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ESTUDO DE CASO CLINICO EM GESTALT TERAPIA

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BERNARDO DEGOUVEIA SANTA BARBARA n" 10911
ENITA LEITE DE LIZ n" 10008
GIOVANA VELOSO MUNHOZ DA ROCHA n" 10491
GISELLE VON EYE n" 10494
LUCIANA DE VIVO RIBEIRO n" 10551
MARIA CRISTINA BONATTO TREVISAN n" 10555
MARY TAKEMORI n" 784
ESTUDO DE CASO <1iNICO EM GESTALT-TERAPIA
Monografia de Estudo de Caso Clinico
apresentada ao Curso de Formayiio de
Psic610gos, do Departamento de
Psicologia da Universidade Tuiuti do
Parana pelos discentes do grupo "1",
supervisionados pelo professor e
psic61ogo Francisco Mario Pereira
Mendes CRP 08-1774, em cumprimento
as determinal'oes legais.
CURITIBA
1997
SUMARIO
INTRODUi;AO ..
JUSTIFICATIVAS LEGAlS.
FUNDAMENTAi;Ao TEORICA.
Conceitos Fundamentais ..
o todo e a parte ....
Rela,iio figura e fundo ..
Aqui-e-agora ..
Self ..
Self-suppot .
Homeostase ..
Fronteira de Contato .
Conceito de Doen,a ...
As Camadas da Neurose ..
. 01
..... 02
. .. 03
. .. 15
..15
. 15
. 16
. 17
. 19
. 19
. 19
. 29
. 21
. 22
. 23
. 23
. 24
. 25
. 26
Cicio de Contato ...
Awareness, conscientizac;:aoau tomada de cantato ..
Experiencia ..
Responsabilidade ..
Espontaneidade ..
o Paradoxo da Mudan,a .
Mecanismos de Defesa.. . 27
Quem eo Gestalt-terapeuta e Como Trabalha Em Sua Arte.. . 31
vii
A RelaC;8o Terapeutica na Gestalt-terapia ..
Recursos Gestalticas ..
Presentificac;ao. urn exercicia de awareness ..
Identifica<;ao ..
Troca de Papeis au Monodrama ...
Dramatiza<;ao ..
Viagem Fantasia ..
Amplifica<;ao ..
Cadeira Vazia ..
Expressao Metaf6rica ...
Desenha ..
Tra<;o a Completar ..
Massa de Modelar ....
Colagem ..
Banecas ...
Sonhos ..
Feedback ..
IDENTIFICAc.;Ao DO CLiENTE ..
HISTORICO PESSOAL..
IDENTIFICAc.;Ao DO PROBLEMA ..
PADRONIZAc.;Ao DO CASO ..
DlscussAo ETIOLOGICA ..
SUGESTOES DE MANEJO ..
AVALlAc.;Ao TERAPEUTICA ..
CONCLUsAo ..
viii
....... 34
.. 36
............. 37
.37
. .... 38
.... 38
.. 39
.. 39
. 39
...40
......... 40
...41
.. 41
. 41
.. 42
. 42
.. 42
. 43
........... 44
.. 47
.. 51
. 62
. 66
.. 70
.. 73
ANEXOS
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
ix
'l~'ZcotOgiaCfi'nica 'fltBtuao rfe Caso em (.jcsta(t-tcrapia
INTRODUC;AO
o presente trabalho relata uma experiimcia clinica sob enfoque da
Gestalt-terapia.
o atendimento foi realizado par um academico do quinto ana de
Psicologia, supervisionado par um Gestalt-terapeuta e observado em sala de
espelho pelos demais integrantes do grupo.
o processo psicoterapico baseou-se na premissa gestaltica de que todo
ser-humano possui em si instrumental para sobrepor-se as dificuldades
emergentes no decorrer de sua existencia. Quando 0 indivlduo busca recursos
para enfrentar obstaculos apenas no meio externo esta ilustrada a falta de
suporte interno.
Todo trabalho realizado com a cliente objetivou a (re-)descoberta deste
instrumental nela mesma, para que pudesse reconhecer sua existencia como
uma experiencia singular.
Psicofogia Cli'nica Y''Btutfo at! Caso em ~;t'Stalt-terapia
JUSTIFICATIVAS LEGAlS
Com a finalidade de atender as exigencias legais, realizou-se a estagio
supervision ado para a obtenl'ao do titulo de psicologo pela Universidade Tuiuti
do Parana
Exigencias que constam de :
a) Lei 4.119 de 25 de agosto de 1.962, que disp6e sobre cursos de
formal'ao de Psicologia e regula menta a profissao de Psicologo;
b) 0 Decreto 53.464 de 21 de outubro de 1.964, que regulamenta a Lei
supra citada;
c) 0 parecer do Conselho Federal de Educal'ao n029.262, no paragrafo
(jnico que diz: •... e tambem obrigatorio sob forma de estagio supervisionado a
pratica das materias que sejam objeto de habilitayao profissional."
'l':iicofogia C[£nica If'Estwfo Ife OLW em ~;l!Stalt-terapia
FUNDAMENTAC;:AO TEO RICA
" Ser livre nao e fer 0 poder de fazer nao importa 0 que, e poder ultrapassar 0
dado para um futuro aberto." (Simone de BeaUVOir)f:
Muito mais do que uma abordagem a Gestalt-terapia representa urn estilo
de vida, que tern sua ontogenese em pontos comuns com as escolas
fenomenol6gica, existenciali5ta e humanista.
A fenomenologia postula a no<;iio de intencionalidade, na qual toda
consciencia e intencional e tende para algo fora de 5i, sendo sempre a
consciencia de alguma coisa. Consciencia e fen6meno na~ podem ser pensados
isoladamente. Segundo este pensar nao existe objeto em si, este e sempre para
urn sujeito que Ihe da significado. Preocupa-se com a descri<;iio da realidade,
tendo como princfpio da refiexao 0 homem e sua experiencia. Aranha e Martins
escrevem . "Nesse sentido a fenomenologia e uma filosofia da vivencia."l
Questaes levantadas pelos pensadores fenomenologicos, tais como a
importancia da vivencia imediata, a supremacia da descri98.osobre a explicaC;8o,
a fato de que a percep9ao e submetida a fatores subjetivos irracionai5, e a
urgencia de conscientizar-se do proprio corpo e da experiencia, culminam nos
seguinte5 canceitos gestalticos: 0 como precede 0 parque, 0 pracesso no aqui-e-
agora, 0 sentido unico que cada indivfduo confere ao mundo e a experiencia
fmpar de cada ser humano.
I Aranha e !\lanins, Filosof:mdo, illtrodu~:io:1 filosofia. Sao Paulo, 1993. P.304.
'l'sicowgiil Cli'lIica 'P'Estuao 1ft. Casoem yWQ{t-tcrapiil
A maxima "A existencia precede a essencia~ reflete 0 pensamento no qual
a essencia e 0 que faz com que uma coisa seja 0 que e. 0 homem. portanto,
primeiro existe, para entao definir-se. Os existencialistas incluem-se neste
pensar. que ate entao havia side objetivo e distante do vivido.
St6rig2 resume os sete principios basicos do existencialismo:
1.A existencia e a do ser humano, sendo assim esta constitui-se numa
filosofia humanistica.
2.Existencia e sempre existemcia individuaL A enfase e na existencia
individual concreta.
3.0 ser humane nao pode ser medido em categorias materiais. Ele e sua
propria medida. Nao possui, como por exemplo os objetos, caracteristicas
definidas. ele e que se faz (principio da auto-responsabilidade).
4. 0 metodo dos existencialistas e 0 fenomenol6gico.
S.A filosofia existencialista e dinamica, a existencia e compreendida nao
como ser imutavel e sim como ser no tempo.
S.A existencia humana e sempre urn User(estar)-no-rnundoft e e sempre urn
"ser(estar)-com-os-outros". Os existencialistas nao sao individualistas. Tomam a
existencia humana como unidade com dais p6los: "existencia humana como
existencia individuar e ~existencia humana como ser(estar)-com-os-outros"
7.0 pensamento da psicologia existencialista reveste-se de urn cunha
muito pessoal e determinado pela vivencia. 0 que e tambem caracteristica da
psicologia hurnanfstica.
2 Storig, 1974. vol.2. p.293
2'sir.o[ogitlClInir.a lJI'EstuAO rfe Casoemljestaii-terapia
Sartre, expoente existencialista, demonstra muitos dos principios acima
citados em sua conhecida premissa: "0 importante nao e 0 que fazem do
homem, mas 0 que ele laz do que fizeram dele."
Do existencialismo a Gestalt apreende: a originalidade da experiemcia
individual, a noc;ao de responsabilidade que cada um deveria ter sobre seu
projeto existencial e a relativa liberdade para realiza-Io, a vivencia concreta que
possibilita ao homem experimentar, assumir, orientar e dirigir sua existencia em
busca da auto-compreensao_
Outra grande infiuencia solrida pela Gestalt vem da psicologia
humanistica, que surgiu como uma rea~o a desumanizac;:aoe massificac;aodos
individuos no seculo XX.
Este movimento prega a vivencia como fen6meno primario no estudo do
ser humano. He valoriza9iio da capacidade de escolher, da criatividade, da
avalia9!io e da auto-realiza9!io. A objetividade Ii substituida pelo sentido dos
fatos.
o pensamento centraldos humanistas e de que deve-se subsidiar 0 valor
e a dignidade do ser humano, instrumentalizando-o para 0 desenvalvimento de
suas lor9as e capacidades.
Heidegger3 pronunciou: "Estamos ainda lange de pensar, com suficiente
radicalidade, a essencia do ser. Conhecemos 0 agir apenas como produzir urn
eleito. Sua realidade eletiva Ii avaliada segundo a utilidade que oferece. Mas a
essencia do agir e a consumar. Consumar significa: desdobrar alguma coisa ate
a plenitude de sua essencia; leva-Ia a plenitude: producere. Par isto, apenas
pode ser consumado, em sentido propria, aquila que ja e. 0 que todavia, ja e,
J KofiKa, Kun. IS-S. P :::!9.
'l'sico{ogiD.ClilJica lJI'EJtudO Ife Casoem~i~talt-terapia
antes de tudo, e 0 ser. ~ E e este ser que eansuma a propria existeneia. ou seja,
utiliza sua potencialidade, 0 objetivo da Gestalt-terapia.
Friedrich Satomon Perls, 0 pai da Gestalt-terapia, por alguns considerado
loueo e por outros, genia, foi dono de inegavel eriatividade. Junto com seus
eolaboradores, Laura Perfs e Paul Goodman, produziu e disseminou principios
de uma terapia do cantato. Terapia na qual 0 individuo e respeitado como ser
unieo, dono de incomparavel capaeidade para ser espontaneo e feliz.
Ponciano fala de Fritz Perls e da importancia de suas experiencias na
formula<;ao da teoria: •...a Gestalt-terapia e uma Gestalt do homem. Ela nao e um
eeletisma vazio ou ilogico, mas uma sintese pensada e refletida do homem,
assim como ele e visto, sentido e como foi visto pelo fundador da Gestalt-terapia.
