Buscar

LISTA DE FIGURAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 94 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
Faculdade de Turismo e Hotelaria
Curso de Turismo
Camilla Santos do Traco
TURISMO, DIREITO À CIDADE E IDENTIDADE CULTURAL: AS INTERVENÇÕES URBANAS DO PORTO MARAVILHA NO MORRO DA PROVIDÊNCIA
Niterói
2011
Camilla Santos do Traco
TURISMO, DIREITO À CIDADE E IDENTIDADE CULTURAL : AS INTERVENÇÕES URBANAS DO PORTO MARAVILHA NO MORRO DA PROVIDÊNCIA
Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Bacharel em Turismo.
Orientadora: Profª. Helena Catão
Niterói
2016
Aos meus pais, Nilza e Antônio, por fornecer todo apoio e incentivo durante toda a minha graduação
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, que me deram suporte e encorajamento durante toda a minha graduação. À minha orientadora Helena Catão, que me guiou durante todo o processo de pesquisa, e quem sem a ajuda a realização do trabalho não seria possível. À comunidade do Morro da providência, pela recepção afetuosa e colaborativa. A todos os entrevistados que contribuíram para o trabalho, em especial Cosme e João, pela generosidade de se disponibilizarem para mediar minha introdução ao campo de pesquisa. 
“A cidade é a mais bem-sucedida tentativa do homem de refazer o mundo em que vive mais de acordo com os desejos do seu coração.”
(Robert Park) 
RESUMO
A pesquisa desenvolvida consiste em apresentar a percepção dos moradores do Morro da Providência em relação às intervenções urbanas implementadas pela Operação Urbana Porto Maravilha em seu espaço de vida, a partir dos conceitos de direito à cidade e identidade cultural, e as suas relações com o turismo. O trabalho discorre sobre os conceitos de direito à cidade e identidade cultural discutidas na academia, bem como as suas relações com o planejamento urbano e turístico. Uma análise da ética dessas intervenções com base em estudos sobre o tema e sobre o que consta no Estatuto da Cidade é exposta para evidenciar a importância da gestão democrática e do planejamento participativo nos processos de intervenções urbanas e turísticas, bem como a relevância da organização política e cidadã dos moradores na luta por seus direitos. É realizada a contextualização dessas intervenções no âmbito da urgência dos megaeventos e da necessidade da venda da imagem da cidade para a sua inserção no mercado global. Relatos de moradores do Morro da Providência são coletados por meio de pesquisa de campo e trazidos à luz com o intuito de desvelar o entendimento da comunidade em relação à apropriação do seu espaço pelo turismo, bem como as suas concepções e expectativas sobre a atividade. A investigação também visou retratar a importância da preservação da identidade cultural da favela e as suas implicações dentro da política de remoções a qual os moradores da Providência foram submetidos. Com os resultados, espera-se que a partir de uma maior compreensão sobre a importância de uma gestão que contemple as demandas da população local, seja possível provocar reflexões que contribuam para a geração de um planejamento urbano e turístico mais solidário e sustentável.
Palavras-chave: Morro da Providência. Porto Maravilha. Revitalização. Intervenção urbana. Planejamento turístico. Direito à cidade. Identidade cultural.
ABSTRACT
The developed research consists of presenting the residents' perception of Morro da Providência in relation to the urban interventions implemented by the Urban Operation Porto Maravilha in its life space, from the concepts of right to the city and cultural identity, and its relations with tourism. The paper discusses the concepts of right to the city and cultural identity discussed in the academy, as well as its relations with urban and tourist planning. An analysis of the ethics of these interventions based on studies on the theme and what is stated in the City Statute is exposed to highlight the importance of democratic management and participatory planning in the processes of urban and tourist interventions, as well as the relevance of the political and citizen organization of the residents in the struggle for their rights. The contextualization of these interventions is carried out in the context of the urgency of the mega-events and the need to sell the image of the city for its insertion in the global market. Reports of residents of Morro da Providência are collected through field research and brought to light in order to unveil the community's understanding of the appropriation of their space by tourism, as well as their conceptions and expectations about the activity. The research also sought to portray the importance of preserving the cultural identity of the favela and its implications within the policy of removals to which the residents of Providence were subjected. With the results, it is expected that from a greater understanding on the importance of a management that contemplates the demands of the local population, it is possible to provoke reflections that contribute to the generation of a more solidary and sustainable urban and tourist planning.
Keywords: Morro da Providência. Porto Maravilha. Revitalization. Urban intervention. Tourism planning. Right to the city. Cultural identity.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Teleférico ligando a Américo Brum à Gamboa	42
Figura 2: Teleférico ligando a Américo Brum à Gamboa	44
Figura 3: Largo do Cruzeiro	45
Figura 4: Comparação entre o Regime previsto na lei 8.666 e o Regime Diferenciado de Contratação institituído pela lei 12.462/11	47
Figura 5: Casa situada no Largo do Cruzeiro marcada pela SMH para remoção	53
Figura 6: Entrada da casa de Nelzimar	55
Figura 7: Trabalho artístico feito por Vhils e Maurício Hora retratando um morador removido no muro de sua casa	60
Figura 8: Casa Amarela, sede do Instituto Favelarte	62
Figura 9: Nova Orla Conde	73
Figura 10: Região da Praça Mauá reformada	74
Figura 11: Mapa do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana	76
Figura 12: Bar da Jura	87
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO	8
2. TURISMO, DIREITO À CIDADE E IDENTIDADE CULTURAL	13
2.1. DIREITO À CIDADE E PLANEJAMENTO URBANO	14
2.1.1. Intervenções urbanas e exclusão social	16
2.1.2. Direito à cidade e resistências populares	18
2.2. TURISMO, POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO URBANO	21
2.2.1. Planejamento turístico e cidadania	23
2.2.2.Turismo e políticas públicas	25
2.3. IDENTIDADE CULTURAL	27
2.3.1. Identidade cultural e globalização	27
2.3.2. Turismo e identidade cultural	29
2.3.3. Identidade cultural e intervenções urbanas	30
3. INTERVENÇÕES DO PORTO MARAVILHA E MORAR CARIOCA NO MORRO DA PROVIDÊNCIA - ÉTICA E DIREITO À CIDADE	33
3.1. HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DO MORRO DA PROVIDÊNCIA	33
3.1.1. Processo de intervenções no Morro da Providência - do Favela-bairro ao Porto Maravilha	34
3.2. OPERAÇÃO URBANA CONSORCIADA PORTO MARAVILHA	36
3.2.1. O plano Porto Maravilha e Morar Carioca para o Morro da Providência - intervenções e resistência popular	40
3.3. ALTERAÇÕES INSTITUCIONAIS NO CONTEXTO DOS MEGAEVENTOS	45
3.4. GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPAÇÃO POPULAR	48
3.4. REMOÇÕES E REASSENTAMENTOS	51
4. O PROCESSO DE REVITALIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO TURÍSTICA NO MORRO DA PROVIDÊNCIA	67
4.1. PORTO MARAVILHA, A URGÊNCIA DOS MEGAEVENTOS E URBANIZAÇÃO TURÍSTICA	67
4.2. VALORIZAÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL DA REGIÃO	73
4.2.1. Zona portuária e o legado da cultura africana	73
4.2.2. A Identidadecultural do Morro da Providência	78
4.3. O TURISMO NO MORRO DA PROVIDÊNCIA	81
4.3.1. Intervenções turísticas	81
4.3.2. Atividade turística e protagonismo comunitário	82
4.3.2.1. Providência Turismo	82
4.3.2.2. Excursões do Elson	84
4.3.2.3. Bar da Jura	84
4. 3. 2. 4. Projeto de Formação de Monitores de Turismo	86
4.3.3. A perspectiva dos moradores sobre o turismo na região portuária 87
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS	91
6. REFERÊNCIAS	92
 
 1. INTRODUÇÃO
A Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha é uma parceria público-privada feita entre o consórcio Porto Novo e a prefeitura do Rio de Janeiro, que segundo seus princípios norteadores, tem o objetivo de “[...] promover a reestruturação local por meio da ampliação, articulação e requalificação dos espaços públicos da região, visando a melhoria da qualidade de vida de seus atuais e futuros moradores e a sustentabilidade ambiental e econômica da área [...]” (CDURP, 2016). À vista disso, a operação vem realizando diversas modificações no espaço urbano da zona portuária do Rio de Janeiro, incluindo mudanças no sistema viário, construção de novos equipamentos culturais, criação de novas áreas residenciais, coleta de lixo seletivo, iluminação pública, sinalização, mobilidade, drenagem da rede pluvial, reurbanização de favelas, entre outras reformas.
O projeto prevê intervenções em uma área de 5 milhões de metros quadrados na região, sendo limitado pelas Avenidas Presidente Vargas, Rodrigues Alves, Rio Branco e Francisco Bicalho. 
O plano Porto Maravilha inclui a continuidade das obras de urbanização de favelas, iniciadas pelos projetos Favela-Bairro em 1994 e Morar Carioca em 2010. O objetivo é reurbanizar favelas que se encontram dentro da Área de Especial Interesse Urbanístico (AEIU), que segundo a lei complementar nº 111/2011, é “[...] destinada a projetos específicos de estruturação ou reestruturação, renovação e revitalização urbana [...]” ( RIO DE JANEIRO, 2016)
A localização da zona portuária é estratégica para empresas que desejam expandir seus negócios, em vista à integração das grandes cidades no mercado global. Além disso, a cidade do Rio de Janeiro vem sediando uma série de megaeventos mundiais, como o PanAmericano em 2007, a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas de 2016. 
