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ARTIGO (TCC) - A voz e seus recursos como instrumento no processo Musicoterapêutico: perspectivas sensoriais e biológicas.

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A voz e seus recursos como instrumento no processo 
Musicoterapêutico: perspectivas sensoriais e biológicas. 
 
Mariana Késsia Andrade Araruna 
 
Resumo: A utilização da voz nas atividades musicoterapêuticas deve ser feita 
de forma criativa com a emissão de sons pré-vocais e vocais, recorrendo-se ao 
canto e à utilização da palavra falada. Ambos atuam na respiração, fala, 
linguagem, auto expressão, criatividade, descarga, canalização de energia 
agressiva e liberação de conteúdos internos. A presente pesquisa se 
caracteriza como estudo de múltiplos casos de abordagem qualitativa, com 
objetivos descritivos e exploratório e busca analisar o uso da voz e seus 
recursos no processo musicoterapêutico, bem como verificar os efeitos 
possibilitados ao paciente a partir desse instrumento e ainda observar as 
percepções após o uso de tal ferramenta. 
 
Palavras-chave: Musicoterapia. Voz. Instrumento. 
 
INTRODUÇÃO 
 A música é arte presente na vida humana desde os primórdios de 
sua existência. Sua utilização como fonte de cura ou alívio para males foi 
estabelecida ainda pelas antigas civilizações. Na Grécia antiga, por exemplo, 
estruturou-se a música em sistemas de bases científicas, através da filosofia 
médica de Hipócrates, que considerava as doenças como uma desarmonia do 
homem frente à natureza. Acerca dessa lógica, na segunda metade do século 
XX, as graves consequências da Segunda Guerra Mundial impulsionaram as 
pesquisas sobre os efeitos da música no processo de cura. A partir daí, nasceu 
um modelo científico de estudo interdisciplinar, denominado de Musicoterapia 
(VON BARANOW, 1999). 
 Nesse contexto, a utilização da voz nas atividades 
musicoterapêuticas deve ser feita de forma criativa com a emissão de sons pré-
vocais e vocais, recorrendo-se ao canto e à utilização da palavra falada. Ambos 
atuam na respiração, na fala, linguagem, autoexpressão, criatividade, 
descarga, canalização de energia agressiva e liberação de conteúdos internos 
(BARCELLOS, 1980). 
Sob essa ótica, Cerqueira (1996) avalia a proposta musicoterápica 
através da voz, como preconizadora da história do indivíduo, sua 
personalidade, necessidades afetivas, criatividade e expressão, acreditando na 
proposta que conduz ao crescimento interior. 
De fato, por ser a voz uma experiência que envolve carga 
energética, a mesma pode proporcionar o surgimento de lembranças, 
facilitando a expressão emocional. Assim, ação, emoção e pensamento estão 
intrinsecamente ligados ao ato de cantar. Outro aspecto relevante é que ao 
ouvir o próprio canto, gera-se a possibilidade de desenvolvimento de 
habilidades construtoras de autonomia da própria realidade (CHAGAS, 1990). 
Em se tratando da influência do recurso vocal na vida de um 
indivíduo e baseando-se no pressuposto de que a voz motiva o acesso a “si 
mesmo” especialmente quando utilizada no canto, é conveniente tecer alguns 
questionamentos: como esta poderia beneficiar e auxiliar pacientes dentro das 
sessões de musicoterapia? Quais sensações a voz pode provocar nesses 
pacientes? Quais as percepções destes diante do uso desse instrumento? 
Assim, entende-se que a voz como ferramenta musicoterápica 
apresenta grande valor e potencial de tratamento uma vez que é um 
instrumento de fácil acesso a qualquer indivíduo, já que está enraizada em si 
mesmo, estando apto ao uso em qualquer lugar e/ou a qualquer momento. 
Portanto, objetiva-se, neste trabalho, analisar o uso da voz e seus recursos no 
processo musicoterapêutico, bem como verificar os efeitos possibilitados ao 
paciente a partir desse instrumento observando as percepções dos indivíduos 
submetidos ao tratamento mediante tal recurso. 
 
