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DIREITO CIVIL I (4)

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PLANO ENSINO
DIREITO CIVIL I
PERFIL DOCENTE
Titulação: o docente deve possuir graduação em Direito, especialização lato e/ou stricto sensu, preferencialmente em Direito Civil, com ênfase em Teoria do Direito. É desejável que tenha mestrado em Direito Civil.
​Perfil do docente: considerando ser uma disciplina importante para a manutenção do aluno no curso, o professor de Direito Civil I deverá possuir excelência acadêmica, ter competência comunicativa, bem como capacidade de interação e motivação. Ademais, é essencial que possua competências didático-pedagógicas, conhecimento de técnicas metodológicas, bem como habilidade específica para lidar com as dificuldades e diversidades de condições acadêmicas inerentes ao aluno de início de curso.
CONTEXTUALIZAÇÃO
A disciplina Direito Civil I trata do estudo da Parte Geral do Código Civil. É o elemento unificador do sistema de Direito Civil, que se reflete na estrutura do Código Civil de 2002, pela presença de uma Parte Geral. Trata-se de disciplina determinante para a compreensão das outras disciplinas do curso relacionadas ao sistema de direito privado, bem como para a atuação acadêmica e profissional do egresso.
EMENTA
Código Civil Brasileiro. Pessoa Natural. Direitos da Personalidade. Pessoa Jurídica. Bens. Fatos Jurídicos. Negócios Jurídicos: Defeitos. Invalidade. Prescrição e Decadência. Atos Ilícitos e Responsabilidade Civil.
OBJETIVOS GERAIS
Compreender os institutos da Teoria Geral do Direito Civil, analisando as principais diferenças. Identificar os elementos conceituais da Parte Geral do Código Civil. Compreender as características e a dinâmica das relações jurídicas, dos fatos, atos e negócios jurídicos e a influência do fator tempo nos mesmos. Analisar a composição dos elementos do ato ilícito e identificar o seu conceito.
OBJETIVOS ESPECIFICOS
Reconhecer o tempo e o modo de aquisição, modificação e perda do direito;
Diferenciar ineficácia e invalidade dos negócios jurídicos;
Distinguir nulidade relativa e absoluta no Código Civil;
Compreender e distinguir os elementos da prescrição e decadência;
Identificar os atos ilícitos na esfera cível e reconhecer suas espécies, elementos e as distinções;
Compreender a teoria do abuso de direito;
Apreender noções gerais de responsabilidade civil e identificar as principais espécies de responsabilidade civil no direio privado.
CONTEUDOS
Unidade I - O Código Civil Brasileiro.
O Direito Civil como ramo do Direito Privado.
O fenômeno da codificação.
A codificação civil brasileira.
O Código Civil de 2002: estrutura, princípios norteadores e campo de incidência.
Direito Civil e a Constituição da República de 1988
A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.
​Unidade II - A Pessoa Natural.
A personalidade jurídica: conceito e aquisição.
Tutela jurídica do nascituro.
A incapacidade. As restrições de direito.
Suprimento e cessação da incapacidade civil.
O nome civil.
Estado civil.
Domicílio.
O fim da personalidade civil. Efeitos jurídicos da morte.
Comoriência e ausência: caracterização e efeitos jurídicos.
Morte presumida: caracterização.
​Unidade III - Pessoa e Direitos da Personalidade.
Da teoria dos direitos da personalidade.
Direitos da personalidade e Constituição de 1988.
Direitos da personalidade no Código Civil Brasileiro.
​Unidade IV - A Pessoa Jurídica.
Conceito, natureza jurídica, classificação e constituição.
Representação da pessoa jurídica.
Responsabilidade da pessoa jurídica.
Pessoa jurídica e direitos de personalidade.
Regime jurídico das associações e fundações.
Extinção das Pessoas Jurídicas.
Nacionalidade e domicílio.
A desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
​Unidade V - Os Bens.
Conceito. Patrimônio e esfera jurídica.
Classificação.
Bens intrinsecamente considerados e reciprocamente considerados.
Bens públicos.
​Unidade VI - Dos Fatos Jurídicos.
Fato natural e fato jurídico.
Noções distintivas sobre fatos, atos e negócios jurídicos.
Classificações do fato jurídico.
Ato-fato jurídico
Ato jurídico stricto sensu.
​Unidade VII - Dos Negócios Jurídicos
Negócio jurídico: conceito, classificação e elementos constitutivos.
Interpretação do negócio jurídico.
Noções sobre os planos de existência, validade e eficácia do negócio jurídico.
Da representação.
Elementos acidentais do negócio jurídico: condição, termo e encargo.
Unidade VIII - Defeitos nos negócios jurídicos
Erro, ignorância, dolo, coação.
Estado de perigo e lesão
Fraude contra credores
​Unidade IX - Invalidade dos Negócios Jurídicos
A teoria da inexistência jurídica
Ineficácia e invalidade
Nulidade: características, espécies, causas e efeitos
Anulabilidade: características, espécies, causas e efeitos
Simulação
​Unidade X - Prescrição e Decadência
Distinção e conceito. Teorias.
Prescrição: conceito, elementos, fundamento e espécies.
Impedimento, suspensão e interrupção da prescrição.
Prazos de prescrição no Código Civil.
Prescrição intercorrente.
Prescrição em face da Fazenda Pública.
Prescrição e decadência no Código de Defesa do Consumidor.
Decadência: conceito e espécies.
Prazos decadenciais.
​Unidade XI - Atos Ilícitos e Responsabilidade Civil
Conceito, espécies e distinções necessárias, generalidades e elementos
Abuso de direito
Responsabilidade Civil - noções gerais
PROCEDIMENTOS DE ENSINO
Aulas expositivas, interativas e discussões dirigidas. Leitura e aplicação de dispositivos legais voltados para a resolução de problemas constantes dos Planos de Aula, envolvendo casos concretos com ênfase no estudo da relação jurídica e da inter-relação entre os seus componentes. Realização de pesquisas e debates.
PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO
No Curso de Direito, a avaliação se dá de forma continuada. Antes de cada aula o estudante deverá solucionar os casos concretos que se encontram na web aula da disciplina e postar suas respostas no ambiente online.
Após a revisão e autocorreção, o estudante deverá refazer a análise do caso concreto, na ambiente web aula, acrescentando citações doutrinárias e jurisprudenciais. O conjunto dos trabalhos práticos realizados ao longo do período valerão até 2,0 (dois) pontos na AV1, AV2 e AV3.
As AV1, AV2 E AV3 serão realizadas através de provas escritas, valendo, no mínimo, até 8,0 (oito) pontos, contendo questões objetivas e discursivas, sendo, ao menos uma das questões, um caso concreto para análise e resolução.
A soma de todas as atividades (provas escritas e resolução dos casos aula a aula) comporão o grau final de cada avaliação, não podendo ultrapassar o grau máximo de 10 (dez), sendo permitido atribuir valor decimal às avaliações.
A AV1 contemplará o conteúdo da disciplina até a sua realização, incluindo o das atividades estruturadas, nas disciplinas que as contenham.
As AV2 e AV3 abrangerão todo o conteúdo da disciplina, incluindo o das atividades estruturadas.
Para aprovação na disciplina o aluno deverá:
1. Atingir resultado igual ou superior a 6,0, calculado a partir da média aritmética entre os graus das avaliações, sendo consideradas apenas as duas maiores notas obtidas dentre as três etapas de avaliação (AV1, AV2 e AV3). A média aritmética obtida será o grau final do aluno na disciplina.
2. Obter grau igual ou superior a 4,0 em, pelo menos, duas das três avaliações.
3. Frequentar, no mínimo, 75% das aulas ministradas.
PLANO DE AULA
AULA 1
TEMA:CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO
OBJETIVO
- Discorrer sobre a importância da disciplina Direito Civil I para os objetivos do curso e empregabilidade do aluno.
- Apresentar as competências e habilidades desenvolvidas, em articulação com outras disciplinas do curso.
- Discorrer sobre a metodologia de ensino centrada na resolução de casos concretos.
- Apresentar a bibliografia básica e complementar.
- Apresentar o Plano de Ensino e o Mapa Conceitual da Disciplina.
- Orientar a utilização do material didático.
- Contextualizar o Direito Civil como principal ramo do Direito Privado.
- Fornece ao aluno o campo estrutural do Código Civil Brasileiroe sua base princípio lógica.
- Discorrer sobre a relação do Direito Civil com a Constituição Federal de 1988.
ESTRUTURA DE CONTEUDO
Unidade I - O Código Civil Brasileiro.
O Direito Civil como ramo do Direito Privado.
O fenômeno da codificação.
A codificação civil brasileira.
O Código Civil de 2002: estrutura, princípios norteadores e campo de incidência. 
Direito Civil e a Constituição da República de 1988.
PROCEDIMENTOS DE ENSINO
O professor deve iniciar apresentando aos discentes o plano de ensino, o mapa conceitual, a metodologia e a bibliografia. Deverá ainda orientar os alunos acerca da utilização do material didático.
​1.1. O Direito Civil como ramo do Direito Privado
O professor deverá fazer uma breve revisão do conteúdo administrado no semestre anterior na disciplina Introdução ao Estudo do Direito, especialmente com relação ao conceito de direito, relação entre Direito e Moral, fontes do Direito e classificação dos vários ramos do Direito.
O Direito Civil deve ser identificado como principal ramo do Direito Privado, bem como instrumento de realização dos direitos fundamentais no âmbito das relações privadas, regulando as relações entre os particulares com fundamento em na igualdade jurídica e na autodeterminação. O direito civil extrai seu nome do latim cives (cidadãos) e se dirige ao núcleo da vida em sociedade, ou seja, às relações sociais travadas de pessoa a pessoa, desde o nascimento até a morte, ou até mesmo antes daquele e depois desta.
