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Apostila - Conhecimento - Processo Civil I e II

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
1 
Curso de Direito Processual Civil 
SOCIEDADE DE ENSINO RAÍZES 
ANÁPOLIS – GOIÁS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
(Processo de Conhecimento) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROFESSOR ALDO SABINO 
Atualizada até 5 de maio de 2008. 
Incluindo, além de vários testes e questões de concursos (nas notas de rodapé), apontamentos às Leis 
11.382/2006, 11.417/2006, 11.418/2006, 11.419/2006 e 11.441/2007. 
Abrange também comentários sobre o rito sumaríssimo previsto na Lei 9.099/1995 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
2 
 
 
 
 
 
 
Currículo do autor 
 
 
 
 
a) Graduação: 
 
 Bacharel em direito pela Universidade Católica do Estado de Goiás 
(conclusão em 1997) 
 
b) Pós-graduação: 
 
 Especialista em Direito Civil e Processual Civil pela Faculdade 
Anhanguera (conclusão em 2002). 
 
c) Atividade Profissional: 
 
 Na área privada, é professor (de Direito Processual Civil e de Direito 
Eleitoral) e coordenador da Escola Superior da Magistratura do Estado de Goiás, é professor 
da Escola de Direito “Axioma Jurídico” (Direito Processual Civil), do Curso Jurídico IGDE 
(Direito Processual Penal) e do Curso Aprobatum/ANAMAGES-MG (Direito Processual 
Civil). 
 
 Na área pública, após concurso público, exerceu o cargo de Promotor 
de Justiça no Estado de Goiás de 1997 a 1999, quando logrou aprovação em certame para 
ingresso na magistratura do mesmo Estado. 
 
 Atualmente, é Juiz de Direito titular do 2o Juizado Especial Cível da 
Comarca de Anápolis, faz parte da Turma Recursal Cível-Criminal da 3ª Região e exerceu a 
função de Juiz Eleitoral na 144ª Zona Eleitoral (até 2006). 
 
d) Obras Jurídicas Publicadas: 
 
 É autor das obras jurídicas “Manual de Processo Civil” (AB Editora, 
2ª Edição, 2008) e “Direito Processual Penal” (IEPC Editora, 2ª Edição, 2006). 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
3 
Sumário breve: 
 
 
 
 
 
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL......................................................04 
 
CAPÍTULO II – AÇÃO............................................................................................................10 
 
CAPÍTULO III – JURISDIÇÃO...............................................................................................20 
 
CAPÍTULO IV – PROCESSO.................................................................................................29 
 
CAPÍTULO V – PRINCÍPIOS PROCESSUAIS......................................................................34 
 
CAPÍTULO VI – COMPETÊNCIA ........................................................................................46 
 
CAPÍTULO VII – PARTES E PROCURADORES.................................................................67 
 
CAPÍTULO VIII – LITISCONSÓRCIO..................................................................................77 
 
CAPÍTULO IX – INTERVENÇÃO DE TERCEIROS............................................................83 
 
CAPÍTULO X – MINISTÉRIO PÚBLICO............................................................................105 
 
CAPÍTULO XI – CARTAS, CITAÇÃO E INTIMAÇÃO.....................................................110 
 
CAPÍTULO XII – INSTAURAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DO PROCESSO CIVIL..........122 
 
CAPÍTULO XIII – PROCESSO E PROCEDIMENTO.........................................................135 
 
CAPÍTULO XIV – REVELIA................................................................................................175 
 
CAPÍTULO XV – PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES.......................................................179 
 
CAPÍTULO XVI – JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO..............182 
 
CAPÍTULO XVII – ANTECIPAÇÃO DE TUTELA............................................................186 
 
CAPÍTULO XVIII – PROVAS..............................................................................................195 
 
CAPÍTULO XIX – AUDIÊNCIA..........................................................................................231 
 
CAPÍTULO XX – SENTENÇA E COISA JULGADA.........................................................235 
 
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................................254 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
4 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
 
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO AO PROCESSO CIVIL 
 
 
1. NOÇÕES, CONCEITO E ABRANGÊNCIA: 
 
 Mesmos nos primórdios da humanidade sempre foram previstas regras 
de conduta humana (exs.: cumprir os compromissos assumidos, não lesar o próximo, 
indenizar por danos causados), as quais, bem mais tarde, deram origem aos direitos 
substanciais (exs.: direito civil, direito comercial etc.). 
 
 Mas também inerentes à sociedade são as divergências entre as 
pessoas e os descumprimentos contratuais, daí porque se tornou também necessário cuidar da 
resolução dos conflitos intersubjetivos, o que terminou dando ensejo à “fabricação” dos 
direitos processuais (exs.: direito processual civil, direito processual penal etc.). 
 
 É nesse contexto que tem nascimento o “processo”, entendido como o 
instrumento estatal criado para tentar pacificar os conflitos surgidos na vida em sociedade. 
 
 Segundo Theodoro Júnior, o “Direito Processual Civil pode ser 
definido como o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do 
exercício da jurisdição civil”. 
 
 O “Processo Civil” – denominação mais conhecida de nosso ramo de 
estudo – se encarrega de regular a aplicação praticamente de todos os ramos materiais 
extrapenais (direito civil, direito comercial, direito administrativo etc.), exceto o Trabalhista e 
o Eleitoral, que detém codificação própria (refiro-me à CLT e ao Código Eleitoral, 
respectivamente1). 
 
 Assim, um conflito de ordem constitucional (ex.: ação direta de 
inconstitucionalidade), administrativa (ex.: mandado de segurança), tributária (ex.: ação 
declaratória de inexistência de débito tributário) ou comercial (ex.: ação monitória) – e não 
apenas o litígio cível – será instruído e julgado segundo as normas de nosso Sistema 
Processual Civil, salvo disposição específica em contrário. 
 
2. NATUREZA: 
 
 Abstraindo o ensinamento daqueles que repugnam a classificação dos 
direitos entre públicos e privados, o Direito Processual Civil tem certamente natureza jurídica 
de Direito Público, porquanto disciplina o exercício de parcela de uma das funções soberanas 
do Estado, que é a jurisdição. 
 
 O processo civil, pois, é ramo do direito público principalmente 
porque na relação jurídica que regula se encontra o Estado-Juiz (autor-juiz-réu) em situação 
de supremacia no que tange às partes (o juiz está inter e super partes), justamente por essa 
característica publicista do processo a maioria das normas que o regem são cogentes, isto é, 
são normas que não admitem disposição pelas partes. 
 
1 Mas é bom registrar que mesmo o Direito Processual Trabalhista e o Direito Processual Eleitoral se valem 
subsidiariamente (na omissão de suas codificações próprias) das regras gerais do Código de Processo Civil. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
5 
 
3. EVOLUÇÃO CIENTÍFICA: 
 
 A doutrina especializada estabelece que o processo civil brasileiro emundial passou pelo menos por três fases de estudo bem especificadas, (a) uma primeira 
denominada de “Sincretismo” (ou “imanentismo”), em que o processo civil era encarado 
como mero apêndice ou capítulo do direito civil; não se reconhecia a autonomia da ciência 
processual, afirmando-se que a ação era apenas “o direito material armado para a guerra”. 
Nosso Código Civil de 1916 em seu art. 75 prestigiou expressamente essa fase. 
 
 Num segundo momento (b) ingressamos na chamada fase “científica” 
do processo, o que se iniciou no século XIX com a edição da obra “Teoria dos pressupostos 
processuais e das exceções dilatórias” (Oskar Von Büllow). 
 
 Nesta fase consagrou-se a autonomia do processo, ganhando ele foros 
de independência em relação ao direito substancial que o fundava. Nosso Código de Processo 
Civil de 1973 foi editado nessa onda doutrinária. 
 
 Um terceiro e último momento (c) foi o da “instrumentalidade” ou da 
“efetividade” do processo, fase em que nos encontramos hoje, especialmente a partir das 
reformas legislativas operadas em 1994, quando se generalizou a permissão do uso da 
antecipação de tutela (art. 273), iniciou-se a fabricação do “estatuto da tutela específica” (art. 
461), criou-se a ação monitória (arts. 1102-A a 1102-C), entre vários outros institutos que 
demonstraram interesse de tornar o processo mais próximo da busca do direito substancial da 
parte. 
 
 Diríamos, assim, que nosso Código de Processo Civil vigente, embora 
editado sob os auspícios do cientificismo, sendo extremamente individualista (resguarda 
apenas as demandas individuais) e formalista, recebeu depois de três reformas (1994-1995, 
2001-2002 e 2005-2007) retoques relevantes, que o tornaram mais humano, efetivo e 
acelerado. 
 
4. FONTES: 
 
 No caso do direito, fonte deve ser entendida como o lugar de um 
provém os seus institutos jurídicos. Fala-se, na doutrina, em fontes primárias (fontes formais) 
e em fontes secundárias (fontes não formais). 
 
 A (a) fonte primária do direito processual civil é a lei, encarada em 
seu sentido amplo, abrangendo a Constituição Federal, a própria lei federal (leis ordinárias e 
leis complementares), a lei estadual (Códigos de Organização Judiciária, por exemplo), os 
tratados internacionais e os regimentos internos de Tribunais.2 
 
 As fontes primárias do processo são vinculantes, isto é, são de 
utilização obrigatória pelos operadores do direito no caso concreto. 
 
 A Constituição Federal trata tanto do chamado “Direito Processual 
Constitucional” (regulamentação da jurisdição constitucional para o processo da ADI, da 
ADC, do Mandado de Segurança, do Recurso Extraordinário etc.) quanto do “Direito 
 
2 Câmara, Lições de direito processual civil, v. 1, p. 16. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
6 
Constitucional Processual” (que é a tutela constitucional do processo, que abrange a previsão 
de princípios e garantais constitucionais ligadas ao direito processual). 
 
