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A prática do psicossociólogo em instituições, na perspectiva da psicossociologia de comunidades O termo psicossociologia é usado no lugar de psicologia social porque o termo não privilegia a ascendência do psicológico sobre o social, nem seu inverso, pressupõe uma interação entre ambos Na instituição nos conformamos às regras, cumprimos exigências, desempenhamos um papel que já é prescrita de antemão Por outro lado, queremos ser reconhecidos em nossa singularidade, queremos fazer valer nossos direitos e vontades, realizar nossos objetivos individuais - Temos de um lado, o coletivo, o social, determinante das regras, das leis e das formas estabelecidas de interrelação entre os indivíduos De outro lado, temos as diferentes necessidades (cs) e desejos (quase nunca cs) de diferentes indivíduos, também determinantes de suas ações Na perspectiva da psicossociologia, os processos individuais (cs e ics) são considerados como tendo o mesmo grau de importância que os processos sociais A instituição é justamente o palco das articulações e desarticulações entre os determinantes de origens diversas: sociais (econômicos; ideológicos; culturais e políticos) e psicológicos Tudo aquilo que se tornou instituído, reconhecido como tendo existência materializada na vida social é instituição: sistema formais de ensino; de saúde; o casamento; a igreja; o Estado, são exemplos de instituições que regulamentam a vida em sociedade Essas instituições se concretizam na realidade social em redes de estabelecimentos de ensino, em hospitais, nas famílias, nas paróquias locais e nas repartições públicas distribuídas pelas diferentes comunidades que compõem o tecido social Essas unidades organizacionais instituídas (ex: universidade) passam a existir não só como estabelecimento das grandes instituições (instituição educação), mas passam a ter vida própria e são instituições em si mesmas Estas instituições são ligadas à cultura local, influenciando e sendo influenciadas pelos contextos social, político e econômico nos quais se inscreve, atravessadas pelo imaginário social São instituições existentes dentro de outras instituições mais amplas Viver coletivamente implica em instituir-se em organizações, o que significa divisão de papéis, divisão de trabalho, hierarquização das relações sociais, estabelecendo-se, consequentemente, as relações de poder que permeiam toda e qualquer relação social A psicossociologia considera seu objeto de estudo, o homem em situação social, como complexo e atravessado por múltiplos determinantes A psicossociologia procura estabelecer relações e articulações entre contribuições teóricas das diversas disciplinas que analisam, sob suas especificidades, as questões psicossociais: Tentativa de apreender o sentido das atividades sociais humanas O campo da psicossociologia é o dos grupos, das instituições, dos “conjuntos concretos”nos quais o indivíduo se encontra e que mediatiza sua vida pessoal e a coletividade A análise psicossocial institucional se filiou a correntes teóricas e metodológicas de diferentes origens Movimentos institucionalistas que têm relações próximas com a psicossociologia: 1- Sociopsicanálise (Mendel): busca conciliar as referências a Freud e a Marx (a existência humana é social por natureza), intervindo em instituições, buscando responder à demanda de uma “classe institucional” conforme o lugar que essa classe ocupa no aparelho de produção da instituição, nas relações de poder, atento às projeções inconscientes dos indivíduos 2- Psicoterapia institucional (Tosquelles, Oury e Guattari): interesse basicamente pelas instituições psiquiátricas e a forma como estas reproduzem as relações de alienação e de cristalização na perpetuação da doença mental Na Itália, o movimento de desinstitucionalização liderado por Basaglia nos hospitais psiquiátricos visou o questionamento da eficácia dessas instituições e buscou sua dinamização, através da ruptura do “instituído” O lugar de cada profissional no hospital e sua “função terapêutica” são questionados (do médico ao faxineiro) 3-Socioanálise ou análise institucional (Lapassade e Lourau): origem na sociologia, visa a revelação do não dito A revelação não é feita pelo analista, mas pelos analisadores (sintomas contraditórios, reveladores do disfuncionamento, das contradições e conflitos institucionais; ex: uma greve, um suicídio, um caso de assédio sexual) O que se busca em todas essas linhas, apesar de suas diferenças, é uma mudança nas relações sociais, pelo questionamento de práticas instituídas e cristalizadas, pela reflexão sobre a condição histórica que permeia as interrelações institucionais O sentido clínico da pesquisa e da prática é buscar a intersubjetividade, onde fenômenos psíquicos ocorrem entre indivíduos, isto é, socialmente: nos grupos, nas instituições, nas comunidades O psicossociólogo ao fazer uma análise da instituição vai dirigir seu olhar para: O que é da ordem do instituído O que é da ordem do funcional O que é da ordem do sujeito e das relações interpessoais Nas pesquisas realizadas em instituições, a psicossociologia tem privilegiado uma metodologia que se baseia nos princípios da pesquisa-ação Pesquisa-ação se define pelo elo entre o saber e o fazer. Parte de uma perspectiva epistemológica interdisciplinar que inclui diferentes saberes acadêmicos, além da relação entre saber científico e saber popular A pesquisa-ação visa a conquista do conhecimento através da pesquisa, e a transformação através da ação A postura do pesquisador frente a seu objeto de pesquisa é diferente da postura do pesquisador científico ortodoxo → Princípio da neutralidade científica como mito O pesquisador está implicado com seu objeto de pesquisa. Implicado existencialmente como ser histórico, sujeito de uma ideologia, de valores sociais e realiza julgamentos que lhe fazem olhar para a realidade que pesquisa sob uma certa ótica/ética Implicado psicoafetivamente, o pesquisador gosta ou não da realidade social que apreende (tanto científica quanto vivencialmente), projeta nela e na interpretação que dela faz, conteúdos de seu inconsciente, utiliza-a em seus mecanismos de defesa, investe-a de suas vontades conscientes Na pesquisa-ação, a implicação é elemento fundamental. A neutralidade é impossível já que qualquer ação de pesquisa por mais que as variáveis sejam controladas ou manipuladas, é uma ação oriunda de um ator social (o pesquisador) olhando para outros atores sociais, com os quais de alguma forma interage O objeto com o qual interagimos através da pesquisa (mesmo que seja um rato) nos olha, nos controla, nos analisa, como nós, enquanto pesquisadores, o olhamos, controlamos e analisamos A instituição como via de acesso à comunidade “As comunidades surgem do simples fato de vivermos em simbiose, isto é, de viverem juntos num mesmo habitat indivíduos tanto semelhantes quanto diferentes e da competição cooperativa em que se empenham”. Pierson, 1974 A comunidade caracteriza-se pela distribuição em espaços, de homens, instituições e atividades – unidade de vida em comum e de ação coletiva e de controle social formal - A instituição se apresenta como espaço de mediação entre o que é da ordem do social e o que é da ordem do individual - Existe uma nítida inter-relação e interdependência entre instituição e comunidade
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