Para ilustrar a diferença entre moral e direito em termos práticos, sugere-se que seja trabalhado em sala de aula o seguinte precedente do STJ:
​EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. CARÁTER INFRINGENTE INCOMPATÍVEL COM A VIA INTEGRATIVA. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL. FAMÍLIA. DANOS MATERIAIS E MORAIS. ALIMENTOS. IRREPETIBILIDADE. DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE FIDELIDADE. IMPUTAÇÃO AO CÚMPLICE DA TRAIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.  INDENIZAÇÃO. JUROS MORATÓRIOS. PERCENTUAL.
1. Não se reconhece a negativa de prestação jurisdicional alegada quando o acórdão embargado encontra-se suficientemente fundamentado, abordando, com a profundidade adequada, toda a matéria devolvida a esta Corte Superior em sede de recurso especial.
2. O intuito infringente contido nas razões dos declaratórios é incompatível com a via recursal integrativa.
3. O dever de fidelidade recíproca dos cônjuges é atributo básico do casamento e não se estende ao cúmplice de traição a quem não pode ser imputado o fracasso da sociedade conjugal por falta de previsão legal.
4. O Superior Tribunal de Justiça firmou posicionamento no sentido de que os juros serão calculados à base de 0,5% ao mês, nos termos do artigo 1.062 do Código Civil de 1916 até a entrada em vigor do Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002). A partir da vigência do Novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002), os juros moratórios deverão observar a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional (artigo 406). Atualmente, a taxa dos juros moratórios a que se refere o referido dispositivo é a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia - SELIC.
5. Embargos de declaração acolhidos apenas para esclarecer o percentual dos juros moratórios em virtude da condenação decorrente do provimento do recurso especial.
(EDcl no REsp 922.462/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/04/2014, DJe 14/04/2014)
​1.2. O fenômeno da codificação.
Código é uma lei que busca disciplinar relações jurídicas da mesma natureza (civis, penais, trabalhistas etc.), organizando e sistematizando o direito material. Não se pode confundir código com consolidação, compilação e estatuto.
Sob o ponto de vista histórico, todo Código deve ser visto como ponto de chegada, pois, embora tente projetar comportamentos futuros reflete acontecimentos passados e a sociedade atual ? por isso que a codificação deve evitar ao máximo a descrição de situações circunstanciadas e casuísticas, eis que o risco de se tornar obsoleta é muito maior.
A codificação apresenta vantagens e desvantagens:
Vantagens
- unificação do Direito vigente em uma determinada sociedade a partir de critérios uniformes;
- estudo sistematizado do Direito;
​Desvantagens
- fossilização do Direito, impedindo o desenvolvimento e o curso natural da evolução jurídica. Isso ocorreu principalmente nos Códigos oitocentistas, cujo modelo foi o Código Napoleão, em que os valores predominantes eram a propriedade e a autonomia da vontade.
- a legislação codificada atende às exigências da vida social apenas no instante em que é estabelecida;
- o apego à letra pura da Lei torna-se mais evidente, como se inexistisse Direito fora do Código.
"A principal desvantagem da codificação, e talvez a única, segundo a maioria dos autores, seria a rigidez, o que implica na dificuldade de sua alteração (...)
Entretanto, em termos científicos, não nos convence o argumento porquanto calcado em razões de ordem estritamente psicológicas. A apontada 'rigidez' é fruto tão somente da mentalidade do jurista que, acostumado a trabalhar com determinados e conhecidos textos, torna-se inconscientemente conservador e avesso a mudanças.
Demais disso, a alteração de um código, para fins de adaptação da ordem jurídica, não se dá, exclusivamente, pela alteração formal dos dispositivos normativos"
(DELGADO, Mario Luiz. Codificação e descodificação do direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. pp. 70-71).
​
1.3. A codificação civil brasileira.
Antes do Código de 1916, o direito civil brasileiro era regulamentado pelas Ordenações Filipinas de 1603, com algumas adaptações. Até mesmo após a independência o Brasil não acabou com a aplicação deste diploma português, pois a Constituição de 1824 recepcionou as Ordenações.
A Constituição do Império (1824) trazia disposição expressa pela elaboração de um Código Civil. A primeira manifestação nesse sentido foi a Consolidação das Leis Civis (1855) elaborada por Teixeira de Freitas, que foi o mesmo que redigiu o primeiro esboço do Código Civil. Este esboço, porém, não foi aceito.
Depois de várias outras tentativas de codificação, o projeto de Clóvis Beviláqua, de forte influência pandectista, foi aceito em 1899, aprovado em 1915, promulgado em 1916, com vigência a partir de 1917.
​Códigos Históricos que influenciaram a codificação brasileira
- Código de Napoleão (1804): tentativa de aproximação com o Direito Romano; individualista e burguês. Inspirou os chamados códigos oitocentistas e refletia o pensamento jurídico e político do Estado Liberal. O Código Civil brasileiro de 1916 refletia valores do iluminismo e do Estado Liberal e tinha por pilares fundamentais a família, a propriedade e o contrato.
- BGB (1900): até então, o direito privado alemão era demais fracionado. O direito civil foi, então, sistematizado e organizado em um código aberto, pois Savigny entendia que para que o Código conseguisse ultrapassar barreiras espaciais e temporais, deveria conter princípios jusnaturalistas. Apartou-se do casuísmo e priorizou princípios abstratos e generalizados, como uma das formas de dar segurança ao direito e garantir que a legislação não se tornasse logo obsoleta. Foi o primeiro Código a dividir-se em uma parte geral e mais quatro livros especiais, ao lado de uma lei de introdução ao Código Civil. O BGB influenciou a estrutura formal do Código Civil brasileiro de 1916 (parte geral e livros especiais).
​As cláusulas gerais e os conceitos jurídicos indeterminados
​1.4. O Código Civil de 2002: estrutura, princípios norteadores e campo de incidência.
O Código Civil de 2002, seguindo a linha do Código de 1916, também é dividido em uma parte geral e livros especiais. Além da inserção de um livro sobre o direito de empresa (unificação do direito privado), a ordem de disposição dos livros que compõem a parte especial do atual Código reflete a tentativa do legislador de sistematizar o Direito Civil, conferindo lógica e coesão ao texto codificado.
​Estrutura do Código Civil de 1916:Parte Geral e Parte Especial (Família, Direito das Coisas, Obrigações e Sucessões).
Estrutura do Código Civil de 2002: Parte Geral e Parte Especial (Obrigações, Empresa, Direito das Coisas, Família e Sucessões).
​Três princípios fundamentais do Código Civil de 2002:
a) ETICIDADE: superar o apego do antigo Código ao rigor formal. O atual Diploma alia os valores técnicos aos valores éticos. Por isso percebe-se, muitas vezes a opção por normas genéricas ou cláusulas gerais, sem a preocupação de excessivo rigorismo conceitual.
O mundo contemporâneo testemunha a preocupação constante dos doutrinadores jurídicos, políticos e sociais com a necessidade das relações do homem com os seus e do Estado com os seus administrados serem fortalecidas com a prática de condutas éticas. Afirma que a ética é delimitadora do comportamento humano, abrangendo a realidade que o cerca e influenciando a estrutura dos fatos e atos produzidos pelo cidadão. Declara que o Código Civil apresenta-se em forma de sistema vinculado a dois pólos: um formado em eixo central; o outro concentrado em um sistema aberto. O professor pode concluir definindo que a eticidade o Código Civil visa imprimir eficácia e efetividade aos princípios constitucionais da valorização da dignidade humana, da cidadania, da personalidade, da confiança, da probidade, da lealdade, da boa-fé, da honestidade nas relações jurídicas de direito privado.
b) A SOCIALIDADE: Está presente no novo Código a socialidade em detrimento do caráter individualista do antigo Diploma civilista. Daí o predomínio do social sobre o individual. Um exemplo interessante neste sentido é o da função social da propriedade A Constituição da República deu uma fisionomia funcional social ao direito de propriedade, que no seu art. 5º,
inciso XII, ao lado de garantir o direito de propriedade, logo em seguida no inciso XXIII.
A funcionalização do direito de propriedade importa em dar-lhe uma determinada finalidade, que na propriedade rural significa ser produtiva (art. 186) e na urbana quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressa no plano diretor (art. 182, § 2º). Tal novidade acabou por refletir-se na elaboração do novo Código Civil, em seu art. 1228, o que se mostra coerente com a inscrição de novos princípios norteadores, especialmente o da Socialidade, que vem tentar a superação do caráter manifestamente individualista do Diploma revogado, reflexo mesmo da publicização do Direito Civil, admitindo ainda a propriedade pública dos bens cuja apreensão individual configuraria um risco para o bem comum.
De lapidar redação, o § 1.º do art. 1228 estabelece que "O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas." Também digno de transcrição o § 2.º: "São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem."
c) OPERABILIDADE: Diversas soluções normativas foram tomadas no sentido de possibilitar uma compreensão maior e mais simplificada para sua interpretação e aplicação pelo operador do Direito. Exemplo disso foram as distinções mais claras entre prescrição e decadência e os casos em que são aplicadas; estabeleceu-se a diferença objetiva entre associação e sociedade, servindo a primeira para indicar as entidades de fins não econômicos, e a última para designar as de objetivos econômicos
1.5. Direito Civil e a Constituição da República de 1988.
Em relação a este item a ser desenvolvido pelo docente, uma sugestão é a de se começar afirmando que o Código Civil sempre representou o centro normativo de direito privado, por se preocupar em regular com inteireza e completude as relações entre particulares. Desta forma, o aluno será instado a perceber que existia uma verdadeira cisão na estrutura jurídica liberal no sentido de que a Constituição apenas deveria se preocupar em regular a dinâmica organizacional dos poderes do Estado, enquanto que ao Código Civil era reservado o regime das relações humanas, o espaço sagrado e inviolável da autonomia privada.