 Em princípio, somente à União incumbe legislar sobre direito 
processual, segundo exsurge do art. 22, inciso I, da Constituição Federal. 
 
 Os Estados-membros apenas podem legislar (1) sobre procedimento 
em matéria processual (CF, art. 24, inciso XI), (2) sobre o processo no Juizado de Pequenas 
Causas (CF, art. 24, inciso X) e (3) acerca da Organização Judiciária (CF, art. 96, inciso II, 
alínea “d”). 
 
 As medidas provisórias a partir do advento da Emenda Constitucional 
32/2001 não puderam mais ser editadas sobre matéria processual civil (CF, art. 62, § 1º, inciso 
I, alínea “b”), mas referida emenda ressalvou a validade e a eficácia das medidas provisórias 
até então editadas sobre o processo civil (“medidas provisórias processuais biônicas”), como 
aquela que alterou o teor do art. 730 do Código de Processo Civil (MP n. 2.180). 
 
 As leis municipais não podem versar sobre regras processuais; e a 
eventual violação desta diretriz gerará uma norma inconstitucional, à luz do art. 22, inciso I, 
da CF. 
 
 A súmula vinculante (CF, art. 103-A) vem sendo encarada por alguns 
autores como fonte primária de direito. 
 
 São, por outro lado, consideradas (b) fontes secundárias (não formais) 
deste ramo do direito os costumes, os princípios gerais do direito, a jurisprudência e a 
doutrina. 
 
 As fontes secundárias não vinculam os operadores, mas apenas 
servem, em geral, de sugestão para a boa aplicação da ordem jurídica especialmente na falta 
de normas específica regendo o caso posto (art. 126), a não ser no caso da Súmula Vinculante 
(CF, art. 103-A), que é uma espécie de jurisprudência dominante que se torna obrigatória 
mediante a observância dos requisitos previstos na Lei 11.417/2006. 
 
5. A LEI PROCESSUAL: 
 
 Norma processual é aquela que regula a forma, os modos, os termos 
do desenvolvimento da relação processual, bem como tudo que concerne à jurisdição civil. 
 
 A lei processual tem por conteúdo a distribuição de atribuições aos 
órgãos jurisdicionais, o horário de funcionamento dos Fóruns, o exercício do direito de ação, 
os princípios de interpretação, os meios de prova permitidos, os recursos etc. 
 
 Como se viu, a expressão “lei processual” abarca a Constituição 
Federal (que trata de várias normas processuais), a lei complementar, a lei ordinária, a lei 
estadual e até mesmo os tratados internacionais. 
 
5.1. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO: 
 
 São três os sistemas que cuidam da aplicabilidade da lei processual 
nova no tempo, o da unidade processual, o da fase processual e o da aplicação imediata (ou do 
ato processual isolado). Vejamos em separado. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
7 
 
5.1.1. SISTEMA DA UNIDADE PROCESSUAL: 
 
 A lei processual nova não teria aplicação aos processos pendentes, 
mas somente aos iniciados após a sua vigência. Como se observa, o processo, de 
conformidade com este sistema, seria “um corpo uno, uma unidade”,3 regido do começo ao 
fim pela lei vigente na data da propositura da ação. 
 
 Não é adotado por nós atualmente. 
 
5.1.2. SISTEMA DA FASE PROCESSUAL: 
 
 A lei processual nova, entrando em vigor, teria aplicação apenas à fase 
processual (exs.: postulatória, saneatória, instrutória, de julgamento, recursal etc.) seguinte a 
da sua vigência. Nas palavras da melhor doutrina, em “curso um processo, sobrevindo uma lei 
nova, esta não disciplinaria a fase ainda não encerrada, que se regeria pela lei anterior. 
Somente as fases seguintes obedeceriam à lei nova”.4 
 
 Não é adotado por nós, até mesmo porque as fases processuais não 
têm uma zona limítrofe muito bem definida (exs.: a fase instrutória começa com o 
ajuizamento da inicial, confundindo-se com a própria fase postulatória; a fase saneatória pode 
ser exercida liminarmente ou por ocasião da audiência do art. 331 do Código de Processo 
Civil). 
 
5.1.3. SISTEMA DO ATO PROCESSUAL ISOLADO (ou da aplicação imediata): 
 
 Segundo o sistema do isolamento, a lei processual nova aplica-se ao 
primeiro ato processual posterior a sua entrada em vigor, ressalvado o ato jurídico já 
consumado (LICC, art. 6o, caput), o direito adquirido e naturalmente a coisa julgada (CF, art. 
5º, inciso XXXVI). 
 
 Trata-se do critério utilizado pelo legislador brasileiro para regência 
do direito processual intertemporal (CPC, art. 1211) 
 
 Com efeito, a lei processual nova tem incidência imediata, apanhando 
inclusive os processos em andamento (aplicar-se-á ao ato processual seguinte), sempre 
respeitado o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
 
 Assim, advindo lei processual nova no ordenamento jurídico, esta 
deverá ser aplicada pelo juiz ao ato processual seguinteà sua entrada em vigor (ex.: entrando 
em vigor hoje uma lei processual que extingue uma determinada modalidade de recurso, a 
decisão proferida amanhã já não se submeterá a ele). 
 
5.2. APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO: 
 
 O princípio regente da norma processual no espaço é o da 
territorialidade, segundo o qual somente a lei processual civil brasileira se aplica nos limites 
territoriais do país, seja qual for a nacionalidade das partes. 
 
 
3 Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, p. 31. 
4 Amaral Santos, idem, p. 32. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
8 
 Nem mesmo a carta rogatória passiva (aquela que vem do exterior 
para cá) é cumprida pelas regras processuais estrangeiras, mas sim pelas normas processuais 
brasileiras (ex.: a inquirição de uma testemunha – aqui residente – de um processo que tramita 
na Espanha será feita por nossas regras do Código de Processo Civil, e não pelas regras 
espanholas). 
 
 Por uma questão de soberania o Brasil não admite a aplicação de 
regras processuais estrangeiras nos feitos que correm perante nossa justiça, e a única exceção 
fica por conta da situação prevista no art. 13 da Lei de Introdução ao Código Civil (aplicação 
da norma estrangeira quanto aos meios e ônus da prova em causas propostas no Brasil com 
base em litígio estrangeiro). 
 
 Da mesma forma, as regras processuais brasileiras certamente não 
serão utilizadas por países estrangeiros, que também resguardam sua soberania. A doutrina 
indica três casos de aplicação da lei processual brasileira no exterior, quais sejam, (a) num 
caso de invasão Brasileira, em guerra, a outro país, (b) num território de ninguém ou (c) com 
permissão legislativa expressa do país estrangeiro. 
 
 Não se deve olvidar, contudo, que é perfeitamente possível a aplicação 
de regras materiais estrangeiras (apenas as materiais, e nunca as processuais) pelos juízes 
brasileiros, desde que o litígio se origine de fato regido pela norma estrangeira (CPC, art. 
337). 
 
5.3. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL: 
 
 Da lição doutrinária de Theodoro Junior se extrai que, na interpretação 
do Direito Processual Civil, devem ser atendidas quatro diretrizes, vejamos: 
 
 As leis processuais (a) não podem constituir um obstáculo que frustre 
o direito material da parte. A matéria de fundo (mérito) deve sempre prevalecer sobre as 
questões processuais, salvo se isto for prejudicial ao princípio da ampla defesa ou da 
segurança jurídica (CPC, arts. 244, 249, § 2º, 250 entre outros). 
 
 A (b) tutela jurisdicional dos direitos subjetivos é normalmente 
reservada aos órgãos do Estado; são, pois, excepcionais as hipóteses em que se permite a 
autotutela privada ou unilateral (exs.: art. 935, do CPC e art. 1210, § 1o do CC). 
 
 O processo (c) deve conceder à parte a mesma utilidade que esta 
poderia conseguir através da norma substancial; excepcionais devem ser os casos em que a 
prestação jurisdicional não coincide com a prestação de direito material (exs.: arts. 461, § 1º, 
461-A, § 3º etc.). 
 
 O processo de cognição (d) visa a concluir com um pronunciamento 
de mérito; excepcional é a hipótese de extinguir-se por inobservância formal de regras 
procedimentais (CPC, arts. 13, 267, § 1º e 284). 
 
 Essas quatro regras técnicas representam nada mais que a adoção do 
princípio da efetividade, demonstrando que estamos vivendo a fase do instrumentalismo 
processual, pelo que ao juiz se impõe não apenas ditar a sentença, mas sim julgar o conflito da 
forma mais próxima possível do que impõe o direito substancial da parte que detém a razão. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
9 
 O escopo do juiz no processo civil não é apenas jurídico (ditar a 
solução para o caso concreto), mas também social (afastando o temor reverencial das pessoas, 
sendo transparente nas decisões) e político (contribuindo para o fortalecimento do respeito 
pelas instituições estatais como um todo). 
 
5.4. HISTÓRICO LEGISLATIVO DO PROCESSO CIVIL: 
 
 As primeiras disposições processuais que tiveram vigência em nosso 
território eram oriundas da adoção das “Ordenações Filipinas”, até que em 1850 foi editado o 
Regulamento 737, que fez as vezes do que seria um “Código de Processo Comercial”. 
 
 Em 1890 estendeu-se a aplicação do Regulamento 737/1850 também 
para as causas cíveis, torno-se ele nosso Código de Processo Civil. 
 
 Já em 1891 houve permissão constitucional para que cada Estado-
membro editasse seu próprio Código de Processo (fase dos “Códigos de Processos 
Estaduais”), sendo certo que apenas os Estados de Pernambuco, da Bahia e de São Paulo 
fabricaram códigos com alguma qualidade técnica. 
 
