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CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO conhecer e avançar 4 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Copyright © desta edição: ESETec Editores Associados, Santo .Andre, 2004. Todos os direitos reservados Dias, André Luiz Freitas et al. Ciência do Comportamento - Conhecer e Avançar. - Vol.4. Orgs. André Luiz Freitas Dias, Adriana Cunha Cruvinel, Eduardo Neves de Cillo. 19 ed. Santo André, SP: ESETec Editores Associados, 2004. 196p. 23cm 1. Psicologia do Comportamento e Cognição 2. Behaviorismo 3. Psicologia individual CDD 155.2 CDU 159.9.019.4 ESETec Editores Associados Direção Editorial: Teresa Cristina Cume Grassi Capa: Flávia Castanheira Agradecemos a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram com a produção deste material. Cabe um crédito especial à designer Flávia Castanheira, que nos presenteou com um trabalho de especial beleza e sensibilidade. Solicitação dc exemplares: cset@uol.eom.br Rua Santo Hilário, 36 - Vila Bastos - Santo André - SP CEP 09040-400 Tel. 49905683/44386866 www.esetec.eom.br INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO conhecer e avançar A d r ia n a C u n h a C r u v in e l A n d r é L u iz F r e it a s D ia s E d u a r d o N e v e s d e C illo Organizadores A d é u a M aria d o s S a n to s T eik e ir a A na C ar m en O liveira D olabela A nna E dith B ellico da C osta A n d r éa R o d r ig u e s V iana E liane M ar y d e O live ir a F alc o n e É rik L uca de M ello E rn aní H e n r iq u e F azzi H en r iq u e C o ü t in h c C er q u e i ra Jo ã o C arlos M ljniz M a r t in e l u JUDSMAR B o \ENTE BARBOSA Ju n ea R ez e n d e A ra ujo M an uela G o m e s L o p es M a r c o A n to nio A maral C he q u e r M ar ia C r ís h a n a S e ixa s V illani M aria R eg ina B arbosa A ss u n ç ã o M a r t in a R íllo O t e r o R enata G u im a r ã e s H orta R o b e r to G o m e s M a r q u e s R o b so n N a s c im e n t o da C r u z R o n a ld o R g c r ig j e s T eix e ir a J u n io r S onia M ey er T atiana A r a ujo C arvalho ESETec Editores A ssociados 2004 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS T rib uto P ó stu m o à P r o fa . D ra . CAROLINA MARTUSCELLI BORI Nos dias 16 e 17 de agosto de 2003, realizamos a IV Jornada Mineira de Ciência do Comportamento em Belo Horizonte. Naquela ocasião, contamos com a presença da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORI e tivemos a sorte, a felicidade e o privilégio de homenageá-la por sua importante participação no surgimento e no avanço da Ciência do Comportamento em Minas Gerais. O Volume 4 do livro CIÊNCIA DO COMPORTAMENTO-CONHECER AVANÇAR, que edita os trabalhos daquele evento científico, não poderia deixar de registrar, mais uma vez, o apreço dos mineiros àquela brilhante e querida professora e o profundo pesar experimentado com o seu recente falecimento. A atuação da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORI, junto aos Cursos de Psicologia, nos níveis de graduação e pós-graduação, no Brasil é de conhecimento público. Desde a primeira formulação, na década de 60, do currículo mínimo para os Cursos de Psicologia, a grande mestra, juntamente com parceiros igualmente notáveis, procurou destacar a necessidade de uma formação científica para os profissionais da área correspondente. Esse instrumento legal vigorou cerca de quarenta anos. No final dos anos 60, já era reconhecida por seu investimento bem sucedido na divulgação e introdução da ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO e da TECNOLOGIA DE ENSINO dela derivada em diversos Cursos de Psicologia. V INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Nos anos 70, promoveu a instalação de programas de pós-graduação em Psicologia em diversas instituições universitárias. Presidiu diversas sociedades científicas com destaques para a SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA (SBPC) e a SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA (SBP). Fundou, editou e promoveu diversas revistas com o objetivo de estimular a publicação científica no campo de estudos da Psicologia. Em 1999, presenteou nossa comunidade com um documento que apontava novas DIRETRIZES CURRICULARES PARA O CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA, ao participar da Comissão de Especialistas encarregada de formular tal proposta a pedido do Ministério de Educação e Cultura (MEC). Novamente, pudemos identificar seu compromisso com a melhoria da formação científica dos estudantes de Psicologia. Essa proposta, após vários ajustes, foi finalmente aprovada pela Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CES/CNE/MEC) em 12/04/ 2004. Sem dúvida, os cursos de graduação em Psicologia obtiveram grandes ganhos com a nova legislação que embute uma visão prospectiva e mais rigorosa da formação cientifica e profissional correspondentes. As novas DIRETRIZES CURRICULARES corrigem a perda de identidade científica observada nos Cursos de Psicologia, a partir dos anos 70. Diante dessa sucinta amostra de contribuições da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORI para a formação em Psicologia no nosso País, é natural que nos sintamos consternados e que lamentemos profundamente a perda de sua presença física em nosso meio acadêmico. No entanto, reconhecemos que a importância de seus trabalhos extrapolou os limites contidos na dimensão física de nossas relações, tendo sido incorporada num nível muito mais abstrato e racional de nossas histórias, constituído pelo conjunto de idéias e valores que nos legou. Como herdeiros acadêmicos legítimos, estaremos apropriando-nos desse legado, dando continuidade aos sonhos, ideais e objetivos da grande mestra. A Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORI está viva em cada um de nós que tivemos o privilégio de conviver com ela como alunos e amigos e, em conseqüência, na sucessão de gerações de nossos alunos e amigos. A continuidade de suas influências está assegurada e passará, sem dúvida, de geração a geração por um longo período de tempo. Levaremos adiante seus sonhos, ideais e objetivos, especialmente, o de tornar a Psicologia uma ciência forte e influente em todos os campos de estudo que incluam o comportamento humano entre suas variáveis relevantes. Convém registrar ainda, e em destaque, uma contribuição cientifica da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BORi muito relevante mas INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS pouco conhecida em nosso próprio meio acadêmico. Em 1974, privilegiando trabalhos sobre ensino e educação, descreveu um procedimento muito eficaz para planejar o processo ensino/aprendizagem, agregando-lhe a propriedade de tornar-se efetivo para todos os alunos. Aqueles que tiveram a oportunidade de lidar com tal procedimento, além de confirmarem sua eficácia, puderam verificar a possibilidade de expandi-lo como instrumental metodológico para a pesquisa e especialmente para a aplicação da ANÁLISE DO COMPORTAMENTO em situações sociais de quaisquer naturezas. Talvez, esse instrumental, descrito e utilizado por ela, constitua a contribuição mais original e significativa da produção científica em Psicologia no Brasil. De uma maneira muito sucinta, propõe a identificação de contingências de interesse paraum trabalho, seja lá qual for, seguida de sua programação por novas contingências, conforme os princípios da ANÁLISE EXPERIMENTAL DO COMPORTAMENTO, em função de um objetivo visado. Com esse procedimento, pode-se intervir e planejar em qualquer nível e em qualquer ambiente psicossocial. O futuro poderá confirmar a propriedade desse instrumental metodológico. A produção acadêmica da Professora Dra. CAROLINA MARTUSCELLI BOR) é imensa e pode ser identificada nos trabalhos de seus inúmeros alunos e na sucessão de alunos de seus alunos. As suas concepções, o seu rigor metodológico, o seu grande conhecimento de Psicologia e a sua sabedoria como ser humano estão gravados nesses trabalhos. Finalmente, inspirados por ela e irmanados, reafirmamos nosso propósito de realizar o seu sonho e ideal de tornar a Psicologia uma ciência forte e influente nos demais campos de investigação científica. ADELIA MARIA SANTOS TEIXEIRA 25/10/2004 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS S um ário T r ib u t o P ó s t u m o à P r o f a . D r a . CAROLINA MARTUSCELLI BORI A délia M aría do s S an t o s T e ix e ir a ........................................................................................................................ C o n t r ib u iç õ e s d a A n á l is e d o C o m p o r t a m e n t o p a r a R e f l e x ã o s o b r e RESPONSABILIDADE SOCIAL M artina R i l lo O t e r c ....................................................................................................................................................... A n á l is e F u n c io n a l d o C o m p o r t a m e n t o V io l e n t o n o s