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a importancia da psicologia social comunitaria para o desenvolvimento sustentável

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270 
 
Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
A importância da psicologia social comunitária para o 
desenvolvimento sustentável 
 
The importance of community psychology in sustainable development 
 
La importancia de la psicología comunitaria para el desarrollo 
sostenible 
 
Tania Maria de Freitas Barros Maciel1 
Monalisa Barbosa Alves2 
 
Resumo 
 
O presente artigo aborda a importância da Psicologia Social Comunitária para o Desenvolvimento 
Sustentável. Neste sentido, pretende-se investir principalmente nas discussões acerca das contribuições da 
Psicologia Social Comunitária para a busca por alternativas originais e sustentáveis de desenvolvimento. 
Um dos grandes desafios que encontramos atualmente no trabalho conjunto com os atores sociais é 
propor alternativas originais de desenvolvimento que visem à sustentabilidade humana e social. A 
Psicologia Social Comunitária brasileira tem muito a contribuir neste debate, tanto com pesquisas sobre 
lazer, sustentabilidade e desenvolvimento como elaborando soluções para os principais problemas 
urbanos. Contudo, a importância da Psicologia Social Comunitária, no âmbito do Desenvolvimento 
Sustentável consiste em apontar discussões e ferramentas operativas, na busca de uma alternativa de 
desenvolvimento mais adequada à realidade local, agregando à dinâmica social do destino a importância 
do sujeito como transformador da sua própria realidade. Realidade esta mais humana, ética e sustentável. 
 
Palavras-chave: Psicologia Social Comunitária; Desenvolvimento; Sustentabilidade. 
 
Abstract 
 
This article discusses the importance of Community Social Psychology for Sustainable Development. In 
this regard, we plan to invest mainly in discussions on the contributions of the Community Social 
Psychology to the search for original and sustainable alternatives of development. One of the major 
challenges which we currently face when we work with the stakeholders is to propose original 
alternatives of development aimed at human and social sustainability. The Brazilian Community Social 
Psychology has a lot to contribute to this debate, both with research on leisure, sustainability, and 
development, and by developing solutions to major urban problems. However, the importance of Social 
 
1 Pós-doutora pelo L’Institut d’Etudes Politiques de Paris Sciences Po. Professora Associada da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Coordenadora do Programa Interdisciplinar de 
Comunidades e Ecologia Social (Programa EICOS), Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio 
de Janeiro, Rio de Janeiro).E-mail: taniabm@gmail.com 
2Doutora em Economia. Professora Adjunta e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em 
Economia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGECON). Participa do Programa Interdisciplinar 
de Comunidades e Ecologia Social (Programa EICOS), Instituto de Psicologia, Universidade Federal do 
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. E-mail: monalisabarbosa@yahoo.com.br 
271 
 
Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
Community Psychology within the context of Sustainable Development is to point out discussions and 
operative tools in the search for an alternative of development which is more appropriate to the local 
reality, adding to the social dynamics of fate the importance of the subject as a transformer of their own 
reality. This reality is more human, ethical, and sustainable. 
 
Keywords: Community Social Psychology, Development, Sustainability 
 
Resumen 
 
En este artículo se analiza la importancia de la Psicología Social Comunitaria para el Desarrollo 
Sostenible. En este sentido, tenemos previsto invertir principalmente en las discusiones acerca de los 
aportes de la Psicología Social Comunitaria para la búsqueda de desarrollo alternativa original y 
sostenible. Uno de los principales desafíos que enfrentan actualmente en el trabajo conjunto con las partes 
interesadas a proponer el desarrollo alternativa original dirigido a la sostenibilidad humana y social. La 
Psicología Social Comunitaria de Brasil tiene mucho que aportar a este debate, tanto con la investigación 
sobre el ocio, la sostenibilidad y el desarrollo como el desarrollo de soluciones a los principales 
problemas urbanos. Sin embargo, la importancia de la Psicología Social Comunitaria en el contexto del 
desarrollo sostenible es señalar discusiones y herramientas operativas en la búsqueda de un mejor 
desarrollo de las realidades locales alternativos, añadiendo a la dinámica social del destino la importancia 
del sujeto como transformador de su propia realidad. Esta realidad más humana, ética y sostenible. 
 
Palabras clave: Psicología Social Comunitaria; Desarrollo; Sostenibilidad. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
Introdução 
 