É exatamente nesta linha que surge a codificação de 1916, sendo fortemente influenciada pelo Código Napoleônico de 1804 e pelo BGB da Alemanha de 1896. Com aspirações de um jusnaturalismo racionalista, o Código Civil de 1916 defende os valores do patrimonialismo e de um excessivo individualismo inerentes às codificações liberais (aqui vale recordar as noções sobre as diversas correntes jusnaturalistas que o aluno aprendeu em IED, no período anterior).
Desta maneira, conferia-se ao Código o papel de garantia e regulação das relações privadas mediante a efetivação dos valores de um iluminismo liberalista. A codificação civil de 1916, então, surgiu impelida pelas ideias libertárias da burguesia ascendente, que visava à consolidação dos valores de um patrimonialismo e individualismo nas relações privadas. Assim, pelo liberalismo econômico, a Constituição exerceria um papel meramente interpretativo, somente podendo ser aplicada diretamente em casos excepcionais de lacunas dos códigos, a quem realmente caberia a missão de regular e equilibrar as relações interpessoais.
Neste sentido, o Código Civil se transforma numa verdadeira constituição do direito privado, buscando proteger o indivíduo contra as ingerências do Estado.
Importante ressaltar ao aluno, ainda que não seja o objetivo primordial desta aula, que o Código Civil de 1916 surgiu com um século de atraso das codificações individualistas e voluntaristas da Alemanha e da França, onde já se iniciavam as demandas por um maior intervencionismo estatal e pelo controle dos desequilíbrios das relações econômicas. Mas, mesmo assim, o Código de 1916 permaneceu ancorado neste modelo abstrato e totalmente inerte à realidade social e a crescente complexidade das relações humanas.
Esse excessivo individualismo e a liberdade sem limites ocasionaram grandes desigualdades sociais. Houve a necessidade de o Estado interferir nas relações de direito privado para minimizar essas desigualdades e limitar a liberdade dos indivíduos protegendo as classes menos favorecidas, em busca de uma igualdade substancial.
Aos poucos o Código Civil vai perdendo o seu papel de Constituição do direito privado. A ideia de código concebido como um sistema fechado foi sendo destruída, surgindo diversas leis especiais e, aos poucos, o Direito Civil foi se fragmentando.
Assim, a Constituição assume um novo papel de regência das relações privadas, conferindo uma nova unidade do sistema jurídico. A posição hierárquica da Constituição e sua ingerência nas relações econômicas e sociais possibilitam a formação de um novo centro unificador do sistema, definindo seus verdadeiros pilares e pressupostos de fundamentação.
Desta forma, a constitucionalização do Direito privado não importa em apenas conferir à constituição a superioridade hierárquica conformadora do ordenamento jurídico, mas, acima disto, quer proporcionar uma releitura dos velhos institutos e conceitos do âmbito privado, visando à concretização dos valores e preceitos constitucionais. A Constituição passa, assim, a definir os princípios e as regras relacionados a temas antes reservados exclusivamente ao Código Civil e ao império da vontade, como a função social da propriedade, organização da família e outros. Assim, foi se derrubando o paradigma individualista do Estado Liberal e do cidadão dotado de patrimônio, e passou-se a adotar um novo paradigma. As constituições começaram a trazer em seu bojo regras e princípios típicos de direito civil e a valorizar a pessoa colocando-a acima do patrimônio. Passou-se a buscar a justiça social ou distributiva e, aos poucos, a liberdade foi sendo limitada, com a finalidade de se alcançar uma igualdade substancial. É importante distinguir, por fim, aConstitucionalização do Direito Civil da publicização do direito privado. Muitos doutrinadores confundem essas duas situações, mas elas são distintas.
A primeira é a analise do direito privado com base nos fundamentos constitucionalmente estabelecidos. É a aplicação dos mandamentos constitucionais no direito privado. Já a segunda é o processo de intervenção estatal no direito privado, principalmente mediante a legislação infraconstitucional. Por fim, é importante que o professor destaque para o aluno que a norma constitucional, apesar da resistência de alguns setores da doutrina, passa a ser diretamente aplicável às relações privadas. Note-se que a Constituição, por ser um sistema de normas, é dotada de coercibilidade e imperatividade e, sendo assim, é perfeitamente suscetível de ser aplicada nas relações de direito privado. E aqui é importante exemplificar, utilizando, por exemplo, o direito de família.
A Constituição de 1988, refletindo as mudanças nas relações familiares ocorridas ao longo do século XX deu um novo perfil aos institutos do direito de família.
Assim o novo CC teve que adaptar-se aos novos ditames constitucionais aprofundando-os:
- União Estável - reconhecida;
- Maioridade Civil: aos 18 anos;
- Regime de bens: pode ser alterado por acordo entre os cônjuges;
- Exames de DNA para comprovação de paternidade: a recusa implica em reconhecimento da filiação;
- Filhos nascidos fora do casamento: não há mais distinção entre filhos;
- Guarda dos filhos em caso de separação: os filhos podem ficar com o pai ou a mãe;
- Testamento: não mais precisa ser feito à mão pelo testador;
Sucessão: o cônjuge passa a ser herdeiro necessário.
​Destaque-se ainda que o STF tem constantemente ressaltado a influência dos direitos fundamentais no Direito Civil, que assumiu seu papel como instrumento para assegurar o pleno desenvolvimento da pessoa (a exemplo de decisões emblemáticas como a ADI 4277 (união homo afetiva).
ESTRATEGIAS DE APRENDIZAGEM
Sugere-se que o professor realize atividades com ao menos um dos filmes indicados no item cinemateca do material didático (pp. 16, 26, 33 e 34).
APLICACAO: ARTICULAÇÃO TEORIA E PRATICA
Caso concreto
Rebeca comprou terreno em loteamento empreendido por Amaranta. Sem que constasse do instrumento contratual, Amaranta garantiu a Rebeca que teria vista definitiva a um belo monte, que era a grande atração do empreendimento, tendo inclusive assegurado que a legislação local não permitia edificações nos terrenos a frente do seu. Após alguns meses da aquisição do terreno, Amaranta solicitou uma alteração no plano de urbanização da cidade, que passou a permitir a edificação nos lotes em frente ao terreno de Rebeca, fazendo com que ela perdesse a visão para o monte.
Inconformada, Amaranta moveu uma ação contra Rebeca, tendo obtido êxito porque o órgão jurisdicional entendeu que pela boa-fé objetiva, existe um dever de não adotar atitudes que possam frustrar o objetivo perseguido pela autora, ou que possam implicar, mediante o aproveitamento da antiga previsão contratual, a diminuição das vantagens ou até infligir danos ao contratante.
​Diante dos fatos narrados acima e com base no conteúdo das aulas desta semana, responda:
a) A boa-fé objetiva é uma cláusula geral? Em caso afirmativo, explique o porquê de a boa-fé objetiva adequar-se ao conceito de cláusula geral. Em caso negativo, indique de maneira justificada a que categoria pertence a boa-fé objetiva.
b) Qual(is) dos princípios estruturantes do CC/2002 foi(ram) levado(s) em consideração para que o magistrado interpretasse a boa-fé objetiva? Justifique.
​
Questão de múltipla escolha 01
Não se pode confundir codificação com compilação, estatuto e consolidação. Com efeito, o código:
​a) também chamado de coletânea, traduz-se em uma reunião ou junção de diversos textos legais, tal qual se encontram, em um único volume, adotando um critério compilador.
b) é a reunião ou agrupamento sistematizado de textos legais, de acordo com algum critério escolhido, em uma única lei ou decreto, considerando apenas as normas jurídicas em vigor sobre uma determinada disciplina jurídica.
c) é uma lei que apresenta um conjunto sistemático e unitário de normas jurídicas relacionadas à disciplina fundamental de um determinado ramo do direito.
d) se tomado em seu sentido mais estrito, não condensa normas preexistentes, mas cria direito novo para situações específicas, dispondo, no mesmo instrumento, sobre vários ramos do direito ao mesmo tempo.
​Questão de múltipla escolha 02
Lia era casada com Carlos e mantinha relação amorosa secreta com Marcio. Ao descobrir a traição, Carlos separou-se de Lia e moveu uma ação de indenização por danos morais contra Marcio, alegando que a violação ao dever conjugal de fidelidade (art. 1566, I, CC) lhe trouxe abalo à honra. Sabendo que o dever de fidelidade é imposto apenas aos cônjuges, não aos terceiros que com eles possam se relacionar, e após uma breve pesquisa na jurisprudência do STJ (vide, a exemplo, o REsp 922.462/SP), leia as assertivas abaixo:
​I- Márcio não deverá indenizar Carlos por danos morais.
II- Embora exista norma moral que impeça o relacionamento extraconjugal, não há qualquer previsão normativa que possa sustentar que a conduta de Marcio, ao se envolver com mulher casada, é ilícita.
​Assinale a alternativa correta:
a) ambas as assertivas estão incorretas.
b) apenas a assertiva I está correta.
c) ambas as assertivas estão corretas e a assertiva II justifica a assertiva I.
d) ambas as assertivas estão corretas, mas a assertiva II não justifica a assertiva I.
