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BERNARDO DEGOUVEIA SANTA BARBARA n" 10911 ENITA LEITE DE LIZ n" 10008 GIOVANA VELOSO MUNHOZ DA ROCHA n" 10491 GISELLE VON EYE n" 10494 LUCIANA DE VIVO RIBEIRO n" 10551 MARIA CRISTINA BONATTO TREVISAN n" 10555 MARY TAKEMORI n" 784 ESTUDO DE CASO <1iNICO EM GESTALT-TERAPIA Monografia de Estudo de Caso Clinico apresentada ao Curso de Formayiio de Psic610gos, do Departamento de Psicologia da Universidade Tuiuti do Parana pelos discentes do grupo "1", supervisionados pelo professor e psic61ogo Francisco Mario Pereira Mendes CRP 08-1774, em cumprimento as determinal'oes legais. CURITIBA 1997 SUMARIO INTRODUi;AO .. JUSTIFICATIVAS LEGAlS. FUNDAMENTAi;Ao TEORICA. Conceitos Fundamentais .. o todo e a parte .... Rela,iio figura e fundo .. Aqui-e-agora .. Self .. Self-suppot . Homeostase .. Fronteira de Contato . Conceito de Doen,a ... As Camadas da Neurose .. . 01 ..... 02 . .. 03 . .. 15 ..15 . 15 . 16 . 17 . 19 . 19 . 19 . 29 . 21 . 22 . 23 . 23 . 24 . 25 . 26 Cicio de Contato ... Awareness, conscientizac;:aoau tomada de cantato .. Experiencia .. Responsabilidade .. Espontaneidade .. o Paradoxo da Mudan,a . Mecanismos de Defesa.. . 27 Quem eo Gestalt-terapeuta e Como Trabalha Em Sua Arte.. . 31 vii A RelaC;8o Terapeutica na Gestalt-terapia .. Recursos Gestalticas .. Presentificac;ao. urn exercicia de awareness .. Identifica<;ao .. Troca de Papeis au Monodrama ... Dramatiza<;ao .. Viagem Fantasia .. Amplifica<;ao .. Cadeira Vazia .. Expressao Metaf6rica ... Desenha .. Tra<;o a Completar .. Massa de Modelar .... Colagem .. Banecas ... Sonhos .. Feedback .. IDENTIFICAc.;Ao DO CLiENTE .. HISTORICO PESSOAL.. IDENTIFICAc.;Ao DO PROBLEMA .. PADRONIZAc.;Ao DO CASO .. DlscussAo ETIOLOGICA .. SUGESTOES DE MANEJO .. AVALlAc.;Ao TERAPEUTICA .. CONCLUsAo .. viii ....... 34 .. 36 ............. 37 .37 . .... 38 .... 38 .. 39 .. 39 . 39 ...40 ......... 40 ...41 .. 41 . 41 .. 42 . 42 .. 42 . 43 ........... 44 .. 47 .. 51 . 62 . 66 .. 70 .. 73 ANEXOS REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ix 'l~'ZcotOgiaCfi'nica 'fltBtuao rfe Caso em (.jcsta(t-tcrapia INTRODUC;AO o presente trabalho relata uma experiimcia clinica sob enfoque da Gestalt-terapia. o atendimento foi realizado par um academico do quinto ana de Psicologia, supervisionado par um Gestalt-terapeuta e observado em sala de espelho pelos demais integrantes do grupo. o processo psicoterapico baseou-se na premissa gestaltica de que todo ser-humano possui em si instrumental para sobrepor-se as dificuldades emergentes no decorrer de sua existencia. Quando 0 indivlduo busca recursos para enfrentar obstaculos apenas no meio externo esta ilustrada a falta de suporte interno. Todo trabalho realizado com a cliente objetivou a (re-)descoberta deste instrumental nela mesma, para que pudesse reconhecer sua existencia como uma experiencia singular. Psicofogia Cli'nica Y''Btutfo at! Caso em ~;t'Stalt-terapia JUSTIFICATIVAS LEGAlS Com a finalidade de atender as exigencias legais, realizou-se a estagio supervision ado para a obtenl'ao do titulo de psicologo pela Universidade Tuiuti do Parana Exigencias que constam de : a) Lei 4.119 de 25 de agosto de 1.962, que disp6e sobre cursos de formal'ao de Psicologia e regula menta a profissao de Psicologo; b) 0 Decreto 53.464 de 21 de outubro de 1.964, que regulamenta a Lei supra citada; c) 0 parecer do Conselho Federal de Educal'ao n029.262, no paragrafo (jnico que diz: •... e tambem obrigatorio sob forma de estagio supervisionado a pratica das materias que sejam objeto de habilitayao profissional." 'l':iicofogia C[£nica If'Estwfo Ife OLW em ~;l!Stalt-terapia FUNDAMENTAC;:AO TEO RICA " Ser livre nao e fer 0 poder de fazer nao importa 0 que, e poder ultrapassar 0 dado para um futuro aberto." (Simone de BeaUVOir)f: Muito mais do que uma abordagem a Gestalt-terapia representa urn estilo de vida, que tern sua ontogenese em pontos comuns com as escolas fenomenol6gica, existenciali5ta e humanista. A fenomenologia postula a no<;iio de intencionalidade, na qual toda consciencia e intencional e tende para algo fora de 5i, sendo sempre a consciencia de alguma coisa. Consciencia e fen6meno na~ podem ser pensados isoladamente. Segundo este pensar nao existe objeto em si, este e sempre para urn sujeito que Ihe da significado. Preocupa-se com a descri<;iio da realidade, tendo como princfpio da refiexao 0 homem e sua experiencia. Aranha e Martins escrevem . "Nesse sentido a fenomenologia e uma filosofia da vivencia."l Questaes levantadas pelos pensadores fenomenologicos, tais como a importancia da vivencia imediata, a supremacia da descri98.osobre a explicaC;8o, a fato de que a percep9ao e submetida a fatores subjetivos irracionai5, e a urgencia de conscientizar-se do proprio corpo e da experiencia, culminam nos seguinte5 canceitos gestalticos: 0 como precede 0 parque, 0 pracesso no aqui-e- agora, 0 sentido unico que cada indivfduo confere ao mundo e a experiencia fmpar de cada ser humano. I Aranha e !\lanins, Filosof:mdo, illtrodu~:io:1 filosofia. Sao Paulo, 1993. P.304. 'l'sicowgiil Cli'lIica 'P'Estuao 1ft. Casoem yWQ{t-tcrapiil A maxima "A existencia precede a essencia~ reflete 0 pensamento no qual a essencia e 0 que faz com que uma coisa seja 0 que e. 0 homem. portanto, primeiro existe, para entao definir-se. Os existencialistas incluem-se neste pensar. que ate entao havia side objetivo e distante do vivido. St6rig2 resume os sete principios basicos do existencialismo: 1.A existencia e a do ser humano, sendo assim esta constitui-se numa filosofia humanistica. 2.Existencia e sempre existemcia individuaL A enfase e na existencia individual concreta. 3.0 ser humane nao pode ser medido em categorias materiais. Ele e sua propria medida. Nao possui, como por exemplo os objetos, caracteristicas definidas. ele e que se faz (principio da auto-responsabilidade). 4. 0 metodo dos existencialistas e 0 fenomenol6gico. S.A filosofia existencialista e dinamica, a existencia e compreendida nao como ser imutavel e sim como ser no tempo. S.A existencia humana e sempre urn User(estar)-no-rnundoft e e sempre urn "ser(estar)-com-os-outros". Os existencialistas nao sao individualistas. Tomam a existencia humana como unidade com dais p6los: "existencia humana como existencia individuar e ~existencia humana como ser(estar)-com-os-outros" 7.0 pensamento da psicologia existencialista reveste-se de urn cunha muito pessoal e determinado pela vivencia. 0 que e tambem caracteristica da psicologia hurnanfstica. 2 Storig, 1974. vol.2. p.293 2'sir.o[ogitlClInir.a lJI'EstuAO rfe Casoemljestaii-terapia Sartre, expoente existencialista, demonstra muitos dos principios acima citados em sua conhecida premissa: "0 importante nao e 0 que fazem do homem, mas 0 que ele laz do que fizeram dele." Do existencialismo a Gestalt apreende: a originalidade da experiemcia individual, a noc;ao de responsabilidade que cada um deveria ter sobre seu projeto existencial e a relativa liberdade para realiza-Io, a vivencia concreta que possibilita ao homem experimentar, assumir, orientar e dirigir sua existencia em busca da auto-compreensao_ Outra grande infiuencia solrida pela Gestalt vem da psicologia humanistica, que surgiu como uma rea~o a desumanizac;:aoe massificac;aodos individuos no seculo XX. Este movimento prega a vivencia como fen6meno primario no estudo do ser humano. He valoriza9iio da capacidade de escolher, da criatividade, da avalia9!io e da auto-realiza9!io. A objetividade Ii substituida pelo sentido dos fatos. o pensamento centraldos humanistas e de que deve-se subsidiar 0 valor e a dignidade do ser humano, instrumentalizando-o para 0 desenvalvimento de suas lor9as e capacidades. Heidegger3 pronunciou: "Estamos ainda lange de pensar, com suficiente radicalidade, a essencia do ser. Conhecemos 0 agir apenas como produzir urn eleito. Sua realidade eletiva Ii avaliada segundo a utilidade que oferece. Mas a essencia do agir e a consumar. Consumar significa: desdobrar alguma coisa ate a plenitude de sua essencia; leva-Ia a plenitude: producere. Par isto, apenas pode ser consumado, em sentido propria, aquila que ja e. 0 que todavia, ja e, J KofiKa, Kun. IS-S. P :::!9. 'l'sico{ogiD.ClilJica lJI'EJtudO Ife Casoem~i~talt-terapia antes de tudo, e 0 ser. ~ E e este ser que eansuma a propria existeneia. ou seja, utiliza sua potencialidade, 0 objetivo da Gestalt-terapia. Friedrich Satomon Perls, 0 pai da Gestalt-terapia, por alguns considerado loueo e por outros, genia, foi dono de inegavel eriatividade. Junto com seus eolaboradores, Laura Perfs e Paul Goodman, produziu e disseminou principios de uma terapia do cantato. Terapia na qual 0 individuo e respeitado como ser unieo, dono de incomparavel capaeidade para ser espontaneo e feliz. Ponciano fala de Fritz Perls e da importancia de suas experiencias na formula<;ao da teoria: •...a Gestalt-terapia e uma Gestalt do homem. Ela nao e um eeletisma vazio ou ilogico, mas uma sintese pensada e refletida do homem, assim como ele e visto, sentido e como foi visto pelo fundador da Gestalt-terapia. Ela e uma configurac;ao do ser. Ela procura cansumar a essencia. ~4 Ja 0 proprio Friedrich Salomon Perls descreve sua evolu<;ao partindo de ~um obscuro menino judeu classe media, passandc por urn psicanalista mediocre ate chegar ao pcssivel criador de urn ~novo" metcdc de tratamento e expoente de uma filosofia viavel que poderia fazer algo pela humanidade:' A vivencia de Perls proporcionou-Ihe amar e odiar a pSicanalise, identificar-se com a analise de carater, e finalmente, f1uir com a Zen-budismo. A pSicanalise trata 0 psiquismo como algo isolado do organismo e a associa9ao pSicol6gica segue de maneira linear. Fritz pensa 0 organismo holistico e a associa<;ao livre atraves da teona do campo de Kurt Lewin· 4 Ribeiro. Jorgc Ponciano.GestalHerapia. refazendo 11m caminho. Sao Paulo. 