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A contextualização da morte e do morrer através da História Objetivo da aula • Discutir sobre as diferentes nuances socioculturais que envolvem a questão da morte e do morrer na história ocidental. O conceito de morte ao longo de séculos • As transformações da representação social da morte passam despercebidas por serem muito lentas, seguidas por longos períodos de estabilidade. • Essas mudanças estão presentes em textos literários, inscrições em túmulos, obras de arte e até diários pessoais. Refletindo sobre a morte • A morte é caracterizada pelo mistério, pela incerteza e, consequentemente, pelo medo daquilo que não se conhece, pois os que a experimentaram não tiveram chance de relatá-la aos que aqui ficaram. • A postura da sociedade diante da morte e do morto tem um papel decisivo na formação de uma tradição cultural comum. O homem primitivo • Os nossos mais distantes antepassados tratavam a morte, abandonando seus corpos. • Ao ver seu semelhante caído no chão, mortalmente ferido, resultado de uma luta com sua caça, o homem primitivo seguia seu destino sem se preocupar com o cadáver. • É importante notar que o homem primitivo desconhecia as causas da morte natural e só conhecia a morte por acidente, a morte era sempre provocada por alguém ou alguma coisa. • O homem primitivo queria distância do defunto, já com o aparecimento de várias religiões, a morte ganhou outro sentido. Primeiros relatos de cuidados com os mortos • As primeiras sepulturas encontradas datam de 35 mil anos antes de cristo, quando o homo sapiens nesse período enterrava seus mortos sentados com os braços em volta dos joelhos. Os processos funerários Desde que começamos a cuidar de nossos mortos, estão registrados basicamente quatro processos funerários: • Da pedra tumular • Do enterro • Do dessecamento • Da cremação Os processos funerários • O ser humano mostrou através dos tempos que a atenção que os cadáveres recebiam revelava os conceitos e a cultura de cada povo, esses cuidados deixavam claros os medos, as preocupações sanitárias e as incertezas diante de uma novidade o "homem morto". Antiguidade • A sociedade Mesopotâmica sepultava seus mortos com tamanho zelo que juntamente com o corpo eram postos vários pertences que marcavam a identidade pessoal e familiar do mesmo (roupas, objetos de uso pessoal e até mesmo a sua comida favorita) • Esta seria a garantia de que nada lhe faltaria na travessia do mundo da vida para o mundo da morte, implantado no subterrâneo terrestre. Antiguidade • A sociedade grega tinha como característica cultural nos seus ritos funerários a prática de cremar os corpos dos mortos, para marcar a nova condição existencial destes - a condição social de mortos e como medida de higiene. • Dois tipos de mortos: os mortos comuns e anônimos e os heróis falecidos. • Os primeiros, simples mortais, eram cremados e enterrados coletivamente em valas • Os segundos eram levados à pira crematória, reservada para os grandes heróis, na cerimônia da bela morte, uma vez que nas representações dos gregos esse tipo de morte tornava imortal o morto. Antiguidade • Os egípcios em seus relatos mais antigos negavam a existência da morte • Para eles, ninguém morria, acreditava-se que o espírito migrava, reencarnava ou descansava aguardando uma outra vida. • Eles ensinavam o indivíduo a pensar, sentir e agir em relação à morte. Antiguidade • Na Roma antiga existiam leis que proibiam enterros dentro das cidades, primeiro pelo temor da proximidade dos defuntos, e depois pela sanidade urbana. Idade Média • Havia uma familiaridade com a morte. Ao pressenti-la, o doente se recolhia ao seu quarto - acompanhado por parentes, amigos e vizinhos -, pedia perdão por suas culpas, legava seus bens e esperava a morte chegar (ritual). • O corpo era enterrado nos pátios das igrejas - palco de festas populares e feiras. Mortos e vivos coexistiam no mesmo espaço. Idade Média • A clericalização do culto aos mortos teve uma forte acentuação nos séculos XI e XII, nos mosteiros e abadias, aonde a comemoração dos mortos se dava por meio de orações, em sua memória • O clero desta forma assegurava a celebração dos ritos fúnebres, e da memória dos mortos Idade Média • No século XIII a oração pelos mortos se tornou uma das principais funções de todo o clero, devido ao crescimento de realização de ofícios e missas pelos mortos • Após ter conseguido o controle dos sepultamentos e dos cultos aos mortos a igreja passou a se sentir ameaçada pelos leigos, pois a difusão das praticas funerárias levou as confrarias e o penitentes a rezar eles mesmos pelos mortos Idade Média • A igreja reagiu a esta perda de controle, e procurou distinguir o profano do sagrado, o leigo do eclesiástico, realizando assim uma separação e uma reorganização • Neste contexto é elaborado a doutrina do purgatório. Idade Média • O purgatório passou ser o local entre o céu e o inferno aonde a alma poderia pagar seus pecados leves, contando com a ajuda do sufrágio dos vivos • A purificação dos pecados estava ligada à confissão auricular, a pessoa poderia se confessar e ainda em vida ser perdoada de alguns pecados após pagar penitência • O IV Concilio de Latrão, em 1215, tornou a confissão auricular obrigatória, pelo menos uma vez por ano entre os adultos cristãos. Idade Média • Os religiosos aproveitavam o momento da confissão para induzir o moribundo a realizar seu testamento, sobre a assistência dos padres e párocos • Esta influência na hora do testamento, diante de uma situação de morte, facilitava a possibilidade de ser conseguir benefícios para a igreja vindos do moribundo. Idade Média • A partir de 1231 foram proibidos jogos, danças e feiras nos cemitérios: começava a soar incômoda a proximidade entre mortos e vivos. • O cemitério passou a ter uma importância ímpar, no contexto da medievalidade, pois passou a representar uma nova concepção do espaço sagrado dos mortos. Séculos XVIII e XIX • A morte passou a ser encarada como uma transgressão que roubava o homem de seu cotidiano e sua família. O luto era exagerado: o personagem principal era então a família, e não mais o morto. Não se temia mais a própria morte, mas a do outro. • A partir da segunda metade do século XIX, a morte se transformou em tabu: os parentes do doente passaram a tentar poupá-lo, esconder a gravidade do seu estado. Século XX • A partir dos anos 1930, a medicina contribuiu para a mudança na representação social da morte: já não se morre em casa, entre parentes, mas no hospital, às vezes sozinho. • Os avanços da ciência têm permitido prolongar a vida ou abreviá-la. Pacientes podem permanecer longo tempo em vida vegetativa, ligados a tubos e aparelhos. Mundo contemporâneo • A sociedade atual é completamente dirigida pelas noções de produtividade e de progresso; • Valoriza-se a beleza e o perfeito, sendo a morte antagônica a estes conceitos • Não se pensa na morte e se procura falar dela o menos possível, passando-se a designar o processo da morte como algo impessoal e os mortos, por sua vez, deixam de ser indivíduos dotados de uma história, para se tornarem coisas, encobrindo-se um fenômeno que tem um cunho natural. O homem diante da morte • O sentimento de luto e a dor da saudade podem permanecer no coração do sobrevivente, não devendo manifestá-los em público, segundo a regra atualmente adotada em quasetodo o Ocidente. BIBLIOGRAFIA • ÀRIES, P. História da morte no Ocidente - da Idade Média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. • MEDEIROS, M.M. Concepções historiográficas sobre a morte e o morrer: comparações entre a ars moriendi medieval e o mundo contemporâneo. Dossiê Religião e Religiosidade, v.5, n.6, P. 152-72, 2008.
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