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Prof. Valdir Oliveira Junior Questão 7 A figura abaixo representa uma estrutura para cobertura em madeira, formada por tesouras e peças de trama secundária (terças, caibros e ripas), bem como de telhas (cerâmicas ou de concreto). Questão 7 Em relação a este tipo de estrutura de telhado, avalie as afirmações abaixo: I. Se a distância entre tesouras tivesse que ser alterada no telhado, isso afetaria o dimensionamento das terças. II. Se as telhas empregadas (cerâmicas ou de concreto) fossem substituídas por telhas de fibrocimento ou de aço, a trama do telhado dispensaria os elementos caibro e ripa. III. Para propiciar melhor estanqueidade à água e maior durabilidade às estruturas de cobertura em madeira, é aconselhável a adoção de mantas de subcobertura, as quais são vendidas em rolos e devem ser instaladas logo acima das tesouras, antes da colocação das terças. IV. As terças devem ser posicionadas preferencialmente sobre nós da tesoura, caso contrário, acarretarão flexo compressão às barras do banzo superior da tesoura, diminuindo a sua capacidade resistente. É correto o que se afirma em a) I, II e III, apenas. b) I, II e IV, apenas. c) I, III e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV. Questão 7 1. Introdução teórica Estruturas de madeira e resistência dos materiais O esquema estrutural, com telhas cerâmicas ou de concreto, suportadas por uma estrutura de madeira, conforme ilustrado na figura 1, é razoavelmente simples, fácil de calcular e de executar. Figura 1. Corte esquemático de um telhado com telhas cerâmicas. Questão 7 2. Introdução teórica Estruturas de madeira e resistência dos materiais As telhas apoiam-se sobre as ripas como uma carga permanente uniformemente distribuída. Sobre as telhas, deve ser acrescentada uma carga acidental, que representa o peso de pessoas que podem caminhar pelo telhado para fazer eventuais reparos ou instalar antenas, por exemplo. Dessa forma, para efeito de cálculo de momentos fletores e reações de apoio, os caibros suportam cada ripa como os apoios de uma viga contínua, ou seja, uma carga uniformemente distribuída p, como ilustrado na figura 2. Figura 2. Esquema estrutural das telhas sobre ripas apoiadas em caibros. Questão 7 3. Introdução teórica Estruturas de madeira e resistência dos materiais Os caibros, por sua vez, apoiam-se sobre as terças. Então, para efeito de cálculo de momentos fletores e reações de apoio, as terças suportam os caibros como uma viga contínua que suporta um conjunto de cargas concentradas Pc . As cargas de cada caibro apoiam-se nas tesouras. A figura 3 representa o esquema estrutural de cada terça. Figura 3. Esquema estrutural dos caibros sobre terças apoiadas em tesouras. Questão 7 4. Introdução teórica Estruturas de madeira e resistência dos materiais O conjunto das terças é suportado pelas tesouras que, para efeitos de cálculo estrutural, são treliças de madeira. As reações de apoio das terças representam as cargas concentradas Pt , ilustradas na figura 4. Figura 4. Esquema estrutural das tesouras suportando as terças. Questão 7 5. Introdução teórica Estruturas de madeira e resistência dos materiais Assim, sabendo-se o peso das telhas a serem utilizadas por metro quadrado e acrescentando-se, como carga acidental, uma carga distribuída equivalente 1kN/m2, é possível realizar o cálculo de toda a estrutura por meio das fórmulas habituais de resistência dos materiais. É importante lembrar que o próprio peso e as peças estruturais de madeira, ripas, caibros e terças também devem ser acrescentados a cada etapa do cálculo. Questão 7 2. Análise das afirmativas I - Afirmativa correta. JUSTIFIVATIVA. Conforme o exposto na introdução teórica, os caibros, que suportam as cargas permanentes e acidentais do telhado, são suportados pelas terças, que se apoiam nas tesouras. Com o aumento da distância entre tesouras, aumenta-se o vão livre de cada terça, o que influi diretamente no cálculo dos valores dos momentos fletores e das reações de apoio. Ao mesmo tempo, aumenta a quantidade de caibros apoiados em cada terça e aumenta a quantidade de cargas concentradas aplicadas sobre cada vão livre das terças. A distância entre tesouras, portanto, afeta diretamente os valores dos momentos fletores e das tensões de tração, compressão e cisalhamento nas terças. Questão 7 2. Análise das afirmativas II – Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. As telhas de fibrocimento ou de aço, por terem estrutura autoportante, precisam apenas de dois apoios, próximos às suas extremidades, como indicado na figura 5, eliminando a necessidade de caibros e ripas. Figura 5. Telhas de fibrocimento apoiadas em terças. Questão 7 2. Análise das afirmativas III – Afirmativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O que garante a estanqueidade do telhado é a superposição adequada das telhas, também denominada cobrimento, como ilustrado na figura 6, bem como a declividade correta e a sua integridade. Quando uma dessas condições não é corretamente satisfeita, costuma-se recorrer à adoção de mantas de subcobertura. Figura 6. Trespasse de cobrimento das telhas. Questão 7 Alternativa correta: B. 2. Análise das afirmativas IV – Afirmativa correta. JUSTIFICATIVA. Se as terças não se apoiarem sobre os nós da tesoura, as suas cargas serão aplicadas nos vãos do banzo superior, acarretando flexocompressão. A linha elástica desse banzo está representada, exageradamente, pela linha tracejada na figura 7. Figura 7. Representação de deformação da linha elástica. Questão 7 3. Indicação bibliográfica MOLITERNO, A. Cadernos de projetos de telhados em estruturas de madeira. 