênicos, com implicações para todo o país.
 Os Caminhos da Educação Ambiental no Brasil
A educação Ambiental é parte do movimento ecológico. Surge da preocupação da sociedade com o futuro da vida e com a qualidade da existência das presentes e futuras gerações. Nesse sentido, podemos dizer que a EA é herdeira direta do debate ecológico e está entre as alternativas que visam construir novas maneiras de os grupos sociais se relacionarem com o meio ambiente. A formulação da problemática ambiental foi consolidada primeiramente pelos movimentos ecológicos. Estes foram os principais responsáveis pela compreensão da crise como uma questão de interesse público, isto é, que afeta a todos e da qual depende o futuro das sociedades.
Assim, a EA é concebida inicialmente como preocupação dos movimentos ecológicos com uma prática de conscientização capaz de chamar a atenção para a finitude e a má distribuição no acesso aos recursos naturais e envolver os cidadãos em ações sociais ambientalmente apropriadas. É em um segundo momento que a EA vai se transformando em uma proposta educativa no sentido forte, isto é, que dialoga com o campo educacional, com suas tradições, teorias e saberes.
No plano internacional, a EA começa a ser objeto da discussão de políticas públicas na I Conferência Internacional sobre Meio Ambiente, realizada em 1972 em Estocolmo, Suécia.
Depois disso, em 1977, foi tema da I Conferência sobre Educação Ambiental em Tbilisi (na ex- URSS), e, 20 anos depois da II Conferência, em Tessalônica, Grécia. Tais encontros foram promovidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Essa mobilização internacional estimulou conferências e seminários nacionais, bem como a adoção, por parte de diversos países, de políticas e programas mediante os quais a EA passa a integrar as ações do governo. No Brasil, a EA aparece na legislação desde 1973, como atribuição da primeira Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema). O decreto que criou
a Sema define como parte das atribuições da secretaria: “Promover o esclarecimento e a
educação do povo brasileiro para o uso adequado dos recursos naturais, tendo em vista a
conservação do meio ambiente” (Dec. 73.030 de 30 de outubro de 1973). Mas é principalmente
nas décadas de 80 e 90, com o avanço da consciência ambiental que a EA cresce e se torna
mais conhecida.
Principais políticas públicas para EA no Brasil desde os anos 80
1984 – Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea).
1988 – Inclusão da EA como direito de todos e dever do Estado no capítulo de meio ambiente da Constituição.
1992 – Criação dos Núcleos de Educação Ambiental pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e dos Centros de Educação Ambiental pelo Ministério da Educação (MEC).
1994 – Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea) pelo MEC e pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
1997 – Elaboração dos Parâmetros Curriculares definidos pela Secretaria de Ensino Fundamental do MEC, em que “meio ambiente” é incluído como um dos temas transversais.
1999 – Aprovação da Política Nacional de EA pela lei 9.795.2001 – Implementação do Programa Parâmetros em Ação: meio ambiente na escola, pelo MEC.
2002 – Regulamentação da Política Nacional de EA (Lei 9.795) pelo Decreto 4.281.
2003 – Criação do Órgão Gestor da Política Nacional de EA reunindo MEC e MMA.
Na sociedade brasileira, o evento não governamental da última década mais significativo para o avanço da EA foi o Fórum Global, que ocorreu paralelamente à Conferência da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, no Rio de Janeiro, em 1992, conhecida como Rio-92. Nessa ocasião, as ONGs e os movimentos sociais de todo o mundo reunidos no Fórum Global formularam o Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis, cuja importância foi definir o marco político para o projeto pedagógico da EA. Esse tratado está na base da formação da Rede Brasileira de Educação Ambiental, bem como das diversas redes estaduais, que formam grande articulação de entidades não governamentais, escolas, universidades e pessoas que querem fortalecer as diferentes ações, atividades, programas e políticas em EA.
Essa aposta na formação de novas atitudes e posturas ambientais como algo que deveria integrar a educação de todos os cidadãos passou a fazer parte do campo educacional propriamente dito e das preocupações das políticas públicas. Essa compreensão também é ratificada pela Política Nacional de Educação Ambiental, que entende por esse tipo de educação:
Os processos por meio dos quais os indivíduos e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (Lei 9.705 de 27/4/1999).