g r a n d e s c e n t r o s u r b a n o s M aria C ristiana. S eixas V il l a n i............................................................................................................. C o m p o rta m e n to A n t i-s o c ia l: O q u e o s S e h a v io r is ta s r a d ic a is tê m a d iz e r R o b erto G o m es M a r q ues e M ar ia R eg ín a B a r bo s a A s s u n ç ã o ............................................................... Q u a l o p r o b l e m a d o C o n t r o l e C o m p o r t a m e n t a l ? R ob son N a s cim ento da C rijz. M aria C r ís iia n a S eixas V il l a n i................................................................... S o b r e C o m p o r t a m e n t o M o r a l e C u lt u r a R enata G uimarães H o r t a .............................................................................................................................................. O q u e é C o n t r o l e C o m p o r t a m e n t a l ? E rnaní H en riq ue F a z z í.................................................................................................................................................... A C o l o n iz a ç ã o S o c ia l d o Ín t im o J udsàiar B om en te B a r b o s a .......................................................................................................................................... A n á lis e do C o m p o rta m e n to , 'R e s p o n s a b ilid a d e ' S o c ia l e F o rm a ç ã o P ro f is s io n a l na UNIVALE J o ã o C a r l o s M u w M a r tin e lli e M a r c o A n to n io A m a r a l C h e q u e r ................................................ A t iv id a d e s d e e n s in o e m u m C u r s o d e P s ic o l o g ia : u m a A n á l is e C o m p o r t a m e n t a l R onaldo R o d r ig u e s T eixeira J ú n io r , H c ^ ío l “ C o u tin h o C e r c u eif .a e A délia M aría S antos T e ix e ir a .................................................................................................................................................................................. O C o n t e x t o d e P r e s t a r S e r v iç o s n a C l In ic a C o m p o r t a m e n t a l e R e s p o n s a b il id a d e S o c ia l M as c o A n to n io A m aral C h e q u e r e J oãc C arlos M un iz M artinelli V 1 13 19 23 29 35 45 57 73 89 ix INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS A n á l is e d a s C o n t in g ê n c ia s d e u m C a s o C l ín ic o d e T r a n s t o r n o O b s e s s iv o - CO M PU LSIVO É rik Luca de M e l l o .................................................................................................................... 9 7 A n á l is e d e C o n t in g ê n c ia s d o s C o m p o r t a m e n t o s d e N e t o n o F il m e “ B ic h o d e S e t e C a b e ç a s ": As im p l ic a ç õ e s da C l a s s if ic a ç ã o D ia g n ó s t ic a p a r a o T r a b a l h o d o A n a l is t a d o C o m p o r t a m e n t o J umea R eze n d e A raújo e M anuela G o m e s Lc p e s ............................................................................................. 117 A b a l o s n o P r o c e s s o T e r a p ê u t ic o : u m C o n v it e a T r o c a r a s L e n t e s . O P r o c e s s o T e r a p ê u t ic o d e M u d a n ç a d o P o n t o d e V is t a C o m p o r t a m e n t a l . A nd r éa R o d r ig u e s V ia n a ............................................................................................................................................... 127 P e s q u is a B á s ic a : u m E s t u d o s o b r e D e p r e s s ã o A na C armen O liveira Dolabela e T atiana A raújo C arvalho....................................... 137 U m m o d e l o C o g n it iv o d e R e s is t ê n c ia e m P s ic o t e r a p ia E liane M ary oe O liveira F alCo n e ............................................................................................................................. 141 P r o c e s s o s C o m p o r t a m e n t a is n a P s ic o t e r a p ia SoniaMeyer............................................................................................................................... 151 F o r m a ç ã o d o A n a l is t a d o C o m p o r t a m e n t o e R e s p o n s a b il id a d e S o c ia l Anna Edith Bellico da Costa..................................................................................................... \ 5 9 X INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS C o n t r ib u iç õ e s da A n á lis e d o C o m p o r t a m e n t o PARA REFLEXÃO SOBRE RESPONSABILIDADE SOCIAL Martina Rillo Otero1 As relações possíveis entre Responsabilidade Social e Análise do Com portamento podem ser exploradas a partir de diversos pontos de vista. Neste capítulo elas são tratadas a partir de dois pontos: um que pode ser chamado de "ético”, no qual levantam-se contribuições da Análise do Comportamento no delineamento do que seriam atuações mais éticas na nossa sociedade. O outro ponto é um esboço de análise com a identificação de possíveis contribui ções para a noção de “Responsabilidade Social”, a partir de conceitos da Análise do Comportamento. R esponsabilidade S ocial c o m o a ética na atuaçAo do a n a u s ta do com porta mento A Análise do Comportamento tem como objeto de sua investigação o comportamento. Dizer algo, aparentemente tão simples, tem duas implica ções: enquanto uma ciência, a Análise do Comportamento busca produzir um conhecimento que possa servir de instrumento para prever e controlar seu objeto - o comportamento. Além disso, comportamentoé entendido como a forma pela qual o organismo e o ambiente se relacionam. Se buscamos enten der o comportamento, temos que conhecer como se dá essa relação ~ não basta levarmos em consideração apenas aspectos do organismo, nem tampouco apenas dados do ambiente. Quando tratamos de comportamento humano estamos lidando, primor dialmente, com um ambiente social, ou seja, com um ambiente em que as 1 Pesquisadora òo Laboratório de Psicologia Experimental da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS outras pessoas, o que elas fazem, e os produtos do que fazem, são os princi pais aspectos que influenciam o comportamento (Skinner, 1953/1994). Se gundo Skinner (1953/1994) o comportamento social envolve a relação de pessoas entre si ou com um ambiente comum a elas. Ambiente social é a parte do ambiente que afeta o organismo e que é composto por outros organismos - direta ou indiretamente. Ao adotar a abordagem da Análise do Comportamento, entendemos, então: 1) o comportamento como a relação entre organismo e ambiente e 2) esse ambiente caracterizado primordialmente, no caso do comportamento humano, de um ambiente social. Dessa forma, assume-se que aquilo que fazemos - ou deixamos de fazer - altera, transforma ou configura, de maneira geral, o ambiente relevante no controle do comportamento de outros organis mos. Ao tratarmos da responsabilidade social como compromisso do analista do comportamento enquanto profissional e cidadão destaca-se portanto, o exercício de análise de seu próprio comportamento e da consequente refle xão acerca do ambiente que ele está contribuindo para configurar para o outro (vale a pena ver a análise feita por Holland, 1978 um tanto informal, não? Questão de estilo?). Nessa linha, destacam-se as contribuições da Análise do Comportamento acerca da algumas práticas sociais e suas conseqüências sobre os indivíduos que compõe a sociedade, (exemplos cairiam bem) O desenvolvimento da abordagem permitiu o acúmulo de conhecimen to sobre práticas sociais amplamente utilizadas para controlar o comporta mento de seus membros que têm efeitos indesejáveis sobre o indivíduo que poderiam e deveriam ser evitadas (Sidman, 1989/1995), assim como outras que poderiam ser estimuladas. Destacam-se aqui apenas alguns exemplos tanto das primeiras como da segunda: 1) evitar o uso de controle aversivo; 2) evitar o uso excessivo de reforçadores arbitrários e; 3) evidenciar o papel do ambiente na determinação do comportamento. E v it a r o u s o d e c o n t r o l e a v e r s iv o Do ponto de vista da Análise do Comportamento o comportamento se define como a interação entre organismo e ambiente e os componentes dessa relação são: uma situação antecedente, a resposta do organismo e a conse qüência dessa resposta. A ação do sujeito produz conseqüências no meio, que, por sua vez, controlarão a probabilidade de emissão de tal ação no futuro. O ambiente seleciona o comportamento, de modo que tanto a mudança como a manutenção do comportamento mantém relação com as condições ambientais. A relação entre esses três termos define uma unidade de análise comportamental chamada tríplice contingência. Utilizando uma classificação proposta por Sidman (1989/1995), "Gene ricamente falando, há três tipos de relações controladoras entre conduta e INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS conseqüências: reforçamento positivo, reforçamento negativo e punição” (p. 