4. ed. São Paulo: Edgar Blücher, 2010. . Questão 8 Um município planeja implantar um condomínio com 300 unidades habitacionais para fins de moradia popular em uma área de sua propriedade. Duas modalidades de construção estão em estudo: 300 casas térreas ou 25 prédios de 4 pavimentos. Inicialmente, foram realizados ensaios do tipo CPT (cone penetration test). Os resultados típicos representativos do terreno são apresentados na figura a seguir, em que qc e fs representam as resistências de ponta e lateral, respectivamente, e R é a relação entre essas resistências. . Questão 8 . Questão 8 . Com relação à viabilidade técnica e econômica desse projeto, a partir das características do terreno apresentadas acima, conclui-se que: A. a opção pelas casas térreas demanda fundações superficiais no terreno, enquanto a opção por prédios de apartamentos demanda fundações profundas, portanto mais caras. B. as duas opções em estudo demandam fundações superficiais no terreno, sendo necessário o prévio dimensionamento de cada uma delas para se avaliar a sua viabilidade econômica. C. as duas opções em estudo demandam fundações profundas no terreno, sendo indispensável o dimensionamento dessas duas modalidades de fundação para se avaliar a viabilidade econômica de cada uma delas. Questão 8 . D. as duas opções em estudo demandam fundações profundas no terreno, mas como as dimensões das fundações dos prédios terão que ser maiores, o custo das fundações por unidade habitacional será mais alto para os prédios que para as casas térreas. D. as duas opções em estudo demandam fundações profundas no terreno, mas as dimensões das fundações de ambas edificações serão similares, fazendo com que o custo das fundações por unidade habitacional para os prédios seja menor do que para as casas térreas. Questão 8 . 1. Introdução teórica Fundações e capacidade de suporte dos solos É importante lembrar que, assim como as superfícies dos terrenos raramente são horizontais, regulares ou planas, os subsolos também apresentam camadas irregulares, não planas, não niveladas e com diversas constituições geológicas, conformefigura 1. Figura 1. Exemplo de perfil geotécnico. Questão 8 . 1. Introdução teórica Fundações e capacidade de suporte dos solos A generalização de características e parâmetros geotécnicos do subsolo, para áreas de grandes extensões, representa uma simplificação que só é permitida na fase de estudos preliminares para um empreendimento, na qual o objetivo é apenas examinar e comparar possíveis soluções técnicas, como no caso apresentado na questão. A capacidade de suporte do terreno, representada pelos valores de resistência de ponta qc e de fator de atrito lateral fs , deve ser definida para a região do subsolo próxima à peça de fundação a ser dimensionada. Para isso, as variações do perfil geotécnico do terreno, conforme figura 2, não podem deixar de ser consideradas. Questão 8 . 1. Introdução teórica Fundações e capacidade de suporte dos solos Figura 2. Variações do perfil geotécnico. Questão 8 . 1. Introdução teórica Fundações e capacidade de suporte dos solos O grau de conhecimento do perfil geotécnico do terreno, porém, deve ser compatível com o porte da edificação a ser realizada. Logo, esse conhecimento pode ser obtido por meio de diversos tipos de sondagens, como simples furos para a identificação das camadas do subsolo, sem medição de dados quantitativos, ou com um ensaio de percussão com coleta de amostras, como o standard penetration test (SPT), com ou sem medição de torque, ou com o cone penetration test (CPT), utilizado na questão. Com um ensaio CPT, que consiste, basicamente, na medição do esforço necessário para a penetração de um cone no solo, é possível medir, de forma praticamente contínua, a resistência de ponta qc , utilizada para o dimensionamento de fundações diretas, e o fator de atrito lateral fs do solo, ambos necessários para dimensionar fundações indiretas. Questão 8 . 