Ela e uma configurac;ao do ser. Ela procura cansumar a essencia. ~4
Ja 0 proprio Friedrich Salomon Perls descreve sua evolu<;ao partindo de
~um obscuro menino judeu classe media, passandc por urn psicanalista mediocre
ate chegar ao pcssivel criador de urn ~novo" metcdc de tratamento e expoente
de uma filosofia viavel que poderia fazer algo pela humanidade:'
A vivencia de Perls proporcionou-Ihe amar e odiar a pSicanalise,
identificar-se com a analise de carater, e finalmente, f1uir com a Zen-budismo.
A pSicanalise trata 0 psiquismo como algo isolado do organismo e a
associa9ao pSicol6gica segue de maneira linear. Fritz pensa 0 organismo
holistico e a associa<;ao livre atraves da teona do campo de Kurt Lewin·
4 Ribeiro. Jorgc Ponciano.GestalHerapia. refazendo 11m caminho. Sao Paulo. 1985. r.114
~Peds. Fritz. Esc~rafllnchando Fritz. Sao Paulo. 1979. P.I L
(, Kun Lewin (1890-1947) roi alcm da tcoria da Gestalt para uma tCOliageral do campo psiquico, que
postulou a intcrdependcncin entre 0 individuo e seu meio social. e culminou nn cria~ao da dimlmica de
grupos. Lewin paniu da teoria do campo eletromagnetico de Maxwell, cOTTelacionando-aaos trabalhos de
Minkowski relativos aO espa(,:(}-tempopsico16gico, e finalrncllIc, integrando estas aos conceitos
psicanaliticos. Gcneralizou hip6teses do campo individual para 0 psicossociaJ. Atualmcnte intcgra-se a
tcoria de campo it tcoria gcral dos sistemas
PsicologinC/ulita 'P'Bluoo IfeCasoem gestaft-terapill
Os psicanalistas consideram 0 sujeito partindo de causas passadas e seus
porques, a Gestalt ve e sente a pessoa na realidade presente e visa
compreender 0 como.
A despeito da repulsa que Perls desenvolveu par Freud, a Gestalt nao e
aquele, e nem a psicanalise e este. Portanto, ha inegaveis contribuic;6es
psicanaliticas incidindo sobre a Gestalt-terapia, tais como: encorajar a
transferencia, a regressao, a compulsao a repetic;ao, a catexia, a libido, a
associac;aolivre, a consciencia, eo enfoque sobre a resistencia. (vide anexo 1)
Os gestalt-terapeutas acreditam que a resistencia nada mais e do que a
fuga da conscientizac;a,o.Conscientizac;a,oque tarnbam se faz necessaria em
rela9ao ao corpo. E para que se fale da importancia do corpo na Gestalt-terapia e
preciso descrever a influencia exercida pela teona de Wilhelm Reich.
Segundo Reich 0 carater e composto das atitudes rotineiras e do padrao
de respostas de uma pessoa, logo inclui atitudes e valores conscientes, estilo de
comportamento e atitudes ffsicas. Estas atitudes ffsicas sao observadas na
postura enos habitos de movimentayiio e manifestayiio do corpo.
"0 "como': isto e, a forma do comportamento e das comunicar;:oes era
muito mais importante do que 0 paciente dizia ao analista. As palavras podem
mentir. A expressao nunca mente." 7
o corpo humane foi descrito par Reich como 0 retrato fisico da psique e 0
caminho atraves do qual 0 terapeuta pode alcan9ar 0 psiquico. Seu metodo
consistia em procurar afastar os mecanismos de defesa corporais para entao
buscar 0 total desenvolvimento da potencia orgastica.
7 Reich. '.Vill-.::-im.Analise do Caratcr. Ponugal. 1972. Pp.428-429.
'.P5irO{OgiaGil/ira II''Btulo de Coso em tjestaft-tcrapia
Perls e Reich concordavam na visao que tinham do homem, na questao
do corpo e na atitude existencial.(vide anexo 2)
o criador da Gestalt-terapia escreveu: " Wilhelm Reich foi 0 primeiro a
chamar minha atenyao para urn aspecto extremamente importante da medicina
psicossomatica: a funyao da musculatura como couraga.~8
Fritz ja havia fechado muitas gestalts quando reconheceu que a teoria da
Gestalt-terapia tinha muitas coisas em comum com filosofias orientais tais como
o Taoismo e 0 Zen-budismo. Estudou, entao, 0 Zen, que completou 0 sistema
gestaltico proporcionando 0 fechamento-aberlura de mais uma gestalt.
o Zen nao incidiu na terapia gestaltica como uma religiao, mas sim como
uma maneira de estar na realidade e 8 ela reagir. Influenciou no sentido de
abertura, de abandono a si proprio, de nao ser dominado pelo pensamento
(racionaliza9ao) e da fuga dos rituais, do re-descobrir 0 corpo e as emo90es, da
nao antecipac;aodos fatos e de nao permitir a auto-interrupgao.
E do contato com 0 Zen que Perls proleriu: "Consentir a propria marie e
renascer, nao e faci!." 90 que quer dizer que ambos os processos fazem com
que 0 individuo reconheg8-se como uma nova pessoa, percebendo suas
potencialidades e Iimita90es e podendo responsabilizar-se p~r isto; e a tomada
de posse do individuo par si mesmo.
A Gestalt nao trabalha com a problema em si, mas com a energia nele
presente; na~ extirpa urn sentimento, mas ensina a lidar com ele, com 0 que
representa este sentimento, com a energia que oculta e revela ao mesmo tempo.
"0 Zen insiste eonstantemente aeerca da importfmeia da arte de viver
integra/mente, presentes no presente, despojados das /i90es e tensoes do
8 Fadiman. James & Frager, Roben, Teorias da Personalidude, Sao Paulo, 1986. p.129.
Psicofogio. C(inica 'f'Btutfo ae Cruoem (;estali -terapio.
egofsmo; sempre disponfveis para a linguagem incessantemente nova dos
fatos. ,,10
Tanto pensadores Zen, como gestalticos, acreditam que a frustra~o e
necessaria ao cresci mento, assim como e precise sentir mais e pensar menos.
Divulgam a continuo cresci mento, a continuo desenvolvimento da liberdade
pessoal, da criatividade e do sentido do poder e dos limites.
Para Perls 0 homem somente transcende a si mesmo atrav8s de sua real
natureza. Nao pode ser diferente daquilo que e sua natureza, pois isto seria
condenar-se ao fracasso existencial. Deve sim, conhecer sua natureza e permitir
que ela fiua. 0 homem e a que e, e a melhor que pode fazer a si proprio e ser
plena mente ele mesmo.
Apesar de todos as antecedentes e infiuencias sofridas par Fritz Perls, a
cria,ao sistematizada da Gestalt-terapia deu-se a partir de principios e
fundamentos da PSicologia da Gestalt. Importante ressaltar que a cronologia da
criaC;ao da Gestalt-terapia e circular, eventos simuJtaneos influenciaram-na e
contribuiram para sua composi~o.
Gestalt e uma palavra alema para a qual nao ha equivalente na lingua
portuguesa, ela quer dizer: disposic;ao ou configuravao, uma organizac;ao
especifica de partes que constitui urn todo distinto,forma.
A Gestalt Psicologia configura-se no inicio do seculo XIX, na Alemanha e
na Austria como uma reac;ao aos pontos de vista atomisticos da psicologia
estrutural e da psicologia associacionista. Seu precursor foi Max Wertheimer, que
em 1912 publica a experimento no qual trabalhou com Wolfang Kohler e Kurt
Kofka. Atraves deste experimento concluiu-se que a percepc;ao do movimento
9 Perls. Gestalt-tempia cxplicada. Sao Paulo, 1977.p.7.
PSicofogio (1inica 'f'Btuao ae Caso em fjt!Staft-terapia 10
depende das caracteristicas relacionadas aos estimulos e da sua organizac;ao
neural e perceptiva nurn unicocampo.
Nas decadas de vinte e trinta a Gestalt Psicologia foi aplicada ao estudo
da aprendizagem, resoluyao de problemas, motiva<;iio, psicologia social e a
teoria da personalidade. Para tais estudos postularam-se as leis gestalticas, que
mais tarde serviriam de base para os conceitos da Gestalt-terapia.
A lei gestaltica da dinamica entre figura e fundo, explica que os
organismos adaptam-se para alcanc;ar sua organizaC;aoe equilibrio 6timos, e
que um dos aspectos desta adapta<;iioenvolve a forma pela qual um organismo,
num dado campo, toma suas percepc;oessignificativas, ou seja, a maneira como
distingue figura e fundo. 0 organismo seleciona 0 que e de seu interesse (figura)
num dado momento. Ora 0 que e figura no campo de percepyao do individuo
torna-se, em outro momento, fundo e vice-versa_
A figura nao e uma parte isolada do fundo, ela existe no fundo, e este
revela-a e permite-a surgir.
A lei gestaltica da semelhanya relaciona-se a tendencia de se perceber
coisas que de alguma forma se assemelham como padrao, e a lei da
proximidade aplica a esta mesma raz80 em relaC;8oaos objetos que encontram-
se rna is pr6ximos uns dos outros.
A lei da pregnancia ou boa forma diz que percebemos um padrao de
maneira a emprestrar-Ihe a melhor gestalt possivei. 0 fato de que linhas
totalmente fechadas de uma figura, sob circunstimcias identicas, sao mais
facilmente tom ad as como unidade do que se nao estivessem fechadas, define a
lei gestaltica do fechamento.
JO Benavides. \977. p.\56.
Psic%gw ('[[nica 'P'[.Slut(O ae Coso em ~;t.5taft-tera_Dia 11
Outra conceito de suma importancia para a explicac;ao desta teeria e 0 de
campo. Campo e um todo de fatos simultaneos que podem ser compreendidos
ao mesmo tempo e de maneira exclusiva. Os Gestalt Psi co logos acreditavam
que 0 comportamento individual era resultante do campo que 0 individuo podia
perceber. Os erras ou enganos eram considerados consequencias da percepgao
defeituosa do campo.
o conceito gestaltico de homeostase fala que este equillbrio e inerente ao
erganismo humano. 0 desequilfbrio e ocasionado per varias influemcias da
sociedade ou do proprio erganismo.
A Psicologia da Gestalt defende a enfase no presente pressupondo que
todos os latores que influenciam a dinamica dos campos de percep~ao e de
atuac;ao relacionam-se com a atuac;ao presente do homem em seu campo.
Segundo a Gestalt a aqui e agora contem e explica a rela~o do individuo
com a realidade como um todo. 0 que e percebido no agora pode ser explicado
pelo propria agora, sem recorrer a experiencias passadas de percepc;ao. A
realidade difere das expectativas que a precedem.