Diante do exposto, a prefeitura do Rio de Janeiro lançou a mão desse projeto para seguir o modelo de cidade negócio, reestruturando-a para atrair grandes empresários e elevar a inserção da cidade dentro do mercado turístico mundial.
Entretanto, em contraponto à prosperidade da integração da cidade no mercado global, há uma progressiva acentuação da desigualdade socioespacial, devido às reformas que visam enobrecer a imagem da cidade em detrimento do bem-estar social de populações de baixa renda que vivem em locais considerados como potenciais atrativos turísticos. 
Motta e Gomes (2014) fazem uma importante ponderação sobre o agravamento da marginalização das classes menos favorecidas em função das mudanças realizadas na cidade em prol de investimentos empresariais e da sua transformação em cidade negócio: 
A grande imprensa, políticos e diversos analistas têm ressaltado as oportunidades provenientes da ampliação dos investimentos na cidade, enfatizando as possibilidades de enfrentamento dos grandes problemas, como o da mobilidade urbana e o da recuperação de espaços degradados para a habitação, comércio e o turismo. Entretanto, a cidade avança no sentido oposto ao da integração social e da redução das desigualdades socioespaciais. (MOTTA & GOMES, 2014, p. 6)
Deste modo, ao mesmo tempo em que a cidade se prepara para abrir portas para um grande volume de turistas estrangeiros e usufruir dos recursos provenientes disso, parte de sua população local se encontra marginalizada e excluída desses cabedais. Além disso, sofrem os efeitos da especulação imobiliária, que obriga moradores de áreas de interesse urbanístico a saírem de suas casas devido ao aumento exacerbado do preço do solo. 
“Verificam-se, assim, retrocessos no que tange à ação do Estado em áreas de favela, através do incentivo à mercantilização do espaço citadino e a hegemonia do capital na reprodução espacial, interferindo na possibilidade dos diferentes grupos de decidirem como e onde querem viver, e como vão alterar o espaço onde vivem.” (MOTTA & GOMES, 2014, p. 15)
Nessa conjuntura, o turismo exerce um papel fundamental, uma vez que é a mola propulsora dessas reestruturações urbanísticas. As formas como as políticas públicas de planejamento urbano e turístico que vem sendo implantadas, deixam claro que, para os órgãos responsáveis, o turismo é visto apenas no seu viés econômico, sendo deixado de lado seu caráter de integração social. 
Para Gastal e Moesch (2007, p. 41) “O turismo ainda estaria reduzido a um instrumento de desenvolvimento econômico, parte de políticas setoriais, as quais não possuiriam clareza dos impactos causados e dos compromissos acarretados junto às localidades, quando de sua implantação”.
Nesse contexto, a população local além de não participar dos processos de decisão sobre seu espaço, também são impedidos de usufruir dos recursos provenientes da atividade turística, tendo seu direito à cidadania reduzido para dar lugar aos turistas que irão lograr dos bens, aos quais à eles, por sua vez, são vedados. 
A questão do direito à cidade vem sendo bastante discutida no campo acadêmico, e seus princípios são assegurados pela Constituição Brasileira. No entanto, no âmbito da concretização das políticas públicas que permitam o acesso universal aos equipamentos urbanos nos seus mais diversos setores, são ainda bastante precários. A população menos favorecida da cidade que se encontra nas favelas e nas periferias carece de possibilidade de mobilidade urbana e acesso a equipamentos culturais e de lazer. 
Segundo Harvey (2013, p. 1) “A questão do tipo de cidade que desejamos é inseparável da questão do tipo de pessoa que desejamos nos tornar. A liberdade de fazer e refazer a nós mesmos e as nossas cidades dessa maneira é, sustento, um dos mais preciosos de todos os direitos humanos”.
A ausência da participação da sociedade civil nos processos de transformação do seu local de vida fere os seus direitos como cidadão, além de culminar na perda da sua identidade cultural devido ao corte de laços com a comunidade, e ainda em casos mais graves, como o de remoção de famílias, na degradação de sua dignidade e padrão de vida.
Desta forma, o objeto deste estudo se caracteriza como um exemplo pertinente para a análise dessas intervenções urbanísticas, onde a população é excluída dos processos de decisão. 
Localizado entre os bairros de Santo Cristo e Gamboa, bem no seio da zona portuária carioca, o Morro da Providência é situado na área onde estão sendo realizadas as intervenções do Porto Maravilha. A operação urbana na localidade se integra às obras do programa Morar Carioca que prevê a construção do teleférico Américo Brum; a construção de um plano inclinado; uma via carroçável; além de uma série intervenções que modificam a paisagem urbana local. Para que essas obras fossem realizadas, foram executadas diversas mudanças, como a demolição de equipamentos de lazer e remoções de moradores. 
Diante disso, há uma significativa resistência por parte da população local em relação à maneira como se dão essas reformas urbanísticas feitas pela Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha e o programa Morar Carioca na comunidade.
Um dos questionamentos mais pertinentes dos moradores do Morro da Providência diz respeito à participação popular nas intervenções. Segundo eles, a população não foi consultada sobre que tipo de transformações desejava ou não para sua comunidade. No geral, as decisões foram tomadas pelo poder público, de cima para baixo, e impostas à comunidade, que tiveram de acatar sem direito à contestações ou sugestões. 
Em 2001, foi incorporado à Constituição Brasileira o Estatuto da Cidade, que consiste em um documento legalque delibera e regula sobre as políticas urbanas brasileiras, de acordo com os princípios do planejamento participativo e da função social da propriedade. 
Dentre as deliberações do Estatuto está a ratificação da participação da população local nas intervenções feitas por operações urbanísticas, bem como, o auxílio social e econômico para amenizar os prejuízos e transtornos causados por suas consequências. 
É imprescindível que a sociedade civil faça parte da formulação, execução e acompanhamento nos processos de transformações urbanas do seu entorno, e a transparência nesses processos, bem como a assistência e reparos de impactos negativos, devem ser cobrados aos órgãos responsáveis. 
Diante dessa realidade, o trabalho pretende investigar a percepção da comunidade do Morro da Providência sobre as mudanças realizadas em seu espaço de vida, de acordo com os conceitos de direito à cidade e identidade cultural, e as suas relações com o turismo. O trabalho também pretende investigar a ética dessas intervenções.
A metodologia utilizada é qualitativa, baseada em trabalho de campo de base etnográfica com realização de observação direta e entrevistas em profundidade com os moradores do Morro da Providência. Para complementação do estudo foi realizada uma análise do Estatuto da Cidade e de pesquisas realizadas por estudiosos do tema.
Segundo Goldenberg (2004, p. 53), “os dados qualitativos consistem em descrições detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos em seus próprios termos”. A partir dessa ideia, a autora argumenta que a pesquisa qualitativa se faz indefinidamente necessária para uma maior compreensão das particularidades do objeto que se pretende estudar. Ainda segundo a autora:
[...] na pesquisa qualitativa a preocupação do pesquisador não é com a representatividade numérica do grupo pesquisado, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, de uma instituição, de uma trajetória. (GOLDENBERG, 2004, p. 14)
Desta forma, a escolha da pesquisa qualitativa como metodologia de estudo se deve ao fato de que esta se apresenta como a mais adequada para o entendimento e análise das percepções dos moradores em relação às intervenções ocorridas em seu espaço, com o objetivo de identificar os impactos gerados tanto no indivíduo, quando na comunidade como um todo.
A fase exploratória foi desenvolvida através do estudo de autores que discutem os temas do direito à cidade, identidade cultural e planejamento turístico e urbano, bem como de pesquisas teóricas sobre as intervenções implementadas no Morro da Providência, com o intuito de identificar o problema a ser investigado durante o trabalho. 
O trabalho de campo foi realizado por meio de dez visitas ao Morro da Providência, no período de cinco meses. Foram feitas entrevistas semiestruturadas com a coordenadora de projeto e planejamento da Secretaria Municipal de Habitação (SMH) e dez moradores da Providência, que foram escolhidos com base no seu envolvimento com o tema discutido, e nas suas diferentes representatividades para a comunidade.
De acordo com Minayo, Deslandes e Gomes (2011):
O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma interação com os ‘atores’ que conformam a realidade e, assim constrói um conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social. (p. 61)
Assim como elucidado pela autora, o trabalho de campo se faz essencial para uma maior interação com os moradores que constituem o objeto de estudo, na busca por melhor compreensão das suas particularidades, por fidelidade na transcrição e análise dos relatos, e coerência na relação entre o que foi observado em campo e os estudos teóricos, para comprovação ou refutação da hipótese. 
A introdução ao campo foi facilitada por dois moradores que se dispuseram a servir de mediadores para a primeira aproximação com os entrevistados. 
Com as entrevistas realizadas em campo foi possível obter informações de dados primários, muito importantes para o enriquecimento do trabalho, visto que a percepção dos moradores se apresenta como tema central da pesquisa. Todos os moradores foram muito solícitos e cooperadores, demonstrando grande entusiasmo em contribuir com o trabalho. 
