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Slides O Mal-Estar - Adriana

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Conversando com Romain Rolland – o “sentimento oceânico”:
Freud (1927): “O Futuro de uma Ilusão” – religião como ilusão
 Sentimento Oceânico: “Sentimento de um vínculo indissolúvel, de ser uno com o mundo externo como um todo”. (p. 74)
 Rolland: concorda com o juízo freudiano, mas lamenta o “desconhecimento” (falta de experiência/vivência) por parte do psicanalista do que julga ser a verdadeira fonte da religiosidade  sensação de eternidade; sentimento de algo ilimitado; sem fronteiras, “oceânico”. Para ele, uma pessoa pode rejeitar toda crença e toda ilusão e ainda assim, com base nesse sentimento, se considerar religiosa (p.73)
Freud: “Não consigo descobrir em mim esse sentimento. Não é fácil lidar cientificamente com sentimentos” (p. 74).
	“A idéia de os homens receberem uma indicação de sua vinculação com o mundo que os cerca por meio de um sentimento imediato (...) soa de modo tão estranho e se ajusta mal ao contexto de nossa psicologia”  descobrir uma explicação psicanalítica, isto é genética. 
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Hipótese: O sentimento “oceânico” existe em muitas pessoas e sua origem remonta a uma fase primitiva do sentimento do ego. 
“Muitas pessoas em cuja vida mental esse sentimento primário do ego persistiu em maior ou menor grau, ele existiria nelas ao lado do sentimento do ego mais estrito e mais nitidamente demarcado da maturidade, como uma espécie de correspondente seu. Nesse caso, o conteúdo ideacional a ele apropriado seria exatamente o de ilimitabilidade e o de um vínculo com o universo – as mesma idéias com que meu amigo elucidou o sentimento “oceânico”. (p. 77)
- Sentimento primário do ego: originalmente, o ego inclui tudo; separando, apenas posteriomente, de si mesmo, um mundo externo.  vínculo mais estreito entre o ego e o mundo que o cerca.
- Freud demonstra que “na vida mental, nada do que uma vez se formou pode perecer”. Considerando que “o passado se acha preservado na vida mental”, o autor vai postular que a origem do sentimento “oceânico” remonta a uma fase primitiva do sentimento do ego.
- A origem da atitude religiosa: “Não consigo pensar em nenhuma necessidade da infância tão intensa quanto a da proteção de um pai. A origem da atitude religiosa pode ser remontada, em linhas muito claras, até o sentimento de desamparo infantil”. (p. 80).
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Mais algumas considerações a respeito do Ego:
 “O ego é continuado para dentro, sem qualquer delimitação nítida, por uma entidade mental inconsciente que designamos como id, à qual o ego serve como uma espécie de fachada”. (p. 75)  ego como diferenciação do id.
 No sentido do exterior: linhas de demarcação nítidas # patologias. E mais, “no auge do sentimento de amor, a fronteira entre ego e objeto ameaça desaparecer” (p. 75).
 Processo de desenvolvimento: o sentimento do ego do adulto não pode ter sido o mesmo desde o início. 
	Criança recém-nascida: “puro ego em busca de prazer” (p. 76) indistinção ego – mundo externo (fonte de sensações sobre ela); 
	Seio da mãe – pela primeira vez o ego é contrastado por um ‘objeto’, sob a forma de algo que existe ‘exteriormente’ e que só é forçado a surgir através de uma ação especial”. (p. 76)
 
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O reconhecimento do mundo externo  tarefa individual:
 Economia prazer-desprazer
 “O reconhecimento de um ‘exterior’, de um mundo externo – é proporcionado pelas freqüentes, múltiplas e inevitáveis sensações de sofrimento e desprazer, cujo afastamento e fuga são impostos pelo princípio do prazer.” (p.76)
 Princípio do prazer: Tendência a isolar do ego tudo que pode tornar-se fonte de tal desprazer e a criar um puro ego em busca de prazer X princípio da realidade: a diferenciação entre o que é interno (pertence ao ego) e o que brota do mundo externo é “o primeiro passo no sentido da introdução do princípio da realidade”. 
A questão do propósito da vida
“Aquele que tem ciência e arte, tem também religião: o que não tem nenhuma delas, que tenha religião” (Goethe).  valor da vida.
 A vida, tal como a encontramos, é árdua demais para nós (sofrimentos, decepções, tarefas impossíveis)  necessidade de medidas paliativas (derivativos (“extrair luz da desgraça” – atividade científica), satisfações substitutivas (ilusões em contraste com a realidade – arte), substâncias tóxicas.