1985. r.114 ~Peds. Fritz. Esc~rafllnchando Fritz. Sao Paulo. 1979. P.I L (, Kun Lewin (1890-1947) roi alcm da tcoria da Gestalt para uma tCOliageral do campo psiquico, que postulou a intcrdependcncin entre 0 individuo e seu meio social. e culminou nn cria~ao da dimlmica de grupos. Lewin paniu da teoria do campo eletromagnetico de Maxwell, cOTTelacionando-aaos trabalhos de Minkowski relativos aO espa(,:(}-tempopsico16gico, e finalrncllIc, integrando estas aos conceitos psicanaliticos. Gcneralizou hip6teses do campo individual para 0 psicossociaJ. Atualmcnte intcgra-se a tcoria de campo it tcoria gcral dos sistemas PsicologinC/ulita 'P'Bluoo IfeCasoem gestaft-terapill Os psicanalistas consideram 0 sujeito partindo de causas passadas e seus porques, a Gestalt ve e sente a pessoa na realidade presente e visa compreender 0 como. A despeito da repulsa que Perls desenvolveu par Freud, a Gestalt nao e aquele, e nem a psicanalise e este. Portanto, ha inegaveis contribuic;6es psicanaliticas incidindo sobre a Gestalt-terapia, tais como: encorajar a transferencia, a regressao, a compulsao a repetic;ao, a catexia, a libido, a associac;aolivre, a consciencia, eo enfoque sobre a resistencia. (vide anexo 1) Os gestalt-terapeutas acreditam que a resistencia nada mais e do que a fuga da conscientizac;a,o.Conscientizac;a,oque tarnbam se faz necessaria em rela9ao ao corpo. E para que se fale da importancia do corpo na Gestalt-terapia e preciso descrever a influencia exercida pela teona de Wilhelm Reich. Segundo Reich 0 carater e composto das atitudes rotineiras e do padrao de respostas de uma pessoa, logo inclui atitudes e valores conscientes, estilo de comportamento e atitudes ffsicas. Estas atitudes ffsicas sao observadas na postura enos habitos de movimentayiio e manifestayiio do corpo. "0 "como': isto e, a forma do comportamento e das comunicar;:oes era muito mais importante do que 0 paciente dizia ao analista. As palavras podem mentir. A expressao nunca mente." 7 o corpo humane foi descrito par Reich como 0 retrato fisico da psique e 0 caminho atraves do qual 0 terapeuta pode alcan9ar 0 psiquico. Seu metodo consistia em procurar afastar os mecanismos de defesa corporais para entao buscar 0 total desenvolvimento da potencia orgastica. 7 Reich. '.Vill-.::-im.Analise do Caratcr. Ponugal. 1972. Pp.428-429. '.P5irO{OgiaGil/ira II''Btulo de Coso em tjestaft-tcrapia Perls e Reich concordavam na visao que tinham do homem, na questao do corpo e na atitude existencial.(vide anexo 2) o criador da Gestalt-terapia escreveu: " Wilhelm Reich foi 0 primeiro a chamar minha atenyao para urn aspecto extremamente importante da medicina psicossomatica: a funyao da musculatura como couraga.~8 Fritz ja havia fechado muitas gestalts quando reconheceu que a teoria da Gestalt-terapia tinha muitas coisas em comum com filosofias orientais tais como o Taoismo e 0 Zen-budismo. Estudou, entao, 0 Zen, que completou 0 sistema gestaltico proporcionando 0 fechamento-aberlura de mais uma gestalt. o Zen nao incidiu na terapia gestaltica como uma religiao, mas sim como uma maneira de estar na realidade e 8 ela reagir. Influenciou no sentido de abertura, de abandono a si proprio, de nao ser dominado pelo pensamento (racionaliza9ao) e da fuga dos rituais, do re-descobrir 0 corpo e as emo90es, da nao antecipac;aodos fatos e de nao permitir a auto-interrupgao. E do contato com 0 Zen que Perls proleriu: "Consentir a propria marie e renascer, nao e faci!." 90 que quer dizer que ambos os processos fazem com que 0 individuo reconheg8-se como uma nova pessoa, percebendo suas potencialidades e Iimita90es e podendo responsabilizar-se p~r isto; e a tomada de posse do individuo par si mesmo. A Gestalt nao trabalha com a problema em si, mas com a energia nele presente; na~ extirpa urn sentimento, mas ensina a lidar com ele, com 0 que representa este sentimento, com a energia que oculta e revela ao mesmo tempo. "0 Zen insiste eonstantemente aeerca da importfmeia da arte de viver integra/mente, presentes no presente, despojados das /i90es e tensoes do 8 Fadiman. James & Frager, Roben, Teorias da Personalidude, Sao Paulo, 1986. p.129. Psicofogio. C(inica 'f'Btutfo ae Cruoem (;estali -terapio. egofsmo; sempre disponfveis para a linguagem incessantemente nova dos fatos. ,,10 Tanto pensadores Zen, como gestalticos, acreditam que a frustra~o e necessaria ao cresci mento, assim como e precise sentir mais e pensar menos. Divulgam a continuo cresci mento, a continuo desenvolvimento da liberdade pessoal, da criatividade e do sentido do poder e dos limites. Para Perls 0 homem somente transcende a si mesmo atrav8s de sua real natureza. Nao pode ser diferente daquilo que e sua natureza, pois isto seria condenar-se ao fracasso existencial. Deve sim, conhecer sua natureza e permitir que ela fiua. 0 homem e a que e, e a melhor que pode fazer a si proprio e ser plena mente ele mesmo. Apesar de todos as antecedentes e infiuencias sofridas par Fritz Perls, a cria,ao sistematizada da Gestalt-terapia deu-se a partir de principios e fundamentos da PSicologia da Gestalt. Importante ressaltar que a cronologia da criaC;ao da Gestalt-terapia e circular, eventos simuJtaneos influenciaram-na e contribuiram para sua composi~o. Gestalt e uma palavra alema para a qual nao ha equivalente na lingua portuguesa, ela quer dizer: disposic;ao ou configuravao, uma organizac;ao especifica de partes que constitui urn todo distinto,forma. A Gestalt Psicologia configura-se no inicio do seculo XIX, na Alemanha e na Austria como uma reac;ao aos pontos de vista atomisticos da psicologia estrutural e da psicologia associacionista. Seu precursor foi Max Wertheimer, que em 1912 publica a experimento no qual trabalhou com Wolfang Kohler e Kurt Kofka. Atraves deste experimento concluiu-se que a percepc;ao do movimento 9 Perls. Gestalt-tempia cxplicada. Sao Paulo, 1977.p.7. PSicofogio (1inica 'f'Btuao ae Caso em fjt!Staft-terapia 10 depende das caracteristicas relacionadas aos estimulos e da sua organizac;ao neural e perceptiva nurn unicocampo. Nas decadas de vinte e trinta a Gestalt Psicologia foi aplicada ao estudo da aprendizagem, resoluyao de problemas, motiva<;iio, psicologia social e a teoria da personalidade. Para tais estudos postularam-se as leis gestalticas, que mais tarde serviriam de base para os conceitos da Gestalt-terapia. A lei gestaltica da dinamica entre figura e fundo, explica que os organismos adaptam-se para alcanc;ar sua organizaC;aoe equilibrio 6timos, e que um dos aspectos desta adapta<;iioenvolve a forma pela qual um organismo, num dado campo, toma suas percepc;oessignificativas, ou seja, a maneira como distingue figura e fundo. 0 organismo seleciona 0 que e de seu interesse (figura) num dado momento. Ora 0 que e figura no campo de percepyao do individuo torna-se, em outro momento, fundo e vice-versa_ A figura nao e uma parte isolada do fundo, ela existe no fundo, e este revela-a e permite-a surgir. A lei gestaltica da semelhanya relaciona-se a tendencia de se perceber coisas que de alguma forma se assemelham como padrao, e a lei da proximidade aplica a esta mesma raz80 em relaC;8oaos objetos que encontram- se rna is pr6ximos uns dos outros. A lei da pregnancia ou boa forma diz que percebemos um padrao de maneira a emprestrar-Ihe a melhor gestalt possivei. 0 fato de que linhas totalmente fechadas de uma figura, sob circunstimcias identicas, sao mais facilmente tom ad as como unidade do que se nao estivessem fechadas, define a lei gestaltica do fechamento. JO Benavides. \977. p.\56. Psic%gw ('[[nica 'P'[.Slut(O ae Coso em ~;t.5taft-tera_Dia 11 Outra conceito de suma importancia para a explicac;ao desta teeria e 0 de campo. Campo e um todo de fatos simultaneos que podem ser compreendidos ao mesmo tempo e de maneira exclusiva. Os Gestalt Psi co logos acreditavam que 0 comportamento individual era resultante do campo que 0 individuo podia perceber. Os erras ou enganos eram considerados consequencias da percepgao defeituosa do campo. o conceito gestaltico de homeostase fala que este equillbrio e inerente ao erganismo humano. 0 desequilfbrio e ocasionado per varias influemcias da sociedade ou do proprio erganismo. A Psicologia da Gestalt defende a enfase no presente pressupondo que todos os latores que influenciam a dinamica dos campos de percep~ao e de atuac;ao relacionam-se com a atuac;ao presente do homem em seu campo. Segundo a Gestalt a aqui e agora contem e explica a rela~o do individuo com a realidade como um todo. 0 que e percebido no agora pode ser explicado pelo propria agora, sem recorrer a experiencias passadas de percepc;ao. A realidade difere das expectativas que a precedem. "Embora, por volta de 1940, a teoria da Gestalt}a tivesse sido aplicada em muitas areas da Psicologia, foi em grande parte ignorada no exame da dinamica da estrutura da personalidade e do crescimento pessoal. Alem do mais, ainda nao havia nenhuma formulaq80 de princlpios da Gestalt especificos para a pSicoterapia. Assim, e a partir desse ponto que podemos comeqar aver 0 papel de Fritz Peris, responsavel pela ampliaqao da teoria da Gestalt a fim de incluir a pSicoterapia a uma teoria de mudanr;a psicoJ6gica. ,,11 II Fadiman. James & Frager, Robert, Teorias d3 Personalidadc, Sao Paulo. 