2. TURISMO, DIREITO À CIDADE E IDENTIDADE CULTURAL
O turismo e o planejamento urbano, assim como qualquer atividade dentro do sistema capitalista, estão submetidos à lógica do mercado, e por consequência disso, são constantemente considerados principalmente pelo seu aspecto econômico. 
O fenômeno do turismo emergiu dentro da evolução do capitalismo, no contexto da necessidade de deslocamento e expansão cultural das classes mais abastadas, da redução das horas de trabalho, e do desenvolvimento dos transportes de longa distância e das estradas e ferrovias, que permitiram maior facilidade de ir e vir. O processo de urbanização, por sua vez, surgiu da concentração social e geográfica do produto excedente após a revolução industrial, que aumentou a densidade populacional nas cidades, e foi de extrema importância para a consolidação do sistema capitalista. Desta forma, os dois fenômenos possuem relação estreita com a acumulação de capital, tendo sido desenvolvidos sob a sua lógica. 
Com o passar das décadas, surgiram debates com o intuito de mudar o paradigma da subordinação dos interesses do planejamento turístico e urbano à lógica restrita do capital. No entanto, a regra da acumulação ainda é o que rege essas decisões até hoje, sendo a principal razão da reprodução das desigualdades socioespaciais urbanas.
Nessa conjuntura, se faz necessária a discussão sobre as concepções de direito à cidade e identidade cultural, e as suas relações com o turismo. Como planejar um turismo sustentável que beneficie tanto a população local, quanto seus visitantes? Como pensar em um planejamento urbano que além de não prejudicar, beneficie e desenvolva a consciência de cidadania e o sentimento identitário de uma comunidade?
Segundo Gastal e Moesch (2007) o turismo deve ser percebido e planejado dentro de suas complexidades, e não apenas pelo seu aspecto econômico. A atividade turística pode ser catalisadora de lazer, cultura e integração social para/entre os visitantes e visitados, no entanto para que isso ocorra, o planejamento turístico, que envolve o planejamento urbano, deve ser pensado com o propósito da sustentabilidade não apenas econômica, mas também social e ambiental.
O direito à cidade deve ser visto com uma visão mais ampla que somente o acesso à moradia, mas também o acesso ao deslocamento, ao lazer e ao usufruto de tudo mais que a cidade oferece, de forma justa e igualitária. É imprescindível para os estudiosos e profissionais do turismo que se envolvam cada vez mais nos processos de construção da cidade, e nas suas relações com a população local, com o objetivo de desenvolver um turismo mais humanitário. 
2.1. DIREITO À CIDADE E PLANEJAMENTO URBANO
Segundo Harvey (2008, p. 74) “A questão do tipo de cidade que queremos não pode ser divorciada do tipo de laços sociais, relação com a natureza, estilos de vida, tecnologias e valores estéticos que desejamos”. O autor usa essa argumentação para explicar que nosso imaginário de cidade se constrói a partir de nossas concepções como cidadão. A partir dessa ideia, para uma cidade mais justa e para que a sua população se sinta contemplada por ela, é necessária a participação de todos no processo de sua construção, ou seja, é substancial que a cidade seja feita pelos e para os moradores. 
No entanto, a prática de mercantilização do espaço citadino constantemente transforma os processos de construção e intervenção em um verdadeiro “balcão de negócios” onde quem dita as regras são os grandes empresários interessados na área, o que culmina na frequente exclusão e marginalização da população local. 
Segundo Vainer (2013):
A adoção das diretrizese concepções neoliberais que reconfiguraram as relações entre capital, Estado e sociedade a partir da última década do século passado teve profundas repercussões a respeito do lugar e do papel da cidade no processo de acumulação. (p. 8)
A especulação imobiliária faz com que grandes investidores procurem áreas desvalorizadas para construírem seus empreendimentos a baixo custo. Essas áreas comumente são ocupadas por populações de baixa renda, que se veem obrigadas a deixar suas casas, seja pela valorização do solo, ou até mesmo por despejo forçado. 
A lógica neoliberal aplicada ao planejamento urbano é uma política que se tornou mais recorrente à partir dos meados da década de 1980, quando a tendência foi a redução de investimentos públicos para dar lugar à financeirização da economia, a fim de solucionar a crise da reestruturação produtiva. Harvey (2008) comenta que nos Estados Unidos de Ronald Reagan, houve uma grande quantidade de capital excedente absorvido pelo mercado imobiliário em função da construção de centros urbanos, residências em subúrbios e escritórios, ao mesmo tempo que a inflação dos preços habitacionais, devido a uma onda de refinanciamento com baixíssimas taxas de juros, impulsionava seu mercado interno. 
Casos parecidos aconteceram em outros países, como na Grã-Bretanha de Thatcher e na Espanha de Gonzáles. Já a China teve sua ênfase no desenvolvimento infra estrutural, com construção de barragens e autoestradas. Com essas mudanças, mais de cem cidades passaram de um milhão de habitantes após a recessão de 1997, transformando pequenas vilas em grandes metrópoles.
Harvey (2008) ainda salienta que:
O Banco Central chinês tem atuado no mercado secundário de hipotecas do EUA, enquanto o Goldman Sachs estava fortemente envolvido na onda do mercado imobiliário de Mumbai e o capital de Hong Kong tinha investido em Baltimore. Em meio ao fluxo de migrantes empobrecidos, aumentou o setor de construção em Johannesburgo, Taipei, Moscou, assim como em cidades nos países capitalistas centrais, tais como Londres e Los Angeles. Mega-projetos de urbanização, surpreendentes, senão criminosos, surgiram no Oriente Médio, em lugares tais como Dubai e Abu Dhabi, dando conta do excedente tirado do petróleo da maneira mais conspícua, socialmente injusta e ambientalmente prejudicial possível. (p. 79 e 80)
Desta maneira, o mercado financeiro atua em escala global, financiando intervenções urbanas pelo mundo todo de acordo com seus interesses econômicos, e sem responsabilidades com relação ao caos social instalado por suas consequências.
Apesar do modelo neoliberal de urbanização só ganhar força na década de 1980, as reformas executadas de forma socialmente injusta pelo mundo acontecem desde o início do processo de urbanização.
No Brasil, a urbanização começa acontecer de forma acentuada na virada no século XIX para o século XX, chegando a ter aproximadamente 10% da sua população em área urbana em 1900. Nesse momento, o Rio de Janeiro se tornava a cidade mais populosa do país, com mais de 600 mil habitantes, como apontam Motta e Gomes (2014).
Com a intensificação da industrialização e a ineficiência e altos preços dos transportes públicos, a população começou a concentrar suas moradias na área central, o que culminou numa grande crise habitacional. Na tentativa de suprir essa demanda, o poder público criou habitações que eram chamados de cortiços, e possuíam péssimas condições de salubridade. A parcela da população que ocupava essas habitações era de baixa renda, e correspondia em sua maioria aos escravos recém-libertos e suas famílias.
Os cortiços eram vistos pelo governo e pela elite burguesa como um problema a ser removido, um empecilho que manchava a imagem da cidade, espalhava doença e ameaçava a segurança urbana. À vista disso, nas inúmeras remodelações que foram executadas na cidade, todas tiveram como intuito remover os barracos e as famílias que os habitavam, em vez de criar políticas para melhorar a qualidade de vida dessa população.
Como discutido a seguir, em repetidos casos em várias cidades do mundo, a população de baixa renda foi marginalizada nos processos de intervenções urbanas, sempre sendo vista como algo a ser invisibilizado, quando não aniquilado. 
2.1.1. Intervenções urbanas e exclusão social
Harvey (2008) revela que umas das reformas urbanas mais impactantes da história foi executada por Georges-Eugène Haussmann em 1853, na cidade de Paris. Na época Napoleão Bonaparte tinha acabado de assumir o poder, e enfrentava graves problemas econômicos causados pela vasta quantidade de excedente de capital ocioso. Nesse contexto, Haussmann foi designado para realizar uma série de intervenções que reestruturaram profundamente a capital francesa. Segundo Harvey (2008), Haussmann anexou subúrbios e redesenhou a vizinhança parisiense, transformando não só sua infraestrutura urbana, mas também o estilo de vida da população. Assim, Paris se tornou a “Cidade das Luzes”, centro do turismo, cafés, lojas de departamentos, indústria da moda e vários outros empreendimentos que incentivaram o consumismo para a absorção da grande quantidade de excedente de capital. Para financiar essas reformas, foram construídas as instituições financeiras Crédit Mobilier e Crédit Immobilier, que forneceram novos instrumentos de débito. Esse sistema prosperou por 15 anos, até que em 1868, o sistema financeiro e a estrutura de crédito extensivos e especulativos quebraram a economia francesa. 
Outra grande intervenção urbana de relevância mundial apontada por Harvey (2008) foi a feita pelo arquiteto Robert Moses na cidade de Nova York. Após a 2º Guerra Mundial, havia nos EUA a preocupação de como absorver o capital excedente disponível, que os esforços de guerra estavam dando conta até então. Dessa forma, Moses foi o escolhido para realizar transformações na cidade da mesma forma que Haussmann fez em Paris. O arquiteto criou um sistema de autoestrada e fez inúmeras transformações infra estruturais, além de suburbanizar toda região metropolitana. Moses também recorreu a novas instituições financeiras e arranjos tributários para realizar as intervenções, que liberaram crédito para a expansão da dívida financeira urbana. Assim como em Paris, as transformações urbanas acarretaram numa profunda reconfiguração do estilo de vida da população local. Com essas mudanças, a cidade de Nova York se tornou o principal centro metropolitano do país, e esse processo definiu a estabilização do capitalismo global após a 2º Guerra Mundial.