Com esse breve panorama histórico da EA no Brasil, quisemos destacar que ela constitui uma proposta pedagógica concebida como nova orientação em educação a partir da consciência da crise ambiental. No Brasil, a EA que se orienta pelo Tratado de Educação Ambiental para sociedades sustentáveis tem buscado construir uma perspectiva interdisciplinar para compreender as questões que afetam as relações entre os grupos humanos e seu ambiente e intervir nelas, acionando diversas áreas do conhecimento e diferentes saberes – também os não escolares, como os das comunidades e populações locais – e valorizando a diversidades das culturas e dos modos de compreensão e manejo do meio ambiente.
No plano pedagógico, a EA tem se caracterizado pela crítica à compartimentalização do conhecimento em disciplinas. É nesse sentido, uma prática educativa impertinente, pois questiona as pertenças disciplinares e os territórios de saber/poder já estabilizados, provocando mudanças profundas no horizonte das concepções e práticas pedagógicas.
AGENDA 21
A Agenda 21, segundo Ribeiro (1998), é um "método prático para ecologizar uma administração municipal, estadual ou nacional, em cada um de seus setores". Conforme o Ministério do Meio Ambiente, trata-se de um plano de ação, um processo participativo, para ser adotado nos níveis acima citados por organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as áreas em que aconteça algum tipo de ação humana, através da preparação e implementação de um plano de ação estratégica, de longo prazo, dirigido às questões prioritárias para o desenvolvimento sustentável.
A Agenda 21 foi concebida e aprovada durante a Rio 92, por aproximadamente 170 países assumindo, assim, um papel fundamental no processo necessário de reinvenção do desenvolvimento para o século XXI. O termo "Agenda" foi concebido no sentido de que realmente se assuma o compromisso em prol de mudanças no atual modelo de civilização que vise o equilíbrio entre ambiental, econômico e social em nível global. Destaca-se ainda, que as ações locais são de fundamental importância para a mudança dos atuais paradigmas vividos pela humanidade. A Agenda 21 Global está estruturada em quatro seções: dimensões sociais e econômicas; conservação e gestão dos recursos para o desenvolvimento; fortalecimento do papel dos principais grupos sociais; meios de implementação. Tem como sua maior premissa a busca do desenvolvimento sustentável, baseado na sinergia entre a sustentabilidade ambiental, social e econômica (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2004; KRANZ, 1999; FREY, GARCIAS e ROSA, 2005).
Como um dos fundamentos da Agenda 21, pode-se dizer que foi a utilização que o homem faz dos recursos naturais nem sempre foi de acordo com as características e a capacidade de carga ou de recuperação dos ambientes naturais (SANTOS e VITTE, 1998).
Com isso, o surgimento de problemas ambientais graves, com reflexos sobre o próprio homem,
induziu a busca de um melhor entendimento dos fenômenos naturais, suas causas e conseqüências sobre a qualidade de vida das populações. A analise das relações entre o ambientes natural e antrópico é descrita como sendo constituído pelo homem e suas atividades (antrópico), enquanto que aquele é composto do meio físico e do meio biológico (natural) (MOTA, 1999; FREY, GARCIAS e ROSA, 2005).
Conforme Ribeiro (1998), a Agenda 21 representa não apenas um compromisso com o meio ambiente, ao propagar a proteção da integridade dos ecossistemas, mas também um compromisso com as futuras gerações, com os pobres internos e internacionais e com a participação dos cidadãos nas decisões que os afetam. Neste sentido, a Agenda 21 não é uma agenda exclusivamente ambiental. Além do controle da poluição e da recuperação ambiental, ela demanda um novo modelo produtivo, políticas ambientais efetivas, uma diminuição do consumo, a eliminação da pobreza e, certamente, a propagação de uma nova consciência de nossa responsabilidade para com a integridade da nossa vivência no ambiente natural, crescentemente transformado pela ação do homem. O desafio primordial da Agenda 21, como do conceito de desenvolvimento sustentável em geral, consiste em se transformar em uma idéia norteadora capaz de alcançar ressonância social e força simbólica de mobilização de forma suficiente para levar a transformações sociais e econômicas efetivas (FREY, GARCIAS e ROSA, 2005).