“A idéia da vida possuir um propósito se forma e desmorona com o sistema religioso” (p.84)
- O que os homens demonstram ser o propósito da vida? O que desejam nela realizar ? Felicidade.
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Os dois aspectos da busca da felicidade: 
meta positiva – experiência de intensos sentimentos de prazer; Felicidade (no sentido mais estrito) = satisfação repentina (derivamos prazer intenso do contraste # “contentamento tênue”).
2) ausência de sofrimento e desprazer. O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: a) de nosso próprio corpo (condenado que é à decadência); b) do mundo externo; c) de nossos relacionamentos.
“A felicidade constitui um problema da economia da libido do indivíduo”. “Todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele poderá ser salvo. (...) É uma questão de quanta satisfação real ele pode esperar obter do mundo externo, de até onde é levado para tornar-se independente dele, e finalmente de quanta força sente à sua disposição para alterar o mundo, a fim de adaptá-lo a seus desejos. Nisso sua constituição psíquica desempenhará papel decisivo,independentemente das circunstâncias externas (p. 91). Nesse processo aprendemos a equacionar felicidade e sofrimento. A tarefa de evitar o sofrimento coloca a obtenção do prazer em segundo plano. “O próprio princípio do prazer, sob a influência do mundo externo, se transformou no mais modesto princípio da realidade”. Aprendemos a moderar reivindicações de felicidade; aprendemos que “colocar o gozo antes da cautela, acarreta castigo”. Assim, o que decide o propósito da vida é simplesmente o programa do princípio do prazer”. (p. 84)
	 indivíduo erótico (preferência aos relacionamentos emocionais); narcisista (auto suficiente; satisfação nos processos mentais internos); homem de ação (testa sua força no mundo externo) (não buscar a totalidade de nossa satisfação em uma única aspiração é sinal de sabedoria).
 
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 Enumeração dos métodos pelos quais os homens se esforçam para conseguir a felicidade e manter afastado o sofrimento: Se não podemos afastar totalmente o sofrimento proveniente das duas primeiras fontes (1. mundo externo\o poder superior da natureza; 2. a fragilidade de nossos próprios corpos) podemos, ao menos, mitigá-lo. 
a) os métodos mais interessantes de evitar o sofrimento são os que procuram influenciar o nosso próprio organismo. Ex.: “veículos intoxicantes” – “amortecedor de preocupações”, dentre outros.
b) A Sublimação: p. 87
- Processo postulado por Freud para explicar as atividades humanas sem qualquer relação com a sexualidade – principalmente a atividade artística e a investigação intelectual – mas, que encontrariam o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual. Diz-se que a pulsão é sublimada na medida em que é derivada para um novo objetivo não sexual e em que visa objetos socialmente valorizados.
- O ponto fraco deste método: acessível a poucas pessoas com dotes e disposições especiais.
c) A técnica da arte de viver: localiza a satisfação em processos mentais internos, mas não volta as costas ao mundo externo; pelo contrário, prende-se aos objetos pertencentes a esse mundo e obtém felicidade de um relacionamento emocional com eles. “Modalidade de vida que faz do amor o centro de tudo, que busca toda a satisfação em amar e ser amado”.
 O ponto fraco deste método: “nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos (...), como quando perdemos o nosso objeto amado” (p. 90)
 Amor sexual: uma das formas através da qual o amor se manifesta. “Isso porém não liquida com a técnica da arte de viver baseada no valor do amor como um meio de obter felicidade. Há muito mais a ser dito a respeito.” (p. 90)
- Nesse jogo de escolhas e adaptação para tornar-se feliz, que o programa do princípio do prazer nos impõe,
a fuga para a enfermidade neurótica, ao menos trará satisfações substitutivas. (p. 93) 
- Retomando a questão da religião (p. 92): neurose coletiva que poupa o indivíduo de sua neurose individual, ao preço de uma “submissão incondicional” (infantilismo psicológico + delírio de massa).
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Quanto à terceira fonte de sofrimento:
 Com relação a fonte social do sofrimento nossa atitude é de descrença. Como admitir que “os regulamentos estabelecidos por nós mesmos não representam, ao contrário, benefício para cada um de nós”? (p. 93)
 Freud atribui o fato de que somos malsucedidos nesse campo de prevenção do sofrimento à “uma parcela de natureza inconquistável”, isto é, a “uma parcela de nossa própria constituição psíquica” (p. 93). “ Mais uma vez, a felicidade constitui um problema da economia da libido do indivíduo”. 