Essa tendência de reformas “modernizadas” e excludentes também teve seu impacto no Brasil. Principalmente na cidade do Rio de Janeiro, que foi palco de uma série de intervenções aos moldes de Haussmann.
A primeira grande reforma urbana na cidade teve início em 1903, e foi executada pelo engenheiro e prefeito na época, Francisco Pereira Passos. A “Reforma Pereira Passos”, como ficou conhecida, tinha o objetivo de embelezar e “higienizar” a cidade, usando do pretexto de que a sujeira e a miséria concentradas nos cortiços podiam levar doenças para as áreas mais elitizadas da cidade, além de prejudicar sua imagem de capital modernizada. Dentre as obras realizadas estão o alargamento de ruas para criar o que hoje são a Avenida Central e Avenida Beira Mar, a construção do Teatro Municipal, reconstrução da Praça XV, além da demolição dos cortiços.
A segunda reforma importante realizada na cidade ficou conhecida pelo nome de “Plano Agache”. O Plano teve seu início em 1920, quando o então prefeito Antônio Prado Júnior convidou o engenheiro francês Alfred Agache para fazer uma nova remodelação na cidade.
As reformas feitas no Plano Agache tinham como princípio norteador a otimização da estrutura espacial da cidade. Rodrigues (2014) afirma que foram feitos o planejamento dos transportes de massa, do sistema do abastecimento de água, e principalmente mudanças na questão habitacional. Assim como na Reforma Pereira Passos, o Plano Agache tinha o claro objetivo de remover as favelas dacidade com o discurso da higienização e da valorização estética. À vista disso, foi realizado um projeto de zoneamento que pretendia dar uma função a cada bairro da cidade, sendo as favelas excluídas desse processo. Assim, a solução encontrada para os problemas habitacionais dentro do projeto foi a demolição dos barracos para transformá-los em vilas residenciais para pequenos funcionários e pequenos empregados do comércio. Surgiram assim, os Parques Proletários.
Em todas as reformas ocorridas na cidade do Rio de Janeiro, havia um esforço latente do poder público em parceria com a burguesia industrial de invisibilizar e remover as favelas do cenário carioca. Ao ponto que até 1937, elas sequer apareciam no Código de Obras da cidade. E mesmo depois disso, só foi reconhecida como um mal a ser eliminado. O mesmo princípio tiveram os Parques Proletários.
Rodrigues (2014) comenta que no início da década de 1940, foi feito um estudo pelo médico Vítor Tavares de Moura, solicitado pela Secretaria Geral da Saúde do Distrito Federal, que propõe soluções para o chamado de “problema das favelas”. 
O autor aponta que o estudo possuía um caráter higienista, autoritário e excludente, e sugeriam soluções como:
a) o controle de entrada no Rio de Janeiro de indivíduos de baixa condição social; b) o recâmbio de indivíduos de tal condição para os seus Estados de origem; c) a fiscalização severa quanto às leis que proíbem a construção e reconstrução de casebres; d) a fiscalização dos indivíduos acolhidos pelas instituições de amparo; e) promover forte campanha de reeducação social entre os moradores das favelas, de modo a corrigir hábitos pessoais de uns e incentivar a escolha de melhor moradia. (RODRIGUES, 2014, p. 7)
Assim, os Parques Proletários além do intuito higienista, surge com um caráter opressor de imposição dos princípios hegemônicos de civilização. 
Rodrigues (2014) revela que o objetivo do projeto era atingir mais de 300 mil pessoas, no entanto, apenas três parques foram construídos. Foram eles: o Parque Proletário da Gávea, que abrigou moradores do Largo da Memória Olaria e Capinzal; o Parque Proletário do Caju que, abrigou moradores das favelas da Central do Brasil; e o Parque Proletário do Leblon, que abrigou moradores da favela da Praia do Pinto. Cada unidade abrigou no máximo quatro mil pessoas. Com a especulação imobiliária, os Parques Proletários chegaram ao fim no final da década de 1940, e acabaram por também se tornarem favelas.
2.1.2. Direito à cidade e resistências populares
Pode-se observar que no sistema vigente, as intervenções realizadas desde o início dos processos de urbanização das cidades, além de pouco se preocuparem com os problemas sociais já existentes, muitas ainda contribuíram com o agravamento das desigualdades sociais e das segregações socioespaciais.
À vista disso, movimentos sociais em prol do direito à cidade e direitos humanos se unem à sociedade civil para protestar e resistir aos descasos do poder público e privado responsáveis pelas intervenções feitas de forma excludente.
Ao longo da história, as reformas urbanas que marginalizaram grande parte da população foram seguidas de resistências que mudaram o curso político das cidades e dos países. 
Harvey (2008) explica que na Paris de Napoleão III, logo depois da quebra da economia, Haussmann foi demitido, e após Napoleão declarar guerra contra a Alemanha, e perder, irrompe a Comuna de Paris, que se caracterizou como uma das maiores revoluções da história. Dentro das inúmeras demandas que se criaram no contexto da realidade da França após as guerras Napoleônicas, a revolução tinha pautas como a igualdade de direitos, incluindo o direito à moradia, e a devolução da cidade àqueles que foram desalojados pelas obras de Haussman. 
Nos EUA pós 2° Guerra, a suburbanização feita por Moses em Nova York não alterou somente a infraestrutura espacial da cidade, mas também mudou comportamentos e estilos de vida, o que influenciou em questões políticas. 
Harvey (2008) salienta que o programa de subsídio da casa própria para a classe média fez crescer o sentimento da defesa da propriedade privada e do modo de vida individualista, além de contribuir para o crescimento do conservadorismo e de votos para o partido republicano. As reformas geraram tensões devido à grande parte da população, em sua maioria afro-americana, que já era marginalizada, terem tido seus direitos de acesso ainda mais reduzidos.
Diante desse cenário, jovens estudantes de classe média se juntam à sociedade civil na luta pelos direitos daqueles que foram excluídos da “onda de prosperidade”. Lideranças feministas e movimentos sociais declararam protesto ao imperialismo americano, propondo a construção de uma cidade mais justa e igualitária.
A luta por direito à cidade se configurou em várias cidades do mundo em diversos momentos históricos, todas tendo em comum a procura de uma alternativa ao modo neoliberal de reprodução do espaço urbano. Harvey (2008) elucida que: 
Foi nas ruas que os tchecos se libertaram em 1989 de opressivas formas de governança; foi na Praça da Paz Celestial que o movimento estudantil chinês buscou estabelecer uma definição alternativa de direitos; foi através de massivos comícios que a Guerra do Vietnã foi forçada a terminar; foi nas ruas que milhões protestaram contra o prospecto de uma intervenção imperialista norte-americanana no Iraque em 15 de fevereiro de 2003; foi nas ruas de Seatle, Gênova, Melbourne, Quebec, e Bangkok que os direitos inalienáveis à propriedade privada e da taxa de lucro foram desafiados. (HARVEY, 2013, p.19)
Rodrigues (2014) esclarece que no Brasil, a partir da década de 1960, cresceu o debate sobre direito à cidade e o fortalecimento das classes desfavorecidas na luta por suas demandas. Os movimentos sociais se unificaram para reivindicar reformas urbanas com a participação da sociedade civil, mas essas manifestações foram brutalmente reprimidas na ditadura, pela criminalização dos movimentos sociais e cerceamento das liberdades, incluindo a de expressão. Após a redemocratização, a luta pelo respeito aos direitos sociais e humanos ganham força. Movimentos como o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), Movimento Passe livre (MPL), entre outros, ampliam o debate sobre os direitos à moradia e acesso à cidade.
Rodrigues (2014) revela ainda que com a instauração da Constituição Brasileira de 1988, foi assegurada a ampliação dos direitos universais à educação, lazer, trabalho, segurança, alimentação, moradia e proteção à maternidade. A Constituição também instituiu o capítulo da Seguridade Social, que contém as políticas de previdência social, assistência social e saúde. “Assim, o direito à cidade pôde ser pensado articulado a todos esses direitos mencionados na Carta Constitucional que dizem respeito aos direitos individuais, mas também aos direitos coletivos, à greve, à participação em órgãos colegiados, entre muitos outros que retomam e conduzem à vida cotidiana e às múltiplas vivências e experiências na cidade”. (RODRIGUES, 2014, p. 4)
Com relação às questões citadinas, a grande mudança foi a criação do capítulo da política urbana, tendo como principal ferramenta o Plano Diretor.
O Plano Diretor foi criado pelas prefeituras com a participação das Câmaras Municipais e da sociedade civil para orientar as políticas de desenvolvimento e ordenamento da expansão urbana dos municípios; para estabelecer e organizar o crescimento, o funcionamento e o planejamento territorial da cidade; e para orientar as prioridades de investimentos. O plano foi elaborado para ser usado como instrumento de democratização da gestão da cidade, para garantir de forma justa os benefícios da urbanização, respeitando os princípios da reforma urbana, direito à cidade e cidadania. 
