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12-A tipologia espacial

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A tipologia espacial
Tommaso Raso
As línguas histórico-naturais, com a estratificação que originaram, representam uma fonte preciosa para a reconstrução da história das comunidades humanas, pois mantêm traços das relações entre as diferentes comunidades. Acompanhando, no sentido inverso, a história dos elementos linguísticos de proveniência aloglota, pode-se conseguir testemunhos importantes da história das comunidades. 
 	A análise das semelhanças entre as línguas faladas numa mesma área é o objeto de estudo da assim chamada de tipologia espacial. Uma profunda contaminação interlinguística constitui um tipo espacial. Obviamente, para concluir que certas semelhanças são devidas a questões areais e determinadas por razões históricas, é preciso que se exclua a possibilidade de que possam dever-se a fatores de tipologia geral ou genéticos.
Postular uma tipologia de natureza espacial requer um aprofundamento diacrônico. Uma região em que línguas desenvolvem traços comuns é definida como área linguística, liga linguística ou Sprachbund. Ela se caracteriza pela presença de várias línguas faladas numa mesma área, as quais não têm parentesco imediato, mas apresentam traços comuns. Essas premissas são uma condição necessária, mas não suficiente. Somente a história pode sufragar a hipótese de uma área linguística. Portanto, uma área linguística precisa ser principalmente uma área cultural e histórica, mas nem toda área desse tipo será necessariamente uma área linguística.
 
A área balcânica 
Os Bálcãs são um segmento da Europa tão definido quanto complexo social, cultural e linguisticamente, com uma estratificação étnica sem igual na Europa, em vista das várias ondas migratórias. Ao longo da história, a região se tornou o lugar natural de contato entre Ocidente e Oriente.
Trata-se da área da Europa com a maior concentração de línguas pertencentes a grupos diferentes, a saber:
línguas indoeuropeias:
grupo eslavo meridional: sérvio, croata, esloveno, búlgaro, macedônio;
grupo românico: romeno e comunidades que falam ladino (judeu-espanhol) e italiano;
grego;
albanês;
grupo indo-iraniano: comunidades que falam români;
grupo germânico: comunidades que falam alemão;
armênio, falado por algumas comunidades;
línguas uralo-altaicas:
grupo urálico: húngaro;
grupo altaico: turco.
Além dessa diversidade, a área parece ainda em processo de diferenciação, pois até poucos anos atrás o sérvio, o croata e o bósnio eram uma mesma língua, ainda que o croata usasse o alfabeto latino e os outros dois o cirílico. Se considerarmos que também o grego conta com um alfabeto diferente e que até 1928 o turco utilizava o alfabeto árabe, mudando para o latino apenas após essa data, também nessa esfera se pode perceber a enorme diversidade.
Mesmo em tanta variedade de línguas e de culturas, a área balcânica historicamente pode ser dividida em duas sub-áreas: uma de influência greco-bizantina e uma de influência latino-germânica: à primeira pertencem a Grécia, a Albânia do sul (área tosca), a Sérvia, a Bulgária, a Macedônia e a Romênia; à segunda pertencem a Croácia, a Eslovênia e a costa dalmática. Historicamente, essa divisão corresponde perfeitamente à divisão territorial do Império Romano em ocidental e oriental, e também à separação entre Igreja Católica e Ortodoxa.
 	Além disso, é preciso considerar que em grande parte dos Bálcãs, entre o século XV e o começo do século XX, agiu como como fator de homogeneização cultural a dominação do Império Turco, que introduziu na região o islamismo e o turco como religião e língua oficiais, além de ter impulsionado modelos de vida tipicamente orientais. Em termos religiosos, recorde-se que ainda hoje a Albânia e a Bósnia são países predominantemente islâmicos.
 	Uma vez caracterizados como um espaço cujos traços culturais, políticos e religiosos são extremamente diversificados, o que se constata é que os Bálcãs constituem também uma área linguística em que as diferentes línguas, apesar de pertencentes a grupos e famílias diversas, tendem a apresentar certas características comuns, a saber:
1. O sistema vocálico do grego moderno, articulado em cinco vogais (/i/, /u/, /e aberto/, /o aberto/, /a/), ao qual boa parte das línguas balcânicas tende.