Relação Natureza e Cultura:
- Natureza: estrutura passageira, com limitada capacidade de adaptação e realização X civilização: conjunto de coisas que buscamos a fim de nos protegermos contra as ameaças oriundas das fontes de sofrimento; “a soma integral das realizações e regulamentos que distinguem nossas vidas das de nossos antepassados animais, e que servem a dois intuitos a saber: o de proteger os homens contra a natureza e o de ajustar os seus relacionamentos mútuos; “cuturais são todas as atividades e recursos úteis aos homens, (...) por protegerem-nos contra a violência das forças da natureza.
Relação indivíduo e sociedade: um “conflito irreconciliável”
- “Grande parte das lutas da humanidade centralizaram-se em torno da tarefa única de encontrar uma acomodação conveniente – isto é, uma acomodação que traga felicidade – entre essa reivindicação do indivíduo e as reivindicações culturais do grupo.” (p. 102)
- A civilização é construída sobre uma renúncia ao instinto; isto é, ela pressupõe a não satisfação (pela opressão, repressão) de instintos poderosos” (104).  frustração cultural.
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- “A substituição do poder do indivíduo pelo poder de uma comunidade constitui o passo decisivo da civilização. A vida humana em comum só se torna possível quando se reúne uma maioria mais forte do que qualquer indivíduo isolado e que permanece unida contra todos os indivíduos isolados. O poder dessa comunidade é então estabelecido como ‘direito’ em oposição ao poder do indivíduo, condenado como ‘força bruta’.” (p. 101) 
 Assim é que “atualmente o homem – “Deus de prótese - não se sente feliz em seu papel de semelhante a Deus”. (p. 98)“. “Os regulamentos estabelecidos por nós mesmos não representam, ao contrário, benefício para cada um de nós”. O que chamamos de nossa civilização é em grande parte responsável por nossa desgraça” (p. 93). “Uma pessoa se torna neurótica porque não pode tolerar a frustração que a sociedade lhe impõe” (p. 94). As frustrações da vida sexual são precisamente aquelas que as pessoas conhecidas como neuróticas não podem tolerar (113)  “estranha atitude de hostilidade para com a civilização”. (p. 93). 
- Semelhança existente entre os processos civilizatórios e o desenvolvimento libidinal do indivíduo. O desenvolvimento da civilização constitui um processo especial comparável à maturação do indivíduo.  Sublimação
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Estado de natureza X Sociedade Civil:
 “Sua essência (da civilização) reside no fato de os membros da comunidade se restringirem em suas possibilidade de satisfação, ao passo que o indivíduo isolado desconhece tais restrições”.
 “A liberdade do indivíduo não constitui um dom da civilização. Ela foi maior antes da existência de qualquer civilização” (p.102)
- “Os seres humanos revelam uma tendência inata para o descuido, a irregularidade e a irresponsabilidade em seu trabalho”. (p. 100) X “A força motivadora de todas as atividades humanas é um esforço desenvolvido no sentido de duas metas confluentes, a de utilidade e a de obtenção de prazer”. (p. 101) A beleza, a ordem,o asseio são obras do homem; posição especial entre exigências da civilização. Ordem como espécie de compulsão a ser repetida. Foi imitada a partir da natureza.
Os fundamentos da vida comunitária:
 Fundamento duplo: a) Compulsão para o trabalho, criada pela necessidade externa (Ananke) – o homem primevo descobriu que estava literalmente em suas mãos melhorar a sua sorte na terra através do trabalho; não lhe pode ter sido indiferente que um outro homem trabalhasse com ele ou contra ele (p. 105) – e, b) o poder do amor (Eros) (a formação de famílias – satisfação genital)
 Importante “reconhecimento do amor como um dos fundamento da civilização”. (p.107) “Um dos principais esforços da civilização é reunir as pessoas em grandes unidades”. Tanto o amor plenamente sensual quanto amor inibido em sua finalidade, estendem-se exteriormente à família e criam novos vínculos com pessoas anteriormente estranhas. 