REFERENCIAL TEÓRICO 
 
Produção da voz 
 
Três sistemas trabalham simultaneamente para a produção da voz, 
são eles: sistema respiratório, sistema fonador e sistema ressonador. Além 
dessa tríade, há ainda um quarto elemento que faz o papel de coordenador de 
toda essa elaboração no corpo humano, o sistema nervoso (VALE, 2011). 
No que concerne ao som da voz, ressalte-se que se compõe de 
ondas sonoras constituídas de partículas do ar em movimento. Este ar, 
responsável pelo som vocal, sai dos pulmões, passa pela traqueia e ao chegar 
à laringe, transforma-se em voz, sofrendo a ação mecânica das pregas vocais 
(VALLE, 1996). 
Utilizando-se dessa importante ferramenta, o homem faz uso da voz 
com o intuito de expressar-se. Desde o seu nascimento, quando ainda bebês, 
o choro e/ou grito exprimem a necessidade elementar de comunicar-se, Nesse 
sentido, a voz associa-se com a emoção; antes mesmo da palavra, os estados 
da alma se anunciam através da voz que é, portanto, a primeira forma de 
comunicação do ser humano com o mundo (SCHARRA, 2002). 
A fonação é uma função neurofisiológica inata, entretanto as 
características anatomo-funcionais de cada indivíduo, bem como sua história 
de vida sob os traços emocionais vivenciados, formam a voz ao longo do 
tempo (BEHLAU, 2001). 
Nesse tocante, Valle (1996) aponta que a qualidade vocal, bem 
como as entonações da voz, revelam estados da alma e do corpo. O controle 
da voz depende da percepção e atenção destinadas às sensações corporais, 
da audição e do universo psíquico de cada indivíduo. 
 
O canto como terapia 
 
A palavra apresenta duas finalidades que consistem em significado e 
som. Dessa forma, a produção de um som está associada a um desejo e a 
palavra surge com a função de expressar tal desejo (ABERASTURY e 
TOLEDO, 1955). 
Vale salientar que há diferenciação entre a voz cantada e a voz 
falada, especialmente referente à frequência, em que a voz cantada pode ser 
sete vezes maior do que a voz falada, além da intensidade do canto que pode 
ter um alcance até seis vezes mais forte do que a fala (OLIVEIRA, 2007). 
 
O canto, dentro das funções terapêuticas da música é utilizado como: 
• Função clarificadora, quando o cliente expõe mais intimamente suas 
feridas através de uma composição popular ou folclórica; 
• Função integradora, para uma vivência terapêutica, quando é 
pedido ao cliente que cante o que desejar. É o contato com o “self”. 
• Função suporte, para entrega quando a voz do terapeuta é parte do 
campo organizacional para o cliente. O terapeuta canta acalantos, 
cantigas suaves ou improvisos. Baseia-se no aconchego 
proporcionado pela voz da mãe ao entoar a cantiga de ninar. É a 
entrega ao mundo dos sonhos e ao contato íntimo com o inconsciente 
(CHAGAS, 1997). 
 
Barcellos (1980) adverte que a utilização da voz em atividades 
musicoterapêuticas deve ocorrer de forma criativa advinda de sons pré-vocais 
e vocais, explorando o canto e a palavra falada. Diz ainda que ambos atuam na 
respiração, fala, linguagem, autoexpressão, criatividade, descarga, canalização 
de energia agressiva e liberação de conteúdos internos. 
Dessa forma, através da proposta musicoterápica da voz, é possível 
perceber a história do indivíduo, sua personalidade, necessidades afetivas, 
possibilidades criativas e expressivas, além de conduzir a pessoa a um 
crescimento interior (CERQUEIRA, 1996). 
Sob essa lógica, a linguagem do corpo e da voz é resultado de 
funções motoras e sensitivas comandadas pelo cérebro (BEUTTENMÜLLER e 
LAPORT, 1992). A voz identifica o homem quanto a sua idade, sexo, 
procedência, características de personalidade, entre outras (FERREIRA, 2000). 
 