2. O sincretismo entre os casos genitivo e dativo, com a tendência a fazer confluir as funções do dativo no genitivo. Assim, em grego, to biblío tu Giáni significa “o livro de Giani” e to édose tu Giani significa “o deu para Giani”. Esse fenômeno se observa em grego, albanês, romeno, búlgaro e macedônio.
3. Em búlgaro, macedônio, sérvio, croata, romeno e grego se mantém a distinção entre os casos nominativo e vocativo.
4. Constata-se também a existência de um futuro perifrástico, provavelmente por influência do grego medieval e bizantino, construído com o verbo “querer” + infinitivo. Isso acontece em búlgaro, macedônio, albanês, romeno e grego.
5. Típico do búlgaro, macedônio, albanês, romeno e grego, mas depois incorporada até pelo turco, é a tendência de criar comparativos e superlativos analíticos.
6. A formação dos numerais de 11 a 19 apresenta um modelo que prevê “numero + preposição “sobre” + 10, provavelmente de origem eslava.
7. O infinitivo é substituído por modos finitos, tendência provavelmente de origem grega bizantina. Assim, “quero dizer” se diz com uma estrutura do tipo “quero para que eu diga”.
8. Finalmente, algumas línguas adotam a posposição do artigo definido, como o romeno, o albanês, o búlgaro e o turco.
 	No léxico e na fraseologia os fenômenos de coincidências são muito frequentes, pela influência, primeiro, do grego e, depois, do turco. Menor é a influência eslava nas outras línguas, com a exceção do romeno, que apresenta muitos elementos eslavos. Interessantes são as coincidências fraseológicas. Por exemplo, em grego, albanês, búlgaro e romeno a frase “ele briga com a mulher” se diz como se fosse “ele se come com a mulher”; e “ficou sem palavras” se diz “ficou sem boca”.
Qual pode ser o princípio organizacional subjacente? Uma explicação se refere às línguas de substrato e outra ao grego. Provavelmente não há um único centro de irradiação, mas mais propriamente ondas.
A área de Carlos Magno e o Standard Average European (SAE) 
Também a Europa centro-ocidental é uma área linguística. Faltam barreiras naturais realmente problemáticas, já que tanto os Alpes quanto os Pirineus nunca impediram o contato; a ausência de mares internos favoreceu o desenvolvimento de estradas; e há amplas atestações de relações a partir da expansão de Roma, passando pelas conquistas de Carlos Magno até a União Europeia. Além disso, as tentativas de internacionalização foram acompanhadas de projetos culturais e linguísticos. Hoje se fala, portanto, de um Standard Average European (SAE), com muitos traços em comum. 
 	Essa definição (SAE) foi criada pelo linguista Benjamin Lee Whorf enquanto estudava as línguas ameríndias, pois ele constatava que praticamente todas as características linguísticas com que ele estava acostumado não se achavam nessas línguas, a ponto de não se poder reconhecer nelas nem as noções de nome e verbo como os europeus as conhecem. Nós também sabemos, por exemplo, que é muito mais fácil traduzir do inglês para o português, ou até do húngaro, que não é uma língua indo-européia, do que do chinês ou de uma língua ameríndia.
Obviamente há muitas diferenças entre as línguas europeias: por exemplo, o italiano não possui um gênero neutro como o alemão e este último não gramaticaliza a diferença aspectual entre imperfeito e perfeito, enquanto o russo gramaticaliza ainda mais as diferenças aspectuais. Mas, em geral, as diferenças entre as línguas europeias são limitadas, se comparadas com as diferenças entre as europeias e as não-europeias. Arrolamos a seguir alguns dos principais traços comuns a línguas do SAE.
1. Semelhanças lexicais
Com relação ao léxico, as semelhanças articulam-se em dois níveis distintos: a) presençade léxico comum culto de matriz greco-latina; b) presença de estratégias comuns para a formação das palavras, com a introdução de formadores doutos como filo, biblio, bio, logo, antropo, grafo etc.