"Embora, por volta de 1940, a teoria da Gestalt}a tivesse sido aplicada em
muitas areas da Psicologia, foi em grande parte ignorada no exame da dinamica
da estrutura da personalidade e do crescimento pessoal. Alem do mais, ainda
nao havia nenhuma formulaq80 de princlpios da Gestalt especificos para a
pSicoterapia. Assim, e a partir desse ponto que podemos comeqar aver 0 papel
de Fritz Peris, responsavel pela ampliaqao da teoria da Gestalt a fim de incluir a
pSicoterapia a uma teoria de mudanr;a psicoJ6gica. ,,11
II Fadiman. James & Frager, Robert, Teorias d3 Personalidadc, Sao Paulo. 1986. p.131.
PSicofogw CUnicn II''Eslutfo oe Caso em Cjestaft.ferapw 12
E uma afirmativa da Gestalt-terapia que a indivfdua deve ser vista como
urn todo e que a compreensao de seu comportamento e possibilitada se 0
mesmo for vista dentro de um determinado campo, com 0 qual relaciona-se no
contexto total. 0 campo psiquico descrito par Kurt Lewin e formado pela
interdependencia entre a pessoa e seu meio social.
A Tearia do Campo revela que 0 mesmo possui regioes diversas, tais
como: perceptiva, motora e intrapessoal. Estas comunicam-se entre si, e a
comunicayao, par sua vez pode produzir: altera90es nas regioes, diferencia9ao
de Iimites entre zonas, maior ou menor enrijecimento de uma regiao e
reestruturac;aodo espac;ovital.12
Ocampo lewiniano revela a pessoa como urn universo fechado, que por
sua vez encontra-se obrigatoriarnente dentro de um universo mais amplo, e
ambos universos se inter-relacionam ininterruptamente. E e dal que se
distinguem duas propriedades: diferencia9ao e rela9ao parte-todo.
A diferencia9ao e a separa9ao do resto do mundo par meio de um limite
continuo. A relac;aoparte-todo e a inclusao da pessoa nurn universo maior. Ao
mesmo tempo que a homem individualiza-se, ele inclui-se nurn universe mais
amplo.
o principia f1uidez-rigidezdescrita por Lewin diz que 0 meio f1uidoe aquele
que responde prontamente a qualquer influencia que recaia sabre ele, logo, a e
f1exfvele intluenciavel, e a rigido e resistente a mudanC;8.
A locomoyao, conceito proprio da Teoria do Campo, ocorre no meio
psicol6gico. e e uma relac;aodinamica entre dais fatos au acontecimentas em
11 Esta reestrutura"iio signitica um novo campo em rela"ao a um falo. ou acontccimento. ou novo modo de
lidar consigo proprio
T.<ieo(oginCHniea'f/'Bttllfa "Caso emyestali-terapiil 13
interagao. Para que exista urn acontecimento e preciso que haja interagao dos
fatos.
Ha tres principios que caracterizam 0 campo: 0 da conex8o, 0 da
concre980 e 0 da contemporaneidade. 0 primeiro fala que a conex8o aconteee
pela interal'ao de dois fatos. 0 segundo afirma que s6 fatos concretos no espal'o
vital podem produzir efeitos. E 0 terceiro diz que s6 os fatos presentes podem
criar um comportamento atual.
Alem dos conceitos estruturais aeima citados existem as dinamicos, que
tambem influenciaram a Gestalt-terapia: energia, tensao, necessidade, valencia,
forl'a ou vetor.
A energia pode s8r, par exemplo, psiquica como a emOy8o. Trabalhar uma
energia signifiea atingir um campo. Tensao e urn estado alterado de uma regiao
em relag80 a Dutra regiao. 5e uma tensao ou uma energia diferencia-se em uma
determinada regi80 e parque surgiu uma necessidade, que se satisfeita faz com
que 0 campa recupere 0 equilfbrio. 0 conceito de valencia esta ligado ao valor
que se da a uma determinada necessidade. As forl'8s psicol6gicas do meio que
atuam sabre a pessoa, neste caso, sao as vetores; a forc;a esta ligada a
necessidade que existe par tras de uma tenseo, ocarrendo no meio psicol6gicQ,
enquanto a ten sao esta no sistema intrapessoaL
A Psicologia da Gestalt absorveu muitos conceitos da Teoria Organismica
de Kurt Goldstein, que tenta reduzir a divisao cartesiana do indivlduo em mente
e corpo e a atomiza9§0 da mente proposta por Wundt propondo um modelo no
qual 0 homem e um todo unificado, um campo integrado e nao uma cisao de
sentimentos, sensac;6ese imagens.
Psicofogin C(mica !f''fslw{o ae Casa em tjcstaft-tcrapill 14
Goldstein concluiu que um sintoma nao poderia ser compreendido apenas
atraves de uma Iesao organica, mas propunha pensar 0 organismo como um
todo.
Segundo uma visao organismica 0 individuo e uno, integrado e
consistente, auto-regula a si mesmo em busca da atualiz8c,;:ao, embora pec,;:ae
receba influencias positivas do meio externo; 0 organismo e um sistema
organizado, com 0 todo diferenciado em suas partes.
"0 organismo e uma s6 unidade; 0 que ocorre em uma parte, afeta 0todo.""
Paul Goodman, 0 primeiro teorieo da Gestalt-terapia, ao formular sua
teoria do self, pensa um seriestar holisticc, no qual as func;iio fisiologieas,
psiquicas, afetivas e 0 proprio corpo dependem mutuamente uns dos outros.
Considerado um dos mais criativos pensadores american as deste sekula,
diretor dos dois primeiros institutos gestaltieos (0 de Nova lorque, fundado em
1952, eo de Cleveland, em 1954), principal teorieo do "Grupo dos Sete", Paul
Goodman esereveu que a pSieopatologia estuda a interrupc;iio da inibigiio ou
outras "falhas" na eriatividade e espontaneidade.
Partieipou, junto a Fritz e Ralph Hefferline, na elabora9iio do que culmlnou
como a "biblia' da Gestalt-terapia. "Gestalt-lerapia", 0 livro, foi publicado pela
primeira vez em 1951, trazendo al8m de conceitos, relatos e comentarios de
experimentos gestaltieos. Eo nesta obra que Goodman expoe a leoria do self.
o self e descrito como 0 proeesso permanente de adaptac;iio eriadora do
homem ao seu meio interno e externo. RefJete-se na maneira particular que
cada pessoa utiliza para expressar-s8 em seu contato com 0 meio.
IJ Hall & Lindzey. 1971.p.332.
Ps~olOgiDClin~a 'I"Btuio rle CasoemIje.stau-te"pia 15
Depois da obra aeirna citada muitas Qutras obras vieram, na tentativa de
explicar algo que 56 e compreensivel pela propria vivencia. Pode-s8 entaD, dizer
que Gestalt-terapia e uma terapia do contata, da experiemcia, das percepc;6es, do
auto-conhecimento, da auto-satisia9ao e da vida.
CONCEITOS FUNDAMENTAlS PARA 0 EXERCiclO DA GESTALT-TERAPIA
o Todo e a Parte
Uma gestalt e urn todo, e na perceP9ao a todo precede a parte.
Isoladamente cada parte tern suas propriedades, mas na soma das partes ha
uma caracteristica mar, propria desta adi9ao: "0 todo e diferente da soma de
suas partes".
o individuo nao e apenas urn produto proteico somado a descargas
eletricas e meio ambiente. Ele e a intera~o de seu organismo, seus
pensamentos, sensac;oes, emoc;6es, linguagem e ayees e como estes interagem
com 0 mundo.
A propria Gestalt-terapia naD e uma soma de seus conceitos, ha urn
campo no qual S8 desenvolve e configura-s8 como tal. Procura trabalhar com a
cliente e a re18<;8,0 terapeutica como urn todD.
Rela9ao Figura e Fundo
Urn fen6meno observado nunca e uma realidade per se, mas sim uma
inter-relacyaoentre a fenomeno e seu observador. a fen6rneno observado e a
figura, que nao existe isolada, mas surge de urn fundo.
P5icolOgiil Cfinica Y''Estud'o le Ca.so em Ije.staft-terapiil 16
Figura e fundo alternam-se no campo perceptual do cliente; 0 que em
alguns momentos e fundo, em outros e figura. Uma figura pode tornar~se fundo
porque fechou-se uma gestalt consequentemente a resoluyao de algo, au nao
tendo suporte para completar uma configuraCY80, a indivfduo nomeia uma nova
figura e torna fundo aquilo que nao pode ser trabalhado no momento.
Parafraseando Ponciano Ribeiro: "Em Gestalt se afirma que 0 ciiente e
sempre figura e 0 psicoterapeuta, fundo. 0 cliente e figura porque e ele que deve
surgir como diferenciado na configuraq8o e porque e sua comunicagao que vai
apontar 0 caminho de uma procura mais ampla.( .. .)na relagao psicoterapeutica e
a relagao entre figura e fundo que erie organizaqao."
Aqui-e-agora
Estar no aqui-e-agora significa que este momento eontsm e explica a
rela980 com a realidade como um todo. Passado e futuro sao examinados tendo-
se em vista seu significado para a agora. Experiemcias opressoras que
dificultaram a auto-realizaqiio atuam sobre 0 presente.
uSomos simplesmente campeoes mundiais em fazer recriminaqoes
atrasadas a nos mesmos porque deveriamos, em determinada situaqao, ter
agido de forma diferente, pelas possibilidades que tivemos, pela nossa educagao
que transcorreu de forma restrita etc. Tambem, par esbravejarmos contra 0
nosso destino au contra nossos erras no passedo, deixamos de dar etenqao e
rea/mente viver e vivenciar aquilo que existe agora, no momento. ,,14
14 Frech t'lal. 1978c
Tsicofogin Clinica YJ'EstuJe Je Case em ye.staft.-terapia 17
A pessoa evita entrar em contato com acontecimentos e percept;6es
atuais quando fica presa aquilo que fez ou deixou de fazer, bern como quando
apega-se as coisas que poderao vir a acontecer.
o passado e 0 futuro encontram-se como sentimentos e percepc;6esno
presente e sobre ele incidem. 0 campo do cliente apresenta-se na rela<;iioentre
a organisrno, a passado e a futuro, que configuram urn dinamismo no aqui-e-
agora, e este sistema dinamico basta para que 0 terapeuta possa compreender
seu cliente tal como ele se mostra.
Self
Goodman definiu 0 self como urn processo, e nao como uma estrutura fixa
do meio psiquico. "Um processo espeeificamente pessoal e carae/eristico de sua
manerra propria de reagir, num dado momenta e num dado campo, em fung80 de
seu "esti/o" pessoal. Nao e um "ser': mas um "ser no mundo", variBvel conforme
as situaq6es." IS
o self pode ser considerado como estando na fronteira do organismo, mas
a propria fronteira nao esta isolada do ambiente; entra em cantato cam este e
pertence a ambos, ao ambiente e ao organismo. 0 contato e 0 tate tocando em
alguma ceisa. NaD se deve pensar 0 self como uma entidade fixa, ele existe
onde quer que haja de fato uma interat;ao de fronteira e sempre que ela existir.