 Em 1934, o legislador, já arrependido, determinou nova unificação do 
direito processual, aprovando daí a alguns anos o Código de Processo Civil de 1939, que teve 
vigência até o Código atual de 1973. 
 
 Nosso Código de Processo Civil, como visto, seguiu uma diretriz 
individualista, não regulando a tutela coletiva, embora lhe fosse possível naquela ocasião pelo 
conhecimento adquirido até mesmo com a Lei 4.717/1965. 
 
 Foi ele reformado por três vezes, uma primeira entre os anos de 1992-
1995 (“A Grande Reforma do Código de Processo Civil”), uma segunda entre os anos de 
2001-2002 (“A reforma da Reforma”) e uma terceira vez entre os anos de 2005-2007 (“A 3ª 
Etapa da Reforma do Código de Processo Civil”). 
 
 O chamado “processo civil coletivo”, diversamente, encontra-se 
regulado fora do Código de Processo Civil, precisamente pelo conjunto das Leis 4.717/1965, 
7.347/1985 e 8.078/1990 (“Estatuto da tutela coletiva”). 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
10 
CAPÍTULO II – AÇÃO 
 
 
1. CONCEITO: 
 
 De conformidade com a teoria dominante (“teoria da ação como 
direito abstrato”), a ação pode ser conceituada como o direito público, subjetivo, autônomo, 
instrumental (está instrumentalmente conexo a uma pretensão), abstrato de invocar a 
prestação jurisdicional do Estado-Juiz, face a uma pretensão regularmente apresentada. 
 
 O direito de ação, enquanto poder incondicionado de postular junto ao 
Judiciário, encontra-se garantido na Constituição Federal em vários dispositivos, mas é 
amparado diretamente pelo “princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional” (CF, art. 
5º, inciso XXXV). 
 
 No âmbito processual o direito de ação é também previsto, mas é 
condicionado ao preenchimento de certos requisitos (“condições da ação”), conforme se pode 
aferir pelo art. 3º do Código de Processo Civil. 
 
2. TEORIAS SOBRE A NATUREZA JURÍDICA DA AÇÃO: 
 
2.1. TEORIA CIVILISTA OU CLÁSSICA (Savigny): 
 
 Esta teoria afirma que o direito de ação não tem autonomia em relação 
ao direito material. A ação, nesta visão, seria apenas a reação de um direito material violado, 
seria o direito armado para a guerra. 
 
 Segundo esta teoria, o direito processual seria mero apêndice (adendo, 
acessório) do direito material. Clara adesão a esta diretriz se tinha no art. 75 do antigo Código 
Civil (de 1916). 
 
 Para os defensores desta diretriz (a) não há ação sem direito, (b) não 
há direito sem ação e (c) a ação segue a mesma natureza do direito.5 
 
 Basicamente são três também as críticas feitas a esse entendimento 
doutrinário – bastante pertinentes, diga-se de passagem –, vejamos: (a) o direito processual 
civil é autônomo (e não mero apêndice) em relação ao direito civil, tendo objeto, sujeitos e 
princípios próprios; (b) existe direito material sem ação que o resguarde (exs.: cobrança 
prescrita, cobrançade dívida de jogo etc.) e (c) existe ação sem direito material (exs.: 
processo regularmente instaurado que tem, ao final, uma sentença de improcedência do 
pedido do autor; ação declaratória negativa, onde o autor busca justamente o reconhecimento 
da inexistência de um direito material, na forma do art. 4o, inciso I etc). 
 
2.2. TEORIA DO DIREITO CONCRETO: 
 
 A teoria do direito concreto, apesar de reconhecer a autonomia do 
direito processual – no que se divorciava claramente da teoria clássica –, sustentava que a 
ação é um direito de natureza concreta a um provimento jurisdicional favorável. 
 
 
5 Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, p. 144 e Grinover, Teoria geral do processo, p. 
248. 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
PROFESSOR LUCAS SANTANA DE LIMA 
 
Cortesia do Autor Dr. Aldo Sabino de Freitas 
11 
 Havendo sentença de improcedência, o direito de ação, segundo esta 
teoria, não teria sido exercido. Deste modo é que “a ação só existia naqueles casos em que o 
resultado final do processo fosse favorável ao autor”.6 
 
 A principal crítica a essa teoria consistia na alegação de que o direito 
de ação não é condicionado à existência do direito material alegado pelo autor, sendo possível 
a este ajuizar ação judicial mesmo sem deter o direito argumentado (ex.: ação de cobrança 
julgada improcedente). Mesmo vencido na demanda, terá regularmente exercido seu direito de 
ação. 
 
2.3. TEORIA DO DIREITO ABSTRATO: 
 
 Segundo a teoria do direito abstrato, a ação é o direito abstrato de 
invocar a tutela jurisdicional. O resultado da demanda não interessa à identificação da 
natureza do direito de ação, isto é, seja julgado procedente seja julgado improcedente o 
pedido, o autor exerceu o seu direito de ação.7 
 
 O fato de o autor haver invocado a tutela jurisdicional não representa 
dizer que é detentor do direito material. São conclusões desta teoria: (a) a ação é sempre 
procedente (desde que haja julgamento de mérito), (b) o pedido é que pode ser procedente ou 
improcedente e (c) existe direito sem ação, há ação sem direito e o a ação nem sempre segue a 
mesma natureza do direito. 
 
 É concepção adotada por parte da doutrina nacional. 
 
2.4. TEORIA ECLÉTICA (Liebman): 
 
 Fala-se também na “Teoria Eclética”, que não deixa de ser uma teoria 
da ação também como direito abstrato, razão pela qual também é adotada por boa parte da 
doutrina pátria (especialmente por Cássio Scarpinella Bueno, Barbosa Moreira, Hélio 
Tornaghi e, em parte, por Alexandre Freitas Câmara). 
 
 Na versão original esta teoria, o direito de ação, embora abstrato (pois 
desvinculado da existência do processo e do direito material afirmado pelo autor), estava 
subordinado ao preenchimento das chamadas “condições da ação”, sendo elas os requisitos de 
existência do direito de agir; sem as condições da ação, o processo deve ser extinto sem 
resolução de mérito (CPC, art. 267, inciso VI). 
 
 Entretanto, para os defensores mais modernos desta vertente a ação 
constitui-se de um poder incondicionado e de um poder condicionado (e não só de um poder 
condicionado, como pensava Liebman). Para esses, no aspecto constitucional, a ação não se 
condiciona ao preenchimento de qualquer requisito para seu exercício (“ação constitucional”); 
as condições da ação são apenas requisitos para que se obtenha o julgamento de mérito (“ação 
processual” ou “ação exercida”). 
 
 As condições da ação são requisitos, não de existência do direito de 
ação (que existe de modo incondicionado, sendo garantido inclusive por nossa Constituição 
Federal, em seu art. 5º, inciso XXXV), mas de seu legítimo exercício em concreto (há, por 
 
6 Câmara, Lições de direito processual civil, v. 1, p. 115. 
7 Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, p. 146. 
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12 
assim dizer, um poder de exercício do direito de ação condicionado à existência das condições 
da ação). 
 
 Nessa ótica, haverá ação, ainda que o juiz extinga o processo sem 
resolução de mérito por falta de condição da ação. É corrente predominante na doutrina mais 
moderna (nesse sentido: Hélio Tornaghi e Barbosa Moreira). 
 
3. CARACTERES DO DIREITO DE AÇÃO: 
 
 Diz-se que o direito de ação é público, subjetivo, autônomo, abstrato e 
instrumental, conforme veremos adiante mais especificamente. 
 
3.1. PÚBLICO: 
 
 É público o direito de ação porque é exercido em face do Estado-Juiz, 
que situa em posição de supremacia em relação às partes. 
 
3.2. SUBJETIVO: 
 
 É subjetivo porque decorre da resistência oposta pelo réu ao exercício 
do direito do autor. A ação é poder jurídico de obter a definição de situações jurídicas 
litigiosas (as chamadas crises de inadimplemento, de certeza e da situação jurídica em si 
mesma, conforme ensinamento de Cândido Rangel Dinamarco). 
 
3.3. AUTÔNOMO (em relação ao direito material): 
 
 Tem natureza diversa do direito material invocado. A ação é direito de 
natureza processual e consiste na possibilidade de exigir do Estado uma prestação 
jurisdicional; já o direito material se volta contra o sujeito passivo da relação (devedor). 
 
3.4. ABSTRATO: 
 
 O direito de ação não está condicionado ao reconhecimento do direito 
material alegado. Costuma-se dizer que a ação não é o direito à tutela jurisdicional (em seu 
favor), mas simplesmente o direito de invocar ou de postular uma prestação jurisdicional (seja 
em que sentido for, contra ou em favor de seu direito). 
 
3.5. INSTRUMENTAL: 
 
 Não tem um fim em si mesmo, na medida em que se destina a buscar a 
reparação – em regra – de um direito material violado. Além disso, existem outras formas de 
composição de litígios, como a transação, a mediação, a arbitragem entre outros. 
 
4. CONDIÇÕES DA AÇÃO (arts. 3o; 267, VI e 295, I, II e III): 
 
 Condições da ação os requisitos necessários para que o autor obtenha 
do órgão jurisdicional a apreciação do mérito de sua pretensão. 
 
 São condições da ação, segundo a doutrina tradicional, a possibilidade 
jurídica (do pedido e da causa de pedir), o interesse processual e a legitimidade. 
 
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13 
 A ausência de qualquer das condições da ação, como se sabe, gera a 
extinção do processo sem resolução de mérito, nos termos do art. 267, inciso VI, do Código 
de Processo Civil. 
 