AVALIAÇÃO
Caso concreto 01
a) A boa-fé objetiva é uma cláusula geral, eis que traduz-se como verdadeira "janela deixada pelo legislador civil em razão da mobilidade da vida", como "técnica legislativa que conforma o meio hábil para permitir o ingresso, no ordenamento codificado, de princípios valorativos ainda não expressos legislativamente, de standarts, arquétipos exemplares de comportamento, de deveres de conduta não previstos legislativamente (e, por vezes, nos casos concretos, também não advindos da autonomia privada), de direitos e deveres configurados segundo os usos do tráfego jurídico, de diretivas econômicas, sociais e políticas, de normas (...) (excerto extraído da página 30 do material didático).
b) O princípio em questão é o da eticidade, que deve sempre orientar o magistrado na interpretação das cláusulas gerais.
​Questão objetiva 01
Alternativa C
Indicação de leitura suplementar: DELGADO, Mario Luiz. Codificação e descodificação do direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011.
​Questão objetiva 02
Alternativa C
AULA 2
TEMA:A LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO
OBJETIVO
- Apresentar aos alunos a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro;
- Compreender o início e o final da vigência de uma norma jurídica;
- Identificar e solucionar antinomias;
ESTRUTURA DE CONTEUDO
Unidade I - O Código Civil Brasileiro.
A Lei de Introdução às Normas no Direito Brasileiro.
PROCEDIMENTOS DE ENSINO
1.6. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
​Aspectos Gerais
O Decreto-Lei n. 4657/42, que dispõe sobre a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (chamada, antes da redação dada pela Lei n. 12.376/2010, de Lei de Introdução ao Código Civil) é considerado de superdireito, uma espécie de metanorma, pois não regula relações entre os indivíduos, mas sim as relações entre as próprias leis. Não se aplica somente ao Direito Civil como sua antiga nomenclatura parecia sugerir ? sua abrangência envolve o Direito como um todo, pois é a LINDB que vai determinar a vigência, a validade, a eficácia e a aplicação das normas jurídicas.
A LINDB regulamenta, em síntese:
- Vigência e obrigatoriedade das leis.
- Validade.
- Eficácia.
- Conflito de normas no tempo.
- Conflito de normas no espaço.
- Hermenêutica jurídica.
​Vigência, Validade e Eficácia das Normas
a) Vigência
A vigência de uma norma é o período temporal em que a mesma é obrigatória e vinculantea todos.
​Vacatio legis: período compreendido entre a publicação da lei e o início de sua vigência. A teor do disposto no art. 1° da LINDB, o período de vacatio legis é de 45 (quarenta e cinco) dias, salvo disposição expressa em contrário, na própria norma. Este período é importante para o conhecimento e adaptação de todos à nova norma jurídica. Pode acontecer de, dependendo da complexidade da lei, o período de vacância ser consideravelmente longo - é o caso, por exemplo, do Novo CPC (Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015), que em seu art. 1045 determina que a lei entrará em vigor um ano após a sua publicação.
Início da vigência de uma norma: findo o prazo da vacatio legis, ou mesmo na data de sua publicação, se houver estipulação expressa nesse sentido.
Fim da vigência de uma norma e princípio da continuidade das leis:
- pela revogação;
- pelo fim do termo resolutivo (na hipótese de normas temporárias);
- pela consecução do fim a que se propõe.
​Revogação das normas: perda da obrigatoriedade; a norma deixa de vigorar.
A revogação pode ser:
A) derrogação: revogação parcial.
B) ab-rogação: revogação total.
A) expressa;
B) tácita.
​Obs: repristinação:
​Art. 2°, § 3°. A lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
​O direito brasileiro não repristinação automática: a repristinação só ocorre quando feita de maneira expressa, ou seja, não se admite repristinação tácita. É uma espécie de ? ressurreição? da norma.
Norma repristinante: norma que revoga a norma revogadora.
Importante não confundir repristinação do art. Art. 2°, § 3°, LINDB, com o efeito repristinatório inerente às decisões proferidas em controle concentrado e abstrato de inconstitucionalidade:
​EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Efeitos de revogação de decreto do Poder Executivo. Discussão, no âmbito da Administração Pública, com observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa. Necessidade. 1. A revogação de decreto editado pelo Poder Executivo não implica automática repristinação de anterior legislação editada sobre o tema. 2. É necessário rediscutir-se a matéria, em sede administrativa, com a observância dos princípios do contraditório e da ampla defesa, até mesmo em respeito à decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da SS nº 3.030/AM, a evitar, assim, grave lesão à ordem pública, considerada em termos de ordem jurídico-constitucional. 3. Agravo regimental não provido. (RE 555421 AgR, Relator(a):  Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 14/04/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-097 DIVULG 22-05-2015 PUBLIC 25-05-2015)
​EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA PATRONAL. EMPRESA AGROINDUSTRIAL. DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL DA LEI Nº 8.870/1994. REPRISTINAÇÃO. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL. CARÁTER INFRACONSTITUCIONAL DA CONTROVÉRSIA. A declaração de inconstitucionalidade tem efeitos repristinatórios, porquanto fulmina a norma desde o seu surgimento. Ante a nulidade do dispositivo que determinava a revogação de norma precedente, torna-se novamente aplicável a legislação anteriormente revogada. A controvérsia acerca do correto regime a ser aplicado à agravante, em razão da declaração de inconstitucionalidade da Lei nº 8.870/1994, demanda o reexame da legislação infraconstitucional pertinente, providência vedada nesta fase processual. Agravo regimental a que se nega provimento. (AI 602277 AgR, Relator(a):  Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 10/02/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-050 DIVULG 13-03-2015 PUBLIC 16-03-2015)
​Validade
Validade significa a compatibilidade de uma norma com o ordenamento na qual a mesma encontra-se inserida. A norma inválida deve ser retirada do sistema.
​Eficácia
Produção de efeitos da norma. Requisitos de natureza fática ou de natureza técnico-normativa.
Eficácia social ou efetividade: presença dos requisitos de natureza fática.
Eficácia técnico-normativa: normas de eficácia contida, normas de eficácia limitada e normas de eficácia plena.
​Limites da eficácia da norma: ato jurídico perfeito, coisa julgada e direito adquirido? art. 6°, LICC e art. 5 °, XXXVI CF/88
​A) Ato jurídico perfeito
Ato jurídico perfeito é o título ou fundamento que faz surgir o direito subjetivo, é todo ato lícito que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos. Na lição de Limongi França, ato jurídico perfeito é aquele que sob o regime de determinada lei tornou-se apto para produzir os seus efeitos pela verificação de todos os requisitos a isso indispensável.
​B) Coisa julgada
A coisa julgada é a decisão contra a qual não cabe mais recurso. É dotada da qualidade como da imutabilidade.
​C) Direito adquirido
É uma espécie de direito subjetivo definitivamente incorporado ao patrimônio jurídico do titular, mas ainda não consumado, sendo, pois, exigível na via jurisdicional se não cumprido pelo obrigado voluntariamente. O titular do direito adquirido está protegido de futuras mudanças legislativas que regulem o ato pelo qual fez surgir seu direito, precisamente porque tal direito já se encontra incorporado ao patrimônio jurídico do titular? plano/mundo do dever-se ou das normas jurídicas ? só não fora exercitado, gozado ? plano/mundo do ser, ontológico. O titular do direito adquirido extrairá os efeitos jurídicos elencados pela norma que lhe conferiu o direito mesmo que surja nova lei contrária à primeira. Continuará a gozar dos efeitos jurídicos da primeira norma mesmo depois da revogação da norma. Eis o singelo entendimento do direito adquirido.
José Afonso da Silva ainda distingue direito adquirido de ato jurídico perfeito ao dizer que o direito adquirido emana diretamente da lei em favor de um titular, enquanto que o ato jurídico perfeito é negócio fundado na lei.
Atente-se para o fato que só surgirá direito adquirido quando o titular houver preenchido todos os requisitos elencados pelo regime jurídico peculiar do direito positivo que rege o ato, incidindo por completo o direito objetivo fazendo assim nascer o direito subjetivo, a partir daí adquirido.
O direito adquirido diferencia-se da expectativa de direito. A expectativa de direito configura-se por uma sequência de elementos constitutivos, cuja aquisição faz-se gradativamente, portanto, não se trata de um fato jurídico que provoca instantaneamente a aquisição de um direito. O direito está em formação e constitui-se quando o último elemento advém. Há, por conseguinte, expectativa de direito quando ainda não se perfizerem todo os requisitos previstos em lei.
​Lacunas e meios de integração
Para alguns autores, a característica primordial do sistema é a concretude, ou seja, a propriedade do sistema de regular qualquer caso ou comportamento. Para esses autores, consequentemente, há ausência de lacuna, porque o sistema criado pelo jurista é estático, fechado e retrospectivo (só vale para o que nele está contido).
Para outros autores, como Carnelutti, por exemplo, a característica do sistema é a incompletude. Para Carnelutti, a incompletude pode ser por exuberância, caso em que se tem antinomia real (lacuna de conflito ou lacuna de colisão), ou por deficiência, caso da lacuna - existe um vazio, algo incompleto. Para os adeptos dessa corrente, como Tércio Sampaio, Maria Helena Diniz e Miguel Reale, há incompletude por exuberância ou por deficiência.
Quanto à completude do sistema, as correntes são:
a) A que afirma a inexistência de lacuna no sistema. Isso porque todos os comportamentos estão nele descritos. Ante o dogma de fechamento, tudo o que não está proibido, está permitido.
b) Existência da lacuna no sistema. É impossível que o ordenamento jurídico descrito pelo sistema possa prever todos os comportamentos, por mais perfeito que seja. Para Miguel Reale, a lacuna existe porque o Direito é uma realidade complexa, é um conjunto contínuo que se abre numa desordem. A lacuna, portanto, é o estado incompleto do sistema.
