Buscar

Unidade 2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O Brasil Império: ideias, economia e sociedade
Aula 1
O processo de Independência do Brasil.
O processo de independência do Brasil ocorreu sem participação popular. Aclamado Imperador Constitucional do Brasil em 12 de outubro de 1822, D. Pedro I deveria organizar politicamente as leis, a administração pública do Brasil e, principalmente, conquistar o reconhecimento das monarquias europeias em relação à independência recém-proclamada. Tal tarefa seria facilitada pelo argumento de que se tratava de um legítimo herdeiro da dinastia de Bragança, o que garantiria a continuidade nos rumos políticos e econômicos, contribuindo para a manutenção das ordens econômica e social brasileira. No entanto, este seria o objetivo mais difícil de alcançar, pois, nas bases em que se fundamentou o Império brasileiro, a figura de D. Pedro I representava a principal fonte de poder do Estado, e isso constituiu um elemento de contestação comum aos conflitos que conduziram à abdicação em 1831. Seguiu-se o período regencial, caracterizado por rebeliões em diversas províncias do país, e a antecipação da maioridade de Pedro de Alcântara. O Segundo Reinado seria palco de diversas transformações econômicas, sociais e políticas, influenciadas, em grande medida, pela expansão das ideias liberais, anunciando uma nova ordem: a República.
O Estado brasileiro nasceria, portanto, como monarquia escravista, sem romper com a estrutura econômica, latifundiária, monocultora e exportadora do período colonial. A determinação do que seria esse novo Estado aconteceu nos dois primeiros anos após a independência, durante a Assembleia Constituinte, convocada antes do dia 7 de setembro e eleita sob a prerrogativa do voto censitário, o que reduziu ainda mais a participação política dos brasileiros, já pequena, em virtude da escravidão. Constituída, em sua maioria, por uma elite econômica e intelectual e, na sua totalidade, por uma elite política, a assembleia iniciou seus trabalhos em maio de 1823. Além da discussão a respeito do poder imperial de sancionar as leis, outros desacordos pautaram os debates, principalmente quanto às atribuições do Poder Executivo. Se, por um lado, os liberais não pretendiam concentrar nas mãos do imperador o direito de dissolver a Câmara dos Deputados que estava para se formar, por outro, os grupos que apoiavam o imperador defendiam uma maior concentração de poderes por parte do Executivo. Dentro dessa disputa que se instaurou na Assembleia Constituinte,
[...] ficou manifesta a intenção da maioria dos deputados de limitar o sentido do liberalismo e de distingui-lo das reivindicações democratizantes. Todos se diziam liberais, mas ao mesmo tempo se confessavam antidemocratas e antirrevolucionários. As ideias revolucionárias provocavam desagrado entre os constituintes. A conciliação da liberdade com a ordem seria o preceito básico desses liberais [...]. Em outras palavras: conciliar a liberdade com a ordem existente, isto é, manter a estrutura escravista de produção, cercear as pretensões democratizantes.
(COSTA, 1987, p. 127).
Esse processo resultou no fechamento das atividades da Assembleia Constituinte e na outorga da Constituição, imposta à população brasileira.
A CONSTITUIÇÃO DE 1824
Depois de fechar a Assembleia Constituinte, D. Pedro I nomeou um conselho de Estado, composto por 10 membros, e o encarregou de elaborar um projeto de Constituição. Quarenta dias depois, a Carta Constitucional foi sancionada pelo imperador e definia o sistema de governo como uma monarquia constitucional, hereditária, na qual o imperador era o representante do Poder Executivo e poderia nomear governadores das províncias, o que tornava o Brasil um Estado não federativo, mas com um poder político fortemente centralizado.
A Carta também instituía o Poder Moderador — exercido pelo imperador, auxiliado por um conselho de Estado —, criado sob o pretexto de que era necessária a existência de um quarto poder que pudesse exercer o equilíbrio entre os demais poderes e servia para justificar as ingerências imperiais sobre os três poderes, como dissoluções da Câmara dos Deputados, a nomeação de senadores e presidentes das províncias, entre outras prerrogativas. De fato, o Poder Moderador unia nas mãos do chefe do Executivo competências para arbitrar em assuntos executivos e legislativos. Outro aspecto definido foi a confirmação do catolicismo como religião oficial do Estado.
Aula 2
O Liberalismo no Brasil Imperial.