51). Resumidamente, o reforçamento positivo envolve a apresentação ou a produção de um estímulo reforçador que aumenta a probabilidade de emis são da resposta que o antecedeu ou da qual foi produto. O reforçamento negativo envolve a eliminação ou remoção de algum estímulo contingente à emissão da resposta, que também toma mais provável a emissáo dessa res posta no futuro. Nos dois casos de reforçamento a probabilidade de emissão da resposta é aumentada no futuro. Já a puniçào envolve uma resposta que “seja seguida ou pela perda de reforçadores positivos ou ganho dereforçadores negativos” (Sidman, 1989/1995, p. 59). Sidman (1989/1995) ressalta que “Esta definição nada diz sobre o efeito de um punidor sobre a ação que o produz. Ela não diz que punição é o oposto de reforçamento. Ela não diz que punição reduz a probabilidade futura de ações punidas” (p. 59). Apesar de comumente ser vista como uma estratégia de redução de determinados comportamentos, a punição não funciona dessa forma. A punição não garante a não emissão de uma resposta futura e, assim como outras estratégias coercitivas, causam extremo prejuízo para o organismo que é submetido a ela. Segundo Sidman (1989/ 1995): a “coerção entra em cena quando nos sas ações são controladas por reforçamento negativo ou punição” (p. 51). Há, ainda, outro tipo de controle que também pode ser caracterizado como coerci tivo, que submete o indivíduo à privação socialmente imposta: “Outro mau uso de reforçamento positivo é deliberadamente criar tipos de privações que tornamos reforçadores efetivos: prisioneiros primeiro são colocados em solitária e, então, se permite a eles ter contatos sociais como reforçamento por docilidade; primeiro submetidos a privação extrema de alimento, eles podem, então, obter alimento em retribuição por subserviência. Liberdade e alimento parecem reforçadores positivos, mas quando eles são contingentes a cessação de privações artificialmente impostas, sua efetividade é um produto de reforçamento negativo; eles se tornam instrumentos de coerção” (Sidman, 1989/1995, p. 61, grifos nossos). A utilização de punição, reforçamento negativo e privações socialmen te impostas no controle do comportamento definem o que Sidman (1989/1995) chamaria de controle coercitivo do comportamento. Já foram realizados estudos experimentais (Ver Sidman, 1989/1995 e Catania, 1998/1999 para alguns exemplos) e análises de práticas sociais (por ex. Sidman, 1989/1995) sobre os efeitos colaterais do uso de procedimentos aversivos para controlar o comportamento que evidenciam que: ... “mesmo quando a coerção atinge seu objetivo imediato ela está, a longo prazo, fadada ao fracasso. Sim, podemos levar pessoas a fazer o que queremos por meio da punição ou da ameaça de puni-las por fazer qualquer outra coisa, mas quando o fazemos, plantamos as sementes do desengajamento pessoal, do isola mento da sociedade, da neurose, da rigidez intelectual, da hostilidade e da rebelião" {Sidman, 1989/1995,p. 18). INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Quando submetido a controle coercitivo, o organismo tem reações fisi ológicas que configuram respostas emocionais dolorosas, que identificamos como medo, dor, etc. Estímulos da situação antecedente à resposta que é punida adquirem propriedades aversivas, de forma que situações diversas que sinalizam esse tipo de conseqüência também tornam-se aversivas para o organismo. Poderíamos dizer que, numa sociedade em que a utilização de punição ou de controle coercitivo no geral é muito difundida, o mundo dos membros que a integram se torna extremamente aversivo. A Análise do Comportamento mostra que a utilização de controle coer citivo do comportamento, por punição, reforçamento negativo, ou privação socialmente imposta é extremamente questionável tanto do ponto de vista da eficiência do controle (já que a supressão da resposta indesejada é apenas temporária), como dos subprodutos que acarretam no indivíduo que é subme tido a ele. Segundo Sidman (1989/1995): “Os efeitos colateraisda punição, longe de serem secundários, freqüentemente têm significação comportamenta! consideravelmente maior que os esperados ‘efeitos principais”' (p.94). A iden tificação de tais subprodutos, a supressão temporária da resposta e o estabe lecimento de estímulos aversivos condicionados, faz com que a utilização de procedimentos coercitivos para controlar o comportamento deva ser evitada por analistas do comportamento. E vitar o uso excessivo de refo rçado r es a r b itr á r io s O uso de reforçadores arbitrários ou extrínsecos, apesar de necessária para estabelecer alguns repertórios (por exemplo o de ler) tem alguns desdo bramentos que tomam problemática a sua utilização excessiva. Reforçadores intrínsecos ou naturais são definidos como produtos naturais ou resultados “au tomáticos'' da resposta (Comunidad Los Horcones, 1992, Catania, 1998/1999). Já os reforçadores extrínsecos ou arbitrários são aqueles originados a partir de outras fontes que não a própria resposta (Comunidad Los Horcones, 1992, Catania, 1998/1999). No exemplo do repertório envolvido na leitura, reforçadores intrínsecos são aqueles associados à própria atividade ler e os reforçadores extrínsecos são aqueles como a aprovação da professora e a nota. A discussão existente é que, muitas vezes, o controle estabelecido por reforçadores arbitrários toma a ocorrência do comportamento dependente de agentes externos e, por isso, fica mais passível de manipulação deliberada por tais agentes. Respostas sob controle de reforçadores naturais são mode ladas mais rapidamente, já que a apresentação do reforço tende a ser imedi ata e ocorrendo saciação, apenas a resposta diretamente relacionada com aquele reforço é extinta. Comportamentos sob controle de reforçadores arbi trários podem ficar condicionados a situações muito restritas, nas quais o INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS agente responsável pela liberação do reforço está presente. Ainda no exem plo do repertório de ler, o aluno pode emitir as respostas apenas na presença do professor, de modo que o repertório de leitura fica sob controle dessa conseqüência e não de outras condições que seriam também desejáveis, como o prazer pela leitura. Finalmente, repertórios sob controle de reforçadores arbitrários tendem a envolver menos variabilidade ou menos criatividade (Comunidad Los Horcones, 1992). A utilização de reforçadores arbitrários é necessária em diversos casos de repertórios mais complexos em que é preciso planejar um processo em que o organismo passe a ser sensível às conseqüências naturais daquele comportamento. Porém, mesmo nesses casos, sua utilização deve estar inserida em um processo no qual haja perspectivas claras e planejamento da transferência do controle para os reforçadores naturais. E v id e n c ia r o papel do am b ien te na d eter m in aç ão do c o m po r tam en to . Da mesma forma como o analista do comportamento tem instrumentos para analisar seu próprio comportamento de modo a prever e refletir sobre as conseqüências de sua ação, ao evidenciar o papel do ambiente na determina ção do comportamento ele favorece que outras pessoas possam também en tender e manipular melhor seu próprio ambiente de modo a controlar melhor seu comportamento. Segundo Skinner (1971/1973): “Segundo o ponto de vista tradicional, o indivíduo é livre. É autônomo no sentido em que seu comportamento não tem causa. Pode-se, portanto, considerá- lo responsável por seus atos e puni-lo mereci da mente por seus erros. Esse ponto de vista, bem como as práticas dele decorrentes, deve ser reexaminado no momento em que a análise cientifica descobre relações insuspeitadas de controle entre o comportamento eo ambiente” (Skinner, 1971/1973, p. 19). Evidenciar o papel do ambiente na determinação do comportamento é uma questão especialmente difícil para o analista do comportamento, já que socialmente é rejeitada a idéia de que o comportamento é determinado e de que pode ser investigado e controlado. Porém, assumindo ou não tal determi nação, qualquer indivíduo tem seu comportamento sob controle de contingên cias. Negar o controle e rejeitar o fato de que o comportamento é determinado não muda em nada a realidade de que o comportamento é produto da relação do organismo com o ambiente. Ao negar o papel do ambiente, menos pessoas discutem e sugerem modificações para o ambiente no qual vivemos. Ao evi denciar o papel do ambiente na determinação do comportamento inaugura-se um espaço no qual as contingências que controlam o comportamento dos indivíduos da sociedade possam ser discutidas abertamente, de maneira que haja maior oportunidade de participação na definição de tais contingências. Podemos favorecer que as pessoas tenham instrumentos para elas mesmas INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS manipularem o seu ambiente de modo a direcionarem seu comportamento no sentido que elas e o conjunto