Dentre os conceitos utilizados na Agenda 21, tem-se o de desenvolvimento sustentado, planejamento estratégico e participativo, aplicados como nova forma de política pública a ser utilizados pela administração para a consecução da sua finalidade primordial que é o bem estar social e do cidadão de hoje e do futuro.
O Educador Ambiental e as Leituras da Natureza
É preciso cada vez mais formar sujeitos capazes de compreender o mundo e agir de forma crítica. Essa intenção também poderia ser enunciada como a formação da capacidade de “ler e interpretar” um mundo complexo e em constante transformação. Compartilhando dessa intencionalidade educativa, o projeto político-pedagógico de uma EA crítica poderia ser descrito como a formação de um sujeito capaz de “ler” seu ambiente e interpretar as relações, os conflitos e os problemas aí presentes. Diagnóstico crítico das questões ambientais e autocompreensão do lugar ocupado pelo sujeito nessas relações são o ponto de partida para o exercício de uma cidadania ambiental.
Desde esse ponto de partida, poderíamos dizer que o ambiente que nos cerca está sendo constantemente lido e relido por nós. Essa leitura é determinada em grande parte pelas condições históricas e culturais, ou seja, pelo contexto, que vai situar o sujeito e ao mesmo tempo disponibilizar sentidos para que a leitura se torne possível e plausível. Se examinarmos atentamente, constataremos que lemos e interpretamos o mundo e a nós mesmos todo o tempo, seja quando observamos nosso entorno já conhecido, seja quando deparamos com uma nova paisagem, seja ainda quando algo se altera em nosso ambiente.
Nesse sentido, a interação com o ambiente ganha o caráter de inter-relação, na qual aquele se oferece como um contexto do qual fazemos parte, envolvidos que somos pelas condições ambientais circundantes, ao mesmo tempo em que nós, como seres simbólicose portadores de linguagem, produzimos nossa visão e nossos recortes dessa realidade, construindo percepções, leituras e interpretações do ambiente que nos cerca. Assim, inscrevemos as condições naturais em que vivemos em nosso mundo de significados, transformando a natureza em cultura. Essa relação dinâmica de mútua transformação entre humanos e natureza organiza-se como um círculo vicioso da repetição, se apresenta como virtuoso, no sentido de sempre estar aberto para novos desdobramentos desse encontro, produzindo continuamente ambientes de vida e de cultura.
Carlos Rodrigues Brandão, em seu livro Educação como cultura, discute de forma muito apropriada a delicada e complexa imbricação entre natureza e cultura que faz do ser humano uma espécie particular, um ser gerado nessa, para não dizer por essa, fronteira.
Destarte, nós, humanos somos ao mesmo tempo natureza e cultura, seres por onde a natureza se transforma continuamente em cultura. Como nos diz o autor:
Tal como os outros seres vivos com quem compartilhamos a mesma casa, o planeta Terra, fomos criados com as mesmas partículas ínfimas e com as mesmas combinações de matérias e energias que movem a Vida e os astros do universo. Algo do que há nas estrelas pulsa também em nós. Algo que, como o vento, sustenta o voo dos pássaros, em outra dimensão da existência impele o voo de nossas ideias, isto é, dos nossos afetos tornados os nossos pensamentos. Não somos intrusos no Mundo ou uma fração da Natureza rebelde a ela. Somos a própria, múltipla e infinita experiência do mundo natural realizada como uma forma especial da Vida: a vida humana. (2002, p.17)
Paulo Freire também se preocupou com a compreensão da mediação entre natureza e cultura como condição para o processo de aprendizagem:
E nos pareceu que a primeira dimensão desse novo conteúdo com que ajudaríamos o analfabeto, antes ainda de iniciar sua alfabetização (...) seria o conceito antropológico de cultura, isto é, a distinção entre estes dois mundos: o da natureza e o da cultura; o papel ativo do homem na sua realidade e com a sua realidade; o sentido de mediação que tem a natureza para as relações e a comunicação do homem; a cultura como o acréscimo que o homem faz ao mundo que não criou; a cultura como resultado de seu trabalho, de seu esforço criador e recriador. (1981, p.70).