METODOLOGIA 
 
O presente estudo foi desenvolvido com base em objetivos 
exploratórios e descritivos. Torna-se imprescindível esclarecer que a pesquisa 
exploratória possui um planejamento flexível, o que permite a análise do tema 
sob diversos ângulos e aspectos. Tem como finalidade proporcionar mais 
informações sobreo assunto investigado. Contrariamente a essa abordagem 
metodológica, nas pesquisas descritivas os fatos são observados, analisados, 
classificados e interpretados sem a interferência do pesquisador (PRODANOV 
e FREITAS, 2013). 
Classifica-se ainda como estudo de casos múltiplos o qual se 
caracteriza por ser um modelo de investigação empírica de um fenômeno 
dentro de um contexto da vida real, seguindo um conjunto de procedimentos 
específicos com finalidades de descrever uma intervenção e o contexto da vida 
real em que ocorreu e explorar situações nas quais a intervenção analisada 
não apresenta um aglomerado simples e claro de resultados (YIN, 2001). 
Apresenta também abordagem qualitativa tendo em vista que 
pesquisa qualitativa considera que a subjetividade do sujeito não pode ser 
traduzida em números, assim como a interpretação dos fenômenos e a 
atribuição de significados que são básicas no processo de pesquisa qualitativa 
(PRODANOV e FREITAS, 2013). 
 A pesquisa se originou no decurso do estágio da pesquisadora, 
onde esta atendeu pacientes em diferentes localidades e com diferentes 
objetivos musicoterapêuticos. Houve atendimentos a domicílio (individual) e em 
empresa (coletivo). Foram requisitadas como sujeito incluso na pesquisa, 
aquelas pessoas que tiveram em sua vivência ou sessão musicoterapêutica, a 
voz como principal ou pelo menos um dos instrumentos utilizados durante o 
processo. 
Para a coleta de dados foram utilizados os relatórios de cada sessão 
os quais foram escritos pela pesquisadora, e uma entrevista estruturada, 
contendo quatro perguntas, realizadas pessoalmente a cinco pacientes, sendo 
as respostas gravadas em áudio, bem como foi apresentado o termo de 
consentimento livre e esclarecido – TCLE para todos os sujeitos. 
Torna-se imprescindível esclarecer que a musicoterapia é centrada 
na experiência do paciente, sendo esta utilizada como forma de metodologia 
primária. Existem na musicoterapia quatro métodos (improvisação, recriação, 
composição e audição musical) dentre os quais há variações para sua 
execução. Com o intuito de atingir o objetivo pretendido, o paciente é engajado 
nesses métodos pelo terapeuta que se utiliza de diversos procedimentos e 
técnicas (BRUSCIA, 2000). Ademais, deve-se mencionar o método 
denominado provocativa musical, é classificado como técnica por sua autora 
Lia Rejane Mendes Barcellos. 
Vale ressaltar ainda que os métodos predominantes utilizados nas 
sessões e vivências musicais dessa pesquisa foram recriação e improvisação, 
devido os objetivos pré-estabelecidos para as atividades musicoterapêuticas 
estarem orientados sob estas primícias, e devido ao fato de saber que tais 
métodos estimulam a liberação e auto expressão de conteúdos internos. 
 
Delineamento das vivência/Sessões Musicoterapêuticas 
 
Em relação ao formato das sessões musicoterapêuticas, os 
encontros individuais (a domicílio) duravam cerca de uma hora, acontecendo 
uma vez por semana, e ocorreu por um período de aproximadamente dois 
meses, totalizando oito sessões. A primeira etapa do processo musicoterápico 
é a anamnese e ficha musicoterápica, onde através destas pode-se avaliar as 
condições e queixas do paciente, permitindo assim, o planejamento e definição 
dos objetivos das sessões musicoterapêuticas para este paciente. Foi 
escolhida para participar da presente pesquisa apenas um paciente (por ser a 
pessoa que mais utilizou o recurso da voz) em atendimento individual 
domiciliar, denominada no presente relato por P1. 
As sessões seguiram a estrutura a seguir: 
 
 Relaxamento e alongamento corporal provenientes de 
exercícios de técnica vocal; 
 Dinâmica musicoterapêutica, a partir do fazer musical, 
utilizando a voz/canto e instrumentos percussivos e/ou 
melódicos (piano, no caso); 
 Momento de fala do cliente na compreensão da experiência 
musicoterápica; 
 Exercícios de técnica vocal baseados na respiração; e 
 Encerramento com fazer musical livre. 
 