Esses dois mecanismos incluem várias contribuições para a formação do SAE:
o léxico que indica referentes externos introduzidos na Europa com termos gregos ou latinos e, através dessas línguas, espalhados para a maioria das línguas européias, como no caso de elefante, palavra que se encontra praticamente idêntica em todas as línguas europeias;
todos os termos relacionados com o cristianismo, como o grego epískopos, latim episcŏpus, italiano vescovo, português bispo, espanhol obispo, francês évêque, albanês pespëk, alemão bischof, sueco biskop, inglês bishop, címrico esgop, húngaro püspök, basco ipizkipu;
termos culturais greco-latinos como teatro, que encontramos praticamente igual em todas as línguas européias;
o procedimento do decalque, ou seja a reprodução com elementos nativos de uma estrutura estrangeira, como, por exemplo, syn-eídosis do grego é traduzido como miÞ-wissei em gótico, so-vest em russo, con-scientia em latim, Ge-wissen em alemão.
Nada disso seria possível se as estruturas das línguas envolvidas fossem muito distantes. Podemos dizer que existe um armazém de morfemas europeus que permitiram, ao longo dos séculos, uma europeização do léxico.
Num primeiro momento, a tradução do Novo Testamento teve um papel importante, porque, já que se tratava de textos religiosos – na terminologia dos estudos de tradução, de “textos sensíveis” – as versões tendiam a ser tão literais quanto fosse possível. Assim, introduzem-se, nas várias línguas, elementos morfossintáticos próprios das línguas das quais se traduzia, gerando uma grande influência das estruturas grega e latina sobre as línguas germânicas e eslavas. Mais uma vez vemos como a padronização de línguas diferentes passa por um denominador comum de ordem histórica e cultural. 
Um outro exemplo disso é a difusão enorme de palavras, expressões e afixos pelas várias línguas europeias a partir do sucesso da poesia franco-provençal nos séculos XII e XIII: fazer a corte foi decalcado pelo alemão den Hof machen, pelo inglês to make court etc.; o sufixo –ier, que criou o alemão –ieren e o italiano –iere; o sufixo –îe, que também gerou equivalentes em inglês, espanhol, italiano, português, alemão, entre outras línguas; o sufixo –age, cujas derivações se acham também em muitas outras línguas.
No Renascimento, o humanismo italiano e depois europeu difunde novas formações baseadas em formas greco-latinas: biliofilo, scenografia etc., que mudam a morfologia derivacional das línguas europeias, pois introduzem o tipo de formação com as chamadas semipalavras (do tipo filo, grafia, biblio etc), especialmente produtivo até hoje (osteo-porose, datilo-grafia, ciné-filo etc.), tanto no léxico científico, quanto no comum. As semipalavras são elementos de origem greco-latina que, nas línguas originarias, podiam ocorrer sozinhas, ou seja, eram verdadeiras palavras, passando depois a ser usadas para formar palavras em outras línguas, como se fossem, por muitos aspectos, afixos. Em grego bíblion ou graphé eram palavras independentes, significando livro e escrita, respectivamente. Hoje, nas línguas europeias, servem para formar palavras, não podendo ocorrer sozinhas.
Podemos ter três tipos de formação:
termos constituídos por mais de uma semipalavra (grafologia; bibliofilia etc);
termos constituídos de um elemento nativo mais uma semipalavra (televisão ou, em italiano, calciofilo ou seja “amante do futebol” –calcio = futebol);
termos formados por uma semipalavra mais um elemento nativo (por exemplo, filopetista = amante do PT).
Uma outra grande fase de difusão de europeísmos lexicais foi o Iluminismo, quando, a partir da França, esse movimento se espalhou por toda Europa, influindo em grande parte do léxico intelectual.
Desse modo, em vários momentos da história, dependendo do prestigio de cada língua e de cada país, as línguas europeias se influenciaram reciprocamente e modificaram uma à outra, cada qual adquirindo algumas características das demais. Hoje o papel mais ativo é o do inglês, uma língua germânica mas que conta com a maioria de elementos lexicais de origem latina.