A educação acontece como parte da ação humana de transformar a natureza em cultura, atribuindo-lhe sentidos, trazendo-a para o campo da compreensão e da experiência humana de estar no mundo e participar da vida. O educador é por “natureza” um intérprete, não apenas porque todos os humanos o são, mas também por ofício, uma vez que educar é ser mediador, tradutor de mundos. Ele está sempre envolvido na tarefa reflexiva que implica provocar outras leituras da vida, novas compreensões e versões possíveis sobre o mundo e sobre nossa ação no mundo. O importante é lembrar que não há apenas uma leitura sobre dado acontecimento, seja este social ou natural. Sempre podemos repensar, reinterpretar o que vemos e o que nos afeta à luz de novas considerações, do diálogo com nossos interlocutores, de novas percepções e sentimentos e das experiências acumuladas ao longo de nossa trajetória de vida.
Com relação à compreensão da natureza, por exemplo, não se trata de postular sua interpretação como decodificação de uma ordem natural, entendida como verdade subjacente a todo acontecimento. A idéia de interpretação não remete à de decodificação ou de descoberta de um sentido preexistente, mas traz sempre a possibilidade de uma nova leitura possível, sem supor a revelação de somente um sentido autêntico ou de uma univocidade escondida no fenômeno interpretado.
Assim, a interpretação fala tanto do fenômeno interpretado quanto do mundo da vida e do universo cultural do sujeito que interpreta. Interpretar, nesse sentido, aproximar-se-ia mais da experiência do artista – ou seja, de uma interação criativa que leva as marcas de seu intérprete e de sua visão de mundo – do que de um cientista empiricista, que persegue a verdade última escondida atrás dos fenômenos, oculta apenas pela ignorância do conhecimento humano. É importante ressaltar que essa postura objetivista não cobre todo o campo científico, pois nele há muitos setores que reconhecem que não há ciência neutra e que
a produção do conhecimento está marcada pelas condições sócio-históricas e culturais de
quem o produz.
A idéia da leitura como processo de aprendizagem do mundo e de si mesmo e, portanto, de produção de sentidos, com base em uma permanente interação criativa entre o sujeito e o mundo, é parte da tradição educativa brasileira, deixada por Paulo Freire. Na perspectiva freireana, a experiência do mundo não é transparente, isto é, não é igual para todos, pois o real não se impõe como algo já dado, mas resulta das relações que cada grupo ou indivíduo estabelecem em seus contextos sociais e culturais. A aprendizagem é sempre um ato criador, mediante o qual se produzem novos sentidos culturais e a autocompreensão do sujeito. Para Paulo Freire, a aprendizagem muda o sujeito e seu campo de ação, ao conferir-lhe a possibilidade de novas leituras do mundo e de si mesmo. Essas ideias estão na base de seu consagrado método de aprendizagem, no qual essa compreensão do ato educativo foi aplicada ao processo de alfabetização:
O analfabeto aprende criticamente a necessidade de ler e escrever. Prepara-se para ser o agente desta aprendizagem e consegue fazê-lo na medida em que a alfabetização é mais do que o simples domínio mecânico das técnicas de ler e escrever. É entender o que se lê e escrever o que se entende. É comunicar-se graficamente. É uma incorporação. Implica não em uma memorização mecânica das sentenças, das palavras, das sílabas, desvinculadas de seu universo existencial – coisas mortas ou semimortas- mas uma atitude de criação e recriação. Implica uma autoformação da qual pode resultar uma postura atuante do homem sobre seu contexto (Freire, 1981, p.72).
Bibliografia:
CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 
BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e meio ambiente: as estratégias de mudança da agenda 21. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. 
SÃO PAULO. Secretaria de Meio Ambiente. Conceitos para se fazer educação ambiental. São Paulo: COEA/SEMA, 1999. 
Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999
Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências.
 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Art. 1.o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Art. 2.o A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.
Art. 3.o Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo:
I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;
II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem;
III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meioambiente;
IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação;
V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente;
VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais.
Art. 4.o São princípios básicos da educação ambiental:
I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade;
IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural.
Art. 5.o São objetivos fundamentais da educação ambiental:
I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;
II - a garantia de democratização das informações ambientais;
III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social;
IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania;
V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade;
VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia;
VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.
CAPÍTULO II
DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Seção I
Disposições Gerais
Art. 6.o É instituída a Política Nacional de Educação Ambiental.
Art. 7.o A Política Nacional de Educação Ambiental envolve em sua esfera de ação, além dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações não-governamentais com atuação em educação ambiental.