considerarem adequado. C o n tr ibu iç õ es da A nálise do C om portam ento n a r eflexão so br e c o m po r tamentos socialm ente responsáveis Além da contribuição da Análise do Comportamento no sentido de indicar efeitos de algumas práticas sociais sob o comportamento, também é possível realizar uma análise da própria noção de responsabilidade social de modo a evidenciar aspectos relacionados com a evocação de tal conceito recentemente e, ainda, propor algumas contribuições na reflexão sobre a temática. Para proceder à análise da noção de “responsabilidade social” desta- ca-se, primeiro, a compreensão do termo "responsabilidade”. Segundo Skinner (1971/1973), quando dizemos, na nossa sociedade, que alguém é “responsá vel” por algo, estamos dizendo que ela é “merecedora", ou seja, estamos buscando identificar o ator que emitiu algum comportamento em questão. Skinner (1971/1973) evidencia que, na nossa sociedade, o ator considerado responsável pelo comportamento é o próprio indivíduo que se comporta, su postamente a partir de suas motivações internas. Se o comportamento é con siderado adequado dão-se créditos ao indivíduo “responsável”, e se o com portamento é considerado inadequado, ele é punido. A noção de que cada um é responsável por sua conduta é amplamente difundida e aceita na nossa sociedade e conflita com a visão de que o compor tamento é produto da relação entre o organismo e seu ambiente. Como já foi destacado, nessa visão socialmente aceita, o papel do ambiente na determi nação do comportamento é menosprezado em prol da supervalorização de motivações internas, vontades, propósitos e intenções do indivíduo. Dessa forma, quando são elaborados programas que visam mudar o comportamento dos indivíduos que integram a sociedade (e isso se faz a todo instante - na escola, no posto de saúde, pela televisão, nas prisões, pelo sistema de justi ça) busca-se fazê-lo especialmente por meio de ações que supostamente agirão sobre tais motivações internas. Numa visão comportamental são priorizadas estratégias de transformação das contingências ambientais rela cionadas a esse comportamento. Outra característica das estratégias de controle do comportamento da nossa sociedade, é que elas são baseadas prioritariamente em controle aversivo (Sidman, 1989/995). Quer dizer, nossa sociedade, usualmente, con trola o comportamento de seus membros pelo uso da punição, reforçamento negativo ou de privações socialmente impostas. Para evitar que o indivíduo roube, são criados prisões e outros tipos de castigo. Os alunos são motivados INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões!INDEX BOOKS GROUPS a estudar pela ameaça da nota baixa ou da reprovação e as crianças são castigadas pelos seus comportamentos considerados inadequados. Esse processo resulta numa prática social amplamente difundida: se o agente identificado como responsável pelo comportamento é o próprio indiví duo que se comporta, é também sobre ele que recaem as estratégias de controle prioritariamente coercitivas amplamente utilizadas. Responsabiliza- se o indivíduo pelo seu comportamento e é ele que será punido caso sua conduta não seja considerada adequada. Dessa lógica derivam explicações como “o indivíduo comete crimes porque é violento, preguiçoso ou mau-cará- ter e deve ser castigado". A soòedade como um todo, o Estado e as condições oferecidas a esse indivíduo para que ele desenvolva outros comportamentos são menosprezadas. Ou seja, as condições ambientais presentes na história do indivíduo que estiveram relacionadas ao fato dele emitir esses comporta mentos são legadas a segundo plano e não são realmente consideradas na relação causal, nem tampouco objeto prioritário de transformação. A noção de responsabilidade como é utilizada usualmente serve especialmente como forma de atribuir culpa ao próprio indivíduo pelo seu comportamento. Segundo Sidman (1989/1995), na nossa sociedade o fato de que as causas do comportamento são localizadas “dentro" do indivíduo, unido ao uso recorrente de controle aversivo e à conseqüente freqüência com que os indi víduos são submetidos a esse tipo de controle estiveram associados a um processo de distanciamento dos indivíduos de questões coletivas. Sidman (1989/1995) diz que “quando examinadas de perto, descobriremos que quase todas as formas de inação via desengajamento contém fortes componentes de esquiva" (p. 171). Quando o comportamento de um organismo é exposto à punição, qualquer resposta que interrompa a estimulação aversiva tende a ser reforçada - tende a ter sua freqüência aumentada no futuro. Esse processo é chamado fuga. A situação que precede a apresentação do estímulo aversivo ou a interrupção do estimulo reforçador passa a sinalizar a situação aversiva, passa a ser um estimulo pré-aversivo (Catania, 1998/1999). A apresentação do estímulo pré-aversivo pode já evocar respostas que evitam a situação aversiva. Chama-se esse processo de esquiva. Segundo Sidman (1989/1995), “esquiva é, então, outra forma de reforçamento negativo" (p. 136). Segundo Sidman (1989/1995) envolver-se com atividades relaciona das a interesses da coletividade tende a ter um alto custo de resposta. Quer dizer, para nos dedicarmos a atividades de interesse coletivo, temos que nos deslocar de outras atividades, e dedicar tempo a isso. Porém, mais importante do que o alto custo de resposta, Sidman (1989/1995) evidencia a aversividade que nossa sociedade estabeleceu em torno do envolvimento dos indivíduos em questões coletivas e que faz com que fujamos ou nos esquivemos delas. Ficamos suscetíveis a sanções quando nos envolvemos com questões de interesse da coletividade e também acompanhamos de perto alguns com INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS portamentos de indivíduos de modo a identificar falhas ou ações ilegais. Jus tamente pelo fato de que socialmente tais comportamentos foram tratados com punição, os indivíduos se protegem uns dos outros, evitando situações de monitoramento e avaliações de suas atividades. Dessa forma, “botar a boca no trombone”, como diria Sidman (1989/1995), e alertar sobre tais com portamentos e suas conseqüências, tende a nos colocar em situações aversivas. Assim, tendemos a não nos envolver com essas situações ou ain da, ser coniventes com tais comportamentos. Além disso, quando estamos tratando de questões que envolvem inte resses de outros corremos o risco de ferir tais interesses, ou de interferir de maneira a transformar as condições que normalmente são reforçadoras para alguns indivíduos, apesar de aversivas para outros. E ao lidar com possíveis perdas para alguns, novamente ficamos suscetíveis a sanções e punições por parte deles. Finalmente, o produto desse processo é uma sociedade marcada por indivíduos que se abstém de envolver-se nas questões de interesse coletivo, e na qual predomina a apatia e a insensibilidade a realidades desumanas e cruéis. Porém, Segundo Sidman (1989/ 1995): “Mais cedo ou mais tarde uma política naciona de evitar a responsabilida de social deve terminarem catástrofe nacional. A polarização econômica inevitavel mente leva á conclusão social violenta. Evitando problemas atuais, garantimos choques severos mais tarde; os gatos gordos de hoje estão criando seus filhos e netos para o desastre. Entretanto, conseqüências atrasadas controlam fracamente o comportamento:‘Deixe que se defendam sozinhos”’ (p. 170). “Recusar-se a tomar uma decisão é em si mesmo uma decisão; acreditar que realmente nos abstemos de envolvimento, que nos isentamos da responsabi lidade, é uma ilusão. Somos criaturas sociais e mesmc nos refreando de agir terá seus efeitos em outros" {p. 171). Segundo Sidman (1989/1995) esse processo de desengajamento está relacionado com a situação do mundo atual, o qual corre o risco de ser extinto, com os recursos ambientais sendo consumidos numa velocidade acelerada, a produção de poluição, a desigualdade social, a violência, o crescimento populacional... Um mundo no qual interesses econômicos e políticos de indi víduos e setores da sociedade se sobrepõem a interesses coletivos. E é nesse contexto, justamente, que vemos parcelas da sociedade evocarem a noção de “responsabilidade social"2. Numa perspectiva comportamental a responsa bilidade social não é uma “coisa" que alguém “possui", mas sim, comporta mento. A partir da análise realizada e do que afirma Sidman (1989/1995) acima, podemos chamar de comportamentos socialmente responsáveis aque : Algumas organizações sociais têm discutido esse conceito no âmbito do 3a Setor, como por exemplo: o Instituto Ethos (http://www.ethos.org.br/), o Red Puentes (http://www.redpuentes.org} e o IBASE (www.ibase.br). INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS les que têm como produto sua parcela de contribuição na construção de um mundo que garanta a sobrevivência das futuras gerações ou, como diria Skinner (1978) comportamentos que “levam o futuro em conta" - e isso