No plano teórico, o liberalismo objetivava demonstrar que o ser humano é livre por natureza e que o Estado e as demais instituições dele decorrentes precisam garantir essa liberdade para se tornarem legítimas. Esse pensamento foi encarado como revolucionário para os contemporâneos do século XIX porque representava uma contraposição às práticas políticas próprias das monarquias absolutistas. Para Emília Viotti da Costa (2010, p. 31-32), não devemos superestimar a relevância das ideias liberais sobre os movimentos ocorridos no Brasil desde fins do século XVIII. Isso porque havia alguns obstáculos que impediam a plena aceitação e difusão das ideias liberais dentro da sociedade brasileira. Além da marginalização política da grande maioria da população, a escravidão constituía o principal limite para o liberalismo brasileiro. Sem encontrar uma classe burguesa que fornecesse as bases para a disseminação e defesa das ideias liberais, tal como a conjuntura formada no contexto da luta contra o absolutismo europeu, as ideias liberais foram adotadas pelas classes proprietárias rurais que não pretendiam abrir mão da propriedade escrava e latifundiária, apesar de se empenharem na liberdade comercial e administrativa. A historiadora destaca ainda que a conciliação entre as ideias liberais e a Igreja Católica foi uma peculiaridade do liberalismo brasileiro. Sacerdotes divulgavam em seus sermões as ideias de liberdade social, a exemplo de Frei Caneca.
Mas como essas ideias influenciaram a política imperial brasileira?
Bem, elas chegaram como um reflexo das revoluções europeias, mas, aqui nos trópicos, sofreram algumas adaptações em função dos interesses políticos e econômicos em questão. Para que possamos compreender melhor esse processo, vamos analisar a repercussão das ideias liberais em Pernambuco tendo em vista a conjuntura que deu origem à Confederação do Equador.
A notícia da dissolução da Constituinte em 12 de novembro de 1823 chegou a Pernambuco causando grande desconfiança, pois o monarca aparecia como um herdeiro legítimo da tradição absolutista europeia. Nas críticas ao poder imperial, Frei Joaquim do Amor Divino, apelidado Frei Caneca, tornou-se figura central desde a sua participação ativa no movimento revolucionário de 1817. Por meio do jornal Tífis Pernambucano, criado em dezembro de 1823, Frei Caneca se pronunciava contra a medida arbitrária da dissolução da Constituinte por representar uma ameaça à liberdade que nascia com a independência. Para ele:
A massa da província só se há de pacificar quando vir que as côrtes não estabelecem duas câmaras, que não dão ao supremo chefe do Poder Executivo veto absoluto; que ele não tem a iniciativa das leis do Congresso; quando vir a imprensa livre; estabelecido o jurado; o imperador sem o comando da força armada [...]; que sustente a liberdade das instituições; que sustente a liberdade do cidadão e sua propriedade e promova a felicidade da pátria.
No entanto, o confronto entre os políticos de Pernambuco e o imperador se iniciou com a escolha de Manoel de Carvalho Paes de Andrade para presidente da província, contrariando a legislação imperial sobre a definição dos governos provinciais. O imperador, na tentativa de substituir a nomeação, escolheu Francisco Paes Barreto e ordenou que fossem realizadas novas eleições para deputados, objetivando substituir aqueles que não agradavam ao poder central em virtude de suas ideias liberais. Resistindo às determinações imperiais, Frei Caneca colocou-se ao lado de Paes de Andrade, afirmando que a atitude do imperador era contrária aos princípiosliberais, uma vez que desconsiderava a vontade da província. Frei Caneca afirmava que “quando o monarca incorre na desconfiança da nação, é imediatamente reputado um inimigo interno, e fica desde então à borda do abismo da ruína”. A Confederação do Equador foi proclamada em 2 de julho de 1824 e deveria reunir, sob uma federação, as províncias da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Pará. Sem condições para apresentar resistência à supremacia das tropas militares do Império, a Confederação foi derrotada nas províncias, resultando na prisão e condenação dos revoltosos e, diante da recusa do carrasco em realizar o enforcamento de um religioso, Frei Caneca foi fuzilado.
Durante o século XIX, foram realizados alguns censos populacionais. Boris Fausto (2004, p. 236) nos apresenta os dados de 1819 e 1872, que dão conta de um crescimento da população brasileira. Em 1819, havia cerca de 4,6 milhões de pessoas. Em 1872, esse número ultrapassou o dobro e chegou a 9,93 milhões, sendo Minas Gerais a província mais povoada, seguida da Bahia, Pernambuco e São Paulo. “Do ponto de vista racial, os mulatos constituíam cerca de 42% da população, os brancos 38% e os negros 20%. Cresceu assim a proporção de brancos, estimada em menos de 30% em 1819. Isso se liga ao ingresso de imigrantes” (FAUSTO, 2004, p. 236-237). Podemos visualizar no mapa a seguir a porcentagem de escravos sobre a população de várias províncias.