Desta forma, os princípios do Plano Diretor exigem a participação da sociedade civil na elaboração de programas e reformas feitas na cidade. Segundo a Constituição Brasileira, toda cidade que possui mais de 20 mil habitantes, é integrante deregiões metropolitanas, está situada em áreas de influência de empreendimentos ou atividades que causem impacto ambiental, ou seja, área de interesse turístico, deve possuir um Plano Diretor.
Apesar disso, na prática, desde a época de sua criação, o planejamento urbano em muitas cidades é feito dentro de gabinetes, em uma parceria fechada entre empresários e agentes do poder público.
Cada vez mais, dentro das diretrizes de planejamento da construção das “ cidades-empresa”, a participação da sociedade civil se torna um empecilho para a concretização dos interesses dos grandes empresários que investem nessas regiões.
Nesse contexto, cabe aos próprios moradores desalojados e excluídos, com a ajuda dos movimentos sociais engajados nas questões urbanas, lutarem para mudar essa conjuntura da valorização do capital em detrimento do bem-estar social da população.
No Estatuto da Cidade, incorporado à Constituição Federal em 2001, o asseguramento das políticas urbanas realizadas de forma a garantir a justiça social foi desenhado de forma mais específica, com base concreta na defesa do planejamento participativo e da função social da propriedade. No entanto, Rodrigues (2014) explica que o Estatuto traz em um dos seus capítulos a permissão para o uso das Operações Urbanas Consorciadas como instrumento para a realização das reformas urbanísticas, o que na prática, contraria as leis asseguradas no próprio Estatuto.
Constantemente, esses consórcios feitos entre o poder público e empresas privadas acabam por subordinar os princípios do bem-estar social que deve ser assegurado pelo Estado aos interesses do capital privado, que na maioria das vezes são extremamente conflitantes. 
Nesse contexto, o intuito de realizar mudanças para a construção de uma cidade justa e inclusiva se perde quando esses princípios vão na contramão do lucro dos empresários envolvidos no consórcio.
No Rio de Janeiro, a prefeitura da cidade alegou a necessidade de usar a estratégia das Operações Urbanas Consorciadas para realizar as reformas para a as Olimpíadas de 2016, devido ao porte e a urgência das intervenções. Entretanto, houve inúmeras revelações feitas por integrantes da sociedade civil, movimentos sociais, mídias alternativas, entre outros canais, denunciando a forma arbitrária que essas intervenções foram executadas. Moradores de favelas tiveram suas casas demolidas sem nenhum outro motivo além da alegação da Secretaria Municipal de Habitação de que seria necessário para a realização das obras olímpicas. Pessoas que já possuíam situação de marginalidade tiveram seu acesso à cidade ainda mais reduzido, tudo em prol de uma falsa promessa de prosperidade citadina, que na verdade, só viria a incluir a parcela mais abastada da população.
Essa consciência de exclusão por parte da própria população marginalizada diante dos descasos e atrocidades experienciadas, e mais uma vez o apoio dos movimentos sociais, fizeram por somar suas demandas na onda de protestos que se irrompeu por todo o país em 2013, iniciado pelo Movimento Passe livre.
Os protestos se iniciaram por conta do aumento do preço da passagem do transporte coletivo, mas acabou por tomar proporções muito maiores, alcançando várias lutas da esfera política.
A grande mídia e os demais detentores do poder, a princípio tentaram conter as manifestações por via da invisibilização e repressão policial, mas devido ao crescimento da proporção tomada pelos protestos, esses instrumentos não foram capazes de apagar a insatisfação e revolta daqueles que há muito tempo têm tido seus direitos mais básicos negados.
Sobre essas questões, Vainer (2013) comenta:
Megaeventos, meganegócios, megaprotestos. Não há como não reconhecer a conexão estreita entre os protestos em curso e o contexto propiciado pelos intensos e maciços investimentos urbanos associados à Copa do Mundo de 2014 e, no caso do Rio de Janeiro, também aos Jogos Olímpicos de 2016. De um lado, a repressão brutal e a rapidez com que a mídia e governos tentaram amedrontrar e encurralar os movimentos deveu-se, ao menos em parte significativa, à preocupação em impedir que jovens irresponsáveis e “vândalos” manchassem a imagem do Brasil num momento em que os olhos do mundo estariam postos sobre o país, devido à Copa das Confederações. “Porrada neles.” A grande mídia deu o tom, e o ministro da Justiça compareceu ao telejornal da principal rede de televisão para colocar a Força Nacional à disposição de governos estaduais e municipais. ( p. 5 e 6)
Desta maneira, o acontecimento dos Megaeventos nas cidades é usado como pretexto tanto para a realização de intervenções socialmente injustas, quanto para a repressão das manifestações de insatisfação por parte da população. Cada vez mais a desigualdade socioespacial se torna uma pauta constante nas lutas urbanas. A população marginalizada quer ter acesso à cidade, e tem descoberto que as ruas devem ser o palco da busca por esses direitos.
2.2. TURISMO, POLÍTICAS PÚBLICAS E PLANEJAMENTO URBANO
No âmbito dos megaeventos e da atenção mundial que as cidades recebem por seu acontecimento, o turismo ganha o papel de destaque. A grande mídia, o poder público e as grandes empresas não cansam de reforçar os benefícios que os Megaeventos e o fluxo de turistas resultante deles podem trazer para a população local. O que eles parecem esquecer de mencionar, é que a forma como esses eventos são planejados, não incentiva a integração social e a distribuição igualitária desses benefícios. 
Para que o turismo de fato possa trazer melhor qualidade de vida para a população local, é necessário um planejamento integrado entre o setor público, o setor privado e a sociedade civil, articulando propostas para a melhoria da cidade como um todo de forma democrática, partindo da ideia de que para a cidade ser boa para o turista, ela precisa em primeiro lugar ser boa para o morador. 
Gastal e Moesch (2007) comentam que o aumento da concorrência entre as cidades por conta do mercado globalizado tem resultado no agravamento das desigualdades entre regiões, o que indica uma necessidade urgente de realizar mudanças nas formas de planejar o destino turístico.
Assim, torna-se indispensável a visão do planejamento turístico de forma sistêmica e participativa, que contemple todos os agentes envolvidos, para que possa cumprir com o seu papel de gerador de trabalho e renda, de melhoria dos equipamentos de lazer e de infraestrutura da cidade/localidade como um todo. 
Para Gastal e Moesch (2007), para maior eficiência do planejamento de um destino turístico, é necessário: 
[...] organizar e implantar um sistema público de Turismo, cuja composição ideal seria formada por um conselho de Turismo, por fundos de financiamento e por agência de desenvolvimento. Esse sistema teria como função consolidar a imagem da cidade/localidade como destino turístico qualificado; desencadear um processo de sensibilidade da comunidade para o Turismo enquanto fenômeno humano e econômico, e das potencialidades da cidade/localidade para atender essas demandas. (p. 50)
As autoras citadas ainda salientam que é imprescindível criar políticas que atendam aos cidadãos de todas as classes sociais e raízes culturais em suas vivências de lazer. 
De acordo com a visão sistêmica do Turismo criada por Beni (1998) citado por Gastal e Moesch (2007), o turismo faz parte da integração de vários setores que precisam dialogar entre si para seu bom funcionamento. Dessa forma, não podemos pensar nesses setores de forma isolada. É indispensável a mobilização de todos os agentes envolvidos: setor hoteleiro, agências de viagens, restaurantes, espaços culturais e de lazer, transportes, poder público, cidadãos e turistas, em todos os processos, da produção, da distribuição, até o consumo. Cada um executando a parte que lhe cabe para a produção de um turismo sustentável.
A gestão do destino turístico deve ser pautada no levantamento das potencialidades de seus recursos, no seu aprimoramento para torná-los atrativos, bem como na sua inserção no mercadoturístico. Mas para além disso, seu planejamento estratégico deve se alinhar à sustentabilidade da localidade durante esses processos. Para isso acontecer, o grupo de planejadores deve ser capacitado e compromissado, buscando sempre as melhores decisões de acordo principalmente com as demandas da população local. 
No entanto, o que se observa na prática, é que essas premissas não condizem com a realidade. Isso se deve principalmente à ausência de profissionais do ramo na seleção de gestores, que é feita de forma fechada em acordos políticos. Esses acordos têm como um dos objetivos manter o jogo de interesse entre o poder público e as empresas privadas, que usam a necessidade de melhorar a imagem da cidade e impulsioná-la turisticamente como pretextos para a realização de intervenções com obras superfaturadas, concessões feitas de forma abstrusa e corrupta, e remodelações que atenuam a segregação social.
Isto posto, é substancial que seja realizada uma reforma que mude o paradigma do planejamento turístico e urbano, que é regido por interesses políticos em detrimento da qualidade de vida da população. 
2.2.1. Planejamento turístico e cidadania
Como já discutido, o fenômeno do turismo está diretamente interligado às questões urbanas, e tendo o deslocamento como sua essência, possui importante papel na mediação entre diferentes povos e culturas. Deste modo, é imprescindível que se pense o turismo como forma de aproximação construtiva e solidária entre turistas e população local.
Não raro, percebe-se a gestão e promoção de destinos sendo feita de forma irresponsável, baseadas numa visão distorcida e estereotipada. Esse equívoco pode acarretar em conflitos que ofendem a identidade dos moradores, os reduzindo a atributos caricatos que não correspondem à realidade. 