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Amor (Eros) - função de reunir consideráveis quantidades de pessoas : 
erotismo genital – relação entre a formação de famílias e o amor sexual. A satisfação genital, no entanto, forma perigosa (perda do objeto amoroso escolhido); 
amor inibido em sua finalidade - O amor que fundou a família continua a operar na civilização, mas volta-se para todos os homens e não para objetos isolados, evitando-se as incertezas do amor genital. Para tanto, o indivíduo desloca seu investimento do ser amado (objeto sexual) para “o” amar. È pela sublimação, portanto, que ocorrem alterações mentais de grande alcance na função do amor. O instinto é transformado num impulso com uma finalidade inibida, desviando-se de seus objetivos sexuais. O ‘amor inibido em sua finalidade foi, originalmente, amor plenamente sensual, e ainda o é no inconsciente do homem. (p.108) . 
 
- No entanto: Uma pequena minoria de pessoas se acha capacitada a encontrar felicidade no caminho do amor  sublimação (“amor inibido em sua finalidade”). Movimento natural: ficar encerrado na família originária
- Freud sugere que essa disposição para o amor universal pela humanidade e pelo mundo, por ser um amor que não discrimina, ignorando seu objeto, perde parte de seu próprio valor. Ademais, “nem todos os homens são dignos de amor” (p. 108).
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Incompatibilidade necessária entre amor e civilização:
 “O amor se coloca em oposição aos interesses da civilização”; enquanto esta o ameaça com restrições substanciais. (p. 108) (a civilização aqui obedece às leis de necessidade econômica, já que boa parte da energia psíquica que ela utiliza para seus próprios fins é retirada da sexualidade).
 A dificuldade do desenvolvimento cultural remonta à falta de inclinação da libido para abandonar uma posição antiga por outra nova (inércia da libido)  Antítese entre civilização e sexualidade: Eros, quando alcança o seu intuito de mais de um, fazer um único, através do amor de dois seres humanos, recusa-se a ir além. (p. 113).
 A civilização visa a unir entre si os membros da comunidade também de maneira libidinal, convocando a libido inibida em sua finalidade. Para tanto, faz-se inevitavelmente necessária uma restrição à vida sexual. O que força a civilização a tomar esse caminho e a se opor à sexualidade?
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O que força a civilização a tomar esse caminho, necessidade que provoca seu antagonismo à sexualidade (restrições à vida sexual e emprego de métodos destinados a incitar as pessoas a identificações e relacionamentos amorosos inibidos em sua finalidade? Deve haver algum fator de perturbação que ainda não descobrimos.
 A existência de inclinação para a agressão força a civilização a um elevado dispêndio de energia; a civilização tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites aos instintos agressivos do homem. (p. 117)
 A civilização exige outros sacrifícios, além do sacrifício à satisfação sexual. A civilização impõe sacrifícios também à agressividade do homem.
Perspectiva antropológica (sobre o homem freudiano):
 - “O comportamento dos seres humanos apresenta diferenças que a ética, desprezando o fato de que tais diferenças são determinadas, classifica como ‘boas’ ou ‘más’. Enquanto essas inegáveis diferenças
não forem removidas, a obediência às elevadas exigências éticas acarreta prejuízos aos objetivos da civilização, por incentivar o ser mau” (p. 116) 
“Os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar e conta uma poderosa cota de agressividade. Em resultado disso, o seu próximo é, para eles, não apenas um ajudante potencial ou um objeto sexual, mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem compensação, utilizá-lo sexualmente sem o sem consentimento, apoderar-se de suas posses, humilhá-lo, causar-lha sofrimento, torturá-lo e matá-lo. – Homo homini lupus. (p. 116)
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- (...) o homem como uma besta selvagem, a quem a consideração para com sua própria espécie é algo estranho. (p. 116)
- O impulso de liberdade (...) é dirigido contra a civilização. Indubitavelmente ele sempre defenderá sua reivindicação à liberdade individual contra a vontade do grupo. (p.102).
” A agressividade constitui a base de toda a relação de afeto e amor entre as pessoas”; “essa característica indestrutível da natureza humana seguirá a civilização (p. 118) :
É sempre possível unir um considerável número de pessoas no amor, enquanto sobrarem outras pessoas para receberem as manifestações de sua agressividade  ‘narcisismo das pequenas diferenças’. (p. 119)
- Existência da inclinação para a agressão. (p. 117)
 Não fácil aos homens abandonar a satisfação dessa inclinação para a agressão. (p.118). 
“(...) inata inclinação humana para a ‘ruindade’, a agressividade e a destrutividade, e também para a crueldade” (p. 124).