De acordo com o senso populacional de 1872, a área que corresponde ao Rio de Janeiro e ao Espírito Santo apresentava a maior proporção de escravos sobre a população total (SLENES, 1998, p. 247).
Nas províncias, a vida se desenvolvia dentro de uma teia de relações, nas quais “senhores e subalternos”, para usar a expressão do historiador Robert Slenes, ocupavam lugares distintos.
Devemos considerar que é um trabalho complexo para os historiadores reconstituir o cotidiano das pessoas comuns, que, inseridas em processos conjunturais, construíam formas próprias de viver, relacionando-se a partir de objetivos e referenciais específicos do segmento social ao qual pertenciam. Apesar disso, essa tem sido uma preocupação bastante atual, que tem conduzido a estudos sobre o cotidiano e a vida privada em diversos momentos da história do Brasil.
Aula 3
Imigração, trabalho e sociedade no Brasil.
Vamos acompanhar, a partir de agora, algumas características da sociedade imperial discutidas nos trabalhos de Robert Slenes e Sidney Chalhoub, historiadores que se debruçaram sobre as relações sociais estabelecidas no século XIX entre os senhores e seus subordinados.
Esses autores, cada um ao seu modo, caracterizaram a sociedade do século XIX pelo paternalismo enquanto política e estratégia de dominação senhorial. Nele, “emerge o retrato de uma classe senhorial prepotente e frequentemente arbitrária, mas sobretudo ardilosa: uma classe que brande a força e o favor para prender o cativo na armadilha dos seus próprios anseios” (SLENES, 1998, p. 236). Tal estratégia de dominação pautou as relações senhor/escravo e senhores/subalternos.
Chalhoub (1998, p. 95) diz que: “a característica comum a tais políticas de domínio — presente assim tanto nas estratégias de subordinação de escravos quanto de pessoas livres dependentes — era a imagem da inviolabilidade da vontade senhorial”. E, se a vontade senhorial não podia ser contrariada, podemos dizer que, dentro das relações entre senhores e subalternos, havia estratégias de afirmação e dissimulação, além de outros recursos utilizados para sustentar uma hierarquia social baseada na reafirmação dos laços de dependência. E era no seio dessa hierarquia que os subalternos criavam estratégias para também realizar as suas conquistas e alcançar seus objetivos.
A partir de 1850, a classe senhorial exercia plenamente as prerrogativas do seu segmento social. Essa década, como bem esclarece Chalhoub, é o auge do Segundo Reinado. Marcada pela contenção das rebeliões do período regencial, pelo fim do tráfico negreiro e pela formação política que alternava liberais e conservadores no poder, essa conjuntura fornecia ao governo imperial uma “imagem de paz e prosperidade para as décadas de 1850 e 1860”. Naquele período, o cultivo do café se expandia e passava do Vale do Rio Paraíba, que englobava regiões entre São Paulo e Rio de Janeiro, para o Oeste Paulista. Essa área correspondia ao interior de São Paulo, e não necessariamente ao oeste geográfico do estado. Conforme destaca Fausto, a disponibilidade de grandes lotes contínuos de terra e a introdução de novas tecnologias não eram os únicos fatores que podem explicar a ascensão do Oeste Paulista como nova zona cafeeira; há também fatores físicos, pois, no interior de São Paulo, “reuniam-se as mais favoráveis condições de solo e de clima para a lavoura do café. [...] a terra roxa, de alta produtividade, onde o rendimento do cafeeiro podia chegar a trinta anos, enquanto em outras terras não ia além de um quarto de século” (FAUSTO, 2004, p. 202).
Além disso, foi no Oeste Paulista que se formaram dois segmentos sociais distintos: os fazendeiros que apoiavam a monarquia e a burguesia do café. O primeiro grupo social sustentava o poder da monarquia e lhe conferia apoio político até o momento em que foram adotadas as medidas de supressão gradual da escravidão. Com a abolição, esses fazendeiros se afastaram do governo monárquico. Seu peso político e prestígio social já não eram mais os mesmos. Viram-se, então, na necessidade de diversificar os seus investimentos e passaram a adquirir fazendas no Oeste Paulista.
Já o surgimento da burguesia do café está associado à expansão da economia capitalista, que se deu a partir de um processo de acumulação de capitais alcançada com a produção cafeeira. Investimentos em transportes, no setor bancário e no comércio contribuíram para dinamizar a vida urbana, favorecendo a formação de centros industriais e de consumo, como Ribeirão Preto (1870), Barretos (1874) e Bauru (1880) (FAUSTO, 2004, p. 203). Esse seria o grupo social que, associado às camadas médias urbanas, dominaria o cenário político de fins do Segundo Reinado até a Primeira República.