1986. p.131. PSicofogw CUnicn II''Eslutfo oe Caso em Cjestaft.ferapw 12 E uma afirmativa da Gestalt-terapia que a indivfdua deve ser vista como urn todo e que a compreensao de seu comportamento e possibilitada se 0 mesmo for vista dentro de um determinado campo, com 0 qual relaciona-se no contexto total. 0 campo psiquico descrito par Kurt Lewin e formado pela interdependencia entre a pessoa e seu meio social. A Tearia do Campo revela que 0 mesmo possui regioes diversas, tais como: perceptiva, motora e intrapessoal. Estas comunicam-se entre si, e a comunicayao, par sua vez pode produzir: altera90es nas regioes, diferencia9ao de Iimites entre zonas, maior ou menor enrijecimento de uma regiao e reestruturac;aodo espac;ovital.12 Ocampo lewiniano revela a pessoa como urn universo fechado, que por sua vez encontra-se obrigatoriarnente dentro de um universo mais amplo, e ambos universos se inter-relacionam ininterruptamente. E e dal que se distinguem duas propriedades: diferencia9ao e rela9ao parte-todo. A diferencia9ao e a separa9ao do resto do mundo par meio de um limite continuo. A relac;aoparte-todo e a inclusao da pessoa nurn universo maior. Ao mesmo tempo que a homem individualiza-se, ele inclui-se nurn universe mais amplo. o principia f1uidez-rigidezdescrita por Lewin diz que 0 meio f1uidoe aquele que responde prontamente a qualquer influencia que recaia sabre ele, logo, a e f1exfvele intluenciavel, e a rigido e resistente a mudanC;8. A locomoyao, conceito proprio da Teoria do Campo, ocorre no meio psicol6gico. e e uma relac;aodinamica entre dais fatos au acontecimentas em 11 Esta reestrutura"iio signitica um novo campo em rela"ao a um falo. ou acontccimento. ou novo modo de lidar consigo proprio T.<ieo(oginCHniea'f/'Bttllfa "Caso emyestali-terapiil 13 interagao. Para que exista urn acontecimento e preciso que haja interagao dos fatos. Ha tres principios que caracterizam 0 campo: 0 da conex8o, 0 da concre980 e 0 da contemporaneidade. 0 primeiro fala que a conex8o aconteee pela interal'ao de dois fatos. 0 segundo afirma que s6 fatos concretos no espal'o vital podem produzir efeitos. E 0 terceiro diz que s6 os fatos presentes podem criar um comportamento atual. Alem dos conceitos estruturais aeima citados existem as dinamicos, que tambem influenciaram a Gestalt-terapia: energia, tensao, necessidade, valencia, forl'a ou vetor. A energia pode s8r, par exemplo, psiquica como a emOy8o. Trabalhar uma energia signifiea atingir um campo. Tensao e urn estado alterado de uma regiao em relag80 a Dutra regiao. 5e uma tensao ou uma energia diferencia-se em uma determinada regi80 e parque surgiu uma necessidade, que se satisfeita faz com que 0 campa recupere 0 equilfbrio. 0 conceito de valencia esta ligado ao valor que se da a uma determinada necessidade. As forl'8s psicol6gicas do meio que atuam sabre a pessoa, neste caso, sao as vetores; a forc;a esta ligada a necessidade que existe par tras de uma tenseo, ocarrendo no meio psicol6gicQ, enquanto a ten sao esta no sistema intrapessoaL A Psicologia da Gestalt absorveu muitos conceitos da Teoria Organismica de Kurt Goldstein, que tenta reduzir a divisao cartesiana do indivlduo em mente e corpo e a atomiza9§0 da mente proposta por Wundt propondo um modelo no qual 0 homem e um todo unificado, um campo integrado e nao uma cisao de sentimentos, sensac;6ese imagens. Psicofogin C(mica !f''fslw{o ae Casa em tjcstaft-tcrapill 14 Goldstein concluiu que um sintoma nao poderia ser compreendido apenas atraves de uma Iesao organica, mas propunha pensar 0 organismo como um todo. Segundo uma visao organismica 0 individuo e uno, integrado e consistente, auto-regula a si mesmo em busca da atualiz8c,;:ao, embora pec,;:ae receba influencias positivas do meio externo; 0 organismo e um sistema organizado, com 0 todo diferenciado em suas partes. "0 organismo e uma s6 unidade; 0 que ocorre em uma parte, afeta 0todo."" Paul Goodman, 0 primeiro teorieo da Gestalt-terapia, ao formular sua teoria do self, pensa um seriestar holisticc, no qual as func;iio fisiologieas, psiquicas, afetivas e 0 proprio corpo dependem mutuamente uns dos outros. Considerado um dos mais criativos pensadores american as deste sekula, diretor dos dois primeiros institutos gestaltieos (0 de Nova lorque, fundado em 1952, eo de Cleveland, em 1954), principal teorieo do "Grupo dos Sete", Paul Goodman esereveu que a pSieopatologia estuda a interrupc;iio da inibigiio ou outras "falhas" na eriatividade e espontaneidade. Partieipou, junto a Fritz e Ralph Hefferline, na elabora9iio do que culmlnou como a "biblia' da Gestalt-terapia. "Gestalt-lerapia", 0 livro, foi publicado pela primeira vez em 1951, trazendo al8m de conceitos, relatos e comentarios de experimentos gestaltieos. Eo nesta obra que Goodman expoe a leoria do self. o self e descrito como 0 proeesso permanente de adaptac;iio eriadora do homem ao seu meio interno e externo. RefJete-se na maneira particular que cada pessoa utiliza para expressar-s8 em seu contato com 0 meio. IJ Hall & Lindzey. 1971.p.332. Ps~olOgiDClin~a 'I"Btuio rle CasoemIje.stau-te"pia 15 Depois da obra aeirna citada muitas Qutras obras vieram, na tentativa de explicar algo que 56 e compreensivel pela propria vivencia. Pode-s8 entaD, dizer que Gestalt-terapia e uma terapia do contata, da experiemcia, das percepc;6es, do auto-conhecimento, da auto-satisia9ao e da vida. CONCEITOS FUNDAMENTAlS PARA 0 EXERCiclO DA GESTALT-TERAPIA o Todo e a Parte Uma gestalt e urn todo, e na perceP9ao a todo precede a parte. Isoladamente cada parte tern suas propriedades, mas na soma das partes ha uma caracteristica mar, propria desta adi9ao: "0 todo e diferente da soma de suas partes". o individuo nao e apenas urn produto proteico somado a descargas eletricas e meio ambiente. Ele e a intera~o de seu organismo, seus pensamentos, sensac;oes, emoc;6es, linguagem e ayees e como estes interagem com 0 mundo. A propria Gestalt-terapia naD e uma soma de seus conceitos, ha urn campo no qual S8 desenvolve e configura-s8 como tal. Procura trabalhar com a cliente e a re18<;8,0 terapeutica como urn todD. Rela9ao Figura e Fundo Urn fen6meno observado nunca e uma realidade per se, mas sim uma inter-relacyaoentre a fenomeno e seu observador. a fen6rneno observado e a figura, que nao existe isolada, mas surge de urn fundo. P5icolOgiil Cfinica Y''Estud'o le Ca.so em Ije.staft-terapiil 16 Figura e fundo alternam-se no campo perceptual do cliente; 0 que em alguns momentos e fundo, em outros e figura. Uma figura pode tornar~se fundo porque fechou-se uma gestalt consequentemente a resoluyao de algo, au nao tendo suporte para completar uma configuraCY80, a indivfduo nomeia uma nova figura e torna fundo aquilo que nao pode ser trabalhado no momento. Parafraseando Ponciano Ribeiro: "Em Gestalt se afirma que 0 ciiente e sempre figura e 0 psicoterapeuta, fundo. 0 cliente e figura porque e ele que deve surgir como diferenciado na configuraq8o e porque e sua comunicagao que vai apontar 0 caminho de uma procura mais ampla.( .. .)na relagao psicoterapeutica e a relagao entre figura e fundo que erie organizaqao." Aqui-e-agora Estar no aqui-e-agora significa que este momento eontsm e explica a rela980 com a realidade como um todo. Passado e futuro sao examinados tendo- se em vista seu significado para a agora. Experiemcias opressoras que dificultaram a auto-realizaqiio atuam sobre 0 presente. uSomos simplesmente campeoes mundiais em fazer recriminaqoes atrasadas a nos mesmos porque deveriamos, em determinada situaqao, ter agido de forma diferente, pelas possibilidades que tivemos, pela nossa educagao que transcorreu de forma restrita etc. Tambem, par esbravejarmos contra 0 nosso destino au contra nossos erras no passedo, deixamos de dar etenqao e rea/mente viver e vivenciar aquilo que existe agora, no momento. ,,14 14 Frech t'lal. 1978c Tsicofogin Clinica YJ'EstuJe Je Case em ye.staft.-terapia 17 A pessoa evita entrar em contato com acontecimentos e percept;6es atuais quando fica presa aquilo que fez ou deixou de fazer, bern como quando apega-se as coisas que poderao vir a acontecer. o passado e 0 futuro encontram-se como sentimentos e percepc;6esno presente e sobre ele incidem. 0 campo do cliente apresenta-se na rela<;iioentre a organisrno, a passado e a futuro, que configuram urn dinamismo no aqui-e- agora, e este sistema dinamico basta para que 0 terapeuta possa compreender seu cliente tal como ele se mostra. Self Goodman definiu 0 self como urn processo, e nao como uma estrutura fixa do meio psiquico. "Um processo espeeificamente pessoal e carae/eristico de sua manerra propria de reagir, num dado momenta e num dado campo, em fung80 de seu "esti/o" pessoal. Nao e um "ser': mas um "ser no mundo", variBvel conforme as situaq6es." IS o self pode ser considerado como estando na fronteira do organismo, mas a propria fronteira nao esta isolada do ambiente; entra em cantato cam este e pertence a ambos, ao ambiente e ao organismo. 0 contato e 0 tate tocando em alguma ceisa. NaD se deve pensar 0 self como uma entidade fixa, ele existe onde quer que haja de fato uma interat;ao de fronteira e sempre que ela existir. Esta visao aqui descrita do self naD e a classica, na qual ele e um centro, urn processo que existe p~r si so. Para a Gestalt 0 self e 0 cantata e dele depende para existir. o self tern tres func;6es nas quais aparece com intensidade e precisao variiweis dependendo dos momentos em que se estabelecem. A funr;;ao"id" esta Psicofogiil L'finica 'f'Bluao ae CaJOem ~;cstal1-te,apiil 18 relaeionada a energia vital, as neeessidades vitais e sua tradw;ao corporal; age involuntariamente refletindo atos automaticos. 