“a inclinação para a agressão constitui, no homem, uma disposição instintiva original e auto-subsistente, e retomo à minha opinião, de que ela é o maior impedimento à civilização”. (p.125)
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Relação Eu X outro:
“Esse estranho (...) é indigno de meu amor; (...) tenho de confessar que ele possui mais direito a minha hostilidade e, até mesmo, meu ódio. Não parece apresentar o mais leve traço de amor por mim e não demonstra a mínima consideração para comigo. Se disso ele puder auferir uma vantagem qualquer, não hesitará em me prejudicar; tampouco pergunta a si mesmo se a vantagem assim obtida contém alguma proporção com a extensão do dano que causa em mim. Na verdade, não precisa nem mesmo auferir alguma vantagem; se puder satisfazer qualquer tipo de desejo com isso, não se importará em escarnecer de mim, em me insultar, me caluniar e me mostrar a superioridade de seu poder, e, quanto mais seguro se sentir e mais desamparado eu for, mais, com certeza, posso esperar que se comporte dessa maneira para comigo.” (p. 115)
Indivíduo X Sociedade:
O homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidade de felicidade por uma parcela de segurança.
Questões:
- Precedência do sujeito em relação à sociedade.
 Como pensar as relações existentes entre o indivíduo e a sociedade?
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Um ‘progresso’ na teoria pulsional (no sentido do “reconhecimento de um instinto agressivo, Pespecial e independente)
1 Teoria Pulsional : pulsões sexuais X pulsões de autoconservação ou egóicas 
pulsões sexuais: modalidades de satisfação variáveis, ligada ao funcionamento de zonas corporais determinadas.  pressão interna que atua num campo muito mais amplo do que o das atividades sexuais no sentido corrente do termo. O termo libido foi introduzido para denotar a energia da pulsão sexual, e somente dela. (p. 121) Em outros termos, a libido é sempre libido objetal, isto é dirigida a um objeto.
pulsões de autoconservação ou egóicas: conjunto necessidades ligas às funções corporais essências à conservação da vida do indivíduo): 
“São a fome e o amor que movem o mundo” (Schiler apud Freud, p.121)  FOME: representa as pulsões de autoconservação, isto é, aquelas que visam preservar o indivíduo; AMOR: representa as pulsões sexuais. “O amor se esforça na busca de objetos, e sua principal função é a preservação da espécie” (p. 121)
Assim: “a antítese se verificou entre os instintos do ego e os instintos libidinais do amor (em seu sentido amplo) que eram dirigidos a um objeto” (p. 121)
PORTANTO: Na 1 Teoria Pulsional: Os conflitos psíquicos eram percebidos como opondo indivíduo e sociedade, na seguinte dinâmica: impulsionado pelo princípio do prazer o indivíduo procurava descarregar suas pulsões sexuais X algo nele acionava a pulsão de autoconservação para impedí-lo. 
	“A neurose foi encarada como o resultado de uma luta entre o interesse de 	autopreservação e as exigências da libido, luta da qual o ego saiu vitoriosos, ainda que 	ao preço de graves sofrimentos e renúncias” (p. 122)
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IMPASSES E NOVAS DESCOBERTAS:
1 PASSO: Introdução do conceito de Narcisismo: “O próprio ego se acha catexizado pela libido”.
IMPASSE: “Se os instintos do ego também são libidinais“ (p. 122), o conceito de libido, que fora introduzido para denotar, exclusivamente, energia da pulsão sexual (isto é dirigida a um objeto) , ficou ameaçado.”Essa libido narcísica se volta para os objetos, tornando-se assim libido objetal, e podendo transformar-se novamente em libido narcísica” .(p. 122). Portanto seriam as pulsões da mesma espécie, como outrora advogara Jung? Freud não estava convencido disso.
2 PASSO: Da hipótese da “compulsão para repetir” e do “caráter conservador da vida instintiva” descritas no “Mais Além do Princípio do Prazer (1920), Freud, partindo de paralelos biológicos, conclui que:
	“(...) ao lado do instinto para preservar a substância viva e para reuní-la em unidades 	cada vez maiores, deveria haver outro instinto, contrário àquele, buscando dissolver 	essas unidades e conduzí-las de volta a seu estado primevo e inorgânico. Isso 	equivalia a dizer que, assim como Eros, existia também um instinto de morte. Os 	fenômenos da vida podiam ser explicados pela ação concorrente, ou mutuamente 	oposta, desses dois instintos.” (p.122)
Ex.: “(...) No sadismo e no masoquismo sempre vimos diante de nós manifestações do instinto destrutivo (dirigidos para fora e para dentro), fortemente mescladas ao erotismo, mas não posso mais entender como foi que pudemos ter (...) falhado em conceder à agressividade e à destrutividade não eróticas o devido lugar em nossa interpretação da vida” (p.123)
- Mesmo onde a pulsão agressiva surge sem qualquer intuito sexual, “a satisfação do instinto se faz acompanhar por um grau extraordinariamente alto de fruição narcísica, devido ao fato de presentear o ego com a realização de antigos desejos de onipotência.”