 Aprofundando um pouco mais no estudo do tema, saliento que são 
duas as teorias que estabelecem a forma de averiguação da existência das condições da ação, 
(a) a teoria da apresentação, sustentada por Liebman, segundo a qual “a presença das 
‘condições da ação’ deve ser demonstrada, cabendo, inclusive, produzir provas para 
convencer o juiz de que as mesmas estão presentes” (entendimento predominante na 
doutrina tradicional) (Dinamarco e Ada Pellegrini), e (b) a teoria da asserção (ou da 
prospettazione), de acordo com a qual “a verificação da presença das ‘condições da ação’ se 
dá à luz das afirmações feitas pelo demandante em sua petição inicial”,8 presumindo-se, 
momentaneamente, que aquilo que dela consta é verdadeiro9 (esse posicionamento vem 
crescendo diuturnamente na doutrina e na jurisprudência moderna) (Alexandre Câmara, 
Barbosa Moreira, Marcos Vinicius Rios Gonçalves e Didier Jr.). 
 
 Em aula trataremos dessas teorias com a merecida atenção, mas fica 
aqui desde logo o registro da importância do tema tanto para a prática diária do juiz, quanto 
para os concursos públicos (essa matéria já foi objeto de indagação na 2ª fase do concurso 
para ingresso no MPGO). 
 
4.1. POSSIBILIDADEJURÍDICA DA DEMANDA: 
 
 A possibilidade jurídica, tradicionalmente, consiste na formulação de 
pretensão que, em tese, não seja proibida pelo ordenamento jurídico brasileiro; juridicamente 
impossível, de outro lado, é o pedido vedado pelo sistema jurídico.10 
 
 Entende-se modernamente que esta condição da ação abrange não 
somente a possibilidade jurídica do pedido (propriamente dito), mas também a possibilidade 
jurídica da causa de pedir (e não apenas aquela).11 
 
 Em síntese, portanto, não basta que o pedido de mérito seja 
juridicamente possível, sendo mister também que a causa, o motivo dessa pretensão também 
seja admissível juridicamente. 
 
 Impossível juridicamente seria uma demanda versando sobre uma 
dívida de jogo proibido face ao que se contém em nossa lei civil (aqui a causa de pedir é 
juridicamente impossível). O mesmo se poderia dizer de uma ação de cobrança de dívida 
(não alimentar) em que se externasse pedido prisão do devedor (neste exemplo o pedido é 
que é juridicamente impossível). 
 
 O último entendimento de Liebman foi no sentido de que a 
possibilidade jurídica da demanda não era uma condição da ação independente (ver CPC, art. 
3º), mas sim um dos aspectos do interesse processual (estudada abaixo); para os concursos 
públicos atuais, todavia, sugere-se que se observe o ensinamento usual de que a possibilidade 
jurídica é uma das três condições da ação. 
 
 
8 Câmara, Lições de direito processual civil, v. 1, 129. 
9 Marcos Vinicius Rios Gonçalves, Novo curso de direito processual civil, v. 1, p. 86-87. 
10 Amaral Santos, Primeiras linhas de direito processual civil, v. 1, p. 166. 
11 Câmara, Lições de direito processual civil, v. 1, 128. 
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14 
4.2. INTERESSE PROCESSUAL: 
 
 Trata-se da necessidade de recorrer ao Judiciário para a obtenção do 
resultado pretendido e, também, da obrigação de que o pedido seja útil para solucionar a lesão 
ou ameaça de lesão (soma-se a necessidade com a adequação-utilidade). Para aferir-se, então, 
o interesse processual é mister identificar-se a necessidade do provimento para o autor 
(interesse-necessidade) e a adequação do pedido formulado (interesse-utilidade). 
 
 Afere-se, portanto, o interesse pelo binômio necessidade-adequação, 
conforme ensina a melhor doutrina. 
 
 Careceria de interesse processual, por exemplo, o credor que, mesmo 
possuindo título executivo líquido, certo e exigível, propusesse ação de cobrança (e não de 
execução), até porque a sentença proferida nesta demanda – além da demora que lhe 
acarretará – praticamente nada lhe trará de útil, já que já poderia ele se valer diretamente da 
ação de execução (Livro II do Código de Processo Civil), agredindo o patrimônio do devedor; 
há aqui nítida inadequação procedimental. 
 
 Também seria carente do direito de ação o credor que ajuizasse sua 
ação de execução antes do vencimento do título executivo (aqui ainda não há necessidade no 
provimento); ou então aforasse uma cobrança de dívida já paga pelo devedor. 
 
4.3. LEGITIMIDADE DE PARTE: 
 
 Legitimidade é a qualidade da parte, autor (legitimidade ativa) ou réu 
(legitimidade passiva), de estar autorizada pela lei a demandar ou ser demandado sobre o 
objeto submetido à apreciação judicial. 
 
 Tradicionalmente, fala-se que a legitimidade é a “pertinência 
subjetiva” da demanda (expressão de Alfredo Buzaid). 
 
 Para aferir a legitimidade da parte basta simplesmente examinar na 
exposição feita pelo autor se há a narração da chamada “situação legitimante”, que é 
atribuição da conduta censurável ao réu; é dispensável a produção de prova pré-constituída 
sobre a mesma, devendo ela ser aferida das afirmações do autor (Teoria da Asserção). 
 
 São conhecidas no direito processual brasileiro duas espécies de 
legitimidade, (a) a ordinária (quem se afirmar ser titular do direito material ajuíza a ação), e 
(b) a extraordinária (terceira pessoa ajuíza ação em nome próprio, mas em defesa de interesse 
material alheio, na forma do art. 6o do Código de Processo Civil), sendo esta última muito 
comum de se ver na defesa de interesses metaindividuais (interesses difusos, coletivos e 
individuais homogêneos). Ambas serão objeto de estudo mais adiante. 
 
5. ELEMENTOS DA DEMANDA (eaden): 
 
 São elementos da demanda ou da ação, também conhecidos como 
eaden, as partes, o pedido (objeto) e a causa de pedir. 
 
 Os elementos da ação não se confundem com as condições da ação, já 
que aqueles são utilizados simplesmente para se diferenciar (ou assemelhar) uma ação da 
outra; estas (as condições da ação), de outro lado, são requisitos para que o magistrado possa 
proferir um julgamento de mérito. 
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5.1. PARTES (elementos subjetivos): 
 
 Parte é aquele que pede e contra quem se pede em juízo; não se 
confunde com a legitimidade de parte, que é condição da ação. 
 
 Aqui não se perquire se a parte é, ou não, legítima, mas apenas se 
indaga quais são as partes para efeito de confronto com outras ações. 
 
5.2. PEDIDO (objeto): 
 
 Pedido ou objeto é o elemento objetivo da causa. Na verdade, deve-se 
falar em pedidos, pois no mínimo dois pedidos são formulados pelo autor (pedido imediato e 
pedido mediato). 
 
 Pedido imediato (ou direto) é a postulação de uma providência 
jurisdicional. Dirige-se contra o Estado-juiz (exs.: condenação, declaração ou constituição). 
 
 Pedido mediato (ou indireto) é dirigido, de regra, ao réu e versa sobre 
um bem da vida (ex.: pagamento, cumprimento de obrigação de fazer, entrega de coisa etc.). 
 
 Releva observar que nas ações condenatórias é bem simples 
diferenciar o pedido imediato do mediato (provimento postulado é o pedido imediato; 
providência material buscada é o pedido mediato), mas nas ações declaratórias eles se 
confundem no caso concreto, conforme lição usual da melhor doutrina (ex.: se o juiz declara, 
a pedido do autor, que a obrigação não existe, de regra, o pedido imediato e o mediato estão 
atendidos, não havendo o que se fazer ou executar posteriormente). 
 
5.3. CAUSA DE PEDIR (causa petendi): 
 
 É o elemento causal. São os motivos aduzidos pelo autor para lograr a 
procedência de seu pedido. Costuma-se classificar a causa petendi em (a) remota (são os fatos 
alegados como causa para o pedido, como um ato, um acidente, um contrato, a violação do 
pacto etc) (b) próxima (são os fundamentos jurídicos do pedido; trata-se da conseqüência 
jurídica dos fatos expostos). 
 
 Há autores de pese que invertem os conceitos acima citados, 
indicando como causa de pedir remota os fundamentos jurídicos e como causa de pedir 
próxima os fatos articulados (pensam assim Nery Junior e Arruda Alvim), razão pela qual 
recomenda-se muito cuidado no exame do tema nos concursos públicos. 
 
 A corrente amplamente predominante, contudo, prega que a causa de 
pedir remota compõe-se dos fatos constitutivos de direito e a causa de pedir próxima, dos 
fundamentos jurídicos do pedido.12 
 
12 Foi essa a tese adotada no Concurso para ingresso na magistratura do Estado de Goiás, como se pode ver 
adiante. (2004, prova objetiva, Questão 44) Assinale a alternativa incorreta: (a) O pedido imediato consiste na 
providência jurisdicional invocada, sentença condenatória, declaratória, constitutiva ou mesmo providência 
executiva, cautelar ou preventiva; (b) Na ação declaratória, o pedido mediato se confunde com o pedido 
imediato; (c) Entende-se por causa próxima, o fato gerador do direito e causa remota os fundamentos, a natureza 
do direito controvertido; (d) É possível a cumulação deações, num único processo, contra o mesmo réu, de 
vários pedidos, ainda que entre eles não haja conexão (no gabarito oficial, assertiva incorreta é a letra “c”, 
sendo este também o entendimento doutrinário predominante; mas há posicionamento divergente, que 
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 Registre-se neste ponto que nosso sistema processual civil adotou a 
“teoria da substanciação” no que tange à disciplina da causa de pedir, exigindo-se que o autor 
exponha com absoluta clareza os fatos que fundamentam seu pedido (art. 282, inciso III), e 
que o juiz não ultrapasse esses limites fáticos, estando, porém, livre para ditar o direito 
aplicável à espécie. 
 