0 ~id"surge como sendo passiv~, disperso e irracional, seus contelidos sao alucinatorios( imagens e fantasias que surgem espontaneamente) e 0 corpo a9i9anta-se. 0 corpo pareee enorme porque com 0 sentido e 0 movimento suspensos, as sensa90es sobressaem-se no campo. A func;ao "eu" ou "Ego" e ativa, manifestando escolha ou rejeic;ao voluntarias; acusa a responsabilidade do individuo de aumentar ou limitar 0 contata. Passibilita a manipula980 do meio partindo da conscientiza9ao das proprias necessidades e desejos. A func;ao"personalidade" e a representac;aoque a pessoa faz dela propria, e a auto-imagem que instrumentaliza-a a reconhecer a funyao ~Ego~;permite a constru9iio da identidade. E 0 sistema de atitudes adotado nas rela90es interpessoais. E a admissao do que se e que serve de fundamento pela qual pode-se explicar 0 proprio comportamento. Quando 0 comportamento interpessoal e neurotico a personalidade e formada par alguns conceitos err6neos acerca do campo. Mas no decorrer da terapia a personalidade torna-se uma espeeie de estrutura de atitudes compreensiveis pelo outro e por si mesmo. Para Ginger & Ginger em suas tres fun90es 0 self aparece com uma intensidade au uma precisao variavel conforme os momentos: assim, as vezes, a individuo nao se reconhece em uma rea~o que naD e habitual nele, como quando um momenta de afeto "invade-a". Em outros momentos, seu self "se dissolve" numa intensa "confluencia" au ao contrario, num estado de "ferias" l~ Ginger & Ginger. Gestalt. lima ler!lpia do contnto. Siio Paulo, 1995.p.126 Psicofogw Cli'nica 'P'BtUifo Ie Caso em (;estaft-terapia 19 Interior, de ~vazio fertW, antes da emergencia de uma nova figura que mobilizara sua aten980. 16 Self-suportt o reencontro do self-support ou suporte interne pelo proprio individuo, e uma das maximas da Gestalt-terapia. Cada pessoa possui em si mesma 0 instrumental para enfrentar as adversidades do meio. Este instrumental comp6e 0 suporte interno, que fica disponivela medida que toma-se consciencia de sua existencia. Homeostase A homeostase e urn processo de auto-satisfa9iio das necessidades do organismo para a manutenc;ao de seu equilibria e saude; e auto-regulador. Quando 0 processo homeostatico nao funciona harmoniosamente permanecendo em desequilibrio e sendo incapaz de satisfazer suas necessidades, diz-se que 0 organismo esta doente. A auto-regula98o e urn processo pelo qual 0 arganismo interage com 0 meio em busca de equilibrio, e, portanto, a propria homeostase Fronteira de Cantato E uma fronteira entre eu mesma e a mundo, que protege e delimita, possibHita trocas com a meio. ~O 'entre' nao e urn constructa secundiJrio, mas 0 verdadeiro lugar e a ber,o do que acontece entre os homens; nile tern recebido atenqilo particular, porque, distintamente da alma individual e de seu contexto, nao exibe uma 16 Ibdem p.l~S TsicolDginC{mica ·/''Estuao rfe Caso em yestaft-terapia }O conlinuidade uniforme, mas esta sendo renovadamente reeonstiluido de Beardo com os encontros dos homens entre si ..•17 Nao e um limite no sentido restoto, nao e algo que afasta. A fronteira e continente, possibilitanda a cantata, a uniaa e a distinc;aa, a crescimento. uQuando nos referimos a 'fronteira' pensamos em uma 'fronteira entre', mas a fronteira de contato, em que a experiencia ocorre, nao separa 0 organismo e seu ambiente; em vez disso, Jimita 0 organismo, 0 con tern e ° protege, toeando ao mesmo lempo a ambiente. ,,18 E na fronteira entre 0 meio e 0 organismo que ocorre a experiencia que leva ao crescimento. E nela que as perigos sao rejeitados, as obstaculos superados e 0 assimilitvel e selecionado e englobado. Cicio de Contato o Cicio de Contato tambem e conhecido como cicio de contato-retrayiio, cicio de satisfayiio das necessidades, cicio de auto-regula~ao organismica, cicio de experi,mcia e cicio da Gestalt. Em pessoas saudaveis 0 cieJo pode ser resumido da seguinte forma: identificac;:ao da necessidade dominante, satisfac;:ao da necessidade e identificayao de novas necessidades emergentes. Este e um movimento permanente de formac;:6es e dissoluc;:6es de gestalts, segundo uma hierarquia de prevalencias que se tornam figuras. Segundo Goodman 0 cicio divide-se em quatro fases: pre-contato, tomar contato (contacting), contato pleno ou "final" e pos-contato ou retrac;:ao; a cada 11 Buber. 1965. p.103 1~ Goodman. Hefferline & Peds, 1951.p.229. Psicowgio. ((illica 'F'£5twio de rASO em qcsta(t-terapw 21 fase 0 self funciona de uma mobilizando a atenc;ao. a pre-contato e uma fase de sensac;oes durante a qual a percep~o excitac;ao, que aparece no corpo do individuo gerada par estimulos externos, tornar-se-a a figura que solicita 0 interesse do sujeito. 0 self funciona no modo ~id~, pOis sao relevantes a energia e necessidades vita is e sua tradugao corporal. No momento em que 0 self funciona do modo "eun, possibilitando 0 livre arbitrio e a agao responsavel sobre 0 meio. acontece a fase de tomar contato ou contacting. E uma fase na qual ocorre 0 enfrentamento do meio pelo organismo. Fica estabelecido 0 processo de contato. a contato pleno e uma fase na qual 0 organismo nao se diferencia do meio, e uma confluencia saudavel que possibilita a abolic;ao momentanea da fronteira de contato. A a~o e no aqui-e-agora, unindo percepc;c3o, emoc,;:c3oe movimento. a self e passivo e ativo ao mesmo tempo, ainda na func,;:ao ueu~, mas com intensidade reduzida. Na fase de retrac,;:ao ou pas-contato as experiemcias sao assimiladas, a que leva 0 indivfduo ao crescimento. 0 self funciona como "personalidade", integrando a experiencia a viv€mcia da pessoa. Fecha-se uma gestalt para a abertura de outra; e 0 tim de urn cicio e 0 infcio de outro. Awareness, Conscientizaryao ou Tomada de Consciencia A conscientizayao e um estado de consci€mcia atento aos acontecimentos presentes(outros estados de consci€mcia seriam par exemplo: vigilia, sanho, devaneio). E a tomada de consciencia global no aqui-e-agora, voltada ao conjunto de percepgao pessoal, corporal e emotiva, interior e do meio ambiente. Psil:owgia C[inita If''BtU/[o tie Caso em (jcstali-terapia 22 Existe em tres niveis: intern 0, externo e de mediac;ao. o nive! interno refere-se a auto-percep980, auto-conscientizac;ao atraves do contato consigo mesmo. o nrvel externo relaciona-se a tomada de consciemcia direcionada as outras pessoas e ao meio. a nivel de media9ao esta ligado as fantasias, proje90es e mecanismos de defesa que impedem 0 contato com a realidade. "A conscientizaqao e um processo continuo de percepqao daquilo que ocorre no aqui-e-agora. ,,19 Segundo Pelrs a cresci menta e um processo de expansao das areas de autaconsciencia, a fuga da canscientiza980 inibe a cresci menta psicol6gico. A autoconscientizac;ao e impulsionada pelo continuum de consciencia, que e urn fluxo permanente de sensac;6es, sentimentos e ideias que constituem a fundo sobre 0 qual se destacam figuras emergentes. a continuum e estar consciente do que experienciamos a toda instante. Experiencia A experiencia e a unico caminha para a verdadeiro conhecer. Aa mesma tempo que e preciso tamar cantata, conscientizar-se e responsabilizar-se para experienciar, esta e quem permite 0 contata, a conscientizac;ao e a responsabilidade. As experiencias passadas somente sao levadas em conta se perturbam a vivencia de acontecimentos atuais. l!l French. 1977.p. 6 P.iicofogia C{inica !P'Btutfo de Caso em ~;estatt-uTtJpin Responsabilidade Para Perls: "A responsabilidade e a habilidade em responder, em ser 0 que se e. ,020 Quando 0 sujeito responsabiliza-se por suas a96es retoma a capacidade de comunicar-se diretamente, criando eondi<;oes de externar sua parcela participativa nos acontecimentos. Onde come"a a responsabilidade term ina a projec;:ao. Deixa-se de cui par 0 meio, para assumir-se como determinante das proprias dificuldades. Espontaneidade Ao inves de tentar explicar a espontaneidade atraves de coneeitos, rememoremos um bebe que chora quando tem fome independentemente de que horas sao, e dorme quando tern sono, mesmo com 0 sol a pino. Ele e espontaneo, nao esta condicionado a auto-interromper-se em busca da aceita<;aodo meio externo. A medida em que eresee, torna-se uma neeessidade adaptativa que comporte-se de acordo com padroes pre-estabelecidos, e nao espontaneamente. Segundo Perls: "Muitas das necessidades individuais se opee a sociedade. Competiqao, necessidade de controle, exigencias de perfek;ao e maturidade, sao caracteristicas de nossa cultura atuel. Oeste fundo surge a praga e a causa de nosso comportamento social neur6tico. ,>21 A espontaneidade possibilita ao sujeito ser como e, tomando decisoes a partir de suas sensa<;oes,assim ele naDse submete a novas introj8goes. :0 Perls. Fritz. Gestalt-terapia uplicada. Sao Paulo_ 1977.p.7S. :1 Perls in Isto e Gf'Stait. Sao Paulo. 1975. p.19. 'Psieo[ogia Cfiniea 1f/'£5twfo aeCaso em yt!.5toft-taapia 24 Pode-se dizer que a espontaneidade leva a criatividade, pais ao nao mais submeter-se as introje90es, 0 individuo e levado a criar seus proprios meios de responder as situac;6es. Sendo espontimeo, a sujeito e capaz de reconhecer suas necessidades e assumir suas responsabilidades. o Paradoxo da Mudan~a a wparadoxoda mudanC;8"consiste no funcionamento da alteraC;ao,pais "a mudanc;a ocorre quando uma pessoa toma-se 0 que a, nao quando tenta converter-se no que nao a". 