Esta visao aqui descrita do self naD e a classica, na qual ele e um centro,
urn processo que existe p~r si so. Para a Gestalt 0 self e 0 cantata e dele
depende para existir.
o self tern tres func;6es nas quais aparece com intensidade e precisao
variiweis dependendo dos momentos em que se estabelecem. A funr;;ao"id" esta
Psicofogiil L'finica 'f'Bluao ae CaJOem ~;cstal1-te,apiil 18
relaeionada a energia vital, as neeessidades vitais e sua tradw;ao corporal; age
involuntariamente refletindo atos automaticos. 0 ~id"surge como sendo passiv~,
disperso e irracional, seus contelidos sao alucinatorios( imagens e fantasias que
surgem espontaneamente) e 0 corpo a9i9anta-se. 0 corpo pareee enorme
porque com 0 sentido e 0 movimento suspensos, as sensa90es sobressaem-se
no campo.
A func;ao "eu" ou "Ego" e ativa, manifestando escolha ou rejeic;ao
voluntarias; acusa a responsabilidade do individuo de aumentar ou limitar 0
contata. Passibilita a manipula980 do meio partindo da conscientiza9ao das
proprias necessidades e desejos.
A func;ao"personalidade" e a representac;aoque a pessoa faz dela propria,
e a auto-imagem que instrumentaliza-a a reconhecer a funyao ~Ego~;permite a
constru9iio da identidade. E 0 sistema de atitudes adotado nas rela90es
interpessoais. E a admissao do que se e que serve de fundamento pela qual
pode-se explicar 0 proprio comportamento. Quando 0 comportamento
interpessoal e neurotico a personalidade e formada par alguns conceitos
err6neos acerca do campo. Mas no decorrer da terapia a personalidade torna-se
uma espeeie de estrutura de atitudes compreensiveis pelo outro e por si mesmo.
Para Ginger & Ginger em suas tres fun90es 0 self aparece com uma
intensidade au uma precisao variavel conforme os momentos: assim, as vezes, a
individuo nao se reconhece em uma rea~o que naD e habitual nele, como
quando um momenta de afeto "invade-a". Em outros momentos, seu self "se
dissolve" numa intensa "confluencia" au ao contrario, num estado de "ferias"
l~ Ginger & Ginger. Gestalt. lima ler!lpia do contnto. Siio Paulo, 1995.p.126
Psicofogw Cli'nica 'P'BtUifo Ie Caso em (;estaft-terapia 19
Interior, de ~vazio fertW, antes da emergencia de uma nova figura que mobilizara
sua aten980. 16
Self-suportt
o reencontro do self-support ou suporte interne pelo proprio individuo, e
uma das maximas da Gestalt-terapia.
Cada pessoa possui em si mesma 0 instrumental para enfrentar as
adversidades do meio. Este instrumental comp6e 0 suporte interno, que fica
disponivela medida que toma-se consciencia de sua existencia.
Homeostase
A homeostase e urn processo de auto-satisfa9iio das necessidades do
organismo para a manutenc;ao de seu equilibria e saude; e auto-regulador.
Quando 0 processo homeostatico nao funciona harmoniosamente permanecendo
em desequilibrio e sendo incapaz de satisfazer suas necessidades, diz-se que 0
organismo esta doente.
A auto-regula98o e urn processo pelo qual 0 arganismo interage com 0
meio em busca de equilibrio, e, portanto, a propria homeostase
Fronteira de Cantato
E uma fronteira entre eu mesma e a mundo, que protege e delimita,
possibHita trocas com a meio.
~O 'entre' nao e urn constructa secundiJrio, mas 0 verdadeiro lugar e a
ber,o do que acontece entre os homens; nile tern recebido atenqilo particular,
porque, distintamente da alma individual e de seu contexto, nao exibe uma
16 Ibdem p.l~S
TsicolDginC{mica ·/''Estuao rfe Caso em yestaft-terapia }O
conlinuidade uniforme, mas esta sendo renovadamente reeonstiluido de Beardo
com os encontros dos homens entre si ..•17
Nao e um limite no sentido restoto, nao e algo que afasta. A fronteira e
continente, possibilitanda a cantata, a uniaa e a distinc;aa, a crescimento.
uQuando nos referimos a 'fronteira' pensamos em uma 'fronteira entre',
mas a fronteira de contato, em que a experiencia ocorre, nao separa 0 organismo
e seu ambiente; em vez disso, Jimita 0 organismo, 0 con tern e ° protege, toeando
ao mesmo lempo a ambiente. ,,18
E na fronteira entre 0 meio e 0 organismo que ocorre a experiencia que
leva ao crescimento. E nela que as perigos sao rejeitados, as obstaculos
superados e 0 assimilitvel e selecionado e englobado.
Cicio de Contato
o Cicio de Contato tambem e conhecido como cicio de contato-retrayiio,
cicio de satisfayiio das necessidades, cicio de auto-regula~ao organismica, cicio
de experi,mcia e cicio da Gestalt.
Em pessoas saudaveis 0 cieJo pode ser resumido da seguinte forma:
identificac;:ao da necessidade dominante, satisfac;:ao da necessidade e
identificayao de novas necessidades emergentes. Este e um movimento
permanente de formac;:6es e dissoluc;:6es de gestalts, segundo uma hierarquia de
prevalencias que se tornam figuras.
Segundo Goodman 0 cicio divide-se em quatro fases: pre-contato, tomar
contato (contacting), contato pleno ou "final" e pos-contato ou retrac;:ao; a cada
11 Buber. 1965. p.103
1~ Goodman. Hefferline & Peds, 1951.p.229.
Psicowgio. ((illica 'F'£5twio de rASO em qcsta(t-terapw 21
fase 0 self funciona de uma
mobilizando a atenc;ao.
a pre-contato e uma fase de sensac;oes durante a qual a percep~o
excitac;ao, que aparece no corpo do individuo gerada par estimulos externos,
tornar-se-a a figura que solicita 0 interesse do sujeito. 0 self funciona no modo
~id~, pOis sao relevantes a energia e necessidades vita is e sua tradugao corporal.
No momento em que 0 self funciona do modo "eun, possibilitando 0 livre
arbitrio e a agao responsavel sobre 0 meio. acontece a fase de tomar contato ou
contacting. E uma fase na qual ocorre 0 enfrentamento do meio pelo organismo.
Fica estabelecido 0 processo de contato.
a contato pleno e uma fase na qual 0 organismo nao se diferencia do
meio, e uma confluencia saudavel que possibilita a abolic;ao momentanea da
fronteira de contato. A a~o e no aqui-e-agora, unindo percepc;c3o, emoc,;:c3oe
movimento. a self e passivo e ativo ao mesmo tempo, ainda na func,;:ao ueu~, mas
com intensidade reduzida.
Na fase de retrac,;:ao ou pas-contato as experiemcias sao assimiladas, a
que leva 0 indivfduo ao crescimento. 0 self funciona como "personalidade",
integrando a experiencia a viv€mcia da pessoa. Fecha-se uma gestalt para a
abertura de outra; e 0 tim de urn cicio e 0 infcio de outro.
Awareness, Conscientizaryao ou Tomada de Consciencia
A conscientizayao e um estado de consci€mcia atento aos acontecimentos
presentes(outros estados de consci€mcia seriam par exemplo: vigilia, sanho,
devaneio). E a tomada de consciencia global no aqui-e-agora, voltada ao
conjunto de percepgao pessoal, corporal e emotiva, interior e do meio ambiente.
Psil:owgia C[inita If''BtU/[o tie Caso em (jcstali-terapia 22
Existe em tres niveis: intern 0, externo e de mediac;ao.
o nive! interno refere-se a auto-percep980, auto-conscientizac;ao atraves
do contato consigo mesmo.
o nrvel externo relaciona-se a tomada de consciemcia direcionada as
outras pessoas e ao meio.
a nivel de media9ao esta ligado as fantasias, proje90es e mecanismos de
defesa que impedem 0 contato com a realidade.
"A conscientizaqao e um processo continuo de percepqao daquilo que
ocorre no aqui-e-agora. ,,19
Segundo Pelrs a cresci menta e um processo de expansao das areas de
autaconsciencia, a fuga da canscientiza980 inibe a cresci menta psicol6gico.
A autoconscientizac;ao e impulsionada pelo continuum de consciencia, que
e urn fluxo permanente de sensac;6es, sentimentos e ideias que constituem a
fundo sobre 0 qual se destacam figuras emergentes. a continuum e estar
consciente do que experienciamos a toda instante.
Experiencia
A experiencia e a unico caminha para a verdadeiro conhecer. Aa mesma
tempo que e preciso tamar cantata, conscientizar-se e responsabilizar-se para
experienciar, esta e quem permite 0 contata, a conscientizac;ao e a
responsabilidade.
As experiencias passadas somente sao levadas em conta se perturbam a
vivencia de acontecimentos atuais.
l!l French. 1977.p. 6
P.iicofogia C{inica !P'Btutfo de Caso em ~;estatt-uTtJpin
Responsabilidade
Para Perls: "A responsabilidade e a habilidade em responder, em ser 0
que se e. ,020
Quando 0 sujeito responsabiliza-se por suas a96es retoma a capacidade
de comunicar-se diretamente, criando eondi<;oes de externar sua parcela
participativa nos acontecimentos.
Onde come"a a responsabilidade term ina a projec;:ao. Deixa-se de cui par 0
meio, para assumir-se como determinante das proprias dificuldades.
Espontaneidade
Ao inves de tentar explicar a espontaneidade atraves de coneeitos,
rememoremos um bebe que chora quando tem fome independentemente de que
horas sao, e dorme quando tern sono, mesmo com 0 sol a pino. Ele e
espontaneo, nao esta condicionado a auto-interromper-se em busca da
aceita<;aodo meio externo.
A medida em que eresee, torna-se uma neeessidade adaptativa que
comporte-se de acordo com padroes pre-estabelecidos, e nao espontaneamente.
Segundo Perls: "Muitas das necessidades individuais se opee a
sociedade. Competiqao, necessidade de controle, exigencias de perfek;ao e
maturidade, sao caracteristicas de nossa cultura atuel. Oeste fundo surge a
praga e a causa de nosso comportamento social neur6tico. ,>21
A espontaneidade possibilita ao sujeito ser como e, tomando decisoes a
partir de suas sensa<;oes,assim ele naDse submete a novas introj8goes.
:0 Perls. Fritz. Gestalt-terapia uplicada. Sao Paulo_ 1977.p.7S.
:1 Perls in Isto e Gf'Stait. Sao Paulo. 1975. p.19.
'Psieo[ogia Cfiniea 1f/'£5twfo aeCaso em yt!.5toft-taapia 24
Pode-se dizer que a espontaneidade leva a criatividade, pais ao nao mais
submeter-se as introje90es, 0 individuo e levado a criar seus proprios meios de
responder as situac;6es.
