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Fichamento Mauss

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NOME: ANGEL MIRÍADE DE SOUZA
CURSO: PSICOLOGIA (PRIMEIRO ANO)
TURMA: A
Aula do dia: 15/03/2018
UMA CATEGORIA DO ESPÍRITO HUMANO: A NOÇÃO DE PESSOA, A DE “EU”
 (Marcel Mauss) 
P.369
O Sujeito: a pessoa 
Objetivo do texto: explicar como a categoria do “EU” surgiu e se desenvolveu ao longo do tempo, ganhando maior corpo e significado conforme se tem hoje
Essa ideia que parece ser inata ao espírito humano, mas que sofreu inúmeras mudanças ao longo dos séculos e povos. 
Uma palavra sobre o princípio desse tipo de pesquisa
 Pesquisas sobre a história social das categorias do espírito humano conforme Aristóteles (noções de tempo, espaço, gênero, número, causa, substância, personalidade, etc...).
P. 370
Método: análise de vários estudos sobre várias sociedades humanas (indo desde a Austrália às sociedades européias), desde as mais antigas às mais atuais.
A intenção é montar um catálogo das formas que a noção do eu tomou ao longo do tempo e em cada sociedade chegando a ser o que é hoje.
P. 371
Não pretende se ater à questão linguística (de como as expressões linguísticas para se referir à pessoa – ao “eu” – variaram ao longo do tempo e das sociedades), bem como não pretende se ater às questões psicológicas, ou seja, da personalidade consciente. O autor apenas afirma a esse respeito que nunca houve, ao longo da história, ser humano que não tenha tido ciência da sua Individualidade pessoal e espiritual.
O enfoque é na história social: como, ao longo dos séculos e de diversas sociedades, se elaborou a noção que os homens têm a respeito de si mesmos? E de que forma essa noção impactou em suas vidas e nas sociedades como um todo, bem como em instâncias tais como o direito, as religiões, os costumes, as estruturas sociais e a mentalidade vigente em cada época e local?
P. 372
O personagem e o lugar da pessoa
Os Pueblos
Começa a pesquisa apresentando os índios Pueblos, particularmente os Zuñi, da região do México.
Embasado em pesquisas desenvolvidas por outros autores, como Frank Hamilton Cushing, Matilda Cox Stevenson e L. H. Morgan. (antropólogo de gabinete?)
P. 373
Trata da organização dos clãs dentro das tribos dos Pueblos com relação aos prenome e as funções assumidas por cada membro. Assim, o autor conclui que ao nomear cada pessoa dentro do clã segue-se um sistema de ordenamento e que essa ação é feita de forma relativa, de uma pessoa em relação a outra. Por exemplo, quando se trata de irmãos, sempre se nomeia um irmão em relação à posição que ele ocupa (mais velho, mais novo, do meio e assim por diante). 
P. 374
Mauss afirma então que esse sistema de ordenamento leva a concluir que um clã é constituído de um certo número de pessoas, que representam papéis específicos dentro dessa ordem social, ou seja, representam personagens que figuram, cada um por sua parte, a totalidade do clã.
Mauss ainda destaca que a noção de indivíduo já aparece nesses clãs, por meio de uma série de relações e posições que cada um ocupa em meio aos rituais e suas posições nos mesmos, suas posses e funções na sociedade, seus prenome e descendência.
P.375
Noroeste americano
Mauss traz um outro estudo sobre tribos do Noroeste americano: os Kwakiutl. O autor afirma que a mesma estrutura de ordenação está presente entre essa tribo, por meio do nome, posição social, direitos pela natividade jurídica e religiosa de cada homem.
 P. 376
As pessoas são ordenadas em classes e clãs, que por sua vez ordenam os gestos e papéis de atores em uma trama, como os rituais, os direitos e deveres, os privilégios das posições, enfim, todo um sistema religioso e social.
O papel do indivíduo dentro desse grupamento não é estático, ele pode variar de acordo com a posição que esse indivíduo passa a ocupar ao longo do tempo, bem como de acordo com a sua idade, a partir da qual podem decorrer novas funções.
P. 377
Os indivíduos são os mantenedores das coisas e das posições dentro das sociedades. São eles os possuidores das coisas, são eles que cumprem funções, são eles que detêm de determinados objetos e desempenham papéis específicos nos rituais. Enfim, são o elo de ligação do todo social.
P.378
Os nomes dados aos indivíduos são representativos de seu papel a ser desempenhado, bem como da posição que ocupam dentro da sociedade. E no caso dos Kwakiutl esse nome pode variar com o tempo, pois cada momento, cada acontecimento, pode vir a ser personificado com um novo nome, um novo título atribuído ao indivíduo.
P.379
No caso dos Kwakiutl os objetos fazem parte da persona tanto dos indivíduos, quanto das famílias e dos clãs. 
