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Cap´ıtulo 13 Regra da Cadeia 13.1 Motivac¸a˜o A a´rea A de um quadrado cujo lado mede x cm de comprimento e´ dada por A = x2. Podemos encontrar a taxa de variac¸a˜o da a´rea em relac¸a˜o a` variac¸a˜o do lado: dA dx = 2x cm2/cm Suponha, agora, que o comprimento do lado aumente com o tempo, segundo a lei x = 5 t+ 2, onde t e´ dado em segundos. Enta˜o, a a´rea do quadrado em um determinado instante t, e´ dada por: A = (5 t+ 2)2 = 25 t2 + 20 t+ 4 A a´rea, portanto, e´ uma func¸a˜o do tempo t, e podemos calcular a taxa de variac¸a˜o da a´rea em relac¸a˜o a` variac¸a˜o do tempo dA dt = 50 t+ 20 cm2/s Note a diferenc¸a entre as duas taxas de variac¸a˜o calculadas acima. Quando t = 10, x = 52 e dA dt = 520 cm2/s e dA dx = 104 cm2/cm Observe que neste exemplo a a´rea A e´ uma func¸a˜o de x, isto e´, A = A(x ) e x e´ uma func¸a˜o do tempo t, ou seja, x = x (t). Temos, portanto, uma composic¸a˜o de duas func¸o˜es e a a´rea pode ser entendida como uma func¸a˜o do tempo: A(x (t)). Repare, ainda, que podemos reescrever dAdt , assim: dA dt = 2(5 t+ 2) 5 Observe que 2(5t + 2) = 2x = dA dx e que dx dt = 5. Logo, temos: dA dt = dA dx dx dt . Esta formulac¸a˜o para dAdt e´ conhecida como regra da cadeia para func¸o˜es compostas e nos fornece uma regra pra´tica para resolver problemas do tipo descrito acima, isto e´, calcular a derivada de uma func¸a˜o obtida por composic¸a˜o de outras func¸o˜es. Usando a notac¸a˜o “linha” para derivadas, esta regra pode ser enunciada como: (A o x)′(t) = [A(x(t))]′(t) = A′(x(t)) x′(t) 179 180 Cap. 13. Regra da Cadeia 13.2 Derivadas de func¸o˜es compostas: A Regra da Cadeia Teorema: Regra da cadeia Se uma func¸a˜o f e´ deriva´vel em x0 e g e´ deriva´vel em f(x0)), enta˜o, a composta h = g o f e´ deriva´vel em x0 e h′(x0) = (g ◦ f)′(xo) = g′(f(xo)) f ′(xo). Note que, embora a derivada de h = g o f seja o produto das derivadas de g e f , estas derivadas sa˜o calculadas em pontos diferentes. A derivada g′ e´ calculada no ponto f(x0) e a derivada f ′ e´ calculada em xo. Exemplo 1 Seja y = g(u) = u3 +1, u = f(x) = 4x+5, e h func¸a˜o composta h(x) = g(f(x)) = (4x+5)3 +1. A derivada de h calculada no ponto x = 1 sera´: h′(1) = g′(f(1)) f ′(1) = g′(9) f ′(1) = (243) (4) = 972 Uma outra maneira de chegarmos a este resultado seria calcular h′(x) num ponto x qualquer, como abaixo h′(x) = g′(f(x)) f ′(x) = 3 (4x+ 5)2 4 e, enta˜o calcular o valor desta nova func¸a˜o no ponto x = 1. Assim, obtemos, como anteriormente h′(1) = 3. (92). 4 = 972 Demonstrac¸a˜o da regra da cadeia Supondo f(x) 6= f(xo), temos que g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 = ( g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(x0) ) ( f(x)− f(x0) x− x0 ) . Como por hipo´tese f e g sa˜o deriva´veis, e portanto cont´ınuas, quando x→ x0, f(x)→ f(x0) e a igualdade acima implica na existeˆncia de lim x→x0 g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 . Portanto h e´ deriva´vel. Ale´m disso, (g ◦ f)′(x0) = lim x→x0 g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 = limx→x0 g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(xo) f(x)− f(x0) x− x0 = lim x→x0 g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(xo) limx→x0 f(x)− f(x0) x− x0 = g′(f(x0)) f ′(x0) Note que, na demonstrac¸a˜o dada acima, foi necessa´rio supor f(x) 6= f(x0) pelo menos para valores de x pro´ximos de x0. Pore´m, pode acontecer que f(x) = f(x0), para algum x, ou mesmo para todos os valores de x pro´ximos de x0. Por exemplo, ao calcularmos a derivada de f(g(x)) = sen(x2) no ponto x0 escrevemos lim x→x0 