O deslocamento obriga o visitante a sair da sua zona de conforto para adentrar no desconhecido, entrando em contato com o diferente de si. Esse encontro pode acontecer de maneira benéfica ou traumática, dependendo da forma como o visitante foi preparado para sua ocorrência. Essa preparação deve envolver os aspectos do destino desde a sua formação, dando protagonismo à população local nos processos, fazendo a promoção do lugar com responsabilidade social, motivando a participação do turista de forma humanitária, e promovendo o respeito às diferenças e o aprendizado cultural. 
Da mesma maneira, é também importante o incentivo à consciência e prática da hospitalidade por parte dos visitados, o que só poderá acontecer se eles forem incluídos nos processos que envolvem a inserção do turismo em seu local de vivência.
Com isto posto, o turismo pode ser um eficaz mediador de intercâmbio cultural, enriquecendo a experiência não só dos visitantes, mas proporcionando um novo modo de interação entre o morador e seu espaço. 
Pensando nessas propostas, Gastal e Moesch (2007) trazem os conceitos de “Cidadão Turista” e “Turista Cidadão”. O primeiro seria o turista que desenvolve uma relação de pertencimento com o local visitado, criando uma aproximação com os fixos pertencentes ao espaço, tornando-o familiar. Já o segundo, seria o morador que, usando do exercício de estranhamento, se desvincula da sua posição de conhecedor do local, inserindo um novo olhar sobre os fixos, conseguindo enxergar no seu local de vivência um espaço de lazer a se usufruir no seu tempo livre. Com esses conceitos, as autoras propõem um novo modo de relação não só entre visitantes e visitados, mas também entre fixos e fluxos, dando outra concepção de formas de fruição dentro da experiência turística. 
Gastal e Moesch (2007) exemplificam a gestão turística baseada nesses moldes, citando os casos das cidades de Curitiba, Fortaleza, Balneário Camboriú e Porto Alegre.
Em 2003, na cidade de Curitiba, o prefeito investiu numa proposta de planejamento urbano que valorizasse a população residente criando projetos de preservação dos mananciais, integrando o sistema de transporte, promovendo a gestão compartilhada do lixo e incentivando a apropriação dos moradores em espaços turísticos como os parques e o complexo de entretenimento da Pedreira. Com isso, a prefeitura tinha o objetivo de atrair o turismo na cidade através da satisfação e qualidade de vida da população local. 
Em Fortaleza, o secretário de turismo criou, em 2006, o projeto “Conheça Fortaleza a Pé”. O projeto foi uma parceria com o Convention Bureau, e consistiu em pintar de verde no chão da cidade um caminho turístico, mostrando num mapa fotos e descrições em português e inglês de prédios e monumentos considerados relevantes para a história da cidade. O objetivo do projeto era além de atrair turistas para a cidade, fazer com que a população local conhecesse mais sobre sua história e se envolvesse mais em sua cultura. 
Já em Balneário Camboriú, o foco do projeto feito em 2004 pela Secretaria do Turismo e do Comércio, estava em transformar a cidade em um grande polo turístico catarinense, e usasse os recursos advindos do turismo em qualidade de vida para os moradores, investindo em políticas sociais de infraestrutura urbana, saúde, educação e lazer para visitantes e residentes. Além disso, a proposta visava à preservação ambiental da cidade e a qualificação profissional buscando excelência no bem receber aos turistas e a sua integração com a população local. O projeto foi tão bem planejado, que ganhou o prêmio de Top de Marketing Catarinense em 2004. 
Na cidade de Porto Alegre, o Plano Ação 1999 atingiu um nível ainda maior em sustentabilidade da atividade turística local. A proposta contou com a parceria do poder público, da iniciativa privada, e da sociedade civil, usando do planejamento e o orçamento participativo para desenvolver produtos e serviços turísticos a partir dos interesses coletivos, contando com a implementação de políticas públicas para reverter os recursos do turismo para o combate à desigualdade social, gerando emprego e renda para a população, além de incluí-la nos espaços culturais e de lazer que são apropriados pelo turismo.
Desta maneira, além de ser beneficiada com os cabedais oriundos da atividade turística na cidade, a população local também usufrui de todos os equipamentos de lazer logrados pelos turistas. 
Segundo Moesch (2007):
Desta forma, o Porto Alegre Turismo realizou, nos seus projetos de incremento à atividade turística na cidade, a negociação solidária entre a tangibilidade do espaço, ou seja, a conservação ambiental, a preservação dos ecossistemas locais, o uso racional dos recursos naturais; e o que no espaço é intangível: a riqueza da diversidade e a heterogeneidade cultural que conforma e singulariza Porto Alegre. (p. 67)
Esses quatro exemplos de planejamento turístico/urbano ilustram de maneira clara os conceitos de turismo sustentável expostos por Gastal e Moesch (2007), demonstrando que a atividade turística quando bem planejada, pode ser provedora de qualidade de vida para todos os agentes envolvidos, além de ser um fator incentivador do exercício pleno da cidadania e do respeito à diversidade cultural. 
2.2.2.Turismo e políticas públicas
Como se observa, para a sustentabilidade da atividade turística numa localidade, é necessária uma política de planejamento integrado entre todos os agentes envolvidos. Entretanto, muito se vem discutindo o papel do Estado na implementação dessas políticas. Muitos estudiosos da área defendem que o Estado deve exercer papel essencial nas políticas relacionadas ao turismo, visto que a atividade envolve uma série de infraestruturas que devem ser garantidas pelo poder público, e o turismo só acontece de forma viável quando todos os setores envolvidos dialogam entre si. 
Outro fator que justifica a intervenção necessária do Estado é a importância da regulamentação do mercado, visando coibir monopólios e práticas exploratórias por parte de grandes empresas, que prejudicam os consumidores e a população local.
Entretanto, para o poder público de fato intervir de forma produtiva e responsável no planejamento turístico, é imprescindívelque os cargos públicos sejam compostos por profissionais qualificados da área do turismo, o que na prática não acontece. O que comumente se observa, como já mencionado, são cargos de secretarias formadas por uma rede de indicações baseadas no nepotismo e em interesses políticos. 
Desta maneira, os princípios de planejamento democrático e participativo se comprometem, dando espaço a relações corrompidas entre poder público e privado, deixando a população local a mercê de um turismo irresponsável e predatório. 
Entre os autores que defendem abertamente a intervenção pública na gestão do destino turístico, está Mario Beni. Citado por Gastal e Moesch (2007) o autor justifica a importância do poder público no planejamento turístico a partir das seguintes razões:
[...] os ganhos com câmbio de moeda estrangeira e sua importância na balança de pagamentos; a criação de empregos e a necessidade de prover educação e formação de recursos humanos; o fato de o turismo ser uma atividade extensa e fragmentada a exigir uma coordenação cuidadosa do seu desenvolvimento e do seu marketing; a necessidade de maximizar os benefícios para a comunidade local; a necessidade de distribuir os benefícios e custos de forma equitativa; construção da imagem do país como um destino turístico; regulamentação do mercado, de forma a proteger os consumidores e a evitar a concorrência desleal; oferecimento de infraestrutura e bens públicos, como parte do produto turístico; a necessidade de proteger os recursos e o meio ambiente; a necessidade de normatizar os aspectos do comportamento social, como por exemplo, os jogos de azar; a necessidade de monitorar o impacto da atividade turística através de levantamento estatísticos. (BENI, 1998 apud GASTAL; MOESCH, 2007, p. 51 e 52 )
A presença do poder público no planejamento turístico é, portanto, necessária para garantir o seu funcionamento, dadas as suas complexidades multissetoriais, além de regular a atuação da iniciativa privada que tende a olhar a atividade estritamente pelo seu aspecto econômico, para assim preservar o seu caráter de provedor de qualidade de vida para a população local. 
Constantemente, as políticas voltadas para a atividade turística são responsáveis pelas decisões tomadas em relação às reformas urbanas nas localidades. Junto com o setor imobiliário e fundiário, o setor turístico comumente é quem dá as cartas sobre que localidade deverá ser implementada com políticas de melhoria de infraestrutura e que tipo de intervenção deverá ser executada. A prática comum é realizar transformações urbanas pensando na atratividade turística, em vez de pensar em soluções que melhorem a qualidade de vida da população, para assim transformar a cidade num lugar agradável para se visitar. 
Nesse contexto, o turismo acaba por andar na contramão da integração social, visto que reformas de melhoria de infraestrutura só são realizadas em áreas consideradas de interesse turístico, marginalizando áreas que não atraem investimentos. Junto com isso, acontece a especulação imobiliária, que obriga os residentes de baixo poder aquisitivo a se deslocar para as periferias, contribuindo para a gentrificação e a segregação socioespacial. 
Desta forma, cabe aos estudiosos do Turismo questionar essas práticas, e pensar em alternativas para quebrar esse paradigma de implementações de políticas que vendem a cidade a grandes empresas em detrimento do bem-estar da sociedade. 