O presente artigo aborda a 
importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento 
Sustentável. Neste sentido, pretende 
investir principalmente nas discussões 
acerca das contribuições da Psicologia 
Social Comunitária para a busca por 
alternativas originais e sustentáveis de 
desenvolvimento. Destacaa cultura e a 
qualidade de vida como pressupostos 
fundamentais dessa proposta. A relevância 
dessa temática destaca-se pela emergente 
discussão no século XX em torno da 
questão da sustentabilidade e da busca por 
alternativas de desenvolvimento mais 
adequadas às realidades locais. 
Eventos internacionais têm 
destacado a importância desse debate ao 
trazer a questão da sustentabilidade para o 
centro das discussões e propor discutir e 
buscar alternativas de desenvolvimento. 
Entre esses eventos, destaca-se a Cúpula 
sobre o Desenvolvimento Sustentável 
organizada pela Organização das Nações 
Unidas (ONU), que aconteceu em setembro 
de 2015 e culminou no documento Objetivos 
de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 
cujas metas propõem substituir os Objetivos 
do Milênio e apontar caminhos para a luta 
global contra a pobreza e as desigualdades 
nos próximos quinze anos; e a Conferencia 
do Clima (COP21) que acontecerá em 
dezembro, na cidade de Paris, e terá como 
principal objetivo um novo acordo mundial 
para diminuir a emissão de gases de efeito 
estufa, diminuindo o aquecimento global. 
Tais eventos ocorrem desde a 
década de 1970, período em que a questão 
ambiental tomou foco internacional com a 
Conferência de Estocolmo. Nesse 
contexto, grandes avanços podem ser 
percebidos, destacando-se a compreensão 
de que a nossa questão ambiental é 
também uma questão social. Portanto, ao 
se falar em desenvolvimento com 
sustentabilidade, é preciso deixar claro que 
estamos falando em um desenvolvimento 
cujos aspectos qualitativos são tão 
fundamentais quanto os quantitativos, ou 
seja, um desenvolvimento que abranja 
questões econômicas, ambientais, sociais, 
culturais e políticas, mas, sobretudo, que 
implique na melhoria da qualidade de vida 
da população. 
É nesse ponto que a busca por 
alternativas de desenvolvimento com vista 
à sustentabilidade relaciona-se com a 
Psicologia Social Comunitária.A 
Psicologia é uma ciência que estuda o 
homem tanto no nível subjetivo, quanto no 
nível interpessoal e na sua relação com o 
meio, de modo que tudo o que influencia a 
vida do homem ou está em relação com ele 
é objeto da Psicologia. As concepções de 
desenvolvimento influenciam de forma 
direta a vida e os valores do homem e da 
sua relação com o meio (Maciel, 2003). 
Ao estudar o ser humano, deve-se 
considerar a sua história, sua cultura e o 
seu ambiente. O ser humano, como ser 
social, tem papel ativo na construção das 
relações, ao participar, fazer parte dos 
grupos e da sociedade. Desse modo, o 
indivíduo e o meio social são 
indissociáveis, devendo-se considerar o ser 
humano em um movimento de produzir e 
se produzir, não só com relação à sua 
história pessoal, mas também em relação à 
história da sociedade. É no fazer coletivo 
que o ser humano encontra a possibilidade 
de atuar como sujeito, mobilizando suas 
dimensões subjetivas, dando significado à 
sua vida, por meio da produção coletiva, 
realizando suas potencialidades. 
Nessa perspectiva, Nasciutti (1996) 
coloca que o indivíduo não deve ser visto 
apenas como resultado de determinantes de 
diferentes ordens, mas como ator social, 
dotado de liberdade de ação em face de um 
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Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
contexto social que o precede e que lhe 
designa um lugar. 
No Brasil, nas décadas de 1960 e 
1970, a crise da Psicologia Social levou os 
pesquisadores a questionar o seu papel e 
seu objeto de estudo. Esse período foi 
marcado, na maioria dos países 
latinoamericanos, por pobreza, 
concentração econômica urbana e agrária, 
além de dura repressão política. Nesse 
contexto, pensadores lideraram um 
movimento de crítica à Psicologia Social 
clássica, propondo a adoção do 
compromisso social e da transformação 
social como norte dos estudos e pesquisas 
dessa ciência. 
Nesse caminho, no Brasil, a 
Psicologia Social inicia a busca pela 
construção de uma relação de 
compromisso com a sociedade, a partir da 
identificação das demandas sociais, em 
bases éticas, para que se possa garantir a 
dignidade humana, em prol da qualidade 
de vida e da diminuição das desigualdades 
sociais (Lane & Sawaia, 1995). Nessa 
perspectiva, Lane (1989) traz reflexões 
para uma ciência compromissada com a 
transformação social. 
A Psicologia Social Comunitária, 
principalmente no Brasil, resulta de um 
movimento de crise e transformação da 
Psicologia Social, profundamente 
influenciado pelos movimentos populares e 
pelos problemas sociais vividos no 
continente. Entre as questões levantadas 
estavam a falta de relevância social das 
pesquisas em Psicologia Social, a 
reivindicação de que se constituísse um 
rumo próprio a partir da realidade social, 
econômica e política latino-americana e o 
compromisso com a transformação social. 
Lane (2002) afirma que a análise da 
Psicologia Social Comunitária no Brasil 
não pode ser feita fora do contexto 
econômico e político do Brasil e da 
América Latina, cujo surgimento tem 
muito a ver com o golpe militar de 1964. 
Segundo a autora, se em um primeiro 
momento vivemos um período de extrema 
repressão e violência, ele fez com que 
individualmente os profissionais de 
psicologia se questionassem sobre sua 
atuação como suporte para a maioria da 
população e de qual seria o seu papel na 
sua conscientização e organização. Tais 
questionamentos teóricos e metodológicos 
estabeleceram, portanto, a necessidade de 
repensar esse campo e a Psicologia Social 
passou a ter como novo imperativo em 
suas pesquisas a busca da relevância social. 
Neste mesmo período, surgem 
diferentes perspectivas e transformações 
sobre as concepções de “meio ambiente”, 
sendo seus efeitos encarados como 
problemas globais. O século XX marca a 
origem da discussão entre a questão 
ambiental e desenvolvimento. 
 