implica em melhorar as condições em que vivemos. E que tipo de contribuição a Análise do Comportamento pode oferecer no sentido de planejar um ambiente que favoreça a emissão desses comportamentos? Diversas características relacionadas com o processo de instalação e manutenção de comportamentos mais adequados para a sobrevivência da espécie fazem com que mudar o rumo que vem sendo tomado não seja tarefa simples. Em primeiro lugar, como foi discutido, há “interesses* contrários en volvidos, condições reforçadoras para uns (pelo menos mais imediatamente), são condições aversivas para outros. Em segundo lugar, a produção de um ambiente melhor e o estímulo a comportamentos mais adequados para a sociedade não dependem do comportamento de um só indivíduo, mas de um conjunto muito grande deles. E, além disso, não há apenas uma resposta ou uma classe de respostas envolvidas com aquele produto, mas uma diversida de de cadeias comportamentais longas e complexas. Porém, mesmo com to das essas dificuldades e complexidades não temos como “cortar caminho” e o primeiro passo para alguma solução real deve ser assumir que mudanças na sociedade implicam em mudanças no comportamento dos indivíduos que fa zem parte dela. Com o foco da análise no comportamento decada indivíduo envolvido nesse processo (ou seja, todos nós), devemos perguntar como fazer para colocar o comportamento sob controle de uma conseqüência tão distante tem- poralmente, como essas que viemos tratando até agora. Diversas pessoas pensam: "Extinção dos recursos naturais? Poluição e camada de ozônio? Vio lência? Desigualdade Social? Isso não vai acontecer comigo!". Ou como diz Sidman: <;Deixe que [nossos filhos, as futuras gerações] se defendam sozi nhos”. Em primeiro lugar, os procedimentos para que as pessoas levem o futuro em conta" (Skinner, 1978) não deveriam mais depender apenas de justificativas “internas” ou do uso de controle aversivo. Como vimos anterior mente, foi desse jeito que chegamos até a situação em que estamos. É neces sário buscar soluções que estejam baseadas na mudança da relação entre os indivíduos e seu ambiente. A proposta de evidenciar o pape! do ambiente na determinação do comportamento, discutida na primeira parte deste texto, vai nesse sentido, assim como a promoção de estratégias de controle que não sejam aversivos ou que utilizem excessivamente reforçadores arbitrários. Em segundo lugar, a Análise do Comportamento pode sugerir algumas alternativas de procedimentos e mudanças no ambiente dos indivíduos de modo a fazê-los levarem "o futuro e conta” (Skinner, 1978). Já sabemos que o INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS comportamento é controlado pelas suas conseqüências. E, além disso, que quanto menor for o intervalo temporal entre a resposta e a conseqüência, mais poderoso será o controle (para ver algumas razões para que esse tipo de sensibilidade tenha sido estabelecida nos organismos ver Skinner, 1978). Respostas com conseqüências atrasadas são mais difíceis de serem instala das e mantidas. Mas se esse é justamente o caso, então o que podemos fazer? Skinner (1978) sugere alguns esquemas e estratégias em que a res posta pode ficar sob controle de uma conseqüência atrasada que não serão tratadas neste texto. Destacam-se aspectos relacionados com o papel da cul tura nessas estratégias. Segundo Skinner (1978): “O fato é que práticas cutturais estão envolvidas naquelas contingências de reforçamento imediato que geram comportamentos que têm conseqüências remotas, e isso provavelmente aconteceu em parte porque essas conseqüências têm fortaiecido a cultura, permitindo que ela possa resolver seus probiemaseaté sobreviver71 (p. 24). Skinner sugere, portanto, que há comportamentos que têm conseqü ências atrasadas, mas que também podem estar sob controle de conseqüên cias imediatas (aprovação social, por exemplo) e que a cultura cumpre um papel importante no estabelecimento e na liberação de reforçadores imedia tos para tais comportamentos. Nosso ambiente social pode prover conseqü ências imediatas para comportamentos que têm como conseqüências atrasa das que são prejudiciais para a própria cultura. Portanto, se busca-se (qual se?) ser mais eficiente no estabelecimento e manutenção de comportamentos que levam o futuro em conta”, devemos assumir que eles dependem de um controle ambiental e que uma parte extre mamente importante desse ambiente é o contexto social em todos os níveis: os amigos, a família, colegas de trabalho, as instituições governamentais. Nós somos parte desse ambiente do outro e aí a nossa pequena contribuição: na criação de situações antecedentes e conseqüentes do comportamento dos outros que favoreçam comportamentos que tenham produtos positivos para a sociedade e não nos abstendo desse papel, apesar das dificuldades discuti das nesse texto. A oportunidade criada pela Jornada Mineira de Ciência do Comporta mento, em 2003 e nessa publicação produto da jornada, se inserem nessa proposta e já são um passo na promoção de um espaço em que sejam discu tidos comportamentos que “levem o futuro em conta" e na criação situações em que comportamentos socialmente responsáveis sejam evocados e refor çados. 10 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS R eferências B ibliográficas: Catania, C .A .(^ % ) Aprendizagem.Poúo Alegre: Artes Médicas Sul. Comunidad los Horcones (1992). Natural Reinforcing: a way to improve Education. 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INDEX BOOKS GROUPS A n á lis e F u n c io n a l d o C o m p o r t a m e n t o V io l e n t o n o s G r a n d e s C e n t r o s U r b a n o s Maria Crisüana Seixas Villani' Temos visto constantemente à nossa volta e até mesmo no nosso pró prio comportamento um uso exacerbado de violência. O tempo todo somos invadidos por notícias de assassinatos, sequestros, roubos, depredações, espancamentos, estupros, acidentes de trânsito, entre outras formas de agressividade. Segundo Capelari & Fazzio (2001, p. 175), “agressão pode ser definida como um comportamento associado à apresentação de estimulação aversiva a outro organismo”. Consideremos, também, a possibilidade cada um de impor, a si próprio, estimulação aversiva. Muitas vezes agimos de ma neira a alterar nosso ambiente, produzindo conseqüências que irão submeter os outros e/ou a nós mesmos a situações de sofrimento e dor. Quando faze mos isso de forma deliberada e intensa, desconsiderando os direitos huma nos, estamos sendo violentos. A proposta deste trabalho é refletir sobre as contingências que produ zem e mantêm o comportamento violento das pessoas nos grandes centros urbanos. O que está colocado aqui não é algo novo ou estranho para nin guém; o que considero interessante e útil é poder abordar o fenômeno da violência com um olhar científico, o qual proporciona clareza e nitidez e, con seqüentemente, aponta alternativas para alteração do fenômeno, conside rando, é claro, as dificuldades implicadas nisto. Neste sentido, será necessá rio lançar mão da noção de contingência tríplice, já que nossa unidade de análise é uma classe operante e, como tal, ocorre em função de suas conse qüências e em função de determinadas condições antecedentes. O comporta mento violento então será analisado nesta perspectiva, ou seja, só poderá ser entendido ao se considerar suas relações com o ambiente em que ocorre. 1 Professora do Instituto de Psicologia da PUC Minas INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS As condições de controle aversivo — punição, reforçamento negativo e privação — são freqüentemente apontadas como sendo as principais res ponsáveis pela geração do comportamento agressivo (Sidman, 1995). Orga nismos submetidos à apresentação de estimulos aversivos ou à remoção de estímulos agradáveis quando se comportam estão sofrendo punição. Orga nismos que se comportam em função da retirada de alguma estimulação aversiva a qual estão submetidos estão sofrendo controle por reforçamentonegativo. Organismos que estão sofrendo restrições ou inacessibilidade à estímulos que lhe são necessários e aprazíveis estão em estado de privação. Estas írês condições são caracteristicamente aversivas, ou seja, implicam em algum tipo de sofrimento para quem as experimenta. A forma de nós humanos nos organizarmos em grupos nas cidades e nas instituições sociais de diversos tipos está basicamente configurada por interações coercitivas, aquelas que envolvem algum tipo de estimulação aversiva. Segundo Skinner,"estritamente definido, o governo ê o uso do poder para punir". (1994, p.319). Isto quer dizer que a forma de controle mais utiliza da em nossa sociedade é a coerção. Muito provavelmente porque este é um tipo de controle que produz resultados muito rapidamente. Afinal, é urgente nos livrarmos de algo que nos aflige; e, quando nos comportamos de maneira a conseguir isto, esses comportamentos ficam fortalecidos. A nossa vida como cidadãos é regulada por diversos deveres que somos coagidos a cumprir; desde, por exempto, pagar impostos até respeitar as leis de trânsito. Vamos respondendo de maneira adequada à essas normas em função de evitar desde multas até penas restritivas de direitos e de liberda de. Caso não respondamos de acordo com as regras sociais, somos então submetidos a estas e outras estimulações aversivas. Tais condições de con trole resultam não só nos comportamentos adequados ou na supressão dos inadequados, resultam também em comportamentos de contra-controle, den tre esses, o comportamento agressivo."