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 “O nome ‘libido’ pode mais uma vez ser utilizado para denotar as manifestações do poder de Eros (pulsão sexual e de autoconservação) , a fim de distinguí-las da energia da pulsão de morte” (p. 125)
PORTANTO: “A inclinação para a agressão constitui, no homem, uma disposição instintiva original e auto-subsistente, e retomo à minha opinião, de que ela é o maior impedimento à civilização”. (p.125)
A civilização constitui um processo a serviço de Eros, cujo propósito é combinar indivíduos humanos isolados, depois famílias e, depois ainda, raças, povos e nações numa única grande unidade, a unidade da humanidade. (...) Mas o natural instinto agressivo do homem, a hostilidade de cada um contra todos e a de todos contra um, se opõe ao programa da civilização.
 Cultura: luta pela vida; representa a luta entre Eros e a Morte.
ASSIM: Homem movido 2 pulsões elementares e imodificáveis (“bloco de natureza imodificável constituição psíquica; expressão de natureza humana imodificável; indomável impulso de agressão):
2 Teoria Pulsional: pulsão de vida X pulsão de morte: 
Pulsão de vida: tendência a conservar as unidades vitais existentes, como constituir unidades cada vez maiores. Ex.: nível celular – procura provocar e manter a coesão entre as partes da substância viva; organismo individual – unidade e existência; como princípio de união = gametas na fecundação. 
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Pulsão de morte: tendência para a destruição das
unidades virtais e para o retorno ao estado inorgânico anterior (repouso absoluto) => (perspectiva evolucionista) tendência regressiva, restabelecimento formas menos organizadas
O que a cultura faz para administrar a pulsão agressiva? “Quais os meios que a civilização utiliza para inibir a agressividade que se lhe opõe?” (p. 127)
- Freud procura responder a essa questão “na história do desenvolvimento do indivíduo” (p.127). “O que acontece neste para tornar inofensivo seu desejo de agressão? “A civilização, portanto, consegue dominar o perigoso desejo de agressão do indivíduo, enfraquecendo-o, desarmando-o e estabelecendo no seu interior um agente para cuidar dele, como uma guarnição numa cidade conquistada” (p. 127).  o conflito pulsional agora se inscreve como sendo interno ao próprio sujeito. 
Dinâmica da agressividade em Freud: A mesma agressividade que o ego teria gostado de satisfazer sobre os indivíduos, a ele estranhos, é introjetada, internalizada e assumida por uma parte do ego – o superego - que se coloca contra o resto do ego. O superego envia de volta essa agressividade para o lugar de onde proveio, isto é, ela dirigida no sentido do próprio ego. 
 Conflito como sendo interno ao próprio sujeito. Se a modernidade supôs que, sob a forma de um contrato – o contrato social - a vontade racional de indivíduos preexistentes faria nascer o socius, Freud atribui a emergência do social à afetividade humana e a seus conflitos não-elimináveis (sociabilidade constitutiva). As pulsões que animam aos indivíduos são obrigadas, para encontrar satisfação, a voltar-se para a existência do outro. 
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O sentimento de culpa: tensão entre o severo superego e o ego, que se expressa como uma necessidade de punição.
A origem do sentimento de culpa
Algumas considerações prévias:
Mesmo quando uma pessoa apenas identifica em si uma intenção de fazer alguma coisa má, ela pode encarar-se como culpada.
 O que é mau pode ser algo desejável e prazeroso para o ego. 
PORTANTO: “Podemos rejeitar a existência de uma capacidade original, por assim dizer, natural
de distinguir o bom do mau. (...) Está em ação uma influência estranha que decide o que dever ser
chamado de bom ou mal” (p. 128) . O que faz com que o indivíduo se submeta a essa influência?