 Pela teoria da substanciação o juiz se vincula aos fatos expostos 
(causa de pedir remota) pelo autor (esses é que são importantes para o conhecimento da 
demanda, e não podem ser ultrapassados, salvo quanto aos dados meramente secundários), 
mas não às conseqüências jurídicas indicadas por ele (causa de pedir próxima), podendo o 
magistrado perfeitamente dar aos fatos indicados uma moldura jurídica diferente, posto que 
jura novit curia (o juiz, presume-se, conhece o direito). 
 
 A “teoria da substanciação”, adotada por nós, se contrapõe à “teoria da 
individualização”.13 
 
 A adoção da teoria da substanciação não proíbe a alteração dos fatos 
expostos, desde isso se dê até o saneamento da causa e com o consentimento do réu (CPC, art. 
264), ou então se houver prova de que eles ocorreram em momento superveniente ao 
ajuizamento da ação (CPC, art. 462). A primeira hipótese citada costuma ser denominada pela 
doutrina de “mutabilidade qualitativa” e a segunda de “alegação de fato superveniente”. 
 
5.4. RELEVÂNCIA DO TEMA: 
 
 O perfeito conhecimento da matéria alusiva aos elementos da ação é 
de extrema relevância para a resolução de problemas processuais sérios como o da 
litispendência, da coisa julgada (que exigem a “tríplice identidade”, isto é, eaden personae, 
eaden res e eaden causa petendi), da conexão, da continência, da prejudicialidade externa e 
da perempção. 
 
 Aliás, para se conhecer os limites objetivos e subjetivos da coisa 
julgada é essencial que estudemos com profundidade os indicados elementos da demanda. 
 
 Convém registrar que para fins de identificação da litispendência e da 
coisa julgada há também outro critério que é o da investigação do objeto litigioso globalmente 
(Câmara o denomina de critério da “relação jurídica”), que deve ser utilizado pelo operador 
do direito quando insuficiente o critério da tríplice identidade (partes, pedido e causa de 
pedir), como ocorre nas situações de reiteração de demandas na hipótese de legitimação 
extraordinária (ex.: Ministério Público propõe ação de investigação de paternidade, e o 
substituído ainda na pendência desta, através de advogado, ajuíza outra ação idêntica). 
 
6. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES (quanto ao provimento): 
 
 Considerando-se o provimento buscado pela parte, conhecem-se 
tradicionalmente as ações de conhecimento (abrangendo as ações declaratórias, as 
 
consideraria a letra “c” correta, como é o caso de Nelson Nery Junior, em seu Código de processo civil 
comentado, 2006, p. 478). 
13 Pela teoria da individuação – não adotada por nós, como já afirmei –, o juiz ficaria vinculado aos fundamentos 
jurídicos materiais indicados pelo autor. 
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17 
condenatórias e as constitutivas), ações de execução (Livro II do Código de Processo Civil) e 
ações cautelares (Livro III do Código de Processo Civil). 
 
 Analisemos em separado cada uma dessas tutelas. 
 
6.1. AÇÕES DE CONHECIMENTO: 
 
 Essas são aquelas ações em que se postula a prolação de uma sentença 
que resolva uma pretensão contestada. Podem ser condenatórias (envolvem uma “crise de 
inadimplemento”), declaratórias (envolvem a “crise de certeza”) e constitutivas (envolvem 
uma “crise na própria relação jurídica”). 
 
 Condenatórias são ações em que se busca a imposição de 
cumprimento coativo de uma obrigação e imposição de uma sanção (exs.: indenização por ato 
ilícito, cobrança etc.); declaratórias (art. 4o), de outro lado, são as ações em que o pedido é de 
reconhecimento de existência ou de inexistência de uma relação jurídica preexistente; 
autenticidade ou falsidade de um documento (exs.: investigação de paternidade, declaratória 
de dependência econômica, declaratória de união estável, nulidade de ato jurídico etc.); enfim, 
são constitutivas aquelas em que se busca a criação, modificação ou extinção de relações 
jurídicas (exs.: separação judicial, divórcio, rescisão de contrato, anulação de ato jurídico 
etc.). 
 
 Embora essa subdivisão tríplice das ações de conhecimento seja a 
tradicional, é comum também a doutrina referir-se a classificação quinária, originada das 
lições de Pontes de Miranda, que, além das tutelas condenatória, declaratória e constitutiva, 
abarca também as ações mandamentais e a executivas lato sensu, que seriam encaradas como 
autônomas porque independem de um posterior processo de execução no sentido próprio para 
o seu cumprimento. 
 
6.2. AÇÕES DE EXECUÇÃO: 
 
 Nas ações de execução se pleiteia a satisfação de uma obrigação 
contida num título executivo. 
 
 No processo de execução a pretensão é certa (não há dúvida sobre o 
seu conteúdo e sobre quem é o “dono” do direito), líquida (tem valor determinado) e exigível 
(já está vencida), mas ainda está insatisfeita, daí a necessidade da prática de atos agressivos 
contra o patrimônio do devedor. 
 
 A execução pode se fundar em título executivo judicial (decisões, 
sentenças ou acórdãos) ou em título executivo extrajudicial (cheque, nota promissória, 
duplicata etc.). 
 
 Para exigir o adimplemento das decisões que impõem obrigação de 
pagar quantia certa, não se fala mais em “ação de execução” (autônoma), mas em “fase de 
execução do título judicial” ou em “fase de cumprimento de sentença” (sem autonomia), nos 
termos do art. 475-J, do Código de Processo Civil (com redação da Lei 11.232/2005), 
conforme veremos no momento oportuno. 
 
6.3. AÇÕES CAUTELARES: 
 
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 As ações cautelares são as que buscam providências provisórias, 
protetivas de bens jurídicos envolvidos no processo (exs.: arresto, seqüestro, busca e 
apreensão etc.). 
 
 Nelas, há uma pretensão de segurança a uma outra pretensão atual ou 
futura de condenação ou de execução (e até mesmo cautelar). 
 
6.4. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DA AÇÃO: 
 
 Convém deixar bem claro que existem várias outras classificações das 
ações, além da que foi enunciada acima. 
 
 Cita-se como exemplo aquela que leva em conta a natureza do direito 
material invocado (ações patrimoniais e ações não-patrimoniais) e a que toma em 
consideração o objeto reclamado (ações mobiliárias e ações imobiliárias). 
 
 Embora sejam de menor importância, o conhecimento delas pelo 
operador do direito termina detendo alguma relevância na escolha do foro competente (arts. 
94 e 95), na necessidade, ou não, da intervenção do Ministério Público (art. 82), na aplicação 
dos efeitos da revelia (art. 320, inciso II) etc. 
 
7. O DIREITO DE DEFESA (ou “direito de exceção”): 
 
7.1. CONCEITO: 
 
 “Exceção”, em linhas gerais, é sinônimo de “defesa”. A ação é o 
direito do autor (ele postula a tutela jurisdicional) e a exceção o direito do réu (ele tenta 
convencer o juiz de que sua resistência ao pedido do autor é justa). 
 
 O direitode exceção ou de defesa é o reverso do direito de ação. 
 
 Tanto o direito de ação, quanto o direito de defesa, tem fundamento 
constitucional em nosso sistema (CF, art. 5º, incisos XXXV e LV, respectivamente). 
 
 A exceção (ou defesa) tem a mesma natureza do direito de ação e pode 
ser conceituado como o direito público, subjetivo, autônomo, abstrato e instrumental de 
alegar, em seu favor, defesa baseada em fato ou direito que paralisa ou impede as 
conseqüências do direito alegado pelo autor. 
 
 É extremamente importante ter-se cautela no exame do tema, pois a 
expressão “exceção” pode ser entendida em vários sentidos no processo civil brasileiro, 
vejamos: 
 
 (a) temos “exceção” como defesa em sentido amplo, como defesa 
geral do réu (acepção que será estudada neste tópico), 
 
 (b) temos “exceção” como defesa que somente interessa à parte (que 
se contrapõe à “objeção”, que é a matéria que pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, 
sem necessidade de pedido da parte), que não pode ser acolhida de ofício pelo juiz e 
 
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 (c) temos “exceção” em sentido ritual ou instrumental, que são os 
meios para alegação de suspeição, impedimento de juiz ou incompetência relativa de 
juízo (CPC, arts. 304 e seguintes). 
 
7.2. ESPÉCIES: 
 
 Pode a exceção em sentido amplo (encarada como defesa geral) ser 
substancial ou processual. 
 
 Exceção substancial é aquela que ataca o mérito da pretensão do autor. 
Pode ser direta ou indireta. 
 
 Direta é a defesa em que o réu impugna diretamente os fatos 
constitutivos do alegado direito do autor (ex.: alegação do réu de que não deve a quantia 
pleiteada pelo autor), obstando a causa de pedir remota; indireta é a defesa em que o réu, sem 
negar o fato constitutivo do direito do autor, expende novos fatos impeditivos (ex.: novação), 
extintivos (ex.: prescrição) ou modificativos (ex.: adimplemento parcial). 
 
 Exceção processual consiste no ataque ao processo objetivando dilatá-
lo (dilatória) ou trancá-lo (peremptória). 
 
 Trata-se da alegação de vícios de forma, ausência de condição da ação 
ou falta de pressuposto processual. Pode ser, como se observa, dilatória ou peremptória. 
 
 A exceção processual dilatória apenas atrasa o processo (exs.: 
incompetência relativa, nulidade de citação etc.) e, se acatada pelo juiz, gera recurso de 
agravo (arts. 522 e seguintes); a peremptória força a extinção do processo sem julgamento de 
mérito (exs.: falta de condição da ação, litispendência) e, se reconhecida pelo juiz, gera 
recurso de apelação (arts. 513 e seguintes). 
 