1. Introdução teórica Fundações e capacidade de suporte dos solos Embora esse ensaio não permita a coleta de amostras, necessárias para uma análise visual táctil, ele fornece elementos indicativos em relação à consistência e à coesão de solos argilosos, bem como ao ângulo de atrito interno de solos arenosos, utilizados na determinação da resistência ao cisalhamento e da capacidade de suporte do solo. Qualquer que seja o tipo de sondagem empregado, a sua realização em apenas um ou dois pontos do terreno não é suficiente para se formar uma ideia tridimensional do subsolo estudado. A norma NBR 8036, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), e as principais normas existentes no mundo recomendam a realização de pelo menos três furos de sondagem, não alinhados, com espaçamento de 15m a 40m entre dois furos, conforme figura 3. Questão 8 . 1. Introdução teórica Fundações e capacidade de suporte dos solos Figura 3. Planta de locação da sondagem SPT e do corte A-A. Questão 8 . 1. Introdução teórica Fundações e capacidade de suporte dos solos A partir das informações obtidas com esses três furos de sondagem, é possível imaginar as tendências de desenvolvimento das camadas de solo entre os furos e traçar o provável perfil geotécnico do terreno nas diversas direções. O espaçamento máximo especificado entre dois furos permite que o perfil imaginado, por meio de interpolação simples, tenha razoável probabilidade de ser semelhante ao real. A figura 4 representa, esquematicamente, um provável perfil geotécnico traçado ao longo do corte A-A indicado na planta acima. Figura 4. Provável perfil no corte A-A. Questão 8 Figura 5. Prováveis perfis nos cortes B-B e C-C. Convém salientar que, quanto maior a precisão requerida pela edificação em estudo, maior a quantidade de pontos de sondagem a serem realizados. . 1. Introdução teórica Fundações e capacidade de suporte dos solos Dessa maneira, traçando-se mais cortes, longitudinais ou transversais, como os cortes B-B e C-C representados na figura 5, é possível ter-se uma ideia razoável da constituição do subsolo abaixo de cada ponto de aplicação das cargas da edificação. Questão 8 Figura 6. Resultados do ensaio CPT. . 2. Análise das alternativas A – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. Analisando os resultados do ensaio CPT, apresentados no enunciado e reproduzidos, em parte, na figura 6, verifica-se que a resistência de ponta (qc), utilizada para dimensionar fundações superficiais, é praticamente nula até 4 metros de profundidade. Questão 8 . 2. Análise das alternativas Sendo tão baixa a capacidade de suporte das camadas mais superficiais do terreno, torna-se impossível qualquer solução de fundações diretas rasas, ou fundações superficiais, como também são denominadas, mesmo para as pequenas cargas causadas pelas casas térreas. B – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. Se a capacidade de suporte já é muito baixa para pequenas cargas causadas pelas casas térreas, ela será pior ainda para as cargas dos prédios de 4 pavimentos. É, portanto, necessária uma solução de fundação indireta, com estacas. Questão 8 . 2. Análise das alternativas C – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. O relatório da sondagem CPT indica que o fator de atrito lateral fs é praticamente nulo nas primeiras camadas de solo. Apenas na camada de areia, encontrada a partir de 4m de profundidade, a resistência lateral torna-se expressiva, com valores da ordem de 200kPa, o que equivale a 200kN/m2, ou 20tf/m2. Logo, os primeiros 4m de profundidade de todas as estacas, tanto para as casas térreas quanto para os prédios, teriam pouco atrito lateral e, portanto, bem pouca capacidade de suporte. Somente a partir desses 4 metros é que as forças de atrito passam a ser significativas para se atingir a capacidade de suporte necessária. Mesmo sem fazer cálculos, a intuição já indica que esses 4m iniciais de cada estaca, com baixa resistência, têm influência bem maior no custo das estacas para as pequenas cargas das casas do que no custo para as cargas mais elevadas, como a dos prédios. Questão 8 . 2. Análise das alternativas D – Alternativa incorreta. JUSTIFICATIVA. Conforme já exposto, a parte das estacas com baixa capacidade de suporte é, proporcionalmente, maior para as estacas das casas do que para as estacas dos prédios, tornando o custo das fundações por unidade habitacional mais elevado para as casas. E – Alternativa correta. JUSTIFICATIVA. As duas opções em estudo demandam fundações profundas no terreno, mas as dimensões das fundações de ambas as edificações são similares, fazendo com que o custo das fundações por unidade habitacional para os prédios seja menor do que para as casas térreas. Questão 8 . 3. Indicações bibliográficas ALONSO, U. R. Exercícios de fundações. 2. ed. São Paulo: Edgar Blücher, 2010. CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. Rio de Janeiro: LTC, 1994. HACHICH W; FALCONI F. F.; SAES J. L. et. al. Fundações: teoria e prática. São Paulo: Pini, 1998. NORMA NBR 8036. Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios. Disponível em <http://geoesp.com.br/assets/instrucao_trabalho_geoesp.pdf>. Acesso em 7 jun. 2017.
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