... o uso de estimulação aversiva gera contra-controle, em geral também aversivo" (Andery & Sério, 1997). Podemos entender contra-controle como uma revolução na relação estabelecida, onde ocorre diminuição do desequilíbrio na distribuição do poder; desequilíbrio este, próprio das relações coercitivas. (Baum, 1999, cap. 11) Já foi amplamente demonstrado em laboratório (Sidman 1995) que sujeitos submetidos a estimulação aversiva exibem respostas agressivas, e, estas não só direcionadas à fonte do controle mas, direcionadas a qualquer outro organismo ou objeto que estejam ao alcance do sujeito. Um exemplo disto é o experimento onde um pombo tem sua oportunidade de comer inter rompida e sempre que isto acontece ele ataca seu companheiro. 14 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS ‘‘Mas a coerção induz mais do que o comportamento agressivo em si mesmo. Depois de ser punido um sujeito fará qualquer coisa que possa para ter acesso a outro sujeito que ele possa então atacar. (. ..) Para alguém que acabou de ser punido, a própria oportunidade para atacar prova ser um reforçador positivo." (Sidman, 1995, p. 221) Fácil concluir que as práticas coercitivas de nossa sociedade induzem comportamentos de contra-ataque, como por exemplo, manifestações públi cas que depreciam e agridem autoridades; depredações de escolas e de trans porte público; invasões e roubo de propriedades privadas; sequestros. Além disto, as práticas coercitivas funcionam como modelo de interação. Alguém que está submetido ao controle coercitivo pode imitar esse tipo de controle ao interagir com os outros, usando de agressividade e violência para obter deter minadas respostas de seus pares. Uma outra condição que foi investigada experimentalmente por Calhoun (1972) (citado em Namo & Banaco, 2001) e que mostrou-se propul sora de violência, foi a situação de superpopulação. Lugares pequenos com um grande número de indivíduos acarretaram o aparecimento do que os auto res chamaram de "patologias sociais”. Comportamentos como: canibalismo, maus tratos de mães para com seus filhotes chegando até ao abandono, lutas entre machos mais constantes e violentas, comportamentos de hiperatividade e depressão. Ainda que o estudo citado tenha sido realizado com não-huma- nos, não considero uma analogia forçada pensar em grandes centros urba nos como situações de superpopulação que probabilizam tais "patologias sociais”. Elas se apresentam em forma de violência no grupo. Basta pensar mos nos estádios de futebol em dias de jogos importantes, ou no trânsito engarrafado nas horas de pico, ou até mesmo no ônibus lotado a caminho da escola ou do trabalho. Estes são contextos nos quais, muito freqüentemente, vê-se assaltos a mão armada, seqüestras, brigas extremamente violentas que até resultam em mortes, tudo ocorrendo entre cidadãos comuns que suposta mente não agiriam dessa forma. Uma terceira condição que encontrei na literatura (Capelari e Fazzio, 2001) apontada como uma possível propulsora de comportamento violento é a condição de incontrolabilidade. Muitas vezes essas contingências envolvem exclusivamente reforçamento positivo e curiosamente podem gerar agressividade. Tal contexto de incontrolabilidade consiste numa contingência onde o indivíduo fica submetido a um esquema de reforço intermitente onde o reforço independe da resposta. Isto quer dizer que o aparecimento do estímulo reforçador é independente do comportamento do sujeito. As autoras deste estudo observaram o aparecimento de comportamento adjuntivo além do com portamento operante sob controle do reforço. Os comportamentos de agitação excessiva e agressividade seriam co-produtos da contingências de incontrolabilidade. Tal estudo me remete à uma situação largamente experi INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS mentada pelos jovens de nosso país: o fato de se prepararem durante cinco anos (em média) numa universidade, saírem para o mercado de trabalho a procura de um emprego, e, mesmo que empenhadíssimos nessa procura, ficam sem qualquer garantia ou previsão de arranjarem um trabalho através do qual possam se sustentar. Esta realidade configura uma situação de incontrolabilidade. Quem já viveu contingência análoga, experimentou senti mentos de revolta, injustiça, raiva e tornou-se potencialmente agressivo en quanto submetido às referidas condições. Tendo já explorado contextos que probabilizam a violência e também citado diversas formas do comportamento violento que estão constantemente presentes em nosso cotidiano, resta abordar as conseqüências desse operante, o que em última instância, é o que o mantém.. Quem agride e/ou impõe privações ao outro tem como conseqüência a submissão e a obediên cia imediata desse outro; ele estará também obrigando o outro a se comportar de maneira a fugir ou evitar tais imposições de estimulação aversiva. Agir violentamente implica em promover contingências aversivas para quem está em volta. Daí o caráter autoperpetuador da violência. Diz Sidman (1995): Coerção severa, então, gera uma contra-reação quase automática. Mas isso não termina aí. Retaliação bem sucedida provê reforçamento rápido e podero so. Aqueles que estavam por baixo tornam-se poderosos, aqueles que eram temi dos opressores agora buscam seu favor. É fácil ver como a agressão poderia se tomar um novo modo de vida para os inicialmente subservientes. O próprio sucesso da contra-agressão pode colocar em movimento uma estrutura autoperpetuadora de um modo de vida agressivo." (p.223) Vejo a atual situação das grandes cidades brasileiras como um ciclo vicioso de violência. As pessoas agredindo umas as outras de forma muito intensa e tendo esse comportamento reforçado pela obtenção de dinheiro, poder e: principalmente, reforçado pela destruição das fontes de estimulação aversiva e privação. Destruir e boicotar o sistema coercitivo, ao qual se está submetido, é contra-controle. Poder atacar e coagir quem nos coage é natural mente reforçador. Contudo, quem sofre a coerção irá provavelmente contra- atacar. Aí está uma bola de neve quecresce e cresce. E então? O que fazer para interromper esse ciclo vicioso de violência? Como acabar com uma contingência autoperpetuadora? Esta não é uma tare fa fácil nem tampouco rápida para se realizar; ao contrário, esta é uma jornada complexa, trabalhosa e infindável. Os analistas do comportamento e os cien tistas das áreas humanas em geral já investigam formas do comportamento e, principalmente, funções do comportamento. Ao conhecer como funcionam contingências comportamentais, sua dinâmica e seus co-produtos, os investi gadores esclarecem alternativas de comportamentos que resultam em ambi entes e indivíduos saudáveis. A Ciência do Comportamento vem descrevendo tipos de interação alegres, criativos, pacíficos e dinâmicos, que permanecem 1 6 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS em constante evolução. (Skinner, 1975; Skinner, 1978; Skinner, 1994; Brandão, Conte e Mezzaroba, orgs. 2002; Conte e Brandão, orgs., 2003; entre outros). Esse tipo de estudo pode e deve ser amplamente incrementado e mais, preci sa ser largamente divulgado. Não só no meio científico, mas em todos os âmbitos do comportamento humano. As relações comportamentais saudáveis devem ser de domínio público, devem ser acessíveis a todas as comunidades de todos os lugares do mundo. Obviamente, é preciso considerar que não há uma forma pré-determina- da de comportamento saudável, por isto, como já mencionei, esta é uma constru ção infindável e complexa. Diminuir sensivelmente o índice de violência nas grandes cidades não quer dizer que se deva acabar com o controle coercitivo, eliminar todas as formas de punição e estimulação aversiva. Até porque, isto nem é possível. O controle coercitivo faz parte da natureza e nunca deixará de existir posto que é intrínseco às relações entre os eventos do mundo. Assim sendo, são também genuínos os sentimentos de raiva, medo, agressividade e contra-ataque. O que podemos modificar, e então vivermos em ambientes mais confortáveis, seguros e divertidos, é o excesso de coerção, o uso indiscriminado e abusivo de punição e reforçamento negativo. Podemos também, planejando reforçadores condicionados eficientes, cuidar para que nossos comportamen tos fiquem sob controle de consequências de longo prazo, e não tão à mercê de fortes reforçadores imediatos que