Em São Paulo, a imigração europeia estava relacionada à substituição do trabalho escravo pela mão de obra assalariada. Tratava-se de realizar contratos de parceria com os imigrantes, que deveriam cultivar determinada quantidade de pés de café e pagar pelo lote com parte da produção. O primeiro fazendeiro a inserir esse tipo de contrato em suas fazendas foi o senador Nicolau de Campos Vergueiro. Em 1847, utilizando recursos do governo imperial, ele trouxe alemães e suíços para trabalhar em regime de parceria, dividindo a produção e os prejuízos. Mas os problemas não tardaram a acontecer. Além de dividir os prejuízos causados pela oscilação dos preços do café no mercado externo, os colonos tinham que reembolsar o fazendeiro pelos gastos da viagem e da manutenção inicial no Brasil. Fausto (2004, p. 206) salienta, ainda, que os colonos “eram submetidos a uma disciplina estrita, incluindo a censura de correspondência e o bloqueio da locomoção nas fazendas”. Em 1857, os colonos da Fazenda Ibicaba, de propriedade de Nicolau Vergueiro, rebelaram-se, inconformados com a situação em que se encontravam, e, por volta de 1870, os fazendeiros já haviam percebido que o regime de parceria teria fracassado. A partir de então, a imigração europeia de trabalhadores assalariados aconteceu de forma sistemática. Esse processo migratório para as zonas cafeeiras de São Paulo se intensificou no período republicano.
Nos períodos imperial e republicano, muito se discutiu acerca dos processos imigratórios, seus impactos socioeconômicos, sua influência sobre a abolição da escravidão e sobre a alteração das feições mestiças da população brasileira. No período imperial, discutia-se a política de imigração, tendo em vista que a abolição seria a única medida capaz de fazer o Brasil avançar um degrau para se tornar um país civilizado. Além disso, o fato de ser um país de escravos causava entravesà propaganda junto aos países europeus. A imigração era, então, apresentada como um instrumento da civilização, sendo a escravidão e a grande propriedade obstáculos ao desenvolvimento econômico e ao trabalho livre.
Alguns intelectuais do século XIX, tais como o Visconde de Abrantes, em 1846, Tavares Bastos, em obra datada de 1867, e o jornalista Augusto de Carvalho, em 1874, apresentaram aspectos que deveriam favorecer a vinda de imigrantes, especialmente alemães, para o trabalho no Brasil. Além da abolição da escravidão, eles recomendavam mudanças no poder temporal que a Igreja Católica exercia.
Como vimos anteriormente, a Constituição de 1824 definiu o catolicismo como religião oficial e vinculou a Igreja Católica ao Estado pelo regime de padroado, o que conferiu à Igreja prerrogativas civis, tais como a obrigatoriedade do registro civil para nascimentos, casamentos e óbitos, que eram realizados somente pelos padres e bispos católicos. Isso dificultava a vinda de imigrantes de denominações protestantes, o que fez com que os grupos dirigentes repensassem a exigência da filiação dos imigrantes à religião constitucional do Império. Dadas as condições prementes de reformulação da estrutura de mão de obra, que incluíam a progressiva extirpação da escravidão e a necessidade de expansão agrícola, passou-se a não exigir que os imigrantes professassem o catolicismo. Mas, do ponto de vista legal, tornou-se complicado o reconhecimento das uniões conjugais e o registro de seus filhos, pois, conforme vimos anteriormente, tais procedimentos se concentravam nas mãos da Igreja Católica até a Proclamação da República.
Os temas centrais no debate sobre a imigração eram o povoamento das regiões com baixa densidade demográfica e a dinamização de um mercado que ofertasse mão de obra capaz de substituir o trabalho escravo na produção agroexportadora. No entanto, essas propostas vinham acompanhadas de um projeto de hierarquização dos possíveis imigrantes. Dentre eles, os asiáticos e africanos eram descartados, pois não constituíam povos civilizados aos olhos dos dirigentes e intelectuais, que tinham como padrão de civilidade a sociedade europeia. Europeus, por seu turno, não possuíam restrições, uma vez que eram todos brancos. Quanto a estes, as referências eram, sobretudo, quanto à valorização dos camponeses e artesãos, já que o trabalho no Brasil seria exercido no setor agrícola. Os alemães, que, em meados do período imperial, já haviam estabelecido colônias no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, eram considerados modelos de colonos, perfeitamente adaptados ao trabalho e extremamente práticos.