“O desamparo e a dependência em relação a outras pessoas, que pode ser mais bem designado como medo da perda de amor”. Perder o amor significa perder, simultaneamente, a proteção de quem é se é dependente. Além disso, o indivíduo “fica exposto ao perigo de que essa pessoa mais forte mostre a sua superioridade sobre a forma de punição” (p. 128) Por conseguinte, podemos afirmar que o “amor constitui proteção contra essa agressão punitiva” (p.131)
 Mau = tudo aquilo que, com a perda do amor, nos faz sentir ameaçados.
 Nessa etapa: sentimento de culpa = medo da perda de amor, ansiedade ‘social’.
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Etapa seguinte: a autoridade é internalizada através do estabelecimento de um superego. Como nada pode ser escondido do superego, a distinção entre fazer ou desejar fazer algo “mau” desaparece. 
ASSIM: Duas origens do sentimento de culpa: “A agressividade da consciência continua a agressividade da autoridade. Uma ameaça de infelicidade externa – perda de amor e castigo por parte da autoridade externa – foi permutada por uma permanente infelicidade interna, pela tensão do sentimento de culpa.” (p.131)
Uma que surge do medo da autoridade: exige renúncia às satisfações instintivas;
Outra, posterior, que surge do medo do superego: A autoridade é internalizada através do estabelecimento de um superego. Aqui a renúncia instintiva não basta, pois o desejo persiste e não pode ser escondido do superego. Além da renúncia, exige também punição. Ou seja, ainda que se efetue a renúncia instintiva, o sentimento de culpa persistira
“Em primeiro lugar, vem a renúncia ao instinto, devido ao medo de agressão por parte da autoridade externa. É provável que, na criança se tenha desenvolvido uma quantidade considerável de agressividade contra a autoridade. Ela porém, com o auxílio de mecanismos familiares, é obrigada a renunciar à satisfação dessa agressividade vingativa. Através da identificação, incorpora a si a autoridade inatacável. Organiza-se assim uma autoridade interna e a renúncia ao instinto devido ao medo dela, ou seja, devido ao medo da consciência. Nessa segunda situação, as más ações são igualadas às más ações e daí surgem sentimento de culpa e necessidade de punição. A agressividade da consciência continua a agressividade da autoridade”. (p. 131)
“De início, a ansiedade (que depois se torna consciência) é causa da renúncia instintiva; posteriormente o relacionamento se inverte. Toda a renúncia ao instinto torna-se agora uma fonte dinâmica da consciência, e cada nova renúncia aumenta a severidade e a intolerância desta última.” (..) Cada agressão de cuja satisfação o indivíduo desiste é assumida pelo superego e aumenta a agressividade deste (contra o ego)” (p.132).  “quanto mais virtuoso um homem é, mais severo é o seu comportamento” ; “uma consciência mais estrita e mais vigilante constitui precisamente a marca distintiva de um homem moral (p.129). 
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Tese do “Mal-Estar” : “O preço que pagamos por nosso avanço em termos de civilização é uma perda de felicidade pela intensificação do sentimento de culpa”. (p.137)
 Em Freud a moralidade é introduzida pela repressão operada pela cultura. Introjeção da instância que contém as proibições da cultura (superego). Renúncia a pulsão agressiva => superego reenvia a agressão ao ego. O impacto da pulsão de morte + desamparo inicial (dependência de proteção e aprovação) => fontes mal-estar inevitável e universalidade do sentimento de culpa.
- O papel do amor na origem da consciência:
A civilização constitui um processo a serviço de Eros, cujo finalidade é a de unir indivíduos isolados numa unidade maior, isto é, numa comunidade ligada por vínculos libidinais, de modo a constituir uma única grande unidade, a unidade da humanidade. Visto que a civilização obedece a um impulso erótico interno que leva os seres humanos a se unirem num grupo estreitamente ligado, ela só pode alcançar seu objetivo através de um crescente fortalecimento do sentimento de culpa.” (p.135) Isto porquê, para Freud, como que num “bloco de natureza imodificável de nossa constituição psíquica”, Eros em expansão permanente traz consigo Tanatos. A renúncia a agir a pulsão agressiva não impede, pelo contrário, que o desejo inconsciente persista. Freud supôs que a consciência nasce do recalque das pulsões. O ódio é recalcado no inconsciente dando origem ao sentimento de culpa. Assim, “uma ameaça de infelicidade externa – perda de amor e castigo por parte da autoridade externa – foi permutada por uma permanente infelicidade interna, pela tensão do sentimento de culpa.” (p.131). O sentimento de culpa é inevitável e “representa o mais importante problema no desenvolvimento da civilização.” (p. 137).