têm efeitos nocivos retardados. Além disto, podemos melhor dividir os espaços de nossa convivência social, assim como os bens de consumo evitando desta maneira, superpopulações e privações desne cessárias. Estas providências, ao serem tomadas, certamente irão acarretar numa grande diminuição do comportamento violento. A violência não tem uma única forma de ocorrência já que ocorre em função de múltiplas variáveis que atuam não só no momento presente. Por isto, a investigação das contingências de controle necessita considerar efeitos de curto, médio e longo prazo; necessitam considerar os produtos diretos e os co-produtos das interações; e ainda, considerar os efeitos dos relacionamen tos entre contingências. Isto implica em abordar metacontingências. Se traba lharmos neste sentido, teremos comportamentos eficientes tanto no que se refere à esfera pública quanto no que se refere à esfera privada, com efeitos colaterais, como violência, m inimizados. Teremos sociedades e indivíduos mais saudáveis. As alternativas para se viver em paz, com força, leveza e criatividade estão disponíveis para nós, porém, nem sempre se constituem no caminho mais fácil e ligeiro; elas exigem empenho e perseverança. A minha sugestão é que este jam os a tentos para essas a lternativas, procurando desenvolvê-las e possibilitar que nossos pares também o façam; que esteja mos empenhados em exercer interações respeitosas, que preservem o nosso bem estar e o bem estar dos outros. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS R e f e r ê n c ia s B ib l io g r áfic as Capelari, A. & Fazzio, D. (2001) O Estudo da Violência no Laboratório. Em Kerbauy, R. & Wielenska, R. (org.) 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De acordo com Gomide (2001), a definição do termo comportamento anti-social é utilizado por Kasdin e Buela-Casal (1998) para se referir a todo comportamento que infringe regras sociais ou que seja uma ação contra os outros, tais como comportamento agressivo, comportamento infrator como furto, roubo, vandalismo, piromania, mentira, ausência ou fuga escolar, fuga de casa, entre outros. O DSM IV (APA, 1995) define o comportamento anti social como um padrão repetitivo e persistente de comportamento de violação aos direitos básicos dos outros e de normas ou regras sociais importantes apropriadas à idade. Já Patterson, Reid e Dishion (2002) definem comporta mento anti-social como eventos que são simultaneamente aversivos e contin gentes. Eles salientam que se deve descrever um evento anti-social e não uma pessoa anti-social. O termo contingente refere-se à conexão entre o comportamento do indivíduo e o de outra pessoa pertencente ao ambiente onde o evento ocorre. Esses autores preferemutilizar o termo anti-social ao agressivo, pois o primeiro descreve mais a natureza do comportamento do que o segundo. Esses comportamentos são respostas dadas pelo organismo dentro de determinadas contingências e se mantém em função de reforçadores. O behaviorismo radical fornece uma explicação desse comportamento anti-social sem recorrer a explicações mentalistas. Afirmar que o comporta mento agressivo ocorre em função de sentimentos, não ajuda muito. Segundo Skinner (2002, p. 184), 1 Aluno de Psicologia do Centro Universitário Newlon Paiva (B H } 2 Professora do Curso de Psicologia do Certro Universitário Newton Paiva (B.H.} INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS "não é de qualquer auxílio na solução de um problema prático, dizer-se que algum aspecto do comportamento do homem se deve à frustração, à ansiedade; precisamos também saber como a frustração ou a ansiedade foi induzida e como pode ser alterada.” Skinner traz, na sua teoria, uma ferramenta de fundamental importân cia para podermos entender e alterar o comportamento anti-social: a análise funcional. Essa análise implica a descrição de contingências e a relação de dependência dessas com o comportamento e, que nos possibilita descrever o valor funcional da agressão. Percebendo que emoções não são causas e sim respostas induzidas por uma classe de operações, podemos compreender o que mantém o comportamento anti-social. Para diagnosticar uma pessoa com comportamento anti-social, GOMIDE (2001), coloca que é necessário que este padrão de comportamento venha se mantendo já há algum tempo e com alta freqüência, por períodos duradouros. O que é diagnosticado é o padrão de comportamento e não o organismo. Este apenas responde a um conjunto de contingências e, se mudamos as contingên cias podemos mudar o padrão de respostas que são dadas pelo organismo. Sidman (1995), no livro Coerção e suas implicações, discute o modelo da nossa cultura que educa de forma coercitiva. Segunda ele, a punição e a privação levam o homem a apresentar comportamento agressivo. Observa-se que, somos punidos de várias formas possíveis por não nos comportarmos adequadamente e, quando apresentamos comportamentos desejados, não recebemos nenhuma gratificação ou algo que nos motive a manter esse pa drão de comportamento. A sociedade contemporânea convive com episódios que envolvem, em larga escala, comportamentos anti-sociais em crianças e adolescentes provavelmente em decorrência do contato com ambientes ameaçadores. O grande número de ocorrências que nos chegam através da mídia, focalizando o destino insólito de crianças que crescem nos ambientes da periferia da cidade, vivenciando privações materiais e a violência causada pelo tráfico de drogas demonstram a importância do entendimento dessa questão no Brasil. Apesar da intervenção de pessoas e organizações que se dedicam vo luntariamente, ao entendimento dessa situação e de algumas ações do poder público, constata-se que os resultados obtidos por esse trabalho não são efeti vos. Para que se processem intervenções mais eficazes, é necessário um co nhecimento mais aprofundado do assunto e de suas variáveis de controle. Torna-se importante assim, analisar funcionalmente o curso de desen volvimento do comportamento anti-social nas fases da infância e da adoles cência, mostrando que ele se inicia no ambiente familiar chegando até os grupos delinqüentes, nas ruas. Patterson, Reid e Dishion (2002), colocam que os atos aparentemente inofensivos observados no lar e na escola são os protótipos de comportamen INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS tos anti-sociais na adolescência. Eles afirmam também que a exposição muito longa à violência e à agressão, tanto na comunidade quanto na televisão, tem aumentado a extensão da aprendizagem de comportamentos agressivos nos tempos atuais. A exposição a episódios anti-sociais propicia a aprendizagem, onde a criança é inicialmente uma simples observadora e com experiência, passa a copiar os modelos daqueles personagens com que se identifica. Alem disso, através da aprendizagem por modelagem, a criança pode utilizar as birras, choros e outros comportamentos anti-sociais para obter controle sobre os pais. Esses comportamentos vão sendo instalados no repertório da criança na medida que os resultados são atingidos. Patterson e colegas (2002) descrevem quatro estágios de desenvolvi mento do comportamento anti-social. O primeiro estágio desenvolve-se na família onde os pais descrevem a criança como difícil e diferente dos outros, e proporcionam uma disciplina ineficiente com pouca monitoria das atividades da criança. O segundo estágio ocorre na escola, onde iniciam as reclamações sobre a criança nos aspectos da aprendizagem e inadequação em sala de aula, levando à rejeição das outras crianças e dos professores e aos déficits acadêmicos. O terceiro estágio descreve a reação do meio social e o fracasso neste ambiente impulsiona a criança a buscar apoio em ambientes alternati vos, isto é, rejeitada pelos colegas, ela procura grupos desviantes e aperfei çoa suas habilidades anti-sociais, buscando as drogas e cometendo peque nos delitos. O último e quarto estágio, via de regra, acaba levando o adoles cente para instituições correcionais. Segundo GOMIDE (2001), é basicamente uma seqüência de ação e reação. No primeiro estágio, as ações agressivas da criança se iniciam sem que os pais tenham habilidades de controle. No segundo estágio, o meio social reage e a rejeita. No terceiro estágio, ela busca apoio nos grupos desviantes. Este conjunto leva a casamentos prematuros e fracassados, em pregos caóticos e institucionalização, o quarto estágio. Skínner (2002) e Sidman (1995) questionam em seus livros o modelo coercitivo que predomina há tanto tempo nos sistemas familiares, educacio nais, legais e policiais onde a punição tem sido a única estratégia de controle de comportamento utilizada. O grande problema é que ela funciona de forma imediata e por isso parece mais eficaz. Entretanto, a punição produz efeitos colaterais tanto para quem pune quanto para quem é punido: os estímulos aversivos que são usados pelos adeptos da agressão no controle do compor tamento, eliciam sentimentos no agredido que dificultam a aprendizagem e a relação dele com outras pessoas; provocam o comportamento de fuga e es quiva que impedem o contato com situações de aprendizagem de repertórios comportamentais alternativos. 