Sendo espontimeo, a sujeito e capaz de reconhecer suas necessidades e
assumir suas responsabilidades.
o Paradoxo da Mudan~a
a wparadoxoda mudanC;8"consiste no funcionamento da alteraC;ao,pais "a
mudanc;a ocorre quando uma pessoa toma-se 0 que a, nao quando tenta
converter-se no que nao a". 22
Frente a esta questao de mudan9C30 terapeuta deve comportar-se
segundo uma atitude fenomenologica de aceitac;aoincondicional, permanecendo
com 0 cliente onde quer que este esteja.
a terapeuta deve expressar a crenc;ade que S8 a pessoa investir em si
mesma prenamente na forma em que estiver, entaD era podera mudar porquetodo 0 viver e urn processo.
o trabalho baseado na perspectiva dialogica Eu-Tu nao objetiva "mudar" 0
cliente, mas apenas compreender sua existencia e encontra-Io. Aquele que
procura a psicoterapia e uma pessoa em conflito que so estara pronto para
qualquer tipo de altera~o de padroes a partir de uma awareness suportiva.
Esta awareness desenvolve-se quando a pessoa investe na experiencia
atual, sem exigencias para muda-Ia e sem julgamentos de que nao deveria ser 0
quee.
~2 Ocisscr, Arnold. Gcstalt-tcrapia. teoria.lecnicas e aplica~oes. Rio de Janeiro, 1997. cap.6.
PsicolDgw.Cll'ni£a !IJ'Btwfo ae Casoem fjcstalt-ferapw. 25
Conceito de Doenc;a
"Gada um de nos e, em maior ou menor esca/a, neur6fico, ou seja, as
possibifidades de crescimenfo pessoal 56 podem ser utifizadas de modo
extremamenfe escasso. ,,23
As condic,;:oessociais dificultam 0 desenvolvimento pessoal satisfatorio,
promovendo 0 aparecimento da neurose. Esta ocorre sempre que 0 contato
consigo e com 0 meio e perturbado, 0 que caracteriza uma percepc;:aoerr6nea do
campo.
A neurese esta a servic,;:ada auto-defesa do individua, que se fixa a
padroes rigidos de comportamento perdendo assim sua espontaneidade e auto-
confianc,;:a.
Quando os limites do meio social invadem os do individuo, este sente-se
incapaz de encantrar e manter equilibria adequado entre ele e a resto do mundo,
instalou-se al a neurose.
Os problemas nao sao causadas apenas pelo que e reprimido, mas pelas
auto-interruP9oes que impedem a aprendizagem. Dificuldades neur6ticas
relacionam-se com a impossibilidade de perceber pontos cegos e a que estes
estao ligados.
o estada saudavel caracteriza-se par urn processo permanente de
homeostase que ocorre na fronteira de cantata e na qual a sujeito esta preparado
para a contata com a meio e consigo proprio.
lJ Peds in Gestaltpe-dagogia. 1985.p.70
Psicofogi11.C[mica 'P'Btwfo ae Cosoem ljestaU-ferapia 26
As Camadas da Neurose
Fritz fala da neurose constituida de cinco camadas: camada dos cliches,
camada dos papeis, camada do impasse, camada implosiva e camada explosiva.
A primeira e representada por simbolos sem significado usados num
"encontro". Por exemplo . 0 hilbito de dizer "Bom dia " sem percebe-Io como tal.
A camada dos papeis de nota jogos e desempenho de papeis sociais.
Ambas carnadas acirna descritas sao superficiais e sociais. Sao camadas
nas quais 0 individuo tinge ser melhor, au mais educado, ou mais fraco, etc, do
que real mente e.
A camada do impasse da ao individue a sensa~o de estar preso au
perdido. Visa evitar 0 solrimento de ir adiante buscando 0 que realmente e. Este
safrer esta intima mente ligade ao crescimento.
A quarta cam ada, a implosiva au da morte, pode permanecer encoberta
pelo impasse. Mostra-se como mede da morte, devida a paralisia causada par
fon;;as em aposiyao, e como uma catatonia, "nos agregamos, contraimos e
reprimimos, nos implodimos" 24
o medo da morte aparece com a possibilidade da explosilo e 0 receio
que isto gera. 0 temor de ser perseguido, punido, nao ser amado e assim par
diante.
A implosilo resulta na explosilo, lato que culmina na quinta camada. Esta
explosao e a elo com a pessoa autentica, capaz de vivenciar e expressar suas
emoyoes.
24 Peds, Frilz, Gestalt-terapia explicada. Sao Paulo, 1977. p.SS
PJicofnjia C!inica IP'E.;ttufo Ife Casa em cje"tIlU-faapia 17
Hi! quatro tipos de explosao: explosao em pesar genuino, onde trabalha-
S\~se com a perda nao assimilada; explosao em orgasmo, ern pessoas ant :::~":" %'
~ :.
A explosao nao deve ser vista como urn ruido passageiro, e u
sexual mente bloqueadas; explosao em raiva e explosao em alegria.
acontecimento constante e muitas vezes silencioso. Nao e uma regra que esta
explosao, como as demais que conhecemos, produza ferimentos, estilhac;ose
mobilizayao de varias pessoas. Pode ser urn acontecimento introspectivo que
leva ao auto-conhecimento.
A partir do momento no qual a pessoa sai do papel, entra no impasse e
vislumbra a possibilidade de ampliar seu campo de percepc;:8.o, vivenciando
entao 0 que as camadas subsequentes proporcionam.
Mecanismos de Defesa
Mecanismos de defesa, mecanismos neuroticas au resistemcias sao
perturbac;:oes na franteira de contato que impedem a individuo de experienciar os
acontecimentos em sua totalidade.
Estas resistencias podem ser saudaveis au patologicas conforme sua
intensidade, flexibilidade e 0 momento em que aeorrem (vide anexo 3)
Para Perls25 a introjec;:ao e 0 mecanismo neurotico pelo qual fixamos em
nos regras, atitudes, modos de agir e de pensar, que nao sao nossos proprias. A
introjec;:8.osignifica que se coloea a fronteira de cantata dentro de si mesmo e
quase nada sabra da propria pessoa.
H Perls. 1976. p.S)
Psicowgin Clinica 'f''EHudo de Coso em (jestaft-urapia 28
o individuo tende a responsabilizar-se por coisas que cabem ao meio
externo.
Segundo Ponciano: "A introjeqiJoe 0 processo pelo qual obedeqo e aceito
opini6es arbitrarias, normas e va/ores que pertencem a oulros, engolindo coisas
dos outros sem querer. sem conseguir defender me us direitos por medo da
minha propria agressividade e da dos oulros. Desejo mudar, mas temo minha
propria mudanqa, preferindo a rotina, simplificaqoes e situaqoes faci/mente
controlaveis. Penso que as pessoas sabem melhor do que eu 0 que e bom para
mim.,,26
A medida que 0 sujeito tenha urn sentimento que possibilite escolhas e
desenvolva suas habilidades em diferenciar ~eu" e "tu", diminui-se 0 uso da
introjeC;8o como resistencia ao contato consigo mesmo ou com 0 mundo.
Projeciio
A projegao e 0 mecanisme oposto a introje,ao. E a tendencia de fazer 0
meio responsavel pelo que se origina na propria pessoa.
Neste mecanisme a fronteira e deslocada exageradamente para alem de
si mesmo em direC;8o ao mundo.
Diz Ponciano: "A projeqilo e 0 processo pelo qual tenho dificuldade de
identificar 0 que e meu, atribuo ao Dutro, ao mau tempo, eoisas que nao gosto
em mim, bem como a responsabilidade pelos meus fracassos, desconfiando de
todo mundo, como prov8veis inimigos. Sinto-me ameaqado pelo mundo em
gera/, pensando demais antes de agir e identificando faci/mente nos outros
dificuldades e defeitos semelhantes aos meus e tendo dificuldade de assumir
:6 Ribeiro. Jorge, 0 Cicio de COlltato. Sao Paulo. 1997. p. 46.
Psir.o{ogiaGinica If''fslw[o aeCasoemf.;'estaft-ferapia 29
responsabilidade pelo que fa90, goslo que as oulros fa9am as coisas no meu
lugar.,,27
Urn casa extrema deste mecanisme e a paranoia, na qual acusa-se todo a
ambiente pela agressividade que pertence ao projetor.
A projeyao faz com que S8 atribua a outra pessoa aspectos desagradaveis
da propria persanalidade, fazendo-se vitima das circunstancias ambientais. He
um tipo de Proje9ao chamada de "projeqiio em parte de si mesmo", na qual uma
parte do pr6prio corpo recebe a projeqiio e destoa das demais. Pode ser um
orgao doente ou algo que se estima demasiadamente no corpo.
Confluencia
Na confluencia nao se percebe nenhuma diferenc;a entre si mesmo e 0
meio, sente-se que ambos sao urn so.
o confluente nao consegue vivenciar as proprias sensac;oes, tern
necessidade da semelhanya e recusa tolerar quaisquer diferenyas.
"0 ser humane patologicamente confluente va; dando nos em suas
necessidades, emoc;:oes e at;vidades, transformando-8s num novelo
irremediavelmente emaranhado, ate ele mesmo nao estar consciente daquilo que
quer fazer e de como esla se impedindo de faze-Io.,'8
A psicoterapia como alternativa a confluencia visa desenvolver 0 sentido
de limite e a capacidade de diferenciar as proprias necessidades das dos Qutros.
ORA9AO DA GESTALT
Par Fritz Peris
Eu falja m;nhas co;sas, e voce faz as suas
Nao estou neste mundo para v;ver de acordo com suas expectat;vasE voce nao esta neste mundo para v;ver segundo as m;nhas
21 Ribeiro. Jorge, 0 Cicio de Contato. Sao Paulo, 1997. p. 44.
TSicofogio Clinic. 'Y'Estw{o tie Coso em (jestaft-teropio 30
Eu sou eu. e voce e voce
E se por acaso nos encontrarmos. e lindo.
Se naD, nada ha a fazer.
Deflexao au desvio
E urn mecanismo que evita a cantata direto e que permite a pessoa
esquivar-se de urn compromisso.
Segundo Polster: "A def/exao e um metoda de se evitar um cantata direto
com outro ser humano. E urn metodo de enfraquecer 0 contata atual. 0 que e
alcanqado airaves da prolixidade, de urn modo exagerado de expressao, em se
falando continuamente num tom jocosa, na~ encarando 0 parceiro de con versa
diretamente, nao se chegando nunca a queslao ... "z9
A deflexao pode, em casas extremos, evocar a psicose: a pessoa nunca
adere a situ8yao, fala paralelamente de Dutra caisa au age independentemente
do meio exterior.
Na retroflexao 0 sujeito faz a si mesmo aquilo que gostaria de fazer aos
outros, ou ainda, faz a si proprio 0 que gostaria que outros fizessem.
o retrofietor cinde sua personalidade em agente e paciente da a98o,
observador e observado, tornando-se seu pior inimigo.
Nao dirige suas energias para fora e nao tenta manipular 0 meio para
promover mudan98s que satisfa9GIm suas necessidades particulares. Coleca-se
no lugar do mundo como alvo de seu proprio comportamento.
Profiex80 ( Silvia Crocker)
Eo uma combina<;iio de proje<;iio e retrofiex8o. Consiste em fazer ao outro
o que gostaria que este fizesse. "Eu existo nele."
28 Perls. 1976b. p.S6.58
':R,icotOgia C{udal IJl'£5twio 1ft. Caso em tjestali-terapia 31
Ha um desejo de que 0 mundo seja como a pessoa quer. Manipula-se 0
meio a tim de obter 0 que precisa, seja fazendo 0 que 0 outro 90sta ou
submetenda-se passivamente.