P.380/381
Austrália
Também há entre as tribos australianas um sistema de ordenamento dentro dos clãs, nesse caso baseado normalmente na descendência masculina, na classe matrimonial. De acordo com Mauss, a função destas repartições seria não somente definir aspectos da religiosidade dos clãs, como também as funções e direitos dos indivíduos, suas funções e seus ritos. 
P. 381/382
Conclusão preliminar: com base na história social das sociedades analisadas, o autor infere que as sociedades possuem a noção de uma persona atribuída aos indivíduos, tendo funções e direitos relacionados a eles, além de papeis a serem cumpridos no que tange aos ritos religiosos e à organização familiar. 
O elemento central portanto seria a ideia de função atrelada à individualidade. O desenvolvimento da noção do indivíduo de acordo com as suas funções e papéis a serem desempenhados dentro de um grupo.
P.383
A persona Latina
Mauss inicia essa seção afirmando que é de conhecimento geral o quão “normal” e clássica é a noção de persona latina, sendo ela decomposta em quatro tipos: máscara, máscara trágica, máscara ritual e máscara ancestral. 
O autor pretende demonstrar como essa noção de persona se tornou a compreensão vigente entre as sociedades europeias de sua atualidade.
Índia
Mauss afirma que a Índia, em sua concepção, parece ter sido a mais antiga das civilizações a ter a noção do “eu” – o indivíduo e sua consciência.
O budismo traz a noção do eu como algo ilusório, passageiro, algo de que deve se desprender para alcançar a iluminação.
P.384
China
Embasado nos trabalhos de Marcel Granet, o autor afirma que a noção de indivíduo na China é mais forte do que em qualquer outro lugar já estudado, principalmente no que concerne à sua existência social.
Assim como nas outras sociedades já apresentadas, a ordem dos nascimentos, a hierarquia e as classes sociais fixam os nomes dados aos indivíduos. 
A individualidade do ser reside justamente no seu ming, seu nome. 
Pessoa enquanto entidade completa, independente, talvez só relacionada a outro coletivo ou espírito maior, Deus.
P.385
A Persona
Entre os romanos, a pessoa é mais do que um elemento de organização, mais do que um nome ou um direito a um papel ou máscara em um ritual. Entre os romanos a pessoa é um fato fundamental do direito.
P.386
Inicialmente, entre os romanos, era possível encontrar o mesmo tipo de organização ritualística daquelas já abordadas anteriormente, em que os indivíduos possuem papéis específicos a serem desempenhados em meios aos rituais de acordo com a sua posição, seu nome herdado, seu status social.
P.387/388
O autor afirma que daí à noção de persona atual não se deu muito tempo. Neste sentido o direito à cidadania é visto pelo autor como um passo fundamental. Disso resulta a estruturação romana de que todos os homens nascidos livres eram considerados cidadãos romanos, fazendo jus à persona civil.
Disso resulta que todo cidadão romano tem direito ao nomem (nome), prenomem (ordem de nascimento) e cognomem (sobrenome da família). Estes que também faziam diferenciação entre os status, direitos e privilégios dos cidadãos na sociedade romana. 
P.389
Também há a acepção de persona enquanto personagem de peça de teatro (tragédia e comédia). Porém, conforme afirma o autor, o conceito de personaenquanto caráter pessoal do indivíduo, sua verdadeira natureza, que dispunha de direitos, estava fundamentada.
Nesse caso do direito, somente os escravos estavam ainda excluídos da noção de persona, não sendo entendidos enquanto indivíduos que dispunham de uma personalidade, de um corpo e bens próprios, de antepassados e de nome. Enfim, o escravo não era considerado um cidadão ou uma pessoa nessa concepção vista acima.
O que atribui individualidade ao escravo é a noção de alma derivada do cristianismo, que confere existência ao escravo enquanto ser.
P.390/391
A pessoa: fato moral
Nesta seção o autor traz a contribuição dos estoicos à noção de persona enquanto um fato moral. Mauss inicia apresentando a característica dupla que a palavra personalidade adquire entre os gregos, podendo significar tanto quem se é, quanto aquele que se quer ser, como uma imagem sobreposta ao que realmente se é (intimidade X personagem; essência X aparência).
Porém, a partir do século II a.C. ao século IV d.C., a noção de persona ganha um aspecto moral de acordo com os filósofos gregos e romanos que tratam desse aspecto. Persona agora ganha o sentido de um ser consciente, independente, autônomo, livre e responsável. Passa então a ter existência a consciência na noção jurídica do direito.
P.392
A pessoa Cristã
O autor começa essa seção afirmando que os cristãos foram aqueles que transformaram a persona moral em uma entidade metafísica depois de sentir a sua força religiosa.
Passagem da noção de persona enquanto indivíduo investido de um estado para a noção de persona enquanto uma pessoa humana.