A lacuna pode ser entendida como um problema do próprio sistema,embora haja corrente que defenda que a lacuna é problema de jurisdição, pois só aparece no momento da aplicação da norma a um caso concreto pelo Poder competente. Seria, portanto, uma questão processual, pois os juízes preenchem a lacuna ante à proibição do non liquet.
A teoria das lacunas serve para limitar a função do Poder Judiciário, que só pode preencher utilizando os critérios normativos de preenchimento de lacunas, que estão nos arts. 4o e 5o da LINDB:
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Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
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Interpretação das normas jurídicas
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"Interpretar é descobrir o sentido e alcance da norma, procurando a significação dos conceitos jurídicos. Devido aos motivos já mencionados - vaguidade, ambiguidade do texto, imperfeição ou falta de terminologia técnica, má redação -  o magistrado, a todo instante, ao aplicar a norma ao caso sub judice, a interpreta, pesquisando o seu significado. Isto é assim porque a letra da norma permanece, mas seu sentido se adapta a mudanças que a evolução e o progresso operam na vida social" (DINIZ, Maria Helena.Compêndio de introdução à ciência do direito. 22.ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 447).
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Espécies de interpretação:
a) quanto à origem: autêntica (feita pelo próprio legislador) , doutrinária (feita pelo jurista) e jurisprudencial (feita pelo Poder Judiciário);
b) quanto ao método: gramatical ou literal, lógica, histórica, sistemática e teleológica;
c) quanto ao resultado: declaratória, restritiva e ampliativa.
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Aplicação da norma no espaço
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A LINDB traz ainda, dos artigos 7o ao 19, normas atinentes ao Direito Internacional Público e Privado.
O professor deve fazer uma breve síntese do que tratam esses dispositivos, enfatizando que eles serão aprofundados em disciplinas próprias, no momento adequado.
ESTRATEGIAS DE APRENDIZAGEM
O caso concreto desta semana foi baseado em uma das decisões colacionadas no plano de aula. Sugere-se que o professor comente o caso tratado no precedente para que o aluno possa fazer a autocorreção do caso concreto.
APLICAÇAO: ARTICULACAO TEORIA E PRATICA
Caso concreto
As contribuições sociais de empresas agro-industriais eram regidas pela Lei n° 8.212/91, que estabelecia, de maneira geral, em seu art. 22, as contribuições sociais patronais, exigíveis em folhas de salários. Em 1994, foi promulgada a Lei n° 8.870, que alterou alguns dispositivos da Lei n° 8.212/94. Uma das alterações foi referente às contribuições sociais patronais, exigíveis em folhas de salários, nas empresas que se dedicam à atividade rural. O art. 25 da mencionada modificava completamente as regras do art. 22 da Lei 8.212/91, e o § 2° do mesmo art. 25 estendia os efeitos da norma às pessoas jurídicas que se dedicam à atividade agroindustrial.
Posteriormente, o art. 25 § 2° da Lei n° 8.870/94 foi declarado inconstitucional com efeitos universais e extunc e, por isso, o INSS passou a cobrar as contribuições sociais patronais na forma do art. 22 da Lei n° 8.212/94. Inconformada com essa cobrança, aEmpresa X ajuizou ação alegando que tal cobrança era indevida, pois o art. 22 da Lei n° 8.212/94 foi revogado e aplica-lo novamente importaria em repristinação, somente aceito pela LINDB se for de maneira expressa, o que não foi o caso.
​Analisando os fatos descritos acima e tomando por parâmetro a LINDB, responda, JUSTIFICADA E FUNDAMENTADAMENTE:
a) O que é repristinação e de que forma ela ocorre no direito brasileiro?
b) A Lei n° 8.812/91 foi derrogada ou ab-rogada pela Lei n° 8.870/94?
c) A cobrança da contribuição patronal à Empresa X na forma da Lei n° 8.212/91 é indevida?
​Questão de múltipla escolha 01
(Procurador Autárquico - MANAUSPREV/2015) A interpretação normativa:
a) teleológica, também chamada de histórica, busca a vontade do legislador no momento da elaboração da norma.
b) histórica prevalece sobre a sistemática, a qual busca o sentido literal de uma determinada norma.
c) dá-se pela aplicação da analogia, dos costumes e dos princípios gerais do direito, em caso de silêncio eloquente ou de lacuna legal.
d) deve ser realizada, preferencialmente, de maneira sistemática e teleológica, considerando o ordenamento em que a norma está inserida e a finalidade para a qual se destina.
e) deve ser realizada, em regra, de maneira sistemática, considerando a norma em si mesma, em sua literalidade, sem levar em conta o ordenamento em que está inserida.
​Questão de múltipla escolha 02
Leia os dispositivos da Lei n. 13.105, de 16/03/2015 (Novo CPC) colacionados abaixo:
Art. 489.  São elementos essenciais da sentença:
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito;
§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
​
Art. 1.045.  Este Código entra em vigor após decorrido 1 (um) ano da data de sua publicação oficial.
​
Art. 1.046.  Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando revogada aLei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
​
Art. 1.072.  Revogam-se:
I - o art. 22 do Decreto-Lei no 25, de 30 de novembro de 1937;
II - os arts. 227, caput, 229, 230, 456, 1.482, 1.483 e 1.768 a 1.773 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil);
III - os arts. 2º, 3º, 4º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da Lei no 1.060, de 5 de fevereiro de 1950;
IV - os arts. 13 a 18, 26 a 29 e 38 da Lei no 8.038, de 28 de maio de 1990;
V - os arts. 16 a 18 da Lei no 5.478, de 25 de julho de 1968; e
VI - o art. 98, § 4o, da Lei no 12.529, de 30 de novembro de 2011.
​
​Agora analise as assertivas abaixo:
I- o art. 489, §1o, NCPC, traz uma espécie de interpretação autêntica do caput.
II- o NCPC tem período de vacatio legis de 1 ano.
III- as leis elencadas no art. 1.072 foram ab-rogadas pelo NCPC.
IV- o NCPC derrogou o CPC de 1973 (Lei n. 5.869).
​
Estão corretas APENAS:
a) as assertivas I e II. b) as assertivas II e III.c) as assertivas III e IV.
d) as assertivas I e III.e) as assertivas II e IV.
AVALIACAO
Caso concreto
a) a repristinação consiste na revogação de lei que revogou alguma outra norma. De acordo com o art. 2°, § 3°, LINDB, para que haja repristinação é necessário que a norma revogadora traga disposição expressa acerca do restabelecimento da vigência da norma antes revogada.
b) foi derrogada, eis que a revogação foi apenas parcial.
c) não. A repristinação do art. 2°, § 3°, LINDB, não se confunde com o efeito repristinatório inerente às decisões de declaração de inconstitucionalidade proferidas em sede de controle concentrado e abstrato.
​Questão de múltipla escolha 01Alternativa D.
Questão de múltipla escolha 02Alternativa A.
AULA 3
TEMA:PESSOA NATURAL: PERSONALIDADE E CAPACIDADE; TUTELA DO NASCITURO.
OBJETIVOS
- Discorrer sobre as diversas concepções acerca das pessoas no âmbito das relações jurídicas; - Introduzir o entendimento do conceito e modos de aquisição da personalidade jurídica;
- Apresentar a questão conflituosa a respeito da natureza jurídica do nascituro;
-Prover ao aluno os conhecimentos relativos à noção de capacidade civil das pessoas naturais;
- Discorrer sobre as diversas limitações à capacidade jurídica plena: incapacidade absoluta, relativa.
ESTRUTURA DE CONTEUDO
Unidade II - A Pessoa Natural.
A personalidade jurídica: conceito e aquisição.
Tutela jurídica do nascituro.
A incapacidade. As restrições de direito.
Suprimento e cessação da incapacidade civil.
PROCEDIMENTOS DE ENSINO
1. A personalidade jurídica: conceito e aquisição.
​Iniciaremos demarcando que é o próprio homem, isto é, o ser humano individualmente considerado como sujeito de direitos e obrigações. Vale salientar, que as expressões pessoa física e pessoa natural são sinônimas, apenas com a ressalva que esta (pessoa natural) foi a locução adotada pelo Código Civil brasileiro, enquanto que aquela (pessoa física) foi adotada pelas legislações tributárias.
​Feita esta ressalva, continuaremos, no sentido de introduzir ao aluno o conceito de que personalidade civil ou Jurídica é a capacidade que as pessoas têm de serem titulares de direitos e obrigações. Personalidade não é um atributo natural, isto é, não está necessariamente vinculado ao ser humano. Se assim fosse, a pessoa jurídica não teria personalidade. Por isso se diz que a personalidade é um atributo jurídico. O início da personalidade civil ocorre a partir do momento em que a pessoa nasce com vida, encerrando-se quando de sua morte.
​Por outro lado, a personalidade é, também, um valor ético emanado do princípio da dignidade da pessoa humana e da consideração pelo direito civil do ser humano em sua complexidade. (Rafael Garcia Rodrigues). É objeto de tutela privilegiada pela ordem constitucional. O art. 1o, CC, porém, está relacionado à personalidade enquanto aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres na ordem civil.
​Capacidade de direito: confunde-se com a própria personalidade jurídica. É a ela que se refere o caput do art. 1.
Capacidade de fato: medida da personalidade. Aptidão para exercer pessoalmente os direitos e deveres adquiridos/contraídos em decorrência da personalidade.