"Tenho dificuldade de me reconhecer como minha propria fonte de
nutriq80 e lamento profunda mente a ausencia do contato extemo e a dificuldade
do outro em satisfazer minhas necessidades. ,JO
E atraves da intera~o com a ambiente que 0 profletor pode experienciar
um cantata saudavel.
Egotismo
E um reforyo supremo da fronteira de contato, que se caracteriza pelo
grande interesse da pessoa par ela mesma e seus problemas.
Nesta situacr80a pessaa permite-se a satisfacroesantes inibidas e sente
que conquistou autonomia tendo poder de escolha.
o egotismo, mesmo parecendo um momenta de egoismo, e um elemento
mator essencial para que a cliente em psicaterapia encarregue-se de si mesmo e
conquiste self-supporl.
Quem e 0 Gestalt-terapeuta e como trabalha em sua arte
o gestalt-terapeuta aponta 0 conteudo que esta sendo trazido como mais
importante em determinado momenta pSicoterapico, a figura e ditada pelo impeto
de autro-preserva<;iio do cliente, que geralmente chega ao consult6rio com 0
pedido de seguranya e aprova<;iio.
29 Polster & Polster. \97i p.9J.
)0 Ribeiro, Jorge. 0 Cicio de Contato. Sao Paulo, 1997. p. 42.
'i'sicofiJgio,-'Hl/ica 'f'Bwtfo Ife Caso em ~iestalt-terapio 32
Faltando apoio interne (self-support), e assim que 0 cliente surge pedindo
ajuda, sem habilidade para abstrair e integrar as abstray6es, sente-se confuso e
incapaz de enfrentar os acontecimentos.
o terapeuta gestaltista deve olhar para aquilo que e trazido e nile imaginar
a que pode estar par tn35; devera utilizar todo seu potencial para transcender-se
e viver 0 novo. 0 ideal condutor nao existe, mas a born esvazia-se para poder
ser preenchido.
Cliente e terapeuta nao sao diferentes qualitativamente, diferem apenas
quanto a maior e menor independencia da neurose.
Facilitar 0 desenvolvimento, fracassar as tentativas do cliente que busca
apoio ambiental, trabalhar com a fusilo de simpatia e frustrac;;ilo como um
instrumento efetivo, perceber situa<;oesde forma abrangente, ter cantata com 0
campo total, conscientizar-se das proprias necessidades e rea<;oes as
manipula<;oesdo cliente e das necessidades e reac;oesdo cliente ao terapeuta,
liberdade para expressar estas necessidades e reac;oes,sao alguns norteadores
da postura do psicoterapeuta da Gestalt.
A Gestalt-terapia pressupoe que falta ao cliente auto-apoio, e 0 terapeuta
simboliza 0 si-mesmo incompleto do cliente. Quando se desvendam as
necessidades do cliente abre-se a oportunidade para que 0 mesmo entregue-se
a elas, expressando suas exigencias, ordens e pedidos. Define-se entao 0 si-
mesmo e 0 apoio (terapeuta) , e neste ponto 0 cliente pode encarar seu
problema.
a terapeuta frustrador age sobre as express6es do cliente que refletem
autoconceito, manipulac;oes e padroes neuroticos. Gratifica expressoes
verdadeiras do si-mesmo do cliente. Desencorajando padroes que impedem a
T5icalogia clinica II''Btuao I{e Casa em gestaft·terapfu 33
auto-realizac;:ao e encorajando a descoberta do self essenciaL 0 terapeuta
contribui com a auto-realizac;:aodo individuo.
Alem do que ja foi citado na tentativa de descrever a postura do gestalt-
terapeuta e importante reforr;ar as cinco tarefas basicas do mesmo, teorizadas
par Joen Fagan.31
Sao os requisitos basicos da empreitada terapeutica: padronizayiio,
controle, patencia, hurnanidade e comprometirnento.
A padraniza~ao acontece na escuta de um pedido de mudan~ ou de um
sintoma. 0 terapeuta procura compreender a ligagao entre os acontecimentos e
sistemas que culrninaram nurn padn30 de sintomas au ern gestalts inacabadas.
Apos profunda reflexao acerca do prablema pode-se intervir em um ou mais
niveis, dependendo do estilo de atuayiio. Depois avalia-se com que rapidez 0
sintoma foi removido, que comportamento positiv~ 0 substituiu equal 0 grau de
perturbac;:aocriada nos sistemas interligados.
"A enfase da padroniza,ao, na Gestalt-terapia, incide sobre 0 proprio
processo de intera,ao, incluindo a capacidade do paciente para fomentar ou por
em risco a interaqao, ou para bloquear a conscientizaqao e a mudanqa."
o controle define-se como a capacidade do terapeuta para persuadir ou
compelir a cliente a seguir os procedimentos psicoterapicos. Nao e uma atitude
de obstrw;:ao, mas de continente das urgencias do processo. 0 sintoma e urn
tipo de contrale rejeitado pelo terapeuta, que incita a motiva~iio para 0 cliente
trabalhar na terapia e persuade 0 cliente para que confie no contrale da situayiio
pelo terapeuta.
Jl Fagan. Jocn. Gestalt-ternpia. leoria, teCniC3S e apliC3fi:Oes. Rio de Janeiro. 1977. cap.7.
Tsico/Ogill C{inica 'I"Btwio ie Caso em (i<!.5taii-terapill 34
A Potencia esta relacionada a capacidade do terapeuta em ajudar a
cliente a caminhar na dire<;aoque deseja, acelerando e provocando a mudan98
numa dire930 positiva. Para tanto utilizam-se tecnicas, procedimentos,
experimentos e sugestoes que superam a inercia e promovem 0 movimento. E
uma contribui9ao da Gestalt-terapia as tecnicas eficazes que possibilitam
mudanyas fapidas de nlveis emocionais profundos.
No contexto de tareta a humanidade engloba: a preocupa9ao e solicitude
do terapeuta a respeito do cliente em um nivel pessoal e emocional; disposiyao
para participar. para dar-s8 e dar ao cliente suas proprias respostas emocionais
diretas e/ou explica<;6es pertinentes de suas proprias experiencias; capacidade
para reconhecer as tentativas do cliente na dire930 de uma autenticidade mais
profunda, que necessitam de apoio e reconhecimento; continua receptividade ao
proprio desenvolvimento que serve de modelo ao cliente_ Muitas vezes a
presen9a do terapeuta e mais importante do que a trabalho terapeutico_
a terapeuta compromete-se com uma vocayao profissional e exigencias
para 0 desenvolvimento da pr6pria com preen sao e aptidoes. Compromete-se
com cada cliente. Propoe-se a contribuir para 0 campo como urn todo,
pesquisando, redigindo artigos, participando da torma9ao dos futuros
profissionais.0 comprometimento e 0 envolvimento e aceita9ao das
responsabilidades assumidas e ex;ge alto nfvel de interesse e energia.
A Rela~ao Terapeutica na Gestalt-terapia
A rela9ao terapeutica na Gestalt-terapia e, sobretudo, de respeito ao
cliente a ao pr6prio terapeuta, pois ambos tern as mesmas caracteristicas
humanas que permitem a intera9iio com 0 meio.
Psicolvgin Ctiflica !//I£ftudo de Casoem yestaft-terapin 35
Por basear-se nas abordagens existencial e fenomenologica a GestaU ve
o homem como ser unico e incomparavel, que tern liberdade para escolher 0 que
e e onde quer estar. 0 profissjonal deve ser capaz de manifestar-se
amorosamente no sentido do respeito a individualidade.
"0 gestalt-terapeuta nao procura compreender 0 sintoma e, assim
procedendo, nao procura sustenta-Io, justificando-o. Nem procura eliminar 0
sintorna au ignora-Io. Ele se disp6e a explara-Io com seu cliente, cornpartilhando
essa aventura a dois. ,,)2
Alguns gestaltistas discutiram 0 termo que melhor representaria 0 cliente
da Gestalt e concluiram que parceiro seria 0 rna is adequado. Parc~iro e uma
pessoa com quem se pode associar, conversar e estabelecer uma rela9ao.
o envolvimento, contudo, e controlado, nao existe uma exposi930 do
terapeuta acerca de seus proprios conteudos ja trabalhados em seu processo
terapeutico.
"Acreditamos (terapeutas) que 0 homem seja capaz de crescer e se auto-
realizar. Procuramos aprender, conhecer e criar instromentos e atitudes capazes
de amenizar os conflitos humanos e acompanhamos 0 outro na sua busca de urn
sentido para a vida. Confiamos nas potenciaJidades de cada urn mesrno que
estejam ocultas sob 0 desespero, as dificuldades e a dor. ,.33
o encontro EU- TU e uma experiencia bastante rara, nao pode ser
conduzida ou fo,,;ada. Mesmo estando 0 terapeuta disposto a encontrar 0 cliente,
o encontro pode nao acontecer.
Para Polster a cada sessao 0 terapeuta transforma-se, tarnando-se rna is
aberto as experiencias imediatas que pode ter, descobrindo junta mente com 0
32 Ginger & Ginger. Gestnit. uma tempi;, do contnlo. Sao Paulo, 1995.p.145.
TsiaJftJgioC{inica 'f"Estwfo ae Com ,mcj"'taU-terapia 36
cfiente como eles podem S9 engajar nos muitos caminhos que S8 abrem para
ambos.34
o cliente/parceiro da gestalt tern oportunidades para que ative seu
potencial criativQ, afetivD, perceptivD, entre Qutros, que Ihe permitirao ser uma
pessoa mais feliz e realizada.
Recursos Gestalticos
"Quando 0 homem errado usa as meios certos, as meios certos funcionam de forma
etTada. "(Barry Stevens)
Inspirados pela fenomenologia os gestaitistas desenvolveram uma serie
de recursos chamados de jogos, exercfcios au experimentos.
Tern sentido no contexto total desta abordagem e integrados a postura do
gestalt-terapeuta concretizam-se num poderoso instrumento terapeutico. 0
recurso naD existe per si 56 e sua aplicac;ao constitui uma arte.
Ha urn cuidado do profissional em nao •pre-parar" sessoes. A prepara,ao
pode dificultar a rela,ao espontanea no contexte psicoterapico. Trabalha-se com
a conteudo presente e utiliza-s8 0 recurso S8 assim 0 momenta pedir.
o recurso pelo recurso, como a tecnica pela tecnica, naD existe; seu usa e
proveitoso quando se ve 0 momento terapeutico como campo que urge a uma
alternativa.
A seguir citaremos alguns experimentos, que entre os inumeros descritos
p~r representantes da Gestalt-terapia, melhor espelham a pratica gestaltica deste
grupo de estagiarios.
n Cardella. Beatri7~ 0 amor na rela/;iio terapeutica. S50 Paulo. 1994_p.57.
)4 Polster e Polster. Gestalt-tcrapia integrada. Belo Horizonte, 1979. p.37.