A Psicologia Social Comunitária 
 
Durante as décadas de surgimento 
do conceito, a Psicologia Social 
Comunitária vinculava-se às práticas 
comprometidas com a libertação 
sociopolítica da população (Freitas, 1996). 
Nesse contexto, o que se busca é a 
construção de uma Psicologia capaz de 
ajudar o povo a compreender sua realidade 
e libertar-se dos condicionantes que sua 
estrutura social lhe impõe (Ibañez, 2005). 
A Psicologia Social Comunitária 
utiliza-se do enquadre teórico da 
Psicologia Social, privilegiando o trabalho 
com os grupos, colaborando para a 
formação da consciência crítica e para a 
construção de uma identidade social e 
individual, orientada por preceitos 
eticamente humanos (Freitas, 1996). 
Assim, visa desenvolver trabalhos capazes 
de contribuir para promover relações de 
cooperação e solidariedade e para a 
construção de sujeitos mais críticos e 
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Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
reflexivos, problematizadores e 
transformadores da realidade, utilizando-se 
de métodos de inserção e atuação 
comunitária (Góis, 2005 & Monteiro, 
2004). 
Tradicionalmente, a utilização de 
teorias e métodos da Psicologia 
Comunitária foi aplicada às populações de 
baixa renda. Já nas décadas de 1980 e 
1990, com a implantação do Sistema Único 
de Saúde (SUS), essa perspectiva se 
modifica e os psicólogos passam a 
trabalhar também em outros dispositivos 
públicos. 
A Psicologia Social Comunitária 
enfatiza, em termos teóricos, a 
problematização da relação entre produção 
teórica e a aplicação do conhecimento; em 
termos de metodologia, utiliza-se, 
sobretudo, a metodologia da Pesquisa 
Participante; e, em termos de valores, a 
ética da solidariedade, os direitos humanos 
fundamentais e a busca da melhoria da 
qualidade de vida da população focalizada 
(Campos, 2002). 
Desse modo, a Psicologia Social 
Comunitária visa promover a consciência e 
minimizar a alienação, procura promover a 
participação reflexiva dos grupos com os 
quais trabalha na definição das prioridades 
de atuação, planejamento, execução e 
avaliação de suas atividades. Para Campos 
(2002), a produção teórica e prática da 
Psicologia Social Comunitária é marcada 
pela busca do desenvolvimento da 
consciência crítica, da ética, da 
solidariedade e de práticas cooperativas ou 
mesmo autogestionárias, a partir da análise 
dos problemas cotidianos da comunidade. 
A Psicologia Social Comunitária 
tem envolvido trabalhos interdisciplinares 
de modo a coletivizar e facilitar o 
entendimento entre a comunidade e seus 
diversos aliados. Propõe trabalhar com a 
comunidade, incorporando seus membros 
em todas as fases do trabalho. Contudo, um 
dos grandes desafios que encontra 
atualmente é encontrar, no trabalho 
conjunto com esses atores sociais, 
alternativas originais de desenvolvimento 
que visem à sustentabilidade humana e 
social. O caminho para a construção desse 
desenvolvimento deve ser pautado na 
realidade local e estar relacionado ao 
desenvolvimento pessoal e coletivo dos 
moradores da comunidade. 
A Psicologia Social Comunitária 
emerge de uma psicologia preocupada com 
a cidadania e tem se constituído ao longo 
das últimas décadas a partir de um esforçode intervenção com os diversos grupos 
sociais. Essa interação tem se dado, de 
maneira geral, a partir da ênfase na 
autonomia e no protagonismo das 
populações com as quais se tem trabalhado 
por maio da ampliação da criticidade 
desses sujeitos em relação ao contexto e 
aos problemas que apresentam, em busca 
da construção de um conhecimento social e 
comunitário. 
Portanto, ao destacar a importância 
do papel ativo dos sujeitos na busca de 
soluções para os problemas relacionados à 
sua realidade, parece pertinente destacar a 
importância da Psicologia Social 
Comunitária diante a busca por alternativas 
de desenvolvimento mais sustentáveis. 
Assim, o poder criativo e inventivo do 
homem passa a ser colocado como questão 
chave diante da sustentabilidade. 
O presente artigo aponta 
possibilidades de trabalho para a 
Psicologia Social Comunitária que levem 
em conta a sustentabilidade, com um olhar 
voltado para a melhoria da qualidade de 
vida das populações ao construir e buscar 
soluções conjuntamente. É importante 
reafirmar aqui questões muito importantes 
no trabalho em comunidade, tais como a 
busca pela promoção da saúde, do lazer, do 
bem-estar, da qualidade de vida, nas 
preocupações com o meio ambiente e a 
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Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
ecologia social, nas condições que 
facilitam a participação ativa dos sujeitos, 
atingindo a autogestão e o amadurecimento 
organizativo desses grupos, assim como as 
políticas públicas. 
O trabalho é bem-sucedido na 
medida em que conseguimos auxiliar a 
comunidade a identificar suas necessidades 
e aspirações, expressá-las com clareza e ser 
capaz de buscar as soluções. Essa é uma 
perspectiva do que Sachs chamou de 
desenvolvimento local, que pode ser 
considerado como o conjunto de atividades 
culturais, econômicas, políticas e sociais 
que participam de um projeto de 
transformação da realidade local. 
 
Para compreender o desenvolvimento 
sustentável 
 
Ao propor abordar a importância da 
Psicologia Social Comunitária para o 
desenvolvimento sustentável, é importante 
ressaltar, sem, contudo, pretender esgotar, 
o tema, o amplo campo que o termo 
desenvolvimento abrange como conceito 
de grande influência sobre o pensamento e 
o comportamento humano. 
 