Em conclusão, podemos dizer que a base comum do léxico europeu é de matriz greco-latina, não somente porque dessas línguas e dessas civilizações, de maneira ininterrupta, chegaram termos a todas as outras línguas, mas também porque os vários movimentos culturais da história europeia se valeram e continuam a valer-se até hoje de radicais greco-latinos para construir novos itens lexicais.
2. Ordem dos constituintes
Um outro aspecto relevante diz respeito à ordem dos constituintes básicos da frase declarativa, com predominância, no SAE, do tipo SVO. Fogem dessa regra somente algumas línguas periféricas, como as celtas (com ordem VSO), o basco, o turco e o calmuco (SOV), enquanto o húngaro pode ter tanto a ordem SVO quanto a SOV.
A ordem SVO é mais rígida nas línguas com pouca ou nula flexão nominal e verbal, e menos rígida nas línguas morfologicamente mais ricas. É notório que a uma determinada ordem dos constituintes básicos acompanha uma determinada ordem de uma ampla série de constituintes (adposição, advérbio, relativas, comparativo etc.). É interessante notar que, diacronicamente, todas as línguas indoeuropeias ocidentais, com exceção das célticas, mostram uma tendência a passar da ordem SOV, que era a usual tanto no latim quanto no antigo germânico, para SVO.
Outro traço predominante é a presença de preposições, de genitivo posposto e de possessivo antes do nome. Embora esta última característica esteja em conflito com a ordem SVO, trata-se de um traço comum.
3. Verbos auxiliares
Constata-se também um uso bastante disseminado do uso de “haver” (ou “ter”) e “ser” como auxiliares na formação de alguns tempos compostos. 
4. Artigos
Outro traço relevante está na presença simultânea de artigos definidos e indefinidos, questão especialmente interessante e que merece uma digressão.
O nascimento do artigo, ou seja, a necessidade de se distinguir algo como definido ou indefinido, introduz nas línguas uma novidade importantíssima. Trata-se do nascimento de uma nova categoria linguística que, em alguns casos, herda funções antes expressas por outras categorias e, em outros, introduz funções que antes eram consideradas de escassa relevância comunicativa. Do mesmo modo, em alguns casos o nascimento do artigo é uma consequência de outras mudanças e, em outros, é o que desencadeia outras mudanças, como a perda dos casos ou modificação da ordem dos constituintes.
A história do fenômeno, mesmo com variações cronológicas até muito grandes, é parecida nas várias línguas: o numeral um tende a se transformar no artigo indefinido e elementos dêiticos tendem a se transformar no artigo definido. 
De fato, este último se desenvolve a partir de elementos dêiticos utilizados para marcar o traço [+conhecido], principalmente os pronomes demonstrativos, como acontece nas línguas românicas. O latim não tinha artigos e tinha algumas séries de pronomes demonstrativos. A partir de uma delas (ille, illa, illud) se formaram os artigos do italiano il(lo), (il)la, (il)lo, francês (il)le, (il)la, português (ill)o, (ill)a.
O traço mais [+conhecido] é o que diferencia, por exemplo, a primeira e a segunda vez em que aparece a palavra rei no seguinte trecho: Era uma vez um rei que tinha três filhas. Um dia o rei mandou chamá-las. Evidentemente, da primeira vez o leitor não conhece o rei e, portanto, ele é introduzido pelo artigo indefinido que não marca o traço [+conhecido]; mas, da segunda vez, o leitor já conhece o rei, que então é marcado com o traço [+conhecido] veiculado pelo artigo definido “o”.
Atualmente, há línguas européias que conhecem tanto o artigo definido quanto o indefinido (as germânicas, o bretão, as românicas, o grego, o albanês,o húngaro e o basco), línguas que conhecem somente o artigo definido (o búlgaro, o irlandês, o maltês), línguas só com o artigo indefinido (turco e calmuco) e línguas sem artigo (as maior parte das eslavas, as bálticas, o finlandês e o estoniano). O búlgaro, na realidade, é um caso especial, já que em algumas de suas variedades que não a padrão se usa um indefinido e se está gramaticalizando agora um artigo definido. Isso torna essa língua especialmente interessante para estudar o processo de formação dos artigos. 