22 Frente a esta questao de mudan9C30 terapeuta deve comportar-se segundo uma atitude fenomenologica de aceitac;aoincondicional, permanecendo com 0 cliente onde quer que este esteja. a terapeuta deve expressar a crenc;ade que S8 a pessoa investir em si mesma prenamente na forma em que estiver, entaD era podera mudar porquetodo 0 viver e urn processo. o trabalho baseado na perspectiva dialogica Eu-Tu nao objetiva "mudar" 0 cliente, mas apenas compreender sua existencia e encontra-Io. Aquele que procura a psicoterapia e uma pessoa em conflito que so estara pronto para qualquer tipo de altera~o de padroes a partir de uma awareness suportiva. Esta awareness desenvolve-se quando a pessoa investe na experiencia atual, sem exigencias para muda-Ia e sem julgamentos de que nao deveria ser 0 quee. ~2 Ocisscr, Arnold. Gcstalt-tcrapia. teoria.lecnicas e aplica~oes. Rio de Janeiro, 1997. cap.6. PsicolDgw.Cll'ni£a !IJ'Btwfo ae Casoem fjcstalt-ferapw. 25 Conceito de Doenc;a "Gada um de nos e, em maior ou menor esca/a, neur6fico, ou seja, as possibifidades de crescimenfo pessoal 56 podem ser utifizadas de modo extremamenfe escasso. ,,23 As condic,;:oessociais dificultam 0 desenvolvimento pessoal satisfatorio, promovendo 0 aparecimento da neurose. Esta ocorre sempre que 0 contato consigo e com 0 meio e perturbado, 0 que caracteriza uma percepc;:aoerr6nea do campo. A neurese esta a servic,;:ada auto-defesa do individua, que se fixa a padroes rigidos de comportamento perdendo assim sua espontaneidade e auto- confianc,;:a. Quando os limites do meio social invadem os do individuo, este sente-se incapaz de encantrar e manter equilibria adequado entre ele e a resto do mundo, instalou-se al a neurose. Os problemas nao sao causadas apenas pelo que e reprimido, mas pelas auto-interruP9oes que impedem a aprendizagem. Dificuldades neur6ticas relacionam-se com a impossibilidade de perceber pontos cegos e a que estes estao ligados. o estada saudavel caracteriza-se par urn processo permanente de homeostase que ocorre na fronteira de cantata e na qual a sujeito esta preparado para a contata com a meio e consigo proprio. lJ Peds in Gestaltpe-dagogia. 1985.p.70 Psicofogi11.C[mica 'P'Btwfo ae Cosoem ljestaU-ferapia 26 As Camadas da Neurose Fritz fala da neurose constituida de cinco camadas: camada dos cliches, camada dos papeis, camada do impasse, camada implosiva e camada explosiva. A primeira e representada por simbolos sem significado usados num "encontro". Por exemplo . 0 hilbito de dizer "Bom dia " sem percebe-Io como tal. A camada dos papeis de nota jogos e desempenho de papeis sociais. Ambas carnadas acirna descritas sao superficiais e sociais. Sao camadas nas quais 0 individuo tinge ser melhor, au mais educado, ou mais fraco, etc, do que real mente e. A camada do impasse da ao individue a sensa~o de estar preso au perdido. Visa evitar 0 solrimento de ir adiante buscando 0 que realmente e. Este safrer esta intima mente ligade ao crescimento. A quarta cam ada, a implosiva au da morte, pode permanecer encoberta pelo impasse. Mostra-se como mede da morte, devida a paralisia causada par fon;;as em aposiyao, e como uma catatonia, "nos agregamos, contraimos e reprimimos, nos implodimos" 24 o medo da morte aparece com a possibilidade da explosilo e 0 receio que isto gera. 0 temor de ser perseguido, punido, nao ser amado e assim par diante. A implosilo resulta na explosilo, lato que culmina na quinta camada. Esta explosao e a elo com a pessoa autentica, capaz de vivenciar e expressar suas emoyoes. 24 Peds, Frilz, Gestalt-terapia explicada. Sao Paulo, 1977. p.SS PJicofnjia C!inica IP'E.;ttufo Ife Casa em cje"tIlU-faapia 17 Hi! quatro tipos de explosao: explosao em pesar genuino, onde trabalha- S\~se com a perda nao assimilada; explosao em orgasmo, ern pessoas ant :::~":" %' ~ :. A explosao nao deve ser vista como urn ruido passageiro, e u sexual mente bloqueadas; explosao em raiva e explosao em alegria. acontecimento constante e muitas vezes silencioso. Nao e uma regra que esta explosao, como as demais que conhecemos, produza ferimentos, estilhac;ose mobilizayao de varias pessoas. Pode ser urn acontecimento introspectivo que leva ao auto-conhecimento. A partir do momento no qual a pessoa sai do papel, entra no impasse e vislumbra a possibilidade de ampliar seu campo de percepc;:8.o, vivenciando entao 0 que as camadas subsequentes proporcionam. Mecanismos de Defesa Mecanismos de defesa, mecanismos neuroticas au resistemcias sao perturbac;:oes na franteira de contato que impedem a individuo de experienciar os acontecimentos em sua totalidade. Estas resistencias podem ser saudaveis au patologicas conforme sua intensidade, flexibilidade e 0 momento em que aeorrem (vide anexo 3) Para Perls25 a introjec;:ao e 0 mecanismo neurotico pelo qual fixamos em nos regras, atitudes, modos de agir e de pensar, que nao sao nossos proprias. A introjec;:8.osignifica que se coloea a fronteira de cantata dentro de si mesmo e quase nada sabra da propria pessoa. H Perls. 1976. p.S) Psicowgin Clinica 'f''EHudo de Coso em (jestaft-urapia 28 o individuo tende a responsabilizar-se por coisas que cabem ao meio externo. Segundo Ponciano: "A introjeqiJoe 0 processo pelo qual obedeqo e aceito opini6es arbitrarias, normas e va/ores que pertencem a oulros, engolindo coisas dos outros sem querer. sem conseguir defender me us direitos por medo da minha propria agressividade e da dos oulros. Desejo mudar, mas temo minha propria mudanqa, preferindo a rotina, simplificaqoes e situaqoes faci/mente controlaveis. Penso que as pessoas sabem melhor do que eu 0 que e bom para mim.,,26 A medida que 0 sujeito tenha urn sentimento que possibilite escolhas e desenvolva suas habilidades em diferenciar ~eu" e "tu", diminui-se 0 uso da introjeC;8o como resistencia ao contato consigo mesmo ou com 0 mundo. Projeciio A projegao e 0 mecanisme oposto a introje,ao. E a tendencia de fazer 0 meio responsavel pelo que se origina na propria pessoa. Neste mecanisme a fronteira e deslocada exageradamente para alem de si mesmo em direC;8o ao mundo. Diz Ponciano: "A projeqilo e 0 processo pelo qual tenho dificuldade de identificar 0 que e meu, atribuo ao Dutro, ao mau tempo, eoisas que nao gosto em mim, bem como a responsabilidade pelos meus fracassos, desconfiando de todo mundo, como prov8veis inimigos. Sinto-me ameaqado pelo mundo em gera/, pensando demais antes de agir e identificando faci/mente nos outros dificuldades e defeitos semelhantes aos meus e tendo dificuldade de assumir :6 Ribeiro. Jorge, 0 Cicio de COlltato. Sao Paulo. 1997. p. 46. Psir.o{ogiaGinica If''fslw[o aeCasoemf.;'estaft-ferapia 29 responsabilidade pelo que fa90, goslo que as oulros fa9am as coisas no meu lugar.,,27 Urn casa extrema deste mecanisme e a paranoia, na qual acusa-se todo a ambiente pela agressividade que pertence ao projetor. A projeyao faz com que S8 atribua a outra pessoa aspectos desagradaveis da propria persanalidade, fazendo-se vitima das circunstancias ambientais. He um tipo de Proje9ao chamada de "projeqiio em parte de si mesmo", na qual uma parte do pr6prio corpo recebe a projeqiio e destoa das demais. Pode ser um orgao doente ou algo que se estima demasiadamente no corpo. Confluencia Na confluencia nao se percebe nenhuma diferenc;a entre si mesmo e 0 meio, sente-se que ambos sao urn so. o confluente nao consegue vivenciar as proprias sensac;oes, tern necessidade da semelhanya e recusa tolerar quaisquer diferenyas. "0 ser humane patologicamente confluente va; dando nos em suas necessidades, emoc;:oes e at;vidades, transformando-8s num novelo irremediavelmente emaranhado, ate ele mesmo nao estar consciente daquilo que quer fazer e de como esla se impedindo de faze-Io.,'8 A psicoterapia como alternativa a confluencia visa desenvolver 0 sentido de limite e a capacidade de diferenciar as proprias necessidades das dos Qutros. ORA9AO DA GESTALT Par Fritz Peris Eu falja m;nhas co;sas, e voce faz as suas Nao estou neste mundo para v;ver de acordo com suas expectat;vasE voce nao esta neste mundo para v;ver segundo as m;nhas 21 Ribeiro. Jorge, 0 Cicio de Contato. Sao Paulo, 1997. p. 44. TSicofogio Clinic. 'Y'Estw{o tie Coso em (jestaft-teropio 30 Eu sou eu. e voce e voce E se por acaso nos encontrarmos. e lindo. Se naD, nada ha a fazer. Deflexao au desvio E urn mecanismo que evita a cantata direto e que permite a pessoa esquivar-se de urn compromisso. Segundo Polster: "A def/exao e um metoda de se evitar um cantata direto com outro ser humano. E urn metodo de enfraquecer 0 contata atual. 0 que e alcanqado airaves da prolixidade, de urn modo exagerado de expressao, em se falando continuamente num tom jocosa, na~ encarando 0 parceiro de con versa diretamente, nao se chegando nunca a queslao ... "z9 A deflexao pode, em casas extremos, evocar a psicose: a pessoa nunca adere a situ8yao, fala paralelamente de Dutra caisa au age independentemente do meio exterior. Na retroflexao 0 sujeito faz a si mesmo aquilo que gostaria de fazer aos outros, ou ainda, faz a si proprio 0 que gostaria que outros fizessem. o retrofietor cinde sua personalidade em agente e paciente da a98o, observador e observado, tornando-se seu pior inimigo. Nao dirige suas energias para fora e nao tenta manipular 0 meio para promover mudan98s que satisfa9GIm suas necessidades particulares. Coleca-se no lugar do mundo como alvo de seu proprio comportamento. Profiex80 ( Silvia Crocker) Eo uma combina<;iio de proje<;iio e retrofiex8o. Consiste em fazer ao outro o que gostaria que este fizesse. "Eu existo nele." 28 Perls. 