​O início da personalidade civil ocorre a partir do momento em que a pessoa nasce com vida, encerrando-se quando de sua morte. Portanto, enquanto a pessoa viver terá personalidade. É o que o art. 2º do Código Civil diz: "A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro". Do próprio texto da lei temos então que são dois os requisitos para a caracterização da personalidade da pessoa natural: o nascimento e a vida.
​As principais teorias sobre o início da personalidade são:
a) Teoria natalista ou do nascimento: a personalidade inicia com o nascimento com vida, independente do critério de viabilidade desta vida.
b) Teoria concepcionista: a personalidade inicia desde a concepção.
c) Teoria da personalidade condicional: a personalidade civil do nascituro é condicional, dependendo do evento do nascimento. Tal condição, para os adeptos desta teoria, é suspensiva e enquanto não ocorrer o nascimento com vida existe apenas expectativa de direito. Maria Helena Diniz defende que enquanto não nascer com vida há apenas personalidade formal (relativa aos direitos de personalidade) e, uma vez implementada a condição suspensiva ocorre a aquisição da personalidade material.
No Brasil discute-se se o Código Civil adotou a teoria natalista ou a teoria concepcionista. Tanto doutrina quanto jurisprudência dividem-se quanto ao ponto. O STF, no julgamento da ADI 3.510 firmou o entendimento de que o Brasil adotou a teoria natalista, ao passo que em precedente mais recente (2014), o STJ afirmou que a teoria natalista foi superada em razão da evolução do reconhecimento dos direitos do nascituro:
​DIREITO CIVIL. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. ABORTO. AÇÃO DE COBRANÇA.
SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ENQUADRAMENTO JURÍDICO DO NASCITURO. ART. 2º DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. EXEGESE SISTEMÁTICA. ORDENAMENTO JURÍDICO QUE ACENTUA A CONDIÇÃO DE PESSOA DO NASCITURO. VIDA INTRAUTERINA. PERECIMENTO. INDENIZAÇÃO DEVIDA.
ART. 3º, INCISO I, DA LEI N. 6.194/1974. INCIDÊNCIA.
1. A despeito da literalidade do art. 2º do Código Civil - que condiciona a aquisição de personalidade jurídica ao nascimento -, o ordenamento jurídico pátrio aponta sinais de que não há essa indissolúvel vinculação entre o nascimento com vida e o conceito de pessoa, de personalidade jurídica e de titularização de direitos, como pode aparentar a leitura mais simplificada da lei.
2. Entre outros, registram-se como indicativos de que o direito brasileiro confere ao nascituro a condição de pessoa, titular de direitos: exegese sistemática dos arts. 1º, 2º, 6º e 45, caput, do Código Civil; direito do nascituro de receber doação, herança e de ser curatelado (arts. 542, 1.779 e 1.798 do Código Civil); a especial proteção conferida à gestante, assegurando-se lhe atendimento pré-natal (art. 8º do ECA, o qual, ao fim e ao cabo, visa a garantir o direito à vida e à saúde do nascituro); alimentos gravídicos, cuja titularidade é, na verdade, do nascituro e não da mãe (Lei n. 11.804/2008); no direito penal a condição de pessoa viva do nascituro - embora não nascida - é afirmada sem a menor cerimônia, pois o crime de aborto (arts. 124 a 127 do CP) sempre esteve alocado no título referente a "crimes contra a pessoa" e especificamente no capítulo "dos crimes contra a vida" - tutela da vida humana em formação, a chamada vida intrauterina (MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, volume II. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 62-63; NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p.658).
3. As teorias mais restritivas dos direitos do nascituro - natalista e da personalidade condicional - fincam raízes na ordem jurídica superada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Código Civil de 2002. O paradigma no qual foram edificadas transitava, essencialmente, dentro da órbita dos direitos patrimoniais. Porém, atualmente isso não mais se sustenta. Reconhecem-se, corriqueiramente, amplos catálogos de direitos não patrimoniais ou de bens imateriais da pessoa - como a honra, o nome, imagem, integridade moral e psíquica, entre outros.
4. Ademais, hoje, mesmo que se adote qualquer das outras duas teorias restritivas, há de se reconhecer a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito à vida é o mais importante. Garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito pressuposto a todos os demais.
5. Portanto, é procedente o pedido de indenização referente ao seguro DPVAT, com base no que dispõe o art. 3º da Lei n.6.194/1974.
Se o preceito legal garante indenização por morte, o aborto causado pelo acidente subsume-se à perfeição ao comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de uma vida intrauterina.
6. Recurso especial provido.
(REsp 1415727/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 04/09/2014, DJe 29/09/2014)
​2. Tutela jurídica do nascituro
​Em decorrência da parte final do art. 2o, CC, o nascituro faz jus, dentre outros, aos seguintes direitos:
​a) Titularidade de direitos personalíssimos (vida, proteção pré natal etc.). Nesse aspecto, vale ressaltar os enunciados 1 e 2, da I Jornada de Direito Civil:
Enunciado n. 1. A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura.
Enunciado n. 2: Sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2o do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.
​b) Receber doação;
​c) Direitos sucessórios (herança e/ou legado);
​d) Direito a um curador do ventre;
e) Alimentos para garantiruma gravidez saudável (Lei n. 11.804).
​3. A incapacidade. As restrições de direito.
​A capacidade de fato pode ser entendida como a medida da personalidade, ou seja, é a possibilidade de pessoalmente serem exercidos direitos e contraídas obrigações. Nesse aspecto, a capacidade pode ser plena (capacidade de direito + capacidade de fato) ou limitada - temos aí o fenômeno da incapacidade.
​Incapaz, portanto, é aquele que sofre restrições ao exercício pessoal de direitos e obrigações. A incapacidade pode ser absoluta ou relativa.
​Os absolutamente incapazes somente podem praticar atos da vida civil mediante representação, sob pena de nulidade do ato. A Lei n. 13.146, de 06/07/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), em seu art. 114, alterou o art. 3o, CC, de modo a considerar absolutamente incapaz apenas o menor de 16 anos (há revogação expressa dos incisos do art. 3o, CC, no art. 123, II, do Estatuto da Pessoa com Deficiência). Assim, as pessoas que por enfermindade ou deficiência mental que não tiverem necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil (antigo inciso II do art. 3o, CC) e os que, mesmo por causa transitória não puderem exprimir a sua vontade (antigo inciso III do art. 3o, CC) não são mais considerados absolutamente incapazes.
​Enunciado n. 138, III Jornada de Direito Civil: A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3o é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto.
​Importante notar que o art. 127 do Estatuto da Pessoa com Deficiência prevê período de vacatio de 180 dias a partir da publicação da Lei.
​Os relativamente incapazes, porém, podem praticar atos da vida civil desde que assistidos, sob pena de anulabilidade do ato. O art. 4o, do CC, com a nova redação conferida pela Lei n. 13.146 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), elenca os relativamente incapazes: os maiores de 16 e menores de 18 anos; os ébrios habituais e os viciados em tóxico; aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua vontade e os pródigos. Ressalte-se que como o Estatuto da Pessoa com Deficiência está no período de vacância, ainda está em vigor a antiga redação do art. 4o, CC (maiores de 16 e menores de 18 anos; ébrios habituais, viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; os excepcionais sem desenvolvimento mental completo e os pródigos).
​Ainda o Estatuto da Pessoa com Deficiência fez uma pequena alteração no parágrafo único do art. 4o, CC, sem, contudo, modificar o conteúdo: a capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial (a redação original do dispositivo falava que a capacidade dos índios será regulada por legislação especial).
​4. Suprimento e cessação da incapacidade civil.
​Os absolutamente incapazes somente poderão praticar atos da vida civil mediante representação, enquanto os relativamente incapazes devem ser assistidos.
​O Estatuto da Pessoa com Deficiência provocou alteração com relação ao suprimento da incapacidade: a nova redação do art. 1767, CC, determina que apenas os que por causa transitória ou permanente não puderem exprimir a sua vontade; os ébrios habituais e viciados em tóxicos e os pródigos estarão sujeitos à curatela.
​Regra geral, a incapacidade cessa quando a pessoa atinge os 18 anos de idade, momento em que atinge a capacidade civil plena. No entanto, é possível que o menor tenha a aquisição de sua capacidade plena antecipada de virtude das hipóteses elencadas nos incisos do parágrafo único do art. 5°. É o que se chama de emancipação.
​Enunciado n. 3, I Jornada de Direito Civil: A redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção previstas em legislação especial.
​Enunciado n. 397, da V Jornada de Direito Civil: a emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à desconstituição por ato de vontade.
​Enunciado n. 530, VI Jornada de Direito Civil: a emancipação, por si, não elide a incidência do Estatuto da Criança e do Adolescente.
​Espécies de emancipação:
a) Voluntária (art. 5, parágrafo único, I, primeira parte): concessão dos pais, em comum acordo. É indispensável o consentimento harmônico dos pais, pois ambos são titulares do poder familiar (art. 1.631, CC/2002). Só é aceita, nesta espécie de emancipação, o consentimento de apenas um dos pais na falta ou impedimento do outro, pois, nesta hipótese, o poder familiar é exercido com exclusividade.
A emancipação voluntária, por ser uma concessão, não pode ser requerida pelo menor e independe de homologação judicial.
​b) Judicial: é concedida pelo juiz em dois casos:
- Na discordância entre os pais;
- Quando o menor encontra-se sob tutela (art. 5°, parágrafo único, I, segunda parte) . Neste caso, o tutor deve requerer a emancipação ao juiz, que decidirá de modo a melhor proteger o interesse do menor.
c) Legal: independe de concessão dos pais ou do juiz, pois opera ope legis nos seguintes casos:
- Casamento (art. 5°, parágrafo único, II): o menor casado deve ter poderes suficientes para praticar pessoalmente os atos da vida civil.