Os encontros coletivos ou grupais (em empresa) duraram cerca de 1 
hora e meia e aconteceram como atividade/vivência musicoterapêutica dentro 
do planejamento da empresa. Foram escolhidos para participar da presente 
pesquisa os funcionários integrantes na atividade denominada “Musicoterapia e 
saúde da voz”, que tiveram disponibilidade de responder a entrevista. 
Denominaram-se nesse relato por P2, P3, P4 e P5. 
A vivência seguiu a estrutura a seguir: 
 Breve explanação sobre a importância do cuidado com a voz 
e sobre a musicoterapia; 
 Exercícios de técnica vocal voltados ao relaxamento e 
alongamento corporal (pés a cabeça); 
 Direcionar o entendimento de localização da voz (peito e 
cabeça); 
 Cantar juntos uma canção; incentivando-os a se expressar 
dançando, sorrindo, batendo palmas, da forma que 
quisessem. 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
As entrevistas realizadas com os pacientes permitiram a 
estruturação de dados que serão dispostos de forma textual, a partir das 
questões levantadas às quais serão escritas abaixo, bem como as anotações 
arquivadas pela pesquisadora no percurso de planejamento e realização das 
sessões. Ressalte-se que a consoante “P” seguida de numeração progressiva, 
representará as pessoas que responderam. 
“Como você se sentiu ao cantar nas sessões ou vivências 
musicoterapêuticas?” “Você preferiu usar os instrumentos disponíveis ou a 
voz”? Discorrem-se os textos a seguir: 
 
P1: No inicio senti vergonha; depois fui me acostumando e me 
sentindo mais confortável à medida que fui me soltando; foi libertador. 
 
P1: Eu sempre prefiro cantar. Mas nesses momentos de exposição, 
às vezes a gente que ficar escondida, preferindo se esconder por trás 
dos instrumentos, mas nas sessões foi bom. Eu gostei de usar 
ambos. 
 
Analisando a IV sessão feita com a P1, observa-se o efeito libertador 
que ela retrata em sua fala, pois nessa sessão, P1 foi estimulada, através da 
voz, a explorar alguns de seus sentimentos (dentre eles, a raiva), por meio da 
recriação musical, a partir de uma canção. Ao final da vivência, P1 afirmou ter 
sentido sua voz mais solta, diferente do início da sessão (no momento da 
vocalização) onde a mesma não conseguia alcançar as notas referentes no 
piano, relatando algo “preso” em sua garganta que a impedia de cantar. Disse 
sentir-se livre. 
Cabe destacar que técnicas verbais como “indagação” (BRUSCIA, 
2000) e consigna de apropriação da canção, dadas pela musicoterapeuta, 
conduziram a sessão. Na oportunidade a paciente P1 explorou potenciais 
emotivos através da sua voz, cantando a canção em alguns momentos e 
discursando de forma interpretativa a mesma canção. Chagas (2001) esclarece 
que no processo terapêutico, a pessoa não apenas canta uma canção, “mas se 
apropria dela”. 
É possível perceber também nas falas de P3, P4 e P5 (listadas 
abaixo) o quanto o cantar, o mover-se através da voz, permite uma descarga e 
liberação de emoções, sensações, e relaxamento do corpo como um todo. 
Tendo em vista o objetivo da vivência musicoterápica desenvolvida no grupo 
das P3, P4 e P5 ser diretamente relacionado à saúde da voz, bem como no 
reconhecimento da importância do cuidado com esse instrumento que para 
muitos desse grupo é uma ferramenta de trabalho, as falas dos pacientes 
corroboram com esse princípio, a partir do momento em que eles tomam 
consciência de si mesmos e refletem sobre suas rotinas diárias. 
 
P3: Eu achei muito legal. No momento em que eu estava cantando, 
sentia uma paz, uma coisa bem gostosa mesmo. 
 
P4: Eu não sou muito de cantar. Mas naquele dia foi bom por que deu 
uma leveza, aprender aqueles exercícios que você ensinou. Foi 
diferente.P5: A princípio eu fiquei um pouco com vergonha...aí após você ter 
mostrado que a gente também pode cantar eu me senti mais tranquila 
e com vontade de cantar mais vezes. O estresse foi embora, me senti 
uma nova pessoa, como se eu tivesse vestido um novo corpo, uma 
nova alma. 
 
Sob essa ótica, ao fazer uma análise a partir da fala da P5, a 
percepção do poder da voz, no sentido de enxergá-la como instrumento 
presente em seu corpo o qual se move junto com ele, sem a preocupação com 
a exigência da afinação ou performance, mas apenas soltar sua voz de forma 
livre, compreendendo-se que cada indivíduo traz consigo uma identidade vocal, 
com timbre e nuances particulares. Nessa perspectiva, entoar uma canção lhe 
trouxe um exercício clarificador, no qual o ato de cantar possibilita a 
mobilização emocional, permitindo ao paciente a exposição de seus conteúdos 
internos (MILLECO FILHO et al., 2001). 
A voz e o próprio corpo são considerados as principais ferramentas 
no jogo da improvisação. Nesse sentido, trabalhado em grupo, esse método 
exercita capacidades de percepção de si e do outro, abrindo espaço às 
semelhanças e diversidades (CRAVEIRO, 2000). 
“Como se sentiu ao fazer os exercícios de aquecimento e técnica 
vocal?” 
 