Psicowgw C(inica IP'Btwfo Ife Caso emcjwalt-ferapia 37
Presentificac;ao •urn exercicio de awareness
Nesta tecnica 0 individuo deve concentrar-se no f1uxo perrnanente de suas
sensac;oes fisicas e seus sentimentos. Tomar consci€!ncia da sucessao de
figuras que surgem sobre 0 fundo formado pelo conjunto da situagiio que esta
experienciando, pOis esta mostra 0 que ele mesmo e no plano corporal,
emocional, imaginario, racional e comportamental.
Favorece a emergencia de situac;oes inacabadas a partir de quatro
questoes basicas preconizadas por Perls:
•"0 que voce esta fazendo agora?"
• "0 que voce sente neste momentoT
•"0 que esta evitandoT
• wO que voce quer, 0 que voce espera de mimT
Portando, a presentificagiio nada mais e do que trazer para 0 aqui-e-
agora, tornar presente, emoc;6es, sentimentos e pensamentos.
Identificac;ao
Na experiencia 0 diente e convidado a identificar-se com algo. Deve
imaginar e narrar sentimentos que passui tornando-se este algo.
Por exemplo, 0 diente imagina uma situac;ao na qual existia uma pedra e
um sapo. 0 terapeuta pode dizer: "Imagine que voce e a pedra(ou 0 sapo). Como
voce esta se sentindo sendo ... E posslvel ser. ..T
1~;iloiOgiaCliiliea 'l"EsIUdO If, Caw emij«talt-terapia 38
o objeto com 0 qual houve identificac;ao faz com que 0 individuo veja
aspectos da sua existencia e possa assumi-Ios primeiro no Dutro, para entao
reconhece-Ios como seus.
Traca de Papeis DU Monodrama
A troca de papeis e uma forma especial de identificac;ao que pode ser
aliada a varias outra tecnicas. Nela 0 protagonista (cliente) desempenha,
alternadamente, os diferentes papeis da situa9iio por ele evocada.
Poderao ser representados, pDr exemplo, 0 dialogo entre ele e uma Dutra
pessoa; entre duas partes de seu corpo au entre sentimentos contraditorios.
Proporciona aceita9iio de partes da personalidade que parecem opostas e
materializa simbolicamente aspectos da personalidade. Facilita a encena9iio do
proprio sentimento do indivIdua, po is 0 que importa nao e a representagao da
verdadeira pessoa eseelhida para a conversayao, mas sim as representa<;oes
internas, subjetivas e par vezes contradit6rias a seu respeito.
Dramatizar;ao
Representa<;ao de situac;6es vividas au fantasiadas na qual 0 cliente
experimenta e explora sentimentas mal identificadas, esquecidas au ate
desconhecidos.
Esta tecnica favarece a canscientizayaa, pais permite uma ayao visivel
que mobiliza 0 corpo e a emoc;aoatraves da presentifica9iio de uma emoc;ao.
P,~owgin Clln~a V''Btwfo Ie Casoem g"taU-terapin 39
Viagem-fantasia
A Viagem-fantasia pode ser dirigida au nao. Apes realizado 0 relaxamento
soHcita-se que 0 individuo imagine uma tela em branco(na versao naD dirigida do
experimental e S8 nela surgirem imagens deve-s8 deixa-Ias fluir. EntaD inicia-s8
a momenta verbal, quando a sujeito pode lalar das imagens emergentes e dos
sentimentos que as mesmas suscitam.
Na proposta da viagem-Iantasia dirigida 0 terapeuta entra como lacilitador
inserindo dados para a construc;ao da fantasia, que pode ser uma paisagem,
uma cena na qual pessoas conversam e muitas Qutras situ890es. A fantasia e
importante elemento na conscientiz8yao das prioridades da pessoa.
Amplifica~ao
Esta tecnica trata de explicitar 0 que esta implicito, permitindo que 0
individuo perceba seu comportamento aqui-e-agora e na fronteira de cantata
com seu meio.
Consiste em tazer 0 sujeito perceber suas rea90es emocionais
subjacentes, tais como: mudangas no ritmo da respiragao ou deglutigao,
mudangas bruscas no tom de voz, na diregao do olhar e microgestos das maos,
pes ou dedos. Estes gestos sao reveladores do processo em curso,
imperceptlveis para 0 cliente e muitas vezes contradit6rios ao que ete expressa
verbal mente.
Cadeira Vazia (Empty Chair)
Desenvolvida por Fritz Perls, visa uma maior conscie!ncia e clareza para 0
trabalho terapeutico. Traz para 0 aqui-e-agora situa<;:6esinacabadas.
1'sicofogw ('fi'nic.a If/'Eswao sle Cruo em yestaft-terapin 40
Se 0 individuo tern sentimentos nao expressos que 0 impedem de fechar
uma gestalt, pode trazer para a cadeira vazia (via imagina98o) aquele a quemeste material se dirige.
Neste caso, talar 0 que deseja diretamente para quem "esta" na cadeira
vazia, permite vivenciar e nao apenas falar sobre a emoc;i3.o, possibilitando a
experiemciadaquilo que sente.
Quando 0 cliente consegue f1uir na tecnica, alem de encerrar situa90es
inacabadas, sente-se calmo e relaxado po is converteu situac;oes passadas, nao
resolvidas, em uma experiencia presente e focalizada.
Expressiio Metaf6rica
Em Gestalt e muito utilizada a linguagem simb61ica ou metaf6rica,
principalmente atraves de expressoes artisticas (desenho, modelagem, colagem,
dan9a e musical.
As expressoes metaf6ricas servirao como suporte pelo qual 0 individuo
estabelecera uma relac;i3.osimb6lica com seus conteudos.
o momento da produ9iio promove a demonstra9iio das emo90es ali
presentes.
Desenho
o desenho mostra 0 mundo interior particular de cada um e tacilita a
expressiio de alguns sentimentos.
Proporciona a visualizac;ao de si mesma e de alguns conteudos, abre
caminho para a fala e para a auto-percepc;ao dos sentimentos que a tecnica
gera.
'l'.5icowgiaCli'nico If''Estwio de Laso em qestaft-ttrapia 41
A Gestalt-terapia trabalha mais com a emo,ao oriunda do processo de
desenhar e do vislumbre da produ9iio do que com interpreta,oes.
o Tra~o a Completar
o terapeuta faz um tra,o qualquer num papel e pede para que 0 cliente
continue ate que nao haja mais espa,o. Este pode fazer a partir daquilo um
desenho ou apenas outros tra90s.
A medida que 0 procedimento evolui ambos conversam sobre as figuras
que se formam ou qualquer material que surja.
Segundo Winnicott esta tecnica permite que 0 pSicoterapeuta perceba
qual e 0 padrao de comunica9iio e intera,ao da pessoa.
Massa de Modelar
Manipular a massa de modelar proporciona uma boa experiemcia tatil e
sensorial. A maleabilidade da massa facilita a constru9iio de objetos que trazem
situac;6es para 0 momento terapeutico, possibilitando ao cliente lidar com a
situac;ao e nao apenas falar "sobre".
Observando a expressao corporal, como a pessoa aperta, pega, torce a
massa, pode-se divisar 0 nivel de ansiedade, conten9iio de emo,oes e
relaxamento.
Colagem
E urn meio de expressao que pode ser usado como experiencia sensorial
e manifesta,ao emocional. Pode utilizar papel, revistas, fotos, tecidos, sucata,
areia, terra, tesoura e cola.
PSicofogio. C{inica 'Jf'Eslwfo Ie Caso em (jestaliAerapia 42
Simplesmente falanda sabre a que for colada au cantando uma hist6ria a
individuQ deixa emergir material a ser trabalhado utilizando a criatividade.
Senecas
Eo mais laeil para alguns lalar por intermedio de um boneeo do que expressar
diretamente 0 que aeha dilieil dizer. 0 boneeo proporeiona um eerto
distanciamento deixando a pessoa segura para revelar conteudos mais intimas.
Sonhos
o trabalho gestaltico com sonhos nao e leito via assoeiagao livre ou
interpretagao. Apes a deserigiio do sonho dramatizam-se os elementos do
mesma.
o cliente e convidado a identificar-se sucessivamente, em palavras e
gestos, tornando-se cada elemento que e eonsiderado uma gestalt inacabada ou
uma expressao parcial de quem sonhou.
Feedback
Eo atraves deste que se conheee a pereepgao do outro sobre meu
comportamento. E um instrumento do pSicoterapeuta para comunicar ao cliente a
que observou, avaliou e concluiu. Tambem serve como um mecanismo de
interagao entre as duas partes.
Existem algumas regras para que seja valido: deve ser dado apenas
quando e outro puder ouvir, expresso de forma direta e firme sem que 0
terapeuta coloque-se numa posiCY8a de superioridade, sendo um meio de
expressao dos sentimentos de lorma breve.
Psicowgia Cfi'nica 'P'Estwfo rie Casaem yestaft-tcrapiil 43
IDENTIFICA~Ao DO CLiENTE
Nome: M. A. M. F.
Data de nascimento: 05/04/1.944
Idade: 53 anos
Sexe: feminine
Estado Civil: solteira
Escolaridade: primeira serie do primeiro grau
Profrssilo: empregada domestica
Religiilo: cat61ica
Filia~o: Pai: LA. F. (falecido)
Mile: L. M. F. (falecida)
PSicO(ogw. CUnita V1T.5tuio tie Caso em tjestalt .terapia 44
HISTORICO PESSOAL
A cliente e a decima filha de uma prole de onze filhos, dos quais seis
eram mulheres e cinco homens. as pais faleceram ha aproximadamente vinte
anos, ja idosos. Era e a unica que mora nesta cidade. Visita ocasionalmente tres
irmaos que moram na cidade de Curitibanos, mas com as demais perdeu
cantata.
E natural do interior de Santa Catarina e saiu de casa com vinte e dois
anos, buscando emprego e tratamento medico para um problema de vista. Na
adolescemcia sentia um ardor muito grande nos 01has, que inflamavam. Nenhum
medico da regiao que residia pode fazer um diagnostico ou tratamento
adequado. Estava quase cega quando encontrou tratamento eficiente nesta
cidade, recuperou parcialrnente a visao, sendo que com a olho direito s6 enxerga
vultos.
Outro fator determinante para que deixasse sua casa foi a postura rigida
e controladora de sua familia. Todos viviam do trabalho no campo, e a isto ela
atribui a impossibilidade de ter estudado. A desaven,a que culminou com a
decisao de ir embora deu-se entre a cliente, sua mae, uma irma e urn irmao.
Discutia com a irma sobre a divisao das tarefas da casa quando a mae interveio
mandando que ela respeitasse a irma que era mais velha. MA nao obedeceu e
continuou discutindo, a mae entao chamou D.(irmao da cliente) que segurou-a
para que a mae a castigasse com urna violenta surra.
A relayao da cliente com seu irmao, D., e muito confusa. Quando jovens,
ele controlava tudo 0 que ela fazia, impedindo-a de namorar e conhecer pessoas.
Quando julgava que ela estava fazendo algo inadequado agredia-Ihe fisicamente.