2 1 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Para Sidman (1995), coerção é o uso da punição e da ameaça de punição para conseguir que os outros ajam como gostaríamos. Entretanto, embora ela possa produzir esse resultado - às custas dos inevitáveis efeitos colaterais - não oferece à criança ou ao adolescente qualquer caminho alter nativo para comportar-se construtivamente. Para Skinner (2002), a técnica de controle mais comum é a punição. Se o seu filho não se comporta de forma adequada, castigue-o, se um país não tem a mesma religião que a sua, bombardeio-o, sistemas legais e policiais funcionam com esquema punitivo e a sociedade ainda não abandonou a palmatória. O que aprendemos com os behavioristas radiciais é que devemos questionar que tipo de controle queremos: o controle coercitivo que sempre foi usado e que não tem trazido resultados satisfatórios, ou o controle por reforçadores positivos? Diante dos fatos, os cientistas buscam explicações que possam servir para identificar e modificar a situação, Os estudiosos daárea de comporta mento anti-social apresentam alternativas. Em particular os behavioristas ra dicais. A alternativa que temos para evitar a palmatória, a agressão, a violên cia, o vandalismo etc, é a de repensar a nossa cultura, como fez Skinner durante toda sua vida. Devemos abandonar a crença de que os controles coercitivos são absolutamente necessários para o bom funcionamento da sociedade. Segundo ele, as mudanças nas formas de controle interpessoais, de coercitivas para reforçadoras, poderiam resultar em uma qualidade de vida melhor, propiciando ambientes mais adequados para o desenvolvimento das crianças e adolescentes. R eferências Baun, W. (1999). Compreender o behaviorismo. Porto Alegre: Ed. Artmed. Gomide, P.l.C. (2001). Efeitos das práticas educativas no desenvolvimento do comporta mento anti-social. Em'Marinho, M.L, e Caballo, V. E. (org.): Psicologia Clinica e da Saúde, p.p. 33-53. Londrina: Ed. UEL. Patterson, G., Reid, J. e Dishion, T. (2002). Anti-social Boys: comportamento anti-socisl. Santo André: ESETEC Ed. Associados. Regra, J. (2002). A agressividade infantil. Em Silvares, E.F.M. (org): Estudos de caso em Psicologia clinica comportamentalinfantil. Vol 11.Campinas: Ed. Papirus. Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações. Campinas: Ed. Psy II. Skinner, B. F. (2002). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Ed. Martins Fontes. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS Q ual o p r o b le m a d o c o n t r o l e c o m p o r ta m e n t a l? Robson Nascimento da Cruz12 Maria Cristiana Seixas V illan i3 Q u a l o pro blem a do c o n tr o le com portam ental? Na realidade, podemos afirmar que o controle comportamental não é um problema. Para a Análise do Comportamento, ele é evidente, não há ne cessidade de discussão quanto a sua existência ou não. Porém, o uso da palavra controle exerce outra função para não-analistas do comportamento. Para a maioria das pessoas, é sinônimo de coerção, manipulação e controle aversivo. Aprendemos desde cedo que tal palavra é algo que exerce pressão ou força sob alguém ou alguma coisa. "Quem tem o controle da situação?” Essa pergunta caracteriza bem como esse conceito é entendido, algo unilate ral, que fica sempre do lado do mais forte e oprime o mais fraco. O ideal seria se questões sobre a existência do controle comportamental não existissem, já que uo controle da conduta peio ambiente físico e social é uma característica do mundo, exatamente como o controle de objetos físicos, reações químicas ou processos fisiológicos. Somos feitos assim’’. (Sidmam, 1989, p. 46). Mas sabemos que a aceitação de tal concepção não é um processo simples. Con trole como sinônimo de coerção é algo que vem sendo reforçado há séculos, e ramos da nossa sociedade tão importantes como a Ciência e a Filosofia ainda discutem, de maneira ineficaz, a existência ou não de uma lei do controle comportamental. Sidman diz que: “Controle comportamental não è uma questão de filosofia ou de sistemas pessoais de valor a serem aceitos ou rejeitados de acordo com nossa preferência. É ' Aluno do curso de graduação em Psicologia da Puc-Minas (São-Gabriel), End. Rua Agenor Alves n° 68. cep: 31990-040, Belo Horizonte. MG. E-mail: robsonncruz@ig.com.br 2 Bolsita dos programas de iniciação científica da Puc Minas (São-Gabriel) e Fapemig. 3 Mestre em Psicologia Experimentai, P ro f do departamento de Psicologia da PUC Minas. INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS "Controle comportamental não é uma questão de filosofia ou de sistemas pessoais de valor a serem aceitos ou rejeitados de acordo com nossa preferência. É uma questão de fato. Não faz sentido, portanto, rejeitar ou defender o controle comportamental. Peio contrário, as leis do controle exigem investigação. A noção pode nos desagradare mesmo amedrontar, mas as leis do comportamento são uma característica do mundo em que vivemos: não podemos repeli-las " (1989, pág, 46). Dessa maneira, são inúmeras as discussões que partem da seguinte questão: o comportamento é inerentemente controlado? Tal questão costuma ser transformada em outra: o comportamento deveria ser controlado? (Sidmam, 1989). Essa segunda pergunta, feita em geral por pessoas que discordam do controle comportamental, coloca o analista como um defensor do controle e, o que é ainda pior, faz surgir a idéia de ser o analista do comportamento o controlador, Ou seja, continuam a interpretar a situação como algo unilateral, como se o controle fosse defendido e inventado pela Análise do Comportamen to. Para tentar esclarecer esta questão, Skinner (1953/2000) e Sidmam (1989) utilizam a seguinte comparação: um físico não defende a lei da gravidade, e muito menos foi a Física que a inventou. Portanto, um analista do comportamen to não defende o controle comportamental, posto que não há motivos para defe sa. Ele é uma característica do nosso mundo assim como é a lei da gravidade, e a única coisa que podemos e devemos fazer é estudar e saber utilizar os bene fícios que possam ser adquiridos dessa investigação. Sidman diz que: “Controle existiria mesmo que não houvesse analistas do comportamento para nos contar a seu respeito. Faz sentido descobrir tanto quanto possamos, em vez de ignorá-lo. Justificadamente tememos o controle comportamental. A validade da questão Quem exerce ou deve exercer o controle?’ é independente de nossa orientação filosófica ou cientifica. Devemos respondê-la de novo e de novo. A única certeza èque a resposta não pode ser'Ninguém1.0 controle está sempre ai, não reconhecê-lo é esconder-se da realidade* {1989, pág, 47). É importante destacar que conflitos assim não são desconhecidos na História da Ciência. Skinner (1953/2000), em seu livro Ciência e Comporta mento Humano, nos alerta para a dificuldade de se aceitar novos paradigmas, principalmente quando esses nos dizem algo a respeito do comportamento humano. Skinner diz que: “A teoria copemicana do sistema soiar afastou o homem de sua proeminente posição de centro das coisas. Hoje aceitamos esta teoria sem emoção, mas inicialmente encontrou enorme resistência.''{)%2>l 2000, pág ,8). Sabemos que aceitar o controle do comportamento como uma lei uni versal é algo que a afasta o homem de sua concepção de agente livre, e, a princípio, isso pode ser um choque na visão tradicional de homem. Mas, a partir dos benefícios adquiridos através do estudo dessa lei, essa resistência será extinta, assim como a concepção de homem como centro do universo. Ao não aceitar a existência de uma lei universal do controle comportamental, estaremos ignorando a realidade e continuaremos, mesmo INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! 7/7/2015 7/7/2015 INDEX BOOKS GROUPS: perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS assim, sendo controlados e controlando, mas não saberemos como isso ocor re. É também para esse ponto que gostaria de chamar atenção, porque, a partir do momento em que não a aceitamos, deixamos um enorme campo para pessoas, governos e instituições que a saibam utilizar para o próprio benefi cio. Dessa forma, podem influenciar o comportamento das pessoas, de acordo com seus interesses particulares. Uma vez que controle não é sinônimo de coerção, não significa necessariamente que estarão usando controle coerciti vo. Pode ser que usem o reforçamento positivo, porque assim acharemos que nos comportamos de maneira espontânea e não tenderemos a fugir ou esqui var de determinada situação. Muito pelo contrário, tenderemos a aumentar a probabilidade de emissão do comportamento. Como exemplos desse tipo de controle, podemos pensar
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