7.3. AS OBJEÇÕES: 
 
 Como já mencionei, não se deve confundir a “exceção” em sentido 
estrito com a “objeção”. 
 
 A exceção (em sentido estrito) é a defesa que somente pode ser 
acolhida pelo Juiz quando alegada pela parte (exs.: incompetência relativa, convenção de 
arbitragem etc.); objeção é a matéria de defesa que pode ser reconhecida pelo magistrado 
sponte sua, isto é, independentemente de alegação da parte (exs.: incompetência absoluta, 
litispendência etc.), como prevê o § 3º do art. 267 do Código de Processo Civil. 
 
 A par disso, convém ressaltar que as objeções também comportam 
subdivisão nas categorias “objeções processuais” (incompetência absoluta, coisa julgada, 
litispendência, falta de condições da ação etc.) e “objeções substanciais” (decadência e 
prescrição). 
 
 
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CAPÍTULO III – JURISDIÇÃO 
 
 
1. CONCEITO: 
 
 Jurisdição é a função oriunda da soberania nacional, que consiste no 
poder – do Juiz – de aplicar, no caso concreto, mediante decisão motivada, o direito objetivo. 
 
2. CARACTERES: 
 
2.1. SOBERANIA: 
 
 A jurisdição é, a par da legislação e da administração, uma das 
funções que compõe a soberania nacional. 
 
 Diz-se, por outro ângulo, que a jurisdição é soberana tanto a nível 
interno (já que nenhum dos poderes pode interferir na atividade de outro fora dos casos 
constitucionais – CF 52, incisos I e II), quanto a nível externo (em relação aos países 
estrangeiros). 
 
2.2. COMPLEMENTAR (em relação à atividade legislativa): 
 
 A jurisdição é complementar porque se trata de um prolongamento da 
atividade legislativa, que é primária. O legislador formula a norma abstrata e geral (atuação 
primária) e o magistrado a aplica, em ato contínuo, no caso concreto (atuação complementar). 
 
 O juiz, no Brasil, assim, não tem jurisdição constitutiva (criadora) de 
direito, mas meramente declaratória de direitos pré-existentes (o que revela a adoção da teoria 
dualista, defendida por Chiovenda). 
 
 No ordenamento jurídico brasileiro existem, contudo, pelo menos dois 
casos em que o juiz tem função criadora de direito, um que se encontra no próprio Código de 
Processo Civil (art. 1109) e outro na Lei da Arbitragem (Lei 9.307/1996, art. 11, inciso II), em 
que o juiz tem autorização legal para julgar por eqüidade, afastando-se da legalidade estrita 
(CPC, art. 127). 
 
 Há quem entenda que a súmula vinculante criada pela Emenda 
Constitucional n. 45/2004 também representa exceção à jurisdição como atividade 
complementar. É que o STF, nos termos do art. 103-A, da Constituição Federal, ganhou 
competência para estabelecer verdadeira norma jurídica de caráter genérico e abstrato. 
 
 Enfim, no chamado “processo objetivo” (exs.: ação direta de 
inconstitucionalidade; ação declaratória de constitucionalidade) o Supremo Tribunal Federal 
não cria norma jurídica nova (não há portanto exceção ao caráter complementar da 
jurisdição), mas apenas funciona eventualmente como legislador negativo (diz que uma lei 
federal não deve ser aplicada por ser inconstitucional). 
 
2.3. SUBSTITUTIVIDADE (em relação à vontade das partes): 
 
 O órgão jurisdicional exerce sua função em substituição à atividade 
das partes antagônicas, afastando-as e colocando-se entre elas para extinguir o conflito. 
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Atuando, pois, de forma substitutiva, o magistrado dita a norma que irá reger a relação 
jurídica entre as partes. 
 
 Nem sempre, porém, a jurisdição é tipicamente substitutiva, bastando 
lembrar dos casos em que o juiz homologa a transação celebrada entre as partes (art. 269, 
inciso III); em tal hipótese, o juiz se limita a chancelar oficialmente a vontade das partes (sem 
substituí-la), resolvendo o mérito da causa. 
 
 Em geral, a substituição da vontade das partes pela do juiz é 
facultativa (o autor não é obrigado a propor uma ação, podendo fazer um acordo com o réu e 
resolver o conflito); existem, contudo, determinadas relações jurídicas que exigem para sua 
consumação a intervenção do Poder Judiciário, de modo tal que a substitutividade nestes 
casos é obrigatória (exs.: ação de interdição; ação de anulação de casamento etc.). Aqui 
falamos em “processos necessários”. 
 
2.4. INÉRCIA: 
 
 A jurisdição é inerte (ne procedat iudex ex officio), somente podendo 
o magistrado posicionar-se após a verificação de uma provocação oficial (petição inicial) do 
interessado (art. 262), salvo casos excepcionais expressamente indicados em lei. 
 
 Realmente existem casos específicos em que a própria lei processual 
admite a atuação oficiosa do juiz, como se vê nos arts. 989, 1129 e 1142, todos do Código de 
Processo Civil. 
 
 Também é ponto pacífico na doutrina nacional que o juiz tem poder de 
instaurar certos incidentes sem provocação de qualquer das partes (exs.: exibição de 
documentos, determinação da correção do valor da causa etc.). 
 
2.5. DEFINITIVIDADE:Só a sentença, como ato jurisdicional, tem o condão de produzir a 
coisa julgada material, que é o instituto que torna imutáveis os efeitos dela decorrentes (art. 
467). Trata-se de traço de distingue claramente as decisões administrativas – que nunca são 
definitivas – das jurisdicionais (v. CF, art. 5º, inciso XXXV). 
 
 Não têm força de criar a coisa julgada material, entretanto, (a) a 
sentença proferida em processo cautelar (salvo no caso tratado no art. 810), (b) no processo de 
execução (de título extrajudicial, não embargada) e (c) em procedimentos especiais de 
jurisdição voluntária (CPC, art. 1.111). 
 
 É bom sempre lembrar que mesmo nos casos em que a sentença se 
torna imutável, é possível o ajuizamento da competente ação rescisória (CPC, art. 485) para 
argüição de algum vício, o que pode ser feito em até dois anos contados do trânsito em 
julgado. 
 
2.6. IMPARCIALIDADE: 
 
 A imparcialidade foi alçada também a característica ou pressuposto 
ético da jurisdição, na medida em que esta se trata de função que deve exercida sempre por 
órgãos desinteressados da questão posta em juízo – e, por isso, imparciais – e situados inter e 
super partes. 
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 Existindo dúvida quanto à imparcialidade do magistrado poderão ser 
opostas pelas partes, conforme o caso, as exceções de suspeição ou impedimento visando 
afastá-lo da direção do processo (arts. 134 e seguintes). 
 
 Embora não esteja expressa na Constituição Federal, já é pacífico 
entre nós o entendimento de que a imparcialidade é princípio constitucional que pode ser 
inferido do que se contém nos arts. 95 (garantia dos magistrados) e 96 (auto-governo do Poder 
Judiciário) da Carta Magna, além se estar contemplado na cláusula do juízo natural (CF, art. 
5º, incisos XXXVII e LIII). 
 
2.7. RESOLUÇÃO DE CASOS CONCRETOS: 
 
 A jurisdição, enfim, somente pode ser exercida diante de um caso 
concreto oficialmente narrado pela parte autora, sendo, pois, vedado às partes, como regra 
geral, a busca do Órgão Jurisdicional para a resposta a consultas sobre questões ordem 
abstrata. 
 
 Caso haja o ajuizamento de demanda para a resolução de consulta 
abstrata ou acadêmica, destituída de concreção, o juiz deverá extinguir o processo sem 
resolução de mérito por falta de interesse processual (CPC, art. 267, inciso VI). 
 
 Aparente exceção a esta regra se tem no art. 23, inciso XII, do Código 
Eleitoral, que autoriza ao Tribunal Superior Eleitoral a resposta às consultas feitas em tese 
sobre matérias de sua competência. 
 
 Costuma-se dizer que no chamado “processo objetivo” (Ação Direta 
de Inconstitucionalidade e Ação Declaratória de Constitucionalidade) não se discute um caso 
concreto, mas sim a validade da norma em abstrato, daí porque esta sim seria uma real 
exceção à jurisdição com característica concreta. 
 
3. ESCOPOS DA JURISDIÇÃO: 
 
 Diz-se que a jurisdição como função tem vários objetivos (escopos), 
mas é certo que seu escopo primordial é jurídico e consiste na aplicação da vontade concreta 
do direito objetivo; pela jurisdição declara-se a norma abstrata aplicável (teoria dualista de 
Chiovenda) e certifica-se quem é o real dono do direito. 
 
 No Brasil, assim como na maioria dos países democráticos, adota-se a 
teoria dualista entre direito e processo (a sentença não cria uma norma jurídica, e sim a 
declara no caso concreto, pois ela preexiste).14 
 
 Falam-se também nos escopos social e político da jurisdição. 
 
 O escopo social de jurisdição é pacificar o conflito com justiça e 
educar com isso a sociedade, nem que seja a médio ou longo prazo. 
 
 
14 Para Carnelutti, diversamente, a jurisdição tinha por escopo jurídico a resolução da lide, criando a norma 
aplicável ao caso concreto (teoria unitária); para ele, as leis materiais não eram capazes de gerar por si sós os 
direitos subjetivos, somente criando expectativas de direito. 
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 Os escopos políticos da jurisdição situam-se na afirmação do poder 
estatal e no culto às liberdades públicas (Alexandre Câmara). 
 
4. ELEMENTOS DA JURISDIÇÃO: 
 
 São comumente considerados elementos ou poderes inerentes à 
jurisdição (a) o conhecimento (cognitio ou notio), (b) o chamamento (vocatio), (c) a coerção 
(coercitio), (d) o julgamento (iudicium) e (e) a execução (exsecutio). 
 