Na segunda metade do século passado, 
impulsionado pelos processos de 
descolonização e de emancipação do 
Terceiro Mundo e pela emergência do 
sistema das Nações Unidas, o 
desenvolvimento, um avatar do progresso 
iluminista, firmou-se como uma das idées-
force das ciências sociais, configurando 
uma problemática ampla de caráter pluri e 
transdisciplinar, atravessada por polêmicas 
vivas de caráter ideológico e teórico 
(SACHS, 2004, p. 214). 
 
Para Sachs (2004), as discussões 
em torno desse tema contribuíram para o 
refinamento do conceito, porém contrastam 
com o sombrio histórico do 
desenvolvimento existente em muitas 
partes do mundo. O autor ressalta, assim, a 
necessidade de se revisitar a ideia de 
desenvolvimento, ou seja, de torná-lo mais 
operacional. 
O debate em torno do 
desenvolvimento começa a ser construído 
em decorrência da insatisfação com os 
limites da abordagem predominante. Essa 
insatisfação é um reflexo da 
conscientização da progressiva 
deterioração das condições de vida da 
maior parte da população e da crescente 
pressão da degradação ambiental. Para 
Sachs (2004), tudo indica que a ideia do 
desenvolvimento não perderá a sua 
centralidade nas ciências sociais do século 
que se inicia. Desde a década de 1970, 
quando o paradigma econômico começou a 
ser questionado, a humanidade vem se 
dando conta do limite dessa perspectiva, 
que não tem sido capaz de sozinha dar 
conta de alcançar o bem-estar humano. 
No entanto, importa deixar claro 
que o desenvolvimento não se confunde 
com crescimento econômico, que constitui 
apenas a sua condição necessária, porém 
não suficiente. O desenvolvimento 
qualifica, englobando, portanto, não só as 
questões econômicas, mas questões 
ambientais, sociais, culturais e políticas.O 
crescimento econômico por si só não traz 
desenvolvimento, visto que, muitas das 
vezes, este não muda a realidade local e 
continua a acentuar os níveis de 
desigualdade social. 
Para Morin (2000), a insuficiência 
do paradigma economicista, incapaz de 
responder às necessidades da maioria da 
população, leva-nos à busca por 
concepções alternativas para o 
desenvolvimento. A partir do momento em 
que o paradigma econômico começou a ser 
questionado, a humanidade vem se dando 
conta do limite dessa perspectiva que não 
tem sido capaz de, sozinha, dar conta de 
alcançar o bem-estar humano. 
As iniciativas visando à discussão 
dos processos de desenvolvimento e a 
276 
 
Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
busca das alternativas para um modelo em 
crise datam da segunda metade do século 
XX. Trata-se de uma construção social, 
com avanços e retrocessos. Durante as 
décadas que separam a Conferência das 
Nações Unidas sobre Meio Ambiente, de 
1972, realizada em Estocolmo, e a 
Conferência das Nações Unidas sobre 
Desenvolvimento Sustentável, em 2012, no 
Rio de Janeiro, as questões em torno do 
desenvolvimento sustentável levaram a 
importantes avanços. Nesse percurso de 
tempo, alguns conceitos influenciaram a 
construção de modelos de 
desenvolvimento que consideram a 
importância da cultura, do social e da ética. 
O Clube de Roma, fundado em 
1968, surge com o intuito de abrir caminho 
para o debate de um vasto conjunto de 
assuntos relacionados à política, à 
economia internacional e, sobretudo, ao 
meio ambiente e ao desenvolvimento 
sustentável. Em seu relatório “Limites do 
Crescimento”, publicado em 1972, tratava 
essencialmente de problemas cruciais para 
o futuro desenvolvimento da humanidade, 
tais como: energia, poluição, saneamento, 
saúde, ambiente, tecnologia, entre outros. 
Este teve repercussão internacional, 
principalmente, no direcionamento do 
debate que ocorreu, no mesmo ano, na 
Conferência das Nações Unidas sobre o 
Meio Ambiente Humano, conhecida como 
Conferência de Estocolmo, servindo como 
um paradigma e referencial ético para toda 
a comunidade internacional, no que tange à 
proteção internacional do meio ambiente 
como um direito humano fundamental de 
toda humanidade. 
As discussões em torno de formas 
alternativas de desenvolvimento ganham 
amplitude em 1987, com o relatório 
“Nosso Futuro Comum”, organizado pela 
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente, 
no qual o conceito de desenvolvimento 
durável ou sustentável é apresentado. No 
entanto, os parâmetros de um 
desenvolvimento sustentável ganham uma 
nova configuração a partir da década de 
1990, com conferências como a Rio 92 e 
os encontros que a sucederam. 
A Rio-92 – Conferência das Nações 
Unidas sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento, realizada no Rio de 
Janeiro, em 1992, teve o propósito de 
discutir problemas urgentes referentes à 
proteção ambiental e ao desenvolvimento 
socioeconômico, tendo como base as 
premissas de Estocolmo, alcançando 
resultados importantes diante das 
discussões do desenvolvimento 
sustentável, e dando origema uma 
profusão das organizações não 
governamentais (OnGs) e proliferação dos 
atores. Uma série de convenções, acordos e 
protocolos foram firmados durante a 
Conferência, tais como a Carta da Terra, 
declaração de princípios sobre florestas, a 
Declaração do Rio sobre Ambiente e 
Desenvolvimento, a Agenda 21, assim 
como as convenções da Biodiversidade, da 
Desertificação e de Mudanças Climáticas. 
O desenrolar desses encontros e 
conferências nos mostram a importância 
que a questão da sustentabilidade vem 
tomando atualmente, buscando alternativas 
de desenvolvimento em consonância com o 
meio ambiente, a cultura e as tradições. Os 
objetivos do desenvolvimento sustentável 
depois de 2015 deverão ter também grande 
influência da tecnologia. A agenda pós-
2015 não será escrita sem levar em conta a 
pobreza e os objetivos universais 
aplicáveis tanto ao Sul como ao Norte, de 
maneira diferenciada, segundo o nível de 
desenvolvimento de cada país. O 
desenvolvimento sustentável, atual e 
futuro, será aquele “que se interessar tanto 
pelo crescimento verde que preserva o 
meio ambiente, enfim, [aquele capaz] de 
gerar inclusive um crescimento criador de 
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Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
empregos e de valor social” (De Cazotte & 
Talla, 2014, p. 48-49). 
Quando falamos nesses novos 
paradigmas do desenvolvimento, tais como 
a sustentabilidade, a valorização da cultura, 
o espaço local, as relações sociais, a ética, 
a solidariedade e o meio ambiente, estamos 
falando de novos valores, de novas ideias 
e, porque não dizer, de novas crenças 
(Maciel, 2006). 
As alternativas propostas devem 
visar ao humano e não apenas ao 
econômico. Um desenvolvimento que 
busque crescimento econômico aliado à 
qualidade de vida, gerando, acima de tudo, 
benefícios sociais e culturais para a 
sociedade. Um desenvolvimento que seja 
mais democrático e participativo, 
respeitando as tradições, os costumes e as 
culturas locais, em contraposição a um 
modelo que visa à acumulação e à geração 
de riquezas, não importando que o 
resultado seja a geração simultânea de 
pobreza, exclusão social e desigualdades 
de todo o tipo. 
Para Sachs (1986), o desafio 
consiste na redefinição das formas e usos 
do crescimento e não na desistência deste. 
Segundo o autor, os objetivos do 
desenvolvimento vão muito além do 
crescimento econômico, da mera 
multiplicação da riqueza material. O 
crescimento não é sinônimo de 
desenvolvimento se ele não amplia o 
número de empregos, se não atenua a 
pobreza e se não reduz as desigualdades. 
“O crescimento é uma condição necessária, 
mas de forma alguma suficiente, para se 
alcançar a meta de uma vida melhor, mais 
feliz e mais completa para todos” (Sachs, 
2004, p. 13). 
Para Sen (2000), o principal meio e 
o principal fim desse desenvolvimento é 
possibilitar a expansão da liberdade dos 
indivíduos, para que eles possam encontrar 
melhores condições de vida, podendo agir 
sobre os fatores que não estão em acordo 
com uma vida digna e de qualidade. Diante 
desse processo de expansão da liberdade, a 
população pode reivindicar melhores 
condições de vida e igualdade de 
oportunidades diante do desenvolvimento, 
em um processo de integração social no 
qual todos se tornam mais participativos. 
Sachs (2004, p. 61) coloca que é 
necessário 
 
dar respostas aos problemas mais 
pungentes e às aspirações de cada 
comunidade, superar os gargalos que 
obstruem a utilização de recursos 
potenciais e ócios os e liberar as energias 
sociais e a imaginação. Para tanto, deve-se 
garantir a participação de todos os atores 
envolvidos no processo de 
desenvolvimento. 
 
Essas concepções do 
desenvolvimento passam a perceber a 
importância da cultura, considerando as 
necessidades, as aspirações, os valores, 
especificidades e limites da população 
local. Têm exigido a incorporação de um 
novo processo de implementação de 
projetos, centrados em parceria, 
corresponsabilidade e participação (Irving, 
2009). 
A participação, nesses processos, 
pode ser considerada item essencial, 
constituindo a garantia da diversidade de 
estilos de desenvolvimento, adaptados ao 
contexto próprio de cada sociedade, de 
cada comunidade (Hô, 1988), em um 
projeto social enraizado e impregnado dos 
valores específicos desse meio. É por meio 
da participação que se alcançará um 
desenvolvimento mais adequado às 
realidades locais. Trata-se do resgate das 
culturas locais, em um investimento em 
qualidade de vida, fundamentada em 
valores éticos. 
Nessa perspectiva, a população 
local deve ser a principal interessada pelo 
desenvolvimento, posto que é ela quem 
278 
 
Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
melhor conhece suas necessidades e 
aspirações, podendo assim apontar o 
melhor caminho para a busca de uma 
melhor qualidade de vida. É necessário 
confiança na capacidade e sabedoria dessa 
população, na identificação de seus 
problemas e na tentativa de soluções 
originais, considerando seu ritmo, 
dinamismos e peculiaridades. 
A esse respeito, Sachs (1998) 
afirma que os critérios de avaliação das 
soluções apresentadas vão, precisamente, 
variar de um contexto sociocultural a 
outro. Nessa perspectiva, o autor defende a 
ideia da arte de reinventar e de fazer 
progredir a teoria a partir de situações 
concretas, dando a oportunidade de 
equipes interdisciplinares pesquisarem, no 
local e com a participação da comunidade, 
a solução dos problemas colocados pelo 
desenvolvimento de uma localidade. 
O desenvolvimento sustentável 
deve partir das próprias necessidades 
latentes das comunidades na busca de 
alternativas que propiciem benfeitorias em 
todos os âmbitos – econômico, social, 
cultural, ambiental – e criar condições e 
oportunidades para que a população local 
participe efetivamente desse processo. Um 
projeto de desenvolvimento que se paute 
na escuta desses atores sociais, sua cultura, 
tradição, dinâmica sociocultural, suas 
necessidades e aspirações, contribuindo 
para o estabelecimento da dimensão ética. 
 