Deve-se lembrar que, por força do art. 1.517, CC/2002, entre a idade núbil (16 anos) e os 18 anos completos, o menor precisa de autorização dos pais ou representantes legais para que possam se casar.
​O Estatuto da Pessoa com Deficiência também alterou disposições acerca da manifestação do consentimento de pessoa com deficiência para casar (art. 1550 § 2o); isso, todavia, não significa que a pessoa com deficiência que contrair matriônio será emancipada, eis que a emancipação se destina apenas ao menor de idade, excluindo, pois, as outras hipóteses de incapacidade.
​A separação judicial não possui o condão de retornar o menor ao estado de incapacidade. O casamento nulo só faz retornar ao estado de incapacidade quando o menor agir de má-fé, pois o casamento nulo produz efeitos ao cônjuge de boa-fé.
​- Exercício de emprego público efetivo (art. 5°, parágrafo único, III). A lei usou o termo emprego público para referir-se tanto a cargo, quanto emprego. Exige-se que seja efetivo, excluindo, dessa forma, os temporários.
​- Colação de grau em curso de ensino superior (art. 5°, parágrafo único, IV).
​- Empresa ou existência de relação de emprego, desde que o menor, em decorrência disso, possa prover seu próprio sustento (art. 5°, parágrafo único, V).
Discute-se sobre a possibilidade de o menor empresário estar sujeito à falência, pois a emancipação não importa em antecipação da imputabilidade penal. Por isso, há quem entenda que o menor empresário submete-se às regras da insolvência civil, e não da falência.
APLICACAO: ARTICULACAO TEORIA E PRATICA
Caso concreto
Letícia, 17 anos, separada, comprou um automóvel no valor de R$ 30.000,00 com uma parte da herança deixada por sua mãe. Seu pai, ao saber da compra, tentou anular o negócio jurídico, alegando a incapacidade relativa da filha, com fundamento no art. 4º, I, CC/2002.
Este negócio pode ser anulado? Por quê? Fundamente e Justifique.
​Questão de múltipla escolha 01
(OAB - XVI EXAME UNIFICADO/2015) Os tutores de José consideram que o rapaz, aos 16 anos, tem maturidade e discernimento necessários para praticar os atos da vida civil. Por isso, decidem conferir ao rapaz a sua emancipação. Consultam, para tanto, um advogado, que lhes aconselha corretamente no seguinte sentido:
a) José poderá ser emancipado em procedimento judicial, com a oitiva do tutor sobre as condições do tutelado.
b) José poderá ser emancipado via instrumento público, sendo desnecessária a homologação judicial.
c) José poderá ser emancipado via instrumento público ou particular, sendo necessário procedimento judicial.
d) José poderá ser emancipado por instrumento público, com averbação no registro de pessoasnaturais.
​Questão de múltipla escolha 02
Leia as assertivas abaixo:
1. Úrsula casou aos 17 anos e por isso adquiriu capacidade civil plena.
2. Os pais podem emancipar menor acima de 16 anos mediante instrumento público, independente de homologação judicial
​Assinale a alternativa correta:
a) ambas as assertivas são corretas e a assertiva 2 é justificativa para a assertiva 1.
b) ambas as assertivas são corretas, mas a assertiva 2 não é justificativa para a assertiva 1.
c) apenas a assertiva 1 está correta.
d) apenas a assertiva 2 está correta.
e) ambas as assertivas estão incorretas.
AVALIACAO
Caso concreto
O aluno deverá perceber que, muito embora Letícia tenha 17 anos, ao casar-se foi emancipada (emancipação tácita ou legal, art. 5°, parágrafo único, I) e, por isso, conquistou a plena capacidade para o exercício pessoal de todos os atos da vida civil. A separação, seja de fato, seja judicial, não possui o condão de fazer com que a pessoa retorne ao estado de incapacidade. Logo, o negócio jurídico não pode ser anulado.
​Questão de múltipla escolha 01Alternativa A.
​Questão de múltipla escolha 02Alternativa B.
AULA 4
TEMA:PESSOA NATURAL: NOME, DOMICÍLIO E FIM DA PERSONALIDADE
OBJETIVOS
- Compreender a importância do nome civil como elemento externo distintivo da personalidade jurídica da pessoa.
- Analisar as exceções à imutabilidade do nome;
- Identificar os diversos estados civis da pessoa natural e o tratamento reservado pelo Código Civil brasileiro.
- Identificar nos dispositivos legais a regulação do estado civil.
- Introduzir os conceitos jurídicos relativos ao fim da personalidade civil.
- Compreender o significado e a aplicação do instituto da comoriência.
- Identificar e caracterizar os efeitos jurídicos da ausência e da morte presumida no Código Civil.
ESTRUTURA DE CONTEUDO
Unidade II - A Pessoa Natural (continuação).
O nome civil.
Estado civil.
Domicílio.
O fim da personalidade civil. Efeitos jurídicos da morte.
Comoriência e ausência: caracterização e efeitos jurídicos.
Morte presumida: caracterização.
PROCEDIMENTOS DE ENSINO
1. O nome civil.
​Para o direito, existem então as pessoas naturais, seres humanos que, enquanto pessoas, têm reconhecida sua personalidade, e as pessoas jurídicas, entes formados pela associação de indivíduos ou de patrimônio voltada para determinado fim comum a que o direito ressalva uma personalidade jurídica independente das de seus idealizadores. Neste ponto o professor deve focar na pessoa natural.
​O registro civil do nascimento da pessoa natural dota de formalidade e publicidade aquele fato jurídico que é o nascimento com vida, início da personalidade civil; apresenta o indivíduo à sociedade, dando eficácia à sua personalidade. Neste sentido, sua natureza é declaratória, afinal, "a pessoa humana dele não precisa para receber a sua qualidade de pessoa, [...]. Assim, a personalidade civil começa do nascimento com vida [...]"
​O nome, assim como o pseudônimo utilizado para finalidades lícitas (art. 19, CC), por ser direito de personalidade, goza de proteção jurídica, não podendo ser empregado em publicações ou representações que exponham a pessoa ao desprezo público (art. 17, CC), nem utilizado sem autorização para fins comerciais (art. 18, CC).
​Enunciado n. 278, IV Jornada de Direito Civil: A publicidade que divulgar, sem autorização, qualidades inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas sendo capaz de identifica-la, constitui violação a direito de personalidade.
​Elementos que integram o nome
​De acordo com o art. 16, CC, o nome é composto pelo prenome ou nome próprio e pelo sobrenome, patronímico ou apelidos de família. Alguns nomes apresentam também o chamado agnome, que é um elemento diferenciador dos demais membros da família que têm o mesmo nome (Junior, Neto, Bisneto, Segundo etc.). Há ainda o vocatório ou profissional, que consiste em uma espécie de abreviação do nome completo da pessoa (ex. o vocatório da jurista Rosa Maria Barreto Boriello de Andrade Nery é Rosa Nery).
​O princípio da imutabilidade do nome
Como regra o nome não pode ser alterado, salvo em circunstâncias especiais e extraordinárias, previstas principalmente na Lei dos Registros Públicos. A jurisprudência e a legislação esparsa têm reconhecido outros casos de temperamento do princípio da imutabilidade do nome.
​Assim é que fogem à regra da imutabilidade do nome as seguintes situações:
a) Correção de registro errado;
b) Nomes que exponham seu portador ao ridículo (art. 55, Lei 6.015/73). Por vezes não é só o prenome, mas sim a composição do prenome e sobrenome que caracterizam o nome vexatório.
c) Nome de registro não é o que a pessoa é reconhecida na sociedade;
d) Inclusão de apelido público e notório;
e) Proteção de vítimas e testemunhas (Lei 9.907/99 e art. 58 da LRP)
f) Cônjuges;
g) Uso prolongado;
h) Inclusão de nome de descendente;
i) Inclusão de sobrenome de padrasto ou madrasta;
j) Nomes homônimos;
k) Modificação do prenome do adotado (art, 47, ECA).
l) União Estável: Enunciado n. 99, I Jornada de Direito Civil: O Art. 1.565, § 2º, do Código Civil não é norma destinada apenas às pessoas casadas, mas também aos casais que vivem em companheirismo, nos termos do Art. 226, caput e §§ 3º e 7º, e não revogou o disposto na Lei nº 9.263/96
m) Tradução de nome estrangeiro (art. 43, III, EE). O Estrangeiro também pode alterar o nome se estiver comprovadamente errado e se tiver sentido pejorativo ou expuser o titular ao ridículo.
n) Transgenitalização. Enunciado n. 42, I Jornada de Saúde do CNJ: quando comprovado o desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto, resultando numa incongruência entre a identidade determinada pela anatomia de nascimento e a identidade sentida, a cirurgia de transgenitalização é dispensável para a retificação de nome no registro.
o) Maioridade civil (art. 56, LRP). Nessa e na hipótese de retificação o nome pode ser alterado peloa via administrativa. Nos demais casos apenas judicialmente. Obs: atentar para o prazo decadencial de 1 ano após completada a maioridade, salvo em circunstâncias espciais devidamente justificadas no pedido de alteração.
​Importante referir que as hipóteses acima são exemplificativas, constantemente a jurisprudência traz novas situações. Jurisprudência do STJ sobre alteração do nome:
​DIREITO CIVIL. REGISTROS PÚBLICOS. POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO DE PATRONÍMICO PATERNO NO FINAL DO NOME DO FILHO, AINDA QUE EM ORDEM DIVERSA DAQUELA CONSTANTE DO NOME DO PAI.