"Ele sempre agiu como se fosse meu pai, mas meu pai era vivo f" (SIC) D. e um
dos irmaos com os quais existe contato atualmente, ele mora com uma irma, e
M.A. visita-os esporadicamente.
Durante estas visitas a cliente sente que incomoda as irmaos, pois fica
criticando a maneira acomodada e precaria em que vivem. "A casa 8sM caindo
aDs pedaqos e eles nao ajeitam. Nao VaG ao medico, nao se alimentam bern ..
(SIC) Nao consegue evilar esle comportamento, po is "apesar de tudo 0 que eu
passe; na mao dele, nao guardo rancor e quere que vivam bem." (SIC)
PsiaJfoginC[inica tp'£~tuao aeCasoem(jestali-terapia 45
"Cresci de urn jeito muito sofrido, nunca pude escolher apanhava
mesmo' Era espancada. "(SIC) Enfatiza as agress6es do irmao e do pai, que
surge como figura autoritaria e cruel. Este comportava-se de modo irresponsavel
em rela9iio a familia, passava muitos dias fora de casa, e os proprios filhos
sustentavam-se atraves do trabalho no campo. "Ele fazia parte do grupo de
pessoas que cuidava da seguranqa da cidade, pois na epoca nao tinha de/ega do,
andava armado, achava que era poderoso, as pessoas tinham medo dele. "(SIC)
Tratava bem dos filhos preferidos, com estes relacionava-se melhor, conversava
dava aten9iio, "e ate ensinou-os a alirar. " (SIC)
Sente muita magoa por ter descoberto que 0 pai tinha uma filha fora do
casamento, "eu bn'ncava com uma men ina e bern que aehava pareeida com um
primo meu ... ai descobri que era filha do meu pai .. .foi um choque. "(SIC)
Ha, apesar de mas lembran9as sobre sua vida familiar, uma grande
admira9aO pela coragem e forqa da mae, que sempre suportou 0 casamento,
trabalhava muito e exigia que os filhos respeitassem 0 pai, apesar de todas as
situac;oes desagradaveis.
Teve poucos namorados, com as quais nao teve relagoes intimas "nem
beijos." (SIC) Os pretendentes eram desqualificados pela familia, principalmente
pelo irmao, que "de tanto se preocupar comigo nunca cuidou da propria vida, e e
solteirao que nem eu. "(SIC)
Gosta muito da natureza, e relembra com alegria a proximidade que
tinha com a campo, a terra, os animais e as plantas.Quando viaja para 0 interior
de Santa Catarina, alem de visitar parentes e conhecidos, explora ao maximo 0
cantata com a meio ambiente.
Pelo fato de nao ter estudado escolheu a profissao de empregada
domestica. Seu primeiro emprego foi com conhecidos de sua familia (1.974), e
desde entao sempre tem trabalhado em casas de familia.
Nunca foi despedida, trocava de emprego quando estava insatisfeita.
"Quando 0 sa/ario e pouco e me dao indiretas sobre meu jeito, eu saio. "(SIC)
M.A. tenta relacionar-se informalmente com as familias para as quais trabalha,
gostaria de conversar sabre seus problemas e ser compreendida, porem sente-
se rejeitada, incompreendida e desvalorizada, atribui a isto a diferen<,;:a s6cio-
cultural. Mostra-se insatisfeita com a profissae, e relata que jii procureu
'l'siaJwgw C[mica If/'Btuao ae Casoem yestafI-terapw 46
alternativas, tais como: doceira e salgadeira, cabeleireira e auxiliar de
enfermagem, mas a falta de estudo impediu-a de realizar estas atividades.
Tern poucas amigas, a maiaria empregadas domestieas. Sente-se
relutante em confiar nas pessoas, e a isto atribui a dificuldade de se relacionar
com os outros. Com as amigas conversa normal mente, umas com gente
estudada me sinto mal de falar. "(SIC) E ativa junto a AE.D. "defendendo as
causas da c1asse. "(SIC)
Fata que nao deve ser facil conviver com urna pessoa como ela: muito
crftica, agressiva, desorganizada, e que nao permite que as eoisas fujam de seu
contrale. A desorganizayao acometeu-Ihe desde que parau de trabalhar e
percebeu que era rna is simples arrumar as coisas dos outros do que as suas.
Interrompeu suas atividades como empregada domestica devido a problemas na
coluna e urn quadro depressiv~, segundo a medica que a atendeu no Hospital
Evangelico. uNao finha vonfade de fazer nada e senfia muifa angitstia no peifo."
(SIC)
Sente-se angustiada com as recordayoes do passado. As agressoes
fisicas, nao ter estudado, 0 contrale por parte do irmao, a situayiio econ6mica da
familia, a impossibilidade de relacionar-se, 0 problema de vista, a maneira como
deixou a casa dos pais e a morte dos mesmos, sao situac;6es das quais sente-se
prisioneira. uNao quero fiear lembrando desfas eoisas, mas nao consigo
esquecer. "(SIC)
Reside em uma casa que construiu nos fundos do terreno de uma
conhecida, e tem trabalhado como acompanhante de uma senhora nos fins-de-
semana. Pretende visitar os irmaos assim que melhorar da depressao. e depois
quer voltar para um emprego fixo.
TsicowgiaC[inica'r'EstuaoaeCasoemyestaft-terapiil 47
IDENTIFICAC;:AO DO PROBLEMA
A cliente foi encaminhada a Clinica Escola da Universidade Tuiuti do
Parana pelo servi90 de PSicologia do Hospital Evangelico de Curitiba com 0
diagnestico de depressao. Apes a entrevista de triagem ocorreu 0
encaminhamento para 0 grupo T.
A queixa primeira e um estado depressivo, para 0 qual ja tomou
medicamentos (Aropax). Descreve seu estado: "urn desanimo, nao fago nada, s6
quero ficar deitada."(SIC)
Percebeu este esmorecimento quando ainda estava empregada, e depois,
mesmo tendo preferido afastar-se das atividades cotidianas, as sensa90es de
desalento e incapacidade de reagir aumentaram. "Nao tenho vontade nem de
escutar um radio..."(SIC)
Relaciona 0 estado depressivo a dificuldade de comunicar-se com as
pessoas. Conta que nao tem impeto de ver pessoas, de conversar, de ter contato
com 0 mundo. "Se eu estou no ponto de 6nibus e quero saber que horas sao, ja
penso que esta pergunta pode ser uma desculpa para um bate-papo, ai eu nao
pergunto para evitar a conversa."(SIC) Nao demonstrou este receio com a
atendente.
No decorrer das sessoes passa a atribuir este impedimento de
estabelecer contato com as pessoas ao fato de nao ter freqOentado a escola,
este fato por sua vez e imputado a propria familia. A educayiio que recebeu foi
repressora, nunca teve dialogo com seus pais, "era tudo na base da surra."(SIC)
A expectativa sobre 0 que 0 estudo poderia ter proporcionado e muito
grande, impedindo-a, inicialmente, de perceber os sentimentos de magoa, raiva e
1'siWfogia C(inial Cf'Btuao aeCasoemqestaft-terapia 48
culpa que permeiam sua relac;ao familiar. "Nao estudei, par isso nao me
comunico bem."(SIC)
Queixa-se da impossibitidade de esquecer fatos passados que fizeram-na
sofrer e atualmente causam-Ihe mal-estar. ~Eu quem esquecer, sei que e ruim
para mim ficar lembrando, mas eu nao consigo parar de lembrar."(SIC) A
percep,ao que tem do mundo e influenciada pelas experiencias passadas.
No decorrer do processo pSicoterapico 0 pai deixa de ser uma figura
ausente e passiva, a medida que a cliente fala de seu passado, presentifica-o
como uma pessoa violenta e opressora. ~Estavamentindo para mim mesma ..
Fantasiava, queria que e/e fosse um pai amigo, e e/e foi um pessimo pai. "(SIC)
Aprendeu que sentimentos culturalmente considerados negativos nao deveriam
ser aceitos e expressos, portanto sente-se sufocada pelos mesmos.
Castigos eram impostos a qualquer manifesta,ao de vontade e opiniao
pr6prias. Nunca pode escother as roupas que vestia e as rapazes que gostaria
de namorar. Devia obedecer sem questionar.
Nao suporta sentir-se controtada ou criticada, responde agressivamente
as criticas e depois sente-se culpada pela maneira como responde para as
pessoas. Quando era jovem umeu temperamento ja era assim meio
estourado",(SIC) e este foi um dos motivos para que a repreendessem com
violl§ncia.
Sente-se incapaz de confiar plenamente nas pessoas. Acaba procurando
a verdadeira inten9iio daquele que deseja ajudar-Ihe. Nao acredita em atos sem
propositos quando ofertados a ela, mas quando oferece, 0 prop6sito e veraz. "Da
minha bondade eu sei .. gosto de ajudar as pessoas,"(SIC)
'l'siaJwgifl C(inica IP'Estuaa Ife Casa em gestait-terapia 49
Outra questao trazida por MA e sua falta de organizac;ao.Nao consegue
programar nenhuma atividade, pois ate mesmo necessidades basicas de higiene
e cuidados com a limpeza da casa tomam-Ihe mais tempo do que e preciso.
o trabalho como empregada domestica nao a satisfaz. Algumas tentativas
frustadas em outras Ocupa90esfizeram com que sua auto-estima fosse abalada,
restando-Ihe a antiga profissao. Sente-se menosprezada, humilhada e limitada
em seu offcio, "nada e do meu jeito, da minha experiencia ... eles mandam e eu
obede9o."(SIC) Atualmente esta trabalhando. 0 novo emprego proporciona-Ihe a
oportunidade de vivenciar uma nova situagao on de as coisas acontecem como
sempre desejou. MA nao suporta a experiencia de ser tratada como urn
membra da familia, ~eu acho muiio estranho me chamarem para iomar cafe junto
com eles. "(SIC) Nao tern suporte interno para trabalhar a angustia que sente por
ser aceita.
Utiliza seus problemas fisicos, "doen98s", como desculpa para a
impossibilidade de relacionar-se profundamente com as pessoas (alem das
questoes da escolaridade e da repressao familiar). "Nunca me envolvi com
ninguem porque imagine s6: como e que eu podia casar com meu problema de
vista .. Depois vem filho e como eu ia fazer para cuidar ... "(SIC)
Durante as sessoes, quando falava de seus sentimentos, freqOentemente
chorava, dando vazao as suas em090es. Segundo Ponciano, quando 0 cliente
chora, nao sao apenas as seus olhos, e todo 0 seu corpo que chora, ele mesmo
e 0 chora, au seja, ele vive 0 sentimento atrav8s de sua expresseo, atraves de
suas lagrimas e sua respirayao.
1~~otiJgiaCfin~o 'I"Estrufo ae Casoem gestoft -feropia 50
Mostra-se confusa em relaC;8o aos sentimentos de raiva, culpa e
exig€mcia. Porque introjetou padnSes rigidos de comportamento, exigencias
socio-culturais, naD S8 permite sentir ralva; como ha raiva, sente-s8 culpada.
PSicofogia C(ulica 'f''BtlJ.J{a ae Casa em ljestali-terapin 51
PADRONIZA~i\O DO CASO

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