Psicologia Social Comunitária e 
desenvolvimento: um diálogo em busca 
da sustentabilidade 
 
A contribuição dada pela Psicologia 
Social Comunitária pode ser ainda mais 
efetiva se esta tomar como questão as 
premissas do Desenvolvimento Humano 
Sustentável. O eixo de nossas 
preocupações está centrado na 
sustentabilidade das premissas do 
desenvolvimento, sendo as dimensões 
sociais e culturais itens essenciais desse 
processo. A valorização da cultura é uma 
das formas de permitir que o 
desenvolvimento se torne mais 
democrático e mais participativo. 
A Psicologia Social, e mais 
precisamente a Psicologia Social 
Comunitária, tem muito a contribuir, 
teórica e metodologicamente, na busca de 
novas alternativas de desenvolvimento. O 
resultado desse intercâmbio de 
conhecimentos entre a Psicologia Social 
Comunitária e o Desenvolvimento 
Sustentável está no encontro de 
possibilidades para que a própria 
comunidade construa relações mais 
solidárias e humanas no seu processo de 
desenvolvimento. 
O entendimento de 
desenvolvimento deve respeitar as 
tradiçõesculturais, os costumes e as 
culturas locais. Nessa perspectiva, Simmel 
(1999, p. 68) afirma que “toda cultura 
humana é fadada a desaparecer quando ela 
não encarna mais o espírito de onde ela 
nasceu”. 
A partir do conceito de 
desenvolvimento sustentável cunhado em 
1987, no relatório Brundtland, que 
apresenta desenvolvimento sustentável 
como aquele que procura satisfazer as 
necessidades da geração atual sem 
comprometer a capacidade das gerações 
futuras de satisfazerem as suas próprias 
necessidades, destacamos que tal processo 
significa possibilitar que as pessoas, agora 
e no futuro, atinjam um nível satisfatório 
de desenvolvimento social e econômico e 
de realização humana e cultural. 
É importante destacar que não 
podemos falar em desenvolvimento 
sustentável sem falar em participação. 
Participação essa que deve vir de todos os 
grupos, de forma que todos os atores 
envolvidos possam participar no processo 
279 
 
Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
de mudança e ganhos de qualidade de vida. 
E se a participação deve ser de todos, 
trabalhos ditos comunitários podem ser 
desenvolvidos também com classes A e B. 
Não existe impedimento teórico ou técnico 
para que a Psicologia Social Comunitária 
seja praticada também com as classes mais 
abastadas. Nessa perspectiva, é possível 
questionar: onde estão os trabalhos sobre 
violência urbana nas classes mais 
abastadas? A grande maioria dos estudos 
sobre violência urbana foca nas classes 
populares, que são, de fato, as mais 
vulneráveis a esse tipo de violência. Mas 
não os únicos. 
Retornando à questão da 
sustentabilidade, destaca-se que, dentre os 
muitos problemas das grandes cidades 
(onde, segundo o Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística/IBGE, reside 
atualmente a maior parte dos brasileiros), 
estão a violência, o desemprego, os 
engarrafamentos. No entanto, no que se 
refere ao planejamento do trânsito, a 
cidade de Curitiba parece apresentar uma 
outra realidade. Um vídeo apresentado na 
Sciences Po (L’Institut d’Etudes Politiques 
de Paris) sobre um modelo de cidade 
sustentável apontava uma cidade brasileira, 
Curitiba, no Paraná. Há mais de 30 anos, 
em Curitiba, já havia uma preocupação 
com os espaços urbanos no que diz 
respeito ao lazer e à qualidade de vida. 
Outra questão destacada no âmbito 
da cidade de Curitiba é o lixo urbano. 
Quando observamos os dados de países 
como Noruega, Dinamarca e Suécia, 
constatamos que eles conseguem reciclar 
até 50% do lixo que produzem. No Brasil, 
estamos muito longe disso. No entanto, 
ainda que em escala bem menor, se 
comparado a alguns países desenvolvidos, 
a cidade de Curitiba se destaca 
positivamente no que se refere ao destino 
do lixo produzido: cerca de 20% é 
reciclado. Nessa cidade, a coleta seletiva é 
realizada desde 1989. A cidade produz hoje 
cerca de 2,2 mil toneladas de resíduos por 
dia, sendo 550 toneladas separadas pela 
população e encaminhadas para 
reciclagem. Então, se é possível e realidade 
em Curitiba, por que não seria em outras 
cidades brasileiras? 
Quando falamos em 
sustentabilidade, temos de saber qual 
desenvolvimento queremos. E isso só é 
possível com a participação e o 
engajamento das pessoas. O governo sabe 
exatamente quanto é gasto com segurança, 
saúde e educação. Mas a questão ecológica 
é de difícil medida. Qual é o seu custo? Os 
indicadores, custos, tudo ainda é difícil 
precisar. Existe um limite que é o limite do 
próprio planeta e temos de pensar e agir 
sobre isso. É a sustentabilidade e a vida da 
Terra que está em jogo. 
 