A libertação dos escravos brasileiros, em 1888, foi resultado de um longo processo, cujas raízes podem ser encontradas na ação de grupos políticos e sociais tão diferentes na sua composição quanto nos interesses e objetivos. Isso nos permite entendê-la como resultante da ação reformista de uma elite liberal, com participação nos quadros políticos do Império, de uma juventude intelectualizada, que, ao longo do século XIX, vai compor e engrossar o chamado movimento abolicionista, e também da própria ação rebelde e incansável dos negros livres, libertos ou cativos, que, desde o período colonial, impuseram-se contra a opressão.
O processo que levou à extinção da escravidão no Brasil caracterizou-se por uma ação de Estado, que demarcou a vitória da corrente emancipacionista defensora da abolição lenta, gradual, sem colocar em risco a estrutura agrária exportadora. Nesse contexto, foi viabilizado, em 1850, o fim do tráfico internacional, com a Lei Eusébio de Queirós, e, a partir da década de 1870, as chamadas leis abolicionistas. A primeira dessas leis, a Lei do Ventre Livre, libertava os filhos de escravas nascidos a partir de 1871, embora permitisse aos senhores a utilização dos serviços do menor até atingir 21 anos completos. Já a Lei dos Sexagenários, em 1885, repetia a tentativa de protelar o inevitável fim do trabalho escravo brasileiro. Por essa lei, ficavam livres todos os escravos com mais de 60 anos, devendo, entretanto, a título de indenização, prestar serviços a seus ex-senhores pelo espaço de três anos. Tratava-se, claramente, de esperar que com a redução gradual do número de escravos no Brasil se pudesse extinguir a escravidão indenizando os senhores pelas suas perdas. A estratégia só não deu completamente certo em função da radicalização dos abolicionistas, que passaram a atuar de forma mais sistemática tanto nas fugas quanto nas denúncias do jogo imperial. Isso garantiu o evento em 13 de maio de 1888, quando a Lei Áurea rompeu com o gradualismo emancipacionista e extinguiu legalmente o trabalho escravo no Brasil.
Qual o significado do Liberalismo no Brasil Imperial?
O autoritarismo do imperador D. Pedro I se chocou com o avanço das ideias liberais no Brasil. Basicamente, as teses do liberalismo pregavam que o Estado deveria garantir a liberdade social, política e econômica a todos. Porém, os diversos grupos elitistas do país adequaram essa filosofia aos seus interesses particularistas em detrimento da nação.
A burguesia agrária se valeu do discurso liberal para adquirir apoio popular no processo de independência, porém advogava pela manutenção da economia agrária e da escravidão. Como não existia um projeto de desenvolvimento coletivo, o Brasil Império foi instaurado sem grandes transformações em relação à estrutura desigual, fruto da herança da colonização.
Como se caracterizava a sociedade do século XIX?
A sociedade brasileira no século XIX era escravocrata, e os negros e mulatos compunham a maior parte da população. Apesar das divergências nos seus pontos de vista, as classes dominantes brancas defendiam seu status quo com afinco, e, por consequência, as relações de classes eram pautadas em laços de dependência e hierarquias entre servos e senhores. As turbulências sociais, econômicas e políticas desse período histórico geraram grandes mudanças na sociedade brasileira, como a abolição da escravidão, em 1888, e a Proclamação da República, em 1889.
Como eram definidos o trabalho e a economia no Brasil Imperio?
O trabalho no Brasil Império era majoritariamente escravo, porém esse regime foi abalado pelos ideais abolicionistas, que apoiavam o final do regime servil como um passo para o avanço do capitalismo no Brasil. Com as pressões pelo fim da escravidão e o estabelecimento do trabalho assalariado, o governo brasileiro deu inicio à importação de imigrantes europeus brancos para trabalharem nas fazendas nos anos 1850. O interesse das elites era não somente obter força de trabalho, mas também promover o embranquecimento populacional e civilizar o país. Observa-se, assim, um viés estritamente preconceituoso, que permaneceu arraigado na cultura brasileira, apesar da presença dos ideais republicanos e democráticos.
Em termos econômicos, a estrutura do Império era agrária, e o principal produto de exportação era o café. As condições climáticas, o solo fértil e o investimento tecnológico tornaram o Oeste Paulista o principal centro produtivo. Como se tratava de um contexto de transição, os lucros do café foram investidos em estradas, comércio, urbanização, na indústria, etc., visto que o país, aos poucos, estava se transformando em uma economia capitalista.

Outros materiais