Se observarmos a distribuição atual num mapa, notaremos que as línguas com ambos os artigos têm uma colocação geográfica compacta, que vai de sudeste para o noroeste, partindo da Grécia, passando por uma parte da área balcânica (Hungria, Romênia, Albânia), seguindo pela Itália e depois se estendendo por toda a Europa ocidental (da Espanha até a Noruega), o que deixa de fora somente a última extremidade do noroeste, ou seja, a Irlanda. As línguas que têm somente o indefinido são aquelas que fazem parte da área de contato com aquela que têm os dois: o irlandês, de um lado, e as línguas eslavas, as bálticas e as outras urálicas, do outro, com o maltês ao sul. 
Portanto, o artigo mostra uma distribuição espacial bastante consistente, o que pode ser mais bem explicado se considerarmos a situação na Antiguidade, ainda que lidando com dois problemas, a saber:
Nossas fontes para essa época são apenas escritas e a escrita se difunde do Oriente em direção Ocidente. Então aos testemunhos pertencem a épocas diferentes. Enquanto na Mesopotâmia já se conhece a escrita desde o IV milênio a.C., na Europa ela chega a partir do IX-VIII séculos a.C., ou seja, três mil anos depois.
A segunda dificuldade é o filtro operado pela escrita. Sabemos que a situação linguística pode ser muito diferente dependendo também da variação diastrática e diamésica. O latim mostra cedo o uso de artigos na fala (deduzimos isso a partir de uma documentação muito distante da literatura), mas nada disso aparece na língua escrita oficial ou elevada. Portanto, o fato de que algo não seja registrado por escrito não implica necessariamente sua não-existência, mas somente a não-existência de registros escritos. Normalmente uma mudança linguística começa na fala e somente depois de muito tempo é aceita na escrita. As línguas românicas, durante séculos, foram só faladas, enquanto a escrita era só em latim. Ao falar do artigo na Antiguidade, a única coisa que podemos fixar é o que se chama de terminus post quem, ou seja, um limite temporal após o qual o artigo aparece na escrita, o que significa que ele nasceu em algum momento antes dessa data.
Dadas essas premissas, a sequência cronológica do registro do artigo definido em línguas da Europa é a seguinte:
A primeira língua europeia em que se registra o artigo definido é o grego, pelo menos a partir do VIII séc a. C. Na realidade, pode ser que o basco conhecesse o artigo antes do grego, mas o estado de sua documentação antiga não permite verificar tal hipótese – ainda que nela haja artigo definido desde quando dispomos de textos escritos, estes datam apenas do século XIV.
Depois do grego, as línguas que apresentam artigo definido em época mais remota são as românicas, com documentação remontando ao século VIII d. C., a qual, todavia, indiretamente, nos permite recuar ao séc. IV ou V.
Quanto às línguas eslavas, o eslavo eclesiástico do séc. IX tinha um tipo de artigo, do qual temos exemplos hoje somente no búlgaro e no macedônio (o eslavo eclesiástico era formado exatamente a partir dessas duas línguas).
Para as línguas germânicas o terminus post quem pode ser fixado no séc. X.
Mas, para entender o aspecto mais interessante desse fenômeno, precisamos dar mais um passo para trás. O processo de nascimento do artigo, quando uma língua sente a necessidade de um instrumento capaz de codificar certas funções, é muito parecido, nas várias línguas que tem artigo, e se articula em três estágios:
No primeiro, não se conta com artigos e se usam outras estratégias para indicar o traço [+definido], ou seja, o que permite a identificação de um SN como conhecido e definido (não um leão qualquer, por exemplo, mas aquele leão específico). Nesse estágio se desenvolve o artigo definido a partir do demonstrativo: aquele leão > o leão – o dêitico, ou seja, um elemento que consegue apontar por um determinado SN, se transforma em artigo. Obviamente, dizer que o processo de gramaticalização do artigo é parecido nas várias línguas é uma generalização. Nas línguas germânicas ele parece ter-se desenvolvido a partir de mecanismos diferentes.
Num segundo estágio, o artigo começa a enfraquecer e alterna valores definidos e indefinidos.
No terceiro, ele se torna principalmente, mas não só, uma marca para o nome. Essa é a função do artigo quando distingue, por exemplo, a categoria da palavra trabalho: se antes dessa palavra aparece um artigo, trata-se de um nome; caso contrário, será um verbo (eu trabalho).