Art. 8.o As atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das seguintes linhas de atuação inter-relacionadas:
I - capacitação de recursos humanos;
II - desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações;
III - produção e divulgação de material educativo;
IV - acompanhamento e avaliação.
§ 1.o Nas atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental serão respeitados os princípios e objetivos fixados por esta Lei.
§ 2.o A capacitação de recursos humanos voltar-se-á para:
I - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino;
II - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização dos profissionais de todas as áreas;
III - a preparação de profissionais orientados para as atividades de gestão ambiental;
IV - a formação, especialização e atualização de profissionais na área de meio ambiente;
V - o atendimento da demanda dos diversos segmentos da sociedade no que diz respeito à problemática ambiental.
§ 3.o As ações de estudos, pesquisas e experimentações voltar-se-ão para:
I - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à incorporação da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, nos diferentes níveis e modalidades de ensino;
II - a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações sobre a questão ambiental;
III - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à participação dos interessados na formulação e execução de pesquisas relacionadas à problemática ambiental;
IV - a busca de alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na área ambiental;
V - o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material educativo;
VI - a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, para apoio às ações enumeradas nos incisos I a V.
Seção II
Da Educação Ambiental no Ensino Formal
Art. 9.o Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando:
I - educação básica:
a) educação infantil;
b) ensino fundamental e
c) ensino médio;
II - educação superior;
III - educação especial;
IV - educação profissional;
V - educação de jovens e adultos.
Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal.
§ 1.o A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino.
§ 2.o Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica.
§ 3.o Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas.
Art. 11. A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas.
Parágrafo único. Os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.
Art. 12. A autorização e supervisão do funcionamento de instituições de ensino e de seus cursos, nas redes pública e privada, observarão o cumprimento do disposto nos arts. 10 e 11 desta Lei.
Seção III
Da Educação Ambiental Não-Formal
Art. 13. Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente.
Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará:
I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente;
II - a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal;
III - a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade eas organizações não-governamentais;
IV - a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação;
V - a sensibilização ambiental das populaçõestradicionais ligadas às unidades de conservação;
VI - a sensibilização ambiental dos agricultores;
VII - o ecoturismo.
CAPÍTULO III
DA EXECUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Art. 14. A coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental ficará a cargo de um órgão gestor, na forma definida pela regulamentação desta Lei.
Art. 15. São atribuições do órgão gestor:
I - definição de diretrizes para implementação em âmbito nacional;
II - articulação, coordenação e supervisão de planos, programas e projetos na área de educação ambiental, em âmbito nacional;
III - participação na negociação de financiamentos a planos, programas e projetos na área de educação ambiental.
Art. 16. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na esfera de sua competência e nas áreas de sua jurisdição, definirão diretrizes, normas e critérios para a educação ambiental, respeitados os princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental.
Art. 17. A eleição de planos e programas, para fins de alocação de recursos públicos vinculados à Política Nacional de Educação Ambiental, deve ser realizada levando-se em conta os seguintes critérios:
I - conformidade com os princípios, objetivos e diretrizes da Política Nacional de Educação Ambiental;
II - prioridade dos órgãos integrantes do Sisnama e do Sistema Nacional de Educação;
III - economicidade, medida pela relação entre a magnitude dos recursos a alocar e o retorno social propiciado pelo plano ou programa proposto.
Parágrafo único. Na eleição a que se refere o caput deste artigo, devem ser contemplados, de forma eqüitativa, os planos, programas e projetos das diferentes regiões do País.
Art. 18. (VETADO)
Art. 19. Os programas de assistência técnica e financeira relativos a meio ambiente e educação, em níveis federal, estadual e municipal, devem alocar recursos às ações de educação ambiental.
 
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Paulo Renato Souza
José Sarney Filho
SÃO PAULO. Secretaria de Meio Ambiente. Conceitos para se fazer educação ambiental. São Paulo: COEA/SEMA, 1999.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental – Parâmetros Curriculares Nacionais: vol. 9. Brasília. MEC/SEF, 1997.
BRASIL, Lei nº 9795, de 27 de abril de 1999 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/sdi/ea/ Lei%209795.cfm> Acesso em 15 fev. 2011.

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