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RESENHA FILME ADEUS LENIN

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UFF – UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
RESENHA DO FILME “ADEUS, LÊNIN!” REFERENTE À AVALIAÇÃO DA DISCIPLINA DIREITOS HUMANOS, GOVERNANÇA E PODER III
KETLYN GONÇALVES FERNANDES
NITERÓI 
2018
O filme “Adeus, Lênin!”, obra alemã lançada em 2003 dirigida por Wolfgang Becker, retrata a história de uma família alemã sob o contexto da Guerra Fria e da divisão territorial da Alemanha em República Democrática Alemã (RDA) e República Federal da Alemanha (RFA). A fim de contextualizar, é importante ressaltar que, em 1949, fora instaurado na RDA um regime socialista controlado pela União Soviética, enquanto na RFA, um regime capitalista mantido pelos Estados Unidos, França e Inglaterra.
A partir disso, é possível compreender como a trama se desenvolve. Inicialmente, as cenas nas quais Sigmund Jähn, um astronauta cidadão da RDA, aparece na espaçonave soviética Sojus 31, uma expressão da corrida espacial travada entre URSS e Estados Unidos durante a Guerra Fria, é assistida e admirada pelo protagonista Alexander ainda criança. Alex, filho de Christiane e irmão de Ariane, com as quais vive, não tem notícias do pai que fora para o lado capitalista e não retornou. Essa situação é relevante pois funcionou como um estopim para que a mãe, Chris, após ser internada em 1978 devido a ausência que sentia e liberada após 8 meses, se dedicasse à causa socialista, tornando-se uma promotora do desenvolvimento de tal ordem e, como o próprio Alex diz, casando-se com o regime socialista.
Seguidos 10 anos de ativismo, Chris se depara com seu filho numa passeata em favor da liberdade de expressão sendo reprimido violentamente, o que deflagra nela um ataque cardíaco e a leva a um coma no qual permanece por 8 meses. Durante esse período, um dos acontecimentos mais marcantes da história mundial acontece em 1989: a queda do Muro de Berlim e a consequente e inevitável reunificação da Alemanha. 
Essa reunificação se dá, principalmente, pela avalanche capitalista sobre a Alemanha Oriental (RDA) e não com o regime socialista se sobrepondo às estruturas capitalistas da antiga RFA. Assim, Alex discorre sobre as primeiras eleições livres, a ocidentalização do apartamento em que mora e, principalmente, a inserção de produtos representada pelos diversos caminhões de Coca-cola. É nessa nova conjuntura que Christiane acorda, ainda fragilizada e, por isso, não pode sofrer fortes emoções. Assim, Alex toma a decisão que determinará o rumo da história: não contará à sua mãe sobre a nova realidade alemã e tentará reconstruir a RDA dentro de sua residência. 
Em meio às tentativas de tornar possível a existência novamente de um regime socialista, algumas questões econômicas são evidenciadas. As antigas lojas da pátria socialista foram fechadas e seus produtos, com pouca diversidade, desapareceram das prateleiras, dando espaço para o surgimento de mercados com uma enorme variedade de produtos importados. Além disso, o Marco Alemão, o dinheiro proveniente da unificação, passou a ser adotado e os cidadãos da antiga RDA foram obrigados a trocar os Marcos do leste na razão de 2 para 1.
Outras questões também se mostram relevantes ao longo da trama, como a mudança cultural pela qual os cidadãos da antiga RDA passaram. Além da transformação na própria vestimenta, a cultura de propaganda e incentivo ao consumo são percebidas pela inserção de cartazes em prédios, propagação da TV por satélite com seus canais ocidentais e comerciais e outdoors com anúncios nas ruas. Todos esses fatos passam a ser percebidos por Chris quando sai à rua pela primeira vez sem que seu filho saiba, se deparando inclusive com pessoas vindas da RFA e com a estátua de Lênin, um dos principais líderes socialistas, sendo retirada por um helicóptero. Após exigir explicações, Alex forja um telejornal com a ajuda de seu amigo e a fazem acreditar que as pessoas da RFA estão se refugiando na RDA pois partidos neonazistas haviam vencido as eleições e por estarem temerosos em relação ao desemprego.
Com isso, Chris segue acreditando na realidade criada por Alex e, em um momento de emoção, revela aos seus filhos que sempre soube onde o pai deles estava e que não ir com ele para o lado capitalista fora uma escolha sua, sofrendo novamente um ataque cardíaco alguns dias depois. Nesse momento, Alex decide ir ao encontro de seu pai e toma um táxi que, surpreendentemente, é dirigido por Sigmund, o antigo astronauta da RDA. Esse personagem pode ser encarado como uma metáfora importante no filme, representando o auge socialista da URSS e da RDA no período da guerra fria e seu declínio inevitável com a avalanche capitalista, uma vez que de astronauta da URSS passa a ser taxista devido ao menor investimento no setor aeroespacial provinda da crise enfrentada pela mesma, restando a ele um emprego que não possui tanto prestígio sob os olhos da sociedade capitalista como o seu anterior.
Com sua mãe novamente no hospital e sua fragilidade ainda mais acentuada, Alex decide criar outro telejornal para transmitir a ela no dia do aniversário da pátria socialista e, após isso, contaria a verdade. Entretanto, a enfermeira lhe contara minutos antes. Nesta transmissão, é dito que as fronteiras da RFA estavam abertas mas que no entanto, os cidadãos da RDA não saíram de sua região pois não queriam conviver com o marketing agressivo e obsessão pela carreira, além do apego material. Dias depois, Chris falece e, para Alex, ela morreu sem saber a verdade, acreditando que o país que ela acreditava fora de fato formado e constituído, mas que na verdade nunca chegou a existir.
Por tudo isso, “Adeus, Lênin!” configura-se não só como uma crítica ao fato de que o socialismo posto por Lênin e consequentemente por Marx e Engels, por aquele ser um seguidor destes, não fora realizado e concretizado, mas também como um mostruário das diferenças estruturais entre capitalismo e socialismo, expressando sutilmente ao longo do filme as características econômicas e culturais.

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