P1: Trouxe a percepção da respiração, a gente se sente melhor, 
ajuda no relaxamento corporal. E veio agregar à minha vida, pois 
pretendo fazer sempre, mesmo depois que acabar a terapia. 
 
P3: Eu achei muito importante. Em casa eu disse a meus filhos e fui 
imitar. Foi uma coisa que eu aprendi. Gostei muito. E passei pra 
dentro da minha casa. 
 
P5: É como se tivesse preparando algo que é necessário. Por que o 
falar é importante pra comunicação, e aí quando você não faz o uso 
de um trabalho ou de técnicas ou de algo que possa contribuir com 
sua voz, talvez prejudique sua voz...então, ter feito aqueles exercícios 
foi preparando tudo aquilo que eu ia colocar pra fora. Eles ajudaram a 
gente a expor com mais clareza, mais cuidado a voz. Naquele 
momento foi como se dissesse assim: acorda que tua voz é 
importante. 
 
Acerca dos benefícios de tais atividades Mcclellan (1994) diz que o 
uso da voz com intuito terapêutico pode resultar em uma percepção corporal 
mais aguçada, permitindo melhora da qualidade de vida da pessoa. Diante 
disso, vê-se na fala da P1 e da P5 um corroborativo dessa ideia, pois através 
de exercícios de aquecimento/relaxamento e apoio respiratório, bem como 
vocalizações posteriores, trouxeram a P1 consciência de si mesma, tanto no 
sentido físico como emocional. Confirmando essa transformação, tal paciente 
comentava, durante as sessões, esse equilíbrio que a prática das atividades 
lhe trazia, afirmando, assim, que daria continuidade a elas, mesmo após o 
término do processo terapêutico. Já a P5 despertou para os cuidados com sua 
voz, conscientizando-se da importância de exercitá-la para render-lhe uma 
melhora de desempenho e consequentemente qualidade de vida. 
A respiração é componente fundamental no que concerne a 
fisiologia da voz. O ato de cantar requer um trabalho consistente desse 
componente. Com isso observa-se que a musicoterapia aliada a essa prática 
tende a beneficiar significativamente o paciente que se propuser a 
experimentá-la. Acrescente-se a isso o fato de a respiração está associada ao 
próprio ritmo do corpo humano como um todo, condicionando dessa forma, a 
pessoa a se avaliar quanto a esse aspecto que pode ser tanto biológico quanto 
emocional/psíquico. 
“Quais benefícios as atividades musicoterápicas envolvendo a voz 
(sessões ou vivência) trouxeram para sua vida?” 
 
P1: Trouxeram benefícios como: tentar fazer as coisas sem se 
preocupar com os erros, simplesmente fazer, porque errar a gente 
erra de todo jeito, ninguém nasceu sabendo. E também a questão do 
sentimento, colocar força naquilo, aprender a diferença de fazer por 
fazer e fazer com energia que vai dar um resultado melhor. E também 
agregar isso ao meu dia-a-dia. Cantar num momento do dia, fazer 
algo musical como fazíamos nas sessões. 
 
P3: Eu aprendi e passei a fazer em casa os exercícios. Foi uma coisa 
muita boa. Meus filhos sempre me perguntam se não vou ensinar 
mais algum a eles. 
 
P5: Devido a minha profissão é uma necessidade minha cuidar da 
voz. Tentei fazer algumas vezes no dia-a-dia. A questão de parar no 
final do dia pra descansar a voz, a gente nunca tem atenção pra isso 
e é importante. 
 