Relatos de uma experiência: O 
Programa de Psicossociologia de 
Comunidades e Ecologia Social (EICOS) 
 
A Psicologia Social Comunitária 
brasileira tem muito a contribuir no debate 
em torno do desenvolvimento sustentável. 
Ela é tão importante que a professora 
Denise Jodelet, durante sua conferência de 
abertura no 7th European Congresso of 
Community Psychology, em outubro de 
2009, em Paris, destacou a importância da 
psicologia na América Latina, citando o 
caso do Brasil, onde há mais de 20 anos 
existe o Programa de Pós-Graduação 
Interdisciplinar em Psicossociologia de 
Comunidades e Ecologia Social – EICOS. 
Em 1989, de forma inovadora, a 
psicóloga Maria Inácia D’Ávila Neto criou 
o Programa EICOS, com o olhar de uma 
psicossociologia que se voltasse tanto para 
as teorias e práticas dos métodos 
qualitativos e participativos como para a 
pesquisa comunitária, a Ecologia Social e a 
sustentabilidade. 
280 
 
Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
Segundo Lima (2012, p. 9), 
 
o Programa de Pós-Graduação em 
Psicossociologia de Comunidades e 
Ecologia Social (EICOS) representou um 
avanço nos estudos em comunidade no Rio 
de Janeiro. Inicialmente, apenas com o 
curso de mestrado, esse programa 
apresentou uma proposta pioneira e 
inovadora, em termos teóricos e 
metodológicos, no campo psicossocial. 
 
Para o autor, entre as inovações do 
EICOS estão a integração da pesquisa à 
extensão, o que deixava clara a ênfase na 
relação da pesquisa acadêmica com os 
saberes locais e com a inclusão social; o 
tom extremamente interdisciplinar do 
programa; e a busca da indissociabilidade 
entre a reflexão conceitual e a prática de 
intervenção. 
Atualmente, o EICOS apresenta 
forte ênfase psicossocial com ampla 
atuação em pesquisas empíricas, de campo 
e extensão universitária, em uma interface 
contínua de construção dialógica de teoria 
e prática, com acentuada inserção no 
panorama das amplas questões 
contemporâneas que englobam a 
sustentabilidade e o desenvolvimento 
social e cultural de comunidades. Volta-se 
à realização de trabalhos de pesquisa e 
ensino em uma perspectiva interdisciplinar, 
por meio de instrumentos para melhor 
compreender as relações de grupos e 
comunidades, suas instituições e sua 
dinâmica cultural. 
O Programa EICOS possui 
convênios e intercâmbios com 
universidades e centros de pesquisa 
nacionais e internacionais. Participa do 
Consórcio MITRA – Médiations 
Interculturelles, mobilités, identités, 
conflits, pelo Programa Erasmus Mundus, 
financiado pela AEEAC – Agence 
Executive d’Education, Audiovisuel et 
Culture da União Europeia, composto por 
sete universidades, incluindo Université de 
Lille 3, Université Babes Bolyai 
(Romênia), Université Catholique de 
Louvain (Bélgica), Uniwersytet 
Wroclawski (Polônia), Université Cheikh 
anta Diop de Dakar (Sénégal), Universidad 
Nacional Autonoma Del Mexico. Nesse 
sentido, o curso está envolvido não só com 
questões locais, mas também 
internacionais. 
Alguns dos diferentes projetos e 
pesquisas desenvolvidos no Programa 
EICOS ilustram a ação e luta diante do 
panorama mundial, priorizando as relações 
entre ecologia, cultura, sociedade e 
desenvolvimento. Tais projetos devem 
indicar, como discute Morin e Kern (1995), 
para uma ecologia da ação como passo 
primeiro para uma ética da crise, em um 
momento em que vivemos uma crise da 
ética. 
Entre esses projetos, podemos citar 
o Projeto Sinuelo, que foi realizado durante 
oito anos na comunidade pantaneira, e o 
Projeto de Mobilização Social – 
Participação Comunitária, subprojeto 
inserido no Programa de Despoluição da 
Baía de Guanabara (PDBG) – Rio de 
Janeiro, que foi realizado durante três anos. 
Ambos visavam ao 
desenvolvimentoculturale ecológico das 
comunidades envolvidas, por meio da 
preservação e conservação dos recursos 
ambientais. Tiveram como eixo referencial 
as premissas de que o meio ambiente não 
pode ser considerado como um dado 
isolado, mas sim como um dado da cultura 
de uma comunidade, isto é, como um 
processo de interação entre o sociocultural, 
gerado pelo homem e a natureza. 
Compreender tais projetos a partir 
de um enfoque integrado e participativo é 
fundamental para que as propostas de um 
desenvolvimento com vistas à 
sustentabilidade, envolvendo aspectos 
econômicos, sociais, culturais e ambientais 
que possam resultar em mudanças 
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Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
significativas para a população em questão. 
A promoção dessa sustentabilidade deve 
ser pautada em novas práticas que 
reconheçam a complexidade dos 
problemas e busquem estratégias amplas, 
integradas e participativas para enfrentá-
los. 
É o que Moscovici (2007) chama 
de uma nova sensibilidade, de uma nova 
percepção do meio e das preocupações da 
vida em comum. O autor compreende a 
Ecologia como uma cultura mundial, como 
uma consciência do homem de sua relação 
com a natureza; não só algo relacionado 
com solucionar questões da natureza, mas 
também com o nosso pensamento e nossa 
cultura. Para tanto, é necessário repensar as 
tradicionais conceituações de ecologia, 
reforçando o fato de que esta compreenda 
não apenas a natureza (ecologia natural), 
sua biodiversidade, mas também a cultura 
representada nos hábitos, tradições e 
costumes. 
Psicossociólogo de reputação 
mundial, Serge Moscovici é responsável 
por teorias importantes para a Psicologia e 
áreas afins, como a Ecologia política, as 
representações sociais, a da influência 
minoritária e das decisões coletivas; e, 
como ambientalista, viveu o engajamento, 
desde o fim dos anos 1960 (Maciel, Rangel 
& Beyssac, 2015). Em entrevista a Maciel, 
em Paris em 2008,
3
 Moscovici, ao ser 
perguntado se gostaria de ser lembrado 
como o pai da Ecologia Política ou o pai 
das Representações Sociais, o autor 
responde que gostaria de ser lembrado 
como o pai da Ecologia Política, pois 
sempre acreditou que deveríamos nos 
voltar para a humanidade normal, pois é 
ela que interessa. O autor acrescenta que 
não se trata de uma aplicação à ciência, 
trata-se de ação. 
 