1976b. p.S6.58 ':R,icotOgia C{udal IJl'£5twio 1ft. Caso em tjestali-terapia 31 Ha um desejo de que 0 mundo seja como a pessoa quer. Manipula-se 0 meio a tim de obter 0 que precisa, seja fazendo 0 que 0 outro 90sta ou submetenda-se passivamente. "Tenho dificuldade de me reconhecer como minha propria fonte de nutriq80 e lamento profunda mente a ausencia do contato extemo e a dificuldade do outro em satisfazer minhas necessidades. ,JO E atraves da intera~o com a ambiente que 0 profletor pode experienciar um cantata saudavel. Egotismo E um reforyo supremo da fronteira de contato, que se caracteriza pelo grande interesse da pessoa par ela mesma e seus problemas. Nesta situacr80a pessaa permite-se a satisfacroesantes inibidas e sente que conquistou autonomia tendo poder de escolha. o egotismo, mesmo parecendo um momenta de egoismo, e um elemento mator essencial para que a cliente em psicaterapia encarregue-se de si mesmo e conquiste self-supporl. Quem e 0 Gestalt-terapeuta e como trabalha em sua arte o gestalt-terapeuta aponta 0 conteudo que esta sendo trazido como mais importante em determinado momenta pSicoterapico, a figura e ditada pelo impeto de autro-preserva<;iio do cliente, que geralmente chega ao consult6rio com 0 pedido de seguranya e aprova<;iio. 29 Polster & Polster. \97i p.9J. )0 Ribeiro, Jorge. 0 Cicio de Contato. Sao Paulo, 1997. p. 42. 'i'sicofiJgio,-'Hl/ica 'f'Bwtfo Ife Caso em ~iestalt-terapio 32 Faltando apoio interne (self-support), e assim que 0 cliente surge pedindo ajuda, sem habilidade para abstrair e integrar as abstray6es, sente-se confuso e incapaz de enfrentar os acontecimentos. o terapeuta gestaltista deve olhar para aquilo que e trazido e nile imaginar a que pode estar par tn35; devera utilizar todo seu potencial para transcender-se e viver 0 novo. 0 ideal condutor nao existe, mas a born esvazia-se para poder ser preenchido. Cliente e terapeuta nao sao diferentes qualitativamente, diferem apenas quanto a maior e menor independencia da neurose. Facilitar 0 desenvolvimento, fracassar as tentativas do cliente que busca apoio ambiental, trabalhar com a fusilo de simpatia e frustrac;;ilo como um instrumento efetivo, perceber situa<;oesde forma abrangente, ter cantata com 0 campo total, conscientizar-se das proprias necessidades e rea<;oes as manipula<;oesdo cliente e das necessidades e reac;oesdo cliente ao terapeuta, liberdade para expressar estas necessidades e reac;oes,sao alguns norteadores da postura do psicoterapeuta da Gestalt. A Gestalt-terapia pressupoe que falta ao cliente auto-apoio, e 0 terapeuta simboliza 0 si-mesmo incompleto do cliente. Quando se desvendam as necessidades do cliente abre-se a oportunidade para que 0 mesmo entregue-se a elas, expressando suas exigencias, ordens e pedidos. Define-se entao 0 si- mesmo e 0 apoio (terapeuta) , e neste ponto 0 cliente pode encarar seu problema. a terapeuta frustrador age sobre as express6es do cliente que refletem autoconceito, manipulac;oes e padroes neuroticos. Gratifica expressoes verdadeiras do si-mesmo do cliente. Desencorajando padroes que impedem a T5icalogia clinica II''Btuao I{e Casa em gestaft·terapfu 33 auto-realizac;:ao e encorajando a descoberta do self essenciaL 0 terapeuta contribui com a auto-realizac;:aodo individuo. Alem do que ja foi citado na tentativa de descrever a postura do gestalt- terapeuta e importante reforr;ar as cinco tarefas basicas do mesmo, teorizadas par Joen Fagan.31 Sao os requisitos basicos da empreitada terapeutica: padronizayiio, controle, patencia, hurnanidade e comprometirnento. A padraniza~ao acontece na escuta de um pedido de mudan~ ou de um sintoma. 0 terapeuta procura compreender a ligagao entre os acontecimentos e sistemas que culrninaram nurn padn30 de sintomas au ern gestalts inacabadas. Apos profunda reflexao acerca do prablema pode-se intervir em um ou mais niveis, dependendo do estilo de atuayiio. Depois avalia-se com que rapidez 0 sintoma foi removido, que comportamento positiv~ 0 substituiu equal 0 grau de perturbac;:aocriada nos sistemas interligados. "A enfase da padroniza,ao, na Gestalt-terapia, incide sobre 0 proprio processo de intera,ao, incluindo a capacidade do paciente para fomentar ou por em risco a interaqao, ou para bloquear a conscientizaqao e a mudanqa." o controle define-se como a capacidade do terapeuta para persuadir ou compelir a cliente a seguir os procedimentos psicoterapicos. Nao e uma atitude de obstrw;:ao, mas de continente das urgencias do processo. 0 sintoma e urn tipo de contrale rejeitado pelo terapeuta, que incita a motiva~iio para 0 cliente trabalhar na terapia e persuade 0 cliente para que confie no contrale da situayiio pelo terapeuta. Jl Fagan. Jocn. Gestalt-ternpia. leoria, teCniC3S e apliC3fi:Oes. Rio de Janeiro. 1977. cap.7. Tsico/Ogill C{inica 'I"Btwio ie Caso em (i<!.5taii-terapill 34 A Potencia esta relacionada a capacidade do terapeuta em ajudar a cliente a caminhar na dire<;aoque deseja, acelerando e provocando a mudan98 numa dire930 positiva. Para tanto utilizam-se tecnicas, procedimentos, experimentos e sugestoes que superam a inercia e promovem 0 movimento. E uma contribui9ao da Gestalt-terapia as tecnicas eficazes que possibilitam mudanyas fapidas de nlveis emocionais profundos. No contexto de tareta a humanidade engloba: a preocupa9ao e solicitude do terapeuta a respeito do cliente em um nivel pessoal e emocional; disposiyao para participar. para dar-s8 e dar ao cliente suas proprias respostas emocionais diretas e/ou explica<;6es pertinentes de suas proprias experiencias; capacidade para reconhecer as tentativas do cliente na dire930 de uma autenticidade mais profunda, que necessitam de apoio e reconhecimento; continua receptividade ao proprio desenvolvimento que serve de modelo ao cliente_ Muitas vezes a presen9a do terapeuta e mais importante do que a trabalho terapeutico_ a terapeuta compromete-se com uma vocayao profissional e exigencias para 0 desenvolvimento da pr6pria com preen sao e aptidoes. Compromete-se com cada cliente. Propoe-se a contribuir para 0 campo como urn todo, pesquisando, redigindo artigos, participando da torma9ao dos futuros profissionais.0 comprometimento e 0 envolvimento e aceita9ao das responsabilidades assumidas e ex;ge alto nfvel de interesse e energia. A Rela~ao Terapeutica na Gestalt-terapia A rela9ao terapeutica na Gestalt-terapia e, sobretudo, de respeito ao cliente a ao pr6prio terapeuta, pois ambos tern as mesmas caracteristicas humanas que permitem a intera9iio com 0 meio. Psicolvgin Ctiflica !//I£ftudo de Casoem yestaft-terapin 35 Por basear-se nas abordagens existencial e fenomenologica a GestaU ve o homem como ser unico e incomparavel, que tern liberdade para escolher 0 que e e onde quer estar. 0 profissjonal deve ser capaz de manifestar-se amorosamente no sentido do respeito a individualidade. "0 gestalt-terapeuta nao procura compreender 0 sintoma e, assim procedendo, nao procura sustenta-Io, justificando-o. Nem procura eliminar 0 sintorna au ignora-Io. Ele se disp6e a explara-Io com seu cliente, cornpartilhando essa aventura a dois. ,,)2 Alguns gestaltistas discutiram 0 termo que melhor representaria 0 cliente da Gestalt e concluiram que parceiro seria 0 rna is adequado. Parc~iro e uma pessoa com quem se pode associar, conversar e estabelecer uma rela9ao. o envolvimento, contudo, e controlado, nao existe uma exposi930 do terapeuta acerca de seus proprios conteudos ja trabalhados em seu processo terapeutico. "Acreditamos (terapeutas) que 0 homem seja capaz de crescer e se auto- realizar. Procuramos aprender, conhecer e criar instromentos e atitudes capazes de amenizar os conflitos humanos e acompanhamos 0 outro na sua busca de urn sentido para a vida. Confiamos nas potenciaJidades de cada urn mesrno que estejam ocultas sob 0 desespero, as dificuldades e a dor. ,.33 o encontro EU- TU e uma experiencia bastante rara, nao pode ser conduzida ou fo,,;ada. Mesmo estando 0 terapeuta disposto a encontrar 0 cliente, o encontro pode nao acontecer. Para Polster a cada sessao 0 terapeuta transforma-se, tarnando-se rna is aberto as experiencias imediatas que pode ter, descobrindo junta mente com 0 32 Ginger & Ginger. Gestnit. uma tempi;, do contnlo. Sao Paulo, 1995.p.145. TsiaJftJgioC{inica 'f"Estwfo ae Com ,mcj"'taU-terapia 36 cfiente como eles podem S9 engajar nos muitos caminhos que S8 abrem para ambos.34 o cliente/parceiro da gestalt tern oportunidades para que ative seu potencial criativQ, afetivD, perceptivD, entre Qutros, que Ihe permitirao ser uma pessoa mais feliz e realizada. Recursos Gestalticos "Quando 0 homem errado usa as meios certos, as meios certos funcionam de forma etTada. "(Barry Stevens) Inspirados pela fenomenologia os gestaitistas desenvolveram uma serie de recursos chamados de jogos, exercfcios au experimentos. Tern sentido no contexto total desta abordagem e integrados a postura do gestalt-terapeuta concretizam-se num poderoso instrumento terapeutico. 0 recurso naD existe per si 56 e sua aplicac;ao constitui uma arte. Ha urn cuidado do profissional em nao •pre-parar" sessoes. A prepara,ao pode dificultar a rela,ao espontanea no contexte psicoterapico. Trabalha-se com a conteudo presente e utiliza-s8 0 recurso S8 assim 0 momenta pedir. o recurso pelo recurso, como a tecnica pela tecnica, naD existe; seu usa e proveitoso quando se ve 0 momento terapeutico como campo que urge a uma alternativa. A seguir citaremos alguns experimentos, que entre os inumeros descritos p~r representantes da Gestalt-terapia, melhor espelham a pratica gestaltica deste grupo de estagiarios. n Cardella. Beatri7~ 0 amor na rela/;iio terapeutica. S50 Paulo. 