 A par desse, o Poder Geral de Cautela não deixa de ser também uma 
das esferas de poder dos magistrados (CPC, arts. 797 e 798). 
 
 Diz-se comumente que os juízes detém ainda o atributo da fé-pública 
(Dinamarco), que consiste na presunção relativa de veracidade daquilo que ele declarar que 
ocorreu em sua presença (em audiência, por exemplo), salvo prova cabal em sentido 
contrário. 
 
5. SUBSTITUTIVOS DA JURISDIÇÃO: 
 
 Consideram-se “substitutivos da jurisdição” – ou “equivalentes 
jurisdicionais” (como ensinava Carnelutti) – a autotutela, a transação e o juízo arbitral.15 
 
 Vejamos abaixo. 
 
5.1. AUTOTUTELA: 
 
 Autotutela é o sistema de solução de conflitos em que a pessoa afirma 
o seu direito e faz valer sua pretensão com as próprias forças, o que não é admissível 
atualmente, pelo menos como regra, já que adotamos o modelo de monopólio da jurisdição 
pelo Estado. 
 
 A autotutela enseja aplicação da chamada “justiça com as próprias 
mãos”, o que é inclusive punido como crime em nossa legislação penal (CP, art. 345). 
 
 Excepcionalmente, nossa lei admite esse tipo de conduta agressiva 
sem a busca prévia do Poder Judiciário (ver CC, art. 1210, § 1o; CP, art. 23; CPC 935), caso 
em que a incidência do tipo penal indicado será afastada.16 
 
5.2. TRANSAÇÃO (autocomposição): 
 
 Trata-se do negócio jurídico pelo qual as partes fazem concessões 
recíprocas para afastar a controvérsia estabelecida entre eles. 
 
 A transação feita entre as partes é prevista na lei civil (CC, arts. 840-
850) e tem o potencial de resolver o conflito (sem a intervenção do Poder Judiciário), 
 
15 Fala-se também da “mediação” como técnica de substituição da atividade jurisdicional e de pacificação de 
conflitos; entre nós, não há lei específica a regulando, mas já há Projeto de Lei (n. 94/2002) em que se prevê a 
mediação incidental de caráter obrigatório nos processos judiciais, logo que for distribuída a petição inicial. 
16 “Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: 
Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa, além da pena correspondente à violência” 
(destaque meu). 
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tornando dispensável e inútil qualquer processo judicial acerca do assunto (estará 
caracterizada a falta de interesse processual). 
 
 Caso a transação seja feita em juízo, passa a se denominar 
“conciliação” e tem o condão de resolver o mérito da causa (CPC, art. 269, inciso III), 
formando título executivo judicial (CPC, art. 475-N, inciso III); mas se a transação for feita 
antes do ingresso em juízo, o processo posterior eventualmente instaurado a pedido de uma 
das partes para discussão do conflito será extinto sem resolução de mérito por falta de 
interesse (CPC, art. 267, inciso VI). 
 
5.3. JUÍZO ARBITRAL: 
 
 O juízo arbitral importa renúncia à via judicial, confiando as partes a 
solução da lide a pessoas desinteressadas, mas não integrantes do Poder Judiciário, 
denominadas árbitros. 
 
 Atualmente o instituto do “Juízo Arbitral” tem sua completa 
regulamentação na Lei 9.307/1996,que já teve sua constitucionalidade reconhecida várias 
vezes pelo STF,17 reconhecendo a Suprema Corte que a celebração da convenção de 
arbitragem não viola os princípios da inafastabilidade do controle judicial (CF, art. 5º, inciso 
XXXV) e do juízo natural (CF, art. 5º, inciso LIII). 
 
 A convenção de arbitragem tem natureza jurídica de causa de exclusão 
da atuação do Poder Judiciário, de sorte que uma vez incrustada no contrato feito entre as 
partes, elas não poderão submeter seus conflitos a este (ao Poder Judiciário), sendo obrigadas 
a se sujeitar ao juízo arbitral.18 
 
 A convenção de arbitragem é gênero do qual emanam duas espécies, a 
cláusula compromissória (cláusula genérica prevista em contrato, vinculando as partes em 
caso de futuro conflito ao juízo arbitral) e o compromisso arbitral (pacto bem mais completo 
feito após o surgimento do litígio visando a solução arbitral). 
 
 A sentença proferida pelo árbitro – que é juiz de fato e de direito (Lei 
9.307/1996, art. 18) – tem força de título executivo judicial (CPC, art. 475-N, inciso IV), não 
estando sujeita a qualquer recurso junto ao Poder Judiciário, mas apenas a uma ação de 
nulidade com prazo de 90 (noventa) dias para discussão apenas de tão somente de vícios 
formais (Lei 9.307/1996, art. 33, § 1º). 
 
 Caso a parte desrespeite a convenção de arbitragem e ingresse com 
ação no Poder Judiciário para discutir seu conflito, seu processo será extinto sem resolução de 
mérito (CPC, art. 267, inciso VII), desde que a questão seja suscitada pelo réu, pois tem 
característica de exceção (CPC, art. 301, § 4º). 
 
6. A JURISDIÇÃO E A ADMINISTRAÇÃO: 
 
 
17 Confira, exemplificativamente, o julgamento do Supremo Tribunal Federal operado no Ag. Reg. n. 5.206. 
18 Esse assunto já foi objeto de questionamento em Concurso Público: (Magistratura do Estado de Goiás, 2007, 
Prova Subjetiva, 2ª Fase) Considerando o argumento indicativo de que a jurisdição é atribuição privativa 
do Estado enquanto nação juridicamente organizada, bem como o princípio do juiz e do promotor 
natural, explique a existência e a validade das decisões proferidas pelas Cortes de Conciliação e 
Arbitragem (valendo 2,0 pontos). 
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 No processo administrativo, a mesma autoridade que inicia procede o 
julgamento (a própria parte interessada julga); no processo jurisdicional, o julgador encontra 
inter e super partes; a administração julga sobre sua própria atividade; o magistrado julga 
atividades alheias. 
 
 No processo administrativo a decisão não se reveste do caráter da 
definitividade, o que é típico da decisão jurisdicional (arts. 467 e 468). 
 
 Em outras palavras, somente existe o fenômeno da coisa julgada 
material (no sentido técnico) no âmbito do processo jurisdicional, mas jamais no processo 
administrativo, que sempre pode ser objeto de revisão no Poder Judiciário. 
 
 Nada impede, contudo, que um Juiz inicie, presida e julgue processo 
disciplinar de servidor público do Foro. Aliás, trata-se de função administrativa exercida pelos 
magistrados. Em tal caso, o juiz atuará tecnicamente como administrador, e não como 
julgador. 
 
7. A JURISDIÇÃO E A LEGISLAÇÃO: 
 
 Preliminarmente, convém esclarecer que tanto o legislativo, quanto o 
judiciário, exercem “atividade jurídica” do Estado (um cria a norma e o outro aplica a 
mesma), contudo, não é possível confundir o comportamento oficial de cada um. 
 
 A atividade legislativa é a função do estado de editar norma gerais de 
conduta, atribuindo direitos e impondo obrigações. 
 
 A atividade jurisdicional, de outro turno, tem por finalidade aplicar a 
lei aos casos concretos que são adequadamente submetidos ao Poder Judiciário. 
 
 A atividade legislativa, assim, é primária (cria a norma jurídica 
abstrata) e a jurisdicional é, em geral, complementar (aplica a norma no caso concreto), sendo 
responsável pela declaração de direitos já existentes (reconhecimento de normas pré-
existentes). 
 
8. A JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA: 
 
8.1. CONCEITO: 
 
 Jurisdição voluntária ou graciosa é a forma de atuação da jurisdição 
nos casos em que a lei, dada a relevância de certos atos, exige prévia autorização judicial. É 
tradicionalmente definida como a fiscalização oficial do interesse público existente em alguns 
negócios privados. 
 
 Não se trata tecnicamente de jurisdição, mas de atividade 
administrativa desenvolvida excepcionalmente pelos membros do Poder Judiciário. 
 
 Este é o conceito tradicional da “jurisdição voluntária”, sendo oriundo 
da corrente administrativista (defendida por Amaral Santos, por Ernani Fidélis dos Santos, por 
Frederico Marques dentre vários outros), mas convém ressaltar que há também uma outra 
vertente de pensamento, que encara da jurisdição voluntária como verdadeira jurisdição, e não 
como simples atividade administrativa; trata-se da teoria revisionista ou jurisdicionalista 
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(recomenda-se aqui a leitura do ensinamento de Alexandre Freitas Câmara e de Cândido 
Rangel Dinamarco, bem como atenção aos ensinamentos ministrados em sala de aula). 
 
 Para a corrente administrativista (clássica), a “jurisdição voluntária” 
não é típica jurisdição (é atividade administrativa) porque não é desenvolvida diante de uma 
lide (geralmente há consenso entre os envolvidos); não há partes, mas interessados; inexiste 
processo, mas mero procedimento, e por fim porque não se forma a coisa julgada tradicional 
nos procedimentos de jurisdição voluntária (art. 1111). 
 
 Para a vertente jurisdicionalista (revisionista), a “jurisdição 
voluntária” não é diferente das outras atuações do juiz, pois existem casos em que há dissenso 
(ex.: ação de interdição em que o interditando contesta); existe, por outro lado, processo 
contencioso sem lide típica (ex.: ação de anulação de casamento movida pelo Ministério 
Público contra os cônjuges); o simples fato de não se formar a coisa julgada tradicional não a 
afasta da moldura de jurisdição, até porque no processo cautelar também não se forma a coisa 
julgada e ninguém sustenta que inexiste jurisdição cautelar. 
 