Uma das queixas iniciais da P1 exposta na fase de anamnese era 
insatisfação pessoal e profissional. Mediante esse fato, observa-se em sua 
citação acima uma afirmação consciente de que ninguém está ileso ao engano 
ou erro e que apesar disso há possibilidades de encontros e acertos, se houver 
tentativa e, sobretudo vontade. Não se pode negar que essa visão 
proporcionou a P1 alívio em seu peso e na ansiedade com a tomada de 
decisões em sua vida. 
Mesmo sem estar certa do uso correto da técnica vocal, quando foi 
sugerida a cantar, P1 se permitiu fazer musical através da voz e isso lhe 
mostrou que ela é capaz de realizar e de escolher realizar. Na sua V sessão, 
ela cantou uma música a qual a musicoterapeuta ao observá-la notou toda a 
emoção e força que P1 expressou no ato de cantar. Era uma canção 
representativa de si mesma (para P1) e ao partilhar sobre essa experiência, P1 
se viu no que cantou, se presenteou com aquela canção. 
A P2 afirmou, em sua fala, que os exercícios de respiração a 
ajudaram no sentido de se controlar em determinados momentos da rotina, por 
exemplo, em acessos de raiva, lembrar-se de respirar fundo, equilibrando o 
pensamento mediado pelo relaxamento que esse ato remete. 
Costa (1989) aponta que a expressão dos conteúdos internos 
emergentes nas canções entoadas pelos clientes, é uma ação conectada ao 
processo psíquico que se desenvolve naquele instante na mente do cliente, 
onde este mesmo faz suas escolhas de forma livre. Cabendo então ao 
musicoterapeuta compreender o que está sendo comunicado pela pessoa, 
através da linguagem da música. 
A musicoterapia realiza-se através de experiências musicais com 
finalidades musicais e não musicais. Os campos cognitivos e estéticos estão 
em ação, construindo um alicerce consistente para a compreensão do valor 
clínico da música de acordo com a concepção Musico Centrada (AIGEN, 
2015). Não obstante, resguardando sempre o cliente na sua busca e 
perspectivas. Como esclarece Piazzeta (2010) “estar com o foco no processo 
artístico e não no produto artístico torna as experiências de recriação musical 
um ambiente flexível e seguro”. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A pesquisa em questão trouxe possibilidades de enriquecimento de 
informações para a literatura acadêmica, no que concerne a temática 
abordada, considerando ser a voz na musicoterapia um instrumento pouco 
abordado e estudado, segundo as escassas bases teóricas encontradas no 
decurso da pesquisa para a composição do material aqui elaborado. 
Importante destacar que a voz por ser um instrumento permanente 
no contato com seu desfrutador é muitas vezes negligenciada como ferramenta 
merecedora de atenção, zelo, estudo, percepção e técnica. Através do 
presente trabalho, foi possível observar isso, não apenas por parte da 
pesquisadora, mas também por parte dos participantes que em suas próprias 
falas, pontuaram tais questões. 
As experiências musicoterápicas baseadas no uso da voz, 
vivenciadas pelos participantes desse relato, lhes beneficiou enquanto pessoas 
e profissionais, ajudando-os a perceberem não apenas seu corpo, mas 
algumas de suas potencialidades. 
Por fim, entende-se que muitos estudos serão necessários para 
aumentar o acervo de conhecimento a cerca dessa temática dentro damusicoterapia, a fim de para esclarecer de forma mais aprofundada os efeitos 
desse instrumento tão acessível e mutável na vida humana. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Argentina. v.12, n.2, 1955. 
 
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BARCELLOS, L. R. M. Atividades realizadas em Musicoterapia. Rio de 
Janeiro, 1980. 
 
BEHLAU, M.; AZEVEDO, R.; MADÁZIO, G. Anatomia da laringe e Fisiologia da 
Produção Vocal. In: BEHLAU, Mara. Voz - O Livro do Especialista. Rio de 
Janeiro: Revinter, 2001. 
 
BEUTTENMÜLLER, G.; LAPORT, N. Expressão Vocal e Expressão 
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Fernandez Conde. 2ª ed. Ed. Enelivros. Rio de Janeiro, 2000. 
 
CERQUEIRA, C. M. Afinação Global- Corpo, Voz e Emoção- Uma proposta 
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CHAGAS, M. Ritmo, Som, Vida. Revista de Cultura e Vozes, Energia e Cura. 
v. 84, 1990. 
 
CHAGAS, M. Musicoterapia e Psicoterapia Corporal - Aspectos de uma relação 
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1997. 
 
CHAGAS, M. Cantar É Mover o Som. In: II Fórum Paranaense de 
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MCCLELLAN, R. O Poder Terapêutico da Música. Tradução de Tomás Rosa 
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MILLECO FILHO, L. A. et al. É preciso cantar – musicoterapia cantos e 
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Monografia (Graduação em Musicoterapia) – Faculdade Paulista de Artes, São 
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PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho Científico: 
métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2 ed. Novo 
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SCHARRA, D. M. F. A Voz Em Musicoterapia - A Educação Vocal Na 
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Monografia de conclusão de curso (Pós-graduação em Musicoterapia) – 
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