Ampliando ainda mais nossa perspectiva geográfica, cumpre registrar que a primeira língua mediterrânea em que se atesta a existência de artigo é o antigo egípcio, por volta do 1500 a.C. A partir de princípios do primeiro milênio a.C., constata-se sua presença também nas línguas semíticas. Depois, como vimos, ele aparece em grego e, com o tempo, em grande parte da Europa. Essa progressão mostra que o caminho do artigo foi de sudeste em direção ao noroeste, atravessando o Mediterrâneo. Trata-se do mesmo movimento seguido por outras inovações, incluído a agricultura, a pecuária, as cidades etc. Isso mais uma vez mostra como as antigas raízes da Europa são mediterrâneas. 
5. Caráter não pro-drop
Outro traço bastante comum às línguas do SAE é seu caráter não pro-drop, ou seja, a obrigatoriedade da expressão do pronome sujeito. As línguas pro-drop podem omitir a expressão do sujeito sem que a sentença seja sintaticamente mal formada: é o caso do italiano, do espanhol e do português. Ao contrário, as línguas não pro-drop exigem a expressão do pronome sujeito: é o caso do alemão, do inglês e do francês, bem como em parte também do português do Brasil. Em italiano é possível dizer mangi sempre alle dieci, do mesmo modo que em português de Portugal é possível dizer comes sempre às dez; mas em ingles não se pode dizer *eat always at ten, sendo necessário a presença do pronome – you eat always at ten, o que se observa também em francês, em que não é possível dizer *manges toujours à dix heures, exigindo-se tu manges. No português do Brasil, pelo menos com relação a sentenças como esta, seria também obrigatório o uso do pronome: você come sempre às dez horas.
Esse parâmetro está relacionado com a perda da morfologia verbal. As línguas com morfologia verbal rica tendem a ser pro-drop e aquelas com morfologia verbal pobre, não pro-drop, pois a morfologia não é suficiente para indicar a pessoa.
	Italiano
	Inglês
	Francês
	Português brasileiro
	(io) mangio
	I eat
	Je mange (mãζ)
	Eu como
	(tu) mangi
	You eat
	Tu manges ( mãζ)
	Você come
	(lui) mangia
	He eats
	Il mange (mãζ)
	Ele come
	(noi) mangiamo
	We eat
	Nous mangeons ( mã’ζõ)
	A gente come
	(voi) mangiate
	You eat
	Vous mangez (mã’ζe)
	Vocês comem
	(loro) mangiano
	They eat
	Ils mangent (mãζ)
	Eles comem
 
7. Papeis temáticos
Um outro traço característico do SAE é que agente e sujeito podem divergir, ou seja, são admissíveis construções em que o papel de agente não é desenvolvido pelo sujeito. Observem-se as seguintes frases:
a) John opened the door with the key.
b) The key opened the door.
c) The door opened. 
Na primeira, o sujeito codifica realmente o agente e, portanto, não há discrepância entre papel semântico (agente) e papel sintático (sujeito). Mas nas demais, a coincidência entre esses dois papeis não se realiza, já que, na segunda, o sujeito sintático é um instrumental e, na terceira, um paciente. O russo manifesta uma forte tendência a evitar adivergência entre sujeito e agente, preferindo mudar a estrutura da frase (o raio destruiu a casa > a casa se destruiu com o raio).
8. Agente da passiva
Também é tendência predominante no SAE que a forma passiva permita a expressão do agente: o gato foi mordido pelo cachorro. Na frase passiva, o sujeito não pode ser o agente, por definição. Mas as línguas européias têm uma outra maneira de expressar o agente, mesmo quando ele não coincide com o sujeito.
9. Concordância do verbo com o sujeito
Trata-se também de uma tendência bastante comum no SAE a concordância das formas finitas verbais com o sujeito, com exceção parcial das línguas urálicas e o do basco.
Em eu como uma maçã/eu como três maçãs e nós comemos uma maçã/nós comemos três maçãs o verbo concorda com o sujeito e não com o objeto.

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