 Para as autoras Gastal e Moesch (2007):
Uma política pública de turismo deve ter como concepção o turismo como um sistema aberto, orgânico e complexo que se coloque como atividade multissetorial, cuja execução deve, necessariamente, incorporar visões multidisciplinares, multiculturais e multissociais. Assim, se constituirá no trabalho conjunto do setor público com a iniciativa privada e com a sociedade civil, reconstruindo os processos de identidade tão necessários às cidades e às localidades, para que se integrem às redes de globalização de forma independente, em vez de serem homogeneizadas nesse processo. (p. 45)
Com o exposto, as autoras destacam a importância de políticas públicas que levem em consideração o olhar de todos os agentes envolvidos, de forma democrática e participativa. Além disso, as autoras ainda atentam para a questão da valorização das culturas locais, que é imprescindível para a preservação da identidade e emancipação política e social da população local no contexto do turismo globalizado, assunto que será discutido a seguir.
 
2.3. IDENTIDADE CULTURAL
A identidade cultural se configura como uma questão fundamental na discussão sobre intervenções urbanas, uma vez que a criação da cultura popular comunitária é desenvolvida a partir da convivência entre os indivíduos que a compõe. A construção de valores e costumes de uma localidade se caracteriza como sua marca, necessitando assim, de ser reconhecida como seu patrimônio imaterial. 
Desta forma, faz-se necessário entender a importância desses laços dentro do cenário urbano, bem como suas relações com o turismo, para o desenvolvimento de políticas que promovam a valorização e o respeito dessas culturas, que são extremamente relevantes para a formação da cidadania dos indivíduos que dela fazem parte. 
2.3.1. Identidade cultural e globalização
Muito se vem discutindo sobre a interferência no processo da globalização nas culturas identitárias em nível nacional, regional e local. Com o avanço das relações globais ao longo do tempo, criou-se uma tendência de concluir que os costumes tradicionais estão desaparecendo com as misturas consequentes das relações econômicas, sociais e tecnológicas entre povos do mundo inteiro. No entanto, as pesquisas realizadas sobre o assunto indicam uma tendência mais complexa sobre esse fenômeno.
Como aponta Hall (2006), a ideia de uma cultura ‘pura’ é fantasiosa, considerando que a formação os estados-nação foram formados por vários processos sociais ao longo da história, como colonizações, imigrações, guerras, entre outros. Esses processos fizeram com que várias etnias se rompessem e outras se agrupassem para formar novas. Assim, Hall explica o que ele chama, citando Benedict Anderson (1993) de comunidade imaginada:
As culturas nacionais são compostas apenas de instituições culturais, mas também de símbolos e representações. Uma cultura nacional é um discurso - um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas nações quanto a concepção que temos de nós mesmos [...]. As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre a nação, sentido com os quais podemos nos identificar, constroem identidades. Esses sentidos estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com o seu passado e imagens que delas são construídas. (p. 50 e 51).
Com essa afirmação, Hall argumenta que a identidade dos estados-nação é composta por diversas etnias que constroem uma identidade própria a partir de uma identificação desenvolvida no âmbito da sua convivência, formando um sentimento de pertencimento ao grupo.
Nesse contexto, antes mesmo da globalização, as nações já eram compostas por diferentes povos com diferentes costumes, que convergiram na identidade nacional. Com isto, então o que muda com o processo de globalização?
Segundo Mcgrew (1992), citado por Hall (2006, p. 67 ), “ a ‘globalização’ se refere àqueles processos, atuantes numa escala global.” “Esses processos atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo em realidade e experiência mais interconectado”. Dessa forma, a globalização tem em especial a diminuição das distâncias temporais e espaciais, que influenciam diretamente nas identidades culturais, com isso, cresce o acesso ao contato com outras culturas com o mínimo de deslocamento. As culturas locais se tornam mundializadas e sofrem adaptações, de modo que se adequem aos lugares onde estão inseridos. 
A globalização tem um detalhe que não pode ser ignorado,o processo de culturalização tem um caráter unilateral, uma vez que a cultural ’ocidental’ exerce o poder econômico e social sobre o restante do mundo. Por esse motivo, entre outros fatores, a chamada ‘homogeneização da cultura’ vem sendo muito criticada por autores do assunto, o enfatizando como um discurso simplista. 
Hall (2006) utiliza três argumentos de autores diferentes para explicitar a ideia de contratendência da homogeneização cultural.
A primeira é a ideia formulada por Kevin Robin, que diz que, ao mesmo tempo que acontece a homogeneização cultural, também acontece a valorização do diferente, amparada pela mercantilização das etnias para criação de novos nichos de mercado para o capitalismo global. A segunda argumentação é baseada na teoria da “geometria do poder” de Doreen Massey, que explica que o processo de globalização é desigualmente dividido entre as regiões ao redor do mundo, além de ter uma divisão desigual também dentro das regiões, atingindo apenas uma parte de sua população. A terceira argumentação, também de Robin, é que apesar de, por definição, a globalização ser um processo que afeta o mundo inteiro, ela na verdade, é mais um processo de “ocidentalização” que de globalização, visto que dentro do capitalismo global, o ocidente exerce grande poder sobre o restante do mundo, exportando e impondo suas mercadorias, culturas e valores. 
Desta maneira, Hall (2006) deixa explícito que o processo de globalização possui um caráter bastante complexo, que demanda uma análise mais profunda que a simples dicotomia entre homogeneização ou não homogeneização. 
Dentro dos três argumentos acima discutidos, implicam duas observações em relação à globalização e identidades culturais: a) a imposição da cultura hegemônica em regiões com menos acesso ao poder (como países subdesenvolvidos); b) a mercantilização predatória de culturas populares que são consideradas como “exóticas”.
Nas duas situações, o turismo possui importante incumbência, o que será discutido adiante.
2.3.2. Turismo e identidade cultural
É incontestável que a atividade turística é um instrumento de confluência de culturas, de compartilhamento de vivências e confronto com o desconhecido, até mesmo nas práticas em que se tem o contato mínimo com os nativos do local. Nesses encontros, acontecem choques de culturas que podem enriquecer a experiência da viagem.
Como comentado anteriormente, no contexto do mundo globalizado, as identidades culturais se tornam cada vez mais híbridas, e as tradições cada vez mais dinâmicas e mescladas, mas isso não tem significado necessariamente a perda das identidades locais, pelo contrário, muito se tem observado que dentro da conjuntura de ameaça de homogeneização da cultura, grupos tradicionais vêm se esforçando para evidenciar marcas e rituais de sua identidade com o intuito de preservá-las e incentivar sua valorização perante o cenário global. Isso vem acontecendo devido a fatores como: a) a tendência da mercantilização da imagem do local por meio da evidenciação dos rituais de seus povos; b) o medo por parte dos grupos do desaparecimento de seus costumes tradicionais por não serem passados para os seus descendentes; c) o fortalecimento político dos grupos tradicionais enquanto sujeitos produtores de cultura e relevância histórica. Desta maneira, ao mesmo tempo em que a mundialização cultural dinamiza as trocas e intercessões identitárias, também acontece o processo de preservação dos costumes tradicionais e populares.
Alguns desses fatores possuem influência direta sobre o turismo nas localidades, uma vez que a curiosidade sobre o “outro” e seus costumes se caracterizam como uma das principais motivações intangíveis da atratividade turística. Essa motivação pode acarretar numa dupla consequência para o destino turístico. A primeira tem um impacto positivo sobre as relações entre visitantes e visitados, bem como dos visitantes com o espaço, quando o turista consciente de seu papel de estrangeiro adentrando no desconhecido, transforma sua curiosidade em relação ao outro em instrumento de compreensão e respeito a costumes diferentes do seu, exercendo seu caráter de cidadão turista descrito por Gastal e Moesch (2007). Já a segunda consequência possui um aspecto negativo, quando o turista enxerga a cultura do outro como ‘exótica’, atribuindo um juízo de valor pejorativo, julgando sua cultura como superior, prática recorrente de turistas de países desenvolvidos que visitam países subdesenvolvidos. 
A mercantilização predatória e sensacionalista divulgada pelo marketing do turismo de massa, que vende uma imagem estereotipada e distorcida da realidade, possui grande responsabilidade nesse impasse, reproduzindo interpretações equivocadas de “costumes” locais como atrativos turísticos, com o falso pretexto da valorização da cultura popular. 
O Brasil se classifica como um exemplo claro desse problema, posto que, enquanto seu marketing internacional é voltado para a sensualização da mulher brasileira, o turismo sexual se configura como uma das recorrentes motivações para a visita ao país, culminando em consequências trágicas como casos de assédios e estupros. 
As tradições populares são comumente reproduzidas de forma não correspondente à realidade, sendo resignificadas para a atração turística, como é o caso da capoeira na Bahia, e de culturas indígenas e quilombolas. 
Sobre isso, Simões (2006) esclarece:
Ao tratarmos os estudos sobre folclore numa visão mais conservadora e romântica, por extensão, operamos com um pensamento antropológico atrelado a uma visão evolucionista de cultura, originária, por sua vez, em finais do século XIX, quando se acreditava que a humanidade evoluiria do primitivo para a civilização. Estamos em pleno século XXI e as manifestações da cultura popular brasileira são vendidas nos pacotes turísticos como representantes da porção exótica, selvagem e primitiva do brasileiro, sendo que, para tanto, veicula-se um discurso análogo ao que se profere em relação à natureza, isto é, ‘vamos preservar as tradições culturais’ como se elas fossem imutáveis, ou, como se os seres humanos representantes delas devessem permanecer imutáveis, para, assim, continuar sendo explorados como parte do pacote turístico. ( p. 2)
 Desta maneira, a imagem veiculada nesses casos reforça estigmas que atribuem ao país caráter de cultura ’atrasada’, e por isso, curiosa, despertando o interesse dos turistas de países desenvolvidos. 