8.2. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E CONTENCIOSA – CONFRONTO: 
 
 Seguindo as diretrizes da teoria administrativista, costuma-se fazer o 
seguinte confronto entre a jurisdição voluntária e a contenciosa. Vejamos: 
 
8.2.1. SUJEITOS: 
 
 Nos procedimentos especiais de jurisdição voluntária não existem 
partes, mas apenas interessados, posto não haver litígio; na jurisdição contenciosa há partes 
litigantes. 
 
8.2.2. COISA JULGADA: 
 
 Nos procedimentos de jurisdição voluntária não se forma a 
denominada coisa julgada material típica, fenômeno que torna imutáveis, nos processos 
contenciosos, os efeitos da sentença. 
 
 Em síntese, apenas nos processos de jurisdição contenciosa se forma a 
coisa julgada material tradicional (art. 467); nos feitos de jurisdição voluntária é sempre 
possível a revisão daquilo que foi decidido anteriormente, desde que demonstrada a 
ocorrência de fato superveniente (art. 1111). 
 
8.3. NATUREZA: 
 
 A jurisdição contenciosa tem cunho repressivo (atua quando o conflito 
já ocorreu e não foi resolvido pelas partes); já a voluntária tem caráter preventivo (atua antes, 
de modo a dar cunho de legalidade ao ato ainda não praticado – ex.: autorização para a venda 
de bem de incapaz). 
 
8.4. JULGAMENTO POR EQUIDADE: 
 
 Segundo o art. 1.109, do Código de Processo Civil, o juiz, nos 
procedimentos de jurisdição voluntária, “não é obrigado a observar o critério da legalidade 
estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna”.DIREITO PROCESSUAL CIVIL – PROCESSO DE CONHECIMENTO 
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 Há, então, permissão para que o juiz, na jurisdição voluntária, profira 
julgamento por eqüidade, afastando-se da legalidade estrita. Esse tipo de sentença integrativa, 
proferida com base na discricionariedade judicial (o juiz estabelece a hipótese de incidência e 
também as conseqüências jurídicas dessa com certa liberdade) costuma ser chamada pela 
doutrina de “sentença determinativa”.19 
 
 Diversamente, na jurisdição contenciosa o juiz somente pode julgar de 
conformidade com a lei (civil law), sendo inadmissível o julgamento de acordo com critérios 
de conveniência e oportunidade (art. 127). O juiz, na jurisdição contenciosa, em geral, está 
bem mais vinculado às conseqüências que emanam da lei estrita (mas é possível em alguns 
casos que o juiz profira na jurisdição contenciosa uma “sentença determinativa”, como ocorre 
nas ações revisionais de contrato excessivamente onerosos ao consumidor). 
 
8.5. PRODUÇÃO DE PROVAS: 
 
 Nos procedimentos de jurisdição voluntária há plena liberdade do juiz 
para a busca das provas (art. 1.107), ao contrário do que ocorre na jurisdição contenciosa, em 
que a atuação do magistrado é bem mais restrita; a atuação oficiosa do juiz nos processos de 
jurisdição contenciosa deve ser excepcional, somente levada a cabo quando se encontre em 
estado de perplexidade, ou quando haja nítida desigualdade entre as partes (CDC, art. 6º, 
inciso VIII, que trata da inversão do ônus da prova nas causas de consumo). 
 
9. FORMAS DE TUTELA JURISDICIONAL: 
 
 A exemplo do que já se disse quando do estudo da ação, os atos 
jurisdicionais podem ser classificados quanto ao provimento que contém em seu bojo em 
decisões de conhecimento (podendo ser de condenação, de declaração ou de constituição), de 
execução e cautelares. 
 
10. CLASSIFICAÇÕES: 
 
10.1. QUANTO À MATÉRIA: 
 
 Pode ser cível (trata de matérias extrapenais, tais como as comerciais, 
constitucionais, administrativas, tributárias e até trabalhistas) ou penal (cuida de julgar as 
causas criminais). 
 
10.2. QUANTO A MANEIRA DE EXERCER: 
 
10.2.1. JURISDIÇÃO LEGAL: 
 
 O magistrado deve julgar de conformidade com as normas elaboradas 
pelo Poder competente, podendo apenas dar a sua interpretação no caso concreto, mas não 
pode criar regras novas. Esta é a regra geral no direito processual brasileiro. 
 
10.2.2. JURISDIÇÃO POR EQÜIDADE: 
 
 Confere ao juiz poderes para inobservar a legalidade restrita e decidir 
da forma que entenda mais conveniente e oportuna, mas somente pode ser exercida quando 
 
19 Didier Jr, Curso de direito processual civil, v. 2, p. 301. 
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houver expressa permissão legal (art. 127), como nos casos dos procedimentos especiais de 
jurisdição voluntária (art. 1.109) e nos juízos arbitrais (cf. Lei 9.307/1996, art. 11, inciso II). 
 
10.3. QUANTO A NATUREZA DO ÓRGÃO JUDICANTE: 
 
 Pode ser ordinária, especial ou extraordinária. 
 
 Jurisdição ordinária é a exercida pelos órgãos da justiça comum 
(estadual e federal). 
 
 Jurisdição especial é a exercida pelos órgãos da justiça especial 
(eleitoral, militar e trabalhista). 
 
 Jurisdição extraordinária é a exercida, de forma excepcional, por 
órgãos não integrados ao Poder Judiciário (CF, arts. 51, I e 52, incisos I e II). 
 
10.4. QUANTO À FORMA: 
 
10.4.1. JURISDIÇÃO CONTENCIOSA: 
 
 Pressupõe a existência de uma parte que pede e de outra contra a qual 
se pede a prestação jurisdicional com ampla possibilidade discussão contraditória. Há conflito 
entre as partes, daí a necessidade da intervenção do órgão jurisdicional para resolver referida 
lide. 
 
10.4.2. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA: 
 
 Trata-se da administração pública de interesses privados relevantes, ao 
menos segundo a corrente administrativista; aqui não há, de regra, lide, os envolvidos estão 
acordes. 
 
 
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CAPÍTULO IV – PROCESSO 
 
 
1. CONCEITO E NOÇÕES: 
 
 Processo, tecnicamente, costuma ser conceituado como o instrumento 
estatal criado para a resolução de conflitos de interesses, que constitui-se, internamente, de 
uma relação entre autor, juiz e réu e, externamente, de uma seqüência procedimental de atos. 
 
 Como se percebe, o processo é composto de dois elementos, um 
interno (a relação jurídico-processual) e outro externo (o procedimento), não se podendo, 
portanto, confundi-lo com o procedimento (rito). O processo é uno, mas o rito é variável, 
segundo a norma reguladora (exs.: processo de conhecimento com rito ordinário; processo de 
conhecimento com procedimento especial de consignação em pagamento etc.). 
 
 Assim como a jurisdição, diz-se que o processo tem escopos jurídicos 
(fazer atuar a vontade da lei, declarando o direito material preexistente), sociais (pacificar o 
conflito e reeducar a sociedade) e políticos (contribui para a estabilidade das instituições 
públicas), como nos ensina Cândido Rangel Dinamarco. 
 
2. PROCEDIMENTO (elemento externo ou objetivo do processo): 
 
 A exemplo do que se obtemperou, o processo é uno, mas o seu 
procedimento pode variar segundo a pretensão ou à vontade do legislador. É imprescindível 
notar que o termo “processo” não se confunde com a expressão “procedimento”, até porque 
pode existir procedimento sem processo, tal como ocorre numa sindicância para apuração de 
falta funcional de servidor público, num inquérito policial, numa licitação, em que há rito, 
sem processo em seu sentido técnico. 
 
 Resumidamente, poder-se-ia dizer que os procedimentos cíveis na 
atual sistemática podem ser comuns ou especiais. Os comuns subdividem-se em ordinário e 
sumário; os especiais podem ser de jurisdição contenciosa (consignação em pagamento, 
depósito, inventário, possessórias etc.) ou de jurisdição voluntária (interdição, abertura de 
testamentos, arrecadação de coisas vagas etc.). Há ainda os procedimentos especiais que se 
encontram fora do Código de Processo Civil, como o sumaríssimo (Lei 9.099/1995), o de 
mandado de segurança (Lei 1.533/1951) entre outros. 
 
3. RELAÇÃO PROCESSUAL (elemento interno ou subjetivo do processo): 
 
 Relação jurídico-processual é o vínculo de direito que liga os sujeitos 
processuais entre si e que nasce, desenvolve-se e extingue-se pelas atividades por eles 
realizadas. 
 
 Trata-se do elemento subjetivo ou interno do processo. 
 
3.1. CARACTERÍSTICAS DA RELAÇÃO PROCESSUAL: 
 
3.1.1. PÚBLICA: é pública porque o vínculo jurídico em que consiste envolve, ao lado 
das partes, um órgão da soberania nacional (Estado-juiz). 
 
3.1.2. AUTÔNOMA: é autônoma em face da relação material uma vez que tem objeto 
próprio (a prolação da sentença). Ela depende de requisitos de existência e 
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30 
validade próprios, que não se confundem com os requisitos de existência e 
validade do direito material discutido. 
 
3.1.3. UNITÁRIA: a relação processual, embora integrada de uma sucessão de vínculos, 
é considerada una porque todos estes vínculos têm como denominador comum a 
decisão jurisdicional, para a qual convergem. 
 
3.1.4. COMPLEXA: é formada não de um vínculo só, mas de vários liames entre 
autor/juiz, juiz/autor, juiz/réu etc. 
 
3.1.5. PROGRESSIVA: dirige-se sempre para frente, objetivando a consecução do 
provimento jurisdicional. Há um sistema de preclusões que, juntamente com o 
impulso oficial e

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