1994_p.57. )4 Polster e Polster. Gestalt-tcrapia integrada. Belo Horizonte, 1979. p.37. Psicowgw C(inica IP'Btwfo Ife Caso emcjwalt-ferapia 37 Presentificac;ao •urn exercicio de awareness Nesta tecnica 0 individuo deve concentrar-se no f1uxo perrnanente de suas sensac;oes fisicas e seus sentimentos. Tomar consci€!ncia da sucessao de figuras que surgem sobre 0 fundo formado pelo conjunto da situagiio que esta experienciando, pOis esta mostra 0 que ele mesmo e no plano corporal, emocional, imaginario, racional e comportamental. Favorece a emergencia de situac;oes inacabadas a partir de quatro questoes basicas preconizadas por Perls: •"0 que voce esta fazendo agora?" • "0 que voce sente neste momentoT •"0 que esta evitandoT • wO que voce quer, 0 que voce espera de mimT Portando, a presentificagiio nada mais e do que trazer para 0 aqui-e- agora, tornar presente, emoc;6es, sentimentos e pensamentos. Identificac;ao Na experiencia 0 diente e convidado a identificar-se com algo. Deve imaginar e narrar sentimentos que passui tornando-se este algo. Por exemplo, 0 diente imagina uma situac;ao na qual existia uma pedra e um sapo. 0 terapeuta pode dizer: "Imagine que voce e a pedra(ou 0 sapo). Como voce esta se sentindo sendo ... E posslvel ser. ..T 1~;iloiOgiaCliiliea 'l"EsIUdO If, Caw emij«talt-terapia 38 o objeto com 0 qual houve identificac;ao faz com que 0 individuo veja aspectos da sua existencia e possa assumi-Ios primeiro no Dutro, para entao reconhece-Ios como seus. Traca de Papeis DU Monodrama A troca de papeis e uma forma especial de identificac;ao que pode ser aliada a varias outra tecnicas. Nela 0 protagonista (cliente) desempenha, alternadamente, os diferentes papeis da situa9iio por ele evocada. Poderao ser representados, pDr exemplo, 0 dialogo entre ele e uma Dutra pessoa; entre duas partes de seu corpo au entre sentimentos contraditorios. Proporciona aceita9iio de partes da personalidade que parecem opostas e materializa simbolicamente aspectos da personalidade. Facilita a encena9iio do proprio sentimento do indivIdua, po is 0 que importa nao e a representagao da verdadeira pessoa eseelhida para a conversayao, mas sim as representa<;oes internas, subjetivas e par vezes contradit6rias a seu respeito. Dramatizar;ao Representa<;ao de situac;6es vividas au fantasiadas na qual 0 cliente experimenta e explora sentimentas mal identificadas, esquecidas au ate desconhecidos. Esta tecnica favarece a canscientizayaa, pais permite uma ayao visivel que mobiliza 0 corpo e a emoc;aoatraves da presentifica9iio de uma emoc;ao. P,~owgin Clln~a V''Btwfo Ie Casoem g"taU-terapin 39 Viagem-fantasia A Viagem-fantasia pode ser dirigida au nao. Apes realizado 0 relaxamento soHcita-se que 0 individuo imagine uma tela em branco(na versao naD dirigida do experimental e S8 nela surgirem imagens deve-s8 deixa-Ias fluir. EntaD inicia-s8 a momenta verbal, quando a sujeito pode lalar das imagens emergentes e dos sentimentos que as mesmas suscitam. Na proposta da viagem-Iantasia dirigida 0 terapeuta entra como lacilitador inserindo dados para a construc;ao da fantasia, que pode ser uma paisagem, uma cena na qual pessoas conversam e muitas Qutras situ890es. A fantasia e importante elemento na conscientiz8yao das prioridades da pessoa. Amplifica~ao Esta tecnica trata de explicitar 0 que esta implicito, permitindo que 0 individuo perceba seu comportamento aqui-e-agora e na fronteira de cantata com seu meio. Consiste em tazer 0 sujeito perceber suas rea90es emocionais subjacentes, tais como: mudangas no ritmo da respiragao ou deglutigao, mudangas bruscas no tom de voz, na diregao do olhar e microgestos das maos, pes ou dedos. Estes gestos sao reveladores do processo em curso, imperceptlveis para 0 cliente e muitas vezes contradit6rios ao que ete expressa verbal mente. Cadeira Vazia (Empty Chair) Desenvolvida por Fritz Perls, visa uma maior conscie!ncia e clareza para 0 trabalho terapeutico. Traz para 0 aqui-e-agora situa<;:6esinacabadas. 1'sicofogw ('fi'nic.a If/'Eswao sle Cruo em yestaft-terapin 40 Se 0 individuo tern sentimentos nao expressos que 0 impedem de fechar uma gestalt, pode trazer para a cadeira vazia (via imagina98o) aquele a quemeste material se dirige. Neste caso, talar 0 que deseja diretamente para quem "esta" na cadeira vazia, permite vivenciar e nao apenas falar sobre a emoc;i3.o, possibilitando a experiemciadaquilo que sente. Quando 0 cliente consegue f1uir na tecnica, alem de encerrar situa90es inacabadas, sente-se calmo e relaxado po is converteu situac;oes passadas, nao resolvidas, em uma experiencia presente e focalizada. Expressiio Metaf6rica Em Gestalt e muito utilizada a linguagem simb61ica ou metaf6rica, principalmente atraves de expressoes artisticas (desenho, modelagem, colagem, dan9a e musical. As expressoes metaf6ricas servirao como suporte pelo qual 0 individuo estabelecera uma relac;i3.osimb6lica com seus conteudos. o momento da produ9iio promove a demonstra9iio das emo90es ali presentes. Desenho o desenho mostra 0 mundo interior particular de cada um e tacilita a expressiio de alguns sentimentos. Proporciona a visualizac;ao de si mesma e de alguns conteudos, abre caminho para a fala e para a auto-percepc;ao dos sentimentos que a tecnica gera. 'l'.5icowgiaCli'nico If''Estwio de Laso em qestaft-ttrapia 41 A Gestalt-terapia trabalha mais com a emo,ao oriunda do processo de desenhar e do vislumbre da produ9iio do que com interpreta,oes. o Tra~o a Completar o terapeuta faz um tra,o qualquer num papel e pede para que 0 cliente continue ate que nao haja mais espa,o. Este pode fazer a partir daquilo um desenho ou apenas outros tra90s. A medida que 0 procedimento evolui ambos conversam sobre as figuras que se formam ou qualquer material que surja. Segundo Winnicott esta tecnica permite que 0 pSicoterapeuta perceba qual e 0 padrao de comunica9iio e intera,ao da pessoa. Massa de Modelar Manipular a massa de modelar proporciona uma boa experiemcia tatil e sensorial. A maleabilidade da massa facilita a constru9iio de objetos que trazem situac;6es para 0 momento terapeutico, possibilitando ao cliente lidar com a situac;ao e nao apenas falar "sobre". Observando a expressao corporal, como a pessoa aperta, pega, torce a massa, pode-se divisar 0 nivel de ansiedade, conten9iio de emo,oes e relaxamento. Colagem E urn meio de expressao que pode ser usado como experiencia sensorial e manifesta,ao emocional. Pode utilizar papel, revistas, fotos, tecidos, sucata, areia, terra, tesoura e cola. PSicofogio. C{inica 'Jf'Eslwfo Ie Caso em (jestaliAerapia 42 Simplesmente falanda sabre a que for colada au cantando uma hist6ria a individuQ deixa emergir material a ser trabalhado utilizando a criatividade. Senecas Eo mais laeil para alguns lalar por intermedio de um boneeo do que expressar diretamente 0 que aeha dilieil dizer. 0 boneeo proporeiona um eerto distanciamento deixando a pessoa segura para revelar conteudos mais intimas. Sonhos o trabalho gestaltico com sonhos nao e leito via assoeiagao livre ou interpretagao. Apes a deserigiio do sonho dramatizam-se os elementos do mesma. o cliente e convidado a identificar-se sucessivamente, em palavras e gestos, tornando-se cada elemento que e eonsiderado uma gestalt inacabada ou uma expressao parcial de quem sonhou. Feedback Eo atraves deste que se conheee a pereepgao do outro sobre meu comportamento. E um instrumento do pSicoterapeuta para comunicar ao cliente a que observou, avaliou e concluiu. Tambem serve como um mecanismo de interagao entre as duas partes. Existem algumas regras para que seja valido: deve ser dado apenas quando e outro puder ouvir, expresso de forma direta e firme sem que 0 terapeuta coloque-se numa posiCY8a de superioridade, sendo um meio de expressao dos sentimentos de lorma breve. Psicowgia Cfi'nica 'P'Estwfo rie Casaem yestaft-tcrapiil 43 IDENTIFICA~Ao DO CLiENTE Nome: M. A. M. F. Data de nascimento: 05/04/1.944 Idade: 53 anos Sexe: feminine Estado Civil: solteira Escolaridade: primeira serie do primeiro grau Profrssilo: empregada domestica Religiilo: cat61ica Filia~o: Pai: LA. F. (falecido) Mile: L. M. F. (falecida) PSicO(ogw. CUnita V1T.5tuio tie Caso em tjestalt .terapia 44 HISTORICO PESSOAL A cliente e a decima filha de uma prole de onze filhos, dos quais seis eram mulheres e cinco homens. as pais faleceram ha aproximadamente vinte anos, ja idosos. Era e a unica que mora nesta cidade. Visita ocasionalmente tres irmaos que moram na cidade de Curitibanos, mas com as demais perdeu cantata. E natural do interior de Santa Catarina e saiu de casa com vinte e dois anos, buscando emprego e tratamento medico para um problema de vista. Na adolescemcia sentia um ardor muito grande nos 01has, que inflamavam. Nenhum medico da regiao que residia pode fazer um diagnostico ou tratamento adequado. Estava quase cega quando encontrou tratamento eficiente nesta cidade, recuperou parcialrnente a visao, sendo que com a olho direito s6 enxerga vultos. Outro fator determinante para que deixasse sua casa foi a postura rigida e controladora de sua familia. Todos viviam do trabalho no campo, e a isto ela atribui a impossibilidade de ter estudado. A desaven,a que culminou com a decisao de ir embora deu-se entre a cliente, sua mae, uma irma e urn irmao. Discutia com a irma sobre a divisao das tarefas da casa quando a mae interveio mandando que ela respeitasse a irma que era mais velha. MA nao obedeceu e continuou discutindo, a mae entao chamou D.