sen(x2)− sen(x02) x− x0 = limx→xo [( sen(x2)− sen(x02) x2 − x02 ) ( x2 − x02 x− x0 )] . Neste caso, na˜o podemos garantir que x2 6= x02 quando x 6= x0, pois (−x0)2 = x02. No entanto, tomando x bem pro´ximo de x0, que e´ o que nos interessa para o ca´lculo do limite, evitamos a possibilidade de termos x = x0. Este mesmo racioc´ınio vale no caso geral, quando temos que lim x→x0 g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 = limx→x0 [ g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(xo) f(x)− f(x0) x− x0 ] , desde que possamos garantir que para valores de x bem pro´ximos de x0 se tenha f(x) 6= f(x0). Resta observar o que acontece quando temos f(x) = f(x0), para valores de x arbitrariamente pro´ximos de x0. Ora, neste caso, devemos ter, obrigatoriamente, f ′(x0) = 0. Isto acontece porque a raza˜o f(x)− f(x0) x− x0 sera´ zero para valores de x arbitrariamente pro´ximos de x0, de forma que o u´nico valor poss´ıvel para o limite e´ zero. Neste caso, repare que a regra acima permanece va´lida, pois, para calcular a derivada de g(f(x)) em x0, podemos utilizar o fato de que g(f(x)) = g(f(x0)), quando f(x) = f(x0). W.Bianchini, A.R.Santos 181 Assim, podemos escrever: g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 = [ g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(x0) ] [ f(x)− f(x0) x− x0 ] f(x) 6= f(x0) 0 f(x) = f(x0) Tomando o limite na expressa˜o acima, vemos que lim x→x0 g(f(x))− g(f(x0)) x− x0 = 0 pois, se f(x) 6= f(x0) a expressa˜o ( g(f(x))− g(f(x0)) f(x)− f(x0) ) ( f(x)− f(x0) x− x0 ) ) tende a g′(f(x0)) f ′(x0) = g′(f(x0) 0 = 0 e quando f(x) = f(x0), tem-se, obviamente, o valor zero. Exemplo 2 Derive (a) sen(x2) e (b) sen2 x. Soluc¸a˜o (a) Se y = sen(x2), enta˜o y = g(u), onde g(u) = senu e u(x) = x2. Assim, a regra da cadeia nos diz que y′(x) = g′(u)u′(x), ou, usando a notac¸a˜o de Leibniz, dydx = dg du du dx . Logo, como g ′(u) = cos(u) e u′(x) = 2x, temos que y′(x) = dy dx = 2x cos(x2). (b) Se y = sen2 x, enta˜o y = g(u), onde g(u) = u2 e u = senx. Assim, pela regra da cadeia, temos que y′(x) = g′(u)u′(x) ou dydx = dg du du dx . Como g ′(u) = 2u e u′(x) = cosx, obtemos y′(x) = dy dx = 2 senx cosx. Podemos usar as identidades trigonome´tricas para escrever a resposta acima como sen 2x ou podemos, simples- mente, deixa´-la na forma anterior. No Exemplo 2, combinamos a regra da cadeia com as regras de derivac¸a˜o de func¸o˜es trigonome´tricas. Em geral, se y = senu e u e´ uma func¸a˜o (deriva´vel) de x, enta˜o usando a regra da cadeia, podemos escrever dy dx = dy du du dx = cosu du dx = u′ cosu. De maneira ana´loga, podemos combinar a regra da cadeia com as fo´rmulas de derivac¸a˜o das demais func¸o˜es trigonome´tricas. Exemplo 3 Se f(x) = sen(cos(tg x)), enta˜o f ′(x) = cos(cos(tg x)) d dx cos(tg x) = cos(cos(tg x)) [−sen(tg x)] d dx (tg x) = −cos(cos(tg x)) sen(tg x) sec2 x . Note que, neste exemplo, a regra da cadeia foi usada duas vezes. Corola´rio: Generalizac¸a˜o da regra da poteˆncia Seja y = xr, onde r = pq , com p e q nu´meros inteiros na˜o-nulos, enta˜o y ′ = rx (r−1). Demonstrac¸a˜o Note que y = x( p q ) ⇔ yq = xp. Repare que, no lado esquerdo da igualdade, temos uma func¸a˜o g(y) = yq, onde y = f (x ) = xr. Como p e q sa˜o nu´meros inteiros, podemos usar a regra da poteˆncia para derivar ambos os lados desta igualdade e usar a regra da cadeia no seu lado esquerdo para obter 182 Cap. 13. Regra da Cadeia qy(q−1)y′ = p x(p−1) isto e´, y′ = p q x(p−1) y(1−q) = p q x(p−1) (x( p q ))(1−q) = p q x( p q−1) Logo y′ = rx (r−1) Observac¸a˜o Usando o corola´rio acima e a regra da cadeia podemos encontrar uma regra para derivar func¸o˜es do tipo y = (f(x))r, onde r = pq , sendo p e q inteiros na˜o-nulos. Neste caso, temos a composic¸a˜o de y = u r com u = f(x ). Aplicando a regra da cadeia em conjunto com o item anterior, obtemos y′ = r (f(x))(r−1) f ′(x). Exemplo 4 Calcule a derivada de y = (3x2 + √ 5x3 − x2) 23 . Soluc¸a˜o Chamando 3x2 + √ 5x3 − x2 = u, temos a composta de y = u 23 com u = 3x2 +√5x3 − x2. Aplicando o corola´rio obtemos: y′ = 2 3 (3x2 + √ 5x3 − x2)− 1 3 ( 6x+ 15x2 − 2x 2 √ 5x3 − x2 ) . 