Admite-se, excepcional e motivadamente, após apreciação judicial, a retificação de registro civil para inclusão de patronímico paterno no final do nome do filho, ainda que em ordem diversa daquela constante do nome do pai, se comprovado que tal retificação se faz necessária para corresponder, adequadamente, à forma como aquele e sua família são conhecidos no meio social em que vivem. A regra geral, no direito brasileiro, é a da imutabilidade ou definitividade do nome civil, mas são admitidas exceções, como a prevista no art. 57 da Lei n. 6.015/1973, hipótese na qual se enquadra o caso, que exige motivação, audiência do Ministério Público e prolação de sentença judicial. A lei, todavia, não faz nenhuma exigência no que tange à observância de determinada ordem quanto aos apelidos de família, seja no momento do registro do nome do indivíduo ou por ocasião da sua posterior retificação. Ademais, inexiste proibição legal de que a ordem do sobrenome dos filhos seja distinta daquele presente no sobrenome dos pais. REsp 1.323.677-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/2/2013.
​DIREITO CIVIL. REGISTRO CIVIL. RETIFICAÇÃO PARA O NOME DE SOLTERIA DA GENITORA.
É possível a alteração no registro de nascimento para dele constar o nome de solteira da genitora, excluindo o patronímico do ex-padrasto. O nome civil é reconhecidamente um direito da personalidade, porquanto é o signo individualizador da pessoa natural na sociedade, conforme preconiza o art. 16 do CC. O registro público da pessoanatural não é um fim em si mesmo, mas uma forma de proteger o direito à identificação da pessoa pelo nome e filiação, ou seja, o direito à identidade é causa do direito ao registro. O princípio da verdade real norteia o registro público e tem por finalidade a segurança jurídica, razão pela qual deve espelhar a realidade presente, informando as alterações relevantes ocorridas desde a sua lavratura. Assim, é possível a averbação do nome de solteira da genitora no assento de nascimento, excluindo o patronímico do ex-padrasto. Ademais, o ordenamento jurídico prevê expressamente a possibilidade de averbação, no termo de nascimento do filho, da alteração do patronímico materno em decorrência do casamento, o que enseja a aplicação da mesma norma à hipótese inversa? princípio da simetria ?, ou seja, quando a genitora, em decorrência de divórcio ou separação, deixa de utilizar o nome de casada, conforme o art. 3º, parágrafo único, da Lei 8.560/1992. Precedentes citados: REsp 1.041.751-DF, DJe 3/9/2009, e REsp 1.069.864-DF, DJe 3/2/2009. REsp 1.072.402-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/12/2012.
​ACRÉSCIMO DE SOBRENOME DO CÔNJUGE APÓS A CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO.
Aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a data da celebração do casamento, porém deverá ser por meio de ação judicial. O registro de nascimento da pessoa natural, com a identificação do nome civil, em regra é imutável. Contudo, a lei permite, em determinas ocasiões, sua alteração. Ao oficial de cartório somente é permitido alterar um nome, independente de ação judicial, nos casos previstos em lei, como é a hipótese do art. 1565, § 1º do CC, o qual possibilita a inclusão do sobrenome de um dos nubentes no do outro, durante o processo de habilitação do casamento. A Turma entendeu que essa possibilidade deve-se estender ao período de convivência do casal, enquanto perdurar o vínculo conjugal. Porém, nesta hipótese, o nome deve ser acrescido por intermédio da ação de retificação de registros públicos, nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973). REsp 910.094-SC, Rel. Raul Araújo, julgado em 4/9/2012.
​SOBRENOME. SUPRESSÃO.
A Turma negou provimento ao recurso especial interposto pela família judaica que pretendia suprimir o patronímico paterno sob a alegação de que o referido sobrenome não a identificava como pertencente ao judaísmo. De acordo com a Min. Relatora, o art. 56 da Lei n. 6.015/1973 (Lei dos Registros Públicos) é norma cogente e estabelece a imutabilidade do apelido de família como garantia de segurança jurídica, porquanto ele constitui sinal identificador da origem do indivíduo. Salientou que o patronímico, antes de pertencer à pessoa, pertence a um grupo familiar com história e reputação próprias, e a impossibilidade de sua supressão está relacionada à necessidade de preservação dos direitos de personalidade. Asseverou, ainda, que as consequências desse ato poderiam ser especialmente prejudiciais aos filhos no futuro, que não teriam qualquer elemento hábil a vinculá-los à família paterna. Por fim, consignou que o art. 1.565, § 1º, do CC/2002 não permite a supressão ou substituição do nome dos nubentes, mas apenas faculta a qualquer deles o acréscimo do sobrenome do outro. REsp 1.189.158-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/12/2010.
​REGISTROS. FILHOS. RETIFICAÇÃO. NOME. GENITORA.
In casu, a recorrida ajuizou, na origem, ação de retificação de registro civil de seus filhos menores sob a alegação de que, em decorrência de separação judicial convertida em divórcio, passou a usar seu nome de solteira. Assim, tal retificação evitaria que futuros documentos de seus filhos fossem emitidos com o nome incorreto da genitora, como também situações que alega embaraçosas. A sentença concedeu parcialmente o pedido para que constasse à margem dos assentamentos de nascimento dos três filhos da autora, ora recorrida, que a genitora dos registrados, após divorciar-se voltou a assinar o nome de solteira, permanecendo inalterados seus demais dados, o que foi confirmado em grau de apelação. No REsp, o recorrente sustenta, entre outras questões, que a finalidade do registro é comprovar a filiação e a própria existência da pessoa, constituindo direito personalíssimo que não pode ser alterado, exceto pelo próprio titular do direito. Dessa forma, a recorrida não poderia, em defesa de interesse seu, pretender a alteração dos assentos de nascimento de seus filhos. A Turma negou provimento ao recurso pelos fundamentos, entre outros, de que o princípio da verdade real norteia o registro público e tem por finalidade a segurança jurídica. Por isso necessita espelhar a verdade existente e atual e não apenas aquela que passou. Desse modo, no caso em foco, é admissível a alteração no registro de nascimento dos filhos para a averbação do nome de sua mãe que, após a separação judicial, voltou a usar o nome de solteira. Observou-se que não ocorreu prejuízo aos menores em razão da averbação do nome de solteira de sua mãe, diante do divórcio levado a efeito. Precedente citado: REsp 1.069.864-DF, DJe 3/2/2009. REsp 1.123.141-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/9/2010.
​RETIFICAÇÃO. REGISTRO. NASCIMENTO.
Trata-se de matéria inédita entre os julgamentos deste Superior Tribunal, em que menor, representada por sua mãe, pretende a retificação de seu registro de nascimento para acrescentar o patronímico de sua genitora, omisso na certidão, além de averbar a alteração para o nome de solteira da sua mãe, que voltou a usá-lo após a separação judicial e é grafado muito diferente daquele de casada, tudo no intuito de facilitar a identificação da criança no meio social e familiar. O pai da menor não se opôs, mas o MP recorreu quanto à averbação do nome da mãe concedida pelas instâncias ordinárias, uma vez que o registro de nascimento deve refletir a realidade da ocasião do parto, o que impediria tal averbação nos termos das Leis ns. 6.015/1973 e 8.560/1992. A Min. Relatora observou que, no caso dos autos, conforme comprovado nas instâncias de 1º e 2º grau, há a situação constrangedora de mãe e filha terem que portar cópia da certidão de casamento com a respectiva averbação para comprovarem a veracidade dos nomes na certidão de nascimento, bem como não existe prejuízo para terceiros, o que afastaria o pleito do MP. Os interesses da criança estariam acima do rigorismo dos registros públicos por força do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ademais, essa é a solução mais harmoniosa e humanizada. Com essas considerações, entre outras, a Turma não conheceu do recurso do MP. Resp. 1.069.864-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/12/2008.
​Superior Tribunal de Justiça ? STJ. 
RECURSO ESPECIAL Nº 605.708 ? RJ (2003/0199850-1) 
RELATOR: MINISTRO CASTRO FILHO 
RECORRENTE: NORMA BARROS FERREIRA 
ADVOGADO: LUIZ VICENTE LADEIRA GUIMARÃES 
EMENTA 
DIREITO CIVIL. ALTERAÇÃO DO ASSENTAMENTO DE NASCIMENTO NO REGISTRO CIVIL APÓS A MAIORIDADE. ACRÉSCIMO DO SOBRENOME DOS PAIS DE CRIAÇÃO. ARTIGO 56 DA LEI Nº 6.015/73. ADMISSIBILIDADE. 
I ? Não é absoluto o princípio da imutabilidade do nome de família, admitindo-se, excepcionalmente, a alteração do patronímico, desde que presentes a justa motivação e a prévia intervenção do Ministério Público. No caso dos autos, presentes os requisitos autorizadores, já que pretende a recorrente, tão-somente, prestar uma homenagem àqueles que a criaram, acrescendo ao seu assento de nascimento o nome de família daqueles que considera seus pais verdadeiros, nada obsta que se autorize a alteração.
Recurso conhecido e provido, com as ressalvas do relator
​REGISTRO CIVIL. RETIFICAÇÃO. MUDANÇA. SEXO.
 A questão posta no REsp cinge-se à discussão sobre a possibilidade de retificar registro civil no que concerne a prenome e a sexo, tendo em vista a realização de cirurgia de transgenitalização. A Turma entendeu que, no caso, o transexual operado, conforme laudo médico anexado aos autos, convicto de pertencer ao sexo feminino, portando-se e vestindo-se

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