Com essa reflexão, fica exposta a necessidade de se repensar o marketing turístico das localidades, de forma que se estabeleça uma imagem que valorize de fato a cultura local, que não reforce estereótipos e que incentive a emancipação política e social da população, respeitando seus costumes, de forma que instigue o seu sentimento de pertencimento e seu espírito hospitaleiro. 
2.3.3. Identidade cultural e intervenções urbanas
	O desenvolvimento de uma identidade cultural comunitária é muito importante para a consolidação do sentimento de pertencimento e cidadania dos indivíduos. Diante disso, os processos de intervenções urbanas influenciam intensamente na construção e destruição desses vínculos, sendo capaz de mudar drasticamente a dinâmica de uma comunidade.
Para construção de uma identidade urbana, os indivíduos necessitam de uma interação com seus vizinhos, formando laços que o identifiquem como parte de um grupo. Nesse processo, são desenvolvidas tradições que caracterizam a comunidade como pertencente àquele local, criando costumes que só existem naquele lugar de vivência.
Para Kashimoto, Marinho e Russeff (2002):
A cultura popular local, por ser oriunda das relações profundas entre a comunidade do lugar e o seu meio (natural e social), simboliza o homem e seu entorno, implicando um tipo de consciência e de materialidade social que evidencia o grau de afeição e apego a um lugar, esse é um fator de extrema importância para o desenvolvimento local, posto que permite a configuração da identidade do lugar e de sua população. (p. 36)
Comofoi elucidado pelos autores, a valorização da cultura local influencia diretamente no desenvolvimento do lugar, posto que o vínculo criado pelos moradores se transforma em instrumento de organização política e social. Esses vínculos implicam a configuração espacial do local, uma vez que o principal aspecto que caracteriza uma comunidade é a proximidade geográfica. Dessa forma, mudanças nesse espaço podem causar a quebra de laços que afetam negativamente a identidade da população.
Essa problemática se configura como mais uma consequência da ausência de planejamento participativo, que deveria ser obrigatoriamente empregado em intervenções urbanas, premissa que é constantemente esquecida pelo poder público.
Como já foi discutido, é comum a prática de subordinar as reformas urbanas à lógica do mercado, culminando na realização de intervenções que não consideram os aspectos sociais envolvidos, sendo executadas por agentes do mercado imobiliário, que ditam de fora como serão configurados os espaços de acordo com os seus interesses financeiros, destruindo e ressignificando o patrimônio material e imaterial constituído ao longo do tempo por seus habitantes. Essa destruição abala a autoestima da comunidade afetada, enfraquece sua unificação e o exercício da cidadania dos indivíduos que a compõem. Além disso, essas intervenções também contribuem para o desmantelamento das culturas populares periféricas, visto que as desapropriações são sempre realizadas em territórios de comunidades pobres. Esse desmantelamento também contribui para a desmobilização política dos moradores, de modo que dificulta sua organização como unidade de luta por seus direitos.
Desta maneira, a segregação consequente dessas transformações se dá em nível espacial, econômico, social, cultural e político. 
Diante do exposto neste capítulo, ficou explícita a necessidade de se fazer uma intercessão entre turismo, direito à cidade e identidade cultural, para a compreensão da importância de um planejamento turístico e urbano de maneira democrática e participativa, que leve principalmente em consideração as demandas da população local. O turismo se configura como uma das atividades que mais influenciam as dinâmicas urbanas, o que torna necessário que os profissionais e estudiosos da área tomem para si a responsabilidade de se pensar numa alternativa ao modelo vigente de planejamento, que beneficia grandes empresas na área do turismo, setor imobiliário, setor de construção civil, setor fundiário e políticos oportunistas em detrimento do bem-estar da sociedade. É imprescindível compreender que, como em alguns exemplos citados, outro turismo é possível, se partido dos princípios da construção de uma cidade que seja feita pelos e para os moradores, para assim se tornar uma cidade boa também para visitantes, contando com a criação de um projeto colaborativo envolvendo o setor privado, o poder público e a sociedade civil de forma equânime e transparente.
3. INTERVENÇÕES DO PORTO MARAVILHA E MORAR CARIOCA NO MORRO DA PROVIDÊNCIA - ÉTICA E DIREITO À CIDADE
Para reiterar a premissa da importância de um planejamento urbano e turístico sustentável, o Morro da Providência se qualifica como um objeto de estudo pertinente. A comunidade possui relevante riqueza cultural e histórica para o Brasil, sendo a primeira favela a se constituir na cidade do Rio de Janeiro. O processo de intervenções realizadas pela Operação Urbana Porto Maravilha, não só na Providência, mas em toda zona portuária, está sendo permeado de resistências e denúncias que desvelam suas contradições. Pesquisadores, especialistas em urbanismo, especialistas jurídicos, movimentos sociais e sociedade civil vêm expondo uma série de condutas que desmascaram a intenção da promoção de modernização da cidade e melhoria da qualidade de vida da população criada pela grande mídia e pelos agentes envolvidos para ganhar o apoio popular para o projeto.
Desta forma, considera-se pertinente fazer uma análise das intervenções, e das implementações do poder público e privado durante o processo dessas transformações urbanas, com base nos princípios de direito à cidade, a partir dos relatos coletados em pesquisa de campo, à luz de documentos elaborados por estudiosos e o Estatuto da Cidade.
3.1. HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DO MORRO DA PROVIDÊNCIA
Durante a Guerra de Canudos, conflito ocorrido na Bahia no final do século XIX, entre o movimento popular liderado por Antônio Conselheiro e o exército, o governo brasileiro prometeu aos soldados do Rio de Janeiro que lhe cederiam residências na cidade caso saíssem vitoriosos. Com o fim da guerra, no retorno ao Rio de Janeiro, quando perceberam que o governo não havia cumprido com a promessa, os ex-combatentes se apropriaram do Morro na região central da cidade, que primeiramente foi batizado de “Morro da Favella”, devido a uma planta típica da região baiana. Mais tarde, o nome foi alterado para Morro da Providência, fazendo alusão à providência tomada pelos ex-combatentes para resolver a questão de sua moradia. A favela também foi constituída por moradores expulsos do cortiço Cabeça de Porco em 1893, por uma ação higienista do prefeito Barata Ribeiro. 
Já no início do século XX, na Reforma Pereira Passos, vários cortiços foram demolidos, fazendo com que as famílias desapropriadas construíssem barracos nos morros e encostas, aumentando a população do Morro da Providência e criando outras aglomerações que também seriam atribuídas a qualidade de favela. Segundo o censo IBGE de 2010, o Morro da Providência tem hoje cerca de cinco mil moradores. O morro é formado por 15 subdivisões: Ladeira do Barroso; Barão da Gamboa; Sessenta (onde localiza-se a Unidade de Polícia Pacificadora); Vila Portuária; Buraco Quente; Nova Brasília; Largo do Cruzeiro; Ladeira do Livramento; Setenta; Toca; Vinte e um; T; Ladeira do Farias; Escadão do Cruzeiro e Escadão da Central. 
Desde sua formação até os dias atuais, a Providência passou por diversas intervenções feitas por programas governamentais, que fizeram parte de um processo mundial de reprodução do capital pelo planejamento urbano que se configurou na década de 1980. No caso do Rio de Janeiro, como apontam Motta e Gomes (2014), essas intervenções começaram no início dos anos 1990, com a criação do programa Favela-bairro, que realizou uma série de reestruturações nas favelas cariocas, incluindo o Morro da providência, o que será relatado a seguir. 
3.1.1. Processo de intervenções no Morro da Providência - do Favela-bairro ao Porto Maravilha
Seguindo as normas previstas no Plano Diretor, em 1994 a prefeitura implantou no Rio de Janeiro a Secretaria Municipal de Habitação (SMH), que tinha como seus princípios norteadores a garantia do acesso à moradia e à infraestrutura urbana. Em 1994, a SMH criou o programa Favela-bairro, que foi um programa de urbanização de favelas que visava integrar as áreas marginalizadas às áreas formais da cidade. Motta e Gomes (2014) apontam que em 1995, o programa é rearticulado aos planos estratégicos da cidade do Rio de Janeiro, urbanizando 191 favelas da cidade, sendo orientado por exigências do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), atendendo assim, aos interesses do capital globalizado.
Rodrigues (2012) explica que no Morro da Providência, as intervenções do programa Favela-Bairro só começaram em 2005. Dentro do programa foi criado o Projeto Museu à Céu Aberto, que segundo a prefeitura, tinha o objetivo de incentivar a valorização da cultura e da história do Morro e qualificá-lo como um atrativo turístico da cidade. O Museu consistia num roteiro que apresentava a história da comunidade, além de uma visita ao mirante com uma vista panorâmica da cidade. Rodrigues (2012) aponta que o projeto não foi bem sucedido como era esperado pela prefeitura, devido a diversos fatores como a violência resultante do tráfico de drogas na região; o fato deste intimidar a interação entre os turistas e a população local; e a falta de divulgação

Outros materiais