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E o Direito?
 Como vimos (vide texto “Cidadania como pertencimento (...)”), do dualismo originário que opõe natureza e cultura decorrem outros, como, por exemplo, o dualismo que, fixado na própria constituição do homem, opõe o corpo ao psiquismo, devendo o último – como o lugar da ordem, da ordem das representações, da ordem do significado - reprimir o primeiro – lugar dos caos, das paixões, da pura dispersão de intensidades. 
 Mergulhados nesse pressuposto antropológico, quando ecoam as leituras dos jornais apontando o grau crescente de violência presente na nossa sociedade, por vezes somos tomados de tal pessimismo que pouco nos faltaria para nos inclinarmos a dar razão a postulação hobbesiana da agressividade natural e insuperável do homem. 
 Na modernidade, há toda uma longa tradição da filosofia e das ciências que pensa o homem como dotado de uma maldade essencial a ser reprimida para que se possa viver em sociedade. Nesse sentido, a existência da civilização exige o exercício da repressão desse movimento destrutivo constituinte da essência
de cada um dos indivíduos que integram o corpo social. Em outros temos, entender o homem como ser inevitavelmente violento e agressivo nos leva a justificar a necessidade de repressão como condição mesma da organização social.
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 Observe-se que essas concepções hegemônicas no imaginário moderno estreitam as alternativas para se conceber as relações existentes entre o indivíduo e a sociedade. “Desejo individual libertador” e “sociedade repressora” formam outro par de opostos, sendo que o primeiro, em geral, representa o pólo do mal (agredir e matar/ Hobbes e Freud). Nesse contexto, ou o sujeito é salvo, demonizando a sociedade; ou é ele próprio demonizado, privilegiando-se na consideração da sociedade suas funções repressivas. Essa discussão interessa sobremaneira ao Direito, na medida em que a reflexão jurídica se ocupa justamente da regulação/emancipação da vida em sociedade.
- Verifica-se que, ao esvaziar a idéia de história em seu sentido amplo, toda perspectiva essencialista é também determinista, já que aquilo que é determinado foge à possibilidade de ser modificado pela história. Para pensar a subjetividade e suas característica não de um ponto de vista essencialista, mas como decorrente de relações intersubjetivas, isto é produzida em sociedade, é preciso superar os limites de uma disciplina para realizar uma abordagem interdisciplinar que vai se sustentar em torno de categorias produzidas por distintos saberes.
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Glossário
Conceito de pulsão: Representante psíquico dos estímulos que provêm do interior do corpo e atingem o psiquismo. A dinâmica pulsional é responsável pela “eficiência” da representação, i.e, pela capacidade desta de produzir efeitos psíquicos.
Consiste numa pressão (ou força) que faz o organismo tender para um objetivo. Processo dinâmico que tem a sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão) e tem como objetivo suprimir esse estado de tensão (satisfação). 
Decorrente da influência dos pressupostos da modernidade na elaboração freudiana, a perspectiva de que a natureza que só podia ser pensada em seus aspectos quantitativos também foi aplicada ao estatuto de pulsão. Como representante, no psiquismo, dos poderes orgânicos, a pulsão é considerada como pura força, desprovida em si mesma de qualidade. 
“A pulsão sexual põe à disposição do trabalho cultural quantidades de força extraordinariamente grandes, e isto graças a particularidade, especialmente acentuada nela, de poder deslocar a sua meta sem perder, quanto ao essencial, a sua intensidade. Chama-se a esta capacidade de trocar a meta sexual originária por outra meta, que já não é sexual, mas que psiquicamente se aparenta com ela, capacidade de sublimação” (Freud, 1908). 
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Deslocamento – Fenômeno presente na formação dos sonhos, dos sintomas e, de um modo geral, em todas as formações do inconsciente. 
A energia / intensidade de uma representação pode se descolar dela e pode passar para outras representações originariamente pouco intensas, ligadas à primeira por uma cadeia associativa. 
Sublimação – “O conceito de sublimação abrange todo o padrão?” (Winnicott, 1975)
Diz-se que a pulsão é sublimada na medida em que é derivada para um novo objetivo não sexual e em que visa objetos socialmente valorizados.
Processo postulado por Freud para explicar as atividades humanas sem qualquer relação com a sexualidade – principalmente a atividade artística e a investigação intelectual – mas, que encontrariam o seu elemento propulsor na força da pulsão sexual.

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