(irmao da cliente) que segurou-a para que a mae a castigasse com urna violenta surra. A relayao da cliente com seu irmao, D., e muito confusa. Quando jovens, ele controlava tudo 0 que ela fazia, impedindo-a de namorar e conhecer pessoas. Quando julgava que ela estava fazendo algo inadequado agredia-Ihe fisicamente. "Ele sempre agiu como se fosse meu pai, mas meu pai era vivo f" (SIC) D. e um dos irmaos com os quais existe contato atualmente, ele mora com uma irma, e M.A. visita-os esporadicamente. Durante estas visitas a cliente sente que incomoda as irmaos, pois fica criticando a maneira acomodada e precaria em que vivem. "A casa 8sM caindo aDs pedaqos e eles nao ajeitam. Nao VaG ao medico, nao se alimentam bern .. (SIC) Nao consegue evilar esle comportamento, po is "apesar de tudo 0 que eu passe; na mao dele, nao guardo rancor e quere que vivam bem." (SIC) PsiaJfoginC[inica tp'£~tuao aeCasoem(jestali-terapia 45 "Cresci de urn jeito muito sofrido, nunca pude escolher apanhava mesmo' Era espancada. "(SIC) Enfatiza as agress6es do irmao e do pai, que surge como figura autoritaria e cruel. Este comportava-se de modo irresponsavel em rela9iio a familia, passava muitos dias fora de casa, e os proprios filhos sustentavam-se atraves do trabalho no campo. "Ele fazia parte do grupo de pessoas que cuidava da seguranqa da cidade, pois na epoca nao tinha de/ega do, andava armado, achava que era poderoso, as pessoas tinham medo dele. "(SIC) Tratava bem dos filhos preferidos, com estes relacionava-se melhor, conversava dava aten9iio, "e ate ensinou-os a alirar. " (SIC) Sente muita magoa por ter descoberto que 0 pai tinha uma filha fora do casamento, "eu bn'ncava com uma men ina e bern que aehava pareeida com um primo meu ... ai descobri que era filha do meu pai .. .foi um choque. "(SIC) Ha, apesar de mas lembran9as sobre sua vida familiar, uma grande admira9aO pela coragem e forqa da mae, que sempre suportou 0 casamento, trabalhava muito e exigia que os filhos respeitassem 0 pai, apesar de todas as situac;oes desagradaveis. Teve poucos namorados, com as quais nao teve relagoes intimas "nem beijos." (SIC) Os pretendentes eram desqualificados pela familia, principalmente pelo irmao, que "de tanto se preocupar comigo nunca cuidou da propria vida, e e solteirao que nem eu. "(SIC) Gosta muito da natureza, e relembra com alegria a proximidade que tinha com a campo, a terra, os animais e as plantas.Quando viaja para 0 interior de Santa Catarina, alem de visitar parentes e conhecidos, explora ao maximo 0 cantata com a meio ambiente. Pelo fato de nao ter estudado escolheu a profissao de empregada domestica. Seu primeiro emprego foi com conhecidos de sua familia (1.974), e desde entao sempre tem trabalhado em casas de familia. Nunca foi despedida, trocava de emprego quando estava insatisfeita. "Quando 0 sa/ario e pouco e me dao indiretas sobre meu jeito, eu saio. "(SIC) M.A. tenta relacionar-se informalmente com as familias para as quais trabalha, gostaria de conversar sabre seus problemas e ser compreendida, porem sente- se rejeitada, incompreendida e desvalorizada, atribui a isto a diferen<,;:a s6cio- cultural. Mostra-se insatisfeita com a profissae, e relata que jii procureu 'l'siaJwgw C[mica If/'Btuao ae Casoem yestafI-terapw 46 alternativas, tais como: doceira e salgadeira, cabeleireira e auxiliar de enfermagem, mas a falta de estudo impediu-a de realizar estas atividades. Tern poucas amigas, a maiaria empregadas domestieas. Sente-se relutante em confiar nas pessoas, e a isto atribui a dificuldade de se relacionar com os outros. Com as amigas conversa normal mente, umas com gente estudada me sinto mal de falar. "(SIC) E ativa junto a AE.D. "defendendo as causas da c1asse. "(SIC) Fata que nao deve ser facil conviver com urna pessoa como ela: muito crftica, agressiva, desorganizada, e que nao permite que as eoisas fujam de seu contrale. A desorganizayao acometeu-Ihe desde que parau de trabalhar e percebeu que era rna is simples arrumar as coisas dos outros do que as suas. Interrompeu suas atividades como empregada domestica devido a problemas na coluna e urn quadro depressiv~, segundo a medica que a atendeu no Hospital Evangelico. uNao finha vonfade de fazer nada e senfia muifa angitstia no peifo." (SIC) Sente-se angustiada com as recordayoes do passado. As agressoes fisicas, nao ter estudado, 0 contrale por parte do irmao, a situayiio econ6mica da familia, a impossibilidade de relacionar-se, 0 problema de vista, a maneira como deixou a casa dos pais e a morte dos mesmos, sao situac;6es das quais sente-se prisioneira. uNao quero fiear lembrando desfas eoisas, mas nao consigo esquecer. "(SIC) Reside em uma casa que construiu nos fundos do terreno de uma conhecida, e tem trabalhado como acompanhante de uma senhora nos fins-de- semana. Pretende visitar os irmaos assim que melhorar da depressao. e depois quer voltar para um emprego fixo. TsicowgiaC[inica'r'EstuaoaeCasoemyestaft-terapiil 47 IDENTIFICAC;:AO DO PROBLEMA A cliente foi encaminhada a Clinica Escola da Universidade Tuiuti do Parana pelo servi90 de PSicologia do Hospital Evangelico de Curitiba com 0 diagnestico de depressao. Apes a entrevista de triagem ocorreu 0 encaminhamento para 0 grupo T. A queixa primeira e um estado depressivo, para 0 qual ja tomou medicamentos (Aropax). Descreve seu estado: "urn desanimo, nao fago nada, s6 quero ficar deitada."(SIC) Percebeu este esmorecimento quando ainda estava empregada, e depois, mesmo tendo preferido afastar-se das atividades cotidianas, as sensa90es de desalento e incapacidade de reagir aumentaram. "Nao tenho vontade nem de escutar um radio..."(SIC) Relaciona 0 estado depressivo a dificuldade de comunicar-se com as pessoas. Conta que nao tem impeto de ver pessoas, de conversar, de ter contato com 0 mundo. "Se eu estou no ponto de 6nibus e quero saber que horas sao, ja penso que esta pergunta pode ser uma desculpa para um bate-papo, ai eu nao pergunto para evitar a conversa."(SIC) Nao demonstrou este receio com a atendente. No decorrer das sessoes passa a atribuir este impedimento de estabelecer contato com as pessoas ao fato de nao ter freqOentado a escola, este fato por sua vez e imputado a propria familia. A educayiio que recebeu foi repressora, nunca teve dialogo com seus pais, "era tudo na base da surra."(SIC) A expectativa sobre 0 que 0 estudo poderia ter proporcionado e muito grande, impedindo-a, inicialmente, de perceber os sentimentos de magoa, raiva e 1'siWfogia C(inial Cf'Btuao aeCasoemqestaft-terapia 48 culpa que permeiam sua relac;ao familiar. "Nao estudei, par isso nao me comunico bem."(SIC) Queixa-se da impossibitidade de esquecer fatos passados que fizeram-na sofrer e atualmente causam-Ihe mal-estar. ~Eu quem esquecer, sei que e ruim para mim ficar lembrando, mas eu nao consigo parar de lembrar."(SIC) A percep,ao que tem do mundo e influenciada pelas experiencias passadas. No decorrer do processo pSicoterapico 0 pai deixa de ser uma figura ausente e passiva, a medida que a cliente fala de seu passado, presentifica-o como uma pessoa violenta e opressora. ~Estavamentindo para mim mesma .. Fantasiava, queria que e/e fosse um pai amigo, e e/e foi um pessimo pai. "(SIC) Aprendeu que sentimentos culturalmente considerados negativos nao deveriam ser aceitos e expressos, portanto sente-se sufocada pelos mesmos. Castigos eram impostos a qualquer manifesta,ao de vontade e opiniao pr6prias. Nunca pode escother as roupas que vestia e as rapazes que gostaria de namorar. Devia obedecer sem questionar. Nao suporta sentir-se controtada ou criticada, responde agressivamente as criticas e depois sente-se culpada pela maneira como responde para as pessoas. Quando era jovem umeu temperamento ja era assim meio estourado",(SIC) e este foi um dos motivos para que a repreendessem com violl§ncia. Sente-se incapaz de confiar plenamente nas pessoas. Acaba procurando a verdadeira inten9iio daquele que deseja ajudar-Ihe. Nao acredita em atos sem propositos quando ofertados a ela, mas quando oferece, 0 prop6sito e veraz. "Da minha bondade eu sei .. gosto de ajudar as pessoas,"(SIC) 'l'siaJwgifl C(inica IP'Estuaa Ife Casa em gestait-terapia 49 Outra questao trazida por MA e sua falta de organizac;ao.Nao consegue programar nenhuma atividade, pois ate mesmo necessidades basicas de higiene e cuidados com a limpeza da casa tomam-Ihe mais tempo do que e preciso. o trabalho como empregada domestica nao a satisfaz. Algumas tentativas frustadas em outras Ocupa90esfizeram com que sua auto-estima fosse abalada, restando-Ihe a antiga profissao. Sente-se menosprezada, humilhada e limitada em seu offcio, "nada e do meu jeito, da minha experiencia ... eles mandam e eu obede9o."(SIC) Atualmente esta trabalhando. 0 novo emprego proporciona-Ihe a oportunidade de vivenciar uma nova situagao on de as coisas acontecem como sempre desejou. MA nao suporta a experiencia de ser tratada como urn membra da familia, ~eu acho muiio estranho me chamarem para iomar cafe junto com eles. "(SIC) Nao tern suporte interno para trabalhar a angustia que sente por ser aceita. Utiliza seus problemas fisicos, "doen98s", como desculpa para a impossibilidade de relacionar-se profundamente com as pessoas (alem das questoes da escolaridade e da repressao familiar). "Nunca me envolvi com ninguem porque imagine s6: como e que eu podia casar com meu problema de vista .. Depois vem filho e como eu ia fazer para cuidar ... "(SIC) Durante as sessoes, quando falava de seus sentimentos, freqOentemente chorava, dando vazao as suas em090es. Segundo Ponciano, quando 0 cliente chora, nao sao apenas as seus olhos, e todo 0 seu corpo que chora, ele mesmo e 0 chora, au seja, ele vive 0 sentimento atrav8s de sua expresseo, atraves de suas lagrimas e sua respirayao. 1~~otiJgiaCfin~o 'I"Estrufo ae Casoem gestoft -feropia 50 Mostra-se confusa em relaC;8o aos sentimentos de raiva, culpa e exig€mcia. Porque introjetou padnSes rigidos de comportamento, exigencias socio-culturais, naD S8 permite sentir ralva; como ha raiva, sente-s8 culpada. PSicofogia C(ulica 'f''BtlJ.J{a ae Casa em ljestali-terapin 51 PADRONIZA~i\O DO CASO
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