3 Partes desta entrevista foram disponibilizadas em 
vídeo. Ver D’Avila Neto, Maciel e Figueiredo 
(2014). 
O autor destaca que é necessário 
mudar nosso pensamento começando por 
dentro, transformando a forma das ideias 
na ciência, nas técnicas, no senso comum, 
nas artes, suprimindo a censura de nossas 
inspirações e de nossa existência e olhando 
de forma diferente nossa existência nessa 
terra em longo prazo (Moscovici, 2007). 
Moscovici (2007) coloca a necessidade de 
uma unificação das relações que o homem 
mantém com a natureza, no que chama de 
uma prática da natureza, na qual o meio 
não consiste em remediar os problemas de 
nossa forma de vida, “mas em 
experimentar novos modos para fazer 
existir uma nova forma de vida” 
(Moscovici, 2007, p. 131). 
Precisamos buscar modos 
alternativos de vida, baseados em atitudes 
conscientes e não só ficar discutindo 
soluções para problemas derivados de 
nossas atitudes. Precisamos de novos 
paradigmas que valorizem a vida, a 
cultura, a natureza, as ideias e nossa 
enorme capacidade de criar, de inovar. 
Precisamos de uma nova consciência ética, 
cidadã, solidária e responsável. Tal 
perspectiva visa a um desenvolvimento 
sustentável e para isso busca discutir a 
dinâmica das relações existentes entre o 
homem com seu semelhante e, ainda, com 
o seu meio ambiente, dinâmica esta que 
reflete no complexo cultural de 
determinada região. 
 
Considerações finais 
 
A Psicologia Social Comunitária 
pode trazer relevantes contribuições para o 
debate em torno do desenvolvimento 
sustentável, principalmente no tocante ao 
fortalecimento de uma perspectiva de 
construção científica interessada nos 
processos subjetivos envolvidos na 
formação crítica do ser humano e de sua 
capacidade de agir criativamente em sua 
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Maciel, Tania Maria de Freitas Barros; Alves; Monalisa Barbosa. A importância da Psicologia Social 
Comunitária para o Desenvolvimento Sustentável 
 
 
 
Pesquisas e Práticas Psicossociais, 10(2), São João del-Rei, julho/dezembro 2015 
 
 
realidade, culminando em um processo de 
desenvolvimento mais adequado às 
realidades locais e com melhor qualidade 
de vida. Com a participação, os sujeitos 
posicionam-se no processo de 
desenvolvimento de sua comunidade, 
assumindo o bem comum por meio de 
projetos coletivos. 
Assim, participar significa dividir 
as responsabilidades na construção coletiva 
de um processo que objetiva fortalecer a 
sociedade civil para a construção de 
caminhos que apontem para uma nova 
realidade social. 
A Psicologia Social Comunitária 
brasileira tem muito a contribuir nesse 
debate, tanto com pesquisas sobre lazer, 
sustentabilidade e desenvolvimento como 
elaborando soluções para os principais 
problemas urbanos. A importância da 
Psicologia Social Comunitária, no âmbito 
do Desenvolvimento Sustentável, consiste 
em apontar discussões e ferramentas 
operativas, na busca de uma alternativa de 
desenvolvimento mais adequada à 
realidade local, agregando, à dinâmica 
social do destino, a importância do sujeito 
como transformador da sua própria 
realidade. Realidade esta mais humana, 
ética e sustentável. 
Esse é um campo em que o 
psicólogo pode e deve atuar. São inúmeros 
os projetos desenvolvidos pelos alunos de 
Iniciação Científica, mestrandos, 
doutorandos e pesquisadores do 
EICOS/IP/UFRJ. Esse é um campo 
promissor dentro da Psicologia Social 
Comunitária. Portanto, é preciso formar 
especialistas, e cabe a essa nova geração 
dar continuidade às pesquisas e 
desenvolver a Psicologia Comunitária 
sustentável. 
 
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 Recebido em: 21/08/2014 
Aprovado em: 18/09/2015

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