13.3 Exerc´ıcios 1. Nos itens abaixo, determine f ◦ g e g ◦ f . Determine, tambe´m, emcada caso, o domı´nio das func¸o˜es compostas e calcule (f ◦ g)′ e (g ◦ f)′. (a) f(x) = 1− x2 e g(x) = 2x+ 3 (b) f(x) = x3 − 4 e g(x) = (x+ 4)( 13 ) (c) f(x) = −17 e g(x) = |x | (d) f(x) = x( 1 3 ) e g(x) = √ cos(x) + 1 (e) f(x) = x 2+1 x2−1 e g(x) = sen(x) 2. Nos itens abaixo, determine uma func¸a˜o f(x) = xk e uma func¸a˜o g tais que f(g(x)) = h(x) e calcule h′(x). (a) h(x) = (2 + 3x)2 (b) h(x) = √ 2x− x2 (c) h(x) = (5− x2)( 32 ) (d) h(x) = 1x+1 (e) h(x) = 1√ x+10 3. Encontre as func¸o˜es f e g , tais que, (f ◦ g)(x) = h(x) e calcule h′(x): (a) h(x ) = cos (tan x ) (b) h(x ) = sen2 (3x) (c) h(x ) = ( √ x)3 + √ x+ 5 (d) h(x ) = cos2 x− 5 cosx+ 10 4. Determine a derivada das func¸o˜es abaixo: (a) f(x) = sen(2x3 + 5x2 − 10) (b) y = x2 cos(3x2 − 2x) (c) y = tan(sen(3x+ 1)) (d) y = √ sen2 x+ 5 (e) y = sen(x3 − 2x) sec(x− 1) (f) y = sen(5 x)cos(2 x) (g) y = x 2 sec(3 x) (h) y = ( 3 x 2−2 2 x3−3 ) 5 (i) y = √ 7 √ 7− x (j) y = √ 7 + √ 7− x 13.4 Problemas propostos 1. Se f(x) = x− 3 x+ 1 , calcule g(x) = f(f(x)). Encontre o domı´nio de f e o domı´nio de g e calcule g′(x). 2. Se f e g sa˜o as func¸o˜es cujos gra´ficos sa˜o mostrados a seguir, sejam u(x) = f(g(x)), v(x) = g(f(x)) e w(x) = g(g(x)). Ache o valor de cada uma das derivadas abaixo, caso existam: (a) u′(1) (b) v′(1) (c) w′(1) W.Bianchini, A.R.Santos 183 g f 0 1 2 3 4 5 6 2 4 6 3. O raio de um bala˜o esfe´rico, que esta´ sendo inflado, e´ dado por r(t) = 3 √ t+ 8, onde t e´ dado em segundos e esta´ variando no intervalo [0, 10]. Determine: (a) O raio do bala˜o no in´ıcio do processo. (b) O volume do bala˜o como uma func¸a˜o do tempo. Especifique o domı´nio dessa func¸a˜o. Sugesta˜o: O volume de uma esfera de raio r e´ dado por 4pi r 3 3 . (c) A taxa de variac¸a˜o do volume em relac¸a˜o ao tempo. 4. Uma part´ıcula move-se ao longo de uma reta, onde sua posic¸a˜o em cada instante t (segundos) e´ dada por s(t) = 4 sen(3 t2) (metros). Pede-se: (a) Qual a velocidade instantaˆnea da part´ıcula quando t = 1 s? (b) Qual a velocidade e a acelerac¸a˜o instantaˆnea quando t = √ pi s? 5. A frequ¨eˆncia de vibrac¸a˜o da corda de um violino e´ dada por f = 12L √ T ρ , onde L e´ o comprimento da corda, T a sua tensa˜o e ρ sua densidade linear. Ache a taxa de variac¸a˜o da frequ¨eˆncia em relac¸a˜o. (a) ao comprimento L (considere T e ρ constantes). (b) a` tensa˜o T (considere L e ρ constantes). (c) a` densidade linear ρ (considere L e T constantes). 6. Uma massa atada a uma mola oscila verticalmente e tem a sua posic¸a˜o y determinada em qualquer instante de tempo t pela func¸a˜o y(t) = A senwt, onde A e´ a amplitude de suas oscilac¸o˜es e w e´ uma constante. Este movi- mento e´ chamado movimento harmoˆnico simples (veja Func¸o˜es Trigonome´tricas: Atividades de Laborato´rio). (a) Determine a velocidade e a acelerac¸a˜o da massa como func¸a˜o do tempo. (b) Mostre que a acelerac¸a˜o e´ proporcional ao deslocamento y. (c) Mostre que a velocidade e´ ma´xima quando a acelerac¸a˜o e´ zero.
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