P.393
Unidade advinda da comunhão, da união da santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). 
Unidade em uma pessoa, que agora passa a ter um propósito, uma missão, corpo, alma, consciência e ato.
P.394
A pessoa: ser psicológico
Noção psicológica do ser bastante recente. Conhecimento de si mesmo.
O que é o ser? Do que é feita a alma? Ela é base de algo ou é embasada em algo? Várias são as questões concernentes à criação e existência humanas que durante muito tempo continuaram sem resposta. Mas que de acordo com o autor, chegaram a um termo após o concílio de Trento
(concílio da contrarreforma, que reafirmou os princípios católicos, reativou a Inquisição, confirmou os sacramentos e a existência do purgatório, confirmou a unidade católica e fortalecimento da hierarquia eclesiástica)
P.395
O autor traz aqui os debates ocorridos a partir do Renascimento sobre a natureza da alma, com a máxima cartesiana cogito ergo sum, em que a alma seria a extensão do pensamento. 
Mauss também traz a ideia de estados de consciência, contida em Hume, em que Hume aloca a noção do “eu” como uma categoria fundamental da consciência.
O autor também discorre sobre Kant e a possibilidade de o “eu” se uma categoria da consciência. Para por fim ponderar que todo fato da consciência é um fato do “eu”, conforme nos traz Fichte, sendo então o inverso: a consciência vista como uma categoria do “eu”.
P.396
Conclusão
O autor encerra seu artigo fazendo uma apanhado da viagem histórica e científica de como a noção do “eu” sofreu transformações ao longo do tempo e de acordo com as sociedades estudadas. 
O autor também afirma que está não é uma categoria estanque e que assim como já houve mudanças, elas ainda vão continuar ocorrendo adiante, conforme o entendimento da natureza humana, assim como a consciência sobre si mesmo, avance.
ANÁLISE CRÍTICA
Nesse artigo Marcell Mauss busca demonstrar que a noção de pessoa, principalmente no que tange à construção da noção do “eu”, não é algo dado naturalmente como se pode pensar. O autor, embasado em vários estudos realizados por outros enólogos sobre sociedades tribais, e também lançando mão do conhecimento sobre as antigas civilizações, busca demonstrar que a concepção do indivíduo e seu papel em meio à sociedade é um fato construído socialmente e que como tal sofreu inúmeras transformações até assumir a forma que tinha em sua contemporaneidade.
Por meio da comparação de várias tribos e organizações sociais, Mauss também demonstra que há uma repetição de estruturas organizacionais ao longo do tempo (aspecto este que demonstra a influência do autor para o desenvolvimento da escola antropológica estruturalista). A ordenação social que considera questões de hereditariedade, status social, pertencimento a determinados grupos, são alguns dos aspectos considerados para marcar o papel social que esse indivíduo exercerá dentro de uma sociedade. O indivíduo aqui não é visto ainda de forma totalmente isolada, mas sempre em referência ao seu grupo, ao seu clã. Porém, no indivíduo também se encerra o elo de ligação destes grupos, é ele que dá forma ao clã e mantém a organicidade do mesmo.
É interessante notar que o autor nos traz luz a duas sociedades orientais (Índia e China) que desde os primórdios já possuem em seu seio a noção de indivíduo um pouco mais afloradas. Mas no caso em particular da Índia, de acordo com o Budismo, o “eu” representa somente um impedi-lo para o caminho da iluminação, enquanto a China é considerada a sociedade com um caráter individual mais reforçado. A partir disso, Mauss também traz a visão mais personificada que o indivíduo adquire nas sociedades latinas, que aos poucos agregam aos indivíduos o caráter moral de suas ações. Sendo esse aspecto ainda mais fortalecido com o cristianismo e a moral cristã, que incumbe ao indivíduo um propósito, uma missão.
O autor por fim afirma que a noção de caráter mais psicológico do indivíduo (que havia na sua contemporaneidade) é bastante recente e ainda haveria muito mais a evoluir e mudar nas concepções que se tem do “eu”.
Um aspecto bastante interessante desse artigo de Marcell Mauss é o estabelecimento da relação intrínseca entre indivíduo e grupo/sociedade e o impacto e participação de um para formação do outro. O autor deixa bastante evidente, ao analisar os estudos das sociedades que perfazem o conjunto analisado em seu artigo, que os indivíduos cumprem um papel social específico dentro das mesmas, mas que estes papéis também são guias das ações e nortearão a noção de si mesmos que esses indivíduos terão.
Tendo em vista o embate entre as Ciências Sociais, que primam pelos aspectos sociais para a formação do indivíduo, e a Psicologia, que olha para o comportamento e desenvolvimento do indivíduo no seu meio, este artigo se mostra de grande valia ao trazer luz para essa construção que o ocorre nos dois sentidos (da sociedade para o indivíduo e vice-versa).

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